O documento apresenta um resumo da obra de Ignacy Sachs sobre desenvolvimento sustentável. Sachs defende um modelo de desenvolvimento endógeno, inclusivo e sustentado que promova o emprego decente para todos. O desenvolvimento deve ir além do crescimento econômico e promover direitos humanos, equidade e preservação ambiental.
O documento apresenta um resumo da obra de Ignacy Sachs sobre desenvolvimento sustentável. Sachs defende um modelo de desenvolvimento endógeno, inclusivo e sustentado que promova o emprego decente para todos. O desenvolvimento deve ir além do crescimento econômico e promover direitos humanos, equidade e preservação ambiental.
O documento apresenta um resumo da obra de Ignacy Sachs sobre desenvolvimento sustentável. Sachs defende um modelo de desenvolvimento endógeno, inclusivo e sustentado que promova o emprego decente para todos. O desenvolvimento deve ir além do crescimento econômico e promover direitos humanos, equidade e preservação ambiental.
O documento apresenta um resumo da obra de Ignacy Sachs sobre desenvolvimento sustentável. Sachs defende um modelo de desenvolvimento endógeno, inclusivo e sustentado que promova o emprego decente para todos. O desenvolvimento deve ir além do crescimento econômico e promover direitos humanos, equidade e preservação ambiental.
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REVISTA ACADMICA SO MARCOS
RESENHA
SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentvel, sustentado. Rio
de Janeiro: Garamond, 2008. por Dulio Castro Miles1
INFORMAES SOBRE O AUTOR:
Ignacy Sachs (Varsvia, 1927) um economista polons, naturalizado francs. Tambm referido como ecossocioeconomista, por sua concepo de desenvolvimento como uma combinao de crescimento econmico, aumento igualitrio do bem-estar social e preservao ambiental. H mais de trinta anos, Ignacy Sachs lanou alguns dos fundamentos do debate contemporneo sobre a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento, baseado na convergncia entre economia, ecologia, antropologia cultural e cincia poltica. Suas idias so hoje mais claramente compreendidas no cenrio das mudanas climticas e da crise social e poltica mundial. TRAJETRIA Em 1941, refugiado da Segunda Guerra Mundial, Sachs chegou ao Brasil, onde permaneceu at 1954, e graduou-se em Economia pela Faculdade de Cincias Econmicas e Polticas do Rio de Janeiro (atualmente ligada Universidade Cndido Mendes). Por sua crena no comunismo, foi um dos raros judeus poloneses que voltaram ao pas natal no ps-guerra e l trabalhou no Instituto de Relaes Internacionais. Entre 1957 e 1960, esteve na ndia como funcionrio da embaixada de seu pas. Nesse perodo, obteve seu doutorado na Escola de Economia da Universidade de Dlhi. Ao retornar Polnia, foi encarregado de criar um centro de pesquisas sobre as economias de pases subdesenvolvidos, na Escola de Planejamento e Estatstica de Varsvia. Em 1968, foi convidado por Fernand Braudel para integrar o corpo docente da futura cole des Hautes tudes en Sciences Sociales (EHESS), 1
Mestre em Administrao UNISINOS, Especializao em Administrao de Recursos Humanos
PUCRS, Professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Sul, e-mail: [email protected]. RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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onde criou, em 1985, o Centre de recherches sur le Brsil contemporain (Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporneo), do qual atualmente um dos diretores. Trabalhou na organizao da Primeira Conferncia de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, realizada em Estocolmo, Sucia, em 1972, durante a qual foi criado o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Nessa poca, a partir de uma proposta do secretrio da Conferncia, Maurice Strong, Ignacy Sachs formulou o conceito de ecodesenvolvimento que, anos depois, daria origem expresso desenvolvimento sustentvel. Sachs foi tambm conselheiro especial da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Ignacy Sachs autor de mais de 20 livros sobre desenvolvimento e meio ambiente. OBRAS PUBLICADAS NO BRASIL E SOBRE O BRASIL
Capitalismo de Estado e Subdesenvolvimento: Padres de setor pblico
em economias subdesenvolvidas. Petrpolis : Vozes. 1969. Ecodesenvolvimento : crescer sem destruir. Trad. de E. Araujo. - So Paulo: Vrtice, 1981. Espaos, tempos e estratgias do desenvolvimento. So Paulo: Vrtice. 1986. Histoire. culture et styles de dveloppement : Brsil et Inde -esquisse de comparaison sous la dir. de C. Comeliau et I. Sachs. L'Harmattan, UNESCO/CETRAL, Paris. Extractivismo na Amaznia brasileira: perspectivas sobre o desenvolvimento regional. Ed. por M. Cllisener-Godt e Ignacy Sachs. Paris: UNESCO, 1994; -96 p. (Compndio MAB ; 18) Estratgias de transio para o sculo XXI: desenvolvimento e meio ambiente. Prefcio: M. F. Strong ; trad. Magda Lopes. So Paulo: Studio Nobel : Fundao do desenvolvimento administrativo (FUNDAP), 1993. Brazilian Perspectives on Sustainable Development of the Amazon Region. ed. by M. Clsener-Godt and I. Sachs. UNESCO/The Parthenon Publishing Group, Paris-New York, 1995. Rumo Ecossocioeconomia - teoria e prtica do desenvolvimento. So Paulo: Cortez Editora, 2007. Caminhos para o desenvolvimento sustentvel. Ignacy Sachs. Coleo Idias Sustentveis. Ed. Garamond, 2006. Desenvolvimento includente, sutentvel e sustentado. Ignacy Sachs. Ed. Garamond, 2006. Incluso social pelo trabalho. Ignacy Sachs. Ed. Garamond, 2006.
EXPOSIO SINTTICA DO CONTEDO DA OBRA
A obra de Ignacy Sachs trata principalmente do conceito e estratgias de implementao do desenvolvimento, especialmente o endgeno. Est composta de quatro captulos, alm do prefcio escrito por Celso Furtado. RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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No primeiro Captulo, denominado Desenvolvimento e tica para onde ir Amrica Latina, o autor parte do caso da economia Argentina procurando demonstrar os equvocos que pases que seguiram a receita do Fundo Monetrio Internacional FMI, cometeram sob o ponto de vista do conceito de desenvolvimento. Sob um olhar crtico, toma o exemplo argentino, para retratar a realidade latinoamericana, de como pases com disposio de recursos naturais e humanos podem, atravs de uma poltica equivocada, inspirada por uma viso idealizada de uma globalizao simtrica e mutuamente benfica e pelo fundamentalismo de mercado (Sachs, 2008, p.10), transformar-se no caso mais extremo de pobreza na abundncia nas palavras de Keynes. Constitui-se em um exemplo de: desenvolvimento (ou de involuo, para usar um termo de Clifford Geertz) em circunstncias no blicas, uma tragdia que resultou de uma mistura letal de dependncia excessiva de recursos externos, de confiana cega no Consenso de Washington e de m governana (SACHS, 2008, p.10). Ao mesmo tempo, alerta sobre a receita proposta pelo que ele chama a verso neoliberal do fundamentalismo de mercado, lembrando que este apenas uma instituio entre muitas, que esto sujeitos a falhas e que somente um Estado, enxuto, limpo, planejador e capaz de descortinar o futuro, que faz possvel a sua correo. Para tanto, registra que Estado nacional possui trs funes principais, a saber: a- A articulao de espaos de desenvolvimento, desde o nvel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional (que deve ser objeto de uma poltica cautelosa de integrao seletiva, subordinada a uma estratgia de desenvolvimento endgeno; b- A promoo de parcerias entre todos os atores interessados, em torno de um acordo negociado de desenvolvimento sustentvel; c- A harmonizao de metas sociais, ambientais e econmicas, por meio de planejamento estratgico e do gerenciamento cotidiano da economia e da sociedade, buscando um equilbrio entre diferentes sustentabilidades (social, cultural, ecolgica, ambiental, territorial, econmica e poltica) e as cinco eficincias (de alocao, de inovao, a keynesiana, a social e a ecoeficincia (SACHS, p.11).
A partir disso, comea apresentar a sua proposta de desenvolvimento
endgeno, tendo como objetivo principal a gerao do trabalho decente para todos, segundo a estratgia proposta pela OIT, promovendo o emprego e o auto-emprego na produo de meios de subsistncia. Prope, para a Argentina, como para o resto do continente latinoamericano, a implementao do conceito de desenvolvimento sustentvel, baseada nos cinco pilares da endogeneidade (oposta ao crescimento mimtico): autoconfiana (oposta a dependncia), orientao por necessidades (em oposio orientao pelo mercado), harmonia com a natureza e abertura mudana institucional (What now?, 1975 apud SACHS, p.12) Portanto, sem negar a importncia das exportaes, as potencialidades do mercado interno devem ser aproveitadas como primeiro passo para revigorar as economias em crise. Atravs do pensamento de Amartya Sem, registra a necessidade de RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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resgatar as origens da economia e sua relao com a tica, que se perdeu com o tempo, comeando a tecer vrios argumentos para caracterizar o que seja desenvolvimento. Primeiramente, diferencia desenvolvimento de crescimento econmico, entendendo que os objetivos do desenvolvimento vo bem alm da multiplicao da riqueza material. E, afirma que o crescimento uma condio necessria, mas de forma alguma suficiente (muito menos um objetivo em si mesmo) para se alcanar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos (SACHS, p.13). Outra forma de conceituar o que seja desenvolvimento, segundo Amartya, quanto este promove a efetiva apropriao das trs geraes de direitos humanos, isto : a) direitos polticos, civis e cvico; b) direitos econmicos, sociais e culturais, entre eles o direito ao trabalho digno; e c) os direitos coletivos ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Dessa forma, consegue-se promover o sentido de igualdade, equidade e solidariedade entre os homens, superando a condio de pobreza, em um mundo de abundncia. Questiona o autor a confuso que se faz sobre o crescimento econmico, entendendo que este no sinnimo de desenvolvimento, e que, muitas vezes, amplia a condio de desemprego, aprofundando as desigualdades, e o pior, gera em determinadas circunstncias a denominada competitividade espria, que destri a fora de trabalho e os recursos naturais. Registra, por ltimo, os cinco pilares do desenvolvimento sustentvel: a) Social, fundamental por motivos tanto intrnsecos quanto instrumentais por causa a perspectiva de disrupo social que paira de forma ameaadora sobre muitos lugares problemticos do planeta. b) Ambiental, com as suas duas dimenses (os sistemas de sustentao da vida como provedores de recursos e como recipientes para disposio de resduos); c) Territorial, relacionado distribuio espacial dos recursos, das populaes e das atividades; d) Econmico, sendo a viabilidade econmica a conditio sine qua non para que as coisas aconteam; e) Poltico, a governana democrtica um valor fundador e um instrumento necessrio para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferena. (SACHS, p.15-16)
Resumidamente, prope que:
os pases devem se desenvolver a partir de suas prprias foras, isto ,
implementar uma estratgia de desenvolvimento endgeno, sem negligenciar a sua insero na economia global;
ter o emprego decente e o auto-emprego para todos como objetivo principal com vistas a assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento econmico (SACHS, p.18) e;
lembra, ainda, que: os pases perifricos deveriam mobilizar as suas
capacidades intelectuais e polticas para organizar em todos os foros internacionais, antes de mais nada na ONU, promovendo uma intensa
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campanha a favor da reforma necessria da ordem econmica internacional (SACHS, p. 21). No segundo captulo, intitulado de Desenvolvimento includente e trabalho decente para todos, procura aprofundar o que venha a se constituir o desenvolvimento includente, apresentando aes que deveriam fazer para de uma estratgia de implementao. Comea fazendo uma reviso sobre as discusses do que venha a ser desenvolvimento. Registra por exemplo que os autodenominados psmodernos propem renunciar ao conceito, alegando que o desenvolvimento tem funcionado como uma armadilha ideolgica construda para perpetuar as relaes assimtricas entre as minorias dominadoras e a maiorias dominadas dentro de cada pas e entre os pases. Por sua vez, os denominados fundamentalistas de mercado consideram o desenvolvimento como um conceito redundante. Entendem que o desenvolvimento vir como resultado natural do crescimento econmico, graas ao efeito cascata (trickle down effect). No h necessidade de uma teoria do desenvolvimento, basta aplicar a economia moderna, uma disciplina a histrica e universalmente vlida. Em relao a esse posicionamento, o autor considera que a teoria do efeito cascata seria totalmente inaceitvel em termos ticos, mesmo se funcionasse, o que no o caso. Em um mundo de desigualdades abismais, um absurdo pretender que os ricos devam ficar mais ricos ainda, para que os destitudos possam ser um pouco menos destitudos (SACHS, p.26). Nesse particular, inclui a observao oportuna de Ricupero, destacando que as economias no se desenvolvem simplesmente porque existem. O desenvolvimento econmico tem sido uma exceo histrica e no a regra. No acontece espontaneamente como conseqncia do jogo livre das foras de mercado (SACHS, p.27). Isso significa que seria um suicdio deixar ao jogo dos interesses do mercado a orientao e os destinos da economia, como propem os neoliberais, seguindo consenso de Washington. Nesse sentido, lembra que os nicos pases em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem, na dcada passada, foram precisamente aqueles que se recusaram a aplicar la lettre as prescries no Consenso de Washington (SACHS, p.29). Os pioneiros do conceito do desenvolvimento pregavam na sua origem a prioridade do pleno emprego, a importncia do Estado de Bem-Estar, assim como tambm a necessidade de interveno do Estado nos assuntos econmicos para corrigir a miopia e a insensibilidade dos mercados (SACHS, p.31). Percebe-se, ento, que tais preocupaes mantm-se atuais, da a necessidade de se achar um equilbrio entre as metas de modernizao e industrializao, de uma parte, e, de outra, a promoo do pleno emprego e/ou autoemprego sem perder de vista a necessidade de aumentar continuamente a produtividade do trabalho (SACHS, p.31). Nesse sentido, registra que os autores latinoamericanos estavam certos ao denunciar este padro de crescimento como concentrador e excludente. Da a necessidade de se ter uma estratgia dupla, na qual tambm se d RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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ateno s oportunidades para o que pode ser chamado de crescimento puxado pelo emprego (SACHS, p.32). Com a queda do muro de Berlim, alguns se apressaram para desqualificar o conceito de desenvolvimento no capitalista, chegando a proclamar o fim da histria. Tal concluso mostrou-se sem fundamento. Verifica-se a existncia de diferentes modelos de desenvolvimento nas economias, a saber: perifricas, estruturalmente heterogneas, predominncia capitalistas e mistas. E, para tanto, conceitua-as como: - perifricas: opostas s economias capitalistas centrais, s quais esto vinculadas por relaes assimtricas; - estruturalmente heterogneas em vrios sentidos: apresentam um contraste forte entre enclaves urbanos modernos em economias rurais mais ou menos atrasada, enormes disparidades sociais, culturais e de estilo de vida entre as elites ocidentalizadas e o grosso da populao padres concentrados de distribuio de renda e de riqueza; - de mercado predominantemente capitalista: j que o setor capitalista da economia, mesmo coexistindo com outros modelos de produo prcapitalistas ou protocapitalistas, o mais dinmico; - economias mistas, por terem diferentes configuraes de seus setores privado e pblico e, pelo menos em alguns casos, um Estado desenvolvimentista enxuto, limpo e proativo (SACHS, p.34).
Alm desses aspectos, registra que houve dois avanos conceituais
importantes: a) o conceito do desenvolvimento sustentvel que obedece ao duplo imperativo tico da solidariedade com as geraes presentes e futuras e exige a explicitao de critrios de sustentabilidades social e ambiental e de viabilidade econmica (SACHS, p.36); b) a evoluo da ideia de desenvolvimento, apontando para a sua complexificao, representada pela adio de sucessivos adjetivos econmico, social, poltico, cultural, sustentvel e, o que mais importante, pelas novas problemticas. Mesmo assim, ainda se carece de um paradigma convincente capaz de lidar com dois grandes problemas, desemprego macio/subemprego e desigualdade crescente (SACHS, p. 37). Finalmente, avana para a definio do que seja desenvolvimento includente, como oposio ao padro de crescimento perverso, conhecido como excludente e concentrador (de renda e riqueza). Conforme o autor o desenvolvimento excludente caracteriza-se por: a) mercado de trabalho fortemente segmentados, que mantm uma grande parcela da maioria trabalhadora confinada a atividades informais, ou condenada a extrair a sua subsistncia precariamente da agricultura familiar de pequena escala, sem quase nenhum acesso proteo social; b) fraca participao na vida poltica , ou completa excluso dela, de grandes setores da populao, pouco instruda, suborganizada e absorvida na luta diria pela sobrevivncia, sendo as mulheres, sujeitas discriminao de gnero, as mais fortemente atingidas (SACHS, p.38-39). RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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Para superar essa condio, prope que o conjunto da populao tambm deveria ter iguais oportunidades de acesso a servios pblicos, tais como educao, proteo sade e moradia (SACHS, p.39). Alm disso, salienta que o universo do crescimento puxado pelo emprego deveria ser plenamente explorado, recorrendo-se, em todas as esferas da produo de no comercializveis, a mtodos intensivos em trabalho (SACHS, p.46). Em seqncia, descreve uma srie de aes que devem fazer parte de uma estratgia para material a proposta do desenvolvimento endgeno, includente e sustentvel: a) Transformar os pequenos produtores em microempresrios, pois estes respondem pela maioria dos postos de trabalho, tendo capacidade para competir no mercado capitalista; b) estimular o empreendedorismo e a cooperao como no caso dos Arranjos Produtivos Locais; c) implementar formas de apoiar financeiramente os pequenos produtores com a aplicao de crdito e microcrdito; d) implementar o conceito de desenvolvimento territorial, empoderando as iniciativas locais etc. No final desse captulo, afirma que, embora a traduo arbica da palavra globalizao signifique literalmente inclusividade global, as assimetrias e desigualdades da globalizao favorecem os interesses dos pases em desenvolvimento, excluindo a grande maioria dos pases perifricos. Enquanto os includos vivem no capitalismo reformado, os excludos esto condenados a formas mais duras e at selvagens de capitalismo. O desenvolvimento includente pretende promover uma ordem econmica baseada no princpio de tratamento desigual aos desiguais, promovendo o comrcio justo, incrementando o fluxo da assistncia pblica destituda de compromissos implcitos e transformando a cincia e a tecnologia em bens pblicos (SACHS, p.164). O terceiro captulo, intitulado Da armadilha da pobreza ao desenvolvimento includente em Pases Menos Desenvolvidos, inicia afirmando que os Pases Menos Desenvolvidos (PMD) esto tolhidos por uma armadilha de pobreza estrutural, em virtude do acentuado subdesenvolvimento de suas foras produtivas, agravado por um ambiente internacional desfavorvel e pela falta de um compromisso autntico dos pases ricos no sentido de lhes dar assistncia (SACHS, p.70). Contudo, considera que so estes pases os quais apresentam grande potencial para implementar estratgias de desenvolvimento nacionais que se caracterizem por serem includentes, sustentveis e sustentadas, capazes de quebrar o ciclo vicioso de subdesenvolvimento e pobreza, dentro de um esquema de economias mistas, devidamente regulamentadas por estados desenvolvimentistas enxutos, limpos e democrticos (Sachs, p.70). Conforme o autor, os PMDs se caracterizam pela orientao para a subsistncia, fraca capacidade de poupana e vulnerabilidade s importaes (SACHS, p.73). RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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Ao dedicar-se muito tempo s atividades de subsistncia, no desenvolvem o mercado, a fraca capacidade de poupana, alm de ser impensvel, pela prpria condio de pobreza, restringe a capacidade de investir com necessidade de recorrer e se endividar com recursos externos. Tanto o setor primrio quanto o secundrio sofrem com investimentos insuficientes (devido ao baixo nvel de poupana) e com a falta de pessoal qualificado disponvel domesticamente. Por ltimo, mantm uma estreita dependncia com as importncias, decorrente da inexistncia de uma indstria domstica de bens de capital e, algumas vezes, de alimentos e energia. Cria-se e realimenta-se um ciclo vicioso nos PMDs, que aprofunda a condio de pobreza. O trecho a seguir caracteriza bem essa situao: -uma agricultura primitiva, de baixa produtividade (tanto em termos de rendimentos por hectare quanto de produtividade por trabalhador), incapaz de produzir um excedente de alimentos para atender s necessidades de uma populao urbana crescente (a armadilha ricardiana) e de oferecer matrias primas agrcolas necessrias s industriais; -por sua vez, a falta de industriais manufactureiras impede o fornecimento aos agricultores de implementos e de mquinas agrcolas, fertilizantes e pestecidas que eles poderiam usar para aumentar a sua produo (SACHS p.77-78).
Resta ento, conforme o autor transferir o problema para o comrcio
externo, recorrendo importao de insumos e equipamentos para a agricultura, mquinas para as indstrias etc., contratando especialistas estrangeiros e atraindo capital tambm estrangeiro para aumentar a taxa de investimentos. Todavia, alerta que, se bem a capacidade de importar a varivel crucial para se escapar da armadilha da pobreza, expandindo as exportaes, o risco a acumulao de uma dvida externa impossvel de ser gerenciada. Prope a implementao de uma estratgia tridica de desenvolvimento. Entende que, na implementao dessa estratgia, deve-se dar prioridade consolidao e modernizao do ncleo modernizador da economia, que consiste de empresas industriais, mineradoras (e s vezes agrcolas) intensiva em conhecimento, de alta tecnologia e de alto valor agregado. Eles tero papel decisivo na transformao da estrutura econmica do pas, no aumento geral da produtividade da sua economia e na produo de bens que sejam realmente competitivos em mercados externos (SACHS, p.88). Embora tal estratgia se caracterize pelo capital-intensivo, em consequncia pouco gerado de novos empregos, produz efeitos indiretos, seja pela compra de matrias-primas, seja pelas subcontrataes e pela terceirizao de atividades como limpeza, manuteno e segurana e do aumento das despesas de consumo por parte das pessoas empregadas por esses empreendimentos modernos, movimentando a economia e os postos de trabalho. Complementarmente, deve-se explorar todas as oportunidades de crescimento produtivo focalizado no emprego, tanto nos setores de atividade naturalmente intensivos em trabalho, quanto nos setores que no sofrem competio internacional por produzirem bens e servios chamados no RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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comercializveis (non-tradables), de maneira a aumentar a elasticidade emprego/crescimento e, possivelmente, a melhorar o desempenho do pas em terno de taxa de crescimento e investimento (SACHS, p.88). Devemos acrescentar, ainda, a utilizao dos servios pblicos, promovendo o acesso educao, proteo a sade, gua potvel, ao saneamento, a moradias decentes etc. A melhoria da qualidade de vida tem que fazer parte de estratgia de desenvolvimento. Em outras palavras, no h motivo para que, nos PMDs, a expanso do consumo coletivo e do acesso a servios bsicos no deva figurar com destaque no modelo de desenvolvimento emergente (SACHS, p.90). A estratgia tem que estar acompanhada do desenvolvimento de aes que visam aproveitar oportunidades de crescimento puxado pelo emprego. Nesse sentido, o autor registra a existncia de quatro categorias de oportunidades, a saber: a) produo de bens no comercializveis que no sofrem concorrncia internacional e , portanto, oferecem margens de liberdade muito maiores para a opo por tcnicas intensivas em trabalho. A construo outro setor no qual tcnicas intensivas em trabalho podem ser empregadas. Mas as maiores oportunidades surgem na rea de servios (SACHS, p.91); b) quase no comercializveis:alimentos perecveis e produtos agrcolas volumosos que no suportam o custo do transporte a longa distncia. Parte dos produtos da agricultura familiar de pequena escala intensiva em trabalho se destina ao autoconsumo: o resto vai par aos mercados locais ou cidades prximas ou processado por agroindstrias, algumas delas tradicionais, outras pertencentes ao ncleo modernizador da economia (SACHS, p.93); c) as indstrias e artesanatos naturalmente intensivos em trabalho, capazes de produzir bens de salrio no agrcolas e uma variedade de produtos para os mercados locais, nacionais e internacionais. Essas industriais enfrentam uma dura competio- a dos outros pases em desenvolvimento que gozam da mesma vantagem comparativa: mo-de-obra barata.(SACHS, p.96); d) atividades intensivas em trabalho que levam liberao de recursos adicionais para o desenvolvimento e o investimento. Trata-se das chamadas fontes de crescimento que no exigem investimento (SACHS, p. 96). Todas as atividades orientadas para poupar recursos naturais (conservao de energia e gua, por exemplo), reciclar resduos e reutilizar materiais resultam numa melhor utilizao das capacidades produtivas existentes e, ceteris paribus, contribuem para uma taxa maior de crescimento e sustentabilidade ambiental deste crescimento.
O ltimo captulo, intitulado Incluso social pelo trabalho decente:
oportunidades, obstculos, polticas pblicas o autor dedica ao Brasil e sua problemtica de desenvolvimento. Conforme o autor, o Brasil entrou no sculo XXI com um aparelho industrial moderno e diversificado e um setor de agronegcios que lhe confere a liderana mundial em vrios outros campos. No entanto, a sua estrutura ocupacional reflete o atraso social do pas (SACHS, p.111). Apesar de a economia brasileira ter empresas que so consideradas de classe mundial, convive-se com uma estrutura empresarial conservadora, marcadamente de baixssima produtividade. Soma-se a isso a histrica concentrao da riqueza e m distribuio de renda. RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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Ainda temos o grande desafio de integrar, ano aps ano, mais de um milho e meio de pessoas na fora de trabalho. As taxas de crescimento operadas no Brasil, mesmo na poca do milagre, na dcada de 70, no geraram empregos suficientes, portanto, dever buscar uma soluo ao dilema seguinte: Sem emprego, a equao brasileira no fecha. Sem crescimento acelerado e industrializao, o Brasil no tem conserto (SACHS, p.117). No que se refere a desenvolvimento, devem ser compatibilizadas as suas duas vertentes: a)em nvel econmico, trata-se de diversificar e complexificar as estruturas produtivas, logrando, ao mesmo tempo, incrementos significativos e contnuos da produtividade de trabalho, base do aumento do bem-estar; b)em nvel social, deve-se ao contrrio, promover a homogeneizao da sociedade, reduzindo as distncias sociais abismais que separam as diferentes camadas da populao (SACHS, p. 117).
No Brasil, tambm encontra o dilema de como investir no ncleo
modernizador constitudo de indstrias e agronegcios de alta tecnologia, amparados por uma infra-estrutura eficiente nos setores de energia e transporte capazes de expandir as exportaes em condies de competitividade genuna, baseada em conhecimentos, tecnologias avanadas e aproveitamento de vantagens naturais, sabendo que o impacto na gerao de empregos baixo. Portanto, o grande desafio desenharmos uma estratgia que seja ambientalmente sustentvel, economicamente sustentada e socialmente includente, vale dizer, capaz de caminhar na direo de pleno emprego e autoemprego decentes, no sentido que a OIT d a este adjetivo, ou seja, condies de trabalho e remunerao dignas (SACHS, p.118-119). Em conseqncia, prope que sejam aproveitadas ao mximo todas as oportunidades de gerao de empregos nos setores da economia em que o crescimento puxado pelo emprego ainda possvel, ou seja, nos quais existem margens de liberdade para escolher tecnologias intensivas em mo-de-obra. (SACHS, p.119). A partir disso, comea a enumerar as potencialidades econmicas do Brasil, apresentando alguns dados concretos que fundamentam o seu otimismo. Inicia registrando que o Brasil apresenta potencialidades excepcionais para avanar nessa direo. Dentre os argumentos expostos, registra: a) o fato de possuir uma fronteira agrcola ainda no totalmente explorada, junto com a maior biodiversidade do mundo e climas diversos e menos favorveis produtividade primria, permite-nos pensar em um novo ciclo de desenvolvimento rural (SACHS, p.124); b) os diferentes setores de produo de bens e servios no comercializveis, portanto no sujeitos competio internacional, podero resultar na criao de numerosos empregos e autoempregos, em particular na rea dos servios (SACHS, p.119-120); RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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c) empregos e autoempregos ligados valorizao das biomassas o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo. Seu extenso territrio abriga ecossistemas variados, em sua maioria dotados de recursos hdricos abundantes e de climas favorveis produo de biomassas as mais variadas, terrestres, florestais e aquticas (SACHS, p.129). As biomassas tm oito usos principais: alimentos, rao animal, bioenergia, fertilizantes, materiais de construo, matrias-primas industriais (fibras, celulose, leos, resinas etc.), frmacos e cosmticos. (SACHS, p.130). Lembra, ainda, oportunidades de desenvolvimento atravs do Programa de Pr-Alcool hoje Pr- Cana; Pr leo, os segmentos a serem explorados de madeiras e fibras; o potencial da revoluo azul; o turismo, a construo civil, devido ao dficit habitacional, a obras de infra-estrutura etc. COMENTRIO CRTICO SOBRE A OBRA O tema desenvolvimento est em pauta, sendo revisto no seu conceito, principalmente com a premncia que trazida pela ecologia, que promove no somente a sustentabilidade ambiental, como a social e a econmica. Portanto, ser sustentvel implica em novas formas de se posicionar perante uma orientao da economia capitalista, que tem sido responsvel ao mesmo tempo pelo progresso econmico e pela acentuao das desigualdades sociais. Sabe-se que no existe mais espao para um crescimento sem limites, que a lgica do capitalismo, porque alm de no permitir a renovao dos recursos naturais, a ganncia tem levado a favorecer uma minoria de pases em detrimento da excluso de muitos, como o exemplo vivo do continente africano. No h dvida de que no h como no se filiar corrente de um desenvolvimento includente, sustentvel e sustentado. Entretanto, entendemos que temos um desafio pela frente, principalmente fazer com que aqueles que detm uma condio de privilgio se solidarizem com os outros. O jogo de poder duro e tem sido demonstrado claramente nas cpulas dos pases que analisam a situao mundial, seja no que diz respeito ao meio ambiente, distribuio desigual das riquezas, etc. A obra traz alguns conceitos que entendo relevantes. Sem dvida, o elemento marcante a proposta do desenvolvimento endgeno. Os pases procurando implementar a suas estratgias, olhando para sua realidade, seus recursos, seu territrio, sua cultura, enfim, o seu interesse. Isso soa como uma redeno para os pases do terceiro mundo, que conviveram por muitas dcadas endividados, para tentar alcanar o tal de desenvolvimento, sendo que, quanto mais procuravam, mais longe ficava a sua materializao. As novas geraes tinham sobre si a demanda do pagamento de uma dvida que no tinham gerado e sequer poderiam desfrutar de algum benefcio que a mesma no promovia. Outro aspecto relevante que a estratgia no exclui as possibilidades, mas as integra quanto mais desenvolvido seja um pas internamente, melhores sero as condies de insero no mercado externo. Sachs procura desmistificar o papel de interveno do Estado na atividade econmica. Certamente, a desgosto dos fundamentalistas do RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011 Disponvel em: <http://www.saomarcos.com.br/ojs>
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mercado, entende necessrios os ajustes dos desequilbrios gerados pelo prprio crescimento econmico, concentrador de riquezas e marcadamente com distribuio de renda desigual interna e externamente. A importncia do protagonismo de setores da economia tido em um segundo plano como os pequenos empreendimentos, os produtores rurais que so os que efetivamente, mesmo com precariedade, geram empregos para grande parte para a populao. O que se espera que estes segmentos com experincias concretas que ratificam o seu potencial para profissionalizao consigam oferecer condies de trabalho decente. Lembra a necessidade de ter uma nova agende internacional que trata a ordem econmica. to importante ajustar a economia interna quanto participar ativamente dos fruns internacionais para pressionar um novo consenso mais equilibrado e solidrio entre as naes. O livro de Sachs, alm de denunciar, prope algumas aes concretas, apresenta um carter informativo, pois como teses precisariam de um maior aprofundamento. Mesmo assim, a proposta do livro no foi complicar. Por meio de uma linguagem simples, mostra que h possibilidade mesmo para pases que esto abaixo da linha de pobreza.
RASM, Alvorada, ano 1, n. 1, p. 95-106, jul./dez. 2011