Betel - Livros Proféticos-Apostila1
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II. PROFETAS MAIORES ISAAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Anexos: 2. AS PROFECIAS MESSINICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3. SRIA E ASSRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 JEREMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 LAMENTAES DE JEREMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Anexo: 4. BABILNIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 EZEQUIEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 DANIEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Anexo: 5. PRSIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
III. PROFETAS MENORES INTRODUO AOS PROFETAS MENORES OSIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 JOEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 AMS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 OBADIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 JONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 MIQUIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 NAUM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .113 HABACUQUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115 SOFONIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .119 AGEU . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 ZACARIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 MALAQUIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Anexo: 6. PROFECIAS NOS PROFETAS MENORES: PREDIO E CUMPRIMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. III). Edies Vida Nova, 1993, p. 210.
4
Jesus Cristo apresentado como O Messias O Renovo da Justia O Justo Renovo O Filho do Homem A Pedra que Esmia
Daniel
12
605 a 530
Antes do cativeiro do Norte (722 a.C.) Osias 14 4:1 11:7-9 Joel 3 2:11 2:28-29 Amor inabalvel de Deus por Israel a fim de trazer julgamento e restaurao final. Aliana violada por Israel. O julgamento do Senhor e a salvao no seu dia. Aviso a Jud do julgamento devido ao pecado. O prximo julgamento de Israel pela corrupo moral e injustia social. Aviso a Israel do julgamento amadurecido. Obadias 1 v.10 v. 21 Julgamento de Deus sobre o vingativo Edom e a restaurao final de Israel. Advertncia acerca da proteo da aliana. Amplitude da misericrdia de Deus e estreiteza obstinada de Jonas. Censura Israel pelo egosmo nacional. Carter do Senhor como Juiz justo e Pastor cuidadoso de Israel. Censura a Jud pelas injustias sociais.
Carter de Deus
Amor
Julgamento Arrependei-vos, O Restaurador porque o dia do Senhor est chegando! Justia Prepara-te para O Divino te encontrares Lavrador com o teu Deus! Possu as vossas herdades! Levanta-te e vai Nosso Salvador
Ams
3:1-2 8:11-12
Vingana
Jonas
2:8-9 4:2
Misericrdia
Nossa Ressurreio e Vida Testemunha contra Naes Rebeldes Fortaleza no Dia da Angstia O Deus da minha Salvao Um Senhor Zeloso
Miquias
6:8 7:18
Perdo Ouvi-o! para com o mundo Cuidado, o Senhor vinga! Vivei pela f!
Antes do cativeiro do Sul (606-586 a.C.) Naum 3 1:7-8 3:5-7 Habacuque 3 2:4 3:17-19 Sofonias 3 1:14-15 2:3 Grande julgamento divino sobre Nnive, a Zelo violenta Rainha do Oriente. Terror de Deus sobre os atacantes de Jud. Os justos vivero pela f na santidade e no Santidade justo julgamento divino. Uso divino de estrangeiros para a disciplina. A grande ira do Senhor e a redeno do Dia do Senhor. Indignao
Deus poderoso para salvar! Edificai para Deus! Voltai para Ele! Arrependei-vos e voltai!
Depois do regresso do cativeiro (536-425 a.C.) Ageu 2 1:7-8 2:7-9 Zacarias Malaquias 14 4 8:3 9:9 2:173:1 4:5-6 A bno do Senhor relacionada com a Glria reconstruo do Templo. Glria verdadeira na Presena de Deus. A necessidade de completar o Templo e de preparar-se para a vinda do Messias. Bondade de Deus para com Israel e a altiva ingratido dos israelitas. Obrigaes da aliana at que o Messias venha. Livramento Grandeza O Desejado de todas as Naes O Renovo da Justia O Sol da Justia
Deus conhece o futuro. Por intermdio dessa funo proftica, Deus chamou a ateno para o seu programa futuro com relao a Israel e s naes, elaborando depois o que j tinha esboado nas alianas com os antepassados (IIRs 17:13). Baxter faz o seguinte comentrio: Como lemos em ISm 9:9, em tempos idos os profetas de Israel eram chamados videntes, denominao que persiste at os cativeiros (IICr 33:18; 35:15), sendo usada como sinnimo de profeta (IISm 24:11; IICr 16,7,10). Esse nome primitivo, vidente, notvel por indicar aquilo que est por trs do pronunciamento inspirado do profeta. Ele era um vidente indivduo sobrenaturalmente capacitado a ver coisas que se encontram alm do conhecimento humano comum. bom notar, no entanto, que embora seja dito que o profeta viu alguma coisa, isso no significa necessariamente que tenha visto algo na forma de uma viso, com seus olhos naturais. Do mesmo modo, quando nos dito que Deus falou ao profeta, no devemos entender que necessariamente houve uma voz que ele ouviu com seu ouvido fsico. O elemento vital em cada caso que o profeta deve ter sido capaz de distinguir perfeitamente entre a comunicao divina e sua conscincia pessoal. S assim poderia haver a autoridade ou a compulso de falar como porta-voz de Deus. No precisamos especular quanto aos modos pelos quais o Esprito Santo comunicava as verdades especiais a esses homens quer por meio de sonho, viso, voz, sinal, quer por um impacto interior direto sobre a mente. Mistrios sobre tal revelao e inspirao realmente existem; mas isso de maneira alguma anula os fatos provados que proclamam sua realidade. 2 Professor da Lei e da justia. Apesar de os sacerdotes e os levitas serem normalmente os professores de Israel, os profetas tambm receberam essa funo quando o sacerdcio degenerou (Lv 10:11; Dt 33:10; Ez 22:26). Quando ensinavam, o contexto era geralmente de julgamento (Is 6:8-10; 28:9-10).
Os profetas foram uma sucesso de mensageiros convocados para um perodo especial uma poca de purificao e apostasia. Eram revivescentes e patriotas que falavam da parte de Deus ao corao e conscincia da nao; mas seu significado mais profundo que foram especialmente chamados e inspirados por Deus para transmitir uma mensagem de advertncia e splica, antes que o golpe do juzo divino colocasse os dois reinos hebreus sob o taco de seus captores mpios. Os profetas de Israel foram chamados individualmente e ungidos por Deus para o servio de emergncia, em contraste com o servio regular dos sacerdotes, ancios e reis. Alm de serem denominados profetas, tambm recebiam o nome de videntes, sentinelas ou pastores. Esses termos indicam suas funes ao serem chamados por Deus para interpretar e anunciar a palavra especfica do Senhor para o seu povo. As funes gerais dos profetas podem ser observadas nas trs seguintes classificaes: Porta-voz especial de Deus. O termo profeta (heb. nabhi, e gr. prophetes) significa falar por ou representar. Sua tarefa mais importante era agir como embaixadores ou mensageiros divinos, anunciando a vontade de Deus para o seu povo, especialmente em poca de crise. Eram, acima de tudo, pregadores da justia em poca de decadncia moral e espiritual, quase sempre numa posio isolada. Vidente. A credencial de um profeta verdadeiro de Deus era a habilidade infalvel de penetrar no futuro e revel-lo (Dt 18:21-22). Essa habilidade autenticava sua mensagem como sendo divina, porquanto somente
No perodo mais antigo, a funo proftica pertencia aos levitas, que tinham a responsabilidade de ensinar as implicaes da Lei Mosaica para a conduta diria nos assuntos da vida de todos os dias. Mas at a prpria Tor previa a possibilidade duma classe de profetas distinta dos sacerdotes, desempenhando um papel anlogo ao de Moiss (cf. Dt cap. 18 uma passagem que no somente prediz o Profeta Messinico, mas tambm estabelece a ordem dos profetas como tal). Enquanto o sacerdcio ia se tornando sempre mais profissional nas suas atitudes, e mais relaxado na prtica (como, por exemplo, Hofni e Finias, os filhos de Eli), uma nova ordem de ensinadores surgiu para manter a integridade do relacionamento com Deus atravs da aliana, despertada no corao dos israelitas. Alguns dos profetas surgiram da tribo sacerdotal Levi, tais como Jeremias e Ezequiel, mas a maioria deles 3 pertencia a outras tribos. Campbell Morgan diz que havia trs elementos na mensagem dos profetas, diretamente de Deus. 1. A mensagem para os seus dias. 2. A mensagem de predio de acontecimentos futuros. a) O fracasso do povo escolhido de Deus e o juzo divino sobre o povo e sobre as naes em redor. b) A vinda do Messias, sua rejeio e sua glria final. c) O Reino Messinico que seria finalmente estabelecido na Terra. 3. A mensagem viva para os nossos dias os princpios eternos do bem e do mal.
Deus, ao passo que os profetas dirigiam-se ao povo nas cidades e na zona rural. c. Quanto obra especial, os profetas preocupavam-se com a justia espiritual e a purificao do corao; os sacerdotes estavam mais interessados no sistema religioso da aliana de Israel. Ambas as funes eram importantes para o sistema de aliana de Israel, e se complementavam. d. Quanto ao ensino, ambos interpretavam a Lei. Os sacerdotes eram professores habituais; os profetas eram pregadores de reavivamento. Os sacerdotes informavam, os profetas reformavam. Os sacerdotes instruam a mente do povo, os profetas desafiavam o arbtrio, e se pronunciavam com enrgica insistncia quando a Lei era negligenciada pelos lderes e pelo povo.
ISAAS
Queda de Samaria, 722 a.C. Exlio de Israel na Assria Queda de Nnive, 612 a.C. Fim do Imprio Assrio
Gleason L. Archer Jr. Merece Confiana o Antigo Testamento? Edies Vida Nova, 2000 (3 ed., reimp.), p. 224.
Dionsio Pape. Justia e Esperana para Hoje: a mensagem dos Profetas Menores. ABU Editora, 1982 (1 ed.), p.10.
A NATUREZA DA
1. Profecia no simplesmente predio do futuro. Segundo a etimologia da palavra profeta, o prefixo pro significa em lugar de e phemi (vem do grego) significa falar. Um profeta, ento, algum que fala em lugar de outra pessoa. Embora toda predio seja uma profecia, nem toda profecia uma predio. A profecia pode referir-se ao passado (uma palavra inspirada em retrospecto) ou ao presente, assim como ao futuro (uma palavra inspirada em antecipao). A profecia, quando no se refere ao futuro, uma declarao da verdade, sobre qualquer assunto, recebida por direta inspirao de Deus. Profecia no sentido de predio uma declarao do futuro de um modo que seria impossvel sabedoria comum do homem e que s pode vir por inspirao direta de Deus. 2. A profecia, no sentido bblico, o produto e a expresso de uma inspirao direta de Deus. Implica uma pessoa chamada ou nomeada para proclamar como arauto a mensagem do prprio 5 Deus. O constante refro dos profetas Assim diz o Senhor; eles se apresentavam ao povo para tornar conhecida a vontade de algum acima deles e expressar pensamentos e propsitos mais elevados dos que os seus. Eles no falavam de homem para homem, mas como pessoas investidas de autoridade por Deus a fim de falar em Seu nome aos pecadores. Nas palavras de IIPedro 1:21, esses homens eram movidos pelo Esprito Santo o termo grego traduzido aqui como movidos significa ser conduzido ou impelido, e com certeza ensina que a inspirao dos profetas era uma obra definitivamente sobrenatural operada neles, objetivando a transmisso sem erro da verdade divinamente revelada a eles. 3. Os profetas estavam longe de ser infalveis em si mesmos. Tambm no viviam num estado de inspirao perptua que garantisse infalibilidade a todas as suas palavras e atos. Isso est ilustrado no caso do profeta Nat (ver IISm 7). Todavia, em todas as suas transmisses de comunicaes especiais ou diretas de Deus, a inspirao dos profetas pelo Esprito Santo era tal que os tornava infalveis como veculos da mensagem divina esse era o resultado assegurado pela obra sobrenatural da inspirao. 4. A inspirao e a pessoa do profeta. Pode-se perguntar: Qual era a condio do profeta em si enquanto sob a influncia da inspirao? Continuava em posse normal de suas faculdades
PROFECIA
naturais, sendo senhor de si mesmo, como nas ocasies comuns? Ou seus poderes naturais tornavam-se inoperantes por algum tempo, seja por meio de um xtase sobrenatural ou por um estado de passividade anormal? Quem responde a estas perguntas formuladas por Baxter 6 C. Von Orelli: Essa inspirao no tal que suprima a conscincia humana do receptor, de modo a receber a palavra de Deus em estado de torpor ou transe. O receptor, pelo contrrio, est de posse de toda a sua conscincia, conseguindo depois dar um relato claro do que aconteceu. A individualidade do profeta tambm no eliminada por essa inspirao divina. A peculiaridade individual do profeta um fator importante no que diz respeito forma como a revelao dada a ele. Num profeta, vemos uma preponderncia de vises; outro no tem vises. Mas as vises do futuro tidas pelo profeta so dadas nas formas e cores fornecidas pelo seu prprio consciente. Mais ainda, a maneira pela qual o profeta d expresso palavra de Deus determinada pelos seus talentos e dons pessoais, assim como por suas 7 experincias.
Segundo esta interpretao, o profeta no deveria ser considerado o profissional que se nomeou a si mesmo, cujo propsito seria persuadir as pessoas a aceitar opinies da sua prpria lavra.
profetas (Gn 20:7; Dt 18:15; ISm 3:20). Por intermdio deles, Deus falou ao povo e estabeleceu suas alianas com a nao. Moiss foi uma espcie de prottipo dos profetas, prenunciando o ltimo grande profeta, o Messias, que se levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por obras poderosas e desempenho brilhante (Dt 18:15-22). Embora os cargos de sacerdote e rei fossem restritos a homens e a determinadas tribos, algumas profetisas foram chamadas na histria de Israel: Miri, Dbora e Hulda (x 15:20; Jz 4:4; IIRs 22:14). Considera-se ter sido Samuel aquele que principiou a ordem proftica, o primeiro duma seqncia, durante a monarquia de Israel (ISm 3:1; At 3:24). Essa seqncia no era contnua. Prosseguia, porm, esporadicamente quando o Senhor fazia a designao para esse cargo. A partir dos dias de Samuel, escolas de profetas foram fundadas em Israel (ISm 19:20 a primeira escola mencionada IIRs 2:3,5), onde jovens ajuntavam-se ao redor de profetas experientes e reconhecidos, formando pequenos grupos, aprendendo deles. Alm disso, fica claro que o prprio Esprito Santo freqentemente operava de maneira sobrenatural por meio dessas escolas de profetas e entre os filhos de profetas. Eram centros de vida religiosa, onde a comunho com Deus era buscada mediante orao e meditao e onde a recordao dos grandes feitos de Deus no passado parecia preparar para a recepo de novas revelaes. Essas escolas tambm eram centros de idias e ideais teocrticos, dos quais jovens consagrados saam para exercer enorme influncia na nao e manter acesa a chama da verdade divina em meio aos dias sombrios da apostasia. Parece provvel tambm que a msica e as poesias sagradas fossem cultivadas e transmitidas tanto oralmente quanto por escrito. Foi nessas colnias de jovens estudantes devotos que o Esprito Santo encontrou uma oportunidade nica de manifestar a mente de Deus nao mediante vasos preparados. Dessa forma cresceu em Israel uma ordem proftica 8 reconhecida. Isso justifica o fato de profetas annimos serem repetidamente citados (ver IRs 13:1,1118; 18:4; 20:13,22,35; 22:6; entre outras referncias).
Comentando IRs 13:1 Eis que por ordem do Senhor veio de Jud a Betel um homem de Deus , Russell Shedd afirma: Nenhuma passagem bblica oferece o seu nome. um dos muitos profetas de Deus que transmitiram aos herdeiros do poder real as mensagens divinas, quando estes andavam desviados dos caminhos que Deus lhes indicara. Deus sempre teve mensageiros, que nem sempre se tornavam famosos; o importante entregar a mensagem e viver fiel a ela. interessante procurar saber quantos deles so mencionados nos dois livros dos Reis, especialmente porque o nome que os hebreus do aos livros de Josu, Juzes, I e II Samuel, I e II Reis Profetas Anteriores, constando como Profetas Posteriores aqueles cujas palavras so registradas no 9 Livros que tm o seu nome: Isaas, Jeremias etc. Eram profetas da palavra ou orais e da escrita.
Profetas da escrita
Quase todos os profetas da escrita escreveram depois de terem sido profetas da palavra 10. Principiando prximo da poca do expurgo do culto a Baal por Je, os perodos de maior concentrao desses profetas foram justamente antes da destruio do Reino do Norte e antes da destruio do Reino do Sul. Manifestavam-se geralmente em poca de decadncia nacional e julgamento iminente. Eram, num 11 certo sentido, as incmodas conscincias da nao.
10
Deve-se lembrar que, embora muitos profetas tenham sido classificados como profetas sem obras escritas, so assim referidos porque nenhum de seus escritos chegou at ns. Parece provvel que alguns deles tenham escrito, mas suas palavras no foram preservadas para ns. Veja, por exemplo, referncias aos escritos de Nat (IICr 9:29), Gade (ICr 29:29), Aas (IICr 30:34), Semaas (IICr 12:15), Odede (IICr 15:8) e Ido (IICr 13:22). Observao feita por J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. (vol. III). P. 215. Os profetas eram os homens mais impopulares dos seus dias, porque tratavam das condies morais e religiosas do momento. Geralmente a situao era m. Os profetas eram enviados quando a nao se distanciava de Deus, quando estava sendo desobediente. As palavras que usavam para repreender ou exortar o povo eram incisivas. A verdade raramente popular para o pecador. Henrietta C. Mears. Estudo Panormico da Bblia. Editora Vida, 1993 (6 imp.), p. 191.
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7 8
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Citao ISm 22:5 IISm 12:1 IICr 9:29 IRs 11:29 IRs 12:22 IRs 13:1 IICr 15:1 IICr 16:7 IRs 16:1 IICr 19:2 IICr 20:14 IRs 17 IRs 20:13 IRs 22:14 IIRs 2 IIRs 9 IICr 24:20 IICr 28:9
Profetas da palavra 1. Gade 2. Nat 3. Ido 4. Aas 5. Semaas 6. Homem de Deus 7. Velho profeta 8. Azarias 9. Hanani 10. Je, filho de Henani 11. Jaaziel 12. Elias 13. Profeta desconhecido 14. Micaas 15. Eliseu 16. Jovem profeta 18. Obede
Atuao Aconselhou a Davi no deserto. Aconselhou a Davi a respeito da Aliana e do adultrio. Escreveu os Atos de Salomo. Informou a Jeroboo de que ele seria rei do Norte. Avisou a Roboo que no pelejasse contra Jeroboo. Repreendeu a Jeroboo devido aos sacrifcios aos bezerros. Testou o homem de Deus para certificar-se. Encorajou a Asa no seu primeiro ato de reforma. Repreendeu a Asa pelo auxlio da Sria e foi preso. Repreendeu a Baasa, de Israel, e a Josaf. Aconselhou a Josaf a confiar em Deus. Repreendeu a Acabe e Jezabel pelo culto a Baal. Aconselhou a Acabe a respeito da vitria sobre a Sria. Informou Acabe do plano do Senhor a respeito da morte do rei. Reprovou o culto a Baal em Israel e fez muitos milagres. Ungiu a Je para rei e destruidor da casa de Acabe. Advertiu a Peca, de Israel, que libertasse os cativos judeus.
17. Zacarias, filho de Joiada Repreendeu a Jos pela apostasia e foi morto pelo rei.
Temas ticos
a. A condenao da idolatria, da imoralidade e da injustia seguida do convite para arrependimento e vida ntegra. b. O carter de Deus ao exigir justia e misericrdia, e ao prometer julgamento para os impenitentes. c. A religio verdadeira est ligada ao corao e no apenas s mos.
Temas escatolgicos
a. A vinda do Senhor e o seu impacto sobre Israel e as naes. b. O carter e a vinda do Messias no julgamento, salvao e glria. c. A vinda da era messinica e suas bnos sobre Israel e o mundo. d. A preservao dos restantes fiis de Israel.
O cativeiro o tema principal dos profetas. Alguns serviram antes do exlio (profetas pr-exlicos); outros serviram no exlio (profetas exlicos); e outros serviram depois do exlio (ps-exlicos). Seis profetas viveram no tempo da destruio de Israel pela Assria: Joel, Jonas, Ams, Osias, Isaas e Miquias. Sete profetas viveram no tempo da destruio de Jud pela Babilnia: Jeremias, Ezequiel, Daniel, Obadias, Naum, Habacuque e Sofonias. E trs viveram no perodo da restaurao: Ageu, Zacarias e Malaquias. O perodo dos profetas em Israel cobriu 500 anos, do nono ao quarto sculo antes de Cristo. Depois as vozes dos profetas silenciaram at Joo Batista. No inicio eu tinha lido os profetas para extrair dicas sobre o futuro, o mais tarde e o muito mais tarde. Ser que o mundo vai acabar com um holocausto nuclear? O aquecimento global est de fato conduzindo aos ltimos dias? Mas, na verdade, a mensagem dos profetas deve influenciar sobretudo o meu agora. Ser que confio num Deus amoroso, poderoso, mesmo nesse sculo catico? Ser que me apego viso de Deus de paz e justia? Creio que Deus reina, mesmo que o mundo demostre pouca evidncia disso? (...) Talvez nunca entendamos os artelhos e os chifres das bestas de Daniel. Mas, se ao menos pudermos crer que a nossa batalha de fato contra principados e potestades; se ao menos pudermos crer que Deus confivel e consertar tudo o que est errado; se ao menos pudermos demostrar a paixo de Deus pela justia e pela verdade neste mundo a, creio eu, os profetas cumpriram sua misso mais importante e necessria.13
13
12
Para Ler e Interpretar com Entendimento os Profetas, no Anexo 1 desta apostila, traz ajuda para melhor compreenso do seu contexto histrico e das suas formas literrias.
Philip Yancey. A Bblia que Jesus lia. Editora Vida, 2000, p. 178 e 186.
10
CRISE: Em 931, ano da morte de Salomo, a nao se dividiu em dois reinos, Jud e Israel. 931 a.C. 913 911 931 910 909 886 885 885 OBADIAS (ano 845) 874 853 852 Jeroboo I Nadabe Baasa El Zinri Onri Acabe Acazias Joro
CRISE: Em 841, Je matou os reis de ambos os reinos, apoderou-se do trono de Israel. E destruiu o generalizado culto a Baal no Reino do Norte. 841 835 796 792 750 Rainha Atalia Jos Amazias Azarias (Uzias) Joto ISAAS (740-680) MIQUIAS (730-720) 753 752 752 742 743 728 Zacarias Salum Menam Pecaas JOEL (ano 830-825) 841 814 798 793 Je Jeocaz Jeos Jeroboo II
752* Peca Acaz Ezequias 732 Osias CRISE: Em 722, os assrios destruram Samaria e exilaram Israel para a Assria. Jud foi poupado em virtude da reforma de Ezequias e do expurgo da idolatria. Ezequias Manasss Amom Josias Jeocaz Jeoaquim Joaquim Zedequias NAUM (ano 710 aprox.).
DANIEL (ano 603-536) EZEQUIEL (ano 592-570) CRISE: Em 586, os babilnios destruram Jerusalm e exilaram os judeus para a Babilnia. Em 538, a Prsia libertou e devolveu os exilados para eles construrem o Templo em Jerusalm. 536 Zorobabel (gov.) AGEU (ano 520) ZACARIAS (ano 520-480) CRISE: Em 444, a Prsia mandou Neemias reconstruir o muro de Jerusalm e tornar-se governador. 444 Neemias (gov.) MALAQUIAS (ano 430)
11
ANEXO 1
No estudo dos Profetas, o contexto histrico pode ser maior (a era deles) ou especfico (o contexto de um nico orculo). necessrio compreender os dois tipos de contexto histrico para todos os livros profticos e, ainda, distinguir as formas literrias que os profetas empregavam no servio das suas mensagens divinamente inspiradas.
evidente de Deus de registrar para toda a histria subseqente as advertncias e as bnos que aqueles profetas proclamaram em nome dele durante aqueles anos fundamentais. Aqueles anos eram caracterizados por trs coisas: (1) transtornos polticos, militares, econmicos e sociais sem precedentes, (2) um nvel enorme de infidelidade religiosa e de desrespeito para com a aliana mosaica original, e (3) mudanas das populaes e das fronteiras nacionais. Nestas circunstncias, a Palavra de Deus era necessria de novo. Deus levantou profetas e anunciou Sua Palavra de acordo com a situao. Enquanto voc fizer uso de dicionrios, comentrios e manuais, voc notar que j em 760 a.C. Israel era uma nao dividida por uma longa guerra civil. As tribos do norte, chamadas Israel ou s vezes Efraim estavam separadas da tribo sulina de Jud. O norte, onde a desobedincia aliana sobrepujava qualquer coisa do gnero j conhecida em Jud, foi destinado por Deus para a destruio por causa do seu pecado. Ams, comeando cerca de 760, e Osias, comeando cerca de 755, proclamaram a destruio iminente. O norte caiu diante da superpotncia do Oriente Mdio daqueles tempos, a Assria, em 722 a.C. Depois disto, a pecaminosidade cada vez maior de Jud e a ascenso doutra super-potncia, a Babilnia, constituiu-se no assunto de muitos profetas, inclusive Isaas, Jeremias, Joel, Miquias, Naum, Habacuque e Sofonias. Jud, tambm, foi destruda por sua desobedincia em 587 a.C. Depois, Ezequiel, Daniel, Ageu, Zacarias e Malaquias anunciaram a vontade de Deus para a restaurao do Seu povo
O Contexto Maior
interessante notar que os dezesseis livros profticos do Antigo Testamento provm de uma faixa um pouco estreita do panorama inteiro da histria israelita, isto , cerca de 760-460 a.C. Por que no temos livros de profecia dos dias de Abrao (cerca de 1800 a.C.) ou dos dias de Josu (cerca de 1400 a.C.) ou de Davi (cerca de 1000 a.C.)? Deus no falou ao Seu povo e ao mundo deste antes de 760 a.C.? A resposta : naturalmente falou, e temos muita matria na Bblia acerca daquelas eras, inclusive alguma que trata de profetas (por exemplo, IRs 17 IIRs 13). Alm disto, lembre-se de que Deus falou especialmente a Israel na Lei, que objetivava permanecer vlida durante toda a histria remanescente da nao, at que fosse ultrapassada pela Nova Aliana (Jr 31:31-34). Por que, pois, h um registro to concentrado da palavra proftica durante os trs sculos entre Ams (cerca de 760 a.C., o primeiro dos profetas escritores) e Malaquias (cerca de 460 a.C., o ltimo)? A resposta que este perodo na histria de Israel exigia especialmente a mediao da execuo da aliana, a tarefa dos profetas. Um segundo fator foi o desejo
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Gordon D. Fee e Douglas Stuart. Entendes o que Ls? Edies Vida Nova, 2000 (reimp.), p. 160-168.
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(comeando com um retorno do Exlio em 538 a.C.), a reedificao da nao e a reinstituio da ortodoxia. Tudo isto segue o padro bsico exposto em Deuteronmio 4:25-31. Os profetas dirigem-se em grande medida a estes eventos. A no ser que voc conhea estes eventos e outros dentro desta era, por demais numerosos para mencionarmos aqui, voc provavelmente no poder seguir muito bem o que os profetas esto dizendo. Deus falou na histria e acerca da histria. Para compreendermos Sua Palavra devemos conhecer algo daquela histria.
mulheres e aos homens de Israel: a doena, a destruio, a privao e a morte. O estilo figurado desta alegoria um modo dramtico e eficaz de comunicar a Israel que vai ser castigado por causa da sua desobedincia, e que o castigo ser severo. A forma literria especial ajuda a transmitir a mensagem especial. O ai. Outra forma literria comum a do orculo do ai. Ai era a palavra que os antigos israelitas exclamavam quando enfrentavam a desgraa ou a morte, ou quando lamentavam num enterro. Atravs dos profetas, Deus faz predies da condenao final, empregando o dispositivo do ai, e nenhum israelita poderia deixar de perceber a relevncia do emprego daquela palavra. Os orculos do ai contm, ou explcita ou implicitamente, trs elementos que caracterizam de modo sem igual esta forma: um anncio da aflio (a palavra ai, por exemplo), a razo da aflio, e uma predio da desgraa. Leia Habacuque 2:6-8 para ver um dos vrios exemplos neste livro proftico de um orculo do ai pronunciado contra a nao da Babilnia. A Babilnia, uma super-potncia brutal, imperialista no Crescente Frtil, estava fazendo planos para conquistar e esmagar Jud no fim do sculo VII a.C., quando Habacuque pronunciou as palavras de Deus contra ela. Personificando a Babilnia como ladra e usurria (a razo), o orculo anuncia o ai, e prediz a desgraa (quando todos aqueles que a Babilnia j oprimiu se levantaro contra ela um dia). Mais uma vez, esta forma alegrica (embora nem todos os orculos do ai o sejam: cf. Mq 2:1-5; Sf 2:5-7). A promessa. Ainda outra forma literria proftica comum o orculo da promessa ou o orculo da salvao. Voc reconhecer esta forma sempre que vir estes elementos: a referncia ao futuro, a meno de mudanas radicais e a meno de bnos. Ams 9:11-15, um tpico orculo da promessa, contm estes elementos. O futuro mencionado como Naquele dia (v. 11). A mudana radical descrita como a restaurao e o reparo do tabernculo cado de Davi (v. 11), a exaltao de Israel sobre Edom (v. 12) e a volta do Exlio (vv. 14-15). A bno vem atravs das categorias da aliana que so mencionadas (a vida, a sade, a prosperidade, a abundncia agrcola, o respeito e a segurana). Todos estes itens esto includos em Ams 9:11-15, embora a sade seja implcita ao invs de ser explcita. A nfase central recai sobre a abundncia agrcola. As ceifas, por exemplo, sero to enormes que os ceifeiros no tero completado sua tarefa at ao tempo em que os semeadores comearem a plantar outra vez (v. 13)! Para outros exemplos dos orculos de promessa, ver Os 2:16-22 e 2:21-23; Is 45:1-7; Jr 31:1-9. Com estes breves exemplos, esperamos que voc possa captar o como a conscincia dos dispositivos literrios profticos ajudaro voc a compreender mais exatamente a mensagem de Deus. Aprenda as formas mediante consultas aos bons comentrios.
Contextos Especficos
Cada orculo proftico foi entregue num contexto histrico especfico. Deus falou atravs dos Seus profetas a pessoas num determinado tempo e lugar, e em determinadas circunstncias. Um conhecimento da data, do auditrio e da situao, portanto, quando so conhecidos, contribui substancialmente capacidade do leitor compreender um orculo. Visto que o isolamento dos orculos individuais uma das chaves ao entendimento dos livros profticos, importante para voc saber alguma coisa acerca das formas diferentes que os profetas usavam para compor seus orculos. Reconhecer formas uma condio prvia das delimitaes apropriadas dos orculos. Assim como a Bblia inteira composta de muitos tipos diferentes de literatura e de formas literrias, assim tambm os profetas empregavam uma variedade de formas literrias no servio das suas mensagens divinamente inspiradas. Os comentrios podem identificar e explicar estas formas. Selecionamos trs das formas mais comuns para ajudar a alert-lo sobre a importncia de reconhecer e interpretar corretamente as tcnicas literrias envolvidas. O processo jurdico. Primeiramente, sugerimos que voc leia Isaas 3:13-26, que contm uma forma literria alegrica chamada processo jurdico segundo a aliana. Neste, e nas demais alegorias baseadas em processos jurdicos nos Profetas (por exemplo, Os 3:3-17; 4:1-19), Deus retratado, de modo imaginativo, como sendo o demandante, o promotor pblico, o juiz e o oficial da justia num processo jurdico contra o ru, Israel. A forma completa do processo jurdico contm uma carta rogatria, uma acusao, as evidncias e um veredito, embora estes elementos possam s vezes estar subentendidos ao invs de explcitos. Em Isaas 3, os elementos so incorporados da seguinte maneira: O tribunal convocado e o processo instaurado contra Israel (vv. 13-14). A acusao formal falada (vv. 14b-16). Visto que as evidncias demonstram que Israel claramente culpado, a sentena condenatria prolatada em juzo (vv. 17-26). Porque a aliana foi violada, os tipos de castigo discriminados na aliana sobreviro s
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Como pequeno indcio dos benefcios a serem colhidos do conhecimento de como funciona a poesia hebraica, sugerimos que voc aprenda estes trs aspectos do estilo repeticioso da poesia vterotestamentria. So: 1. O paralelismo sinnimo. A segunda linha, ou a linha subseqente, repete ou refora o sentido da primeira linha, como em Isaas 44:22 Desfao as tuas transgresses como a nvoa, e os teus pecados como a nuvem. 2. O paralelismo antittico. A segunda linha, ou a linha subseqente, contrasta o pensamento da primeira, como em Osias 7:14 No clamam a mim de corao, mas do uivos nas suas camas. 3. O paralelismo sinttico. A segunda linha, ou a linha subseqente, acrescenta primeira algo que, de qualquer maneira, fornea mais informaes, como em Obadias 21: Salvadores ho de subir ao monte Sio, para julgarem o monte de Esa; e o reino ser do Senhor.
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O LIVRO DE ISAAS
O PROFETA ISAAS
a. O nome Isaas significa Jeov salvao; o Senhor (Jav) deu salvao. b. Nasceu e cresceu em Jerusalm (7:3; 22:15; 28:14; 37:2). c. Viveu entre os anos 760 e 640 a.C. Seu ministrio teve lugar durante os reinados de Uzias (792-740 a.C., cf. IICr 27); Acaz (724 708 a.C., cf. IICr 28) e Ezequias (708-679 a.C., cf. IICr 29). d. Era filho de Amoz (distinto do profeta Ams) (1:1). Segundo a tradio judaica, Amoz era irmo de Amazias e, ento, Isaas teria sido primo do rei Uzias. O acesso direto de Isaas tanto ao rei (7:3) como ao sacerdote (8:2) presta apoio tradio. e. Durante a maior parte de sua vida, foi pregador da corte ou capelo do rei. Tinha trnsito livre na corte; assim, acompanhava de perto a evoluo da poltica interna e externa. Muitas vezes, at interferia no curso dos acontecimentos (IIRs 16; IICr 28; Is 7:4). A tradio diz que ele sobreviveu at o reinado do inquo Manasss, quando foi por ele martirizado, sendo posto no oco do tronco de uma rvore e serrado ao meio. possvel que Hb 11:37 refira-se a ele. 1. Cenrio. O versculo de introduo do livro de Isaas situa o profeta durante os reinados de Uzias, Joto, Acaz e Ezequias, reis de Jud. O trecho de Is 6:1 refere-se, especificamente, morte do rei Uzias, o que pode ser datado em cerca de 735 a.C. Isaas, o filho de Amoz, proclamou sua mensagem nao de Jud e em sua capital, Jerusalm, entre 742 e 687 a.C., o que foi um perodo crtico para o Reino do Norte, por causa da invaso assria, que resultou no cativeiro assrio. Partes do livro parecem refletir um tempo posterior ao cativeiro babilnico (captulos 4066) conforme alguns supem, o que s teria acontecido aps a poca de Isaas. Historicamente, Isaas acompanhou Ams e Osias, que ministraram na nao do norte, Israel. Miquias foi contemporneo de Isaas e tambm trabalhou no reino do sul, Jud.
O Santurio do Livro, no Museu de Israel, onde se encontra a preciosa coleo dos antigos pergaminhos do Mar Morto manuscritos bblicos encontrados em 1947 nas grutas de Qumran. A branca cpula exterior do edifcio se assemelha tampa dos jarros de barro em que foram escondidos os pergaminhos. O Rolo de Isaas um dos mais bem preservados rolos de pergaminho das cavernas de Qumran. Ele contm o livro inteiro de Isaas, copiado entre 100 a.C. e 100 d.C. O rolo tem mais sete metros de comprimento. Antes de este e de outros pergaminhos serem descobertos em 1947, os mais antigos manuscritos disponveis do Antigo Testamento datavam de mais ou menos 900 d.C.
2. Sua Vida. Sabemos que o nome do pai de Isaas era Amoz (Is 1:1), e que sua esposa era profetisa, embora no saibamos dizer em qual capacidade (Is 8:3). Coisa alguma se sabe sobre seus primeiros anos de vida. Com base em Is 6:1-8, alguns conjecturam que ele era um sacerdote. No entanto, outros pensam que ele pertencia famlia real. Isso se alicera sobre tradies judaicas. O certo que, aos seus dois filhos, foram dados nomes que simbolizavam a iminncia do juzo divino. O primeiro deles, Um-Resto-Volver (no hebraico, Shear-yashub; Is 7:3), parece que j era homem feito nos dias de Acaz. O outro filho, chamado Rpido-Despojo-Presa-Segura (no hebraico, Maher-shalal-hashbaz; Is 8:3), tal como seu irmo, recebeu um nome simblico. possvel que, nesses dois nomes, estejam em pauta tanto o cativeiro assrio quanto o cativeiro babilnico.
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Quando a nao do norte foi levada em cativeiro, a nao do sul s conseguiu permanecer precariamente, pagando tributo (IICr 28:21).
Calcula-se que, durante quarenta anos, Isaas atuou ativamente como profeta do Senhor em Jud. Se, afinal de contas, Isaas no pertencia aristocracia, pelo menos sua habilidade literria confirma sua excelente educao. O seu grande centro de atividades foi Jerusalm. No se sabe a que tribo ele pertencia. Mas ele levava a srio o seu ofcio, usando roupas de linho cru e uma capa de plos de cor escura, vestes prprias de quem lamentava, porquanto o que ele previa para o povo de Israel era extremamente desastroso. 3. Perodo do Ministrio de Isaas. a. Nos tempos de Uzias (783738 a.C.) e de Joto (750738 a.C., como regente, e 738735 a.C., como governante nico). Nesse primeiro perodo, Isaas pregava o arrependimento, mas no conseguiu convencer a quem quer que fosse. Ento proferiu um terrvel julgamento que estava prestes a desabar sobre a nao. b. O segundo perodo de seu ofcio proftico comeou no incio do reinado de Acaz (735719 a.C.), at o reinado de Ezequias. c. O terceiro perodo comeou com a ascenso de Ezequias ao trono (719705 a.C.) at o dcimo quinto ano do seu reinado. Depois disso Isaas no mais participou da vida pblica, embora tivesse continuado a viver at o comeo do reinado de Manasss. O ministrio de Isaas, portanto, estendeu-se por um perodo de pelo menos quarenta anos (740-701) e talvez mais, j que Ezequias no morreu antes de 687 e duvidoso que o co-regente Manasss ousasse martirizar Isaas com Ezequias ainda vivo. 4. Escritor. Alm do livro que tem seu nome, Isaas escreveu uma biografia do rei Uzias (IICr 26:22) e outra de Ezequias (IICr 32:32). Contudo, essas biografias, com o tempo, se perderam. 5. Estilo. Isaas escrevia com vigor e eloqncia sem iguais, entre todos os demais profetas do Antigo Testamento. Com toda a justia, pois, ele considerado o principal dos profetas escritores. Seus escritos antecipavam os ensinamentos bblicos sobre a graa divina. Sua linguagem rica e repleta de ilustraes. Seu estilo severo, apesar de imponente. Suas aliteraes e bem calculadas repeties ilustram grande habilidade literria, colocando seus escritos numa classe toda parte. Ele jamais se precipitava em suas palavras, as quais fluam graciosamente. A parbola da vinha (Is 5:1-7) serve de excelente exemplo do uso poderoso que ele fazia das palavras. Suas doutrinas norma-
tivas eram o reinado e a santidade de Yahweh. Com base nisso, segue-se, necessariamente, o julgamento divino contra os desobedientes. A Assria estava aterrorizando Israel, mas como um terror enviado por Deus contra um povo desobediente. Todavia, Deus permanecia no controle das coisas. Coisa alguma acontece de surpresa para Ele. O propsito de Deus ter de prevalecer, finalmente (Is 14:24-27; 28:23ss.). Apesar de suas profecias melanclicas, Isaas previu o dia do triunfo do Bem. Chegar, afinal, o tempo em que a Terra encher-se- do conhecimento de Yahweh, assim como as guas cobrem o mar (ver Is 11:9). Profetizou para a nao de Israel que Ciro seria o seu libertador (Is 45:1-13), duzentos anos antes do nascimento de Ciro. E profetizou acerca de Jesus, o Messias (Is 53). Tem sido chamado o maior dos profetas e o profeta da redeno. Foi um dos maiores profetas do VT, no somente pela durao do seu ministrio, mas pela variedade de assuntos tratados no seu livro. denominado o telogo dos telogos. A tradio rabnica de que Amoz, pai de Isaas, era irmo do rei Amazias, no tem confirmao adequada. Assim mesmo, alguns intrpretes crem que podemos inferir, da sua conduta, que ele era de nobre descendncia, e como tal, tinha influncia na corte real. Quanto a esta conexo certo apenas que o trabalho de Isaas ligava-se intimamente com a casa real de Davi. Ele enfrentou ousadamente o rei Acaz (7:3ss.); no reinado de Ezequias ele teve grande influncia (caps. 3639); e durante o resto de sua vida ele observou com olhos profticos os eventos polticos de sua poca. Por tudo isto, o elevado nascimento e a posio social de Isaas serviram-lhe bem, mas no lhe foram indispensveis. Da maior importncia foi o fato de que ele sabia que fora chamado pelo Senhor. De suas profecias podemos inferir com certeza que Isaas era um homem culto. Embora a descendncia real de Isaas possa ser apenas uma conjectura, ele tem sido chamado, com toda justia, de rei dos profetas. Entre os profetas ele o maior. Exibe uma dignidade real mediante a intrepidez da sua ao pblica, a majestade da sua pregao, e a fora nobre e a beleza potica das suas palavras. Alm disso, especialmente na segunda diviso principal, uma compaixo sacerdotal marca a sua pregao. Ele descreve o Cristo com clareza meridiana (nos captulos 139, como Rei messinico; nos captulos 4066, como Servo sofredor do Senhor), e por esta razo com justia ele chamado o evangelista do antigo pacto.
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AUTORIA DO LIVRO
O livro de Isaas foi escrito com duas nfases distintas (cap. 139 e cap. 4066). Por isso, alguns comentadores sugerem que tenha havido mais de um autor. Entretanto, cremos tratar-se da obra de um mesmo autor, com duplo enfoque temtico e com linguagem adaptada (estilos literrios diferentes). Argumentos que afirmam ser Isaas o nico autor: a. A tradio judaica, a Septuaginta e o historiador Josefo atribuem o livro integralmente a Isaas. b. O NT cita Isaas mais vezes do que todos os demais profetas reunidos, dando Isaas como autor de ambas as sees. citado por: Joo Batista em Mateus (3:3); Mateus (4:14-16; 8:17; 12:17-21); Joo (12:38-41); Jesus (Lc 4:16-21); Oficial Etope (At 8:28); Paulo (Rm 9:27-29; 10:20). c. A introduo do livro (1:1) d Isaas como o autor, e no h indcio de interrupo ou mudana de autoria em nenhuma das suas divises em nenhum dos antigos manuscritos (confirmado 15 tambm pelos rolos do Mar Morto e pela Septuaginta). d. As duas sees de Isaas tm uma simetria teolgica nos seus pontos de vista de Deus e do Messias. A expresso o Santo de Israel, usada raramente pelos outros escritores, encontrada 25 vezes em Isaas, sendo doze vezes em 139 e treze vezes em 4066. Essa consistncia de teologia predomina em todo o livro. Podem se apontar 40 ou 50 frases e sentenas que aparecem em ambas as divises do livro e, portanto, favorecem a autoria nica (cf. 1:20 com 40:5 e 58:14; 11:6-9 com 65:25; 35:6 com 41:18, etc.).
pregados por Isaas durante os anos finais de Uzias. Incluem-se a acusao contra o povo por sua letargia e seu pecado rebelde (1:1-26), e a promessa de redeno para os que se voltarem para Deus (v. 2731); uma viso da glria dos ltimos dias (2:1-4); outra alternncia, dessa vez em ordem reversa, do julgamento (3:14:1) e da glria vindoura (4:2-6); e o lindo cntico da vinha (cap. 5). Duas vises so indicadas (1:1; 2:1), talvez combinadas com algumas mensagens avulsas para moldar o argumento introdutrio. A viso de Jav (cap. 6) datada no ano da morte do rei Uzias (cerca de 740 a.C.). Antes disso, Isaas viu as glrias e o esplendor da corte terrena de Uzias, mas quando o rei morreu, Deus lhe concedeu a viso da corte celestial. A viso contm uma revelao do Senhor trs vezes santo (isto , incomparavelmente santo, v. 1-3), sentado num trono alto e sublime, vestido com um manto cujas pontas enchem o templo. Anjos chamados serafins servem para guardar o trono, adorar o Senhor e ministrar a Isaas em sua necessidade, por ser pecador (v. 7). Isaas tambm tem uma viso de si prprio um pecador habitando em meio a pecadores (v. 6), necessitado de misericrdia porque seus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exrcitos (v. 5). Nesse momento Isaas recebe a revelao do ministrio que lhe designado (v. 8-13). A Misso. Um remanescente de Jud de quem Isaas, perdoado e purificado (v. 7), era precursor sobreviveria, como uma rvore derrubada pode ganhar novas razes (v. 13). Os nomes que o profeta deu aos filhos Shear-yashub = Um-Resto-Volver (7:3) e, em especial, o do mais novo, Maher-shalal-hashbaz (8:1-4) = Rpido-Despojo-Presa-Segura (8:1-4) indicam sua mensagem dual. O nome do primeiro filho fala das conquistas assrias que deixam s um remanescente de sobreviventes. O do segundo filho descreve os assrios pilhando Damasco e Samaria e sua coalizo cobiosa que ameaou Acaz, rei de Jud. A viso declara que Deus livre para se fazer conhecido e tambm o perdo dos pecados ao seu profeta e aos fiis. A tarefa de Isaas complexa. primeira vista, parece conter uma mensagem da rejeio de Israel e de Jud. Jav diz a Isaas que Ele est para impossibilitar que as pessoas se arrependam (6:10). O confronto entre o fara e Moiss pode ser um paralelo: o fara primeiro endurece o prprio corao e, depois, Jav sela o processo (ver x 7:3, 14). Em Isaas, porm, um aspecto redentor encontra-se nas palavras: a santa semente o seu toco (Is 6:13). Essa imagem da esperana futura, extrada da horticultura, torna-se
Um rolo de Isaas (contm todo o livro), manuscrito hebraico, datado no segundo sculo a.C., foi descoberto nas cavernas de Qumran, em Israel. William Lasor. Introduo ao Antigo Testamento. Edies Vida Nova, 1999, p. 301-302.
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parte das figuras da promessa messinica (Jr 23:5-6; 33:15; Zc 3:8; 6:12). Ambos, julgamento e esperana, so inerentes ao relacionamento que vemos entre Deus e Israel. De acordo com IICr 26:22, Isaas escreveu os atos de Uzias, implicando que o profeta era escriba ou responsvel pela crnica oficial daquele rei. A profecia implica que Isaas transitava com facilidade em crculos oficiais e era prximo dos reis (ver 7:3; 8:2; 36:138:8, 21s.; particularmente IIRs 18:320:19). Tal posio explicaria de modo satisfatrio seu conhecimento da situao mundial. Alis, a percepo de como o Deus soberano emprega as naes para levar as bnos e os julgamentos decorrentes da aliana foi uma das contribuies profundas de Isaas para Israel compreender seu lugar no programa de Deus na histria.
ampliado por quarenta anos; e certamente no envolveu menos do que vinte e cinco anos. Se os captulos 40 a 66 no foram originalmente escritos por Isaas, conforme pensam alguns, ento poderamos dizer que as profecias de Isaas abordavam, essencialmente, a ameaa assria, bem como a razo dessa ameaa, ou seja, a teimosa desobedincia de Israel, a par da indiferena religiosa e da corrupo moral. Se esses captulos, porm, pertencem genuinamente a Isaas, ento devemos consider-los profecias, e no histria. Em outras palavras, dificilmente Isaas teria sobrevivido at o tempo do exlio babilnico, que o pano de fundo desses captulos. Porm, ele pode ter visto profeticamente aquele perodo histrico. Os estudiosos conservadores preferem tomar o ponto de vista proftico. Ento o livro unificado de Isaas aborda tanto o cativeiro assrio quanto o cativeiro babilnico. Acabe e seus aliados detiveram temporariamente o avano assrio, por ocasio da batalha de Qarqar, em 854 a.C.; mas isso no fez com que os assrios desistissem de seus ideais de conquista territorial. Tiglate-Pileser III (745727 a.C.) invadiu o oeste, conquistou a costa da Fencia e forou certos reis, como Rezim, de Damasco, e Menam, de Samaria (alm de vrios outros), a pagarem tributo. O trecho de IIRs 15:19-29 revela-nos isso. Ali esse rei chamado Pul, que era o seu nome nativo, conforme se sabe mediante fontes informativas babilnicas. Em cerca de 722 a.C. ele conquistou grande fatia da Galilia e deportou daquela regio as duas tribos e meia de Israel que ocupavam a rea. E fez com que aquelas populaes se misturassem a outras, conforme era seu costume (IIRs 17:6-24). Salmaneser V (726722 a.C.) seguiu na esteira de seu pai, quanto s conquistas militares. Peca, rei de Israel, foi assassinado. Seu sucessor, Osias, tornouse vassalo da Assria. Seguiu-se um cerco de trs anos da capital, Samaria, at que o reino do norte, Israel, foi destrudo, em 722-721 a.C. Ams e Osias foram os profetas do Senhor que predisseram isso. Alguns pensam que Sargo teria sido o monarca assrio que, finalmente, conquistou Samaria e completou a derrota do Reino do Norte. Seja como for, o trabalho de destruio se completou. Sargo continuou reinando at 705 a.C., tendo ainda feito muitas guerras contra a sia Menor, contra a regio de Ararate e contra a Babilnia. Senaqueribe, filho de Sargo (705681 a.C.), invadiu Jud, nao que j se sujeitara a pagar tributo Assria. Acaz pagou tributo a Tiglate-Pileser III, e Ezequias foi forado a fazer o mesmo a Senaqueribe.
A POCA DE ISAAS
Champlin traz o seguinte resumo do pano de 17 fundo histrico: O prprio livro de Isaas (ver 1:1) informa-nos de que esse profeta viveu durante os reinados de Uzias, Joto, Acaz e Ezequias, reis de Jud. O trecho de Is 6:1 menciona a morte do rei Uzias (cerca de 735 a.C.). Miquias, outro profeta, foi seu contemporneo que trabalhou em Jud. O perodo da vida de Isaas foi crtico. No tocante a Israel, um dos perodos mais abundantemente confirmados pelo testemunho histrico e por evidncias arqueolgicas. Foi o tempo em que os grandes monarcas assrios, Tiglate-Pileser II, Salmaneser IV, Sargo e Senaqueribe, lanaram-se tarefa de universalizar o imprio assrio. Parte desse esforo foram as campanhas militares contra o norte da Palestina, que inclua as naes de Israel e Jud. Parece que Isaas iniciou seu ministrio pblico em cerca de 735 a.C. e continuava ativo at o dcimo quinto ano do reinado de Ezequias (cerca de 713 a.C.). Talvez ele tenha vivido at bem dentro do reinado de Manasss. As tradies judaicas afianam que no perodo desse rei que Isaas foi serrado pelo meio, ao que possivelmente alude o trecho de Hb 11:37, embora referncias e tradies dessa ordem no possam ser comprovadas, sendo talvez meras conjecturas. Seja como for, o trecho de Isaas 1:1 no menciona Manasss, e isso uma omisso significativa, se Isaas viveu todo esse tempo. Seja como for, seu ministrio pblico poderia ter-se
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R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado (vol. V). Editora Hagnos, 2001 (2 ed.), p. 2779-2780.
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Foram capturadas 46 cidades de Jud, e Ezequias, em Jerusalm, ficou engaiolado como se fosse um pssaro, embora a prpria cidade no tenha sido vencida. Ento Senaqueribe foi assassinado, e seu filho, Esar-Hadom (ver Is 37:38), continuou a opresso contra Jud. Alguns pensam que foi por esse poder que Manasss ficou detido por algum tempo na Babilnia (IICr 33:11). Jud no caiu totalmente diante da Assria, mas ficou debilitado. A Babilnia veio ento a substituir a Assria como potncia mundial dominante e foram os babilnios que, finalmente, derrubaram os habitantes de Jud e os levaram em cativeiro. Os captulos quarenta em diante do livro de Isaas cobrem esse perodo, profeticamente (conforme dizem os estudiosos conservadores) ou historicamente (conforme dizem os estudiosos liberais, que, por isso mesmo, atribuem esses captulos finais de Isaas a outro autor, que no aquele profeta). Conforme se pode ver, Isaas viveu na poca em que imprios caram e se levantaram. Em sua confiana de que nada de mal poderia acontecer a um obediente povo de Israel, ele partia da idia de que as tribulaes do povo de Deus se deviam a causas morais e espirituais, e no apenas polticas e militares. Ele pressupunha que Deus controla todas as coisas, e que todo o desastre que recaiu sobre Israel poderia ter sido impedido, se o povo de Deus se tivesse mostrado fiel ao Senhor. Porm, o que sucedeu foi precisamente o contrrio. As naes de Israel e Jud haviam cado em adiantado estado de decadncia moral e espiritual. Na primeira metade do sculo VIII a.C., tanto Israel (sob Jeroboo II, cerca de 782753 a.C.) quanto Jud (sob Uzias) haviam desfrutado de um perodo de grande prosperidade material. Foi uma espcie de segunda poca urea, perdendo em resplendor somente diante da glria da poca de Salomo. Os captulos dois a quatro de Isaas nos fornecem indicaes sobre isso. Mas, ao mesmo tempo em que prevalecia a riqueza material, prevalecia a pobreza espiritual, incluindo a mais desabrida idolatria, que encheu a terra (Is 2:8). De to prspera e elevada situao, Israel e Jud em breve cairiam. A Assria deu incio derrubada, e a Babilnia a terminou. Isaas, em seu ministrio, enfatizava os fatores espirituais e sociais. Ele feriu as dificuldades da nao em suas razes sua apostasia e idolatria e procurou salvar Jud da corrupo moral, poltica e social. Porm, no conseguiu fazer com que seus compatriotas se voltassem para Deus. Sua comisso divina envolvia a advertncia de que sobreviria o castigo fatal (Is 6:9-12). Dali por diante, ele declarou, ousadamente, a inevitvel queda de Jud e a
preservao de um pequeno remanescente fiel a Deus (Is 6:13). Todavia, alguns raios de esperana alegram as suas predies. Atravs desse pequeno remanescente, ocorreria uma redeno de mbito mundial, quando viesse o Messias, em seu primeiro advento (Is 9:2,6; 53:1-12). E, por ocasio do segundo advento do Messias, haveria a salvao e a restaurao da nao (Is 2:1-5; 9:7; 11:1-16; 35:1-10; 54:11-17). O tema de que Israel, um dia, ser a grande nao messinica no mundo, um meio de bno para todos os povos (o que ter cumprimento somente no futuro), que fez parte to constante das predies de Isaas, tem atrado para ele o ttulo de profeta messinico (Unger, em seu artigo sobre Isaas, citado por Champlin).
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Suas declaraes profticas tm um carter nitidamente messinico. Ele via quo inadequados eram os sacrifcios de animais e os ritos religiosos (Is 1:11-17; 40:16). Apesar disso, aconselhava a devida observncia das obrigaes religiosas (Is 56:2; 53:10). O captulo 53 encerra a famosa passagem do Servo sofredor (o Messias), com tanta freqncia citada pelos cristos como texto de prova acerca de Jesus e de Seu carter 18 messinico, como o grande sacrifcio expiatrio. O captulo 55 salienta a salvao eterna posta nossa disposio. Is 55:5 prediz a salvao das naes gentlicas. 5. Os Poemas do Servo. Esses poemas talvez se refiram a Israel ou Jac, indicando mais especificamente a nao de Jud. Porm, h ocasies em que esses poemas que se referem claramente ao Messias, o Filho de Jud. Alguns eruditos, que no do o devido valor profecia e objetam prtica de alguns de torcer o texto a fim de encontrar ali menes ao Messias, afirmam que essas passagens so referncias estritamente contemporneas nao de Israel. O exame de todas essas passagens, porm, demonstra o inegvel tom messinico de algumas delas. Ver Is 41:8-53; 42:1-9; 49:1-6; 50:4-10; 44:1,2,21,26; 45:4 e 48:20. Ezequiel mostrou-nos a dualidade de uso que se encontra no livro de Isaas. O trecho de Isaas 37:25 chama de servos de Deus tanto a nao de Israel quanto o Rei messinico. Notemos como, em Isaas 42:1-6, o servo ungido pelo Esprito de Deus para uma grandiosa obra de testemunho e de julgamento. Esses versculos descrevem o Messias e o trecho de Mt 12:18-21 cita a passagem de Isaas. 6. Escatologia. Acima de tudo, Isaas um livro proftico, e destacar todas as profecias seria apresentar, virtualmente, uma tabela do contedo do livro. Ha predies sobre o reino de Deus em Is 2:1-5; 11:1-16; 25:626:21; 34 e 35, 52:7-12; 54; 60; 65:17-25; 66:10-24. A ressurreio de Cristo e a sua volta aparecem em Is 25:626:21. Isaas 34 apresenta Edom como o inimigo escatolgico do povo de Deus, em um sentico simblico. O quarto versculo desse captulo foi citado por Jesus acerca de Sua prpria vinda (Mt 24:29), como tambm feito em Apocalipse 6:14. O retorno de Israel sua terra e o reino milenar de Cristo so descritos em Isaas 35. Certas profecias a curto prazo dizem respeito, essencialmente, invaso e ao cativeiro assrio (Is 10:5ss.; 36). O trecho de Isaas 39, porm, olha para mais adiante no tempo, o cativeiro babilnico de Jud. Isaas 53 a passagem messinica mais notvel de Isaas, onde so descritos os sofrimentos de Cristo.
7. Sete conceitos eternos no Livro de Isaas: Aliana (55:3) Bondade (54:8) Fora (26:4) Jbilo (35:10) Julgamento (33:14) Luz (60:19) Salvao (45:17)
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CRISTOLOGIA DE ISAAS
Segundo Ellisen, nenhum outro livro do Antigo Testamento to integralmente messinico como Isaas. Chamam-no algumas vezes de Quinto Evangelho ou Profeta Evanglico, em virtude das muitas previses 20 sobre o Messias. Esse contedo messinico pode ser observado em diversas categorias:
a. A Pessoa do Messias 1. Ser genuinamente humano, nascido de mulher (7:14; 9:6; 53:2). 2. Ser nascido virginalmente, por concepo sobrenatural (7:14). 3. Ser Deus em carne humana (9:6). 4. Ser o Filho de Davi (9:7; 11:1,10). 5. Ser Jeov (YHWH), o Criador de todas as coisas (44:24; 45:11-12).
c. A Obra do Messias 1. Ser apresentado por um precursor no deserto (40:3). 2. Ser ungido para operar com o poder do Esprito Santo (11:2-4; 61:1). 3. Pregar e aconselhar como profeta (11:2-4). 4. Realizar muitos milagres, especialmente na segunda vinda (35:4-6). 5. Ser desacreditado pela sua prpria gerao (53:1). 6. Morrer com os perversos e ser enterrado com b. O Carter do Messias os ricos (53:9). 1. Ser humilde e sem atrativos (7:14-15; 53:2-3). 7. Ser traspassado e modo pelas nossas 2. Ser manso, no barulhento nem rude (40:11; iniqidades (53:5). 42:2-3). 8. Receber sobre si as iniqidades de todas as 3. Ser justo em todas as suas aes (9:7; 11:5; pessoas, por ordem de Deus (53:6). 32:1). 9. Ser o vencedor da morte (25:8). 4. Ser bondoso para com os fracos e aflitos (61:1). 10. Esmagar com fria os perversos na segunda 5. Ser irado e vingativo para com os perversos vinda (34:2-9; 63:1-6). impenitentes (11:4; 63:1-4). 11. Ser o Rei de Israel (9:7; 44:6). 12. Reinar, como o Senhor dos Exrcitos, no monte Sio e em Jerusalm (24:23)
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ESBOO DE ISAAS
I. PROFECIAS E INSTRUES A CURTO PRAZO (1:135:10) Condenao da nao de Israel por causa de suas corrupes, com predies de desastres produzidos pela invaso e pelo cativeiro assrio. Vrias outras naes tambm so denunciadas, havendo predies de condenao contra elas. 1. Jud e Jerusalm e Acontecimentos Vindouros (1:113:6) a. Introduo ao livro e ao seu assunto (1:1-31) b. A purificao e a esperana milenar (2:14:6) c. Punio de Israel devido ao seu pecado (5:1-30) d. A chamada e a misso de Isaas (6:1-13) e. Predio acerca do Emanuel (7:1-25) f. Invaso e cativeiro assrio (8:1-22) g. Previso acerca do Messias (9:1-21) h. O ltego assrio (10:1-34) i. A restaurao e o milnio (11:1-16) j. O culto durante o milnio (12:1-6) 2. Denncias contra Vrias Naes (13:123:18) a. Babilnia (13:114:23) b. Assria (14:24-27) c. Filstia (14:28-32) d. Moabe (15:116:14) e. Damasco (17:1-14) f. Terras alm dos rios da Etipia (18:1-7) g. Egito (19:1-25) h. A conquista da Assria (20:1-6) i. reas desrticas (21:122:25) j. Tiro (23:1-18) 3. O Estabelecimento do Reino de Deus (24:127:13) a. A grande tribulao (24:1-23) b. A natureza do reino (25:1-12) c. A restaurao de Israel (26:127:13) 4. Jud e Assria no Futuro Prxim o (28:135:10) a. Catstrofes e livramentos (28:133:24) b. O dia do Senhor (34:1-17) c. O triunfo milenar (35:1-10) II. DESCRIES HISTRICAS (36:139:8) Descrio da invaso pelas tropas de Senaqueribe. A enfermidade de Ezequias e sua recuperao. Meno misso de Merodaque-Balad. 1. A invaso de Senaqueribe (36:137:38) 2. Enfermidade e recuperao de Ezequias (38:1-22) III. PROFECIAS CONCERNENTES BABILNIA (40:145:13) Antecipao da invaso e do cativeiro babilnico. Para os estudiosos conservadores, isso envolve predio, mas muitos estudiosos liberais preferem pensar que esta seo do livro de Isaas histrica, tendo sido escrita por algum outro autor, que eles intitulam de deutero-Isaas. 1. Consolo para os exilados: promessa de restaurao (40:1-11) 2. O carter de Deus garante o consolo (40:12-31) 3. Yahweh castigar a idolatria por meio de Ciro (41:1-29) 4. O Servo de Yahweh, o Consolador (42:1-25) 5. Restaurao: a queda da Babilnia (43:147:15) 6. Exortao para que sejam consolados os restaurados do cativeiro babilnico (48:1-22) IV. O SERVO E REDENTOR E AS COISAS FINAIS (4964) Seo com diversas profecias, sobre vrios assuntos, alm de ensinamentos morais e espirituais. 1. Livramento final do sofrimento pelo Servo de Deus (4953) 2. A salvao e as suas bnos (54 e 55) 3. Repreenso a Jud por causa de seus pecados (5658:15) 4. O Redentor divino redimir Sio (58:16-62) 5. A vingana do Messias e a orao de Isaas (63:764:12) 6. A resposta de Deus e o reino prometido (65 e 66)
SNTESE DO LIVRO21
PRIMEIRA PARTE (CAP. 135)
CAPTULO 1
A mensagem deste captulo refere-se a Jud e a Jerusalm (vv. 8, 12, 21, 27). provvel que no se trata de um nico discurso, mas de pequenas mensagens pronunciadas em ocasies diferentes. O profeta descreve: 1) A v aflio do povo (v. 2-9), pois no reconhecem o Senhor Deus, apesar de os ter escolhido por filhos; toma a terra e o cu por testemunha contra eles; 2) revela que a obedincia melhor que o sacrifcio (v. 10-20). A oferta no atrai a misericrdia do Senhor, e Jerusalm recebe o epteto de Sodoma, Gomorra e prostituta. Contudo, 3) Deus conclama o seu povo a um novo incio: aos quebrantados a cerimnia de purificao (v.24-27); e aos impenitentes o julgamento (v. 28-30).
CAPTULOS 26
Os captulos de 2 a 5 esto claramente ligados: a) embora as palavras de abertura do captulo 2 indicam urna nova viso, as palavras introdutrias dos outros captulos mostram continuidade; b) todos esses captulos versam sobre o mesmo assunto, a saber, o dia do Senhor (2:11, 12, 17, 20; 3:7,18; 4:1, 2; 5:30); c) todos dizem respeito diretamente a Jud e Jerusalm (2:1, 3, 6; 3:1, 8, 16; 4:3-5; 5:3). Notamos tambm que essa seo termina com seis ais (5:8, 11, 18, 20, 21, 22).
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Este exame do contedo de Isaas est baseado em J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. III). Edies Vida Nova, p. 251-263.
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O captulo 6 destaca-se claramente por seu tema. um fragmento autobiogrfico surpreendente. A nova viso do profeta aqui no da sua nao, mas do prprio Deus e seu propsito prepar-lo para um ministrio proftico mais amplo. H uma nova viso (vv. 1-5), uma nova uno (vv. 6,7) e uma nova comisso (vv. 9,10). Mas o importante aqui que Isaas viu o Senhor como Rei. O ponto alto a exclamao reverente: ... os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exrcitos!. Se pudermos antecipar os captulos seguintes s por um momento, veremos que a partir desse ponto o alcance proftico de Isaas amplia-se maravilhosamente; mas antes foi necessrio que visse o Senhor como Rei de todas as naes, a fim de sentir vivamente e ser capaz de declarar com vigor que, por trs, acima e alm de todas as conturbaes que profetizaria estavam o controle e o propsito soberanos do Imperador universal, o Senhor. A referncia imediata desse captulo 6, porm, novamente a Jud e a Jerusalm (vv. 5, 9-13); portanto, de qualquer modo podemos agora marcar os seis primeiros captulos de Isaas como sendo uma seqncia, no sentido de que todos se referem diretamente a Jud e seu assunto principal o dia do Senhor.
estabelecido como reino separado, e o perigo vinha da Assria. Ora, todos sabemos muito bem que Israel que foi destrudo pela Assria e no Jud; pois, embora tivesse permisso para perturbar Jud tambm, o Senhor interveio, a Assria sofreu grande derrota e Jud foi poupada. O captulo 8, que continua o mesmo assunto, torna ainda mais claro que se trata de Israel. Veja o versculo 4: ...sero levadas [...] e os despojos de Samaria, diante do rei da Assria. Veja tambm o versculo 6, onde o povo que com Rezim e com o filho de Remalias se alegrou (ARC) no certamente o de Jud! Note que o versculo 8 diz nitidamente que a Assria de fato inundaria Jud, exatamente como Miquias 1:9 diz, excluindo assim Jud das palavras que acabaram de ser pronunciadas sobre Israel. O restante do captulo fala da confederao que a Sria e Israel queriam forar sobre Jud; mas Israel surge novamente perto do final e no captulo 9. A ligao entre os captulos 8 e 9 torna a referncia principal a Israel ainda mais clara. O captulo 10 continua a mesma profecia. Entre outras coisas, isso mostrado pelo solene refro: Com tudo isto no se aparta a sua ira, e a mo dele continua ainda estendida (9:l2, 17, 21; 10:4). Do versculo 5 ao 34 o profeta desvia-se para falar Assria, o poder que deveria destruir Israel e tambm afligir Jud (vv. 11, 12). No final, a prpria Assria seria destruda. Isso leva aos captulos 11 e 12, que descrevem o reino vindouro do Messias, em que os desterrados de Israel e os dispersos de Jud seriam reunidos (11:12). Nota: Exatamente como os captulos de 1 a 6 ocupavam-se sobretudo de Jud, terminando (no 6) com uma belssma viso do Senhor como Rei soberano nos cus, vemos que os captulos de 7 a 12 tratam principalmente de Israel, terminando com uma gloriosa viso do Senhor como Rei soberano na Terra, no reino messinico que vir. E mais: do captulo 7 ao 12, assim como do 1 ao 6, encontramos repetidas referncias ao dia do Senhor (7:18,20,21,23; 10:20, 27; 11:10,11; 12:1,4). Portanto, podemos dizer agora que os seis primeiros captulos referem-se ao dia do Senhor principalmente em relao a Jud, e os seis captulos seguintes referem-se ao dia do Senhor principalmente em relao a Israel.
CAPTULOS 712
Encontramos aqui seis captulos referentes principalmente a Israel (o Reino do Norte, das dez tribos, do qual Samaria era a capital). Ver o incio do captulo 7: Sucedeu [...] que Rezim, rei da Sria, e Peca, filho de Remalias, rei de Israel, subiram a Jerusalm, para pelejarem contra ela... Veja tambm o versculo 2, onde o nome Efraim substitui Israel. Sria e Israel so os invasores (vv. 1, 2). Israel que vai ser destrudo, e deixar de ser povo (v. 8). O rei Acaz de Jud, sitiado pela Sria e por Israel, informado de que a terra (Sria e Israel) ser desamparada diante dos dois reis aos quais teme (v. 16). A mensagem inteira de consolo para o aflito Acaz (vv. 3-16); mas que estranho conforto ficar sabendo de repente, sem qualquer motivo para a transio, que um perigo bem mais mortal do que qualquer coisa que se acabou de dizer de Israel recair sobre Jud! De forma alguma, no versculo 17 as palavras so dirigidas diretamente ao rei de Israel. A redao no deixa dvidas: Mas o Senhor far vir sobre ti, sobre o teu povo e sobre a casa de teu pai, por intermdio do rei da Assria, dias tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se separou de Jud. Em outras palavras, viriam dias sobre Israel como nunca tinham ocorrido antes desde que as dez tribos haviam-se
CAPTULOS 1323
Esses captulos formam claramente um conjunto, pois so uma sucesso de sentenas, sendo que, com exceo de uma (a do Vale da Viso), todas relacionam-se s naes gentias, como segue:
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13-14,27 Sentena contra a Babilnia 14:28-32 Sentena contra a Filstia 1516 Sentena contra Moabe 1718 Sentena contra Damasco 1920 Sentena contra o Egito 21:1-10 Sentena contra o deserto do mar 21:11,12 Sentena contra Dum (Edom) 21:13-17 Sentena contra a Arbia 22 Sentena contra o Vale da Viso 23 Sentena contra Tiro. Note tambm nesses captulos o dia do Senhor (13:6, 9,13; 14:3; 17:4, 7, 9; 19:16, 18, 19, 21, 23, 24; 20:6; 22:12, 20, 25; 23:15).
CAPTULOS 3435
Nesses captulos temos o clmax da exploso proftica dessa primeira parte de Isaas. Descrevem a vingana do Senhor sobre o mundo e a restaurao de Sio. Note a passagem 34:8 Porque ser o dia da vingana do Senhor, ano de retribuies pela causa de Sio. Embora nesse captulo 34 a fria seja desencadeada contra Edom em particular, fica perfeitamente claro que Edom usado aqui tipologicamente. Veja como o captulo comea: Chegai-vos, naes, para ouvir, e vs, povos, escutai; oua a terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a indignao do Senhor est contra todas as naes.... Isaas no s abrange aqui todas as naes da Terra, mas tambm projeta-se para o fim da Histria. Depois disso, aps esse quadro terrvel de vingana, com seus tons sombrios e lgubres, leva-nos a uma cena tranqila e triunfante do reino definitivo, no captulo 35. a descrio da graa e da glria finais depois do pecado e do juzo. No captulo 34 estamos na grande tribulao no fim da era presente. No captulo 35 estamos no milnio! Como notvel, ento, o desenvolvimento expansivo nessa primeira parte de Isaas! Faa um breve retrospecto desses 35 captulos novamente. Nos primeiros seis, ficamos limitados a Jud. Mas, depois da viso transformadora do Senhor como Rei de todas as naes e pocas, no captulo 6, as profecias tm um alcance cada vez maior, at abrangerem todas as naes e toda a histria! Se nos seis primeiros captulos estamos confinados a Jud, nos seis seguintes projetamo-nos para o reino das dez tribos de Israel. Depois disso, no grupo seguinte (13 a 23) todos os principais reinos dos dias de Isaas so cercados. Depois, nos quatro captulos que se seguem (24 a 27) o mundo inteiro gira diante dos olhos da profecia. Do captulo 28 ao 33, Jerusalm torna-se o ponto focal, como centro de todas as atividades e controvrsias do Senhor com nossa raa. Finalmente, no captulo 34, somos lanados grande tribulao no final da era presente, e depois levados ao clmax belssimo do Milnio, no captulo 35! No uma maravilhosa expanso, desenvolvimento, progresso, desgnio? E no defende um autor humano nico por trs do todo, assim como indica o nico autor divino por trs do humano?
CAPTULOS 2427
Do captulo 24 ao 27 temos o dia do Senhor em relao ao mundo inteiro. Todos os expositores concordam que a linguagem aqui abrange toda a Terra. Marque especialmente as passagens 24:1, 4, 5, 16, 19, 20, 21; 25:6, 7; 26:21; 27:1. Em primeiro lugar, a mensagem foi para Jud; depois, para Israel ; depois, para todas as naes gentias circundantes; e agora, para todo o mundo! No possvel enganar-se quanto ao asssunto desses quatro captulos: mais uma vez, o dia do Senhor (24:21; 25:9; 26:1; 27:1, 2, 12, 13).
CAPTULOS 2833
Esses captulos tambm agrupam-se nitidamente. Consistem de seis ais. Todos tratam especialmente de Jerusalm, que sempre o centro de toda a atuao terrena de Deus. Embora o primeiro ai (cap. 28) dirija suas palavras de abertura aos bbados de Efraim, esses so usados apenas como uma advertncia para Jud. As palavras tambm estes no versculo 7 (compare com o v. 14) mudam o ai, dirigindo-o a Jud. E, apesar de o ltimo desses ais falar anonimamente da Assria, como o destruidor, ainda assim a mensagem dirigida claramente a Jerusalm. Assim sendo, os seis ais do captulo 5 sobre Jerusalm encontram agora um paralelo nesses outros seis. A cidade de maior privilgio a cidade de maior responsabilidade! Estes so os seis ais: 28 29:1 29:15 30 31 33 bbados de Efraim e Jud; hipcritas (v.13) de Ariel; intrigantes perversos de Jerusalm; os rebeldes contra o Senhor; os aliados incrdulos; o destruidor assrio.
Note a expresso o dia do Senhor vrias vezes reaparecendo nesses captulos de ais (28:5; 29:18; 30:23; 31:7).
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recuperao e contato de Ezequias com a Babilnia a nova potncia mundial que agora comea a ocupar o cenrio. Assim sendo, esses quatro captulos so uma transio deliberada dos captulos de 1 a 35, em que a Assria a potncia mundial dominante, para os captulos de 40 a 66, em que a Babilnia a potncia mundial dominante.
Nota:
Podemos estabelecer agora nossas descobertas na primeira parte de Isaas como segue: ORCULOS DE PUNIO E RESTITUIO (139) 16 712 1323 2427 2833 3435 3639 O dia do Senhor e JUD O dia do Senhor e ISRAEL As dez sentenas contra as NAES O dia e o MUNDO inteiro Os seis ais sobre JERUSALM A ira final: SIO RESTAURADA Adendo histrico parte I
pensamento, orao e estudo bblico, assim como Deus fez dele o centro da profecia, da histria e da redeno. Quanto aos trs grupos de nove captulos, podemos fazer a seguinte sntese: No primeiro grupo (4048), o destaque recai sobre a supremacia do Senhor. H um claro progresso de idias. Nos dois primeiros captulos desse grupo (40 e 41), o Senhor visto como supremo em seus atributos de onipotncia, oniscincia e onipresena. Note, por exemplo, passagens sublimes como 40:1218; 41:4 etc., 21-29. Depois, do captulo 42 ao 45, temos a supremacia do Senhor na redeno. Ver 42:59, 13-16; 43:1,3, 10, 11, 12, 25; 45:5-8, 15-17, 20-22. Finalmente, do captulo 46 ao 48, vemos a supremacia do Senhor no juzo. Esses trs captulos versam sobre o juzo em relao Babilnia e seus deuses: Bel, Nebo etc. Mas note a nova referncia acentuada supremacia do Senhor em 46:5, 9, 10; 47:4; 48:12-14, 20-22. No segundo grupo (4957), o destaque recai sobre o Servo do Senhor. O Servo foi mencionado antes, no primeiro grupo, mas agora levado a uma proeminncia maior. Nos captulos 49 e 50, sem dvida a referncia principalmente nao eleita, Israel, embora mesmo aqui exista uma referncia latente e final a Cristo. Mas a partir de 52:13 at o final do captulo 53 h uma transio para a referncia clara, plena e gloriosa ao Messias-Redentor pessoal que estava para vir. Com base nisso, nos captulos 54 e 55 temos a restaurao da nao de Israel e o reinado do Cristo (55:4 etc.) como lder e comandante davdico. Esse grupo termina ento nos captulos 56 e 57, com um apelo urgente e uma renovao da promessa. Finalmente, no terceiro grupo (58-66) temos o desafio do Senhor. A apresentao tripla. Primeiro, h o desafio em vista da falha presente (58 e 59). A seguir, vem o desafio em vista das simples perspectivas da poca que se levantavam diante de Israel (6065). O captulo 66 termina o magnfico poema com um desafio conclusivo de promessa e advertncia finais.
Nota:
Podemos agora colocar em forma de anlise plana a segunda parte de Isaas. A mensagem central do livro que o Senhor o Rei supremo e nico Salvador. Na parte um, o captulo-chave o sexto, onde temos a viso do profeta do Senhor como Rei. Na parte dois, o captulo-chave o 53, onde vemos o Cordeiro, primeiro sofrendo e depois triunfando.
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ORCULOS DA REDENO E CONSUMAO (4066) GRUPO 1. A SUPREMACIA DO SENHOR (4048) O Senhor supremo em atributos (4041) O Senhor supremo na redeno (4245) O Senhor supremo no castigo (4648) GRUPO 2. O SERVO DO SENHOR (4957) Primeiro Israel: finalmente Cristo (4953) Israel restaurada: Cristo reina (5455) Portanto, o estmulo presente e a promessa
(5657)
profeta viu o fim de todas as lutas de Israel pelo nascimento de Cristo. Ele deu a Acaz um sinal de que Jud no iria perecer (Is 7:14). Acaz recusou a evidncia onde deveria ter apoiado sua f. Fez seus prprios planos com a Assria, apoiou-se nela, em quem mais tarde seria o instrumento do seu castigo (Is 7:17-20; IICr 28:16,19,20-25). Da, segue-se a sentena de Deus sobre o rei e a terra (Is 8:6-22 destruio das naes idlatras). Is 9:6,7 outra grande profecia acerca de Cristo a criana que haveria de nascer sentaria no trono de Davi. Is 10, estranha combinao: sofrimento presente e glria futura. Is 11, quadro da glria do reino futuro que Cristo vir estabelecer na Terra. Is 12, nesse reino, o povo ir adorar ao Senhor. Is 13, runa da grande Babilnia, que iria levar Jud cativo. Is 14, morre o rei Acaz, mas Isaas diz que esta morte no deve ser aclamada como o fim das cargas, pois opressores piores restavam por vir. 3. REI EZEQUIAS (Is 1539) O reino do piedoso Ezequias foi um dos perodos mais importantes de toda histria de Israel. A Assria ameaava as fronteiras do norte. Antes do sexto ano de Ezequias, Samaria caiu diante da Assria, que se animou para novas conquistas. Oito anos mais tarde, Jud foi invadida. A primeira invaso foi promovida por Sargo e a segunda por Senaqueribe, seu filho. IIReis 18:13-16 relata o desespero de Ezequias diante da segunda invaso e como buscou em vo o socorro do Egito. At que os assrios sitiaram Jerusalm e exigiram rendio. Os v. 17-37 narram as dramticas negociaes entre o general assrio e as autoridades de Jerusalm. Isaas 37:36-38 descreve o rpido e terrvel desastre que se deu com os assrios ao serem mortos em seus acampamentos por uma visitao misteriosa. Os reinos de Jud e de Israel se tinham enfraquecido tanto pela idolatria e pela corrupo que os inimigos logo prevaleceram como feras sobre eles. Primeiro Israel em 722 a.C. e, depois, Jud em 586 a.C. Os dois reinos acabaram-se e o povo foi levado cativo. Nessa poca Isaas viveu e profetizou.
GRUPO 3. O DESAFIO DO SENHOR (5866) Em vista dos erros presentes (5859) Em vista dos grandes eventos futuros (6065) Desafio, promessa e advertncia finais (66)
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ANEXO 2
AS PROFECIAS MESSINICAS
As profecias messinicas22 so passagens do Antigo Testamento que se referem a um futuro Rei ungido que levar salvao a Israel. As passagens podem ser consideradas profecias messinicas por duas perspectivas distintas:
1. Da perspectiva da igreja crist, muitas passagens so consideradas messinicas, desde Gnesis 3:15 at Malaquias 4:5-6. Desse ponto de vista, registram-se 124 passagens, cada uma com seu cumprimento especfico no NT. Esse mtodo de identificao de profecias messinicas comea com citaes ou referncias do NT ligando o ministrio e/ou o significado da vida de Jesus ao AT. O mtodo permitiu que os primeiros cristos testemunhassem aos judeus usando as Escrituras deles para provar que Jesus era aquele de quem as Escrituras falavam. O mtodo tambm ajudou os cristos a aprender mais a respeito de Jesus e compreender sua obra de salvao. Desse ponto de vista, o primeiro sentido das passagens do AT no to importante quanto o sentido contemporneo da passagem para a Igreja. Os judeus dos dias de Jesus usavam um mtodo semelhante de interpretao para obter o significado pleno e a aplicao da passagem. 2. Do ponto de vista histrico, s um nmero limitado de passagens considerado profecia messinica. Para ser assim considerada, a passagem precisa apresentar a referncia do autor original a um futuro Rei de salvao. Esse mtodo comea com o contexto histrico do AT e seleciona passagens que apontam para o futuro, referem-se a um Rei ungido e descrevem a salvao do povo de Deus. Esse mtodo falaria de cumprimentos incompletos na vida de reis judaicos especficos como Ezequias, do cumprimento importante no ministrio terreno de Jesus Cristo e do cumprimento final na segunda vinda. As principais passagens em vista so IISm 7; ICr 17; Sl 2; 72; 89; 110; 132; Is 2:2-5; 9:1-7; 11:1-10. Esse ponto de vista tem origem nos conceitos modernos de histria e nos mtodos mais recentes de interpretao da literatura antiga. Procura-se compreender como o antigo Israel entendia a si mesmo em vrios pontos de sua histria. Fazem-se perguntas como: quando Israel comeou a esperar que Deus enviasse um novo libertador? O que Israel esperava que esse novo tipo de libertador fosse e fizesse? Como as vrias mudanas na viso histrica de Israel afetam a viso e a expectativa de um libertador messinico? Pergunta-se: de que maneira Jesus de Nazar cumpre as expectativas de Israel? O israelita comum nos dias de Jesus devia ser capaz de perceber
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que Jesus era o Messias esperado? Jesus apresentou uma interpretao do Messias que divergia da interpretao que Israel fazia na poca? De quem eram os mtodos de interpretao bblica que os autores inspirados do NT empregavam quando interpretavam Jesus luz do AT? Como a Igreja hoje pode interpretar legitimamente as Escrituras do AT luz do cumprimento que vemos na pessoa de Jesus? Os dois pontos de vista, portanto, comeam com diferentes nfases, diferentes tipos de pergunta e diferentes mtodos de interpretao. Basicamente, terminam com a mesma pergunta: Como o AT nos ajuda a compreender a vida, o ministrio e a obra salvadora de nosso Salvador Jesus, o Messias? Os dois pontos de vista vem Jesus como o cumprimento da religio e da esperana do AT. O primeiro ponto de vista pode encontrar textos isolados que apontam para Jesus. O segundo ponto de vista pode considerar que a aplicao de algumas passagens a Jesus pode ser resultado da histria da interpretao, mas no o significado do autor original. Ambos os pontos de vista afirmam que os autores do NT de fato usaram o AT para testemunhar que Jesus de Nazar era o Messias de Israel e o Salvador do mundo. Ao faz-lo, eles consideram que a idia original era de um rei terreno governando do trono do ancestral Davi e restaurando o poder poltico nao de Israel. Essa perspectiva histrica desenvolveu-se dentro da histria de Israel. Essa concepo culmina no ministrio de Jesus, o Messias e Servo Sofredor, morrendo numa cruz e sendo ressuscitado para ascender a um trono celeste direita do Pai. Ali Ele rege no s a Israel, mas todo o universo. Esse governo tornar-se- claro a todas as naes e povos quando Jesus retornar na segunda vinda para estabelecer seu reino tanto na Terra como no Cu.
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ANEXO 3
SRIA
Sria 23 a traduo atual do termo hebraico Ar e refere-se em geral ao territrio a noroeste de Israel. No perodo do Antigo Testamento, pequenas cidades-estados (em particular Hamate e Damasco) competiam entre si pelo controle da rea.
Ar abrangia o Lbano e a Sria de hoje, com pequenas partes da Turquia e do Iraque. No NT, Sria refere-se provncia imperial romana localizada em torno de sua capital em Antioquia e inclui a Judia. Geograficamente, a Sria uma rea indefinida. Para Tiglate-Pileser III da Assria, ela se estendia do monte Lbano a Ramote-Gileade. Hoje, os estudiosos da Bblia costumam pensar na regio desde os montes Taurus, no norte, at Damasco, no sul (ou alm) e dos montes do Lbano, no oeste, at o rio Eufrates no leste. Do oeste para o leste a Sria compreende: (1) uma estreita plancie costeira, (2) os montes Lbano, (3) o cnion formado pelos rios Orontes e Leontes , (4) o planalto frtil que termina no deserto da Arbia. Os arquelogos prestam informaes valiosas da histria antiga da Sria. Ebla originou-se em cerca de 3500 a.C. e tornou-se capital de uma importante cidade-estado de cerca de setenta mil habitantes por volta de 2500 a.C. Ela continuou exercendo grande influncia at cerca de 1600 a.C., ainda que s vezes derrotada por reis da Mesopotmia. Yamhad, com sua capital Alepo, foi uma importante cidade-estado aps 2000 a.C. Ali se desenvolveu um famoso estilo de arte sria confirmada em decoraes sobre selos cilndricos. Alalakh foi outra cidade importante nesse reino. O reino caiu sob ataques hititas em cerca de 1630. Qatna governou a Sria central durante esse perodo. A Bblia liga os patriarcas Sria nesse perodo. Ar alistada como descendente de Sem (Gn 10:2223; cf. 22:20-24). A esposa de lsaque, Rebeca, era aramia de Pad-Ar (25:20). Jac foi chamado arameu peregrino (Dt 26:5; cf. Os 12:12). O profeta Balao era arameu (Nm 23:7; Dt 23:4). Cerca de 1550 a.C., o Egito comeou a exercer controle significativo sobre a Sria, combatendo os mitanis e depois os hititas para obter o domnio. Durante esse perodo, Kumidi, Sumur e Ulasa serviram como centros administrativos. Qatna, Biblos, Tiro, Sidom, Beirute, Arwada, Damasco e Cades permaneceram como cidades-estados com governantes locais submissos ao fara egpcio como vassalos. Os hurritas comearam a se misturar com a populao basicamente semita do oeste. Ugarite, importante cidade na costa nordeste da Sria, ganhou grande destaque nesse perodo. Os
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arquelogos remontam sua origem ao perodo calcoltico (cerca de 6500 a.C.). Escavaes tm revelado muita coisa da lngua, literatura, religio e vida canania. Apesar de seu tamanho e importncia, Ugarite raramente gozou de independncia poltica. Seu rei era vassalo dos hititas, egpcios ou de outras cidades srias como Yamhad. Ugarite caiu em cerca de 1180 a.C. diante dos Povos do Mar, dos quais surgiram os filisteus, alm de outros grupos tribais. Os povos nmades chamados arameus comearam a marcar presena desde a Prsia at a Sria nessa poca. Em cerca de 1112 a.C., a Assria, sob TiglatePileser, tornou-se a principal ameaa contra a Sria. Os sucessos iam e vinham, com Tiglate-Pileser alardeando ter atravessado o Eufrates e atingindo a Sria vinte e oito vezes. Mas os documentos tambm mostram que os arameus invadiram a Assria. A Bblia fala do surgimento de cidades-estados srias da poca de Saul e Davi. Saul enfrentou o rei de Zob (ISm l4:47), como tambm Davi (IISm 8:3; cf. o ttulo do Sl 60). Damasco era aliada de Zob (IISm 8:5), mas Hamate congratulou-se com Davi por ter este derrotado a Zob. Isso mostra as mudanas de relacionamento entre as pequenas cidades-estados da Sria. Zob forneceu soldados para os amonitas em sua luta contra Davi (IISm 10:6). A derrota fez o rei Hadadezer de Zob lutar contra Davi apenas para sofrer outra derrota (IISm 10:13-19). A derrota de Zob deu a Rezom oportunidade de estabelecer Damasco como o poder srio (IRs 11:2324). Rezom no deixou Salomo em paz (IRs 11:25). Escavaes mostram que Damasco tornou-se cidade antes de 3000 a.C. Abrao ali perseguiu reis para recuperar L (Gn 14:15); e Elizer, servo de Abrao, era de Damasco (Gn 15:2). Asa, rei de Jud (905-874 a.C.) pagou a BenHadade de Damasco para romper sua aliana militar com Baasa de Israel e atacar o reino do Norte (IRs 15:18-22). Outro Ben-Hadade de Damasco formou uma grande coalizo de reis e atacou Samaria sob o rei Acabe (874-853 a.C.). Um profeta levou Israel vitria,
Manual Bblico Vida Nova. Edies Vida Nova, 2001, p. 424-425 e 430-431.
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depois puniu Acabe por fazer um tratado com Damasco (IRs 20). Josaf de Jud e Acabe de Israel atacaram os arameus, mas perderam em RamoteGileade, resultando na morte de Acabe (IRs 22). O profeta Eliseu tambm livrou Samaria de Ben-Hadade (IIRs 57). Eliseu ento profetizou uma troca de dinastia em Damasco, anunciando Hazael como seu rei (IIRs 8:7-15). Salmaneser III da Assria (858-824 a.C.) alegou vitria sobre Ben-Hadade e sobre Hazael em Carcar, numa srie de batalhas entre 853 e 838. A batalha de 853 viu Irhuleni de Hamate, Ben-Hadade de Damasco e Acabe de Israel interceptarem o avano de Salmaneser. Acazias de Jud e Joro de Israel juntaram foras contra Damasco em 841, o que fez Joro matar Acazias (IIRs 8:259:28). Aps 838 a.C., Hazael e Ben-Hadade restauraram o poder de Damasco (IIRs 10:32-33; 13:3-25; cf. Am 1:4). Mas Adad-Nirari III da Assria (810-783) ps fim a isso com invases de 805 a 802 e de novo em 796. Hazael atacou Israel e forou o rei Jos a pagar tributo (IIRs 12:17-18), mas Jeos de Israel reconquistou as cidades israelitas tomadas por Damasco (IIRs 13:19, 25). Por fim, Jeroboo II (798-782 a.C.) confirmou o poderio de Israel ganhando o controle de Damasco (IIRs 14:28). Zakir de Hamate preencheu parte do vazio de poder na Sria, levando Hamate a seu poder mximo (800-750 a.C.). Em 753, Salmaneser IV da Assria lutou contra Damasco. Os ltimos esforos de Damasco comearam com seu ltimo rei Rezim, que se tornou vassalo de TiglatePileser em 738 a.C. Rezim juntou-se a Peca de Israel, invadindo Jud e atacando Jerusalm. Rezim conseguiu capturar Elate e a entregou a Edom (IIRs 16:6). Acaz de Jud recusou-se a crer na advertncia do profeta Isaas de que Israel e Ar no ameaariam Jud muito tempo (Is 7). Ele pagou a Tiglate-Pileser da Assria para derrotar seus inimigos (IIRs 16:5-18). Tiglate-Pileser alegou ter destrudo 501 cidades em dezesseis distritos quando capturou Damasco e exilou seus lderes. Ele nomeou governadores prprios em centros provinciais srios em Hauran, Qarnini (ou Carnaim) e Gileade no sul, e Subatu no norte. Quando Damasco rebelou-se em 720 a.C., Sargo II desbaratou a rebelio e destruiu Hamate. Isso iniciou um controle estrangeiro permanente na Sria, primeiro pela Assria, depois pela Babilnia aps 612, pela Prsia aps 538 e por fim pela Grcia em 321.
Na diviso do imprio grego aps a morte de Alexandre, Sria tornou-se o nome popular do reino selucida centralizado em Antioquia. As revoltas macabias levaram independncia judaica em 167 a.C. Em 64 a.C. Roma transformou a Sria em provncia. Um procurador subordinado ao legado srio governava Jud (cf. Mt 4:24; Lc 2:2). Antioquia permaneceu como o centro governamental da provncia. Paulo viajava para Damasco a fim de ali perseguir os cristos, quando Deus interveio para salv-lo (At 9). Paulo evangelizou na Sria (At 15:41; Gl 1:21). Antioquia tornou-se centro missionrio cristo (At 13:13). Ali foi criado o termo cristo (At 11:26).
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ASSRIA
Os teus pastores dormem, rei da Assria; os teus nobres dormitam; o teu povo se derrama pelos montes, e no h quem ajunte. (Na 3:18)
O principal territrio da Assria era uma regio triangular cujo lado oeste corria ao longo do rio Tigre, desde Nnive para o sul, por uns 160 km at a tradicional capital em Assur. O terceiro ponto do tringulo ficava em Arbela, cerca de 80 km a leste do Tigre. A histria da Assria em geral dividida em trs perodos: o assrio antigo (cerca de 2000-1393 a.C.), o assrio mdio (cerca de 1363-1000 a.C.) e o neoassrio (cerca de 1000-612 a.C.). obteve uma vitria indiscutvel (a batalha no mencionada na Bblia), mas ele voltou em 841 para cercar Damasco e cobrar tributo de Je, o novo rei de Israel. Seguiu-se ento outro perodo de relativa fragilidade na Assria, durante o qual Damasco assediou continuamente a Israel e a Jud. Adad-Nirari III (810-783 a.C.) levou um perodo de alvio para Israel (IIRs 13:5) por meio de uma expedio contra Damasco em 805. A fragilidade da Assria (poca do ministrio de Jonas, IIRs 14:25) foi maior durante a expanso de Jeroboo II de Israel (793-753) e Uzias de Jud (792-740). Tiglate-Pileser III (tambm chamado Pul, 745-727 a.C.) restabeleceu o poder assrio e, com um exrcito permanente recm-formado, iniciou guerras de conquista em vez de simplesmente saquear. Em 743, ele comeou vrias incurses contra a Sria e a Palestina. Anexando reinos arameus como provncias assrias, cobrou tributo de Israel e Jud (IIRs 1516). Pela rebelio de Osias, rei testa-de-ferro de Israel, Salmaneser V (727-722 a.C.) conquistou Samaria em 722 aps um cerco de trs anos e deportou seus habitantes (IIRs 17). Em 712, no incio do reinado de Ezequias (715-687), Jud revoltou-se (Is 20:1). Sargo (712-705) respondeu com uma demonstrao do poder assrio. Uma revolta posterior, apoiada pelos egpcios (IIRs 1819; Is 30:1-5; 31:1-3; 37:6-37), fez com que Senaqueribe enviasse em 701 um exrcito que derrotou o Egito, conquistou quarenta e seis cidades de Jud e cercou (mas no tomou) Jerusalm. Esar-Hadom (680-669 a.C.) e seu filho, Assurbanipal (668-627), estenderam o imprio assrio at o Egito (cf. Na 3:8-10), mas estavam constantemente envolvidos em lutas de defesa por todos os lados. Ao que parece, Assurbanipal empregou grande parte dos recursos da Assria para suprimir uma rebelio da Babilnia, de Elo e de outros (652639). Isso acarretou o declnio final do poderio assrio, permitindo a Josias (641-609) levar reformas e restaurao temporrias a Jud. Assur, a cidade padroeira, caiu nas mos dos medos em 614 a.C. Nnive, a capital, caiu (cf Na 2:8 3:7, provavelmente por inundao [Na 1:8]) diante dos medos, babilnios e citas em 612. Josias de Jud tentou em 608 obstruir o exrcito egpcio em Megido, impedindo-os de auxiliar os assrios em sua luta contra os babilnios (IIRs 23:29). Josias fracassou e foi morto. Mas as foras babilnias sob o prncipe Nabucodonosor perseguiram e por fim derrotaram os exrcitos assrios em Carqumis em 605.
O perodo neo-assrio
Enfraquecida pelos arameus, a Assria levantou-se de novo no sculo X. Eles eram o poder imperial mais bem-sucedido jamais visto no mundo. Assurbanipal II (883-859 a.C.) iniciou campanhas militares anuais notoriamente selvagens. Ele estendeu o controle efetivo da Assria at Tiro, na costa mediterrnea. Alardeava a sua prpria crueldade: Provoquei tempestades nos picos das montanhas e as tomei. No meio das montanhas imensas os matei. Com o sangue deles tingi as montanhas, que ficaram como l vermelha. Com o restante deles escureci os canais e precipcios das montanhas. Tomei-lhes as posses. As cabeas de seus guerreiros decepei e com elas formei uma pilha defronte sua cidade. Seus jovens e virgens, queimeios com fogo. Foi por certo tal poltica de terror planejado que incentivou Israel e Jud a formarem alianas com os arameus (Ben-Hadade de Damasco) e com os fencios (o casamento de Acabe com Jezabel de Sidom). Assurbanipal II reconstruiu Cal entre Nnive e Assur, como sua nova capital. Seu palcio era um dos mais belos da antigidade, decorado com altos-relevos que relembravam suas vitrias. Numa expedio militar Sria em 853 a.C., Salmaneser III (858-824) enfrentou uma coalizo de reis srios e palestinos (incluindo Acabe de Israel e Bem-Hadade de Damasco) em Carcar. No se sabe se
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JEREMIAS
O PROFETA JEREMIAS
Yeremyahu ou Yirmeyah (hebraico) significa: Jeov encontra, estabelece, designa ou eleva. Era filho de Hilquias (que foi provavelmente o sumo-sacerdote na ocasio da reforma de Josias; Hilquias foi tambm o bisav de Esdras Ed 7:1). Nasceu em Anatote, cidade distante cerca de 5km a nordeste de Jerusalm. Recebeu sbria educao domstica e religiosa segundo a lei de Moiss. Foi influenciado pelos ensinamentos de Isaas e um estudante cuidadoso das profecias de Osias.
Sua vocao
Jeremias foi separado por Deus para o ministrio proftico ainda antes de nascer (1:5). A palavra do Senhor veio a ele no de forma sbita, mas persistente (em hebraico Wayhi, que quer dizer: continuou a vir). Ele protestou: Sou uma criana, demasiado novo, dando a entender que a sua falta de capacidade era devido a sua juventude: entre 21 a 24 anos de idade. Contudo, Deus tocou (1:9) nos lbios, tornando-o seu mensageiro com poder para destruir ou recriar. Tambm lhe foi anunciado que ele encontraria grande oposio dos prncipes, dos sacerdotes e do povo. Mas, no devia se atemorizar porque Deus estaria com ele, tornando-o invencvel (1:19). Sua chamada est associada a duas vises: a. A viso da amendoeira (rvore que desperta mais cedo na primavera) era para confirmar sua chamada, mostrando que Deus vela pela sua palavra; b. A viso da panela a ferver prestes a derramar seu contedo fervente, inclinando-se do norte, ilustrava a futura invaso babilnica. Lies: 1. O Divino Criador escolhe, elege e determina quem vai servir em determinado setor do seu Reino. 2. Quando o Senhor nos confia uma misso, no devemos temer. Ele quem nos capacita.
Seu ministrio
Comeou a profetizar no 13 ano de reino de Josias, e continuou a sua obra at a tomada de Jerusalm, no 5 ms do 11 ano do reinado de Zedequias. Jeremias viu cinco reis subir ao trono de Jud (Israel j fora levado cativo para a Assria). Deste modo, a sua vida se estendeu pelos ltimos 18 anos do reinado de Josias, pelos 3 meses que Jeoacaz reinou, pelos 3 meses de Joaquim e pelos 11 anos e 5 meses do reinado de Zedequias ao todo 40 anos sem interrupo. Durante os reinados de Josias e Jeoacaz foi-lhe permitido exercer seu ministrio sem embaraos, mas durante os reinados de Jeoaquim, Joaquim e Zedequias sofreu severa perseguio; os seus conterrneos o ameaavam de morte, caso insistisse na funo proftica. Contudo, ele continuou fielmente sua misso. No reinado de Joaquim foi aprisionado por sua audcia em profetizar a desolao de Jerusalm. Durante o reinado de Zedequias, foi preso como desertor e permaneceu na priso at a tomada da cidade, poca em que foi posto em liberdade por Nabucodonosor. No se sabe como, nem em que tempo morreu. A tradio conta que, encolerizados por suas contnuas admoestaes e repreenses, os judeus mataram-no no Egito. Lio: A despeito de qualquer adversidade, o servo do Senhor deve entregar a mensagem que lhe foi confiada. No devemos desanimar diante dos obstculos. O Deus que est conosco o invencvel.
Quando os livros no tinham ainda a forma atual, os documentos eram escritos em papiros ou rolos de pergaminho. As profecias de Isaas e Jeremias foram registradas em rolos semelhantes a estes. Jeremias era gentil, afetuoso, misericordioso, tmido e severo. Foi apelidado de O Profeta Sentimental, o mais psicolgico de todos os profetas. No gostava de pronunciar discursos agravantes, denunciadores. Deus chamou-o e f-lo forte, corajoso, imvel como coluna de ferro para pronunciar seus discursos implacveis. Era versado na histria de sua nao e provavelmente de notvel cultura, pois quando lhe sobrevinham os conflitos naturais, por causa de sua pregao, eram os nobres quem o defendiam (Jr 26).
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AUTORIA DO LIVRO
1. A autoria de Jeremias fato provado e no tem sofrido sria contestao. Pode ser confirmada de dois modos, segundo Ellisen:24 Internamente, o livro tem numerosas referncias biogrficas e autobiogrficas de Jeremias como autor e Baruque como escrivo ou secretrio (Jr 36:4). Nenhum outro profeta teve o seu nome repetido tantas vezes quanto Jeremias (131 vezes). Baruque mencionado 23 vezes. Externamente, o livro atribudo a Jeremias em Dn 9:2 e Ed 1:1, bem como em tradies judaicas. 2. A formao de Jeremias inteiramente envolvida com profecia. Por esse motivo, sabe-se mais da vida pessoal desse profeta do que de qualquer outro. Em muitos casos, suas aes tornavam-se parte da mensagem.
em 609 a.C. e, depois derrotou o Egito na Batalha de Carquemis, 605 a.C. Por 70 anos regeu o mundo os mesmos 70 anos do cativeiro dos judeus. Situao religiosa: Depois de Ezequias, o melhor rei de Jud, de quem Isaas foi contemporneo, reinaram Manasss e o seu filho Amon, dois dos piores reis de Jud. Durante esses dois reinados, num perodo de 67 anos, medrava a idolatria: Jud chegou ao seu nvel moral mais baixo. Durante o reinado de Josias, um bom rei, sucessor de Amon, Jeremias era o seu valioso coadjutor na reforma religiosa, como Isaas fora na reforma de Ezequias. No 18 ano do reinado de Josias o Livro da Lei foi achado, talvez pelo pai de Jeremias, na ocasio de uma limpeza do templo (IIRs 22). A leitura do livro trouxe reavivamento, que no foi duradouro (3:10). Com a morte de Josias, as condies como so descritas nos caps. 1012 iam de mal a pior. Era, portanto, nesse tempo de pecado e rebeldia que Jeremias fora chamado a exercer seu ministrio (2:34; 2:19-20; 7:18).
IMPORTNCIA DO LIVRO
Autobiografia nele o profeta revelado. Jeremias como uma lente de aumento na qual podemos ver os seus e os nossos sentimentos e sofrimentos e ler melhor a escriturao divina nas nossas vidas. Histria ilumina os ltimos 40 anos do reinado davdico e descreve minunciosamente a destruio de Jerusalm. Profecia mostra as causas do cativeiro e a sua durao (Jr 25:11-14). Descreve a repatriao de Israel e o estabelecimento do reino eterno.
Stanley A. Ellisen. Conhea Melhor o Antigo Testamento. Editora Vida, p. 223. Ver Anexo Assria. Trs livros dos Profetas Menores so contemporneos do ministrio de Jeremias, especialmente nos primeiros anos. Sofonias, Naum e Habacuque refletem as circunstncias e o panorama de Jud durante o reinado de Josias (640-609 a.C.) e os dias posteriores sua morte. Retratam a ascenso iminente da Babilnia e o subseqente colapso da Assria. Acima de tudo, colocam em grande destaque a justia de Deus atuando em Jud e
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no mundo. Internacionalmente, discernem a mo divina na mudana da guarda; internamente, chamam a ateno para a necessidade de uma reforma e prenunciam o acerto de contas divino pela rebelio persistente onde se rejeita a reforma.
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MENSAGEM DE JEREMIAS
A. Do ponto de vista geral Jeremias avisava do juzo vindouro e convidava o povo a arrepender-se de seus pecados, salientando que se o povo obedecesse ao Senhor, Ele de algum modo o livraria. Empregou as figuras do matrimnio e da filiao para descrever a intimidade da relao de Israel e Jav, e os deveres implicados nessa relao (31:9). Sem cessar, advertia Jerusalm para que se rendesse ao rei da Babilnia, agente do castigo divino. Seus amigos acusaram-no de traidor. Nabucodonosor recompensou-o por esta advertncia ao povo, no s poupando-lhe a vida, mas oferecendo-lhe uma honraria, at mesmo uma dignidade na corte babilnica (39:16). Todavia, Jeremias bradava que o rei da Babilnia estava cometendo um crime hediondo na destruio do povo do Senhor, e, por essa causa, no devido tempo, esse pas seria assolado para sempre (50; 51). O livro no arranjado em ordem cronolgica, mas pela ordem dos assuntos. Algumas de suas mensagens tm data. Profecias referentes a Jud (cap. 124). Profecias referentes ao juzo e o conforto (cap.25 45). Profecias referentes s naes (cap. 4651). Concluso e resumo da queda de Jerusalm (cap. 52). Supe-se ter sido escrito por outra pessoa na restaurao.
adorao prestada a deidades pags confirmam que a prtica era generalizada e tomava muitas formas. dolos eram encontrados no prprio templo (32:34) e nas vizinhas cidades de Jerusalm eram sacrificadas crianas a Baal e a Moloque (7:31; 19:5; 32:35). LIO: A
IDOLATRIA NO SE REFERE S A OBJETOS E
DEUS EM
A imoralidade: A gerao de Jeremias era idlatra e a imoralidade aparece como concomitante da idolatria. A corrupo moral era inescapavelmente seguida pela eliminao do temor a Deus e pela perda da reverncia s suas leis. A devassido e a desonestidade eram comuns entre os sacerdotes e profetas (5:30). Em lugar de combaterem a imoralidade, sacerdotes e profetas contribuam para a sua propagao. Ironicamente, a idlatra e imoral Jud continuava zelosamente religiosa: reverenciavam a Arca (3:16), as Tbuas da Lei (31:31), a circunciso como sinal da aliana (4:4; 6:10; 9:26), o Templo (7:4,10; 11:15; 17:3) e o sistema de sacrifcios (6:20; 7:21). LIES: 1. O TEMOR A DEUS 2. POVO SEM TEMOR CORRUPTO .
PECADO. QUE NOS AFASTA DO DE
DEUS
POVO
O julgamento: inevitvel que o julgamento tenha relevncia na mensagem de Jeremias. Jud seria punida: seca e fome (5:24), invaso de um poder estrangeiro etc. LIES: 1. OS
ARROGANTES E DESOBEDIENTES TEMPO
DEUS. 2. O
DEUS
AMANH NO NOS
Jeremias e os falsos profetas: A polmica principal de Jeremias com os sacerdotes era dupla: a) procuravam tirar lucro do ofcio; b) discordavam que o Templo de Jerusalm nunca cairia perante os babilnios (6:13; 18:18; 29:21-32). Os profetas falsos confirmavam o iludido povo de Jud nesse otimismo fcil (8:10-17; 14:14-18; 23:9-40). LIO: QUALQUER
FRAUDE VIR A CAIR. COISA ESTABELECIDA SOBRE
A idolatria: O mal particular contra o qual Jeremias combateu foi a idolatria. Suas referncias
A esperana de Jeremias: O exlio de Jud na Babilnia no permaneceria para sempre (25:11; 29:10). A prpria Babilnia seria derrubada (cap. 50 e outros).
34
LIO: O
CASTIGO DE
DEUS
TRADUZ O PRELDIO DE
UM DIA MELHOR.
P ROMESSA
DIVINA DE RESTAURAO
Jeremias e a religio de Jud: Jeremias antecipou, com perfeita serenidade, a destruio do Templo, a queda da dinastia davdica, a cessao do sistema de sacrifcios e o ministrio do sacerdcio. Chegou at mesmo a proclamar que o sinal da aliana, a circunciso, no tinha significado algum sem a circunciso do corao (4:4; 9:26). Confiana nos sacrifcios, no Templo e no sacerdcio era v, a no ser que fosse acompanhada pela mudana de corao (7:4-15; 21-26). Conhecer a lei sem obedec-la era totalmente intil (2:8; 5:13-38). Ele viu a necessidade da lei ser escrita no em pedras, mas nas tbuas do corao, assim, impelindo-os a uma espontnea obedincia (31:31-34; 32:40). LIES: 1. O NOSSO
SO O CENTRO DIVINAS DAS VERDADES CORAO E A NOSSA VIDA NTIMA OPERAES ESPIRITUAIS.
grande mancha na vida social e espiritual dessa nao, que se corrompera e teimava permanecer em seu pecado. Contudo, convidado a arrepender-se. Descortina-se a garantia do perdo divino desde que o arrependimento seja genuno e sincero. Mas a nao preferiu rebelar-se. No houve qualquer sinal externo de um regresso ntimo a Deus e o profeta pronuncia a sentena: O Norte vai atacar Israel. LIO: A DEUS. 3 Mensagem (7:110:25) Para Jud, o templo era sacrossanto e, portanto, seria poupado se acontecesse o pior. Certamente, Jeov interviria para salvar a cidade onde colocara o Seu nome. Jeremias afirma justamente o contrrio. Mandado por Deus prostrou-se porta do templo e proclamou que o templo no salvaria a nao. Lio: A adorao externa sem a reforma do corao intil. 4 Mensagem (11:112:5) Tema: Concerto nacional. A base do concerto era o amor. Deus manda o seu profeta publicar nas cidades de Jud e nas ruas de Jerusalm, todas as palavras afirmando que os seus pais tinham sido severamente advertidos de que, se no cumprissem o prometido, a aliana estava sem efeito. Mais uma vez o amor de Deus manifesto, pois tanto Jerusalm como as cidades de Jud estavam corrompidas pela idolatria e suas conseqncias.
NOSSA TEIMA EM PERMANECER NO PECADO,
AS
DEVEM
TER ASSENTO
NO NOSSO
2. O
DEUS.
Jeremias e o futuro ideal: O profeta olha bem alm da volta de Jud do exlio e alm do reincio da vida na Palestina (30:17-22; 32:15; 44; 33:9-13). No futuro ideal, a Samaria teria participao (3:18; 31:4-9), a abundncia prevaleceria (31:12-14), Jerusalm seria santa ao Senhor (31:23; 38-40), e seria chamada de Senhor, justia nossa (33:16). Seus habitantes retornariam ao Senhor arrependidos (3:22-25; 31:1820) e de todo o corao (24:7). Deus os perdoaria (31:34b), poria dentro deles o seu temor (32:37-40), estabeleceria o governo do prncipe messinico sobre eles e admitiria as naes gentlicas (16:19; 3:17; 30:9). LIES: 1. A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL DEVE SER 2. A NOVA ALIANA UMA LIGAO ESPIRITUAL ENTRE DEUS E O INDIVDUO , UMA LEI ESCRITA SOBRE O CORAO DE CADA UM E OBEDECIDA POR MOTIVO DE AMOR E DE LEALDADE.
O ALICERCE DO CARTER E DA VIDA ESPIRITUAL.
B. Do ponto de vista especfico 1 Mensagem (2:13:5) Deus pede que Israel se lembre de quando era uma noiva bonita, enfeitada, seguindo o Senhor no deserto, onde ningum semeia. Nesse tempo, Israel andava com o seu Senhor e lhe devotava verdadeira afeio. LIO: O SENHOR
SEMPRE NOS D UMA
Jeremias comparou o povo de Deus com a argila nas mos do oleiro. O oleiro que molda a argila deu a Jeremias uma imagem forte de Deus e seu povo: o que se danifica pode ser feito novamente.
2 Mensagem (3:6-30) Veio no tempo de Josias, rei de Jud. A idolatria continuava a ser a
35
LIO: A BASE DE TODO CONCERTO DEVE SER O AMOR. S O AMOR PERDOA, RESTAURA E ELEVA. 5 Mensagem (14:115:9) Relaciona-se com uma das mais terrveis secas que a Palestina sofreu. Era uma forma de castigo para o povo reconhecer a necessidade de Deus em suas vidas. LIO: S
BUSC-LO. VEZES PASSAMOS POR UM PERODO DE
9 Mensagem (21:1-14) Outro aviso da queda de Jerusalm. a. Mensagem a Zedequias (21:1-7) os babilnios seriam agentes do castigo divino. b. Mensagem ao povo (21:8-10) dois caminhos propostos: o caminho da vida era sair da cidade e entregar-se ao conquistador. O caminho da morte era permanecer resistindo a Babilnia e morrer de fome ou de peste ou de espada. c. Mensagem casa real (21:11-14) a prtica da justia e do juzo. LIES: 1. NADA
PODE CONTRA QUEM TUDO PODE. TRAZEM
DEUS
2.
O
6 Mensagem (16:117:18) O profeta aconselhado a no casar e ter filhos porque as crianas que nascessem nessa terra seriam pasto de enfermidade, morreriam e no teriam quem as enterrassem (16:4). A morte dessas crianas seria causada pela debilitao e m nutrio por falta de alimentos. LIO: MUITAS VEZES, DEUS PEDE QUE RENUNCIEMOS
ALGUMA COISA POUPANDO-NOS DE SOFRIMENTO FUTURO.
PECADO
REBELIO
CONSEQNCIAS
DRSTICAS. FAVOR DE
7 Mensagem (18:1-17) Vem associada visita casa do oleiro, onde o profeta compreendeu a ilustrao: Quando o vaso no saa conforme o oleiro desejava, ele o quebrava, amassava o barro novamente, e moldava-o como desejava. Assim como o oleiro fazia com o barro, o Criador fazia com o povo. O barro na mo do oleiro era como Israel na mo de Deus. LIO: NS ELE
MODELO DIVINO. SOMOS O BARRO NAS MOS DO
SENHOR;
8 Mensagem (19:1-15) Proferida por atos em dois locais: a. Vale de Hinon, a sudoeste da cidade, onde o seu lixo era jogado e queimado no monturo. Naquele lugar imprprio e mal cheiroso, Deus falou ao seu povo (vs.3): ali seriam amontoados cadveres removidos das ruas da cidade; a cidade seria cercada e todos ficariam como pssaros na gaiola. Ao entregar a mensagem, Jeremias quebraria o vaso, que no seria recomposto, significando que Jerusalm nunca mais seria a mesma. b. Depois da cerimnia do Vale, a procisso se dirigiu para o trio do templo onde a cena seria repetida. No Vale, lugar destinado a receber os destroos da catstrofe. No trio, indica que tudo estava terminado. Por causa desta profecia, Jeremias foi colocado na priso e no cepo (20:1-6). LIO: A PACINCIA DE DEUS SE ACABA E A SUA IRA MANIFESTADA.
36
Cap. 18:1-6 O VASO E O OLEIRO: Ilustrao adequada para revelar o absoluto poder e direito que Deus tem em governar os seres que criou e as naes que chamou existncia. LIES: 1. UM PRINCPIO: A ABSOLUTA SOBERANIA DE DEUS E A NOSSA SUBMISSO A ELE. 2. UM PROPSITO: O OLEIRO NO ESTAVA BRINCANDO NAS RODAS. ESTAVA FAZENDO UMA OBRA QUE EXTERNAVA A IDIA DA SUA MENTE. ISRAEL E A IGREJA REVELAM O PROPSITO DE DEUS (EF 3:10). ELE PRECISA DE NS, SOMOS TEIS. 3. UMA PESSOA: CRISTO QUEM MOVIMENTA AS RODAS (REPRESENTAM O TORVELINHO DESTA VIDA), FAZENDO O VASO VOLTAR E TORNAR A VOLTAR NAS SUAS MOS; ELE MOLDA, D CONTORNOS NOSSA VIDA. A NOSSA UTILIDADE VEM DAS MOS FORMATIVAS DE CRISTO. Cap. 19:1-2 A BOTIJA QUEBRADA: Pode ter sido de fabricao esmerada. Ao quebrar propositadamente o vaso de barro, na presena de um grupo de ancios, levados por Jeremias ao Vale de Hinon, ilustrou quo facilmente Jerusalm seria destruda, enfatizando o anncio da runa que pendia sobre a orgulhosa cidade. LIO: POR MAIS JERUSALM
DESTRUDA. ESMERADA QUE SEJA A NOSSA VIDA, SE NO ESTIVER COMO
Cap. 35 OS RECABITAS: Eram uma tribo que vinha dos tempos de Moiss (ICr 2:55; Nm 10:29-32; Is 1:16; IIRs 10:15-16, 23), que, atravs dos sculos, seguia o ideal do deserto, abstendo-se do que lhes parecia ser influncias degenerativas da vida na 27 cidade. A fidelidade dos recabitas aos preceitos dos pais contrastava com o desprezo de Israel para com as alianas de Deus. Lio: Loucos so os que insistem com Deus, pois somente Ele conhece o passado, v o presente e tem o futuro sob seu controle. O erro de Israel foi desprezar as leis de Deus. Fracassamos, quando nos afastamos do caminho que Deus estabeleceu para que andssemos. Viso dos cestos de figos (24:1-10) Dois cestos de figos postos diante do templo, depois que Nabucodonosor levou cativos Jeconias e outros para Babilnia, em 597 a.C. Um cesto tinha figos bons e, o outro, figos estragados. Os figos bons representavam os que haviam sido deportados e aos quais havia sido prometido o retorno Palestina. O cativeiro era para educar e firmar Israel. Dali sairia o que de melhor havia em Israel. Os figos ruins ilustravam aqueles que haviam permanecido na Palestina ou os que fugiram para o Egito, de onde no lhes fora prometido retorno ou restaurao. Os que ficaram na terra misturaram-se com os elementos trazidos pelos reis, formando os samaritanos. Viso do Fim (25:1-38) Na batalha final de Carquemis (605 a.C.), os babilnios derrotaram os egpcios e terminaram ento com o domnio do Fara Neco sobre a Palestina. Nesta batalha Jeremias v a vontade de Deus. Os babilnios eram inimigos do Norte dirigidos por Deus, a fim de levar a cabo o seu julgamento sobre Jud. Aps os 70 anos de cativeiro, Jud veria a destruio da Babilnia. Um captulo fundamental: O captulo 25 deve ser cuidadosamente verificado de novo. Em primeiro lugar, marca exatamente o ponto de partida do ministrio proftico de Jeremias (v. 3). Em segundo, definitivamente prediz o cativeiro de setenta anos na Babilnia, com vinte anos inteiros de antecipao (versculo 11, com a data no versculo 1). Em terceiro, mostra claramente que os captulos de 46 a 51 o grupo de profecias de Jeremias sobre as naes gentlicas j estavam compostos em forma de livro (vv. 13, 17-26) no quarto ano de Jeoaquim, vinte anos antes do exlio, embora estejam agora colocados no fim do livro de Jeremias como chegou s nossas 28 mos.
27
DEUS
SENHOR POR
ISSO FOI
Cap. 27 e 28 BROCHAS E CANZIZ: Segundo instrues do Senhor, Jeremias fez um jugo e o colocou no pescoo. E andou pela cidade, dizendo que a Babilnia subjugaria Israel e as naes vizinhas. Um dos falsos profetas, Hananias, desaforadamente, confrontou-se com Jeremias no templo e quebrou o jugo de madeira (28:10); como castigo, morreu dois meses mais tarde (28:1,27). LIES: JEREMIAS SOFREU NA ALMA AS DORES DE ISRAEL. ELE CARREGOU O PESO QUE CAIRIA SOBRE O POVO. FOI UM INTERCESSOR, ENVOLVENDO-SE NA LUTA EM BUSCA DA RESPOSTA DIVINA. POR CAUSA DA INCREDULIDADE, ISRAEL RECEBEU UM JUGO MAIS PESADO , DE FERRO . SEMPRE QUE REAGIMOS NEGATIVAMENTE A UMA DISCIPLINA DE DEUS, ELE NOS D UMA MAIS PESADA AT ALCANAR O SEU OBJETIVO . JEREMIAS NO DISCUTIA AS ORDENS QUE DEUS LHE DAVA. ELE SUBMETIA-SE CONQUANTO OS ALVOS DO SENHOR PARA ISRAEL FOSSEM ATINGIDOS. ESTE SIMBOLISMO NOS FAZ RECORDAR O SACRIFCIO DE C RISTO . AQUELA CRUZ SIMBOLIZAVA O PESO DE TODA HUMANIDADE A QUE ELE SE SUBMETEU.
O Senhor elogia os recabitas (...) no por seu estranho comportamento, mas pela tenacidade com que se apegavam ao que criam ser certo. Comentrio Bblico Moody. J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras. Edies Vida Nova, p. 287.
28
37
Ameaa contra a vida de Jeremias (26:1-24) Jeremias enfrenta os falsos profetas (27:1 29:32) Esperana e restaurao (30:133:26) O destino de Zedequias (34:1-22) OS LTIMOS DIAS DE JUD (36:145:5) Jeoaquim queima o rolo (36:1-32) Zedequias prende Jeremias (37:138:28) Queda de Jerusalm; Jeremias liberto (39:140:6) Agitao durante invaso babilnica (40:7 41:15) Mensagem aos sobreviventes (41:1643:7) Jeremias no Egito (43:844:30) Jeremias encoraja Baruque (45:1-5) O JULGAMENTO CONTRA NAES (46:1 51:64) Egito (47:1-7) Moabe (48:1-47) Amom (49:1-6) Edom (49:7-22) Damasco (49:23-27) Quedar e Hazor (49:28-33) Elo (49:34-39) Babilnia (50:151:64) UM EPLOGO HISTRICO (52:1-34) Relato detalhado da queda de Jerusalm diante dos babilnios (ver IIRs 24:1825:30).
JEREMIAS NA PRISO
Tenha coragem, alma aflita! Uma nova aurora afugentar esta noite. Nesta vida catica grandes ganhos Seguem grandes perdas. A vida mais nobre que aprender A sacrificar o trivial. Um vidro de perfume fino exige Que um campo inteiro de flores seja esmagado. O arco-ris somente se mostra depois Da tempestade feroz. Se homens escolhidos nunca tivessem sofrido No profundo silncio imposto por Deus, Nenhuma grandeza teria sido sonhada. Russel Norman Champlin
29
38
2123
588
3233
Jeremias novamente na priso (quando a Babilnia se ausentou ligeiramente para combater o Egito) reafirmou a Zedequias a certeza do cativeiro. 587 34 Jeremias denunciou os lderes por deixarem de cumprir a aliana de libertar os escravos, outro motivo para a vinda do prximo julgamento pela Babilnia. 587 38 Jeremias (na priso) repetiu o conselho para submeterem-se Babilnia e evitarem a destruio de Zedequias, de sua famlia e de Jerusalm. 586 39, 52 Babilnia tomou Jerusalm; os filhos de Zedequias e os nobres foram mortos; Zedequias ficou cego e foi para o exlio enquanto Jeremias foi libertado. Jerusalm foi destruda em agosto de 586 (Jr 52:12). Gedalias 586 Gedalias, governador, foi morto por rebeldes. Jeremias foi levado ao Egito; ali ele 4044 denunciou a idolatria dos judeus e predisse a destruio do Egito quando a Babilnia chegasse. 587 37
30 31
Stanley A. Ellisen. Conhea Melhor o Antigo Testamento. Editora Vida, 1997 (5 imp.), p. 236-237. Ler II Rs 22, 23, 24 e II Cr 34 e 35 possvel que as profecias dos dez primeiros captulos tenham sido proferidas antes de achar o livro da lei. Ler II Rs 23:3124:7; II Cr 36:1-8. Ler II Rs 24:1825:30; II Cr 36:11-23.
32 33
39
Jesus, entre a morte de Jesus e a destruio de Jerusalm no ano 70 (Dn 9:26; Lc 19:43-44). Jesus descreveu aquela destruio como a conseqncia de a nao no aceitar sua vinda como Messias.
Profeta emptico
Todas as sextas-feiras, ancios e jovens israelitas, de ambos os sexos, congregam-se no Lugar das Lamentaes em Jerusalm, perto da esquina sudoeste dos alicerces do velho templo, onde um muro de 47 metros de comprimento e 17 metros de altura, venerado ainda como uma memria do santurio. Escreve o Dr. Geikie: comovedor ver a fila de judeus de muitas naes, vestidos com seus mantos pretos, como sinal de luto, lamentando em voz alta a runa da casa cuja memria ainda to querida para sua raa, e recitando os tristes versculos das Lamentaes e dos Salmos apropriados, entre lgrimas, enquanto beijam fervorosamente as pedras.
35
... derrama o teu corao como gua perante o Senhor (Lm 2:19). Ao estudar os cnticos de lamentao do profeta Jeremias, somos levados a entender que, muitas vezes, preciso deixar vazar a dor que se sente no peito, colocando diante de Deus toda tristeza que toma conta da alma. H situaes que, de fato, precisam ser lamentadas, pois provocam em ns indignao e sofrimento. As lamentaes so, tambm, um exerccio de introspeco, no qual o ser humano olha para dentro de si, a fim de tentar descobrir respostas para as suas inquietaes. Mas, alm disso, a oportunidade para clamar pela misericrdia de Deus.
40
Nenhum outro profeta teve tal identidade de sentimentos com o povo ou fez parte to intimamente dos seus pesares e julgamento. Durante quase 50 anos, Jeremias ficou com a nao recalcitrante enquanto ela passa por suas mais profundas provaes. Ele aconselhou-a do centro do redemoinho. Ao invs de obter o respeito do povo, foi humilhado, denunciado, preso num calabouo e rotulado de traidor. Suportou depois o cerco e a fome; presenciou a entrada ruidosa do inimigo, a pilhagem, o massacre e o incndio do Templo e da cidade. Levado a Ram (ao norte de Jerusalm), foi libertado das correntes para testemunhar mais tarde a matana da maioria dos habitantes de Jerusalm e a partida de 4.600 pessoas acorrentadas para a Babilnia. Preferiu ficar em Mispa com Gedalias, o governador nomeado. Sofreu ainda, porm, a provao do assassnio de Gedalias na rebelio de Ismael e Joan, e foi levado para o Egito, onde o ultrajaram outra vez (Jr 4144). Dizem que ele foi apedrejado pelo seu prprio povo por condenar sua ininterrupta idolatria e impenitncia. Poucos profetas tiveram mais motivos de pesar do que Jeremias, conforme ele expressa em Lamentaes 3:48-49.
Cenrio religioso
1. A poca da redao desse livro foi a mais sombria hora da religio de Israel. Todos os alicerces da sua f pareciam ter desaparecido. A cidade escolhida por Deus fora arrasada, o Templo projetado e habitado pelo Senhor tornara-se um monte de cinzas, o povo tinha sido levado para a terra idlatra da sua origem, Babilnia. At mesmo o prprio Senhor recusara-se a ouvir as oraes dos judeus (Jr 14:11-12). Os 40 anos de pregao de Jeremias pareciam ter ficado sem a menor reao aparente. 2. A destruio do Templo trouxe uma nova era religio de Israel a era da disperso da sinagoga. J no havendo templo, muito do sistema ritual foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os acontecimentos sagrados s podiam ser feitas no altar do Templo. Na Babilnia, os judeus aprenderam a adorar e a estudar a Torah em pequenas reunies que os rabinos chamavam de pequenos santurios, ou sinagogas (Ez 11:16). Ali os fiis eram obrigados a lembrar e aprimorar sua f a fim de sobreviver como raa no meio da cultura pag. 3. Da f de Israel na aliana s lhes restavam as Escrituras com as promessas da aliana do Senhor para com os antepassados. Despojados de todas as outras coisas, tiveram de meditar nas profecias e contar com elas mais do que nunca.
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5:2
28:30
38
R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado (vol. V). Editora Hagnos, 2001 (2 ed.), p. 3171.
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ANEXO 4
BABILNIA
Babilnia 39 nome de um pas e tambm da sua principal cidade. A Babilnia dominou o cenrio poltico do Oriente Prximo em vrios perodos entre 3000 a.C. e 539 a.C. Para o estudioso da Bblia, a Babilnia mais famosa como a nao que conduziu Jud para o exlio em 586 a.C. e que destruiu Jerusalm. Em hebraico, o nome Babilnia est bem relacionado com a palavra Babel (Gn 10:10; 11:9).
As origens da Babilnia perdem-se nos estratos arqueolgicos abaixo da linha de gua corrente no antigo stio da cidade localizado cerca de 80 quilmetros ao sul da atual Bagd. Pouco depois de 2000 a.C., na poca de Abrao, a histria da Babilnia torna-se acessvel para estudos modernos. Os reis amorreus, como o famoso Hamurbi (cerca de 17921750 a.C.), conduziram a cidade ascendncia internacional. Os reis hititas destruram a cidade da Babilnia, pondo fim a essa dinastia babilnica em cerca de 1595 a.C. Um perodo acerca do qual pouco sabemos o que veio sob o domnio de reis cassitas. Em cerca de 1350 a.C., os reis da Babilnia eram importantes o suficiente para manter correspondncia com reis egpcios. A correspondncia deles mostra problemas que ferviam no norte da Assria. As conquistas elamitas puseram termo a essa fase da histria babilnica em cerca de 1160 a.C. Um breve reflorescimento com Nabucodonosor (cerca de 11241103 a.C.) foi seguido por 200 anos de obscuridade e fragilidade. Os caldeus e outras tribos nmades ocuparam boa parte da Babilnia. Pouco depois de 900 a.C., a Assria assumiu o controle da Mesopotmia, incluindo a Babilnia. Os assrios muitas vezes permitiam que os reis babilnios reinassem como vassalos, pagando-lhes tributo. Em 721 a.C., o caldeu Marduque-apal-iddina (chamado Merodaque-Balad no AT) governava a Babilnia. Em 710 a.C., Sargo II da Assria forou Marduque-apal-iddina a fugir para junto de seus aliados em Elo. Ele voltou para a Babilnia com a morte de Sargo em 705 e, pelo que parece, enviou mensageiros a Ezequias (IIRs 20:12-19; Is 39). Senaqueribe da Assria retomou o controle em 703 a.C., destruindo finalmente a cidade da Babilnia em 689 a.C. em reao s revoltas apoiadas por Elo. Nabopolassar, chefe caldeu, estabeleceu a independncia babilnica em 626 a.C. Em 612, com a ajuda dos medos, ele destruiu Nnive, capital assria. O fara Neco do Egito marchou em defesa da Assria em 609 a.C., mas no conseguiu rechaar os babilnios. Nabucodonosor, o prncipe da coroa, liderou a Babilnia na vitria decisiva sobre o Egito em Carqumis em 605 a.C. (cf. Jr 46.2-12). Quando se tornou rei, Nabucodonosor forou Jeoaquim de Jud a pagar tributo como seu vassalo em 603 a.C. Uma vitria egpcia temporria em 601 encorajou Jeoaquim a se rebelar (cf. IIRs 24:1-2). Por fim, a Babilnia retaliou e forou o novo rei de Jud, o jovem Joaquim, a se render em 16 de maro de 597 a.C. Muitos judeus foram exilados para a Babilnia (IIRs 24:6-12). Nabucodonosor nomeou Zedequias como rei de Jud, mas ele tambm se rebelou em 589 a.C., apenas para ser logo derrotado em 586. Essa derrota acarretou a destruio de Jerusalm e de seu templo e o exlio dos principais cidados para a Babilnia (ver Jr 37:4-10; 52:1-30; IIRs 25:1-21). A morte de Nabucodonosor deu incio ao declnio gradual da Babilnia ao longo de alguns reis que se seguiram a ele: Awel-Marduque, o Evil-Merodaque de IIRs 25:27-30 (561-560 a.C.); Neriglissar (560-558 a.C.); Labashi-Marduque (557 a.C.) e Nabonido (556539 a.C.). Nabonido, ao que parece, tentou substituir o deus babilnio Marduque pelo deus-lua Sin, e mudouse para Tema, no deserto da Arbia, onde permaneceu dez anos, deixando seu filho Belsazar no cargo (cf. Dn 5:1). A populao babilnia ficou desanimada e recebeu de bom grado a invaso de Ciro da Prsia,
39
43
deixando-o entrar pelas portas sem oposio em 539 a.C. A Babilnia estabeleceu uma sociedade complexa e sofisticada, em que se adoravam oficialmente mais de mil deuses, ainda que cerca de s vinte exercessem forte influncia. Entre eles estavam Anu, deus dos cus; Enlil, deus da terra e Ea, deus das guas. No auge poltico da Babilnia, porm, o principal deus era Marduque, deus padroeiro da cidade de Babilnia. Marduque era tambm chamado Bel ou senhor (ver Is 46:1; Jr 50:2; 51:44). Entre os outros deuses estavam Shamash, o deus-sol; Sin, o deus-lua; Istar, a deusa da
estrela da manh e do anoitecer. Istar era conhecida como a Rainha dos Cus (ver Jr 7:18; 44:17-19). Arquelogos descobriram milhares de placas babilnicas, em que se registram muitos textos narrativos, tais como o Enuma elish, a histria da criao, e a Epopia de Gilgams, a histria do dilvio. Para os judeus e para os cristos, a Babilnia tornou-se sinnimo do mal e o arquiinimigo (ver IPe 5:13; Ap 14:8; 16:19; 17:5; 18:2).
Nabucodonosor fez da Babilnia uma cidade magnfica. O porto de Ishtar (aqui reconstrudo) e o caminho processional conduziam aos grandes templos. O porto era feito de tijolo esmaltado azul, decorado com figuras de animais. (Um dos fornos de tijolo fora da cidade pode ter sido a fornalha de fogo ardentede que fala Daniel.) Imagem usada na Enciclopdia da Bblia. Edies Paulinas, 1987, p. 193.
44
O LIVRO DE EZEQUIEL
O exlio foi um perodo para testar idias acerca de Deus. A presena divina estava restrita Palestina? Deus era impotente contra os deuses da Babilnia? Jav podia ser cultuado numa terra estranha? A teologia de Ezequiel estava ajustada para essa nova situao.
O Profeta Ezequiel, filho de Buzi, veio de uma famlia sacerdotal (1:3). Cresceu na Palestina, provavelmente em Jerusalm, e foi posto no exlio em 597a.C. (ver 33:21; IIRs 24:11-16). Devia ter vinte e cinco anos na poca, pois cinco anos depois, aos trinta (ver 1:1), foi chamado para o ofcio proftico, poca dos levitas entrarem em atividade (cf. Nm 4:3). Ezequiel era feliz no casamento (24:16), e a morte repentina da esposa, anunciada de antemo por Jav, foi tratada como um sinal sombrio para alertar Israel (v. 15-24). Morava em casa prpria no exlio, em TelAbibe, prximo ao canal de Quebar (3:15; cf. 1:1), que ficava nas vizinhanas de Nipur, na Babilnia. Ancios chegaram casa de Ezequiel buscando conselho (8:1), o que concorda com a declarao de que ele estava no meio dos exilados (1:1), vivendo numa comunidade de prisioneiros de guerra oriundos de Jud. Ele data certas revelaes pelo ano especfico do exlio do rei Joaquim. Seu chamado proftico ocorreu no ano 5 (593 a.C.) e a ltima data registrada o ano 27 (571), indicando um ministrio de pelo menos vinte e trs anos. A POCA. O profeta Ezequiel d-nos um novo ponto de partida. Seu livro, como o de Daniel, que o segue, foi escrito no perodo aps haver iniciado o exlio dos judeus na Babilnia. Tanto Ezequiel como Daniel, porm, foram levados cativos para a Babilnia alguns anos antes do cerco final e saque de Jerusalm em 587 a.C. pois houve duas pequenas deportaes anteriores de judeus cativos para a Babilnia, como vemos em IIRs 24:8-16, Jr 24:1 e Dn 1:1-4. Esses foram os primeiros frutos daquela ceifa do cativeiro, que no final os babilnios colheram at o ltimo 40 gro.
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O exlio (597-538) foi quase coincidente com o imprio babilnico (612-539). O cativeiro de um grupo seleto de judeus em 597 a.C. foi seguido de um exlio mais geral em 586.
No exlio, os judeus comearam a ver o Velho Testamento como o aspecto mais importante da sua f. Introduziram as sinagogas para ensinar a ler as Escrituras. 41 Descobriu-se que ao se voltar para a lei de Deus, estud-la, meditar nela por si mesmo ou em comunho com o pequeno grupo, ao devotar a sua vida observncia da mesma, passava a entrar num novo e intenso relacionamento pessoal e real com Deus que criara a lei tambm para este fim. Voltar-se, ento para a lei durante o exlio era um sinal de retorno pessoal ao Deus que to severamente os julgara como nao. As condies fsicas do exlio eram ao que parece aceitveis para muitos judeus. Os babilnios no costumavam punir povos conquistados, apenas tomavam medidas para prevenir revolues. Os assrios, mais cruis, empregavam a ttica de desalojar populaes, dividindo-as e espalhando-as, fazendo com que perdessem sua identidade nacional por meio de casamentos mistos e outras formas de absoro. Em contraste, os babilnios deportavam pessoas em pequenos grupos e permitiam-lhes preservar sua identidade nacional. (Por isso, Jud teve permisso de voltar do exlio, enquanto a maior parte dos membros das dez tribos perdidas do Reino do Norte foi absorvida.). Jeremias aconselhou uma prtica de trabalho normal no cativeiro (Jr 29:4-7), e isso ao que parece foi seguido pelos exilados. Dentro em pouco, encontravam-se judeus em empreendimentos mercantis. Quando chegou a oportunidade de retornar para Jerusalm, muitos preferiram permanecer na Babilnia. A escolha deles marcou o incio do centro judaico que posteriormente produziu o Talmude Babilnico, um grande compndio de lei judaica completado no sculo VI a.C.
J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edies Vida Nova, p. 13.
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Foto usada no Guia do Leitor da Bblia. Ncleo Centro de Publicaes Crists (Portugal), 1984, p.76.
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A forma do Livro de Ezequiel A profecia consiste basicamente em mensagens transmitidas por ordem de Jav, anunciadas oralmente (3:10-11; 14:4; 20:27; 24:1-3; 43:10) e, presume-se, juntadas pelo profeta e/ou editores de uma poca posterior. Treze datas so fornecidas, cada uma relacionada com uma revelao de Jav. ANO 1:2 8:1 20:1 24:1 26:1 *29:1 *29:17 30:20 31:1 *32:1 32:17 33:21 40:1 Viso inicial Viso no templo Mensagem aos ancios Relato do cerco de Jerusalm Profecia contra Tiro Profecia contra Fara Profecia Babilnia a respeito do Egito Profecia contra o Fara Profecia ao Fara Lamentao pelo Fara Lamentao pelo Egito Relato de Queda de Jerusalm Viso do templo restaurado 5 6 7 9 11 10 27 11 11 12 12 12 25 MS 4 6 5 10 (1) 10 1 1 3 12 1 10 1 DIA 5 5 10 10 1 12 1 7 1 1 15 5 10 (1=597/596 a.C.) 31 jul 593 17 set 592 14 ago 591 15 jun 588 23 abr 587 7 jan 587 26 abr 571 29 abr 587 21 jun 587 3 mar 585 27 abr 586 8 jan 585 28 abr 573
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EZEQUIEL:
PROFETA COM MUITOS AUDIOVISUAIS
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Nenhum outro profeta fez tanto uso da linguagem figurada ou de vises. O livro de Ezequiel est cheio de provrbios, alegorias, aes simblicas, pequenas descries e vises apocalpticas. Foram formas usadas especialmente para chamar a ateno e imprimir as verdades no restante do povo judeu rebelde e endurecido que estava na Babilnia. Ocorrem em todo o livro:
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17:22-24 Alegoria do renovo do cedro a ser plantado em Israel. 18:2-3 Provrbio dos pais que comeram uvas verdes. 19:1-9 Alegoria de Israel como leoa aprisionada e suas crias.
19:10-14 Alegoria de Israel como videira desarraigada. 21:3-22 Parbola da espada do Senhor, afiada e desembainhada. 22:18-22 Israel comparado escria da fundio. 23:2-49 Jerusalm e Samaria so comparadas a duas irms adlteras. 24:2-14 Alegoria da panela e da carne rejeitada. 24:16-27 Ezequiel no tem permisso de prantear a morte de sua esposa, como um sinal para Israel. 27:1-36 Alegoria do orgulho e do navio que se afunda. 28:12-19 Retrato da criao e da querubim rei de Tiro. expulso do
1:4-28 Viso da Glria do Senhor como quatro seres viventes saindo de uma nuvem. 2:93:3 Ezequiel come o rolo de lamentaes pelo julgamento de Israel. 3:16-27 Ezequiel torna-se mudo exceto para mensagens especiais do Senhor. as
4:1-17 O profeta encena o cerco de Jerusalm e a chegada da fome. 5:1-17 Ele se barbeia com espada afiada, dividindo o cabelo a fim de ilustrar o julgamento pela espada. 6:1 ss. Profetiza na direo das montanhas de Jerusalm. 8:2 ss. Em viso, levado ao templo de Jerusalm para observar a idolatria. 9:1-2 Executores da cidade preparam-se para destru-la enquanto os restantes justos so marcados para ser preservados.
29:2 ss. O Egito comparado a drago do Nilo. Apanhado em armadilha em 32:2-10. 31:2-18 Alegoria do corte de dois cedros, Assria e Egito. 34:2-10 Lderes de Israel so comparados aos pastores homicidas, em contraste com o Senhor, o verdadeiro Pastor. 37:1-14 Parbola dos ossos secos, mesmo sem vida, dando origem casa de Israel. 37:16-22 Parbola dos dois pedaos de pau unidos, como smbolo de Jud e Israel. 4042 Viso do agrimensor medindo Jerusalm e o templo para construo. 43:2-7 Viso da volta da Glria do Senhor ao novo templo.
10:2 ss. O querubim espalha brasas sobre Jerusalm, indicando conflagrao. 10:4-22 A Glria afasta-se da cidade e do templo sobre rodas girantes dos querubins. 12:3 ss. Ezequiel encena a queda de Jerusalm fazendo pacotes e esgueirando-se pelo muro da cidade. 13:10-16 Jerusalm comparada a uma parede caiada prestes a cair. 14:13-23 Julgamento inevitvel, mesmo com oraes como as de No, Daniel e J. 15:2-6 Jerusalm comparada a uma videira em combusto. 16:2-63 Jerusalm comparada a uma esposa meretriz. 17:2-10 Alegoria de Israel como cedro; Babilnia e Egito como duas grandes guias.
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Volve o Rosto Contra. Em nove ocasies, os orculos de Ezequiel so introduzidos pela instruo: Volve o rosto contra... Isso parece reflexo de um costume arcaico de fitar o objeto de uma profecia (Nm 24:2; IIRs 8:11). Tal olhar proftico um reforo fsico do foco da mensagem divina. (Pode-se tambm comparar a noo dos exilados orando em direo ao templo em IRs 8:48 [cf. Dn 6:10]). Essa frmula empregada em mensagens aos montes de Israel (6:2), s falsas profetisas (13:17), ao sul (20:46), a Jerusalm (21:2), aos amonitas (25:2), a Sidom (28:21), ao Fara, rei do Egito (29:2), ao monte Seir (35:2) e a Gogue (38:2). Quando envolvem lugares ou pessoas distantes, essa frmula no implica que Ezequiel tenha viajado para anunciar seus orculos. Antes, como no discurso retrico ao Fara em 31:2; 32:2, tais orculos eram evidentemente voltados para os ouvidos dos exilados, sendo anunciados para essa audincia. Eu Sou Jav. Essa frmula de autodesignao ocorre muitas vezes em Ezequiel e pode ser considerada marca registrada do livro. A mesma expresso aparece em Levtico (18:2, 4-6, 30, etc.). O propsito ou resultado pretendido nas mensagens de Ezequiel muitas vezes expresso na frmula de reconhecimento: para que saibais que eu sou o Senhor (6:7, 14; 7:4, 27; 11:10 etc.). A derrota e o exlio do povo escolhido criou uma necessidade dolorosa de defender Jav diante de Israel e do mundo e deixar claro seu verdadeiro carter e vontade. As Vises de Deus. Conforme registrado no captulo l, Ezequiel viu uma teofania ou manifestao terrena de Jav, antes de ouvir a comisso para atuar como profeta de julgamento. A teofania apresentava Deus chegando numa tempestade com fogo e sentado num trono de julgamento. O trono ficava sobre uma plataforma ou firmamento (BLH, cobertura), sustentada por seres viventes cujas asas carregavam a estrutura da terra. Debaixo dele havia rodas controladas de maneira invisvel pelas criaturas, para locomoo sobre a terra. Essa viso complicada fundia concepes israelitas antigas com outras representaes do Oriente Prximo, evidentemente conhecidas dos exilados. Apresentava ao povo uma imagem poderosa do carter transcendente e aterrador do Deus que havia julgado seu povo. O dispositivo sobrenatural semelhante a uma carruagem do captulo 1 reaparece nos captulos 8 11, numa viso da destruio de Jerusalm e de seus cidados. Pra no trio do templo (10:3). O fogo que arde na base (1:13) fornece brasas para queimar a cidade (10:2, 6-17). Seus seres viventes so agora chamados querubins (10:1-3). A nova designao tem o intuito de induzir a comparao com a representao esttica da presena divina dentro do templo, a arca com seus querubins (9:3). Jav abandona o templo, monta no trono mvel e parte da cidade (10:18-19; 11:22-23), deixando Jerusalm entregue a sua sorte.
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Na viso do novo templo nos captulos 40ss., o dispositivo, descrito como a glria divina, vem para assumir residncia (43:2,4-5; 44:4). A nova Jerusalm recebe um novo nome apropriado O Senhor Est Ali (48:35). A presena divina restaurada deve ser a garantia de bnos para os exilados aps seu retorno terra. Os Pecados de Jud. A base da punio de Deus dada em Levtico 26:14-33: se me no ouvirdes e no cumprir-des todos estes mandamentos [...] Voltarme-ei contra vs outros... (v. 14, 17). Ezequiel constri sobre esse tema, ecoando Levtico 26, especialmente nos captulos 46. O profeta ataca o culto noortodoxo nos lugares altos ou santurios locais em todo Jud (cap. 6). Descobre que a prpria rea do templo cenrio de atos grosseiros de idolatria (8:416). Alm disso, ele denuncia os pecados sociais irrestritos em Jud e em Jerusalm (7:23; 9:9; 22:6-13, 25-29). A capital caracteri-zada como infiel a Jav, seu protetor, tanto por abrigar formas pags de culto, especialmente o sacrifcio de crianas, como em seu recurso poltico a alianas estrangeiras (16:15-29; 23:11-21, 36-45). Os pecados da gerao presente do povo da aliana so o auge de uma longa histria de rebelio (2:3,4). Jerusalm no a cidade gloriosa de Deus decantada pela teologia de Sio, adotada por seus lderes: seus pecados so uma expresso de suas origens pags (16:3). A podrido de Israel remonta poca de sua redeno do Egito: o povo reagia regularmente com truculncia para com a graa divina (20:5-31). Um Programa de Renovao Moral. Tanto Jeremias como Ezequiel citam um provvel provrbio da poca: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos que se embotaram (Jr 31:29; Ez 18:2). Ele
atribui a situao presente do exlio gerao anterior e prenuncia o fatalismo dos filhos do exlio. Num orculo posterior a 586, Ezequiel apresenta em resposta um princpio duplo: a alma que pecar, essa morrer, mas o [...] justo, certamente, viver (Ez 18:4-9). A promessa divina de vida escatolgica e restaurao terra (cf. 37:14) deve ser a motivao para uma vida moralmente boa, mesmo no exlio. Os exilados so acusados de ter vivido em transgresso dos mandamentos tradicionais de Deus (18:5-9). tarde demais para mudar? De maneira alguma. Jav convida os perversos a se arrepender (18:21-23) e a herdar a vida prometida a seu povo obediente (18:3032). Ezequiel assim infunde nos exilados desmoralizados algo por que viver e os desafia a enfrentar a realidade espiritual.
Os judeus consideraram a arca da aliana o centro moral e espiritual de seu culto a Yahweh. No cristianismo, Cristo substituiu a arca da aliana como o centro da espiritualidade, e a Igreja, o Templo vivo, substituiu o templo feito de pedras.
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SNTESE DE EZEQUIEL45
O JULGAMENTO DE JUD PECADOR (Ez 1:124:27) O chamado de Ezequiel (1:13:27) Ezequiel v a glria de Deus (1:1-28). Em 593 a.C., o Senhor revelou sua glria a Ezequiel por meio de uma viso sofisticada: uma nuvem de tempestade vindo do norte; em meio tempestade, apareceram quatro criaturas aladas flamejantes. Cada uma combinava caractersticas humanas e animais (bem parecidas com algumas das divindades menores retratadas na arte do antigo Oriente Prximo). Acompanhando cada criatura em todos os seus movimentos havia uma grande roda cujo centro era cheio de olhos. Uma plataforma brilhante estendia as asas acima das criaturas, fazendo um barulho ensurdecedor ao se mover. Acima da plataforma havia um trono feito de pedras preciosas. Uma figura humana, chamejante como fogo e cercada de esplendor radiante, sentava-se no trono. Percebendo que via uma representao da glria de Deus, Ezequiel caiu com o rosto em terra. A misso de Ezequiel (2:13:27). O Senhor levantou Ezequiel e o convocou como mensageiro para o Israel rebelde. Ele encorajou o profeta para que no temesse, mesmo diante de hostilidades ou perigos intensos. Ezequiel devia proclamar a palavra do Senhor, quaisquer que fossem as reaes. Para simbolizar sua convocao, o Senhor instruiu Ezequiel a comer um rolo que continha palavras de lamentao e julgamento. Ele prometeu dar a Ezequiel a determinao, a perseverana e a firmeza de que ele precisaria para enfrentar seus ouvintes obstinados. Depois desse encontro com o Senhor, o Esprito divino conduziu Ezequiel comunidade exilada em Tel-Abibe na Babilnia, onde se assentou em silncio perplexo por uma semana. O Senhor ento o convocou para servir como sentinela responsvel por alertar seus ouvintes quanto ao julgamento divino iminente. Ezequiel devia avisar tanto os perversos como os justos que fossem tentados a recuar. Caso o profeta falhasse na tarefa, o sangue deles recairia sobre sua cabea.
Assim que a sua misso foi anunciada, impuseram-se pesadas restries a ela. Ezequiel no teria a liberdade de proclamar mensagens de alerta como e quando quisesse. O Senhor o instruiu a entrar em sua casa, onde permaneceria confinado e impossibilitado de falar. Ele poderia sair ou falar apenas quando o Senhor o orientasse especificamente nesse sentido. Essas restries seriam uma lio concreta para o povo de Deus, com o intuito de ensinar que a rebeldia tornava cada vez mais difcil Deus comunicar-se com o povo. Lies concretas de julgamento (4:15:17) Ezequiel dramatiza o cerco de Jerusalm (4:1-17). O Senhor instruiu Ezequiel para que desenhasse Jerusalm numa placa de argila (ou talvez num tijolo) e representasse em miniatura um cerco completo cidade, com rampas de cerco, acampamentos inimigos e aretes. O profeta tambm devia colocar uma panela de ferro entre si e a cidade. Esse ato talvez ilustrasse a natureza inviolvel do cerco ou representasse a barreira entre Deus e seu povo pecador. O Senhor tambm instruiu o profeta a levar simbolicamente o pecado (ou talvez a punio) de Israel. Ele devia deitar-se sobre o lado direito por 390 dias, correspondentes aos anos do pecado (ou punio?) do Reino do Norte. (Ezequiel 4:9-17 descreve o profeta realizando vrias atividades, e isso indica que s vezes ele se levantava, saindo daquela posio simblica.) No se sabe ao certo se aquilo simbolizava pocas de pecados no passado ou de punies futuras. O significado dos nmeros 390 e 40 tambm incerto. Por ordens do Senhor, Ezequiel fez pes com vrios gros e os guardou num jarro. Durante o perodo de 390 dias (cf. 4:5), ele devia comer uma poro diria de 228 gramas de po, complementada por meio litro de gua. Essa dieta restrita simbolizaria o racionamento de comida que seria necessrio durante o cerco iminente de Jerusalm. O Senhor tambm disse a Ezequiel que assasse o po sobre fogo obtido pela queima de excremento humano. Ainda que a lei do Antigo Testamento no o proba especificamente, Dt 23:12-14 d a entender que isso era considerado impuro. O ato de Ezequiel prenunciava o destino dos exilados, forados a ingerir alimentos em terra estrangeira impura. Quando Ezequiel objetou que sempre se mantivera cerimonialmente puro, o Senhor permitiu que ele empregasse esterco de vaca como combustvel.
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Baseada em Manual Bblico Vida Nova. Edies Vida Nova, 2001, p. 475-490.
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O cabelo de Ezequiel (5:1-17). O Senhor tambm disse a Ezequiel que rapasse todo o cabelo da cabea e os plos da face e dividisse os fios em trs partes iguais. Ele devia queimar um tero, cortar outro tero com a espada e lanar o tero restante ao vento. Esses atos simbolizavam a destruio iminente de Jerusalm e o exlio dos seus habitantes. Ao mesmo tempo, Ezequiel devia preservar alguns fios de cabelo nas orlas da prpria roupa, simbolizando o remanescente que sobreviveria ao julgamento. Entretanto, para mostrar a severidade e a extenso do julgamento divino, ele devia jogar alguns desses fios no fogo. O pecado de Jerusalm seria a causa de sua queda. Apesar de sua condio privilegiada, o povo de Deus havia se rebelado contra os mandamentos do Senhor e profanado o templo com dolos. O julgamento divino seria to severo, que o povo faminto chegaria a comer os membros da prpria famlia. Dois teros da populao da cidade pereceriam pela fome e pela espada, enquanto outro tero seguiria para o exlio. As naes vizinhas tratariam Jerusalm como objeto de zombaria.
prprio destino. Descartariam a prata e o ouro, tendo conscincia de que isso no os salvaria. O inimigo saquearia suas riquezas e profanaria o templo. Nem mesmo os lderes religiosos e civis da nao, incluindo o prprio rei, seriam capazes de evitar esse dia de julgamento.
A glria de Deus afasta-se do templo corrompido (8:111:25) A idolatria no templo (8:1-18). Enquanto estava assentado em sua casa com alguns ancios exilados de Jud, Ezequiel teve uma experincia surpreendente. Transportado numa viso ao templo de Jerusalm, ele viu um dolo junto porta setentrional do ptio interno. Tambm estava presente a glria do Senhor, que ele presenciara duas vezes antes (cf. 1:28; 3:23). Entrando no ptio por um buraco no muro, Ezequiel viu 70 ancios da terra oferecendo incenso s imagens de animais impuros desenhados nos muros. Cada um daqueles ancios tambm cultuava um dolo particular em segredo, pensando que seus atos ficavam ocultos ao Senhor. Voltando porta norte, Ezequiel viu mulheres chorando por Tamuz, deus mesopotmico da fertilidade que se supunha ter sido confinado no submundo. Voltando para o ptio interno, ele observou 25 homens cultuando o sol bem na entrada do templo. Tal flagrante desrespeito pelo Senhor exigia punio.
Profecias de julgamento iminente (6:17:27) O julgamento dos lugares altos (6:1-14). Em toda a terra, o povo havia erigido altares para cultuar deuses pagos. O Senhor estava para destruir esses altares e encher os santurios pagos com cadveres e ossos daqueles que ali cultuavam. De norte a sul, a terra seria devastada. (Deserto refere-se ao deserto do sul. Dibl [ARC] deve, provavelmente, ser lido Ribla, cidade da Sria). Entretanto, o Senhor preservaria um remanescente e o espalharia entre as naes. Esses sobreviventes um dia reconheceriam a soberania do Senhor e confessariam o seu prprio pecado de idolatria.
O dia do Senhor (7:1-27). Chegara o dia do julgamento de Jud. No haveria atraso, pois os atos sangrentos arrogantes e violentos da nao exigiam punio. O Senhor daria paga aos pecados de seu povo e no teria misericrdia para com ele. Seu julgamento seria completo e inevitvel. A praga e a fome matariam os que estivessem dentro de Jerusalm, enquanto espadas inimigas assassinariam os que vivessem nos campos ao redor. Aterrorizados, os poucos sobreviventes fugiriam para as montanhas e lamentariam o seu
A glria do Senhor se vai (9:111:25). Os captulos 911 descrevem o afastamento paulatino da glria de Deus do templo corrompido. O Senhor convocou seis executores e um escriba. O Senhor instruiu o escriba a colocar uma marca na fronte de cada pessoa fiel na cidade. Ele ento encarregou os executores de matar impiedosamente todos os que no portassem essa marca, a comear pelos limites do templo. Quando Ezequiel expressou sua preocupao de que toda a nao fosse exterminada, o Senhor lembrou a ele que o julgamento era bem merecido. A terra estava cheia de sangue e injustia, e o povo havia perdido a f no Senhor. Quando o escriba retornou de sua tarefa de marcar os justos, o Senhor lhe disse que juntasse brasas dentre as rodas de seu carro flamejante e as espalhasse sobre a cidade num ato de julgamento purificador. Mais uma vez, o veculo que leva o trono do Senhor descrito em detalhes (cf. 10:9-14 com 1:421), e as criaturas vivas do captulo 1 agora so
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chamadas especificamente querubins. Na viso anterior, uma roda seguia cada querubim em seus movimentos. A glria do Senhor, que antes deixara o trono acima dos querubins e se movia para a entrada do templo, agora voltava a subir no carro dos querubins. Os queruhins se elevaram e pararam sobre a porta oriental do templo. Na porta abaixo, havia 25 homens incluindo Jaazanias e Pelatias, dois lderes do povo que davam maus conselhos aos habitantes da cidade e lhes garantiam que no sofreriam nenhum dano (11:1-2). Eles se comparavam carne numa panela que permanecia intocada pelas chamas embaixo dela. O Senhor disse a Ezequiel que profetizasse contra eles. O Senhor traria contra eles a espada e os conduziria para fora da cidade, para o exlio. Enquanto Ezequiel proclamava a mensagem, Pelatias morreu. De novo, Ezequiel expressou a preocupao de que o remanescente do povo fosse destrudo (cf. 11:13 com 9:8). O Senhor garantiu a seu profeta que ele no abandonara de todo a seu povo. Ele estava preservando um remanescente entre os exilados e um dia o levaria de volta terra. Essa comunidade restaurada rejeitaria os deuses-dolos e cultuaria o Senhor com verdadeira devoo. Depois dessa palavra de garantia, o carro que levava a glria do Senhor elevou-se da cidade e parou no Monte das Oliveiras, a leste da cidade (11:23). O Senhor abandonara sua morada escolhida, deixando-a desprotegida e vulnervel invaso. Nesse momento, terminou a viso de Ezequiel, e ele a relatou a seus companheiros exilados. Lies concretas do exlio (12:1-28) Ezequiel prepara sua bagagem (12:1-16). O Senhor instruiu Ezequiel a juntar seus pertences e depois, na presena de seus companheiros exilados, cavar um buraco na parede da prpria casa noite e fingir estar fugindo. Ele devia carregar seus pertences sobre os ombros e cobrir a face. Ao faz-lo, estaria encenando o destino de Zedequias, rei de Jud. Poucos anos mais tarde, quando a conquista babilnica de Jerusalm tornou-se inevitvel, Zedequias arrumaria seus objetos pessoais e fugiria da cidade noite. Os babilnios o capturariam, vazariam seus olhos e o levariam para o exlio. Ezequiel treme enquanto come (12:17-20). A seguir, o Senhor instruiu Ezequiel a tremer violentamente enquanto comia e bebia. Fazendo isso, estava representando o destino dos habitantes de Jud e Jerusalm. Quando os babilnios devastassem a cidade, a ansiedade e o desespero os dominaria de tal maneira, que no seriam capazes nem de saborear uma refeio.
Corrigidas as percepes enganosas das profecias (12:21-28). Os israelitas tinham um ditado: Prolongue-se o tempo, e no se cumpra a profecia (12:22). O provrbio parece refletir seu ceticismo a respeito das mensagens dos profetas do Senhor. O Senhor anunciou que o ditado devia ser trocado por: Os dias esto prximos e o cumprimento de toda profecia (12:23), pois Ele estava para cumprir seus decretos. Alguns tambm pressupunham erroneamente que a mensagem proftica de Ezequiel pertencia a um futuro distante, sendo-lhes, portanto, impertinente. O Senhor anunciou que suas profecias seriam cumpridas de imediato. A denncia da falsa profecia (13:1-23) Havia em Israel muitos falsos profetas que alegavam ser porta-vozes do Senhor e garantiam s pessoas que tudo terminaria bem. Eles eram como os que se pem a caiar um muro frgil para esconder seus defeitos. O Senhor exterminaria da comunidade da aliana esses impostores. Seu julgamento chegaria como uma chuva torrencial, um vento violento e um granizo destrutivo que arremessariam ao cho os muros caiados. O Senhor tambm denunciou as falsas profetisas que desviavam o povo com mensagens mentirosas obtidas por adivinhao. (Alguns interpretam a cevada e o po de 13:19 como o pagamento delas, mas mais provvel que os elementos mencionados fossem usados como parte de seus rituais.) Suas atividades tinham o efeito de debilitar os retos, e esses adivinhos na realidade incentivavam os perversos a continuar em seus maus caminhos. O Senhor os exporia como fraudes e livraria seu povo da influncia negativa deles. A denncia contra os lderes idlatras (14:1-11) O Senhor denunciou por idolatria vrios dos ancios que viviam no exlio. Mesmo que buscassem um orculo divino pronunciado por Ezequiel, abrigavam no corao um esprito idlatra. O Senhor responderia diretamente a tais indivduos, eliminando-os da comunidade da aliana. Qualquer profeta que ousasse apresentar um orculo a tais hipcritas seria punido com severidade. A destruio certa de Jerusalm (14:12-23) A presena de um remanescente justo em Jerusalm no impediria a destruio da cidade. Os indivduos podiam ser livrados, mas a runa da cidade era certa. Para dar nfase a esse ponto, o 46 Senhor declarou que mesmo que No, Daniel e
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A presena de Daniel nesse trio problemtica. A forma hebraica do nome escrita de maneira distinta da que aparece no livro de Daniel. Alm disso, Daniel era contemporneo de Ezequiel, enquanto No e J eram personagens da antigidade. Alguns entendem que se tem em vista Daniel, um governante justo que aparece num conto cananeu datado do segundo milnio a.C. Nesse caso, todos os trs exemplos seriam de no-israelitas
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J, trs indivduos aclamados pela retido, residissem na cidade, ela no seria poupada. Esses homens escapariam, mas no conseguiriam salvar ningum, nem mesmo os prprios filhos. Homens e animais seriam destrudos pelo julgamento divino, o que viria em forma de espada, fome, animais selvagens e praga. Alm de preservar todos os indivduos justos deixados na cidade, o Senhor tambm permitiria que uns poucos perversos sobrevivessem e se juntassem aos exilados na Babilnia. Quando Ezequiel testemunhasse o grau do pecado deles, ento saberia por experincia prpria que o julgamento divino da cidade fora necessrio e perfeitamente justo. Ilustraes do pecado e do julgamento de Israel (15:117:24). Jerusalm, a videira intil (15:1-8). O Senhor extraiu uma lio da videira silvestre, intil para fins de construo. Como de costume, ela usada como combustvel. Uma vez queimnada, seu estado carbonizado torna-a ainda mais imprestvel. Tambm se pode deix-la no fogo at ser consumida por completo. Jerusalm era comparvel a tal videira. O Senhor j a havia sujeitado a seu julgamento de fogo. Como a videira carbonizada, ela no seria totalmente consumida. Jerusalm, a esposa infiel (16:1-63). O Senhor valeuse de uma alegoria para ilustrar a ingratido e a infidelidade dos cidados de Jerusalm. Em sua origem, Jerusalm era uma cidade canania, habitada por amorreus e hititas. Ela era como um beb no desejado, jogado num campo e deixado morte por abandono. Contudo, o Senhor preservou a vida da criana. Mais tarde, depois que cresceu, transformando-se numa jovem bela e madura, o Senhor firmou uma aliana de casamento com ela. Ele a vestiu com belas roupas, deu-lhe alimento e a transformou numa rainha. A fama dela correu as naes. Embriagada com sua riqueza e posio, Jerusalm voltou-se para outros deuses e naes. Construiu santurios pagos, sacrificou seus prprios filhos aos dolos e firmou alianas com as naes vizinhas. Ela se tornou pior que uma prostituta. Em vez de receber pagamento dos amantes, ela pagava a eles. O Senhor a puniria com severidade pela ingratido e pela infidelidade. Ele a exporia
que viveram muito antes da poca de Ezequiel. Outros, porm, fazem objeo a essa identificao, alegando que o AT no menciona essa figura lendria em nenhum outro trecho e que o Senhor no empregaria um adorador de deuses cananeus como modelo de retido.
publicamente e a executaria. As prprias naes com as quais ela havia firmado aliana voltar-seiam contra ela e a destruiriam. Desenvolvendo ainda mais a alegoria, o Senhor destacou que Jerusalm no era diferente de sua me e irms, infiis a seus maridos e filhos. Como os cananeus que residiam na cidade em dias antigos, os habitantes de Jerusalm sacrificavam os filhos e as filhas a deuses pagos. Jerusalm, a exemplo dos povos de Samaria e de Sodoma, vistos aqui como suas irms, negligenciava a justia e fazia coisas abominveis aos olhos de Deus. Os pecados de Jerusalm chegavam a exceder os de Samaria e Sodoma. Ainda que fosse humilhada por causa de seus pecados, o Senhor um dia restauraria a cidade. O Senhor renovaria sua aliana com ela e faria expiao de seus pecados. Uma parbola sobre duas guias (17:1-24). O Senhor usou outra parbola a fim de ilustrar verdades acerca de Jerusalm. Uma guia vigorosa chegou ao Lbano, quebrou o topo de um cedro, transportou-o para uma cidade de mercadores e ali o plantou. Essa guia tambm levou algumas sementes da terra de Israel e as plantou num solo frtil, onde cresceram, formando uma videira com ramos cheios de folhas. Mas quando se aproximou outra guia vigorosa, as razes e os ramos da videira cresceram em direo a ela. O Senhor anunciou ento que a videira seria destruda pelo vento oriental. De acordo com a interpretao da parbola (cf. 17:11-18), a primeira guia representa Nabucodonosor, que levou para a Babilnia o rei de Jerusalm e alguns nobres. Faz-se referncia deportao de Joaquim e de outros em 597 a.C. (cf. IIRs 24:8-16). O plantio da vinha representa a preservao de um remanescente em Jud, encabeado por Zedequias, a quem Nabucodonosor nomeou seu rei vassalo. A segunda guia simboliza o Egito, de quem Jud buscou auxlio quando decidiu rebelar-se contra os babilnios. A destruio da videira indica o fim de Jud, que os babilnios puniriam com severidade por causa da rebelio. Entretanto, o futuro no era inteiramente sombrio. O Senhor quebraria um ramo do topo de um cedro e o plantaria num monte alto, onde cresceria at se transformar numa rvore grande e frutfera. J que o ramo de cedro antes simbolizava o rei exilado (cf. 17:3-4 com 17:12), provvel que o ramo aqui mencionado refira-se ao futuro rei a quem o Senhor estabeleceria em Jerusalm (representado pelo monte).
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A responsabilidade individual (18:1-32). O povo de Deus citava um provrbio que dava a entender que estava sofrendo injustamente pelos pecados de geraes anteriores. O Senhor corrigiulhe o pensamento falho. Deus sempre preserva os justos e se ope aos perversos, sem levar em conta a condio moral de seus ancestrais. Para ilustrar seu pensamento, o Senhor descreveu um homem reto imaginrio que repudia a idolatria, o adultrio e a injustia. Tal homem pode ter a certeza da proteo divina. Contudo, se ele tiver um filho idlatra, adltero e injusto, esse filho mau ser destrudo, apesar da justia do pai. Na seqncia, se esse homem perverso tiver um filho justo, esse filho no ser considerado responsvel pelos atos malignos do pai. Antes, como seu av, sua vida ser preservada pelo Senhor. Cada um julgado com base em seus feitos, no nos atos dos pais. A lio para os israelitas era bvia. Se estavam sofrendo julgamento divino, isso significava necessariamente que eles, a exemplo dos pais, eram maus. Em vez de reclamar de que Deus era injusto, precisavam arrepender-se e deixar seus caminhos perversos, pois Deus desejava que vivessem e no morressem. Um lamento pelos prncipes de Israel (19:1-14) O profeta ofereceu pelos prncipes de Israel um lamento que, semelhana das mensagens anteriores, contm alguns elementos de parbola. A me dos prncipes (provavelmente a nao de Jud ou a cidade de Jerusalm, cf. 19:10-14) comparada a uma leoa que criou vrios filhotes. Um deles cresceu e se tornou um leo forte que estraalhava pessoas, mas por fim foi capturado e levado ao Egito. A referncia ao injusto Jeoacaz, levado cativo pelos egpcios em 609 a.C. (cf. IIRs 23:31-34). Outro filhote cresceu forte e levou terror terra; mas caiu numa armadilha, foi colocado numa gaiola e levado para a Babilnia. Aqui se faz referncia ou a Joaquim ou Zedequias, ambos levados ao exlio (cf. IIRs 24:825:7). Mudando de figura, o Senhor compara a me dos prncipes a uma videira frutfera, que ele destri em sua fria e replanta num deserto. Tem-se em vista a queda e o exlio da nao (ou da cidade). A rebeldia do passado e do presente de Israel (20:1-44) Quando alguns ancios no exlio chegaram para questionar o Senhor, este se recusou a responder-
lhes. Em lugar disso, Deus disse a Ezequiel que repassasse a histria rebelde da nao. Desde bem cedo, quando o Senhor confrontou-se com seu povo no Egito, eles resistiram sua vontade, apegando-se aos dolos. Depois que Deus os livrou da servido e lhes deu a lei, eles se rebelaram no deserto. Apesar de o Senhor ter proibido aquela gerao de entrar na terra prometida, ele preservou seus filhos e os advertiu a no seguir nos passos dos pais. Entretanto, os filhos, ainda no deserto, pecaram contra o Senhor. Quando finalmente Deus os estabeleceu na terra, eles adoraram deuses cananeus em santurios pagos. Os idlatras do tempo de Ezequiel no eram diferentes. Por conseguinte, o Senhor os purificaria por meio de julgamento e exlio. Depois de retirar os adoradores rebeldes de dolos, ele restauraria a nao na terra. O povo ento repudiaria o comportamento anterior e adoraria o Senhor em pureza. O fogo e a espada do Senhor (20:4521:32) O julgamento recairia sobre Jud como um incndio devorador na floresta. Ao levar os babilnios em direo terra, o Senhor brandiria sua espada afiada e polida. Brilhando como um relmpago, essa espada levaria destruio por toda a terra. Em seu caminho para a Palestina, Nabucodonosor chegaria a uma encruzilhada no caminho, onde uma via levava a Jerusalm e a outra a Rab, proeminente cidade amonita. Para determinar sua seqncia de aes, ele usaria vrios mtodos de adivinhao, inclusive tirando flechas marcadas da aljava, consultando seus dolos e examinando fgados. O Senhor faria com que todos os indicadores apontassem para Jerusalm. Nabucodonosor sitiaria e conquistaria a cidade e levaria seu povo ao exlio. Enquanto isso, os amonitas, ainda que arrogantes e hostis, no deviam pensar que seriam poupados. A espada de julgamento do Senhor tambm recairia sobre eles (cf. 25:1-7). Jerusalm, uma cidade sanguinria (22:1-31) A corrupo dentro de Jerusalm tornara seu julgamento inevitvel. Aqui se mencionam alguns pecados especficos, inclusive a idolatria, o abuso de poder, a falta de respeito para com os pais, a negligncia para com vivas e rfos, a profanao do sbado, o incesto, o suborno e a usura. A violncia tomava conta da cidade. Em todo o captulo h referncia ao derramamento de sangue inocente (cf. 22:3-4, 6, 9, 12-13, 27). Os prncipes e oficiais civis assumiam a liderana nesse sentido, oprimindo os pobres e indefesos. At os lderes
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religiosos eram corruptos. Os sacerdotes no instruam o povo na lei e no faziam distino entre o sagrado e o profano. Os falsos profetas proclamavam mentiras em nome do Senhor. Quando o Senhor procurou um homem que intercedesse pela nao, no encontrou ningum. Por conseguinte, ele purificaria a cidade por meio do julgamento e dispersaria o povo entre as naes. A alegoria das duas irms (23:1-49) Para ilustrar a infidelidade da nao, o Senhor usou uma alegoria em que comparava Samaria e Jerusalm a duas irms promscuas chamadas Ool e Oolib. (Ool significa sua tenda e Oolib, minha tenda est nela. Talvez o segunndo nome reflita o fato de que Deus habitava no templo de Jerusalm). As irms haviam sido prostitutas desde a mocidade no Egito. Ainda que pertencessem ao Senhor (no claro se como esposas ou filhas), elas cortejavam o favor de naes estrangeiras. Ool (Samaria) buscou aliana com os assrios. Ela retratada desejosa de soldados assrios, prostituindo-se entre seus oficiais. Por ironia, seus amantes a mataram e levaram seus filhos embora. Oolib (Jerusalm) testemunhou o destino da irm, mas no conseguiu aprender com o exemplo dela. Ela tambm desejou os assrios e depois voltou a ateno para os babilnios e para outros povos. Empregam-se linguagem viva e imagens duras para retratar sua ninfomania. O Senhor avisou que seus amantes voltar-se-iam contra ela. Os babilnios chegariam contra a terra com todo o poderio militar e destruiriam cruelmente a populao. Oolib seria publicamente humilhada e sofreria o mesmo destino da irm Ool. A parbola da panela (24:1-14) No mesmo dia em que os babilnios iniciaram o cerco de Jerusalm (15 de janeiro de 588 a.C.), o Senhor deu a Ezequiel uma parbola que ilustrava a queda da cidade. Jerusalm era como uma panela cheia de crostas (o derramamento de sangue e a idolatria, 24:6-8, 13). Os habitantes da cidade eram como carne e ossos cozidos na panela. O fogo que queimava sob a panela (o cerco babilnio) cozinharia por completo a carne e queimaria os ossos, e ambos seriam por fim retirados pedao por pedao (um retrato do exlio). A panela vazia seria ento deixada no fogo at que se queimassem suas impurezas.
A morte da esposa de Ezequiel (24:15-27) O Senhor anunciou a Ezequiel que sua esposa amada teria morte sbita. Mas, como uma lio concreta para Israel, o Senhor ordenou que o profeta no externasse luto por sua morte, conforme o costume. Em vez disso, poderia apenas gemer para si mesmo. Quando sua esposa morreu logo depois, Ezequiel obedeceu s instrues do Senhor. Ao observar seu silncio, as pessoas perguntaram-lhe o significado daquilo. Ezequiel explicou que elas no deviam chorar a queda da amada cidade e de seu templo, assim como ele se recusava a lamentar a morte da esposa. Quando por fim a cidade casse, um fugitivo traria notcias a Ezequiel. Naquele momento o Senhor poria fim mudez do profeta (cf. 3:26-27; 33:21-22). Ele ento falaria abertamente aos sobreviventes da catstrofe, advertindo-os e incentivando-os.
Deita-se sobre o lado Os anos de iniqidade esquerdo por 390 dias, e punio de Jud. sobre o direito por 40. Come alimento racionado do exlio. Rapa a cabea com uma espada, pesa e divide o cabelo, queimando uma parte, ferindo a segunda parte com uma espada e espalhando a terceira ao vento. Cava um buraco na parede e passa por ele levando consigo bagagens de exlio. Fome em Jerusalm quando ocorrer o cerco. A insignificncia do remanescente poupado diante da dimenso do julgamento.
4:9-17
5:1-12
12:1-12
O exlio uma realidade inevitvel para a qual o povo deve estar preparado. Deus determinar o itinerrio das tropas da Babilnia, e isso levar inevitavelmente a Jerusalm.
21:18-23 Traa uma rota para o exrcito babilnio, com uma encruzilhada que fora o rei a lanar sortes para decidir o caminho a tomar. 25:15-24 Sua esposa morre.
O povo escolhido, a delicia dos olhos de Jav, se perder por morte ou no exlio.
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O JULGAMENTO CONTRA AS NAES VIZINHAS (Ez 25:132:32) As naes em torno de Jud no escapariam do julgamento divino. Essa diviso contm orculos contra sete naes especficas. Ainda que se representem todos os pontos cardeais, Tiro (ao norte) e o Egito (ao sul) recebem ateno especial. As sete sentenas contra o Egito concluem a diviso. A ampla distribuio geogrfica das naes mencionadas, bem como o uso simblico do nmero sete, transmitem a impresso de completitude. Amom (25:1-7). O Senhor julgaria os amonitas pelo prazer deles com a queda de Jerusalm. Filhos do Oriente (25:4; ou os babilnios ou tribos saqueadoras do deserto) pilhariam Amom e reduziriam Rab, sua cidade mais proeminente, a um pasto. Moabe (25:8-11). O Senhor puniria igualmente os moabitas, vizinhos de Amom ao sul, tambm por se terem alegrado com a queda de Jerusalm. Os povos do Oriente (25:10) conquistariam as cidades fortificadas que guardavam a fronteira setentrional de Moabe, deixando a terra vulnervel invaso. Edom (25:12-14). O julgamento tambm recairia sobre Edom (j mencionada em 25:8, cf. Seir), localizada ao sul de Moabe. Na queda de Jud, Edom manifestara um esprito vingativo (cf. Obadias). O Senhor vingar-se-ia de Edom por meio de seu povo Israel. Filstia (25:15-17). O Senhor se vingaria dos filisteus (tambm referidos aqui como os queretitas), vizinhos de Jud a oeste, por se terem oposto ao povo de Deus durante sculos. Tiro (26:128:19) A queda de Tiro (26:1-21). Tiro, localizada na costa mediterrnea ao norte de Israel, era um centro comercial proeminente. Apesar de suas riquezas e defesas, no seria capaz de resistir ao julgamento do Senhor. Muitas naes a assolariam, como guas turbulentas do mar. Num futuro prximo, os exrcitos de Nabucodonosor cercariam a cidade e a conquistariam. Tiro seria reduzida a um monte de runas e jamais seria reconstruda. Por toda a costa mediterrnea, parceiros comerciais de Tiro 47 lamentariam sua destruio.
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O lamento do profeta por Tiro (27:1-36). Para dar nfase certeza do julgamento de Tiro, o Senhor disse a Ezequiel que lamentasse de antemo a destruio da cidade. Tiro comparada a um grande navio comercial feito com a melhor madeira, adornado com lindas velas e tripulado por marinheiros capazes. Tiro comprava e vendia todos os produtos imaginveis, incluindo metais e pedras preciosas, escravos, animais, tecidos e roupas, alimentos e at presas de marfim. Sua lista de parceiros comerciais inclua praticamente todas as naes e cidades do mundo conhecido. Mas uma tempestade (o julgamento do Senhor) destruiria esse grande navio. Todos os marinheiros e mercadores se afogariam no mar, fazendo com que seus parceiros comerciais olhassem da praia, lamentando o destino dela. A denncia contra o rei de Tiro (28:1-19). Destacando o rei de Tiro como representante da cidade, o Senhor anunciou que esse soberano orgulhoso e sua cidade seriam humilhados. Por causa do grande sucesso e da riqueza da cidade, o rei se imaginava um deus e tinha grande orgulho da sua prpria sabedoria. (Ainda que alguns considerem o Daniel de 28:3 um lendrio rei cananeu chamado Daniel, a referncia sua capacidade de desvendar segredos indica que se tem em vista o Daniel da Bblia, contemporneo de Ezequiel. Cf. comentrios sobre 14:14,20). Quando chegasse o dia do julgamento, o rei seria humilhado diante de seus executores, e suas iluses de grandeza seriam substitudas pela dolorosa realidade de sua mortalidade. Antevendo a queda do rei, Ezequiel pronunciou um lamento zombeteiro contra ele. Comparou o rei a um querubim sbio, belo e ricamente adornado, que antes habitava no jardim do den e gozava de acesso ao monte santo de Deus. Esse querubim acabou perdendo a posio de prestgio em razo
Muitos conquistadores depois disso (inclusive Alexandre, o Grande, em 332) tomaram a cidade, mas ela continuou existindo at a era crist. Vrias solues para o problema tm sido apresentadas, nenhuma das quais de todo satisfatria. Uma possibilidade que a descrio da queda de Tiro era um tanto estereotipada e deliberadamente exagerada para destacar que ela seria subordinada aos babilnios e sofreria um declnio significativo em prestgio. Outra possibilidade que a descrio de 26:12-14 vai alm da poca de Nabucodonosor e abrange ataques posteriores cidade, os quais lhe provocaram a queda definitiva. Essa mescla de futuro imediato com fatos mais distantes tpico da literatura proftica.
difcil conciliar essa profecia com a histria. Nabucodonosor cercou Tiro por treze longos anos (cerca de 586-573 a.C.) e por fim a tornou estado-vassalo. Mas ele no destruiu a cidade da maneira descrita por Ezequiel (mesmo 29:18 reconhece isso).
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de sua arrogncia e por causa das prticas econmicas opressoras (numa aluso ao imprio comercial de Tiro). O Senhor o lanou do monte sagrado e o destruiu com fogo diante das naes. O ambiente histrico que envolve as figuras desse lamento incerto. O monte de Deus encontra paralelos na mitologia canania. Seria possvel esperar o uso de tais imagens mticas numa mensagem a um rei fencio. (Cf. Is 14:4-21, em que temas e figuras mitolgicas so usadas numa zombaria dirigida ao rei da Babilnia.) O versculo 13 parece referir-se ao jardim do den da tradio bblica, mas os nicos querubins mencionados no relato de Gnesis so os colocados como guardies junto porta do jardim, aps a expulso de Ado e Eva (Gn 3:24). Talvez Ezequiel tenha extrado suas figuras de uma tradio extrabblica acerca do den. Por causa das referncias ao den e ao orgulho e queda do querubim, h quem veja uma referncia velada a Satans em 28:12-19. Mas a aluso ao den no sustenta essa idia. Satans no mencionado de maneira clara em Gnesis 23, muito menos retratado como querubim. Satans tradicionalmente associado serpente no relato sobre o den. Mas mesmo que essa interpretao esteja correta, a serpente identificada com um dos animais criados por Deus (cf. Gn 3:1, 14), no com um querubim disfarado. Sidom (28:20-26). Sidom, outra cidade fencia de destaque, tambm sofreria o julgamento divino. A exemplo de Tiro, ela havia tratado o povo de Deus com hostilidade. O Senhor destruiria os sidnios com praga e espada. O Senhor um dia restabeleceria seu povo em sua terra, onde este viveria em paz, livre das ameaas dos vizinhos hostis. Egito (29:132:32) A oposio do Senhor ao fara (29:1-16). O Senhor anunciou que tambm se oporia ao fara, o orgulhoso rei do Egito. Comparando o rei a um crocodilo no rio Nilo, o Senhor alertou que o arrancaria do rio e o lanaria no deserto, onde morreria e seria comido por animais que se alimentam de carnia. O Senhor transformaria toda a terra (desde Migdol, no norte, at Assu, no sul) em runa durante quarenta anos e dispersaria os egpcios entre as naes. Depois do exlio de quarenta anos, o Senhor os devolveria terra, mas o Egito jamais voltaria a experimentar sua glria anterior. O povo de Deus, que antes confiara no
Egito, j no esperaria seu auxlio. No se sabe ao certo quando e como essa profecia se cumpriu. Os registros histricos no revelam que o Egito tenha sofrido desolao ou exlio nos nveis descrito por Ezequiel. Pilhagem para Nabucodonosor (29:17-21). Em 571 a.C., logo depois que Nabucodonosor suspendeu seu longo cerco contra Tiro, Ezequiel recebeu outra mensagem a respeito do Egito. Apesar de Nabucodonosor ter sado de Tiro relativamente pouco recompensado por seus esforos, o Senhor lhe daria o Egito, de onde ele extrairia abundncia de riquezas. provvel que essa profecia tenha se cumprido em 568 a.C., quando, de acordo com um texto babilnico, Nabocodonosor parece ter conduzido uma campanha militar contra o Egito. O Dia do Senhor contra o Egito (30:1-19). A queda do Egito est associada com o Dia do Senhor, expresso empregada em outras partes do Antigo Testamento em relao ao tempo em que o Senhor vem como guerreiro e destri seus inimigos de maneira rpida e decisiva. Valendo-se de Nabucodonosor como sua espada, o Senhor destruiria tanto o Egito como seus aliados. O grande rio do Egito, o Nilo, secaria, seus dolos e prncipes mostrar-se-iam indefesos, e todas as suas cidades famosas seriam conquistadas. A destruio do poder do fara (30:20-26). Ezequiel recebeu uma mensagem a respeito do fara em 587 a.C., um ano depois que Nabucodonosor derrotou o fara Hofra em batalha, quando este tentou chegar em socorro da Jerusalm sitiada (cf. Jr 37:58). Quando permitiu que Nabucodonosor derrotasse Hofra, foi como se o Senhor tivesse quebrado o brao do fara, um smbolo de seu poderio militar. Mas o Senhor reservava mais da sua ira para o Egito. Ele fortaleceria o rei da Babilnia, que conquistaria o Egito. Ambos os braos do fara seriam quebrados. Quando os egpcios fossem vencidos e espalhados entre as naes, reconheceriam a soberania do Deus de Israel. Um cedro cado (31:1 -18). O Senhor desafiou o fara e seus exrcitos a aprenderem uma lio da histria. A Assria, poderoso imprio no Oriente Prximo, de 745 a 626 a.C., j havia sido como um cedro imponente do Lbano. Ele era alto e bem nutrido. Pssaros se abrigavam em seus ramos e animais buscavam abrigo sob sua sombra. Nem mesmo as rvores no jardim do den conseguiam competir com ele em majestade e beleza. Entretanto, por causa do orgulho, Deus o entregou a uma nao impiedosa (os babilnios), que o
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despedaou. Nenhuma outra rvore jamais cresceria tanto. O fara era tambm como uma rvore alta, mas, semelhana da Assria, ele e seus exrcitos cairiam esmagados contra a terra. Lamento pela destruio do fara (32:1-16). O Senhor revelou a Ezequiel um lamento sarcstico que a nao um dia cantaria pelo fara derrotado. Ainda que ele fosse como um leo forte ou um crocodilo vigoroso, seria capturado, destrudo e devorado por animais. A escurido cobriria sua terra como sinal de julgamento e destruio. A Babilnia invadiria o Egito, destruiria seu povo e lhe roubaria as riquezas. Os exrcitos egpcios so mortos (32:17-32). Os exrcitos do fara seriam mortos e desceriam terra dos mortos. Eles se juntariam aos exrcitos de outras naes que haviam espalhado terror sobre a terra, mas acabaram encontrando seu fim. Entre essas naes estavam a Assria, Elo (no leste da Mesopotmia), Meseque e Tubal (naes do norte, cf. 38:2), Edom e Sidom.
mantinham iluses de grandeza, pensando que a terra agora lhes pertencia. Ezequiel corrigiu esse pensamento falho, mostrando que a idolatria e a hipocrisia deles lhes impedia de desfrutar a terra. Outra onda de julgamento os encobriria. No passado, no haviam levado a srio as mensagens de Ezequiel, mas no dia do julgamento acabariam percebendo que ele era um verdadeiro profeta do Senhor. O pastor de Israel faz uma nova aliana com seu povo (34:1-31) Os lderes de Israel, comparados a pastores, no haviam cuidado de maneira adequada do rebanho de Deus. Esses lderes, consumidos por interesse prprio, haviam na realidade oprimido e explorado o povo. As ovelhas estavam agora espalhadas e sendo assoladas por animais selvagens (naes estrangeiras, tais como a Babilnia). O Senhor anunciou que esses lderes incompetentes seriam eliminados e que Ele assumiria o cuidado com o rebanho. O Senhor reuniria de novo em Israel suas ovelhas espalhadas e feridas, onde se alimentariam em paz em ricas pastagens. Ele restabeleceria a justia entre seu povo e levantaria para Ele um novo rei davdico ideal. Deus faria com eles uma aliana de paz, que lhes garantiria iseno de perigos e prosperidade agrcola. A vingana contra Edom (35:1-15) Deus julgaria as naes que tradicionalmente haviam intentado a destruio de seu povo. Como exemplo por excelncia de tal nao, Edom foi destacada como objeto da ira de Deus. Os edomitas participaram da queda de Jerusalm, com esperanas de ficar com a terra de Israel para si. Com arrogncia, zombavam do povo de Deus em seu tempo de calamidade. Edom experimentaria a vingana de Deus. Deus os trataria como eles haviam tratado seu povo. Os edomitas seriam mortos pela espada e a terra deles ficaria como um monte desolado de runas. A prosperidade retorna a Israel (36:1-15). Os exrcitos estrangeiros haviam dominado os montes de Israel e alardeavam suas conquistas. O Senhor jurou que faria a vingana recair sobre essas naes (Edom de novo destacado, cf. 36:5). Ele tambm restauraria seu povo na terra. Mais uma vez, as plantaes frutificariam nos campos e as cidades seriam habitadas. Deus purifica seu povo (36:16-38). Israel havia corrompido a terra com seus atos pecaminosos e trazido desonra ao nome de Deus. Quando seguiu
A RESTAURAO DE ISRAEL (Ez 33:148:35) A renovao da misso de Ezequiel (33:1-20) Pouco antes da queda de Jerusalm, o Senhor renovou a misso de Ezequiel como sentinela espiritual da nao (cf. 3:16-21). Uma das principais responsabilidades de um vigia era alertar seu povo da iminncia de perigos. Desde que desempenhasse sua tarefa, o vigia no era responsvel por aqueles que no levassem seus avisos a srio e no estivessem preparados quando chegasse a desgraa. Ezequiel estava em posio semelhante. Ele devia alertar tanto os perversos como os apstatas quanto destruio iminente e cham-los ao arrependimento. Embora a nao estivesse depreciada por causa do pecado, o desejo de Deus era que deixasse seus maus caminhos e vivesse. A legitimao do ofcio proftico de Ezequiel (33:21-33) Em janeiro de 585 a.C., cinco meses depois que o templo fora destrudo, um fugitivo transmitiu a notcia a Ezequiel. Na noite anterior, o Senhor havia aberto a boca de Ezequiel, encerrando seu longo perodo de silncio forado (cf. 3:26; 24:26-27). Agora que as profecias de Ezequiel haviam se cumprido, seu ministrio seria principalmente de incentivo, e suas mensagens estariam centradas na restaurao futura dos exilados. Mas ele devia anunciar mais um discurso de julgamnento. Os sobreviventes que permaneceram em Jud depois da destruio de Jerusalm
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para o exlio, as naes tiraram concluses erradas sobre o carter de Deus. Para se vingar e restaurar sua reputao entre as naes, o Senhor restabeleceria os exilados na terra. Ele os purificaria dos pecados, criaria neles um desejo de lealdade e renovaria suas bnos agrcolas. Nesse tempo, as naes e tambm Israel reconheceriam sua soberania. Israel revive (37:1-14). A viso dos ossos secos retrata de maneira viva a restaurao miraculosa de Israel. Nela, o profeta viu um vale cheio de ossos secos e soltos, representando o povo disperso de Israel. Entretanto, de repente os ossos comearam a se juntar, e apareceram tendes e carne sobre eles. O sopro da vida entrou nos corpos e uma multido de seres vivos ps-se de p no vale. Assim tambm, o Senhor faria reviver miraculosamente a nao de Israel. Ele a livraria do tmulo do exlio, colocaria seu Esprito em seu meio e a estabeleceria mais uma vez na terra prometida. Os prisioneiros israelitas, sem nenhuma fora poltica, haveriam de formar uma nao; sem nenhuma fora moral, iam vencer a idolatria e formar uma religio pura. Isto se faria no por fora, nem por poder, porm pelo Eprito do prprio Deus (cf. Zc 4:6). O cap. 37 ilustra o tema da restaurao de Israel. Historicamente, visa a volta dos exilados do cativeiro babilnico; profeticamente, visa a restaurao no Novo Israel, no dia escatlogico, quando o Reino do Messias se realizar. Israel e Jud so reunificados (37:15-28). O dia de restaurao tambm seria um dia de reunificao para Israel e Jud. Para ilustrar isso, o Senhor mandou que Ezequiel tomasse duas varas, uma representando o Reino do Norte e a outra, o Reino do Sul, e as segurasse juntas, como se fossem uma. Do mesmo modo, o Senhor devolveria os exilados de Israel e de Jud terra e voltaria a formar com eles um reino. Ele levantaria um novo rei davdico ideal para lider-los, estabeleceria com eles uma nova aliana e mais uma vez habitaria em seu meio. A destruio definitiva das naes (38:139:29) Esses captulos descrevem uma invaso de Israel por naes distantes lideradas por Gogue, da terra de Magogue, prncipe de Meseque e Tubal. As tentativas de identificar Gogue com uma figura histrica no convencem. Magogue, Tubal e Meseque so mencionados em Gn 10:2 e ICr 1:5 como filhos de Jaf. Nos dias de Ezequiel, os descendentes deles habitavam o que hoje a
Diz a estes ossos secos que ouam a palavra do Senhor. Diz-lhes que eu, o soberano Senhor, lhes digo a eles: Eu vou fazer entrar em vs o Esprito e trazer-vos de novo vida. (Ezequiel 37:4-5)
Turquia oriental. De acordo com 38:5-6, entre os aliados de Gogue estavam a Prsia, Cuxe (atual Etipia), Pute (atual Lbia), Gmer (outro filho de Jaf, cujos descendentes residiam no extremo norte de Israel), e Bete Togarma (de acordo com Gn 10:3, Togarma era filho de Gmer). Ezequiel previa um tempo em que os exrcitos dessas naes atcariam o Israel confiante. O Senhor interviria com poder e livraria seu povo. Um terremoto violento abalaria a terra, e os exrcitos inimigos, em pnico, voltar-se-iam uns contra os outros. O Senhor faria chover granizo e enxofre sobre eles. A matana seria comparvel a um grande sacrifcio. Aves e animais selvagens devorariam a carne e o sangue dos guerreiros inimigos. Mesmo com essa assistncia do reino animal, o povo de Israel levaria sete meses para dar fim a todos os cadveres. As armas dos inimigos forneceriam ao povo de Deus um suprimento de combustvel que duraria sete anos. Uma vez que essa profecia no corresponde a nenhum fato histrico conhecido, melhor compreend-lo como algo que ainda aguarda cumprimento. Gogue e suas hordas simbolizam a oposio ao reino de Deus que ocorrer no final dos tempos e ser esmagada com violncia (cf. Ap 20:8-9). A restaurao da pureza de culto (40:148:35) Nessa diviso do livro, o Senhor deu a Ezequiel uma viso de Israel restaurado. Ele viu um retrato detalhado do novo templo e recebeu instrues minuciosas para os futuros lderes das naes. O livro termina com uma descrio pormenorizada das divises geogrficas futuras da terra. Os estudiosos divergem na interpretao dessa parte. Alguns consideram que sua linguagem simblica cumprida na igreja do Novo Testamento, enquanto outros interpretam a profecia como algo que se aplica a um Israel literal do futuro. Alguns entendem esses captulos como uma descrio literal das condies na poca do milnio.
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Outros entendem a viso como um retrato idealizado, talvez exagerado, da futura restaurao divina de seu povo cumprida com elementos simblicos. Um novo templo (40:143:12). Por meio de uma viso, o Senhor proporciou a Ezequiel uma anteviso do novo templo. A comear pela porta oriental do trio externo, ele foi conduzido por um percurso que o levou ao trio interno, suas salas internas, o prtico do templo, o santurio externo e, por fim, ao lugar santssimo. Em todo o percurso fornecem-se medidas e descries detalhadas. O mais importante era que Deus residiria no novo templo. Quase vinte anos antes, Ezequiel tivera uma viso da glria de Deus deixando o templo de Jerusalm (cf. caps. 8l0). Aquele templo foi em seguida destrudo pelos babilnios. Agora, por meio de outra viso, o profeta testemunhava a glria de Deus retornando cidade e fixando residncia no novo templo (cf. 43:1-9). Regulamentos para o novo templo (43:13 46:24). Esses captulos contm algumas instrues e regras para os sacerdotes e governantes que no futuro atuariam na comunidade da aliana restaurada. Essa parte comea com instrues para a construo do altar do templo (43:13-17) e para seus sacrifcios de dedicao (43:18-27). Depois que se fizessem as devidas ofertas pelo pecado por sete dias consecutivos, o altar seria considerado puro e estaria pronto para uso. A partir do oitavo dia, o altar poderia ser usado para holocaustos e ofertas pacficas, que expressavam a devoo do adorador a Deus e sua comunho com Ele. Uma vez que a glria do Senhor retornaria ao complexo do templo pela porta oriental do trio externo (cf. 43:4), essa porta permaneceria fechada. S o prncipe poderia sentar-se nesse lugar, onde comeria na presena do Senhor (44:14). Esse prncipe identificado em outras partes como o rei davdico ideal, o Messias, a quem o Senhor levantaria para reger seu povo (34:24; 37:24-25). No passado, israelitas rebeldes haviam violado a aliana do Senhor, permitindo que estrangeiros levassem seus costumes detestveis para dentro do templo. Esses estrangeiros eram incircuncisos de corao e incircuncisos de carne (44:7), significando que lhes faltava devoo ao Senhor, bem como o sinal fsico de que faziam parte da comunidade da aliana. Tais estrangeiros foram proibidos de entrar no novo templo (44:5-9).
Visto que os levitas haviam sido infiis ao Senhor, seriam rebaixados (44:10-14). Poderiam cuidar das portas do templo, matar animais para sacrifcio e atender ao povo, mas no teriam permisso de lidar com objetos sagrados nem com ofertas para o Senhor. Como prmio pela fidelidade, a linhagem de Zadoque da famlia levtica atuaria como sacerdote do Senhor (44:15-16). Zadoque era descendente de Aro por Eleazar e Finias (cf. ICr 6:3-8, 50-53). Na futura distribuio de terras devia-se reservar uma parte para o Senhor (e para seus sacerdotes) bem no centro da terra (45:1-6). O prncipe (o rei davdico) possuiria a terra contgua poro do Senhor a leste e a oeste (45:7-8). Essa meno do futuro prncipe leva a uma exortao aos lderes civis do povo de Deus na poca de Ezequias. Eles no deviam oprimir o povo, mas promover a justia e a eqidade na esfera scio econmica (45:9-l2). O Senhor tambm apresentou regras detalhadas relacionadas s ofertas e festas (45:1346:24), incluindo a Festa de Ano Novo, a Pscoa e os Tabernculos. Vrias regras a respeito do prncipe destacam o captulo 46. Nos dias de sbado e de lua nova, o prncipe conduziria o povo em culto ao Senhor, apresentando ofertas no vestbulo da porta oriental do trio interno. O rio que flui do templo (47:1-12). Ezequiel vislum-brou um rio que flua do templo para o Oriente. O rio ia-se aprofundando medida que seguia para o deserto, rumo ao mar Morto. Sua gua fresca estava cheia de peixes, e pescadores alinhavam redes em suas margens. Tambm se alinhavam s margens do rio rvores de frutas comestveis cujas folhas tinham propriedades teraputicas. Esse rio, fonte de vida que flua do trono de Deus, simbolizava a restaurao da bno divina experimentada pela terra. Limites e distribuio das terras (47:1348:35). O livro de Ezequiel conclui com uma descrio detalhada dos limites e da distribuio futura da terra. A cidade santa, construda como um quadrado perfeito no meio da terra, teria doze portas (trs em cada um de seus quatro muros) designadas segundo as tribos de Israel. A cidade seria chamada Jav-Sham, que significa o Senhor est ali.
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Mas o julgamento era s parte do retrato que Ezequiel fazia de Deus. Mesmo no exlio, longe da ptria, Deus era acessvel para o profeta. A fidelidade de Deus era a esperana de Ezequiel. Deus o Pastor cuidadoso de seu povo (Ez 34). Deus a nica esperana de vida nova para os ossos mortos da nao de Israel (Ez 37). Os cristos podem aprender a ser responsveis com Ezequiel. Como ele, os fiis devem identificar-se com a dor daqueles ao seu redor (3:15). Como Ezequiel, os cristos so atalaias, responsveis por alertar o prximo sobre as conseqncias do pecado (3:16-21). Ezequiel 34 adverte os fiis a no buscarem o interesse prprio em detrimento dos outros. Antes, os cristos devem ser exemplos do amor e do cuidado de Deus em seus atos. Os fiis devem compartilhar as boas novas de que Deus ainda o Doador da vida renovada e da segunda oportunidade aos que se voltam para Ele com arrependimento e f.
Ezequiel v nessas trs vises o propsito do Senhor: acima de tudo por trs de tudo
alm de tudo
Essa a viso trina que transforma o medo em esperana, e os suspiros em canes. Que possamos sempre contempl-la! Ezequiel apreendeu e entendeu essa verdade trplice; ele viveu e trabalhou na luz e no poder dela. Ns tambm devemos viver e trabalhar na luz e no poder dessa viso; caso contrrio, desanimaremos diante das 49 dificuldades de nossos dias.
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Manual Bblico Vida Nova. Edies Vida Nova, 2001, p. 490-491. Quadro elaborado a partir dos comentrios do Pr. Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edies Vida Nova, p. 43-44.
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DANIEL
AUTORIA E DATA
1. Criticismo
Os crticos no querem que Daniel seja o autor do livro. Eles no admitem revelao divina, nem possibilidade de conhecer o futuro. Portanto, para eles impossvel que um homem escrevesse Histria antes que ela acontecesse. Querem, ento, que tenha sido escrito por um judeu pio que viveu 200 anos depois do tempo de Daniel e, portanto, estava simplesmente contando a histria como se tinha passado.
livro de Daniel a Alexandre, o Grande, em 332 a.C., quando este marchou contra Jerusalm. f. Rolos do Mar Morto datados entre 200-100 a.C. contm o livro de Daniel.
3. DIFICULDADES NA INTERPRETAO
a. Problema: Daniel 1:1 diz que Nabucodonosor subiu a Jerusalm no 3 ano de Jeoaquim (Jr 25:1 diz que foi no 4 ano). Resposta: Em Babilnia se computava os anos do rei comeando com o ano novo seguinte coroao. Em Jerusalm contava os anos do rei comeando com o ano novo prestes corao. Para os judeus, uma parte conta como um inteiro. Assim o 3 ano de Daniel seria o 4 ano de Jeremias. Daniel est contando da sada de Nabucodonosor de Babilnia, e sabe-se que, antes de subir contra Jerusalm, o rei teve um encontro com os egpcios, em Carquemis, onde os derrotou. Depois, subiu contra Jerusalm. Portanto, transcorreu-se o tempo para Jeremias datar sua profecia no 4 ano do rei. b. Problema: O nome do rei Belsazar no aparece nas crnicas babilnicas. Durante muitos anos os crticos disseram que ele no existiu. Resposta: A arqueologia tem descoberto nas escrituras de Nabonidas referncia e oraes em favor do filho Belsazar. Nabonido, genro de Nabucodonosor, finalmente subiu ao trono depois de vencer o ltimo dos que se seguiram imediatamente aps a morte do pai. Aps estabelecer-se, iniciou a reconstruo da cidade. Quando seu filho Belsazar completou 13 anos, Nabonido o fez regente da Babilnia e entregou-lhe o governo da cidade, enquanto ele mesmo saiu em expedies arqueolgicas. Este jovem vaidoso no resistindo tentao da
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opulncia e poder, entregou-se dissoluo em companhia de mil dos grandes da cidade, na noite do seu 17 aniversrio. Naquela noite de blasfmia, ele tambm deu bebida aos soldados da cidade. Antes disto, Ciro, o Persa, mandara-lhe uma embaixada sugerindo que ele devia entregar-se ou aliar-se com ele. Belsazar matou o embaixador, cortou-o em pedaos e enviou-o numa cesta a Ciro, dizendo que faria o mesmo com ele, se viesse Babilnia. Ciro indignou-se e enviou Dario, o Meda, seu amigo e general, com os soldados que estavam na sua mo, contra Babilnia. Dario chegou perante os muros da cidade na noite desta referida festa. Os soldados bbados se esqueceram de fechar a porta. Dario entrou sem lutas, encontrou todos os grandes, tambm bbados, tomou a cidade e enviou mensagem a Ciro, o qual, poucos dias depois, fez a entrada triunfal tomando posse da cidade. Nabonido soube e veio contra, mas, recebendo mensagens de Ciro, entregou-se sem luta e viveu pacificamente na casa de Ciro at a sua morte. c. Outros pontos iniciais de discordncias eram relacionados s histrias da fornalha, da cova dos lees, da escola de aprendizes e da loucura de Nabucodonosor. Entretanto, a Arqueologia forneceu explicaes adequadas a elas. Os arquelogos descobriram no palcio de Nabucodonosor um prdio identificado como Escola de Aprendizes, provando sua existncia. Outro prdio descoberto, sendo redondo, parecido com o lugar de queimar tijolos, e sobre a porta estava escrito: Fornalha onde mataram os inimigos do rei. As escavaes de um poo descobriram no seu muro a inscrio: Cova de animais ferozes onde matavam os inimigos do rei. Finalmente, descobriram o original da histria da loucura do rei escrita por ele e arquivada entre os livros do palcio.
gentlica usada no comrcio e na diplomacia em todo o mundo conhecido. Portanto, podemos ver, nessa passagem da lngua judaica para a lngua comum dos gentios, um smbolo significativo do que de fato estava acontecendo na histria, por um ato soberano de Deus. H, porm, ainda mais do que isso. Trata-se de mais uma prova de que o livro realmente foi escrito quando diz que foi. Antes dos dias de Daniel, os judeus no entendiam aramaico (ver IIRs 18:26). Depois da poca de Daniel, eles deixaram de compreender o hebraico (ver Ne 8:8). No tempo de Daniel, porm, eles compreendiam ambas as lnguas. Se o livro foi escrito por um impostor querendo consolar seus conterrneos, quase 400 anos mais tarde, por que escreveu a metade dele numa lngua em que no podiam mais ler? Ou, se quisesse mant-lo em hebraico, para investi-lo de valor sagrado e antigo, por que colocou esses captulos centrais na lngua comum de seus dias? Eis um belo enigma complicado para ser resolvido pelos que favorecem uma data posterior! Enquanto isso, ficamos gratos de ver no fenmeno um novo selo colocado sobre o livro pela mo de Deus. Posio no Cnon: Os autores dos livros profticos eram homens especialmente levantados por Deus, ocupando a posio tcnica de profeta, servindo de mediadores entre Deus e a nao, declarando ao povo as palavras idnticas que Deus lhes tinha revelado. Daniel, porm, no foi profeta nesse sentido estrito e tcnico. Foi antes um estadista na corte de monarcas pagos. Na qualidade de estadista, possua realmente o dom proftico, e nesse sentido, aparentemente, que o Novo Testamento o chama de profeta (Mt 24:15). Portanto, Daniel foi estadista, inspirado por Deus para escrever o livro que tem o seu nome, pelo que tambm esse livro aparece no cnon do Antigo Testamento na terceira diviso, entre os escritos de outros homens inspirados que no ocuparam o ofcio proftico.
LINGUAGEM
Um aspecto interessante do livro de Daniel o fato de ser escrito em duas lnguas. De 2:4 at o fim do captulo 7, a lngua o aramaico. No restante, o hebraico. Existe algum sentido especial nisso? Acreditamos que sim. Baxter relaciona: Existe uma correspondncia inequvoca entre a imagem do sonho de Nabucodonosor, no captulo 2, e a primeira das vises de Daniel, no captulo 7. Ambas do em linhas gerais todo o curso dos tempos dos gentios, enquanto as vises posteriores predizem o futuro especialmente em relao ao povo da aliana. Assim, os captulos de 2 a 7 esto em aramaico, que era na poca a lngua
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MENSAGEM GERAL
O livro de Daniel destaca a soberania de Deus com relao aos imprios gentlicos mundiais, at o tempo da destruio deles, na ocasio da segunda vinda do Seu Filho. A viso a de um Deus que governa, cheio de soberania e poder, de reis que desaparecem; de dinastia e imprios que surgem e caem enquanto Deus, entronizado no Cu, governa seus movimentos. (Campbell Morgan)
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J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras (vol. IV). Edies Vida Nova, p. 86.
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Tema: Soberano cuidado de Deus para com Israel durante o tempo dos gentios. I. Prlogo: O CONTEXTO HISTRICO (cap. 1) 1. Daniel e seus companheiros na Babilnia 2. Treinamento e teste de Daniel para o servio pblico II. AS NAES E O DEUS ALTSSIMO (2:17:28) 1. Interpretao da grande esttua de metal: os quatros ltimos imprios mundiais (cap. 2) Sonho do rei e sua exigncia F de Daniel e viso dada pelo Senhor Promoo de Daniel a Primeiro-Ministro 2. Orgulho religioso castigado (cap. 3) Imagem de ouro de Nabucodonosor une o imprio Trs hebreus protestam: f provada pela idolatria pag Livramento na fornalha: f triunfante pela interveno divina. 3. Julgamento de Nabucodonosor: orgulho poltico castigado (cap. 4) Sonho perturbador; Interpretao de Daniel e seu cumprimento; Gratido pelo restabelecimento; 4. Julgamento de Belsazar (cap. 5) A interpretao de Daniel. A escritura de Deus na parede pe fim festa idlatra do rei; o julgamento de Deus pe fim ao reinado da Babilnia. 5. Livramento na cova dos lees (cap. 6) O testemunho de Daniel aos persas III. VISES PROFTICAS DE DANIEL DA OPOSIO GENTIA A ISRAEL 1. Viso descrita como de quatro grandes animais e o Filho do Homem (cap. 7) 2. Viso do carneiro persa e do bode grego (cap. 8) 3. Orao de Daniel e a Viso das Setenta Semanas de Israel (cap. 9) 4. A viso do mensageiro celeste: Conspirao demonaca contra Israel (cap. 10) 5. Oposio grega, egpcia e Sria: Anteviso de Israel no perodo interbblico (11:1-35). 6. Breve triunfo do Anticristo no fim dos tempos, um homem vil (11:36-45). 7. Triunfo final de Israel depois da grande tribulao (cap. 12)
homem mui amado e o livro escrito pelo discpulo amado tm de ser estudados juntos, e so a chave de toda a profecia. O livro de Daniel diferente do resto dos livros que compem o Antigo Testamento. Embora se encontre, em nossas Bblias portuguesas, entre os profetas, no contm mensgens proclamadas em nome do Senhor, maneira dos profetas; nem se trata de um livro histrio no sentido em que o so os livros de Reis, embora comece a partir de um ponto na histria e se mostre claramente interessado nela. Usando sonhos e vises, sinais, smbolos e nmeros ele parece estar declarando o curso da histria e chmando ateno ao seu significado, mapeando seu curso medida em que ela se encaminha ao seu final. Em linguagem tcnica o livro , portanto, escatolgico (gr. eschaton, fim). O livro de Daniel muitas vezes classificado como literatura apocalptica. Foi um tipo de literatura proftica que floresceu de 200 a.C. at 110 d.C., dando destaque a vises de imagens simblicas de seres humanos e espirituais, com significado vago. Nela eram tambm importantes as expectativas de catstrofe csmica iminente, em que as foras do bem venceriam as do mal e proporcionariam o estabelecimento do governo universal messinico. Os profetas Isaas, Ezequiel, Daniel e Zacarias certamente descrevem acontecimentos sobrenaturais de carter csmico que resultam no estabelecimento da era messinica, uma vez que ver o futuro faz parte da profecia. Entretanto, seus livros no podem ser classificados com os muitos apocalipses que pseudo-escritores produziram naquele perodo. Os elementos apocalpticos de Daniel no so uma imagem vaga, mas so explicados em termos do mundo real; nem tampouco so meros decretos de determinismo, mas lembretes do programa divino profetizado para inspirar o povo de Deus a boas aes, bem como a ter confiana esperanosa. um livro apocalptico no verdadeiro sentido de 51 apocalipse, uma revelao de Deus.
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constitui o manancial de onde ele recebeu as vises de Deus (1:8-9; 9:2-20). Na grande profecia das setenta semanas para Israel em 9:24-27, por exemplo, os princpios praticados tiveram antes grande nfase. Essa profecia de quatro versculos precedida de um longo relato de Daniel a estudar Jeremias, a orar, a confessar os seus pecados, a apelar a Deus com base nas suas alianas e compaixo. Deve tambm ser observado que essa revelao de longo alcance foi dada logo aps a experincia de Daniel na cova dos lees (6:1; 9:1). Um objetivo bsico da profecia promover vida piedosa. Nos difceis tempos dos Macabeus, o Livro de Daniel foi sem dvida um fator preponderante na inspirao da coragem piedosa deles, e os estimulou para serem fortes e executarem grandes feitos (11:32).
escreveram suas vises e mensagens. Continuaram a praticar em Babilnia alguns servios religiosos, tinham sacerdotes, guardavam o sbado, circuncidavam, jejuavam, obedeciam a Moiss, cultuavam a Deus, liam as Escrituras e oravam na Sinagoga (da comeou a se espalhar a Sinagoga). Uma minoria de judeus ingressou no paganismo, o resto se manteve firme em Deus e nas suas tradies. Quando Ciro deu liberdade aos cativos para voltarem a sua terra (Jerusalm), muitos deles rejeitaram o convite, pois tinham indstrias, comrcios, propriedades, riquezas que no lhes permitiam voltar terra natal. Como povo escolhido de Deus jamais deveriam ter-se permitido esquecer, mesmo l na Babilnia, das promessas divinas especficas sobre o futuro, as quais foram feitas primeiramente a Abrao e, freqentemente, repetidas e ampliadas nos tempos cruciais de sua histria. Estas promessas asseveravam-lhes que possuiriam a terra de Cana. L construiriam uma cidade e uma casa para o Deus vivo; produziriam uma linhagem de reis que culminaria com o rei divino; seriam abenoados e tornar-se-iam bno para todas as naes da Terra. Para mant-los unidos era necessrio acreditar nesse processo, o que os preservaria ante todas as outras naes. Mas como seria cumprido agora este destino, sob o governo de Nabucodonosor, sob a incerteza da situao mundial, e ante as sublevaes destes novos tempos? Ser que haveria uma mnima possibilidade da promessa feita a Abrao e aos patriarcas de realizar? Eles haviam sido arrancados da terra em que foram plantados. Estavam dispersos em pases distantes. Ser que valia a pena apegar-se a esta tradio do passado e procurar permanecer fiel ao chamado que os patriarcas ouviram tantas vezes? Poderiam atrever-se a esperar que o milagre do grande xodo do Egito viesse a se repetir 52 num novo xodo da Babilnia naqueles dias?
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Filho
Dario Quando tinha 62 anos, assumiu o trono da Caldia depois da tomada da Babilnia por Ciro. Eramlhe subordinados trs presidentes, dos quais Daniel era um deles. Eles tinham autoridade para escrever a todos os povos, naes e lnguas que habitavam em toda a terra. E escreveram um decreto que levou Daniel cova dos lees. Foi neste reinado que Daniel teve a viso das 70 Semanas. Ciro Filho de Cambises e fundador do Imprio Persa, tomou Babilnia e ficou senhor de toda a Sria Ocidental. Respeitava a religio dos vencidos e, em lugar de procurar fundir numa nica nao todas as raas que tinha subjugado, s lhes pedia obedincia e tributo. Permitiu que os judeus voltassem do cativeiro (IICr 36:22-23).
Daniel e trs dos seus companheiros, achando-se em Babilnia, lugar de idolatria e imundcia para o judeu, assentaram no seu corao no se contaminar com estas coisas (Dn 1:8). Toda a comida do rei era oferecida aos deuses. Tendo feito esta resoluo, declararam-na aos chefes dos eunucos. Deus abenoou esta declarao e fez que achassem graa perante o eunuco, para ele ceder ao seu pedido. No fim de dez dias de prova, foram achados mais fortes e mais bonitos do que todos os outros. No somente receberam bnos fsicas, mas tambm Deus aumentou a sua sabedoria e entendimento (Dn 1:19-20). A invisvel mo de Deus dirige todo o curso dos acontecimenos (versculos 2,9) e d no somente sade fsica mas tambm vigor intelectual aos Seus fiis servos. O dom particular de Daniel de entender vises e sonhos era apropriado sua necessidade numa terra em que tal coisa era esperada de homens sbios, e o Deus que era a fonte de todo o conhecimento tambm daria discernimento para distinguir o certo do errado. Assim, no havia por que temer que o estudo da cultura babilnica ou de qualquer cultura pudesse resultar em converso a uma religio estranha. Mas havia mais em jogo do que a sua reputao pessoal ou mesmo a sua f pessoal. Como representantes do nico Deus eles tinham de provar, no contexto religioso altamente competitivo da Babilnia, que o temor do Senhor o princpio da sabedoria. Grande inteligncia e muito trabalho sozinhos no explicam o seu sucesso; a sua sabedoria era um dom de Deus (cf. Cl 1:9; 2:9,19). O dom especfico confiado a Daniel faria dele no apenas um conselheiro de confiana de Nabucodonosor mas tambm um canal de revelao, como o prximo captulo comear a mostrar. Daniel foi logo conhecido no meio dos seus contemporneos por sua piedade e fidelidade, que chegou a ser proverbial (Dn 6:10-11; Ez 14:14,20 e 28:3). Como Jos no Egito, Daniel tambm subiu ao lugar de autoridade revelando sonhos, tornou-se homem de grande f e entendimento. Durante longos anos serviu perante reis em lugares de grandes responsabilidades. Em tudo, porm, foi fiel a Deus na sua vida particular e no seu testemunho pblico.
ANLISE DO LIVRO
Cap.1: JUDEUS NA CORTE DA BABILNIA COSTUMES PAGOS JULGADOS
Significado hebraico Daniel Hananias Misael Azarias Deus julgar Jeov mostrou sua graa Quem como Deus? O Senhor meu ajudador Significado babilnico Beltessazar Sadraque Mesaque Abede-Nego Belt, protetor do rei Iluminado do deus do sol Quem como Vnus? Servo de Nebo
A inteno de Nabucodonosor em mudar a identidade de Daniel e dos jovens judeus pela identidade do povo babilnico foi um fracasso (Dn 1:37). Eles no se esqueceram do seu Deus; antes permaneceram fiis. Daniel props em seu corao no se contaminar (Dn 1:8). Ele e seus amigos no se deixaram controlar pelas circunstncias, mesmo sabendo que recusar obedincia a um decreto real poderia resultar na morte deles. notria a fidelidade de Daniel e seus companheiros. Deus deu graa a Daniel para com o chefe dos eunucos (Dn 1:11-16). A experincia mostra que no h situao qual Deus no possa providenciar uma sada. Daniel e seus companheiros so considerados superiores (Dn 1:1721). A fidelidade desses jovens permitiu que fossem considerados dez vezes melhores que todos os magos e astrlogos da Babilnia. Nisto vemos a pretenso de Satans de exterminar a memria de Jerusalm e dos judeus, fazendo-os misturarem-se com os gentios e assim se acabarem.
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Sim e no!
Daniel e seus companheiros agarraram os privilgios que lhes foram oferecidos na escola aberta por Nabucodonosor. O procedimento deles era cooperar mas sem desviar-se da sua linha, mantendo as suas conscincias fiis em sua lealdade a Deus. Isto significava dizer sim! aos desafios e convites da vida babilnica. Significava enfrentar, realisticamente, a situao presente, e que necessitava de ao e de testemunho. A viso deles era to ampla que no fizeram objeo ao ganharem nomes babilnicos em lugar dos seus prprios nomes (1:7). Ainda que fizessem tais concesses, tinham um esprito de imparcialidade que, a qualquer momento, a resposta no! podia ser dada, clara e abertamente, a qualquer custo (3:18; 6:10). Levantaram o seu protesto em relao comida provinda da mesa real. Pelos padres orientais, compartilhar de uma refeio era se comprometer a uma amizade; tinha uma significao pactual (Gn 31:54; x 24:11; Ne 8:9-12; cf. Mt 26:2628). Assim, aqueles que tivessem se disposto a obedecer nessa questo aceitavam uma obrigao de lealdade ao rei. Parece que Daniel e seus companheiros tenham rejeitado este smbolo de dependncia do rei porque queriam estar livres para cumprir as suas obrigaes prioritrias para com o Deus a quem serviam. A contaminao que temiam no era tanto de natureza ritual como moral, provinda da sutil adulao que representavam as ddivas e favores, que continham, bem no fundo, implicaes de um leal apoio, no importando quo dbias pudessem ser as futuras polticas de ao do rei. O resultado da experincia de dez dias (vs. 15-16) justificou a confiana de Daniel de que a sua sade no sofreria dano. Mesmo um pequeno ato de auto-disciplina, feito por lealdade como um princpio, coloca os servos de Deus sob a Sua aprovao e bno. desse modo que aes atestam a f, e o carter fortalecido para 53 enfrentar situaes mais difceis no futuro. No seu interior eles se mantinham estranhos vida e cultura com que evidenciavam estar inteiramente envolvidos. Nunca negaram a convico de que pertenciam de corpo e alma a outro reino. Cuidavam de nunca perder o contato com a singular e poderosa Palavra de Deus que os alcanava quando se reuniam para ler e orar no sentido de que pudessem compartilhar da mesma viso e esperana que havia inspirado reis, profetas e sbios da sua nao. Eles disciplinavam de tal forma as suas vidas e mentes que, mesmo vivendo em meio a uma Babel de outras vozes, mantinham-se sempre abertos para ouvir o que a Palavra de Deus tinha para lhes dizer. O propsito que tinham ao participarem da escola de Nabucodonosor era para assistir diante do rei (1:5-19), mas estavam
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determinados a faz-lo no como babilnios mas como dedicados israelitas. Permaneciam conscientes de que em todos os seus deveres e tentaes, eles estavam sendo provados, no por Nabucodonosor, mas pelo Deus de Abrao, de Isaque e de Jac, a quem pertenciam e a quem deviam servir e amar antes de tudo o mais. Permaneciam convictos de que o futuro deles como nao dependia de permanecerem separados at a sua volta para casa para retomar a 54 sua prpria vida nacional. Estavam, portanto, dispostos a servir a Babilnia, a edificar-lhe a sociedade e a traar-lhe a histria, mas nunca ao ponto de sacrificar a sua prpria histria nacional em prol daquela da Babilnia. Estavam dispostos a prestar homenagem a Nabucodonosor, mas nunca ao ponto de diminuir a dedicao que davam ao Deus de seus pais.
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Daniel falam do Tempo dos Gentios, mas no falam da Igreja, a qual foi o mistrio escondido durante o tempo do Velho Testamento (Ef 3:5-6).
a. Sabedoria e fora pertencem a Deus; b. Ele quem muda os tempos e estaes; c. Ele remove e estabelece reis; d. Ele d sabedoria aos sbios e conhecimento aos que discernem; e. Ele revela as coisas profundas e escondidas; f. Sabe o que est nas trevas e a luz habita com Ele; g. Graas pela revelao do sonho. Sabendo Arioque, o encarregado de promover a matana, correu ao rei dizendo que havia achado o homem que podia revelar o sonho, como se fosse achado por ele (2:24-25). O seu desejo de honra e glria contrasta com a humildade de Daniel que, antes de revelar o sonho, esclareceu ao rei a fonte de seu conhecimento: ... h um Deus nos cus, o qual revela os mistrios. Contedo e Interpretao do sonho (2:27-45) Daniel explicou ao rei que o sonho seria para o fim dos dias ou para os dias vindouros. E descreveu a esttua do sonho e a pedra cortada sem auxlio de mos. Isto serviria como introduo para a interpretao do sonho. O sonho de Nabucodonosor apresenta o curso do Tempo dos Gentios.
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Daniel, atravs da interpretao, identifica Nabucodonosor pessoalmente com a cabea de ouro (Dn 2:38b), e diz que ele rei de reis. Esta frase era usada para se falar dos imperadores da Babilnia, Mdia e Prsia. A idia era que havia reis debaixo da autoridade de outro rei maior. O segundo reino do sonho o Medo-Persa, e corresponde aos peitos e braos de prata. Este reino sucedeu ao Imprio Babilnico no ano 539 a.C. O ventre e os msculos de bronze representam o Imprio Grego, que foi estabelecido por Alexandre o
Jamais homem algum teve sonho to memorvel. Alm disso, era to necessrio que Nabucodonosor o esquecesse quanto que o sonhasse. Se o prprio rei tivesse sido capaz de relatar o sonho, talvez pudesse haver interpretaes conflitantes; mas o fato de ele ter sido esquecido completamente e depois lembrado por Daniel mediante a inspirao foi prova cabal de que tanto o sonho como sua interpretao provinham do Altssimo. J. Sidlow Baxter.
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Esta sntese est baseada no Manual de Estudos Profticos, de Kepler Nigh. Editora Vida, 1998, p. 34-35.
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Grande no ano de 331 a.C., depois de sua vitria sobre Dario III. O ltimo Imprio, o Romano (27 a.C.), foi dividido primeiro em duas partes (as duas pernas da esttua, 330 d.C., poca de Constantino) e depois em dez partes (os dedos dos ps, futuro). As pernas da esttua, o ltimo Imprio, foram cumpridas na diviso do Imprio Romano em duas partes: o Imprio Romano do Ocidente (Roma) e o Imprio Romano do Oriente (Constantinopla, Imprio Bizantino). Mais de 2500 anos tm-se passado e agora os dedos dos ps da esttua esto prestes a ter o seu cumprimento. A Unio Europia (antes o Mercado Comum Europeu) integrada por um grupo de naes, unidas por motivos econmicos e comerciais, pode representar os dedos da esttua vista por Nabucodonosor em Daniel 2:41. Mesmo que o nmero de membros possa variar at a manifestao do anticristo, sero dez os da aliana quando a besta se apresentar. Atualmente, na Unio Europia existem mais de dez naes, mas a unio final esta ou outra ser a Nova Roma e estar localizada no territrio que geograficamente pertencia ao antigo Imprio Romano. As Naes da Unio Europia j tm formado o seu parlamento e tm como sede Bruxelas, capital da Blgica. As dez naes formaro uma aliana de ferro e de barro. A mistura do ferro e do barro representa a mistura de vrias formas de governo, unidas atravs de alianas (Dn 2:43). A esttua destruda por uma pedra cortada sem auxlio de mos (o Rei Jesus, em sua segunda vinda) e a pedra se expande em forma de um monte que encher toda a Terra (Dn 2:35, 45; Is 2:2; Mq 4:1). O sonho representa a grandeza do poder mundial dos gentios visto pelos olhos de um rei pago, Nabucodonosor. Essa grandeza passageira e ser destruda pelo Rei Jesus em sua vinda. Abaixo da cabea de ouro, os metais perdem o valor, mas ganham fora. Roma era a mais forte em potncia militar e a mais fraca em sistema governamental. Cientificamente tem-se comprovado que o barro cozido de alta resistncia, mas parte-se com facilidade por no ceder presso (baixa elasticidade), agentando at o momento final antes de quebrar-se. O ferro, por outro lado, aparenta ser mais resistente, mas, sob presso, fica deformado: no acontece assim com as cermicas modernas. Utilizando-se a cermica tem-se fabricado motores experimentais de automveis e diversos aparelhos que agentam a fora e as altas temperaturas que destruiriam o prprio ferro.
Tudo isto comprova a inspirao divina do sonho e sua interpretao, j que Deus conhecia a natureza da cermica antes do homem. A pedra cortada sem auxlio de mos destruiu o sistema mundial dos gentios (em sua forma final). ento quando a pedra se tornar um grande monte, que encher toda a terra. A destruio do sistema mundial dos gentios no ocorreu na primeira vinda de Cristo. A ao descrita pela pedra, Cristo, em sua destruio da esttua (smbolo do sistema mundial dos gentios), ter seu fiel cumprimento na segunda vinda (Dn 7:26, 27).
A unidade econmica mundial (mega fuses de empresas) necessria para que se cumpram as profecias da Escritura. (Arno Froese) Essa ilustrao da revista Time representa a unificao do mundo atual certamente estamos vivendo nos tempos finais. (Chama da Meia Noite, junho de 1999, p. 16. Daniel honrado (Dn 2:46-49). Nabucodonosor, humilhado, reconheceu superficialmente o Deus de Daniel, declarando que Ele era o maior entre todos os deuses. No captulo 4, o rei alcanar maior compreenso do nico Deus.
Cap. 3: IMAGEM DE OURO E FORNALHA ARDENTE ORGULHO RELIGIOSO JULGADO a) A imagem de ouro de Nabucodonosor une o imprio (3:1-7) A imagem erigida foi imensa, tendo 60 cvados de altura e 6 de largura (cerca de 30m de altura por 3 de largura)57 o nmero seis indica coisas puramente humanas (ver I Sm 17:4 e Ap 13:18, onde tambm sobressai o nmero humano). Os comentadores admitem que a esttua poderia representar o esprito
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O arquelogo Oppert, que fez escavaes nas runas de Babilnia, em 1854, achou o pedestal de uma colossal esttua, num lugar chamado Duair, que pode ter sido o resto da gigantesca esttua de ouro de Nabucodonosor, que talvez fosse uma imagem dele mesmo.
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da Babilnia, ou o prprio imperador, ou um dos deuses nacionais tradicionais, ou poderia constituir-se num ponto de enfoque sincretista para todas as religies. Champlin sugere que essa imagem de ouro provavelmente representava o panteo do imprio, e talvez deificasse o prprio rei como seu deusmensageiro. O sonho do segundo captulo, em que Nabucodonosor figura como a cabea de ouro da imensa e grotesca imagem, pode ter-lhe sugerido que seria apropriado construir uma imagem dele prprio, para efeitos de autoglorificao. Ao estabelecer culto esttua, o rei estava misturando o poder poltico com a religio. No caso da Babilnia, Nabucodonosor era a lei e o Estado; portanto, prostrar-se perante a esttua era prostrar-se perante Nabucodonosor. Temos aqui a tentativa de uma religio mundial de aparncias, de exterioridades. Algo para ver (v. 3), algo para ouvir (v. 5), mas nada para satisfazer a alma. O incidente representa o conflito entre a adorao ao Deus verdadeiro e o uso humanstico da religio como um meio de incrementar o poder dos governantes deste mundo. O ato de adorar aquela imagem tipificou ento o que haver de acontecer na metade da grande tribulao, com relao ao anticristo. A longa lista de pessoas importantes reunidas para a cerimnia de dedicao da imagem gradua-os com o status de cada um. Assim que comearam a ouvir, comearam a prostrar-se (v. 7) houve uma resposta total e imediata. O rei havia alcanado a unidade que buscava. Baldwin resume: Aqui esto todos os grandes do imprio, caindo estirados sobre os seus rostos diante de um obelisco sem vida, ao som de uma miscelnea musical, regida pela batuta do rei Nabucodonosor. b) Trs judeus protestam (3:8-18) Se no fosse pelos informantes, o rei no teria sabido que os trs homens que havia promovido no lhe deram ateno. Acusaram maliciosamente; esta expresso significa literalmente comer a carne arrancada do corpo de algum; da, difamar. Os acusadores estavam ressentidos pelo fato de ter o rei promovido estrangeiros para estarem acima deles. Agora, est a a oportunidade de obter o favor do rei, revelando-lhe a traio daqueles. Havia inveja e preconceito para com esses vares de Deus somente pelo fato de eles serem judeus. Pelo relato, se v que Daniel no estava presente, talvez estivesse viajando ou doente. Os amigos de Daniel recusaram-se a ajoelhar perante a esttua, isto , recusaram a contaminao com religio falsa. A justia exigia que os trs homens no fossem condenados to somente com base no dizem que e por isso, a despeito da sua furiosa raiva, Nabucodonosor lhes deu uma chance de se retratarem. Era imperativo que o grande rei no perdesse a compostura diante de to magnificente assemblia de delegados internacionais, e ele desafia qualquer deus a livr-los das mos da majestade babilnica.
Os jovens crentes hebreus fizeram a confisso de sua f diante de Nabucodonosor. No h nada que os trs possam dizer em sua defesa. Tecnicamente, eles so culpados, porm tambm havia se dado deles uma imagem falsa. Tudo o que podem fazer se colocar nas mos do seu Deus, ao qual o rei desafiara. Eles no duvidavam do poder do seu Deus de livr-los da fornalha do rei, mas no tinham o direito de presumir que Deus efetivamente o faria. Se no o fizesse, estavam dispostos a assumir as conseqncias, no comprometendo a sua conscincia diante de tal trama ou seja, estavam preparados para arriscar suas vidas em nome daquele a quem serviam Ilustra mais uma vez como o comportamento fiel e leal, mantido durante as decises de questes menos importantes, pode chegar frutificao num testemunho espetacularmente corajoso a Deus na hora da provao mais severa, perante outros. Eles se dispuseram a tornar-se mrtires de sua causa, o que melhor do que a apostasia. c) Livramento na fornalha (3:19-30) A fria do rei diante desse desafio sua autoridade 58 faz com que cometa grandes erros (vs. 3-18): 1. Utilizar os homens mais fortes do exrcito para atar trs mansos hebreus (v. 20). 2. Aquecer demasiado a fornalha se que queria prolongar e multiplicar o sofrimento dos trs jovens, teria de usar menos fogo (v. 19). As fornalhas na Babilnia tinham uma relao com a queima de tijolos (cf. Gn 11:3), os quais eram largamente usados na falta de pedras. O combustvel usado era o carvo, o qual, uma vez que houvesse a necessria circulao de ar, produzia as altas temperaturas exigidas no forno e na fundio (Is 44:12). Alguns fornos de olaria, bastante grandes, tm sido escavados fora de Babilnia. 3. A fornalha superaquecida consumiu os mais fortes soldados do rei. 4. O contra-senso do rei quanto a Deus. Em 2:47, o rei engrandece a Deus, agora o desafia (v. 15). Assim faz o homem que no controla a sua ira, a qual transforma-se em clera ou fria (Sl 37:8). Esta apenas uma das muitas ocasies em que a ira irracionalmente desencaminhada pode levar estultcia e tragdia. O soberbo Nabucodonosor teve um susto (vs. 2426): em vez de trs homens amarrados, ele v quatro homens soltos. O quarto semelhante a um filho dos deuses ou semelhante a um deus e comea a ficar claro para o rei que h um Deus que pode livrar
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O crime da intolerncia religiosa (Dn 3:6). Um infame exemplo disso so os horrores da Inquisio, instituda pela Igreja Romana no Conclio de Tolosa, em 1229. Entre os anos 1540 e 1570 esse tribunal matou 900.000 cristos. Na fomigerada Noite de So Bartolomeu, na Frana, em 24-081572, a Inquisio matou 70.000 cristos.
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algum de sua mo. Quanto mais os perseguisse, tanto mais confirmaria o testemunho deles. Os trs homens esto livres para irem ao seu encontro quando 59 os chama, saindo da fornalha. Impressionado pela ausncia de quaisquer sinais de queimaduras, o rei forado a reconhecer que o Deus deles os havia livrado, reduzindo a nada o decreto de Nabucodonosor. Embora ele possa fazer decretos que so obrigatrios no mundo, o seu poder est longe de ser absoluto. Ele havia deixado fora dos seus clculos o Deus Altssimo (v. 26), cujo poder passa a reconhecer no novo decreto do versculo 29. Este ttulo para Deus freqentemente encontrado na boca de no-judeus (Gn 14:19; Nm 24:16; Is 14:14). O edito declara a religio dos judeus legal no mbito do imprio; ou seja, o rei concedeu uma posio oficial ao judasmo. A f dos judeus podia ser praticada sem perseguio. O rei continuaria a reconhecer outros deuses mas estava certo de que nenhum outro deus faria o que ele vira o Deus dos judeus fazer. O rei moveu-se na direo de um monotesmo piedoso, mas intil falar aqui em algum tipo de converso. Um decreto raro sobre blasfmia contra Deus, sobre falar mal de Deus e por um rei pago! Aqueles hebreus apresentaram seu corpo como sacrifcio a Yahweh (ver Rm 12:1). Ele ficou satisfeito e os devolveu sem ferimentos e sem sequer terem sido chamuscados pelo fogo. Eles se dispuseram a fazer o sacrifcio final e a vida deles foi protegida e, em certo sentido, devolvida. Essas so as lies morais e espirituais que aprendemos da histria. Aqueles jovens obedeceram a Deus e no aos homens (ver At 5:29). Os trs hebreus j tinham recebido altos ofcios por influncia de Daniel (2:4,9), mas agora foram promovidos. O rei fez prosperar os trs jovens, ou segundo outra traduo, constituiu em novas dignidades. Champlin aplica: A histria foi escrita como uma nota geral que mostra que a idolatria um grande mal, e que morrer como mrtir prefervel a contaminar-se com a idolatria.
CONSIDERAES: 1. A grande esttua que Nabucodonosor construiu um smbolo da imagem idlatra que ser construda em honra ao anticristo (Ap 13), em cumprimento das palavras de Jesus em Mt 24:15. Vimos que o tempo dos gentios comeou com a adorao de imagens, e desse modo tambm findar. A Palavra de Deus adverte: Guardai-vos dos dolos (I Jo 5:21). Na vida do cristo, um dolo tudo aquilo que toma o lugar e o tempo que pertencem a Deus. 2. Babilnia na Bblia indica a rebelio dos homens contra Deus; como uma idia humana de governo independente de Deus, comeou em Gn 10 e 11. Em nossos dias, essa rebelio continua, mesmo que disfarada de muitas maneiras. Toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus (II Co 10:5) parte desta rebelio. 3. Babilnia como cabea de ouro do captulo 2 tornase um tipo ou modelo da cabea do sistema gentlico. Esse sistema tem como objetivo eliminar a Deus e exaltar a satans. Nabucodonosor um smbolo do anticristo. E Babilnia um smbolo do sistema poltico-religioso que ser estabelecido nos ltimos dias. 4. Na libertao dos jovens judeus, vemos de forma figurada a libertao do remanescente de Israel durante a tribulao.
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Salvos na fornalha foi um milagre maior do que salvos da fornalha (v. 26). o caso de Lzaro. O milagre da sua ressurreio foi maior do que o da sua cura (Jo 11:44). Deus no nos promete livrar sempre da angstia, mas estar conosco na angstia, se tivermos de atravess-la (Sl 91:15; Is 43:2; Jo 12:26). Ocasionalmente, todos os homens enfrentam situaes em que somente Deus capaz e ento so obrigados a entregar a vida nas mos dele.
2. PRONUNCIAMENTO DE NABUCODONOSOR
Nabucodonosor fez a sua proclamao depois de ter-se recuperado da loucura proveniente do castigo de Deus. A declarao no contm data, mas possvel que tenha ocorrido durante a segunda metade do seu reinado, quando ele esteve em paz e tinha terminado a
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obra de edificao. Note-se que a proclamao dirigida a todos... os povos, naes e lnguas. Nabucodonosor foi o primeiro rei gentio mundial e, ao levar para o cativeiro os judeus, deu incio ao tempo dos gentios, em cumprimento ao mandamento de Deus. Paz vos seja multiplicada, so palavras que mostram uma mudana na vida do rei. Aparentemente, o castigo de Deus sobre Nabucodonosor lhe favoreceu para o seu bem eterno. Quais foram os motivos pelos quais Daniel no interferiu mais cedo? No est declarado, mas deve-se notar que Daniel apareceu por sua prpria vontade (Dn 4:8). Isto mostra a graa que Deus havia dado a ele. A expresso deuses santos (Dn 4:8) pode ser traduzida tambm como Deus santo. O contexto deste captulo indica o uso do singular. A durao da condenao predita de sete tempos, frase que pode significar sete anos. O nmero sete confirma que o castigo era proveniente de Deus. O propsito do decreto (Dn 4:17): (...) a fim de que conheam os viventes que o Altssimo tem domnio sobre o reino dos homens; e o d a quem quer; e at ao mais baixo dos homens constitui sobre eles.
a glria que s pertence a Deus. Nabucodonosor no havia terminado de louvar a ele prprio quando Deus, no mesmo instante, o castigou do alto cu. Sobreveio-lhe uma condio que o fez comportarse como um animal. Alguns tm dado nome a esta enfermidade, como, por exemplo, loucura zoantrpica (considerar-se como um animal). Nabucodonosor andou sete anos com as bestas, simbolizando os ltimos sete anos do Tempo dos Gentios, quando os homens andaro com as bestas. Em vez de olhar para os cus, olharo para a Terra e para as obras humanas. Loucura e bestialidade marcaro a sua natureza durante os sete anos dominados pelas bestas. O juzo cair, mas o trono brotar tipificando as naes que entraro no milnio. O captulo termina com o nome Rei do Cu e Altssimo, o qual ser o nome do Milnio. Nabucodonosor, ao terminar os sete tempos (possivelmente anos) de castigo, experimentou um relacionamento pessoal com o Deus Altssimo. E lhe foi acrescentada maior grandeza (Dn 4:34, 36).
Nota: Os captulos 3 e 4 no falam especialmente do futuro, mas revelam certas caractersticas prevalecentes durante o Tempo dos Gentios. So acontecimentos durante os reinados de Nabucodonosor, Belsazar e Dario acontecimentos histricos que tm um sentido proftico, embora no seja uma profecia direta. Cinco coisas so reveladas: a. Caractersticas morais do tempo dos gentios; b. O que acontecer no fim do tempo dos gentios; c. O restante fiel do povo sofredor de Deus; d. Sua libertao; e. Os gentios reconhecem Deus como Rei e Deus nos cus.
O resultado da soberba a humilhao. H leis espirituais que governam o mundo. Exemplos disto podem ser encontrados normalmente nas pginas da Bblia: O orgulho resulta em humilhao (Mt 23:12); A semeadura determina a colheita (Gl 6:7); O ato de julgar resulta no julgamento de quem julga (Mt 7:2).
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Nabucodonosor; b. A seu filho Evil-Merodaque; c. Ao filho de seu filho Nabonido. Belsazar filho de Nabonido. Historicamente, Belsazar era s um co-regente. Belsazar estava exercendo o comando como vice-rei 61 quando Babilnia caiu. Seu pai (o rei legtimo) Nabonido, talvez estivesse viajando, e Belsazar estava no comando. A queda de Babilnia havia sido profetizada por Jeremias (e outros profetas) quase um sculo antes. Jeremias apresenta muitos detalhes do evento em profecia (Jr 50:2, 3, 24, 26; 51:53-58). A profanao dos vasos sagrados do templo diante de todos, por parte de Belsazar (Dn 5:2, 3), foi o que provocou a ira de Deus. Esta foi a causa da mo aparecer na parede e Belsazar morrer naquela mesma noite (Dn 5:5, 6, 30). A expresso teu pai (Dn 5:11) usada para significar a idia de sucesso. Tem a mesma fora de algum que diz somos filhos de Abrao. A rainha no era a esposa de Belsazar. Ela era a rainha-me. Possivelmente havia sido uma das esposas de Nabucodonosor. O mais correto pensar que ela havia presenciado o que Daniel tinha feito antes e sabia o que ele poderia fazer (Dn 5:10, 11). No tempo desses acontecimentos, Daniel tinha em torno de oitenta e cinco anos de idade, e esse rei blasfemo, certamente, no tinha nenhuma simpatia por este santo ancio. E to pouco valeria ao profeta a simpatia de um rei que, naquela mesma noite, seria derrotado e morto. Um homem de Deus nunca deve agir com a finalidade de receber o que as pessoas lhe 62 oferecem.
nenhum que decifrasse a mensagem, se sua origem era de linguagem natural? Uma resposta seria que Deus os cegou para que ningum desse a interpretao at que Daniel chegasse. As trs palavras aqui empregadas so interpretadas por alguns como representando trs pesos numa escala descendente: uma tonelada, um quilo e uma grama, ou mil reais, um real, um centavo. A simples leitura destas palavras com tal sentido teria sido suficiente para advertir o rei de que ele estava no caminho da degenerao e que aviltara a totalidade da condio do valor do seu reino, a ponto de ser rejeitado por Deus. Tendo lido as palavras, Daniel d a Belsazar um trplice significado: MENE = contado, e pronto para a venda. TEQUEL=pesado, e achado em falta quanto substncia. PARSIM = dividido, isto , entregue aos medos e aos persas. O fato que, sendo de idioma natural ou celestial, as palavras significavam o fim da Babilnia como imprio e a passagem do poder gentlico aos MedoPersas. Todos os sbios da Babilnia ali reunidos no puderam entender a mensagem sem a interveno do profeta, pois era assunto de Deus.
O CUMPRIMENTO DA SENTENA
O salrio do pecado a morte. Naquela mesma noite Belsazar morreu. Era o dia 16 do ms de tisri do ano 539 a.C. quando Babilnia caiu nas mos dos Medo-Persas, cumprindo assim a Palavra de Deus. Com este acontecimento, Daniel teve o privilgio de ver o cumprimento da profecia que ele mesmo havia feito. A cidade de Babilnia estava sitiada por um grande exrcito dos Medos e dos Persas, mas Belsazar confiando na altura dos seus muros, fez um banquete para o qual convidou mil, dos seus grandes, juntamente com suas mulheres e concubinas, ocasio em que blasfemou o nome de Jeov, usando os vasos do Templo de Jerusalm e bebendo em honra dos seus deuses. Com isso completou a medida da sua iniqidade e terminou a pacincia de Deus. O temor de Belsazar foi bastante para ele estar pronto a escutar at a um judeu que pudesse explicar o sentido das palavras. Daniel, j avanado em idade, e cansado com a impiedade do rei, ao entrar na sua presena, no demonstrou a simpatia que teve com Nabucodonosor. Antes, recusando os seus presentes, acusou-o de negligente perante a experincia de seu av e o rei ficou calado. Lendo as palavras to visveis,
A SENTENA
A mo havia permanecido na parede at o momento em que Daniel comeou a dar a interpretao. possvel que as palavras MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM (Dn 5:25) no fizessem parte de nenhum idioma humano. Por outro lado, muitos comentaristas apresentam uma lista de significados desta frase, relacionando-os com alguma linguagem existente na terra. Diante disso, perguntamos: Por que, na presena de tantos sbios no houve
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Por isso no pde oferecer a Daniel o segundo lugar no reino, pois ele era o nmero dois. A Daniel s pde oferecer o posto nmero trs. Daniel se dissocia de qualquer idia de recompensa (v. 17-23). Isto estava em consonncia com a conscincia proftica de que a necessria palavra de sabedoria vinha do Senhor, no podendo ser comprada por preo algum (Nm 22:18; Mq 3:5). Pelo contrrio, era bom que Belsazar, como Naam antes dele (IIRs 5:16), reconhecesse a sua dvida para com o Deus verdadeiro, no se iludindo a si mesmo ao pensar que poderia saldar esta dvida com recompensas, ou comprar o seu livramento do desastre. Joyce G. Baldwin. Daniel, Introduo e Comentrio. Pg. 130.
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mas to incompreensveis na parede, declarou ao rei o juzo que havia de cair naquela mesma noite.
O ato de sacrilgio
Que relevncia especial tinham estes vasos sagrados, a ponto de o abuso deles ser considerado um pecado to srio? O comentrio a seguir de 63 Ronald S. Wallace: A tradio de Israel ensinava que Deus escolhia certas pessoas e certos objetos para seu prprio uso especial. Por causa da escolha dele, e no devido a qualquer qualidade inerente que possussem, estas pessoas ou coisas deviam ser consideradas sagradas e eram chamadas santas. Por exemplo, o povo de Israel como nao chamado na Bblia de povo santo, porque Deus assim o chamou (cf. Dt 7:6-8). O templo chamado o lugar santo, porque Deus o escolheu como sua habitao, onde se encontraria com o seu povo (cf. x 29:43-46; I Rs 8:10; 9:3). Deus estabelecera para este templo um culto com um ritual esmerado. Havia certas coisas e pessoas especialmente separadas e consagradas exclusivamente para serem usadas no culto do templo. Essas pessoas e coisas o sacerdcio, as vestes, o altar, os vasos usados sobre este, os candelabros eram considerados como tendo uma santidade especial, simplesmente porque Deus as escolhera, declarando-as separadas e destinando-as para este tipo de servio (cf. x 40:9-11). Quando o templo ficou pronto, com os acessrios que lhe foram dedicados, o prprio Deus veio numa nuvem e encheu todo o lugar com a sua glria, como que aceitando todas estas coisas para o seu culto para sempre (cf. x 40:34-35; I Rs 8:10-11) . Outra maneira de indicar que o altar e os vasos do templo tinham uma santidade especial era dizer que Deus colocara o seu nome sobre eles (cf. Dt 12:11), de modo que, quando fossem usados no culto e o seu nome fosse invocado na orao e na adorao, Ele honraria e abenoaria o uso santo para o qual foram separados. Belsazar tinha feito mal uso daqueles acessrios que tinham sido separados para o uso exclusivo de Deus, aqueles com os quais Deus ligara o uso do seu nome de uma maneira to graciosa. Tratar tais vasos com desprezo era um desafio contra o terceiro mandamento: No tomars o nome do Senhor teu Deus em vo, porque o Senhor no ter por inocente o que tomar o seu nome em vo. Este mandamento no simplesmente uma proibio do praguejar ou do perjrio. uma proibio a qualquer tipo de uso pervertido ou vo daquilo que Deus nos deu visando ao propsito de buscarmos a sua presena e de conclamarmos o seu nome na orao e na adorao. Alm disso, quando Belsazar ostentou os vasos na sua mesa e fez do abuso deles o ponto alto da sua orgia, houve desafio e presuno no seu ato. Era um
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sinal de que acreditava que esse Deus, de cujos vasos estava abusando e cujo nome estava insultando, no tinha agora na Babilnia qualquer realidade ou poder. Belsazar contava com a ausncia desse Deus. Havia, portanto, na sua ao, um desafio ao Deus de Israel. Daniel enfatiza que Belsazar conhecia plenamente as implicaes do que estava fazendo: Sabias tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do cu (vs. 22-23). Seu pecado foi uma escolha absurda e deliberada a favor das trevas, em contraste com o pleno brilho da luz o que faz com que o pecado seja realmente pecado a deciso da vontade, plena luz do conhecimento, no sentido de no receber a graa de Deus, nem reconhecer a sua luz, nem guardar a sua lei mas, sim, com dio dele, preferir as trevas e a transgresso. Em tal atitude e deciso da vontade contra o Deus vivo, h sempre o elemento irracional, demonaco e absurdo. Belsazar desprezou as coisas santas porque desprezava a Deus; e espatifou-se contra a rocha do Deus de Israel. Agora Belsazar teria de aprender que esse Deus era o Deus vivo, sempre vigilante quanto aos seus prprios interesses, bem como aos interesses do seu povo e da humanidade, nunca descartando aquilo que reservara para a sua propriedade exclusiva, e que, portanto, dotara de santidade e separara para o seu uso especial ao aproximar-se dos homens e das mulheres. Sua histria adverte-nos de que todos ns podemos facilmente deslizar para o hbito de no levar Deus a srio, o que pode levar paulatinamente, atravs do contnuo descuido e de um endurecimento silencioso e inflexvel da mente e das atitudes, a formas mais profundas e srias de resistncia, at cessarmos de nos importar com o que anteriormente nos teria comovido, e de ter vergonha ou de enrubescer diante do que antes nos teria chocado. Podemos chegar cedo demais a este ponto de desastre, a no ser que conheamos a nossa fraqueza, precavendo-nos contra ela, atentando diligentemente por que ningum seja faltoso separando-se da graa de Deus (Hb 12:15).
Lies: Os ltimos dias de Belsazar foram dias de concupiscncia, impiedade e blasfmia. Babilnia representa o sistema religioso mundial, especialmente aquele que brotar quando a Igreja for tirada. A ltima Babilnia ser aquele sistema centralizado em Roma que existir no Tempo do Fim, mas no chegar at o fim; conforme Ap 17:16-17, os dez reis o vencero antes do fim dos sete anos. Embora ns no vejamos esses ltimos dias, porque a hora ainda no chegou, estamos j vendo o material de que ser feito. Hoje ouvimos por todo o lado da grandeza de nossa civilizao; entretanto, permeia sobre ela o esprito de
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impiedade e de blasfmia, de incredulidade e nominalismo religioso. Juntamente com a degenerao espiritual, permeia a degenerao moral, com seus luxos e vcios. Sobre a civilizao de hoje est escrito: Mene, Mene. Como Daniel e seu testemunho estavam esquecidos, tambm hoje est esquecida a Palavra de Deus. Esta ser lembrada, mas, como para Belsazar, ser tarde demais. A degenerao moral dos dias de Belsazar, quase no fim do cativeiro, tipifica a degenerao dos gentios quando estiver perto da hora de cortar os ramos bravos e enxertar de novo os judeus, na sua oliveira (Rm 11:23-24). Escutemos a chamada de Deus para nos separar dos males deste dia e honrar a Cristo em nossas vidas, a fim de nos ocuparmos com a sua Palavra e com a sua vontade e no tomarmos parte nos pecados da nossa gerao. Baldwin aplica: Este captulo ilustra a juno de rei e reino em um destino. O descarado desrespeito de Belsazar diante do Altssimo estava de conformidade com o carter nacional, e, eu diria, com a condio humana de todos ns, tal como pintada no Salmo 90. Embora os dias dos homens estejam contados (v. 10), poucos os contam para si mesmos, alcanando um corao sbio (v.12). Belsazar, neste captulo, apresenta uma vvida descrio do insensato, do ateu praticante, que no fim s consegue ainda sustentar a sua posio com a ajuda do lcool, que mascara a dura realidade. Olhado de um outro ponto-de-vista, o captulo contm um comentrio muito perspicaz a respeito da poltica do poder. O captulo todo uma instrutiva avaliao simblica dos perigos e limites, das fontes e responsabilidades do poder nas questes humanas. Faltava liderana, e uma mudana de governo j se fazia premente.
Dario, rei dos Medos e dos Persas, caiu na tentao de ser considerado como um deus (Dn 6:7-9). Isto abriu caminho para que os inimigos de Daniel pudessem acus-lo de falta de respeito ao rei (Dn 6:13). Nada mais distante da verdade. O rei Dario chamou Daniel de: servo do Deus vivo... (Dn 6:20). A ao de Daniel citada como um exemplo de f. Dario mandou que aqueles que denunciaram a Daniel fossem lanados na cova dos lees, lugar que acreditavam ser o sepulcro do varo de Deus. Os lees se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos (Dn 6:24). Deus deu um sinal, pois o leo, por natureza, s mata sua presa para comer. Destaca-se que foram quebrados todos os seus ossos. Isto foi para aquelas pessoas perversas uma morte de angstia e tormento. Ficou claramente demarcada a interveno de Deus. Como resultado, Dario fez uma declarao parecida a que Nabucodonosor havia feito em reconhecirnento ao Deus de Daniel (Dn 6:25-27). Daniel agora com 80 anos ou mais, com a mesma pacincia e f, sabendo que o decreto estava assinado, como de costume entrou em casa e orou ao seu Deus. Este que na mocidade foi fiel, tambm na velhice no se desviou da devoo a Deus. 64 No captulo 3 foi levantada uma imagem de ouro para ser adorada: a deificao do homem. No captulo 6, o homem est posto no lugar de Deus, para receber honra. Essa uma caracterstica de todo o tempo dos gentios, nas figuras de Nabucodonosor, Dario ou Ciro, Alexandre, Imperadores Romanos, Herodes, Roma Papal e, finalmente, o Anticristo (Dn 11:36-37; IITs 2:4).
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Crente carnal carne fresca prato pronto para leo. Este animal no come carne assada. O homem queimado pelo fogo do Esprito Santo no alimenta o inimigo!.