Neoliberalismo e Ensino Superior uma reflexo sobre a Educao
Distncia e o Ensino Privado
Marta Rosani Taras Vaz (Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO)
[email protected] Dr. Mario de Souza Martins (Professor de Sociologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste -
UNICENTRO)
[email protected] Resumo:
O artigo Neoliberalismo e Ensino Superior uma reflexo sobre a Educao Distncia e o Ensino
Privado configura-se como parte integrante do Trabalho de Concluso de Curso, vinculado
Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) - Paran. Realiza uma reflexo sobre o
conceito de Estado e o Neoliberalismo, sua trajetria histrica e o reflexo de seu iderio no Brasil,
investigando as Polticas voltadas ao Ensino Superior a partir da dcada de 90, nos governos de
Fernando Collor de Mello (1990-1992), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luis Incio Lula
da Silva (2003-2010), tendo em vista o contexto poltico e econmico do Brasil neste perodo,
verificando a influncia de Organizaes e bancos externos e refletindo sobre o fortalecimento das
Instituies de Ensino Superior Distncia e sobre o incentivo a polticas de relao pblica
privado para o ensino superior no Brasil.
Palavras chave: Neoliberalismo, Ensino Superior, Educao Distncia, Ensino Privado.
Neoliberalism and Higher Education - a reflection on the Distance
Education and Private Education
Abstract :
The article "Neoliberalism and Higher Education - a reflection on the Distance Education and Private
Education" appears as part of the Work Completion of course, linked to State University Midwest
(UNICENTRO) - Paran. Performs a reflection on the concept of State and Neoliberalism, its
historical trajectory and the reflection of his ideas in Brazil, aimed at investigating the Higher
Education Policy from the 90s, the governments of Fernando Collor de Mello (1990-1992), Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) and Luis Inacio Lula da Silva (2003-2010), in view of the political
and economic context of Brazil in this period, checking the influence of external organizations and
banks and reflecting on Strengthening Higher Education Institutions Distance and the incentive
policies regarding public - private higher education in Brazil.
Key-words: Neoliberalism, Higher Education, Distance Education, Private Education.
1 Introduo
O presente trabalho tem por objetivo investigar as polticas educacionais para o ensino
superior implementadas pelo Estado a partir da dcada de 90, que ao invs de apoiar o
desenvolvimento de uma educao pblica de qualidade, tem se pautado no fortalecimento da
Educao Distncia (EaD) e o avano de instituies privadas.
Nos ltimos anos o ensino superior vem sendo marcado por um aumento de vagas
seguido de um discurso de democratizao. Os investimentos em educao caminham em
direo oposta a uma poltica de incrementao da educao, se amplia o nmero de vagas,
mas esse passo no acompanhado por uma poltica de investimento, que possibilite que esse
movimento incorpore a grande parte da populao num processo educativo com qualidade.
A poltica educacional se contrape aos investimentos, e mostra que a preocupao
governamental trata de formar o maior nmero de pessoas, ou seja, a formao em massa.
Mas, para que se possa incrementar a formao superior em massa so necessrios altos
investimentos financeiros nas Instituies de Ensino Superior (IES) pblicas acarretando um
gasto significativo com o dinheiro pblico com a Educao Superior dirigido basicamente a
uma formao que deixa a desejar em termos de qualidade. Desta forma, torna-se cada vez
mais frequente o surgimento de instituies de ensino superior distncia e privada. A
proposta de formao em massa por intermdio da educao distncia se torna uma oferta
barata, contribuindo para que o Estado diminua seus investimentos em universidades
presenciais, pblicas e gratuitas.
Para melhor compreender vale verificar como se d a relao entre o estado neoliberal
e o financiamento das polticas educacionais do ensino superior nos anos 90, contribuindo
para o desmonte da educao pblica de qualidade, dirigindo o volume de investimento para
polticas que privilegiam a educao privada e distncia. Caracterizando tambm o estado
neoliberal investigando as polticas de EaD e da relao entre o pblico e o privado que esto
voltados ao iderio deste modelo de Estado.
2 O Estado e Neoliberalismo
O ensino superior atualmente vem se deparando com diversos obstculos,
principalmente no que se refere ao seu financiamento, o atual modelo de estado, o
neoliberalismo conhecido tambm como o estado mnimo, teceu polticas que diversificaram
a oferta em mltiplas modalidades de ensino superior, podendo ser ofertadas em Instituies
de ensino privada ou distncia, com grande apoio poltico para acordos de parceria pblico-
privada.
Realizar uma reflexo sobre as mudanas que vem ocorrendo no ensino superior
brasileiro implica compreender o modelo de estado vigente, o neoliberalismo, investigando
sua histria, seu iderio e ideologias, bem como compreender sua relao com o princpio
capitalista. Para melhor compreender o neoliberalismo, faz necessrio conhecermos algumas
concepes de Estado.
De acordo com Carnoy (1988, p.66) Karl Marx compreendia o Estado em seu
contexto histrico e se submeteu a uma concepo materialista da histria. No o Estado
que molda a sociedade, mas a sociedade que molda o Estado, no entanto para Marx, a
sociedade por sua vez moldada pelo modo de produo dominante e por suas relaes de
produes, ou seja, o Estado fruto das relaes de dominao num modo de produo.
Para Marx o Estado no pode ser visto como redentor da sociedade, uma vez
compreendido que ele fruto dela e das lutas de classes nela travada. Na viso da sociedade
capitalista como uma sociedade de classes (burguesia x proletariado), compreendemos a
classe dominante como aquela que detm dos meios de produo, no qual o Estado
expresso poltica desta dominao. [...] o Estado um instrumento essencial de dominao
de classes na sociedade capitalista (CARNOY, 1988, p. 67).
Dessa forma podemos compreender que as polticas para o ensino superior, esto
voltadas ao interesse de uma classe, aquela a que o Estado serve, a classe dominante. Para
Carnoy (1988, p.69), o Estado capitalista dominado pela burguesia:
O Estado a expresso poltica da classe dominante sem ser originrio de um
compl de classe. Uma instituio socialmente necessria exigida para cuidar de
certas tarefas sociais necessrias para a sobrevivncia da comunidade torna-se uma
instituio de classe.
Podemos compreender, portanto, que os Estado instrumento da classe dominante,
Carnoy (1988, p.73) considera trs pontos relevantes da relao do Estado com a dominao
capitalista:
Em primeiro lugar, os membros do sistema de Estado [...] tendem a pertencer
mesma classe ou classes que dominam a sociedade civil. [...] Em segundo lugar, a
classe capitalista domina o Estado atravs de seu poder econmico global. Atravs
de seu controle dos meios de produo, a classe dominante capaz de influenciar as
medidas estatais de uma maneira que nenhum outro grupo, na sociedade capitalista,
pode desenvolver, quer financeira quer politicamente. [...] Em terceiro lugar, o
Estado um instrumento da classe dominante porque, dada a sua insero no modo
capitalista de produo, no pode ser diferente. A natureza do Estado, determinada
pela natureza e pelas exigncias do modo de produo.
Segundo Carnoy (1988), o filsofo Gramsci acreditava que compreender o Estado,
implica a compreenso dos conceitos de sociedade civil e hegmonia. Para Gramsci a
sociedade constituda por diversos grupos sociais, como sindicatos, aparelhos escolares e
religiosos e instituies cvicas, que compem a superestrutura, onde se encontra a sociedade
civil que representa o fator ativo e positivo no desenvolvimento histrico; complexo das
relaes ideolgicas e culturais, a vida espiritual e intelectual, e expresso poltica dessas
relaes torna-se o centro da anlise. (CARNOY, 1988, p.93).
O conceito de hegemonia no seu sentido originrio do grego significa dirigir, guiar,
conduzir. Neste sentido, Sheen (2007) considera que a hegemonia passa a ser usada como um
privilegio de um pequeno grupo, capaz de decidir, manipular, estabelecer regras e leis sobre a
populao desprovida do poder hegemnico, ou seja, poder poltico, econmico, ideolgico e
cultural.
O conceito de hegemonia est diretamente ligado ao conceito de Estado, na concepo
de Gramsci o Estado a juno da sociedade civil mais a sociedade poltica. Para Gramsci
compreendido por Carnoy (1988, p.93) a hegemonia significa o predomnio ideolgico das
classes dominantes sobre a classe subalterna na sociedade civil, revestida de fora e
convencimento. A sociedade poltica reproduz a fora por meio de aparelhos repressivos e a
sociedade civil reproduz o convencimento do projeto de sociedade. Dessa forma a classe
dominante impe s demais classes seu pensamento como se este fosse nico, universal e
verdadeiro.
Segundo Shenn (2007) a Poltica Educacional marcada por dois grandes momentos:
o processo e o produto. O processo se caracteriza pelas diversas discusses entre o estado e os
diferentes grupos sociais da sociedade civil, cada grupo defendendo os seus interesses. No
produto encontramos a lei aprovada. A anlise da Poltica Educacional requer do produto o
estudo dos documentos legais, sem perder de vista as modificaes at chegar lei.
Como j discutimos a lei a ser aprovada aquela que corresponda aos interesses da
classe dominante que detm do poder hegemnico. Mas por outro lado, a realidade apresenta-
se com muitas nuances e por isso dependente das relaes de fora dentro da sociedade, ou
seja, dependente da organizao da sociedade civil e das condies de presso que possam
exercer sobre o Estado.
Portanto, a Poltica Educacional expressa um momento de coero da classe
dominante de modo a manipular todo um sistema educacional e posteriormente o rumo de
toda estrutura social. Podemos recordar Shen (2001, p.14) quando considera que esse
processo contraditrio presente na realidade social:
A poltica educacional, quando se apresenta sob sua forma materializada, como
produto acabado, expresso em leis, planos, reflete o momento de coero, do
Estado em sentido restrito. Essa coero, no entanto, resultou de uma luta que se
travou no mbito da sociedade civil, entre vrias polticas possveis, no bojo das
contradies prprias da sociedade capitalista. Em outros termos, a legislao vem
concretizar ou legitimar uma disputa que j se deu e foi definida no plano da
sociedade civil.
Para compreendermos as polticas educacionais no cenrio brasileiro de Estado
Neoliberal devemos realizar um retrospecto da histria poltica da sociedade capitalista, a
comear pelo surgimento do liberalismo.
O Liberalismo uma doutrina econmico-filosfico que tem seus princpios em:
liberdade, tolerncia, defesa da propriedade privada, limitao do poder e individualismo.
Para acompanhar e responder as necessidades e interesses do modo de produo que surge, o
liberalismo nasce no processo de transio do feudalismo ao capitalismo, para fortalecer e
justificar esse novo modelo econmico e poltico, que surgiu no fim da idade mdia: o
capitalismo.
De acordo com Lima (2008) o liberalismo no Brasil se organizou sobre bases
materiais diferentes daqueles do liberalismo clssico, e a compreenso dessas diferenas
fundamental para esclarecer as possveis confuses desse iderio que surgiu no Brasil quando
ainda era colonial e com mo de obra escrava (sculo XIX).
O Brasil um pas de muita influncia externa, pois, a histria brasileira est
diretamente ligada ao desenvolvimento do capitalismo mundial. Enquanto o liberalismo
clssico lutou para derrubar definitivamente o feudalismo, no Brasil o liberalismo representou
a oposio dos laos coloniais.
No entanto, as condies precrias de vida da grande parte da populao europeia, por
volta do sculo XVIII em consequncia da revoluo francesa e Industrial coloca em risco a
doutrina liberal. A classe operria comeou a reivindicar os seus direitos, contribuindo para o
surgimento do estado de bem estar social. por volta dos anos 50, 60, 70 do sculo XX que
os pases ocidentais inspirados na teoria de Keynes para redefinir a poltica e a economia, na
qual propunha uma interveno maior do Estado nos negcios, com o objetivo de controlar as
foras econmicas.
De acordo com Chau (2001) as lutas sindicais e populares dos anos 1930-1940
conquistaram o chamado estado de bem estar social, onde o Estado assumia determinadas
responsabilidades atendendo as necessidades e bem estar da sociedade, importante lembrar
que o Brasil no chegou a usufruir diretamente deste modelo de Estado, em sua forma mais
intensa incorporada pelos estados europeus. O poder dos sindicatos e dos movimentos
operrios da poca que reivindicavam melhores salrios e cargos sociais estava abalando a
estrutura das empresas, diminuindo seus lucros e surgindo incontrolveis processos
inflacionrios, o chamado estagflao.
Com a crise do estado de bem estar social, surgiu a necessidade da criao de um
Estado que controle as revoltas populares, diminua os gastos sociais com o dinheiro pblico,
diminua os encargos sociais e investimentos na economia, ou seja, a implantao de uma
proposta do Estado minimalista, aquele que no intervm devidamente com a sade,
educao e previdncia social, refletindo as praticas descentralizadora, de controle e
privatizao. Este Estado minimalista ficou conhecido como Neoliberal. De acordo com
Carvalho (2007, p.3):
[...] O neoliberalismo surgiu aps a 2 Guerra Mundial, na regio da Europa e da
Amrica do Norte nos pases capitalistas centrais. Pode-se dizer que sua origem
esteve relacionada ao texto o Caminho da Servido de Friedrich Hayek de 1944,
uma espcie de reao terica e poltica contra o Estado intervencionista e de bem-
estar.
No entanto, este modelo de estado toma corpo no Brasil apenas a partir da dcada de
90, nos governos de Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso, no governo do
presidente Luiz Incio Lula da Silva assumindo praticas de privatizao e controle no Ensino
Superior do Brasil.
3 As polticas para o Ensino Superior e o aumento de Instituies privadas e de EAD a
partir da dcada de 90
O Ensino Superior Pblico sofre claramente os reflexos desse novo modelo de estado,
atravs de polticas voltadas ao financiamento privado, e fortificao de instituies de oferta
de cursos distancia, tornando-se alvo de discusses sobre o conflito entre instituies
pblicas e privadas, nas palavras de Barros e Lima (2010, p.4) compreendem:
[...] percebemos que a partir dos anos de 1990 o Ensino Superior comeou a passar
por bruscas mudanas. Essas mudanas estavam e ainda continuam vinculadas aos
princpios neoliberais que foram implantados, de fato, no Brasil com a primeira
eleio direta para Presidncia da Repblica.
Collor assumiu a presidncia do Brasil, embora seu mandato tenha durado apenas
dois anos (1990-1992), foi o suficiente para tomar decises significativas no campo
educacional, no que se refere em todos os nveis de ensino, de modo particular no ensino
superior, seguindo os princpios neoliberais.
Com o governo neoliberal de Collor h uma desvalorizao do ensino superior
publico e um crescimento das instituies de ensino privado, visando a diminuio dos gastos
governamentais com o ensino superior pblico e refletindo a lgica do capital. Segundo
Minto (2006, p. 215-216) as principais mudanas no setor econmico no perodo de Collor
foram abdicao da moeda nacional, a privatizao do patrimnio pblico, acordos da
dvida externa e a perda da autonomia nacional no que se refere aos gastos pblicos.
O governo de Collor se caracterizou pelo discurso de modernizao em forma de
privatizao, visando o aumento das instituies de ensino particulares para conseguir um
aumento significativo de estudantes ao acesso a universidade. Neste perodo o ensino
superior se submeteu a uma mercadoria, que resultado de acordos financeiros entre o
Ministrio da Educao e Cultura (MEC) e organizaes internacionais, como o Banco
Mundial (BM) com o intuito de diminuir os custos com a educao.
Alm da valorizao das IES privadas durante o neoliberalismo, houve o
fortalecimento da EaD, visando a preparao imediato para o mercado de trabalho sem
acarretar grandes gastos para o governo, abrangendo, por que no, o ensino superior.
A EaD nos cursos superiores no Brasil teve seu fortalecimento com o aumento das
tecnologias e o acesso das massas a elas, mas muito alm disso, surge estrategicamente com
o intuito de formar mo de obra em grande quantidade, geralmente em um menor prazo de
tempo, acarretando menos custos.
No governo de Fernando Henrique Cardoso que foi de 1995 2002, houve um grande
crescimento das instituies de ensino superior privada, devido a forte influncia das ideias
neoliberais, como o princpio de privatizao. De acordo com Carvalho (2007, p.15):
A poltica pblica para o ensino superior, principalmente no segundo mandato de
FHC parece indicar maior aproximao com os preceitos neoliberais, sob diversas
formas: da parceria pblico-privado e da disseminao de cursos de extenso
pagos nas universidades pblicas, at a atribuio iniciativa privada na expanso
de vagas.
Essas medidas descentralizadoras e de privatizao demonstram o afastamento do
estado de suas responsabilidades publicas, refletindo claramente na educao em todos os
seus nveis. Podemos observar na tabela a seguir, o grande nmero de IES privadas em
detrimento as IES Pblicas na dcada de 90.
Anos Total Pblico
Privado
N absoluto %
1990 918
222 696 75,8
1991 893
222 671 75,1
1992 893
227 666 74,5
1993 873
221 652 74,6
1994 851
218 663 74,3
1995 894
210 684 76,5
1996 922
211 711 77,1
1997 900
211 689 76,5
1998 973
209 764 78,5
Fonte: MEC/Inep/Seec
Quadro 1: Evoluo do Nmero de Instituies, por Dependncia Administrativa
Brasil 1980-98
.
Podemos perceber que na dcada de 90 as Instituies de ensino superior, somando
Universidades, Estabelecimentos Isolados, Federaes e Integradas, possuem uma mdia de
75 % delas pertencendo a Instituies particulares.
No governo do presidente Luis Incio Lula da Silva (2003-2010) h o destaque do
Projeto da Reforma Universitria Lei n7.200/06, de acordo com a Cartilha da luta contra a
Reforma Universitria:
[...] Ela se constitui de um complicado processo, envolvendo Medidas Provisrias,
Decretos, etc., que j esto sendo implementados desde o incio do governo Lula [...]
sob o discurso de envolver o conjunto da sociedade na construo dessa Reforma,
agarrou reivindicaes antigas [...] e converteu seu sentido para os interesses
abusivos do capital financeiro. (p.5)
Desse modo, podemos entender que a reforma universitria integra decretos e
medidas que no atendem necessariamente os interesses dos grupos acadmicos e toda
comunidade, mas converte seus ideais aos interesses de empresas privadas. A reforma
desenvolvida no governo do Lula encaminhou e aprovou medidas como: A Lei da Inovao
Tecnolgica; Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior (SINAIS)/ Exame Nacional
de desempenho (ENADE); Programa universidade para todos (PROUNI); Parcerias Pblicos
Privadas; Decretos de Fundaes; medidas mercantis atravs do Financiamento Estudantil
(FIES), bem como o apoio expressivo a modalidade distancia do ensino superior.
No grfico 1 podemos observar o avano da modalidade de EaD no Ensino Superior
durante o perodo de 2000 a 2007, no grfico 2 verificamos a distribuio porcentual da EaD
por iniciativa privada.
10
16
46
52
107
189
349
408
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
EAD: Cursos de graduao
60,0%
187,5 %
13,0 %
105,8%
76,6%
84,7 %
16,9%
Fonte: MEC/INEP/Censo
Grfico 1: Evoluo dos cursos de EaD, Brasil: 2000-2007
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
100,0
100,0
84,3
79,7
60,4
32,4
18,5
11,0
15,8 20,3
39,6
67,6 81,5
89,0
Pblica Privada
Fonte: MEC/INEP/Censo
Grfico 2: Distribuio percentual da EaD, por categoria administrativa, Brasil: 2000-2007
A oferta do Ensino Superior Distancia vem crescendo principalmente nos cursos de
licenciaturas, de Letras, Histria e Pedagogia. De acordo com inep/ Mec, as licenciaturas
contam com 215.703 matrculas no ano de 2007, contabilizando 58,3% das vagas da EaD no
Brasil.
Devido o aumento da desigualdade nos pases de terceiro mundo, os pases
desenvolvidos precisam conter a pobreza desenvolvendo estratgias polticas voltadas aos
seus interesses, decorrente disso organizaes internacionais, como o Banco Mundial e
UNESCO influenciam sobre o financiam a Educao superior. De acordo com Michelotto
(2006, p.185):
De fato a interferncia do Banco tem contribudo historicamente no para a
diminuio da pobreza, mas sim para seu incremento; o Banco tem representado o
papel de um importante auxiliar de poltica externa americana e tem interesse tanto na
venda de projetos para os pases quanto no financiamento dos projetos apresentados
por estes que estejam de acordo com suas determinaes, afinal de contas, o Banco
Mundial, como qualquer outro banco, lucra e muito com os pagamentos dos
emprstimos concedidos. [...] A educao uma das reas em que o Banco tem
concentrado suas aes: as reformas educacionais dos diferentes pases tm se
constitudo em uma preocupao constante do Banco e um privilegiado meio de
implementar tais polticas.
A reforma universitria desencadeada no governo de Fernando Henrique Cardoso e
incrementada no governo do Lula influenciada por um documento chamado: La Educacin
Superior em los Pases em Desarollo: peligros y promesas, (A Educao Superior nos pases
em desenvolvimento: perigos e promessas). Criado pela UNESCO e BM, e organizado pelo
Grupo Especial sobre Educao Superior e sociedade, o documento discute a importncia
do aumento de vagas no ensino superior, e amparado pelo discurso de incluso e
democratizao do acesso e aumento das vagas do ensino superior.
Compreendemos que o documento, na realidade, est voltado a uma poltica que visa a
ampliao das vagas e do acesso a rede de ensino superior, atravs de diversificados
mecanismos de ensino, alm da fortificao das instituies privadas atravs de incentivo
governamental traando relaes entre pblico e privado. Na ultima dcada podemos observar
sua forte influncia que acarretou o crescente surgimento de instituies de EaD e o apoio ao
financiamento de estudantes de escolas pblicas para ingresso em IES privada atravs de
programas como Prouni e Fies.
Para o aumento das vagas e a chamada democratizao do ensino superior brasileiro
conseguir alcanar seus objetivos sem investir precisamente com o fortalecimento da
universidade pblica e presencial, seria necessrio estratgias e mecanismos para diversificar
as ofertas do ensino superior. Segundo Michelotto (2006, p.187) o Grupo Especial:
Defende, ento, que preciso que as aes sejam criativas e consistentese que
sejam baseadas em uma nova viso de ensino superior, melhor planificao e
padres mais altos de gesto. Alm disto, alega que primordial que as foras de
todos os atores pblicos e privados sejam utilizadas para que a expanso seja
concretizada.
Compreendemos que este documento influnciou a diversificao das instituies do
ensino superior, podendo ser ofertados em universidades pblicas, universidades regionais,
institutos profissionais e universidades virtuais ( distncia em diferentes modalidades),
enfatizando a relao entre o pblico e o privado.
No entanto, sua diversificao de oferta em instituies privadas e a distncia no
significa que o ensino superior esta sendo democratizado, ou que a incluso esteja
garantida com acesso a qualidade. Pelo contrario, as medidas adotadas nas ultimas duas
dcadas, refletidas por um iderio neoliberal, vem significar a desvalorizao das
Universidades Federais e Estaduais, IES gratuitas, acarretando o sucateamento do Ensino
Superior Pblico brasileiro.
De acordo com Carvalho (2007, p.12) o problema no consiste fundamentalmente na
ausncia de vagas para o ensino superior, mas na escassez de vagas pblicas e gratuitas em
instituies de ensino presencial que possam ofertar o ensino, a pesquisa e a extenso, a
poltica para o segmento pblico tem sido na direo do sucateamento, devido reduo
drstica do financiamento do governo federal.
Michelotto (2006, p. 193) acredita que:
E em funo desse crescimento s avessas, porque excludente, que o documento
Uma Escola do tamanho do Brasil, que traz os compromissos do Governo Lula,
enfatiza a necessidade de ampliao do acesso educao superior para todos os que a
ela demandarem e preconiza uma universidade comprometida com a incluso social.
Era preciso reverter o processo de deteriorao acentuada que atingia o ensino
superior desde os anos 90. A diminuio dos investimentos pblicos em educao em
todos os nveis e os sucessivos cortes oramentrios atingiram em cheio o sistema
universitrio federal, impedindo sua expanso e provocando o sucateamento das
universidades existentes.
Dessa forma, as polticas para o ensino superior e as aes e programas
governamentais que modificaram o funcionamento deste nvel de ensino atendem as
condies e necessidades de quem detm o poder hegemnico, correspondendo aos interesses
do capital financeiro. Para Lima (2010, p.5):
Pode-se dizer que a forma que o liberalismo tomou ao longo dos tempos se
modificou a partir das necessidades do capitalismo em se manter vivo. Embora as
caractersticas se diferenciem nos diferentes momentos, h um princpio que
presente em todas as suas formas, a defesa da propriedade privada e, mais do que
isso, a conservao do capitalismo como modo de produo.
Para Anderson (1996, p.10) o neoliberalismo como um estado ideolgico reproduz a
lgica do sistema do capital financeiro atravs de polticas:
Socialmente (...) o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos, criando
sociedades marcadamente mais desiguais, embora no to desestatizadas como
queria. Poltica e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcanou xito num
grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonham, disseminando a
simples idia de que no h alternativas para os seus princpios, que todos, seja
confessando ou negando, tm de adaptar-se a suas normas.
Compreendemos que para que as reformas no ensino superior possam resultar
positivamente na educao do pas fundamental e primordial que correspondam s
necessidades da maioria da populao, implantando projetos e programas voltados pela
melhoria da qualidade e, por que no, da quantidade da educao no pas.
No entanto muitas vezes nos deparamos com reformas educacionais e programas
governamentais que direcionam a educao do pas a uma falsa democratizao e igualdade
de oportunidades uma vez que a poltica educacional se debrua aos interesses abusivos da
lgica do capital, sendo direcionado pelas leis do mercado.
O filsofo Mszros (2005, p. 27), realiza uma reflexo sobre reforma educacional
quando direcionada pelo mercado:
Limitar uma mudana educacional radical s margens corretivas interesseiras do
capital significa abandonar de uma s vez, conscientemente ou no, o objetivo de
uma transformao social qualitativa. [...] por isso que necessrio romper com a
lgica do capital se quisermos contemplar a criao de uma alternativa
significantemente diferente.
Dessa forma, podemos compreender que a poltica educacional superior, voltada aos
interesses do capital financeiro, esta certamente vulnervel a seguir a lgica objetiva do
capital, refletindo investimentos corretivos nas lacunas do Ensino Superior, esta lgica que se
tornou global interfere nas polticas com o principal objetivo: manter sua prpria ordem.
Enfim, compreendemos que no ultimos anos o Ensino Superior brasileiro est
acompanhando um processo de massificao de suas vagas e seu acesso atravs de polticas e
financiamento que investem no Ensino Superior de oferta de cursos distncia e apoiando as
iniciativas privadas das Instituies. No entanto, vale refletir sobre de que forma o Ensino
Superior no Brasil esta se caminhando a resultados qualitativos se no ha polticas de
fortalecimento para o ensino pblico, gratuito e de qualidade em Universidades presencias
(Ensino, pesquisa e Extenso).
4 Referncias
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