MERTOLA
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MERTOLA
Dezembro de 2004
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Mértola parece ainda adormecida quando chego e a observo de longe, na margem oposta do
Guadiana. Apenas um pescador rasga as águas tranquilas
do rio, vigiado de perto por duas cegonhas que sobrevoam o
casario apertado entre as muralhas. Nada, por enquanto, a
distingue de outras povoações alentejanas, igualmente alvas
e pacatas. “Vila Museu”, indica a placa de boas-vindas junto
à estrada. Com alívio, sei à partida que não vou encontrar
um daqueles lugares, tão comuns em alguns países do
Norte europeu, que servem de cenário a recriações
históricas, onde os sorrisos, tal como as lojas, têm horários
O cão “Whisky” em frente ao Café
de abertura. Desfaço as dúvidas num pequeno café situado Guadiana
junto ao mercado, um animado local de encontro segundo
me parece. As respostas chegam prontas, ainda mal
acabada a pergunta, interrompidas por alguém que entra e
dá a sua achega.
Este é o sítio ideal para começar um passeio não só através das ruas da vila, mas também do
seu passado – longínquo ou mais recente –, visitando os seus inúmeros núcleos museológicos
e monumentos. Do topo da fortaleza avista-se uma paisagem já mais algarvia do que
alentejana. As planícies dão lugar a um relevo acidentado, onde se destacam as serras de
Alcaria, S. Barão e S. Brissos – o primeiro mertolense notável de que há registo, martirizado e
morto pelos romanos em 312. O olhar desce até ao rio, acompanhando os telhados das casas
com os seus pátios interiores recheados de limoeiros e canteiros de flores.
Rota museológica
Enquanto se aguarda pela próxima festa, em Maio de 2005, seguimos para o Núcleo do
Ferreiro, antiga forja recuperada de forma a mostrar os artefactos da actividade. Continuamos
junto à muralha, passando pela sede do Parque Natural do Vale do Guadiana, onde nos
poderão ser indicados alguns dos pontos mais interessantes da área protegida como o Pulo do
Lobo ou as Minas de S. Domingos. Perto dali, o Núcleo de Arte Islâmica expõe o resultado de
mais de duas décadas de trabalho arqueológico. São peças de osso e metal, objectos de
adorno e utensílios domésticos, vasos e jóias que formam a melhor colecção do género de todo
o País. O contíguo Núcleo de Arte Sacra, instalado na antiga Igreja da Misericórdia, contém
imagens e alfaias litúrgicas recolhidas em igrejas do concelho.
Terminado o passeio intramuros, é altura de regressar ao relativo bulício de uma vila em lento
crescimento. Também aí a terra guardou segredos. É o caso da basílica paleo-cristã, escondida
sob a fachada de um edifício anónimo, onde foram encontradas várias dezenas de lápides,
incluindo uma com inscrições em grego provando o carácter cosmopolita dos habitantes de
então. Quem por aqui andar durante a semana poderá ainda visitar a necrópole romana (século
II a.C.) e a ermida de S. Sebastião, de fundação medieval, que se encontram dentro do
perímetro da escola EB 2,3 de Mértola.
Para finalizar em beleza, nada melhor do que visitar o Convento de S. Francisco, situado na
margem direita da Ribeira de Oeiras, junto à estrada que segue para Sul. Entre 1612 e 1834 o
templo pertenceu à Ordem de S. Francisco, tendo vindo a degradar-se até ao estado ruinoso
em que se encontrava quando foi adquirido, em 1977, por um casal de artistas holandeses.
Apesar de ser propriedade particular, pode percorrer os seus jardins e descansar no espaço da
antiga capela, decorado com obras de Geraldine Zwanikken. É um local de muita paz, ideal
para uma despedida a Mértola.
Castelo construído no século XIII sobre a alcáçova muçulmana.
A A sala de armas da Torre de Menagem contém diversos fragmentos arquitectónicos dos séculos VI a IX
Erguida em terreno sagrado, onde existia um templo romano e paleo-cristão, a Igreja Matriz ainda conserva
B vestígios da antiga mesquita como um nicho de oração
Embora não existam datas precisas da sua construção, pensa-se que a Torre do Relógio tenha sido erguida no
C início do século XII, sobre um antigo torreão da muralha
Centro Arqueológico – O restauro de um vaso islâmico requer uma atenção de ourives. Quando estiver pronta, a
D peça poderá integrar a colecção do Museu Islâmico, a mais completa do País
Datado do século XVII, o Convento de S. Francisco, na margem direita da Ribeira de Oeiras, é hoje propriedade
E privada
Informações úteis
O Museu de Mértola divide-se por vários núcleos espalhados pela vila. Sendo assim, pode
optar por adquirir um bilhete inteiro (€5) que dá acesso a todos os espaços museológicos. O
bilhete para visitar um só núcleo custa €2. As entradas são gratuitas para menores de 12 anos,
maiores de 65 e naturais e residentes no concelho. Posto de Turismo de Mértola, tel. 286 610
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Actividades
O Posto de Turismo faculta uma brochura com a indicação de vários percursos na região que
podem ser feitos a pé ou de automóvel. Não deixe de visitar o Pulo do Lobo, a Norte de
Mértola, onde o Guadiana é apertado numa garganta rochosa tão estreita que pode ser
transposto por um só salto de lobo, segundo dizem. Conheça ainda as abandonadas Minas de
S. Domingos e o antigo porto de Pomarão. A terceira edição do Festival Islâmico realiza-se
entre os dias 19 e 22 de Maio de 2005.
Onde dormir
Além de várias pequenas pensões, a vila conta com duas unidades de turismo rural: a Casa
das Janelas Verdes (tel. 286 612 145), situada dentro do núcleo muralhado, tem um agradável
pátio florido onde frequentemente são servidos os pequenos-almoços. O preço do quarto duplo
é de €50. A Casa Rosmaninho (tel. 963 019 341) está localizada numa rua calma do centro.
Quartos duplos entre €35 e €45. No concelho, a cerca de uma dezena de quilómetros da vila,
existe ainda a Casa dos Loendros, em Alcaria Ruiva (tel. 286 998 187), com duplos a partir de
€45.
Onde comer
Não é difícil encontrar restaurantes que sirvam as especialidades locais: sopas de tomate e de
poejo, açorda de bacalhau, migas com carne de porco, ensopado de borrego e, na época
própria, espargos bravos com ovos mexidos. Entre as várias alternativas recomenda-se a
Adega da Casa Amarela (tel. 286 612 681) que, pela sua localização na margem esquerda do
Guadiana, oferece um excelente panorama da vila. O Migas (tel. 286 612 811) fica junto ao
mercado, sendo um dos mais tradicionais. O único problema é que, quando a afluência é muita,
o serviço deixa a desejar. Experimente também o Brasileiro (tel. 286 612 660), com uma boa
cozinha regional.
In Rotas e Destinos