Erros Na Prescrição Hosp - Med Potencialmente Perigosos - Mario Rosa
Erros Na Prescrição Hosp - Med Potencialmente Perigosos - Mario Rosa
Erros Na Prescrição Hosp - Med Potencialmente Perigosos - Mario Rosa
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Razo MPP/Prescrio
Razo Erro/Prescrio
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pois juntos, originaram a quase totalidade dos regis-
tros assim classicados. Para o fentanil os erros mais
freqentes foram omisso da forma farmacutica, da
concentrao, da via da administrao e medicamen-
to pouco legvel e para o midazolam os problemas
estavam relacionados principalmente omisso da
concentrao, concentrao duvidosa e medicamento
pouco legvel. Ressaltam-se tambm os erros obser-
vados na prescrio do cloreto de potssio injetvel:
taxa de infuso duvidosa, medicamento pouco legvel,
concentrao duvidosa, falta via de administrao,
concentrao incompleta, omisso da concentrao e
via de administrao pouco legvel/duvidosa.
Foram observados 23 erros de prescrio do tipo deci-
so, um sendo de forma farmacutica, dez de concen-
trao e 12 de administrao. O MPP mais prevalente
foi a heparina, com 43,5% dos registros. Foram com-
putados somente os erros de deciso onde foi possvel
identic-los a partir da prescrio.
Nas 4.026 prescries foram registrados 70 tipos
diferentes de abreviaturas, com um total de 133.956
ocorrncias (mdia de 33,3 por prescrio). Desse
total, 5.427 foram classicadas como pouco legveis.
As abreviaturas mg (miligrama), h (hora), mL (milili-
tro), cp/comp/cp (comprimido), EV/IV (endovenoso/
intravenoso), gts (gotas), amp (ampola), vo (via oral),
g/gr (grama), SF (soro siolgico), min/X (minuto),
sc (sub-cutneo), ABD (gua bidestilada), S/N e SN (se
necessrio) e ACM (a critrio mdico) representavam
90% delas. O maior nmero de abreviaturas observado
em uma nica prescrio foi de 211. As abreviaturas UI
ou U foram utilizadas 2.062 vezes em 1.971 prescries
(48,9% do total de prescries).
O total de erros de prescrio (redao e deciso) foi de
13.387, com uma mdia de 3,3 por prescrio, sendo
99,8% dos registros de erros de redao. Os erros de
redao somaram 13.364 eventos classicados em:
3.154 (erros com MPP), 1.894 (nome do paciente), 380
(data da prescrio), 775 (prescrio pouco legvel ou
ilegvel), 5.427 (abreviaturas pouco legveis) e 1.734
(identicao do prescritor).
A anlise de regresso logstica univariada, mostrada
na Tabela 4, revela que o tipo de prescrio tem in-
uncia nos erros de prescrio (deciso e redao).
Foi testado o tipo de prescrio: pr-digitada, escrita
mo e mista, e considerada a prescrio pr-digitada
como referncia para essa comparao. Observou-se
que a chance de erros na prescrio escrita mo foi
aproximadamente trs vezes mais freqente que na
pr-digitada e na prescrio mista esta chance de erros
foi 2,5 vezes mais freqente.
DISCUSSO
A presente investigao corrobora indicaes inter-
nacionais da importncia dos erros de prescrio de
MPP em ambientes hospitalares, seja do ponto de vista
de sua prevalncia ou de seu potencial de risco aos
pacientes.
2,8,14
Entretanto, algumas limitaes devem ser
ressaltadas: uma diz respeito probabilidade de falhas
no diagnstico dos erros de deciso, pois a anlise iso-
lada de prescries, sem considerar a condio clnica
do paciente e sem discutir o caso com o prescritor, no
permite avaliar alguns tipos de erros. Por esta razo,
somente foram classicados como erros de deciso:
forma farmacutica, concentrao, via de administra-
o, intervalo e taxa de infuso errados. Assim, erros
de deciso podem no ter sido registrados, provocando
subestimao nos dados.
Outra limitao relevante refere-se subjetividade
da avaliao da legibilidade. Para seu controle foram
realizadas avaliaes independentes por prossionais
com larga experincia na leitura de prescries, deciso
centralizada em um prossional com experincia maior
e consenso entre eles em caso de dvidas.
Tabela 4. Relao entre o tipo de prescrio e a freqncia
de erros. Minas Gerais, 2001.
Tipo de prescrio OR IC 95% p
Pr-digitada - - 0,00
Escrita mo 2,96 2,47;3,55 0,00
Mista 2,49 2,07;3,00 0,00
Tabela 3. Freqncia dos erros de prescries por medicamento
potencialmente perigoso. Minas Gerais, 2001.
Medicamento
potencialmente perigoso
n
a
%
%
acumulado
Heparina amp. 0,25mL 1.072 33,7 33,7
Fentanil 669 21,1 54,8
Midazolam 363 11,4 66,3
Nalbuna amp. 1mL 305 9,6 75,8
Pancurnio amp. 2mL 143 4,5 80,3
Dopamina amp. 20mL 116 3,7 84,0
Cloreto de potssio
amp.10mL
101 3,2 87,2
Midazolam amp. 10mL
c/50mg
58 1,8 89,0
Tramadol fr. 10mL 48 1,5 90,5
Epinefrina amp. 2mL 47 1,5 92,0
Petidina amp. 2mL 40 1,3 93,2
Morna amp. 1mL 39 1,2 94,5
Outros 176 5,5 100,0
Total 3.177 100,0
a
Nmero de erros registrados no total de prescries
analisadas.
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496 Erros em prescries hospitalares Rosa MB et al
A terceira limitao que foi testada somente uma
varivel para explicar a ocorrncia de erros de prescri-
o. Outros fatores podem ter inudo na prevalncia
encontrada de erros de prescrio, mas no foram
considerados no presente estudo, cujo interesse foi o
tipo de emisso da prescrio.
Problemas de identicao do paciente, do prescritor
e na data apareceram em 47,0%, 33,7% e em 9,4% das
prescries, respectivamente, situaes que aumentam
a probabilidade de erros. Miasso & Cassiani
18
(2000)
vericaram que 33,9% dos erros de administrao de
medicamentos em um hospital de ensino foram os
problemas de identicao do paciente. Como docu-
mento legal, a prescrio deve ter a identicao no
apenas do paciente, mas tambm do emitente, para
que em situaes de esclarecimento de dvidas, seja
possvel localizar o responsvel pela prescrio. E,
em um ambiente hospitalar, onde centenas ou mesmo
milhares de doses de medicamentos so dispensadas
diariamente pela farmcia hospitalar, a omisso da data
do documento pode tambm levar a erros.
A diferena de ocorrncia de erros na prescrio de
MPP entre os setores (Figura) guarda uma relao
inversa com a utilizao da prescrio pr-digitada.
Esta relao refora o papel do tipo de prescrio na
determinao dos erros e pode ser explicada em parte
pelo tipo de prescrio adotada nos variados setores
de internao.
A heparina, ao longo dos anos, tem sido associada a
altas taxas de erros e est entre os dez medicamentos
mais freqentemente relatados em notificaes de
erros com danos provocados em pacientes nos Esta-
dos Unidos. Entre 1999 e 2002, a heparina ocupou os
primeiros lugares nos registros de erros graves (4,5% a
5,5%) e, em 2002, foi responsvel por 9,5% dos erros
que causaram leses nos pacientes.
19
Nas prescries do fentanil, o segundo medicamento
mais envolvido em erros (21,1%), a omisso da forma
farmacutica foi o erro mais freqente, uma falha que
pode acarretar a troca de uma apresentao pela outra.
O fentanil um derivado opiide de grande potncia
e seu uso indevido pode acarretar problemas graves
para o paciente. A prescrio do midazolam com a
omisso da concentrao ou concentrao duvidosa
tambm relevante por ser utilizado com freqncia em
terapia intensiva, sendo fundamental a administrao
da dose correta.
Os erros na prescrio do cloreto de potssio injetvel
ressaltam a necessidade de preveno de acidentes
graves. Uma infuso ou diluio errada deste medica-
mento, ou administrao do produto concentrado, pode
ter conseqncias fatais.
2,8,13
Em estudo realizado em 24
unidades de terapia intensiva no Reino Unido, com an-
lise de 21.589 prescries, os cinco medicamentos mais
envolvidos em prescries incorretas foram: cloreto de
potssio (10,2%), heparina (5,3%), sulfato de magnsio
(5,2%), paracetamol (3,2%) e propofol (3,1%).
20
A falta de padronizao e o freqente uso de abrevia-
turas (33,3/prescrio) mostram falhas latentes que po-
dem contribuir para a ocorrncia de erros de medicao.
O uso intensivo da abreviatura UI ou I pode levar a erros
graves, pela possibilidade de ser confundida como o
nmero zero e acarretar administrao de concentrao
10 ou 100 vezes maior do que a prescrita.
1,2
A utilizao
de abreviaturas em prescries mdicas est entre as
causas mais citadas de erros de medicao por seu po-
tencial de confuso e falhas de comunicao, sendo j
antiga a idia de eliminar o seu uso. O Institute for Safe
Medication Practices (ISMP) tem se preocupado com
este problema h vrios anos. A Joint Commission on
Accreditation of Healthcare Organizations, instituio
que acredita hospitais no mundo todo, estabeleceu a
proibio do uso de uma lista de abreviaturas, dentre
elas o U e UI, nos hospitais candidatos a acreditao.
1
Segundo Koczmara et al
11
(2005), alguns nomes nunca
devem ser abreviados devido aos freqentes enganos
provocados, estando entre eles: unidades, microgramas,
sub-cutneo e centmetro cbico.
Um exemplo clssico de falha na utilizao da abre-
viatura UI foi registrado no Canad, onde ocorreu erro
de administrao por equvoco na dose da insulina. O
paciente teve leso grave permanente, pois recebeu 70
unidades de insulina em vez das sete prescritas, porque
a abreviatura U foi confundida com o nmero zero.
11
A alta prevalncia dos erros de redao em ambiente
hospitalar tambm foi observada por Lisby et al
15
(2005).
Os autores vericaram que 75% dos erros encontrados
nas prescries podem ser classicados como erros de
redao, sendo os mais prevalentes os problemas com
a forma farmacutica, a omisso da dose e a via de
administrao. Em outro estudo, realizado em clnicas
mdicas de 60 unidades de sade nos Estados Unidos,
foi observado que os erros no clnicos, ou de redao,
foram responsveis por 79,1% dos registros.
7
Os erros de redao levantados na presente pesquisa
e relacionados aos MPP podero ser minimizados
com a padronizao e elaborao de normas para a
prescrio de medicamentos.
2,17,22
A ausncia de padro
denido e o intenso uso de abreviaturas nas prescries
estudadas, como UI signicando unidades, enfatizam
a necessidade de padronizao do uso de abreviaturas
nas prescries. Sugere-se que algumas abreviaturas
como a UI sejam eliminadas das prescries devido
ao potencial de erros associado.
1
Quanto aos problemas de legibilidade, uma importante
diminuio poder ser obtida com a padronizao do
tipo de prescrio a ser utilizada em ambiente hospi-
talar. Erros de prescrio podem ser reduzidos com a
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utilizao de editores de textos para a prescrio ou
prescries pr-digitadas, evitando sempre que possvel
as prescries feitas mo.
22
Uma abordagem diferente deve ser utilizada para a
reduo dos erros de prescrio do tipo deciso, j
que medidas de aperfeioamento do conhecimento
do prescritor e interceptao desses tipos de erros so
diferentes daquelas preconizadas para erros de redao.
2
A importncia de problemas de deciso na prescrio
foi observada em estudo sobre antibiticos realizado em
hospital universitrio brasileiro, tendo sido registrados
91 incidentes, dos quais 7,7% foram considerados erros
de prescrio e de tipo de deciso.
16
Conforme Aspden et al
2
(2007), as recomendaes com
maior evidncia cientca para a preveno de erros
de medicao em hospitais so: adoo da prescrio
eletrnica com o devido suporte clnico, incluso de
farmacuticos nas visitas clnicas, viabilizao de
contato com farmacuticos durante 24 horas para solu-
cionar dvidas em relao a medicamentos, e presena
de procedimentos especiais e protocolos escritos para
o uso de MPP. Esta ltima medida poder prevenir
parte considervel dos erros com medicamentos de
alto risco.
2,8,13
Entretanto, pesquisas devem ser feitas
em hospitais brasileiros para vericar o real impacto
da implantao de protocolos no uso dos MPP e na pre-
veno de eventos relacionados a esses medicamentos
em nossa realidade.
A implantao da prescrio eletrnica pode ter forte
impacto nos erros de prescrio, devendo ser buscada a
sua instituio. Dado que o seu custo pode ser impediti-
vo para parte dos hospitais brasileiros, recomendvel a
adoo de prescrio pr-digitada ou editada para evitar
ao mximo as prescries escritas mo.
2
Entretanto,
h necessidade da elaborao cuidadosa das prescries
pr-digitadas ou utilizao de editores de texto para
prescrio, no sentido de evitar o aparecimento de no-
vos tipos de erros ou a simples transposio de antigos
problemas para um novo modo de prescrever.
Finalmente, observa-se nos achados da presente investi-
gao e no seu confronto com a literatura internacional,
que os erros de medicao envolvendo os MPP tendem
a apresentar padres denidos, fato importante para a
tomada de decises dirigidas ao seu controle. Todavia,
todo conhecimento dessa natureza, quando produzido
em ambiente diverso, implica a necessidade de adap-
tao realidade cultural onde se objetiva intervir e ao
perl dos problemas detectados em cada local.
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REFERNCIAS
Artigo baseado na dissertao de mestrado de Rosa MB, apresentada Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
Veterinria, em 2002.
Pesquisa parcialmente nanciada pela Fundao Hospitalar do Estado de Minas Gerais.
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