Aplicação Do Princípio Da Boa-Fé Objetiva Nos Contratos Administrativos
Aplicação Do Princípio Da Boa-Fé Objetiva Nos Contratos Administrativos
Aplicação Do Princípio Da Boa-Fé Objetiva Nos Contratos Administrativos
FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA DE DIREITO CIVIL III - CONTRATOS
PROFESSOR SILNEY ALVES TADEU
PELOTAS
2009
LUCAS DA COSTA CUNHA
PELOTAS
2009
2
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO
3
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... 05
I. O princípio da boa-fé objetiva....................................................................................... 06
II. Contratos administrativos e seu conceito..................................................................... 10
III. A aplicação do princípio da boa-fé objetiva nos contratos administrativos no
direito brasileiro................................................................................................................ 12
Conclusão.......................................................................................................................... 15
Referências........................................................................................................................ 16
4
INTRODUÇÃO
5
I. O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
1
MATIELLO, 2008. p. 35-36.
2
“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como na execução, os princípios
de probidade e boa-fé.” Brasil. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro.
6
a ver com as limitações da liberdade contratual, da autonomia da vontade em
geral e com o abuso de direito”.3
Nesses lineamentos, cabe ressaltar que desde o início das transações até o
encerramento de um negócio jurídico (contrato), inclusive em sua fase de adimplemento,
espera-se que as partes envolvidas procedam com honestidade, retidão, lealdade, decoro, isto
é, boa-fé objetiva.
3
FIUZA, 2003.
4
CARVALHO e PEREIRA, 2009.
5
CAMPOS, 2009.
6
Ibidem. Op. cit.
7
MATIELLO, 2008.
7
As condutas infectadas de má-fé não devem ser consentidas, e, quando desvendadas,
devem ser extirpadas da relação negocial. Isso devido ao fato de que a não aceitação da
cláusula geral em explicação (boa-fé objetiva) ser um afrontamento aos ditames prestados
pelo ordenamento jurídico pátrio.
Pertinente, também, o comentário de Fábio Ulhoa Coelho
“a virtude da boa-fé consiste em acreditar no que diz e dizer o que acredita. Quem
está de má-fé, mente; mas quem mente não está necessariamente de má-fé. No
clássico exemplo do cidadão alemão que, durante o nazismo, dá guarita ao amigo
judeu e mente a respeito para a gestapo, encontra-se a convergência da boa-fé e a
mentira. O cidadão alemão acredita, de verdade, que não há mal em enganar se
isso é necessário para salvar a vida do amigo, o que revela sua boa-fé. No mesmo
sentido, quem está de má-fé, engana; mas quem engana não está sempre de má-fé.
Isso porque age de boa-fé aquele que acredita no que diz, mesmo quando está
equivocado. Se alguém desconhece a verdade dos fatos sobre os quais fala, mas
acredita sinceramente ser veraz o que deles sabe, está de boa-fé. [...] Em razão da
cláusula geral da boa-fé objetiva, os contratantes devem-se, tanto nas negociações
como na execução do contrato, mútuo respeito quanto aos direitos da outra parte.
Condutas que denunciam ou sugerem o desrespeito – como a ocultação de vícios
da coisa – caracterizam a ausência de boa-fé. O descumprimento do dever geral de
boa-fé objetiva implica, pela lei, apenas a responsabilidade civil do contratante
faltoso, que deve indenizar todos os prejuízos sofridos pela parte cujos direitos
desrespeitou. Não há previsão legal que fundamente a revisão ou resolução do
8
contrato em virtude da má-fé do contratante”.
Para Maria Helena Diniz9, o princípio da boa-fé objetiva é cláusula que solicita
conduta leal e honesta dos contratantes, sendo inconciliável com qualquer comportamento
abusivo, tendo por desígnio provocar na relação obrigacional a fidúcia necessária e o
equilíbrio das prestações e da repartição dos riscos e encargos.
Outrossim, para Caio Mário da Silva Pereira10,
“a boa-fé objetiva não diz respeito ao estado mental subjetivo do agente, mas sim
ao seu comportamento em determinada relação jurídica de cooperação. O seu
conteúdo consiste em um padrão de conduta, variando as suas exigências de
acordo com o tipo de relação existente entre as partes”.
8
COELHO, 2007.
9
DINIZ, 2007.
10
PEREIRA, 2004.
8
fim altivo. O princípio da boa-fé objetiva – como cláusula geral nos contratos – serve para
indicar que tipo de comportamento os contratantes deverão guardar para com o outro.
9
II. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS E SEU CONCEITO
Isto é, pressupõe-se um pacto consensual, de liberalidade das partes – que devem ter
capacidade para tal, para se obrigarem de forma válida.
No tocante ao tema, Hely Lopes Meirelles propõe que todo contrato (tanto os de
natureza pública, quanto os de natureza privada) é dominado por dois princípios, são eles: lex
inter partes e o do pacta sunt servanda, o da lei entre as partes e o da observância do
pactuado, respectivamente12.
Superadas as considerações iniciais no tocante aos contratos em geral, passemos ao
exame dos contratos administrativos.
Quanto ao tema, há inúmeras divergências doutrinárias, havendo, no mínimo, três
correntes a respeito da natureza dos contratos administrativos. Não obstante, não se faz
necessário, neste diminuto trabalho, esclarecer todas elas, mas, simplesmente conceituar tal
instituto sob o ponto de vista da melhor doutrina.
Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro o contrato administrativo é espécie do gênero
contrato, salienta, a erudita autora, que o conceito de contrato não é exclusividade do direito
privado, “devendo ser dado pela teoria geral do direito13”. Prossegue, em excelente teoria,
afirmando que o contrato “existe também no direito público, compondo a espécie contrato de
direito público, [...]14”.
11
MEIRELLES, 2007.
12
Ibidem. Op. Cit..
13
Di Pietro, 2002.
14
Ibidem. Op. Cit.
10
Di Pietro apresenta, em seu curso, características intrínsecas dos contratos
administrativos, quais sejam: a presença da Administração Pública como Poder Público;
finalidade pública; obediência à forma prescrita em lei; procedimento legal; natureza de
contrato de adesão; natureza intuitu personae; presença de cláusulas exorbitantes (exigência
de garantia, alteração unilateral, rescisão unilateral, fiscalização, aplicação de penalidades,
anulação, retomada do objeto, restrições ao uso da exceptio non adimpleti contractus);
mutabilidade.
Para MEIRELLES, o
“contrato administrativo é o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa
qualidade, firma com particular ou outra entidade administrativa para consecução
de objetivos de interesse público, nas condições estabelecidas pela própria
Administração15”.
15
MEIRELLES, 2007.
16
BANDEIRA DE MELLO, 2002.
11
III. A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO
17
“O conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e
imediatamente os fins desejados pelo Estado.” MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 33ª
ed. – São Paulo: Malheiros, 2007. p 40.
12
Outrossim, a Lei que regula o processo administrativo positivou, em relação ao
administrado, no artigo 4º, II: “São deveres do administrado perante a Administração, sem
prejuízo de outros previstos em ato normativo: II - proceder com lealdade, urbanidade e
boa-fé;”, enquanto, em relação à própria Administração, no artigo 2º, § Ú, IV: “A
Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência. Parágrafo único. Nos processos
administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: IV - atuação segundo
padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;”.
Diante do exposto, por se tratar de duas leis de inigualável relevância aos contratos
(acordos, atos, etc) administrativos, não restam dúvidas, por regerem praticamente todos os
atos decisórios da Administração Pública, que o princípio da boa-fé objetiva se aplica ao
Direito Público, mais especificamente aos contratos administrativos.
Nessa esteira, inigualável foi a conclusão de PEREIRA E CARVALHO:
“É forçoso reconhecer também que os contratos administrativos, como verdadeiros
processos formuladores de direitos e obrigações, devem se pautar sempre sob os
comandos e deveres impostos pelo princípio da boa-fé objetiva, entendido este
como um dever de conduta, capaz de ser objetivamente analisado e considerado,
pautado pela confiança, cooperação, transparência e lealdade.”18
É nesse significado que se sugere, neste breve trabalho, pelo menos o enfoque um
pouco mais prudente ao aproveitamento do princípio da boa-fé objetiva aos contratos
administrativos. Não como simples debate doutrinário, mas como instrumento a favorecer
uma melhor análise desses ajustes – contratos administrativos - que a toda hora são utilizados
pela Administração Pública. O importante, na verdade, é a proteção da satisfação do interesse
público; dessa forma, a aplicação do princípio em exame é imprescindível principalmente em
casos onde haja dubiedade ou distorção do requerido pelos indivíduos enquanto partícipes da
sociedade que são singularizados no ente chamado Estado.
CAMPOS, em seu excelente escrito, com relação ao posicionamento do Supremo
Tribunal Federal em relação à boa-fé objetiva e sua aplicação no campo administrativo,
conclui que:
“O Supremo Tribunal Federal, a partir do que se depreende de suas decisões,
chancela a presença e efetividade do princípio da boa-fé objetiva a orientar e
regular as relações contratuais no âmbito da Administração Pública, sendo certo
que o toma como um verdadeiro princípio jurídico, aplicando-o sempre a partir do
18
PEREIRA E CARVALHO, 2009.
13
cotejo e da ponderação com outros princípios regentes desta seara e que se
mostram aptos a incidir em um dado caso concreto;”19
19
CAMPOS, 2009.
14
CONCLUSÃO
Dessa forma, conforme foi exposto no decorrer do laborioso escrito, conclui-se que:
1. O princípio da boa-fé objetiva é cláusula que solicita conduta leal e honesta dos
contratantes e deve estar sempre presente nos acordos firmados;
2. Depois de acertada análise, percebeu-se que o princípio da boa-fé objetiva é cláusula geral
que não se desprende de nenhum tipo de contrato, seja ele privado ou público.
3. O princípio da boa-fé objetiva está presente entre aqueles que compõem o Direito
Administrativo Brasileiro, especialmente como instituto informativo das contratações;
4. Tal instituto se aplica tanto ao campo do direito privado quanto à seara do direito público
(contratos administrativos, no caso em análise) sendo mais coerente dizer que tal princípio é
instituto típico da Teoria Geral do Direito, amplamente considerada, inclusive nos contratos
administrativos;
5. É evidente a inegável importância que exsurge da aplicação do princípio da boa-fé objetiva
nos contratos administrativos. O que é muito bem ratificado nas palavras de ALVES:
“A boa-fé objetiva tem ambiente fértil de aplicação no domínio dos contratos
administrativos. Aqui, o instituto em tela age com desenvoltura tanto como
princípio de Direito Público, haurido na Carta Constitucional, como de Direito
20
Privado, informador da nova teoria contratual.”
6. O princípio da boa-fé (objetiva), nessa conjuntura, é capaz, até mesmo, de dar uma maior
concretização a importância do interesse público (finalidade dos contratos administrativos);
7. Figura, tal princípio, como instrumento para ajeitar as incertezas e incoerências que se
apresentem nos contratos administrativos, dando, dessa maneira, maior credibilidade ao
acordo firmado.
20
ALVES, 2009.
15
REFERÊNCIAS
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. ampl. e
atual. São Paulo: Malheiros, 2002.
BRASIL. Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da
Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm, acesso em 19 nov. 2009.
CARDOSO, André Guskow. A garantia ao devido processo legal e o dever de boa-fé nos
contratos administrativos. Disponível em:
http://www.justen.com.br/noticias/Devido_processo_legal_e_boa-fe_-_Migalhas.pdf, acesso
em: 11 nov. 2009.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Vol. 3. 2ª ed. rev. – São Paulo: Saraiva,
2007.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 3º Volume: teoria das obrigações
contratuais e extracontratuais. 23 ª ed., rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007.
16
FIUZA, César. Direito Civil - Curso Completo. 6ª ed. rev., atual, e ampl. de acordo com o
Código Civil de 2002. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
FÜHRER. Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de obrigações e contratos. 28º ed. São
Paulo: Malheiros, 2008.
___________. Curso de direito Civil, volume 3: dos contratos e dos atos unilaterais. São
Paulo: LTr, 2008.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 33ª ed. – São Paulo:
Malheiros, 2007.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil – Vol III, Contratos. Rio de
Janeiro: Forense, 2004.
17
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