História Da Música Na Literatura
História Da Música Na Literatura
História Da Música Na Literatura
A relao entre elas, msica e literatura, no entanto, mais profunda, pois, sendo a
voz humana o mais primitivo instrumento musical, a msica surgiu do canto e, no canto, o
contedo a poesia declamada melodiosamente. Ao produzir instrumentos musicais, o
homem procurou imitar a voz. S numa etapa posterior surgiu a msica absoluta, isto ,
completamente dissociada de qualquer mensagem literria.
O conhecimento que se tem da msica da antigidade quase nulo, pois, dessa poca,
s h registros figurativos de danas e cantos, acompanhados pela execuo de instrumentos,
como liras e flautas. A msica ocidental, realmente, comea com o cantocho, canto litrgico
da Igreja Catlica Romana, institucionalizado pelo papa Gregrio I, no sculo VII. Esse Canto
Gregoriano persistiu como padro oficial por oito sculos. Nele, o coro, num melodismo
infinitamente variado, canta o texto litrgico de maneira homofnica, isto , com todas as
vozes numa mesma melodia. Considerada artisticamente, a liturgia , propriamente, uma obra
literria, constituda de textos bblicos acrescidos de comentrios. Assim, pode-se dizer, sem
sombra de dvida, que a msica ocidental, de 650 a 1450, mais ou menos, foi uma arte
indissociavelmente ligada literatura.
epgono foi o prncipe Gesualdo (1560-1615), que, em seus madrigais, levou o canto aos limites
do cromatismo atonal.
As peas teatrais sempre tiveram a preferncia dos compositores para suas peras e as
de Shakespeare (1564-1616) foram a base para o libreto de inmeras delas. A tragdia Otello
e a comdia As Alegres Comadres de Windsor, foram transformada em pera por Verdi
(1813-1901) (a ltima com o ttulo de Falstaff), com libreto de Arrigo Boito (1842-1918).
Romeu e Julieta transformou-se em pera de Gounod (1818-1893), que tambm comps
Fausto com base na tragdia de Goethe (1749-1832), ambas com libreto de Jules Barbier e
Michel Carr, que tambm foram autores do libreto da pera Mignon, de Ambroise Thomas
(1811-1896), baseado em novela de Goethe. Electra, tragdia grega de Sfocles, tambm
abordada por squilo e Eurpedes, tornou-se uma grande pera de Richard Strauss (18641949), pelo libreto do von Hofmannsthal. Angelo, o Tirano de Pdua, de Victor Hugo (18021885) transformou-se na pera La Gioconda, de Ponchielli (1834-1886), pelas mos de Arrigo
Boito e o seu drama O Rei se Diverte, pelo libreto de Francisco Maria Piave, tornou-se a
famosssima Rigoletto, de Verdi. O mesmo Piave transformou, para Verdi, a pea A Dama
das Camlias, de Alexandre Dumas Filho (1824-1895), na pera no menos famosa La
Traviatta.
Um dos libretistas que mais se destacaram foi Lorenzo da Ponte (1749-1773), que
colaborou com Mozart (1756-1791) em suas mais relevantes produes, como Don
Giovanni, Cosi Fan Tutti e As Bodas de Fgaro, esta com base na mesma comdia de
Beumarchais (1732-1799) em que foi baseada a pera O Barbeiro de Sevilha de Rossini
(1792-1868). Salvatore Cammarano redigiu os libretos da Lucia de Lammermoor, de
Donizetti (1797-1848), com base no romance de Sir Walter Scott (1771-1832) e da pera Il
Trovatore, de Verdi. Felice Romani foi autor dos libretos de Norma e La Sonnambula de
Bellini (1801-1835) e de Elisir dAmore de Donizetti. Arrigo Boito fez o libreto de sua prpria
pera Mefistfeles, baseado no Fausto de Goethe, e das peras Ottelo e Falstaff, j
citadas, de Verdi, com grande maestria potica. Francisco Maria Piave angariou justa fama com
os libretos do Rigoletto e da Traviatta. J no sculo XX, Luigi Illica redigiu os libretos de
Andrea Chernier, de Giordano e da Tosca e Madame Butterfly, de Puccini (1858-1924).
era a arte suprema, por envolver todas as artes. Suas obras, diversamente do usual na poca,
no se baseavam em dramas ou comdias da vida mundana, mas em episdios lendrios do
folclore germnico, que foram traduzidos em imensos poemas pelo prprio Wagner.
Caracterstica da reforma por ele introduzida a conduo da ao operstica em melodismo
contnuo, isto , no h episdios destacados, como as rias e duetos, intercalados por
recitativos, nos quais a ao mais teatral que operstica. Todo o drama cantado, evoluindo
continuamente. O tratamento formal e a orquestrao de Wagner inovaram ao introduzir o
motivo condutor na composio, que no se estrutura em temas que so expostos,
desenvolvidos e repetidos, mas evoluem de modo contnuo. O uso de todos os instrumentos
da orquestra ao longo da pera inteira, mesmo nos trechos mais lricos e sutis outra
caracterstica inovadora de Wagner, que, no obstante, foi um anacrnico romntico, na
poca em que o romantismo j se retirava do cenrio musical.
dominado pelo compositor ingls Andrew Lloyd Weber, com suas peas Cats, baseada em T.
S. Eliot, Evita, The Phan-ton of the Opera e Sunset Boulevard.
Bem mais sutil, mas talvez at mais profunda, a relao entre a msica e a literatura,
encontrada no gnero de composio denominado Poema Sinfnico. Este termo foi usado
pela primeira vez para a composio Tasso, de Liszt (1811-1883). um gnero de msica
sinfnica que se distingue da sinfonia pelo seu carter programtico e, geralmente, pela
estruturao em um nico movimento. No poema sinfnico o compositor procura expressar
por meio de sons, o contedo de uma obra literria, de um quadro pictrico ou, mesmo, de
uma idia filosfica. As apresentaes desses poemas em salas de concerto so acompanhadas
de um programa explicativo do tema desenvolvido, relacionando as partes musicais
correspondentes a cada trecho.
de Liszt, Be-drich Smetana (1824-1884) comps uma srie de poemas sinfnicos: Ricardo III
(1858), sobre o personagem de Shakespeare; O Acampamento de Wallenstein (1859), sobre
o drama homnimo de Schiller; Hakon Jarl (1861), sobre o lendrio heri pago da
Escandinvia e O Car-naval de Praga (1883), ltima obra do compositor. Alm desses quatro,
Smetana comps o ciclo de seis poemas sinfnicos Minha Ptria, de inspirao nacionalista,
descritivos de lugares e he-ris da nao tcheca, contendo as obras Vysehrad, que descreve
o legendrio castelo; O Moldvia, cantando a passagem do rio pelo pas; Srdka, herona
lendria; Dos Campos e Bosques da Bomia; Tabor, cidade bastio dos guerreiros hussitas
e Blank, montanha refgio dos heris vencidos, que aguardam o momento de serem
chamados para a ressureio da ptria.
O poema sinfnico atingiu sua culminncia com Richard Strauss. Iniciando com Don
Ju-an (1889), sobre o galante personagem espanhol, seguiram-se Machbeth (1890), sobre o
dra-ma shakespeareano; Morte e Transfigurao (1890); As Alegres Travessuras de Till
Eulenspiegel (1895); Dom Quixote (1898), sobre o personagem de Cervantes; Assim Falou
Zarathustra (1896), sobre a filosofia de Nietzsche; Uma vida de Heri (1899), pea autoglorificatria; Sinfonia Domstica (1904) e Sinfonia Alpina (1915), estes dois ltimos de
carter descritivo.
Algumas obras sinfnicas no catalogadas como poemas sinfnicos podem ser assim
consideradas por seu carter programtico, como a precursora Sinfonia Pastoral de
Beethoven (1770-1827); as sinfonias Fantstica e Haroldo na Itlia de Berlioz (1803-1869);
a abertura Romeu e Julieta de Tchaikowsky (1840-1893) e a suite sinfnica Scherazade de
Rimsky-Korsakov (1844-1908). So msica de programa, na acepo de que pretendem
transmitir, pela msica, mensagem de contedo literrio, pictrico ou filosfico. Nesse
sentido, essas obras constituem-se na forma mais literria de msica, pois os recursos
musicais da melodia, harmonia e ritmo no so postos a servio do acompanhamento de um
texto literrio ou potico, seno procuram expressar, em si mesmos, o que a poesia, a pintura
ou a filosofia pretendem comunicar ra-zo e emoo.
Como pode ser percebido, h muita afinidade entre a msica e a literatura, sendo esta,
ao longo de toda a histria da msica, a fonte inspiradora de grande parte da criao musical,
mesmo nos casos da msica absoluta, isto , constituda puramente de sons, sem qualquer
apelo literrio direto. A razo dessa afinidade, talvez, esteja na prpria estrutura da mente
humana, que, uma vez adquirida a linguagem, elabora o pensamento em termos do discurso,
isto , da articulao das palavras em frases, para a conduo do raciocnio. A msica, por sua
expresso na dimenso temporal, de modo diferente das artes plsticas, criada mentalmente
numa sucesso de sons que, muito apropriadamente, denomina-se fraseado musical.
como se cada idia meldica possusse uma estrutura sinttica com sujeito, predicado,
complementos e adjuntos. Ao compor, o msico elabora um texto musical, em que expressa
sua idias em blocos sucessivos, do mesmo modo que na redao do texto literrio. Assim, a
obra como um todo, h que ter uma introduo, uma exposio de idias, um
desenvolvimento dos temas, com retornos e avanos e, finalmente, uma concluso, muitas
vezes encerrada com um trecho de tenso acumulada, at seu alvio no acorde final, trecho
este que, muito pertinentemente, denomina-se coda, do italiano, significando cauda.
REFERNCIA: http://www.ahistoria.com.br/musica-na-literatura/