Educação Do Campo - Diferenças Mudando Paradigmas

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CADERNOS SECAD

Braslia DF maro de 2007

Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade

Educao do Campo: diferenas mudando paradigmas

Presidente da Repblica Luiz Incio Lula da Silva Ministro da Educao Fernando Haddad Secretrio Executivo Jos Henrique Paim Fernandes Secretrio de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade Ricardo Henriques

Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad/MEC) Esplanada dos Ministrios, Bloco L, sala 700 CEP 70097-900, Braslia, DF Tel: (55 61) 2104-8432 Fax: (55 61) 2104-8476

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Educao do Campo: diferenas mudando paradigmas

Organizao:

Ricardo Henriques Antonio Marangon Michiele Delamora Adelaide Chamusca

Braslia, Fevereiro de 2007

2007. Secad/MEC

Ficha Tcnica Realizao Departamento de Educao para a Diversidade e Cidadania Armnio Bello Schmidt Coordenao-Geral de Educao do Campo Antnio Marangon Redao Coordenao: Marize Souza Carvalho Pesquisa: Yonar Flvio de Melo Barros Eduardo DAlbergaria Freitas, Gildete Dutra Emerick, Joana Clia dos Passos, Raquel Alves de Carvalho Edio Coordenao: Ana Luiza de Menezes Delgado Carolina Iootty de Paiva Dias, Christiana Galvo Ferreira de Freitas, Shirley Villela Projeto Grco Carmem Machado Diagramao Jos dos Santos Pugas

Apresentao
Os Cadernos Secad foram concebidos para cumprir a funo de documentar as polticas pblicas da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao. O contedo essencialmente informativo e formativo, sendo direcionado queles que precisam compreender as bases histricas, conceituais, organizacionais e legais que fundamentam, explicam e justicam o conjunto de programas, projetos e atividades que coletivamente compem a poltica posta em andamento pela Secad/MEC a partir de 2004. Procuramos contemplar informaes teis a gestores, professores e prossionais da educao que atuam nos Sistemas de Ensino e a parceiros institucionais, tais como o Conselho Nacional de Secretrios de Educao (Consed), a Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime) e demais organizaes com as quais a Secad/MEC interage para consolidar suas aes. Os temas abordados compreendem as questes da diversidade tnico-raciais, de gnero e diversidade sexual, geracionais, regionais e culturais, bem como os direitos humanos e a educao ambiental. So analisados do ponto de vista da sustentabilidade e da incluso social por meio de uma educao que seja efetivamente para todos, de qualidade e ao longo de toda a vida. Para isso, pressupe-se que: i) a qualidade s possvel se houver eqidade isto , se a escola atender a todos na medida em que cada um precisa; e ii) todas as pessoas tm direito de retornar escola ao longo de sua vida, seja para complementar a Educao Bsica, seja para alcanar nveis de escolaridade mais elevados ou melhorar sua formao prossional. O grau de envolvimento dos movimentos sociais nessas temticas intenso e, em muitos casos, bastante especializado, tendo em vista que o enfrentamento da discriminao, racismo, sexismo, homofobia, misria, fome e das diversas formas de violncia presentes na sociedade brasileira foi protagonizado, por muito tempo, por tais movimentos. Assim, o Estado, ao assumir sua responsabilidade em relao ao resgate das imensas dvidas sociais, dentre elas a educacional, precisa dialogar intensamente com esses atores a m de desenvolver polticas pblicas efetivas e duradouras. As polticas e aes relatadas nesses Cadernos esto em diferentes patamares de desenvolvimento, uma vez que algumas dessas agendas j estavam includas, pelo menos, nos instrumentos normativos relacionados educao (e.g. Educao Escolar Indgena e Educao Ambiental), enquanto outras ainda estavam em estgio inicial de discusso e desenvolvimento terico-instrumental (e.g. Relaes tnico-Raciais e Educao do Campo). No caso da Educao de Jovens e Adultos, as intervenes necessrias eram e ainda so de ordem estratgica, abrangendo escala, metodologia e ampliao do investimento pblico em todos os nveis de governo. Esperamos, com esses registros, contribuir para o enraizamento e o aprofundamento de polticas pblicas que promovam a igualdade de oportunidades na educao, a incluso social, o crescimento sustentvel e ambientalmente justo, em direo a uma sociedade menos desigual, mais compassiva e solidria. Ricardo Henriques Secretrio de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade Ministrio da Educao

Educao do Campo

ndice
1. INTRODUO 2. MARCOS INSTITUCIONAIS 2.1. 2.2. 2.3. 2.4.

10 Um breve histrico sobre a Educao do Campo 10 Educao do Campo: conceitos e princpios envolvidos 13 Organizaes que marcaram a Poltica Educacional para o Campo 14 A legislao brasileira e a Educao do Campo 15 18

3. A EDUCAO NO MEIO RURAL BRASILEIRO: DIAGNSTICO

4. ESTRATGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA POLTICA NACIONAL DE EDUCAO DO CAMPO 24 5. PROGRAMAS, PROJETOS E AES DA SECAD PARA A EDUCAO DO CAMPO 27 5.1. Saberes da terra 5.2. Plano nacional de formao dos prossionais da Educao do Campo 5.3. Reviso do Plano Nacional de Educao - Lei n 10.172/2001 5.4. Frum permanente de pesquisa em Educao do Campo 5.5. Apoio Educao do Campo 5.6. Licenciatura em Educao do Campo ANEXO 1 - Parecer CEB 36/2001 e Resoluo CEB 01/2002 Institui as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo ANEXO 2 - Parecer CEB 01/2006 Recomenda a Adoo da Pedagogia da Alternncia em Escolas do Campo

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Anotaes
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1. INTRODUO
O reconhecimento de que as pessoas que vivem no campo tm direito a uma educao diferenciada daquela oferecida a quem vive nas cidades recente e inovador, e ganhou fora a partir da instituio, pelo Conselho Nacional de Educao, das Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo1. Esse reconhecimento extrapola a noo de espao geogrco e compreende as necessidades culturais, os direitos sociais e a formao integral desses indivduos. Para atender a essas especicidades e oferecer uma educao de qualidade, adequada ao modo de viver, pensar e produzir das populaes identicadas com o campo agricultores, criadores, extrativistas, pescadores, ribeirinhos, caiaras, quilombolas, seringueiros vem sendo concebida a Educao do Campo. Os dados ociais disponibilizados pelas instituies federais de pesquisa IBGE, INEP e IPEA, entre outras demonstram uma diferena acentuada entre os indicadores educacionais relativos s populaes que vivem no campo e as que vivem nas cidades, com clara desvantagem para as primeiras. Isto indica que, no decorrer da histria, as polticas pblicas para essas populaes no foram sucientes para garantir uma eqidade educacional entre campo e cidade. Esse documento se destina a contribuir com o debate e a compreenso dos mecanismos e implicaes que tm caracterizado as intervenes do Estado e as aes da sociedade civil para a educao dos povos do campo. Parte da compreenso das nuances conceituais e metodolgicas intrnsecas sua natureza poltico-pedaggica e tem por nalidade informar e esclarecer os gestores pblicos sobre a sua dimenso poltica. Apresenta-se organizado sob os aspectos considerados relevantes para a compreenso do que denominamos Educao do Campo. Primeiramente, apresentado um breve relato histrico sobre o tema, em seguida so identicadas as principais referncias conceituais e organizaes pblicas e populares relacionadas educao voltada para as populaes identicadas com o campo; bem como os marcos legais e legislao em vigor. Na seqncia apresentado um diagnstico que trata da relao entre a demanda e o atendimento educacional dessas populaes, tanto nos seus aspectos quantitativos quanto qualitativos. So apresentadas as principais diculdades enfrentadas pelas escolas, tais como: infra-estrutura, formao e remunerao de professores, acesso e permanncia dos alunos na escola, entre outros. Por m, so apresentados os programas e aes desenvolvidos pelo Ministrio da Educao (MEC) para implementar uma Poltica Nacional de Educao do Campo, por intermdio da Coordenao-Geral de Educao do Campo (CGEC), vinculada ao Departamento de Educao para a Diversidade e Cidadania (DEDC) da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad).

1 Resoluo CNE/CEB n 1, de 03/04/2002.

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2. MARCOS INSTITUCIONAIS2
2.1. Um breve histrico sobre a Educao do Campo
No mbito das polticas pblicas para a educao, pensava-se - e muitos pensam ainda - que o problema a ser resolvido para a educao das populaes que vivem fora das cidades decorria apenas da localizao geogrca das escolas e da baixa densidade populacional nas regies rurais. Isso implicava, entre outras coisas, a necessidade de serem percorridas grandes distncias entre casa e escola e o atendimento de um nmero reduzido de alunos, com conseqncias diretas nos gastos para a manuteno do ento denominado ensino rural. Paralelamente, o modelo escravocrata utilizado por Portugal para colonizar o Brasil e, mais tarde, os adotados pelos prprios brasileiros para a colonizao do interior do pas - de explorao brutal pelos proprietrios de terra dos trabalhadores rurais, aos quais eram sistematicamente negados direitos sociais e trabalhistas - geraram um forte preconceito em relao aos povos que vivem e trabalham no campo, bem como uma enorme dvida social. Ao mesmo tempo, a suposio de que o conhecimento universal, produzido pelo mundo dito civilizado deveria ser estendido ou imposto - a todos, de acordo com a capacidade de cada um, serviu para escamotear o direito a uma educao contextualizada, promotora do acesso cidadania e aos bens econmicos e sociais, que respeitasse os modos de viver, pensar e produzir dos diferentes povos do campo. Ao invs disso, se ofereceu, a uma pequena parcela da populao rural, uma educao instrumental, reduzida ao atendimento de necessidades educacionais elementares e ao treinamento de mo-de-obra. Em 1932, foi lanado o Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova3, que buscava diagnosticar e sugerir rumos s polticas pblicas de educao e preconizava a organizao de uma escola democrtica, que proporcionasse as mesmas oportunidades para todos e que, sobre a base de uma cultura geral comum, possibilitasse especializaes para as atividades de preferncia intelectual (humanidades e cincias) ou de preponderncia anual e mecnica (cursos de carter tcnico) agrupadas em: extrao de matrias-primas - agricultura, minas e pesca; elaborao de matrias-primas - indstria; distribuio de produtos elaborados - transportes e comrcio. Nessa proposta, as demandas do campo e da cidade eram igualmente consideradas e contempladas.
2 Esta seo do Caderno Temtico foi baseada no Relatrio da Conselheira Edla de Arajo Lira Soares, que fundamenta as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo, aprovado em 4 de dezembro de 2001. 3 Escola Nova um dos nomes dados a um movimento de renovao do ensino que foi especialmente forte na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, na primeira metade do sculo XX. Os primeiros grandes inspiradores do movimento foram o escritor Jean-Jacques Rousseau e os pedagogos Heinrich Pestalozzi e Freidrich Frebel. No Brasil, as idias da Escola Nova foram introduzidas j em 1882 por Rui Barbosa e ganharam especial fora com a divulgao do Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, de 1932, quando foi apresentada uma das idias estruturais do movimento: as escolas deviam deixar de ser meros locais de transmisso de conhecimentos e tornar-se pequenas comunidades, onde houvesse maior preocupao em entender e adaptar-se a cada criana do que em encaixar todas no mesmo molde. O documento foi assinado por: Fernando de Azevedo, Afrnio Peixoto, A. de Sampaio Doria, Ansio Spinola Teixeira, M. Bergstrom Loureno Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira de Almeida Jr., J. P. Fontenelle, Roldo Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venncio Filho, Paulo Maranho, Ceclia Meirelles, Edgar Sussekind de Mendona, Armanda lvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nbrega da Cunha, Paschoal Lemme e Raul Gomes.

Anotaes
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Entretanto, a separao entre a educao das elites e a das classes populares no s perdurou como foi explicitada nas Leis Orgnicas da Educao Nacional, promulgadas a partir de 1942. De acordo com essas Leis, o objetivo do ensino secundrio e normal seria formar as elites condutoras do pas e o do ensino prossional seria oferecer formao adequada aos lhos dos operrios, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados, aqueles que necessitam ingressar precocemente na fora de trabalho. 4 Na dcada de 60, a m de atender aos interesses da elite brasileira, ento preocupada com o crescimento do nmero de favelados nas periferias dos grandes centros urbanos, a educao rural foi adotada pelo Estado como estratgia de conteno do uxo migratrio do campo para a cidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1961, em seu art. 105, estabeleceu que os poderes pblicos instituiro e ampararo servios e entidades que mantenham na zona rural escolas capazes de favorecer a adaptao do homem ao meio e o estmulo de vocaes prossionais. O mesmo enfoque instrumentalista e de ordenamento social veio a caracterizar a formao de tcnicos para as atividades agropecurias. Em meados da dcada de 1960, por ocasio da implantao do modelo Escola-Fazenda no ensino tcnico agropecurio, os currculos ociais foram elaborados com enfoque tecnicista para atender ao processo de industrializao em curso. No mesmo perodo, ocorreu um vigoroso movimento de educao popular. Protagonizado por educadores ligados a universidades, movimentos religiosos ou partidos polticos de orientao de esquerda. Seu propsito era fomentar a participao poltica das camadas populares, inclusive as do campo, e criar alternativas pedaggicas identicadas com a cultura e com as necessidades nacionais, em oposio importao de idias pedaggicas alheias realidade brasileira. (RIBEIRO, 1993:171) Em 1964, com a instaurao do governo militar, as organizaes voltadas para a mobilizao poltica da sociedade civil entre elas o Centro Popular de Cultura (CPC), criado no ano de 1960 em Recife-PE; os Centros de Cultura Popular (CCP), criados pela Unio Nacional dos estudantes em 1961 e o Movimento Eclesial de Base (MEB), rgo da Confederao Geral dos Bispos do Brasil sofreram um pesado processo de represso poltica e policial. Essa represso resultou na desarticulao e na suspenso de muitas dessas iniciativas. Ao mesmo tempo em que reprimiu os movimentos de educao popular, o governo militar, diante da elevada taxa de analfabetismo que o pas registrava, buscando atingir resultados imediatamente mensurveis, instituiu o Movimento Brasileiro de Alfabetizao Mobral, o qual se caracterizou como uma campanha de alfabetizao em massa, sem compromisso com a escolarizao e desvinculada da escola. No processo de resistncia ditadura militar, e mais efetivamente a partir de meados da dcada de 1980, as organizaes da sociedade civil, especialmente as ligadas educao popular, incluram a educao do campo na pauta dos temas estratgicos para a redemocratizao do pas. A idia era reivindicar e simultaneamente construir um modelo de educao sintonizado com as particularidades culturais, os direitos sociais e as necessidades prprias vida dos camponeses.
4 Leis Orgnicas do Ensino Secundrio (Decreto-Lei n. 4.244/42), do Ensino Industrial (Decreto-Lei n.4.073/42); do Ensino Comercial (Decreto-Lei n. 6.141/43); do Ensino Primrio (Decreto-Lei n. 8.529/46), do Ensino Normal (Decreto-Lei n. 8.530/46) e do Ensino Agrcola (Decreto-Lei n. 9.613/46).

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Nesse ambiente poltico, aliando mobilizao e experimentao pedaggica, passam a atuar juntos sindicatos de trabalhadores rurais, organizaes comunitrias do campo, educadores ligados resistncia ditadura militar, partidos polticos de esquerda, sindicatos e associaes de prossionais da educao, setores da igreja catlica identicados com a teologia da libertao e as organizaes ligadas reforma agrria, entre outras. O objetivo era o estabelecimento de um sistema pblico de ensino para o campo, baseado no paradigma pedaggico da educao como elemento de pertencimento cultural. Destacam-se nesse momento as aes educativas do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comisso Pastoral da Terra (CPT), da Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e do Movimento Eclesial de Base (MEB). Outras iniciativas populares de organizao da educao para o campo so as Escolas Famlias Agrcolas (EFAs), as Casas Familiares Rurais (CFRs) e os Centros Familiares de Formao por Alternncia (CEFAs). Essas instituies, inspiradas em modelos franceses e criadas no Brasil a partir de 1969 no Estado do Esprito Santo, associam aprendizado tcnico com o conhecimento crtico do cotidiano comunitrio. A proposta pedaggica, denominada Pedagogia da Alternncia, operacionalizada a partir da diviso sistemtica do tempo e das atividades didticas entre a escola e o ambiente familiar. Esse modelo tem sido estudado e elogiado por grandes educadores brasileiros e apontado pelos movimentos sociais como uma das alternativas promissoras para uma Educao do Campo com qualidade. A partir desse contexto de mobilizao social, a Constituio de 1988 consolidou o compromisso do Estado e da sociedade brasileira em promover a educao para todos, garantindo o direito ao respeito e adequao da educao s singularidades culturais e regionais. Em complemento, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei n 9.394/96) estabelece uma base comum a todas as regies do pas, a ser complementada pelos sistemas federal, estaduais e municipais de ensino e determina a adequao da educao e do calendrio escolar s peculiaridades da vida rural e de cada regio. Em 1998, foi criada a Articulao Nacional por uma Educao do Campo, entidade supra-organizacional que passou a promover e gerir as aes conjuntas pela escolarizao dos povos do campo em nvel nacional. Dentre as conquistas alcanadas por essa Articulao esto a realizao de duas Conferncias Nacionais por uma Educao Bsica do Campo - em 1998 e 2004, a instituio pelo Conselho Nacional de Educao (CNE) das Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo, em 2002; e a instituio do Grupo Permanente de Trabalho de Educao do Campo (GPT), em 2003.

Anotaes

A criao, em 2004, no mbito do Ministrio da Educao, da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade, qual est vinculada a CoordenaoGeral de Educao do Campo, signica a incluso na estrutura estatal federal de uma instncia responsvel, especicamente, pelo atendimento dessa demanda a partir do reconhecimento de suas necessidades e singularidades.

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2.2. Educao do Campo: conceitos e princpios envolvidos


Para se conceber uma educao a partir do campo e para o campo, necessrio mobilizar e colocar em cheque idias e conceitos h muito estabelecidos pelo senso comum. Mais do que isso, preciso desconstruir paradigmas, preconceitos e injustias, a m de reverter as desigualdades educacionais, historicamente construdas, entre campo e cidade. A viso urbanocntrica5, na qual o campo encarado como lugar de atraso, meio secundrio e provisrio, vem direcionando as polticas pblicas de educao do Estado brasileiro. Pensadas para suprir as demandas das cidades e das classes dominantes, geralmente instaladas nas reas urbanas, essas polticas tm se baseado em conceitos pedaggicos que colocam a educao do campo prioritariamente a servio do desenvolvimento urbano-industrial. A constituio de ncleos escolares para as populaes camponesas nos permetros urbanos, locais onde em geral esto concentrados os bolses de pobreza das cidades, associada organizao de um sistema de transporte de estudantes da zona rural para esses ncleos, revela a idia subjacente a essas polticas de que as crianas e adolescentes do campo possuem os mesmos interesses, motivaes e necessidades daqueles que vivem nas reas urbanas e que devem ser educados para uma futura vida na cidade. No paradigma da Educao do Campo, para o qual se pretende migrar, preconiza-se a superao do antagonismo entre a cidade e o campo, que passam a ser vistos como complementares e de igual valor. Ao mesmo tempo, considera-se e respeita-se a existncia de tempos e modos diferentes de ser, viver e produzir, contrariando a pretensa superioridade do urbano sobre o rural e admitindo variados modelos de organizao da educao e da escola. Esse pensamento tem como orientao o cumprimento do direito de acesso universal educao e a legitimidade dos processos didticos localmente signicados, somados defesa de um projeto de desenvolvimento social, economicamente justo e ecologicamente sustentvel. Neste projeto de desenvolvimento, a escola do campo tem um papel estratgico. A necessidade de mudana do paradigma da educao rural para o da educao do campo se d no s pela anlise crtica da escola rural como tambm das propostas desenvolvimentistas para o campo, em geral centradas no agronegcio e na explorao indiscriminada dos recursos naturais. Os conceitos relacionados sustentabilidade e diversidade complementam a educao do campo ao preconizarem novas relaes entre as pessoas e a natureza e entre os seres humanos e os demais seres dos ecossistemas. Levam em conta a sustentabilidade ambiental, agrcola, agrria, econmica, social, poltica e cultural, bem como a eqidade de gnero, tnico-racial, intergeracional e a diversidade sexual.

5 O termo urbanocntrico aqui utilizado para se referir a uma viso de educao na qual o modelo didtico-pedaggico utilizado nas escolas da cidade transferido para as escolas localizadas nas zonas classicadas como rurais, sem que sejam consideradas as reais necessidades das populaes identicadas com o campo.

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Nesse contexto, as escolas do campo so aquelas que tm sua sede no espao geogrco classicado pelo IBGE como rural, assim como as identicadas com o campo, mesmo tendo sua sede em reas consideradas urbanas. Essas ltimas so assim consideradas porque atendem a populaes de municpios cuja produo econmica, social e cultural est majoritariamente vinculada ao campo.

2.3. Organizaes que marcaram a poltica educacional para o campo


Mapear as organizaes pblicas que ao longo da histria tm se incumbido da educao para as populaes rurais um exerccio de identicao de intenes e expectativas colocadas pelos diversos governos brasileiros para com o povo do campo. No incio do sculo passado, o Governo brasileiro estimulou a criao de instituies educativas patronais no meio rural para atender crianas (especialmente meninos) rfs ou oriundas de famlias pobres, sem meios para custear uma educao prossional satisfatria, assim como meninos-de-rua oriundos das cidades. De acordo com Boeira (2006)
O ensino prtico agrcola e a criao de agncias como os patronatos agrcolas serviam como um paliativo na relocao da pobreza dos centros urbanos na primeira Repblica. Inicialmente rurais e agrcolas, por necessidade e tambm por convenincia, os patronatos destinavam-se a prestar assistncia infncia desvalida das cidades. Os patronatos estavam vinculados ao Servio de Povoamento, este inserido no MAIC6. O Patronato Agrcola assumiu o binmio transformao e controle do espao rural inseridos na colonizao estatal.

A criao do Ministrio da Educao e Sade Pblica, em 1930, apesar de apontar para a organizao de um sistema nacional de ensino, no contemplou uma estrutura organizacional para a educao rural, a qual continuou subordinada ao Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio. A partir daquele momento, a populao camponesa passou a ser alvo de campanhas educativas dispersas que tinham como objetivo xar homens e mulheres no campo, sendo o ensino primrio e o aprendizado agrcola de nvel elementar includos nas estratgias dos projetos de colonizao agrria. Nesse contexto, foram criadas, a partir do nal da dcada de 1950, agncias de desenvolvimento regional - tais como a Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Superintendncia do Desenvolvimento do Sul (Sudesul) - e rgos federais de colonizao e reforma agrria - Superintendncia da Poltica da Reforma Agrria (Supra), Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrrio (Inda) e Instituto Brasileiro de Reforma Agrria (Ibra), Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra). Das aes educativas desses rgos podemos destacar o Programa Intensivo de Preparao de Mo-de-obra Rural (Pipmoa), iniciado em 1963 e retomado em 1972. No mbito do Ministrio da Educao, com o objetivo de reunir em um s rgo todas as unidades federais de ensino agrcola, foi criada, em 1973, a Coordenao
6 O autor se refere ao ento Ministrio da Agricultura Indstria e Comrcio.

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Nacional de Ensino Agrcola (Coagri), vinculada ao ento Departamento de Ensino Mdio. Essa coordenao tinha como funo prestar assistncia pedaggica e nanceira a todos os estabelecimentos federais de ensino tcnico agrcola e adotava uma poltica centralizada e padronizada para todas as regies do pas. No perodo nal do regime militar, as polticas pblicas para a educao do campo continuaram a seguir a mesma lgica dos projetos integrados que somavam assistencialismo7 e preparao elementar de mo-de-obra agrcola. A elaborao pelo MEC do II Plano Setorial de Educao, Cultura e Desporto, em 1980, resultou na criao de programas dessa natureza, tais como o Programa Nacional de Aes Scioeducativas e Culturais para o Meio Rural (Pronasec) e o Programa de Extenso e Melhoria para o Meio Rural do Nordeste (Edurural-NE). Em 1998, foi institudo o Programa Nacional de Educao da Reforma Agrria (Pronera) junto ao Ministrio Extraordinrio da Poltica Fundiria (MEPF), hoje Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA). Este programa representa uma parceria estratgica entre Governo Federal, instituies de ensino superior e movimentos sociais do campo para elevao de escolaridade de jovens e adultos em reas de reforma agrria e formao de professores para as escolas localizadas em assentamentos. Para ampliar e institucionalizar a participao dos movimentos sociais na formulao de polticas pblicas para o campo foram criados, no mbito do MDA, em 1999, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel para Agricultura Familiar (Condraf); e do MEC, em 2003, o Grupo Permanente de Trabalho de Educao do Campo (GPT). Esses colegiados trabalham com o Governo Federal para a institucionalizao, disseminao e enraizamento das polticas pblicas para a Educao do Campo, entre outras. A criao da Coordenao-Geral de Educao do Campo, no mbito da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao, tambm um marco organizacional que demonstra a vontade do Governo Federal de consolidar a Educao do Campo como poltica pblica permanente.

2.4. A Legislao Brasileira e a Educao do Campo


Somente a partir da Constituio de 1988 foi que a legislao brasileira relativa educao passou a contemplar as especicidades das populaes identicadas com o campo. Antes disso, a educao para essas populaes foi mencionada apenas para propor uma educao instrumental, assistencialista ou de ordenamento social.8
7 O termo assistencialismo aqui utilizado em contraponto assistncia social. Segundo Marcos Rolim, Na Assistncia Social, procura-se garantir queles que se encontram em situao de fragilidade as condies para que alcancem os seus direitos, a comear pelo direito ao amparo. Parte-se do princpio que os segmentos desfavorecidos so igualmente titulares de direitos e que esses direitos lhes tm sido sonegados. [...] J o assistencialismo, ao praticar a ateno s populaes desfavorecidas, oferece a prpria ateno como uma ajuda, vale dizer: insinua, em uma relao pblica, os parmetros de retribuio de favor que caracterizam as relaes na esfera privada. pelo valor da gratido que os assistidos se vinculam ao titular das aes de carter assistencialista. O que se perde aqui a noo elementar de que tais populaes possuem o direito ao amparo e que, portanto, toda iniciativa pblica, voltada ao tema da assistncia caracteriza dever do Estado. (ROLIM, Marcos. Crnicas. Assistncia Social e Assistencialismo. Disponvel em: http://www.rolin.com.br/cronic5.htm. Acesso em: 25/01/2007.) 8 Considera-se como instrumental as iniciativas educacionais nas quais o ensino se restringe ao necessrio para a vida cotidiana e para realizao de tarefas laborais simples; assistencialista, aquelas que possuem conotao lantrpica, nas quais a responsabilidade do Estado para com a oferta de educao em reas rurais transferida para a iniciativa privada em troca de incentivos scais; e, de ordenamento social, aquelas em que o Estado utiliza a

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A Constituio Federal de 1934 foi a primeira a destinar recursos para a educao rural, atribuindo Unio a responsabilidade pelo nanciamento do ensino nessas reas, mas as polticas pblicas necessrias para o cumprimento dessa determinao nunca foram implementadas. A relao de submisso da educao s necessidades inerentes industrializao foi armada na Constituio de 1937, a qual vinculou a educao ao mundo do trabalho, obrigando sindicatos e empresas privadas, inclusive rurais, a ofertarem o ensino tcnico nas reas a eles pertinentes, aos seus liados e funcionrios e aos lhos destes. Constava ainda a garantia de que o Estado contribuiria para o cumprimento dessa obrigao. No entanto, esse dispositivo nunca foi regulamentado, conforme exigia a Carta Constitucional e as aes no foram postas em prtica. A Constituio de 1946 conferiu importncia ao processo de descentralizao do ensino, sem desresponsabilizar a Unio pelo atendimento escolar. Vinculou recursos para as despesas com educao e assegurou a gratuidade do ensino primrio. Entretanto, apesar de determinar o incremento do ensino na zona rural, transferiu empresa privada, inclusive s agrcolas, a responsabilidade pelo custeio desse incremento. No que diz respeito aprendizagem para o trabalho, estabeleceu a obrigatoriedade das empresas industriais e comerciais em ministrarem a aprendizagem aos seus trabalhadores menores, mas deixou de fora as empresas agrcolas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) de 1961 (Lei n 4.024/61) revelava uma preocupao especial em promover a educao nas reas rurais para frear a onda migratria que levava um grande contingente populacional do campo para as cidades, gerando problemas habitacionais e estimulando o crescimento dos cintures de pobreza hoje existentes nos grandes centros urbanos. J a LDB de 1971 (Lei n 5.692/71), sancionada em pleno regime militar, fortaleceu a ascendncia dos meios de produo sobre a educao escolar, colocando como funo central da escola a formao para o mercado de trabalho, em detrimento da formao geral do indivduo. A educao para as regies rurais foi alvo dessa mesma compreenso utilitarista ao ser colocada a servio da produo agrcola. A Constituio de 1988 um marco para a educao brasileira porque motivou uma ampla movimentao da sociedade em torno da garantia dos direitos sociais e polticos, dentre eles o acesso de todos os brasileiros educao escolar como uma premissa bsica da democracia. Ao armar que o acesso ao ensino obrigatrio e gratuito direito pblico subjetivo (Art. 208), ergueu os pilares jurdicos sobre os quais viria a ser edicada uma legislao educacional capaz de sustentar o cumprimento desse direito pelo Estado brasileiro. No bojo desse entendimento, a educao escolar do campo passa a ser abordada como segmento especco, prenhe de implicaes sociais e pedaggicas prprias.

Anotaes

A LDB de 1996 reconhece, em seus arts. 3, 23, 27 e 61, a diversidade sociocultural e o direito igualdade e diferena, possibilitando a denio de diretrizes operacionais para a educao rural sem, no entanto, romper com um projeto global de educao para o pas. A idia de mera adaptao substituda pela de adequao, o que signica levar em conta, nas nalidades, nos contedos e na metodologia, os proeducao para manipular o comportamento da sociedade, a m de atender a interesses econmicos ou polticos, em geral restringindo a liberdade de expresso e o acesso informao.

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cessos prprios de aprendizado do estudante e o que especco do campo. Permite, ainda, a organizao escolar prpria, a adequao do calendrio escolar s fases do ciclo agrcola e s condies climticas. Por meio da Emenda Constitucional n 14 e da Lei n 9.424/1996, foi institudo o Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio (Fundef). Esse fundo acelerou o processo de universalizao do acesso ao ensino fundamental, redistribuindo recursos nanceiros para o nanciamento dessa modalidade de ensino em todo o pas. Esses recursos variam em funo do nmero de alunos efetivamente matriculados em cada sistema de ensino, denindo valores diferenciados para as modalidades em que os gastos so maiores, o que beneciou a educao nas escolas localizadas em zonas rurais, mas no o suciente para reverter o quadro de abandono em que estas se encontravam9. Em 2001, foi promulgado o Plano Nacional de Educao (Lei n 10.172/2001), o qual, embora estabelea entre suas diretrizes o tratamento diferenciado para a escola rural, recomenda, numa clara aluso ao modelo urbano, a organizao do ensino em sries, a extino progressiva das escolas unidocentes e a universalizao do transporte escolar. Observe-se que o legislador no levou em considerao o fato de que a unidocncia em si no o problema, mas sim a inadequao da infra-estrutura fsica e a necessidade de formao docente especializada exigida por essa estratgia de ensino. Por outro lado, a universalizao do transporte escolar, sem o necessrio estabelecimento de critrios e princpios, gerou distores, tais como: o fechamento de escolas localizadas nas reas rurais e a transferncia de seus alunos para escolas urbanas; o transporte de crianas e adolescentes em veculos inadequados e sucateados; e a necessidade de percorrer estradas no pavimentadas e perfazer trajetos extremamente longos. Finalmente, as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica das Escolas do Campo10, aprovadas tambm em 2001 pelo Conselho Nacional de Educao, representam um importante marco para a educao do campo porque contemplam e reetem um conjunto de preocupaes conceituais e estruturais presentes historicamente nas reivindicaes dos movimentos sociais. Dentre elas o reconhecimento e valorizao da diversidade dos povos do campo, a formao diferenciada de professores, a possibilidade de diferentes formas de organizao da escola, a adequao dos contedos s peculiaridades locais, o uso de prticas pedaggicas contextualizadas, a gesto democrtica, a considerao dos tempos pedaggicos diferenciados, a promoo, atravs da escola, do desenvolvimento sustentvel e do acesso aos bens econmicos, sociais e culturais.

9 Maiores informaes sobre esse quadro podem ser encontradas nos diagnsticos sobre a educao do campo disponveis na pgina eletrnica www.inep.gov.br do INEP/MEC, bem como na seo 3 deste documento. 10 Parecer 36/2001, da Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao, aprovado em 04/12/2001.

Educao do Campo

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3. A EDUCAO NO MEIO RURAL BRASILEIRO: DIAGNSTICO11


Ainda que permanea a tendncia de urbanizao da populao brasileira, dados do IBGE constatam um expressivo contingente de pessoas que vivem no campo. Alm disso, conforme documento elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira do Ministrio da Educao:
[...] se considerarmos como critrios de ruralidade a localizao dos municpios, o tamanho da sua populao e a sua densidade demogrca, conforme prope Veiga (2001), entre os 5.560 municpios brasileiros, 4.490 deveriam ser classicados como rurais. Ainda de acordo com esse critrio, a populao essencialmente urbana seria de 58% e no de 81,2%, e a populao rural corresponderia a, praticamente, o dobro da ocialmente divulgada pelo IBGE, atingindo 42% da populao do pas. Dessa forma, focando o universo essencialmente rural sugerido pela proposta do pesquisador, possvel identicar em torno de 72 milhes de habitantes na rea rural. (BRASIL. MEC/Inep, 2006: 07-08).

As pesquisas realizadas pelo Inep tm apontado como principais diculdades em relao educao do campo: insucincia e precariedade das instalaes fsicas da maioria das escolas; diculdades de acesso dos professores e alunos s escolas, em razo da falta de um sistema adequado de transporte escolar; falta de professores habilitados e efetivados, o que provoca constante rotatividade; falta de conhecimento especializado sobre polticas de educao bsica para o meio rural, com currculos inadequados que privilegiam uma viso urbana de educao e desenvolvimento; ausncia de assistncia pedaggica e superviso escolar nas escolas rurais; predomnio de classes multisseriadas com educao de baixa qualidade; falta de atualizao das propostas pedaggicas das escolas rurais; baixo desempenho escolar dos alunos e elevadas taxas de distoro idade-srie; baixos salrios e sobrecarga de trabalho dos professores, quando comparados com os que atuam na zona urbana; necessidade de reavaliao das polticas de nucleao das escolas e de implementao de calendrio escolar adequado s necessidades do meio rural. No que diz respeito ao perl socioeconmico da populao rural, os indicadores mostram que grande a desigualdade existente entre as zonas rural e urbana e entre as grandes regies. Segundo dados organizados pelo Inep, em 2004, cerca de 30,8 milhes de cidados brasileiros viviam no campo em franca desvantagem social. Apenas 6,6% da populao rural economicamente ativa apresentava rendimento real mdio acima de 3 SM. Na zona urbana, nessa mesma faixa de renda, concentrava-se 24,2% da populao. Na Regio Sul, a faixa de rendimento acima de 3 SM concentrava
11 Esta seo do Caderno Temtico foi baseada no documento elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep/MEC) intitulado Panorama da Educao do Campo. Braslia: Inep/MEC, 2006.

Anotaes
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CADERNOS SECAD

13,6% da populao rural, enquanto na Regio Nordeste este percentual correspondia a 1,7%, sendo que da populao tinha rendimento mdio inferior a 1SM.
Tabela 1- Nmero de pessoas de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativas, por categoria de rendimento real mdio e situao do domiclio - Brasil e Regies Geogrficas - 2004 Pessoas de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativas Classe de rendimento Total At 1/2 Mais de 1/2 Mais de Mais de Mais de Mais de 5 Mais de 10 Mais de SM a 1 SM 1 a 2 SM 2 a 3 SM 3 a 5 SM a 10 SM a 20 SM 20 SM Brasil Urbana 75.741.787 7,1 15,4 28,9 11,2 12,0 7,7 3,3 1,2 Rural 17.118.341 16,3 22,5 21,2 5,6 3,9 1,9 0,6 0,2 Norte Urbana 4.897.374 7,1 21,5 29,6 10,2 9,6 5,7 2,1 0,7 Rural 2.030.855 8,9 21,4 22,2 6,1 5,2 2,3 0,6 0,4 Nordeste Urbana 17.014.318 16,0 24,3 25,0 6,5 6,2 3,9 1,8 0,7 Rural 7.600.656 25,2 25,7 15,9 2,7 1,0 0,5 0,1 0,0 Sudeste Urbana 36.325.549 4,2 11,7 29,2 12,9 14,1 9,0 3,9 1,3 Rural 3.345.441 10,6 24,2 28,0 7,8 5,1 2,6 0,7 0,4 Sul Urbana 11.821.370 4,3 11,8 31,6 13,5 14,7 9,5 3,9 1,4 Rural 3.142.846 8,3 15,6 23,3 8,9 7,7 4,1 1,5 0,3 Centro Oeste Urbana 5.683.176 4,9 15,0 32,7 11,4 12,2 8,0 3,9 1,9 Rural 998.543 7,4 16,9 29,7 9,5 6,5 3,1 0,9 0,4 Fonte: IBGE - PNAD 2004 (tabela 1867 do SIDRA); Tabela elaborada pela DTDIE. Brasil e Regio Geogrfica Situao do domicilio

Sem rend. 11,6 27,0 12,8 32,5 14,7 27,8 11,2 19,8 8,7 29,6 9,6 25,1

Sem decl. 1,6 0,9 0,7 0,5 1,0 1,1 2,6 0,9 0,7 0,6 0,4 0,4

Para os especialistas, estamos diante da vulnerabilidade da populao do campo, decorrente do desamparo histrico a que vem sendo submetida, a qual se reete nos altos ndices de analfabetismo e no baixo desempenho escolar. Assim, conforme tabela abaixo, 25,8% da populao rural adulta (de 15 anos ou mais) analfabeta, enquanto na zona urbana essa taxa de 8,7%. Observe-se que, em regies onde as condies socioeconmicas so controladas e igualadas ao grupo urbano, o desempenho dos alunos igual.
Tabela 2 - Taxa de analfabetismo da populao de 15 anos ou mais por situao do domiclio - Brasil e Grande Regies - 2000/2004
Taxa de Analfabetismo (%) Regies Geogrficas 2000 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 13,6 16,3 26,2 8,1 7,7 10,8 Total 2004 11,4 12,7 22,4 6,6 6,3 9,2 2000 10,3 11,2 19,5 7,0 6,5 9,4 Urbana 2004 8,7 9,7 16,8 5,8 5,4 8,0 2000 29,8 29,9 42,7 19,3 12,5 19,9 Rural 2004 25,8 22,2 37,7 16,7 10,4 16,9

Fonte:IBGE - Censo Demografico 2000 e PNAD 2004; Tabela elaborada pela DTDIE.

Ainda segundo a mesma fonte, conforme tabelas a seguir, em 2004, a taxa de freqncia de crianas entre 7 e 14 anos nas escolas do ensino fundamental das reas urbanas foi de 97,5% e de 95,5% para as crianas da zona rural, demonstrando que, em termos de universalizao, a escola urbana e a rural esto muito prximas. No entanto, a taxa de distoro idade-srie na zona rural se manifesta elevada desde as sries iniciais do ensino fundamental, com cerca de 41,4% dos alunos com idade superior adequada. Essa distoro se reete nas demais sries, fazendo com que esses alunos cheguem s sries nais do ensino fundamental com uma defasagem de 56%. Nas zonas urbanas, essas taxas so de 19,2% para as sries iniciais e de 34,8% para sries nais.

Educao do Campo

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Tabela 3 - Taxa de freqncia lquida ao Ensino Fundamental e taxa de freqncia escola na faixa de 7 a 14 anos por situao do domiclio - Brasil e Grandes Regies- 2000/2004
Regies Geogrficas Taxa de freqncia lquida no Ensino Fundamental (%) Total 2000 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 89,5 83,1 87,1 91,8 92,7 90,1 2004 93,8 92,1 91,6 95,4 95,5 94,2 Urbana 2000 91,4 89,4 89,5 92,4 93,3 91,1 2004 94,4 92,8 92,5 95,5 95,4 94,4 Rural 2000 83,0 70,9 82,5 87,6 90,5 84,2 2004 91,6 90,6 89,7 94,4 95,6 92,6 2000 90,5 86,0 89,4 92,3 90,8 91,0 Taxa de freqncia escola na faixa de 7 a 14 anos (%) Total 2004 97,1 94,9 96,1 98,1 97,8 97,2 Urbana 2000 92,4 91,2 91,1 93,5 92,4 92,5 2004 97,5 95,8 96,5 98,2 97,9 97,5 Rural 2000 83,5 74,3 86,1 82,3 84,8 81,0 2004 95,5 93,0 95,2 96,7 97,5 95,4

Fonte:IBGE - Censo Demogrfico 2000 e PNAD 2004; Tabela elaborada pela DTDIE.

Tabela 4 - Taxa de Distoro idade-srie por nvel de ensino e localizao Brasil e Grandes Regies - 2000/2005 Taxa de distoro idade-srie Regies Geogrficas Ensino Fundamental At a 4 srie Urbana 2000 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 29,0 43,6 48,0 15,9 15,3 26,9 2005 19,2 30,6 30,8 11,8 11,5 18,4 Rural 2000 56,3 63,5 63,1 35,0 20,4 41,8 2005 41,4 53,7 44,5 23,8 15,0 31,4 2000 47,5 62,4 67,6 35,7 31,1 53,1 De 5 a 8 srie Urbana 2005 34,8 46,6 52,0 24,0 23,8 36,4 Rural 2000 66,5 76,9 79,7 53,2 36,6 63,0 2005 56,0 65,2 63,4 38,4 27,5 48,9 2000 54,8 73,3 70,8 48,3 39,9 57,4 Ensino Mdio Urbana 2005 46,0 65,6 64,4 34,9 29,7 44,1 Rural 2000 63,1 76,7 76,7 54,4 39,9 57,7 2005 59,1 73,1 71,6 43,6 31,5 53,6

Fonte: MEC/Inep; Tabela elaborada pela DTDIE.

No caso do Ensino Mdio, entre os jovens de 15 a 17 anos, quando considerada a taxa de freqncia lquida, o quadro muito crtico na rea rural: pouco mais de um quinto dos jovens nessa faixa etria (22,1%) esto freqentando esse nvel de ensino contra 49,4% na zona urbana, como demonstra a tabela abaixo:
Tabela 5 - Taxa de freqncia lquida ao Ensino Mdio e taxa de freqncia escola na faixa de 15 a 17 anos por situao do domiclio - Brasil e Grandes Regies - 2000/2004
Regies Geogrficas Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Taxa de freqncia lquida no Ensino Mdio (%) Total 2000 34,4 19,2 18,9 46,3 45,7 34,4 2004 44,4 27,5 27,9 58,0 53,4 44,9 Urbana 2000 39,8 25,2 25,2 49,0 48,5 37,2 2004 49,4 32,6 34,9 60,0 54,6 47,2 Rural 2000 13,6 4,8 5,8 24,0 34,6 15,4 2004 22,1 13,5 11,6 35,1 48,2 29,2 2000 69,8 65,5 69,6 72,5 65,7 69,0 Taxa de freqncia escola na faixa de 15 a 17 anos (%) Total 2004 81,9 78,6 78,9 85,4 81,7 79,9 Urbana 2000 73,3 73,3 73,8 74,7 68,3 71,8 2004 84,2 81,8 82,5 86,8 82,2 80,7 Rural 2000 55,9 45,4 60,6 53,0 54,5 49,4 2004 71,8 69,6 70,6 69,4 79,9 74,3

Anotaes

Centro-Oeste

Fonte:IBGE - Censo Demogrfico 2000 e PNAD 2004; Tabela elaborada pela DTDIE.

A rede de ensino da educao bsica na rea rural, em 2005, possua 96.557 estabelecimentos, correspondendo a cerca de 50% das escolas do pas. Essa rede atendia a 5.799.387 alunos do ensino fundamental, sendo 4.146.638 matrculas nas sries iniciais e 1.652.749 alunos nas sries nais. O Ensino Mdio na rea rural, em que pese o aumento registrado de 2000 a 2005 pelo Censo Escolar, conta ainda com uma rede

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CADERNOS SECAD

insuciente. Neste h 206.905 matrculas em 1.377 estabelecimentos em todo o Brasil. Isso signica que 71,5% dos alunos das escolas rurais esto no primeiro segmento do ensino fundamental, 28,5% no segundo segmento e apenas 2,5% no ensino mdio.
Tabela 6 - Estabelecimentos e de matriculas por localizao segundo o nvel de ensino e tamanho da escola - Brasil - 2000/2005 Nvel de ensino/Tamanho da escola Ens. Fundamental - 1 a 4 At 50 alunos 51 a 100 alunos 101 a 150 alunos 151 a 300 alunos mais de 300 alunos Ens. Fundamental - 5 a 8 At 50 alunos 51 a 100 alunos 101 a 150 alunos 151 a 300 alunos mais de 300 alunos Ensino Mdio At 50 alunos 51 a 100 alunos 101 a 150 alunos 151 a 300 alunos mais de 300 alunos Urbana Estabelecimento 2000 60.849 9.233 9.480 7.459 16.323 18.354 37.734 3.279 4.253 3.692 8.084 18.426 18.777 1.592 2.401 2.152 4.040 8.592 2005 61.068 8.323 10.756 8.233 16.761 16.995 41.952 3.555 5.504 4.858 10.388 17.647 22.184 1.825 2.872 2.397 4.848 10.242 2000 14.896.653 268.221 703.035 927.938 3.583.834 9.413.625 14.392.191 94.007 320.963 460.162 1.784.365 11.732.694 8.093.173 47.389 181.826 268.196 877.904 6.717.858 Matrcula 2005 14.318.867 255.087 800.995 1.020.456 3.656.896 8.585.433 13.416.307 106.913 416.558 605.264 2.284.617 10.002.955 8.824.397 56.628 216.385 297.440 1.062.772 7.191.172 Estabelecimento 2000 110.853 78.076 21.971 6.323 3.740 743 11.012 4.134 2.935 1.694 1.683 566 679 149 191 144 120 75 2005 88.955 64.097 16.454 4.803 2.945 656 15.764 5.440 4.669 2.418 2.385 852 1.377 290 378 258 285 166 2000 5.314.853 1.974.642 1.518.489 761.474 746.119 314.129 1.114.251 95.143 215.899 206.988 344.988 251.233 99.775 4.779 14.272 17.663 25.181 37.880 Rural Matrcula 2005 4.146.638 1.562.184 1.142.068 577.905 585.693 278.788 1.652.749 145.431 342.658 294.482 491.527 378.651 206.905 9.166 28.098 31.808 59.300 78.533

Fonte:MEC/Inep;Tabela elaborada pela DTDIE.

Quanto aos recursos disponveis, 28,5% dos estabelecimentos no possuem energia eltrica, apenas 5,2% dispem de biblioteca e menos de 1% oferece laboratrios de cincias, informtica e acesso internet.
Tabela 7 - Percentual de estabelecimentos e de matrculas do Ensino Fundamental por localizao segundo a infra-estrutura disponvel na escola Brasil - 2002/2005 Ensino Fundamental Rural 2002 5,2 0,5 0,5 4,0 2,2 10,0 4,2 0,4 96,4 58,3 78,3 79,2 Urbana 2002 65,4 32,7 23,3 63,0 44,0 71,3 75,4 36,0 99,9 100,0 99,7 97,5

Urbana 2002 Biblioteca 58,6 Laboratrio de Informtica 27,9 Laboratrio de Cincias 18,3 Quadra de Esportes 50,7 Sala para TV/Vdeo 38,6 TV/Vdeo/Parablica 56,1 66,0 Microcomputadores Acesso Internet 29,6 99,8 gua 99,8 Energia Eltrica 99,6 Esgoto 97,2 Sanitrio Fonte: MEC/Inep; Tabela elaborada pelo Inep/DTDIE

Infra-Estrutura disponvel na escola

Estabelecimentos (%) 2005 48,2 36,1 19,2 53,8 40,3 45,9 75,9 43,6 100,0 99,9 99,8 99,5

Matrculas (%) 2005 51,5 43,2 23,8 65,0 44,1 56,6 84,3 51,9 100,0 100,0 99,9 99,7

2005 6,1 1,4 0,7 5,6 2,6 9,0 7,4 1,1 98,9 71,5 84,5 87,0

Rural 2002 15,5 2,2 1,7 12,2 7,3 30,4 14,3 1,6 97,7 77,9 88,0 87,6

2005 16,9 5,3 2,3 15,2 7,5 24,2 22,4 4,3 99,4 86,8 92,3 93,7

Segundo o tipo de organizao, temos 59% dos estabelecimentos do ensino fundamental rural formados exclusivamente por turmas multisseriadas ou unidocentes, as quais concentram 24% das matrculas. As escolas exclusivamente seriadas correspondem cerca de 20% e concentram pouco mais de metade das matrculas (2.986.209 alunos). As mistas (multisseriadas e seriadas ) respondem por das matrculas (1.441.248 alunos).

Educao do Campo

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Como reexo dos programas de transporte escolar ou de modelos de nucleao inadequados, observa-se que, em 2005, foram transportados para escolas localizadas em reas urbanas 42,6% dos alunos das sries iniciais do ensino fundamental, residentes na zona rural e atendidos pelo transporte escolar pblico, o mesmo acontecendo com 62,4% dos matriculados nas sries nais. As escolas multisseriadas e unidocentes so um desao s polticas pblicas do campo, uma vez que apresentam historicamente um quadro da ausncia do Estado e de gesto decitria. Por essa razo, tm sido constantemente criticadas pela baixa ecincia e qualidade:
[..] o problema das turmas multisseriadas est na ausncia de uma capacitao especca dos professores envolvidos, na falta de material pedaggico adequado e, principalmente, a ausncia de infraestrutura bsica material e de recursos humanos que favorea a atividade docente e garanta a efetividade do processo de ensinoaprendizagem. Investindo nestes aspectos, as turmas multisseriadas poderiam se transformar numa boa alternativa para o meio rural, atendendo aos anseios da populao em dispor de uma escola prxima do local de moradia dos alunos, sem prejuzo da qualidade do ensino ofertado, especicamente no caso das sries iniciais do ensino fundamental. (Inep, 2006:19)

Os professores da rea rural enfrentam as conseqncias da sobrecarga de trabalho, da alta rotatividade e das diculdades de acesso e locomoo. Alm disso, recebem salrios inferiores aos da zona urbana e esto entre os que tm menor nvel de escolaridade. A proporo de professores leigos, embora tenha declinado, de 2002 a 2005, de 8,3% para 3,4%, ainda elevada, j que 6.913 funes docentes so exercidas por professores com at o ensino fundamental e apenas 21,6% dos docentes das sries iniciais do ensino fundamental cursaram nvel superior. Nas sries nais do ensino fundamental, o percentual de docentes com apenas o ensino mdio corresponde a 46,7% e, com formao superior, 53,1%. J no ensino mdio, 11,3% do professorado est atuando no mesmo nvel de sua formao. Este percentual signicativo devido ao reduzido nmero de estabelecimentos de escolas deste nvel de ensino na zona rural. Segundo o Inep/MEC:

Anotaes
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[...] evidente a necessidade de uma poltica que valorize os prossionais da educao do campo. oportuno destacar as necessidades de aes efetivas focadas na expanso do quadro, na formao prossional adequada e na formao continuada considerando projetos pedaggicos especcos e uma melhoria salarial que estimule a permanncia de prossionais qualicados em sala de aula nas escolas rurais. (Op. Cit. :28)

Os dados e informaes constantes dos estudos e diagnsticos produzidos nos ltimos anos pelo Ministrio da Educao conrmam as anlises produzidas pelos movimentos sociais e justicam suas demandas. Os desaos para uma oferta de educao de qualidade para as populaes identicadas com o campo foram discutidos e sistematizados na I e na II Conferncia Nacional por uma Educao do Campo, realizadas em 1997 e em 2004, respectivamente. O documento nal da II Conferncia apresentou as seguintes demandas:12 1. Universalizao do acesso Educao Bsica de qualidade para a populao brasileira que trabalha e vive no e do campo, por meio de uma poltica pblica permanente que inclua como aes bsicas: o m do fechamento arbitrrio de escolas no campo; a construo de escolas no campo que sejam do campo; a construo de alternativas pedaggicas que viabilizem, com qualidade, a existncia de escolas de educao fundamental e de ensino mdio no prprio campo; a oferta de Educao de Jovens e Adultos (EJA) adequada realidade do campo; polticas para a elaborao de currculos e para escolha e distribuio de material didtico-pedaggico, que levem em conta a identidade cultural dos povos do campo e o acesso s atividades de esporte, arte e lazer. 2. Ampliao do acesso e permanncia da populao do campo Educao Superior, por meio de polticas pblicas estveis. 3. Valorizao e formao especca de educadoras e educadores do campo por meio de uma poltica pblica permanente. 4. Respeito especicidade da Educao do Campo e diversidade de seus sujeitos.

12 Declarao Final da II Conferncia Nacional por uma Educao do Campo. 2004.

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4. ESTRATGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA POLTICA NACIONAL DE EDUCAO DO CAMPO


As aes da Secad para promover a construo de uma poltica nacional de Educao do Campo tm sido fundamentadas pela compreenso de que esta uma reivindicao legtima dos movimentos sociais e sindicais do campo. Para a formulao dessa poltica, a Coordenao-Geral de Educao do Campo da Secad/MEC conta com a participao de diferentes fruns democrticos, em especial do Grupo Permanente de Trabalho de Educao do Campo (GPT), cuja representatividade poltica, institucional e pedaggica est alicerada em sua trajetria, que tem fomentado o debate entre Estado e sociedade, proporcionando a multiplicidade de interlocutores e o respeito s singularidades do campo. As diferentes aes implementadas de 2004 a 2006 - com seus avanos, limites e possibilidades - so uma constatao de que esta singularidade est sendo respeitada. O primeiro passo para a construo das bases para essas polticas foi dado com a publicao do caderno Referncias para uma Poltica Nacional de Educao do Campo, sobre a realidade da educao no meio rural brasileiro, em 2003. A partir dele e dos subsdios apontados pelo GPT, a Secad realizou 25 Seminrios Estaduais de Educao do Campo. Os Seminrios tiveram o papel de provocar a mobilizao, estadual e municipal, deagrando aes conjuntas entre o setor pblico, os movimentos sociais e organizaes no-governamentais em torno da elaborao co-participativa de polticas pblicas de Educao do Campo. Serviram tambm como um canal privilegiado para a divulgao e disseminao das Diretrizes Operacionais da Educao Bsica nas Escolas do Campo. Para dar continuidade ao processo, institucionalizar, fortalecer e enraizar esse novo paradigma em todas as esferas de governo, foram criados, durante os Seminrios, os Comits Estaduais de Educao do Campo, os quais passaram a subsidiar a implementao da poltica de Educao do Campo nos estados e a atuar em parceria com o MEC para dissemin-la junto aos municpios. Exercendo o seu papel de indutora e coordenadora da poltica de Educao do Campo, em mbito nacional, a Secad/MEC, ao longo dos dois ltimos anos, vem empreendendo programas, projetos e atividades, que contribuem para a superao do quadro de precariedade em que se encontram as escolas do campo. Essas aes so dirigidas: melhoria da infra-estrutura fsica e de equipamentos das escolas do campo;

Anotaes

formao continuada de professores, tcnicos e gestores que atuam no Governo Federal, nos estados e municpios, bem como nas instituies de educao ligadas aos movimentos sociais; complementao e reviso das normas legais em vigor que dizem respeito Educao do Campo; ao fomento pesquisa e produo acadmica sobre a temtica nas universidades brasileiras.

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No mbito da poltica de formao inicial e continuada, temos aes em diferentes nveis. Na Educao de Jovens e Adultos, a referncia o Programa Saberes da Terra, proposta de elevao de escolaridade com qualicao prossional socialmente referenciada para jovens agricultores familiares, associado formao dos educadores em servio, em parceria com 12 estados da Federao. Para o ensino superior, em consonncia ao Plano Nacional dos Prossionais da Educao do Campo, temos trs aes em curso: Curso de Especializao em Desenvolvimento Territorial Sustentvel, com a Universidade Federal de Campina Grande; Cursos de Licenciatura em Educao do Campo, envolvendo universidades pblicas federais, para realizao de experincias-piloto; Curso distncia, realizado em parceria com a Universidade de Braslia, destinado a professores, tcnicos e gestores dos sistemas pblicos de ensino e sociedade civil organizada, voltado para a temtica da diversidade na educao. Partindo do pressuposto de que essa poltica pblica, de carter nacional, est em construo com princpios, aes e nanciamento articulados ao Sistema Nacional de Educao temos atuado para estabelecer um patamar de qualidade social, poltica e pedaggica, sustentada pela indissociabilidade das funes pblicas do Estado. Por essa razo, a integrao interministerial tem sido exercida de forma inovadora, como no caso do Programa Saberes da Terra, que executado, de forma articulada, por seis Secretarias de trs diferentes Ministrios - Educao, Desenvolvimento Agrrio e Trabalho e Emprego - e conta ainda com a colaborao dos Ministrios do Meio Ambiente e da Cultura. A relao institucional entre o MEC e entidades que esto articuladas diretamente aos Sistemas Pblicos de Ensino como o caso do Conselho Nacional de Secretrios de Educao (Consed); da Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime); dos comits, programas e fruns da Educao do Campo assim como a presena e colaborao de membros dessas entidades no GPT e em vrias instncias do MEC, representam um avano para a implementao da poltica de Diversidade e Educao do Campo.13 Para reforar ainda mais o enraizamento dessas polticas, ampliou-se tambm a relao entre os movimentos sociais organizados do campo, o MEC e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educao. Os resultados j obtidos permitem-nos armar que: a) houve ampliao da conscincia do direito por parte dos indivduos que vivem no campo e, paralelamente, do cumprimento do dever pblico por parte de seus gestores; b) temos no pas um processo de ampliao da democracia participativa atravs da organizao da sociedade para o controle social; c) a poltica de gesto compartilhada entre governo e sociedade est sendo armada, nas trs esferas pblicas, para conduo da Poltica Pblica do Campo. Dessa forma, podemos inferir que a implementao dessa agenda est a viabilizar uma alterao signicativa no que se refere oferta da Educao do Campo e consolidao dos princpios rmados pelas Diretrizes Operacionais para Educao
13 Essa relao foi rmada na carta-compromisso do encontro do CONSED em Cuiab, ocorrido em 2006.

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Bsica nas Escolas do Campo. E, ainda, que est sendo criada uma poltica de universalizao, com nfase na formao de qualidade, no acesso e na permanncia, bem como na expanso do sistema no ambiente do campo. Contudo, no podemos esquecer que essa expanso no se sustenta se for entendida apenas como ampliao do nmero de escolas, sendo mantidas as atuais condies pedaggicas e de infra-estrutura. Tambm no podemos incorrer no equvoco de tentar transpor para o campo o modelo de escola que predomina nas cidades. preciso garantir uma proposta de organizao do trabalho pedaggico, de formao do professor e de organizao curricular que seja do campo, para o campo e no campo. Assim, os prximos passos para a consolidao e enraizamento desta poltica dizem respeito a um maior aporte nanceiro para as aes em curso, mobilizao das estruturas pblicas e reformulao das normas em vigor. Qualquer ao de poltica pblica a ser desenvolvida, seja pelo MEC ou pelos sistemas de ensino, precisa apresentar alternativas ecazes para a atual situao educacional do campo que inviabiliza a permanncia das crianas, jovens e adultos nas escolas, comprometendo seriamente qualquer projeto de nao.

Anotaes
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5. PROGRAMAS, PROJETOS E AES


5.1. Saberes da Terra
Introduo
Aproximadamente 32 milhes de brasileiros e brasileiras vivem no campo. Para essa populao, o acesso educao escolar continua sendo um desao. O Saberes da Terra: programa nacional de educao de jovens e adultos integrada qualicao social e prossional para agricultores e agricultoras familiares, foi criado pelo Governo Federal para enfrentar as desigualdades educacionais entre o campo e a cidade. Sua metodologia reconhece as necessidades prprias e a realidade diferenciada da populao do campo. O programa estimula e apia o fortalecimento e a ampliao das iniciativas de acesso e permanncia de jovens agricultores familiares na rede pblica de ensino. uma parceria entre os Ministrios da Educao, do Trabalho e Emprego, do Desenvolvimento Agrrio e da Cultura e envolve parcerias locais entre as Secretarias Estaduais e Municipais de Educao, organizaes no-governamentais e movimentos sociais e sindicais do campo.

Objetivo Geral
Elevar a escolaridade de jovens e adultos agricultores familiares, proporcionando certicao correspondente ao ensino fundamental, integrada qualicao social e prossional.

Objetivos Especcos
Estimular, mediante transferncia de recursos tcnicos, materiais e nanceiros, a oferta de cursos de Educao de Jovens e Adultos (EJA) s populaes que vivem no campo; Promover a qualicao prossional de jovens e adultos que vivem no campo integrada Educao Bsica; Fortalecer o desenvolvimento de propostas pedaggicas e metodolgicas adequadas EJA para o campo, integrada formao social e prossional; Realizar formao continuada em metodologias e princpios poltico-pedaggicos voltados s especicidades do campo para os educadores envolvidos no programa; Fornecer e publicar materiais pedaggicos apropriados ao desenvolvimento do programa; Promover o desenvolvimento sustentvel, tornando vivel a vida digna, o trabalho e a cidadania para os povos do campo.

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Justicativa
A desigualdade entre os nveis de escolaridade dos indivduos que vivem no campo e os que vivem nas cidades est claramente demonstrada nas pesquisas populacionais e educacionais. Em todos os indicadores sociais e educacionais as populaes do campo esto em desvantagem, sejam eles relativos matrcula, ao desempenho educacional dos alunos, formao dos prossionais de educao ou infra-estrutura fsica das escolas. Essa realidade aponta para a necessidade de adoo de polticas que revertam a situao da educao oferecida aos indivduos em idade escolar - a m de se impedir que esse quadro se perpetue - e que, ao mesmo tempo, resgatem a dvida histrica da sociedade brasileira para com os jovens e adultos que vivem no campo e no tiveram a oportunidade de freqentar a escola. Para tanto, deve-se enfocar tanto o problema da escolarizao quanto da qualicao prossional, fortalecer e ampliar o acesso e a permanncia de agricultores familiares no sistema formal de ensino, oferecendo oportunidades de elevao de escolaridade, qualicao prossional e desenvolvendo a solidariedade e a cidadania. preciso, ainda, superar a dicotomia histrica entre a Educao Bsica (fundamental, mdia e de jovens e adultos) e a formao prossional. Para isso, deve-se atuar na formao continuada de educadores, professores e coordenadores, de modo a, efetivamente, promover a sua integrao e fortalecer o desenvolvimento de metodologias adequadas s especicidades da Educao de Jovens e Adultos para o campo. A importncia histrica, social e econmica da agricultura familiar para o campo brasileiro outra varivel que deve ser considerada. preciso dar nfase a essa forma de organizao do trabalho, que mantm na famlia o controle sobre as decises que se referem cultura e atividade a ser explorada. O trabalho, exercido pelo grupo familiar, destina-se prioritariamente ao sustento da prpria famlia, mas no exclui a produo de excedentes para comercializao e criao de renda. O Censo Agropecurio 1995/1996, realizado pelo IBGE, revela que, naquele perodo, aproximadamente 85% do total de propriedades rurais do pas pertenciam a grupos familiares. A atividade agrcola, para 13,8 milhes de pessoas representava, praticamente, a nica alternativa de vida, em cerca de 4,1 milhes de estabelecimentos familiares, o que correspondia a 77% da populao ocupada na agricultura. Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela populao brasileira vm desse tipo de produo rural (GUANZIROLI , 2000). A base legal para a instituio de polticas pblicas diferenciadas para o atendimento escolar das pessoas que vivem e trabalham no campo prescreve a adequao do calendrio escolar s condies climticas e ao ciclo agrcola, bem como a contextualizao da organizao curricular e das metodologias de ensino s caractersticas e realidades da vida dos povos do campo. O programa Saberes da Terra se orienta ainda pelos seguintes pressupostos: A Educao de Jovens e Adultos um direito dos povos do campo, um instrumento de promoo da cidadania e deve ser uma poltica pblica dos sistemas federal, estaduais e municipais de ensino;

Anotaes
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O trabalho e a qualicao prossional um direito dos povos do campo; A Educao de Jovens e Adultos uma estratgia vivel de fortalecimento do desenvolvimento sustentvel com enfoque territorial; A educao armao, reconhecimento, valorizao e legitimao das diferenas culturais, tnico-raciais, de gerao, de gnero, da diversidade de orientao sexual e scioambiental; Existem sujeitos sociais que possuem projetos polticos e pedaggicos prprios.

Metas
O binio 2005 - 2006 foi de implantao do projeto-piloto. Para essa fase, estipulou-se as seguintes metas: 1) promover a formao de cerca de cinco mil educandos, com certicao correspondente ao ensino fundamental e qualicao prossional; 2) capacitar cerca de seiscentos prossionais da educao professores, educadores, instrutores, tcnicos e gestores para implementao do Programa; 3) construir, em parceria com estados, municpios e movimentos sociais, uma metodologia de Educao de Jovens e Adultos, integrada qualicao prossional, que possa ser contextualizada s diferentes realidades e necessidades regionais e culturais; e, 4) construir uma metodologia para elaborao de material didtico-pedaggico que possa ser replicada de acordo com o contexto.

Benecirios
Jovens e adultos que atuam na agricultura familiar, residentes no campo, que no concluram o Ensino Fundamental ou que tenham freqentado apenas programas de alfabetizao; Prossionais da educao - professores, educadores, instrutores, tcnicos e gestores - vinculados aos sistemas federal, estaduais e municipais de educao e aos movimentos sociais; Sistemas pblicos de ensino que atuem na Educao do Campo.

Forma de Implementao
O Programa Saberes da Terra coordenado, no mbito federal, por trs instncias que constituem a Coordenao Nacional : Comit Interministerial - formado por representantes do MEC, Secad e Secretaria de Educao Prossional e Tecnolgica (Setec); do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), Secretaria Nacional de Economia Solidria (Senaes) e Secretaria de Polticas Pblicas e Emprego (SPPE); e do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) e Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT). Esse Comit conta, ainda, com a colaborao de representantes do Ministrio da Cultura (MinC) e do Ministrio do Meio Ambiente (MMA). Suas competncias so: i) articular o Programa junto aos diferentes ministrios e poderes pblicos; ii) promover a articulao das aes do Programa com o conjunto de polticas de educao; iii) denir as metas e critrios para seleo de projetos e respectivos proponentes; iv) aprovar os projetos a serem nanciados; v) garantir e orientar a gesto dos recursos necessrios para o desenvolvimento do Programa; e vi) articular aes que
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garantam a representatividade dos movimentos sociais no Programa. Comit Pedaggico - composto pela equipe tcnica dos Ministrios parceiros e representantes pedaggicos dos movimentos sociais, compete a ele: i) construir o referencial pedaggico e metodolgico do Programa, denindo diretrizes e subsdios para a formao inicial e continuada; ii) realizar estudos, anlises, avaliaes e monitoramento das experincias pedaggicas dos Estados a partir do referencial pedaggico e metodolgico das diretrizes do programa; iii) identicar e disseminar as boas prticas desenvolvidas no mbito do programa nos Estados; iv) realizar a anlise pedaggica dos projetos, durante a seleo; v) promover a articulao das aes do programa com o conjunto das polticas de educao; e, vi) convidar eventuais colaboradores para o debate de temas pedaggicos. Coordenao Executiva - feita pela Secad, a qual responsvel: i) pelo planejamento e execuo das atividades de coordenao nacional; ii) pela gesto da poltica nacional, mediante planejamento, acompanhamento, e avaliao dos projetos e respectivos proponentes; iii) pelo acompanhamento in loco da implementao do programa, no que diz respeito gesto poltica, nanceira e pedaggica do programa; iv) pela articulao do programa junto ao Comit Interministerial, ao Comit Pedaggico Nacional e s Coordenaes Estaduais; v) pela articulao nos estados junto aos comits, universidades, movimentos sociais, secretarias estaduais e municipais de educao, Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime); e, vi) pela anlise tcnica dos projetos e da capacidade tcnica dos proponentes. A Coordenao Nacional, com o objetivo de aprofundar a compreenso metodolgica do Programa, realiza Seminrios Nacionais de Formao com os integrantes das equipes estaduais do Programa. No mbito estadual e municipal, o Programa executado, mediante convnio, com os seguintes entes: estados ou municpios representados pela Undime ou associaes de municpios juridicamente constitudas em parceria com as organizaes da sociedade civil, sem nalidades lucrativas, com experincia em EJA do campo. O apoio nanceiro a estados, municpios e outros entes para a implementao do Programa em suas regies denido em edital publicado pelo MEC, contendo as especicaes tcnicas para a apresentao de projetos e qualicao dos proponentes. Em cada estado, regio ou municpio as parcerias so conguradas de acordo com a existncia de entidades que tenham experincia em EJA e/ou trabalhem com a agricultura familiar, e cuja orientao seja compatvel com os princpios que regem o Programa. Os interessados elaboram os projetos bsicos de EJA com elevao de escolaridade e qualicao social e prossional a serem implementados junto s redes pblicas de ensino, para anlise e aprovao pelas instncias que coordenam o Programa em mbito federal.

Anotaes

Metodologia do programa
A Coordenao Nacional do Programa elaborou o projeto bsico que serve de referncia para a construo, pelas equipes estaduais, dos percursos pedaggicos a serem desenvolvidos em cada estado.

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Nos Seminrios Nacionais, as equipes estaduais de formao aprofundam, junto coordenao nacional, as diretrizes pedaggicas do Projeto e trabalham metodologias que podero ajudar na formao dos educadores nos estados. Essa formao inicial e continuada e nela as equipes estaduais trabalham as metodologias a serem desenvolvidas em sala de aula pelos educadores. A organizao curricular do programa Saberes da Terra proposta no projeto-base respeita o ciclo de produo e as culturas das populaes identicadas com o campo e possibilita ao aluno (jovem ou adulto) elevar sua escolaridade, ao mesmo tempo em que se qualica prossionalmente, segundo os princpios da Pedagogia da Alternncia14 e tendo o trabalho como princpio educativo. Sua proposta pedaggica est fundamentada no eixo curricular articulador Agricultura Familiar e Sustentabilidade, que dialoga com os eixos temticos: 1) Agricultura familiar: etnia, cultura e identidade; 2) Desenvolvimento Sustentvel e Solidrio com Enfoque Territorial; 3) Sistemas de Produo e Processos de Trabalho no Campo; e 4) Economia Solidria e Cidadania, Organizao Social e Polticas Pblicas. Os eixos temticos agregam conhecimentos da formao prossional e das respectivas reas temticas para a elevao da escolaridade. A carga horria obrigatria do curso de 3.200 horas, dividida em 2 anos - das quais 2.400 horas, no mnimo, devem corresponder a atividades pedaggicas presenciais envolvendo os estudantes, professores e educadores. As 800 horas no-presenciais correspondem preparao dos estudos e aplicao prtica dos novos conhecimentos, pelo estudante, em suas atividades na famlia ou na comunidade. Cada estado constri o material pedaggico contextualizado realidade local. A metodologia de construo dos materiais pedaggicos tem por princpio a pesquisa participativa. Dessa forma, os formadores, educadores e educandos desenvolvem e aprofundam os princpios propostos no programa nacional, trazendo para o contexto social e ambiental da regio. Tem direito certicao o educando que concluir com aproveitamento o processo formativo e obtiver a freqncia mnima de 75% da carga horria. Os concluintes recebero certicao em Ensino Fundamental com Qualicao Prossional Inicial em Produo Rural. A certicao estar sob responsabilidade das Escolas Agrotcnicas Federais (EAF), escolas estaduais e Centros Federais de Educao Tecnolgica (CEFET), seguindo a regulamentao da instituio certicadora.

Resultados
A primeira etapa de execuo do Saberes da Terra se iniciou em dezembro de 2005, com a seleo de entidades executoras em 12 Unidades da Federao (BA, PB, PE, MA, PI, RO, TO, PA, MG, MS, PR e SC). So Secretarias Estaduais de Educao, representaes da UNDIME nos estados e uma associao de municpios que organizam suas formaes em parceria com as entidades e movimentos sociais do campo. Durante o ano de 2006, a Coordenao-Geral de Educao do Campo organizou, em colaborao com os Ministrios parceiros, 3 seminrios nacionais para formar
14 A pedagogia da alternncia se constitui em um processo educativo em que o aluno alterna perodos de aprendizagem na famlia com perodos na escola. Os ambientes e os tempos escolar e comunitrio so interligados por meio de instrumentos pedaggicos especcos capazes de constituir um conjunto harmonioso entre as comunidades e a ao pedaggica.

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as equipes dos doze estados participantes do programa. O primeiro deles, de 8 a 10 de maro de 2006, teve por objetivo trabalhar as questes que dizem respeito gesto. Nos outros dois seminrios, realizados em abril e setembro do mesmo ano, em Braslia, com durao de 40 horas semanais cada um, foram focados aspectos pedaggicos, a m de aprofundar conceitos e construir coletivamente a metodologia a ser desenvolvida para o Saberes da Terra nos Estados. Est sendo planejada a realizao de novos seminrios nacionais para o ano de 2007. Para a implementao do projeto, no binio 2005/2006 destinou-se cerca de R$ 10.000.000,00 (dez milhes de reais), sendo R$ 8.000.000,00 (oito milhes de reais) provenientes da Secad/MEC (Ao 09507 Apoio a projetos especiais para oferta de Educao Bsica para Jovens e Adultos), R$ 1.000.000,00 (um milho de reais), proveniente do MTE, e R$ 1.000.000,00 (um milho de reais), proveniente do MDA. Esses recursos foram transferidos, mediante convnio, a projetos a serem executados em 2 anos, os quais beneciaro 5.060 jovens agricultores familiares, conforme resumo abaixo: Bahia Executor: Seduc Alunos atendidos: 300 Parceiros: Escola Agrotcnica de Ribeira do Pombal, Escola de Agricultura da Regio de Irec, Semear. Municpios: Conceio do Coit e Ribeira do Pombal. Paraba Executor: Seduc Alunos atendidos: 600 Parceiros: Seec, Servio Nacional da Agricultura (Senar), Comisso Pastoral da Terra, Universidade Estadual da Paraba, Escola Agrotcnica de Sousa, Escola Agrotcnica de Bananeiras. Municpios: Arara, Areia, Bananeiras, Barra de Santa Rosa, Boqueiro, Borborema, Camalau, Cruz do Esprito Santo, Cuit, Duas Estradas, Esperana, Fagundes, Gado Bravo, Itabaiana, Itatuba, Natuba, Pilar, Pitimbu, Pocinhos, Rio Tinto, Salgado de S. Felix, Santa Rita, So Jos dos Ramos. Pernambuco Executor: Seduc Alunos atendidos: 800 Parceiros: Comisso Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Servio de Tecnologia Alternativa (Serta), Federao dos Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco (Fetape), Comunidades Quilombolas. Municpios: Regio Metropolitana Sul, Serto do Araripe, Serto do Alto Paje, Serto do Moxot Ipanema, Litoral Sul, Agreste Centro Norte, Serto do Submdio So Francisco, Agreste Meridional, Vale do Capibaribe, Mata Norte, Mata Sul, Serto do Mdio So Francisco, Serto Central, Mata Dentro.

Anotaes
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Maranho Executor: Seduc Alunos atendidos: 500 Parceiros: Universidade Federal do Maranho, Escola Agrotcnica Federal de So Lus, entidades que compem o Comit Executivo Estadual da Educao do Campo. Municpios: Mirinzal, Central do Maranho, Cedral, Curupuru, Guimares, Alcntra, Turiau, Barreirinhas, Presidente Juscelino, Cachoeira Grande, Axix, Morros, Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro, gua Doce do Maranho, Tutia, Santana do Maranho, Paulino Maranho, Paulino Neves, Pedreiras, So Luiz Gonzaga, Lago do Junco, Lagoa Grande, Peritor, Cod, Capinzal do Norte, Bom Jesus das Selvas, Bom Jardim, Estreto, Imperatriz. Piau Executor: Seduc Alunos atendidos: 400 Parceiros: MST, Fetag, Federao dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf/PI), Associao Regional das Escolas Famlia Agrcola do Piau (Aefa/PI), Colgio Agrcola de Teresina, da Universidade Federal do Piau, Fundao Pe. Antnio Dante Civeiro (Funaci), Fundao Santa ngela. Municpios: Lagoa do So Francisco, Domingos Moro, Milton Brando, Brasileira, Batalha, Barras, Nossa Senhora dos Remdios, Porto, gua Branca, Agricolndia, So Gonalo, Angical, Palmeiras, Altos, Demerval Lobo, Lagoa Alegre, Jos de Freitas, Santa Cruz dos Milagres, So Flix, Elesbo Veloso, Valena, Pimenteiras, Santa Rosa do Piau, Tanque do Piau, So Francisco do Piau, Wall Ferraz, Campinas do Piaus, Floresta do Piau, Simplcio Mendes, Dom Expedito Lopes, Paquet, Santa Cruz do Piau, Coronel Jos Dias, Joo Costa, Pedro Laurentino, Canto do Buriti. Rondnia Executor: Undime Alunos atendidos: 300 Parceiros: Universidade Federal de Rondnia, Escola Sindical Chico Mendes, Centro de Pesquisa de Populaes Tradicionais Cuni (CPPT-Cuni). Municpios: Porto Velho, Candeiras do Jamari, Itapu do Oeste, Cujubim, Campo Novo de Rondnia, Monte Negro, Buritis, Machadinho do Oeste. Tocantins Executor: Seduc Alunos atendidos: 300 Parceiros: Fundao Universidade do Tocantins (Unitins), Escola Agrotcnica Federal de Araguatins. Municpios: Araguatins, Augustinpolis, Buritis do Tocantins, Carrasco Bonito, Esperantina, Stio Novo do Tocantins, So Bento do Tocantins, Cachoeirinha, Campos Lindos. Par Executor: Undime Alunos atendidos: 760 Parceiros: Universidade do Estado do Par, Universidade Federal Rural, EFA/PA, Fata/ PA, Geperuaz/PA, Densa Nova Amafrutas/PA, FVPP/PA, Mova/AJURI/PA, Issar/PA, Cedenpa, Arcafar/PA, Fetagri/PA. Municpios: Breve, Belterra, Concrdia do Par, Igarap Mirim, Ipixuna, Jutiti, Marab, Maracan, Medicilndia, Moju, Pacaj, Paragominas, Portel, Santa Luzia, So Sebastio de Boa Vista, Uruar, Viseu, Xinguar.

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Minas Gerais Executor: Undime Alunos atendidos: 300 Parceiros: CAA NM Centro de Agricultura Alternativa, CEFET. Municpios: Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha: Montes Claros, Almenara, Porteirinha, Telo Otoni, So Joo da Ponte. Mato Grosso do Sul Executor: Seduc Parceiros: CPT, Fetragri, MST, UFMS, UEMS. Alunos atendidos: 300

Municpios: Itaquari, Ponta Por, Dourados, Sidrolndia, Nioaque, Anastcio, Dois Irmos do Buriti, Corumb, Nova Andradina. Paran Executor: Assoc. de Municpios de Cantuquiriguau Alunos atendidos: 400 Parceiros: Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Laranjeiras do Sul, Associao de Pequenos Produtores Rurais de Porto Barreiro, CESAP, Escola Agrotcnica de Rio do Sul. Municpios: Rio Bonito do Iguau, Nova Laranjeiras, Laranjeira do Sul, Reserva do Iguau, Porto Barreiro, Candi, Virmond, Goioxim, Marquinho, Pinho. Santa Catarina Executor: Seduc Alunos atendidos: 400 Parceiros: Escola Agrotcnica Federal de Rio do Sul, Empresa de Assistncia Tcnica (Epagri), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e Via Camponesa. Municpios: Rio do Sul, Itaja, Joinville, Arangu, Canoinhas, Concrdia, So Miguel do Oeste, Lages, Joaaba, So Loureno do Oeste.

5.2. Plano Nacional de Formao dos Prossionais da Educao do Campo


Introduo
A formulao de um Plano Nacional de Formao dos Prossionais da Educao do Campo uma demanda histrica dos professores das escolas do campo e uma das prioridades denidas pelo Grupo Permanente de Trabalho da Educao do Campo (GPT)15. Por essa razo, est sendo construda pela CGEC/Secad/MEC uma poltica nacional de formao, que contempla um sistema nacional articulado e integrado, de formao inicial e continuada de prossionais de Educao do Campo, buscando possibilitar o atendimento efetivo dessas demandas e a diversidade de sujeitos e contextos

Anotaes

presentes nas escolas do campo. A estratgia de implementao deve estabelecer um processo institucional que aproxime instituies de ensino, pesquisa e extenso, em especial as Universidades, das redes de ensino do campo e de suas reais necessidades.

15 Colegiado criado pela Portaria MEC n 1.374/03, para subsidiar a formulao de polticas pblicas para a Educao do Campo.

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Objetivo
Estabelecer uma poltica nacional de formao permanente e especca dos prossionais da Educao do Campo que possibilite o atendimento efetivo das demandas e necessidades dos alunos, educadores, redes de ensino e comunidades do campo.

Objetivos especcos
Promover a valorizao dos prossionais que atuam na Educao do Campo; Financiar aes de formao inicial e continuada de prossionais da Educao do Campo; Estimular parcerias entre poder pblico, universidades e organizaes sociais para a formao inicial e continuada de prossionais de Educao do Campo; Promover convnios com as universidades pblicas para a realizao de cursos de formao continuada para prossionais de Educao do Campo.

Justicativa
A educao escolar constitui um direito social e cabe ao Estado garantir as condies e os recursos para a sua efetivao. Isto pressupe, entre outras condies, realizar no campo a incluso de milhares de crianas, jovens e adultos na formao bsica em condies igualitrias de acesso e permanncia, rompendo com formas seletivas de privilgio ainda vigentes na educao escolar. Dados coletados pelo INEP demonstram as diferenas no grau de formao dos professores da zona rural em relao aos da zona urbana. De acordo com o Censo Escolar de 2005, no ensino fundamental de 1 a 4 srie, apenas 21,6% dos professores das escolas rurais tm formao superior, enquanto nas escolas urbanas esse contingente representa 56,4% dos docentes. O que mais preocupante, no entanto, a existncia de 6.913 funes docentes sendo exercidas por professores que tm apenas o ensino fundamental e que, portanto, no dispem da habilitao mnima para o desempenho de suas atividades. A maioria desses professores leigos atua nas Regies Nordeste e Norte. Um aspecto positivo a ser considerado que a proporo de professores leigos atuando nas sries iniciais do ensino fundamental na rea rural declinou acentuadamente no perodo de 2002 a 2005, diminuindo de 8,3% para 3,4% do total de professores em exerccio nas escolas rurais. O nvel de formao dos docentes que atuam no ensino mdio tambm demonstra a desigualdade entre a educao bsica oferecida populao da zona rural e a da zona urbana. De acordo com o mesmo Censo, apesar de uma rede fsica bastante reduzida, com 14.822 docentes, que atuam em apenas 1.377 estabelecimentos, 11,3% tm escolaridade de nvel mdio. Na zona urbana, esse ndice de apenas 4,2%. Observe-se que, de acordo com a legislao em vigor, esses professores no esto habilitados para atuar no ensino mdio. Verica-se ainda a existncia de 354.316 professores atuando na Educao Bsica em escolas localizadas na zona rural, eles representam 15% dos prossionais em exerccio no pas e so, em mdia, os que possuem menor grau de qualicao e tambm os que recebem os menores salrios.
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A Educao do Campo conta hoje com respaldo legal para exigir um tratamento diferenciado e especco. O art. 28 da LDB (Lei n 9.394/96) estabelece o direito da populao rural a um sistema de ensino adequado s suas peculiaridades regionais e de vida. Com isso, a poltica de atendimento escolar no deve mais se satisfazer com a mera adaptao, o processo escolar deve se adequar e reconhecer a diversidade sociocultural e o direito igualdade e diferena. A Resoluo CNE/CEB n 01/0216, art. 12, nico, recomenda que os sistemas de ensino desenvolvam polticas de formao inicial e continuada, habilitando todos os professores leigos e promovendo o aperfeioamento permanente dos docentes. Recomenda, ainda, em seu artigo 13, que sejam observados o respeito diversidade e o protagonismo de estudantes, educadores e comunidades do campo, bem como desenvolvidas propostas pedaggicas que valorizem a diversidade cultural, os processos de transformao do campo, a gesto democrtica, o acesso aos avanos cientcos e tecnolgicos e os princpios ticos que norteiam a convivncia solidria. Nesse contexto, a formulao de uma poltica nacional de formao especca para a Educao do Campo aspecto central na consolidao de uma abordagem concebida a partir do campo e para o campo, que rompe com a viso urbanocntrica desenvolvida para resolver os problemas da cidade, ou mesmo no intuito de urbanizar o campo. Essa proposta de formao implica, em ltima instncia, a reestruturao das escolas para que estas participem de um novo projeto social de campo, economicamente justo e ecologicamente sustentvel. Uma escola que implemente e consolide, como local privilegiado de sistematizao do conhecimento, um espao de discusso onde se debatam os fundamentos de uma nova ordem social, que leve em conta a sustentabilidade ambiental, agrcola, agrria, econmica, social, poltica e cultural, bem como a eqidade de gnero, tnico-racial, intergeracional e a diversidade de orientao sexual. Essa escola deve se orientar no s para o cumprimento do direito de acesso universal educao como tambm para a legitimao de processos didticos, localmente signicados.

Benecirios
Professores, gestores e pedagogos em exerccio na rede pblica de ensino municipal e estadual, nas escolas comunitrias de Pedagogia da Alternncia, nos programas governamentais nacionais e estaduais de Educao do Campo; Tcnicos em gesto escolar, em multimeios didticos, em infra-estrutura e ambiente escolar e em alimentao escolar; Educadores e educadoras que atuam com educao no escolar em organizaes no-governamentais e movimentos sociais do campo.

Anotaes

Estratgia de implementao
Em dezembro de 2005, foi instituda uma Comisso de Formao no mbito do Grupo Permanente de Trabalho em Educao do Campo, composta por representantes
16 Resoluo CNE/CEB n 1, de 03/04/07, que institui Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo.

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CADERNOS SECAD

da Secad, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (SDT/MDA), do Instituto Tcnico de Capacitao e Pesquisa da Reforma Agrria (Iterra), pesquisadores e professores universitrios, para elaborar uma proposta preliminar de um Plano Nacional de Formao para Prossionais da Educao do Campo. A proposta preliminar foi apresentada ao coletivo do GPT (Consed, Undime, movimentos sociais e sindicais) em maro de 2006. De acordo com a referida proposta, o Plano estrutura-se em duas linhas de ao: 1) poltica de formao inicial e continuada e 2) produo de material didtico-pedaggico e pesquisa. A primeira linha contempla a formao em nvel mdio, bem como a formao superior em nvel de graduao e ps-graduao. Para a formao em nvel mdio, ser promovida a implementao de cursos normais e de cursos tcnicos de acordo com as demandas locais. A formao superior em nvel de graduao dar-se- por meio da promoo de cursos de licenciatura plena em educao do campo. Para o apoio ps-graduao, sero promovidas a implementao de cursos de especializao em educao do campo e a criao de linhas de pesquisa para estabelecimento de cursos de mestrado. A formao continuada e o aperfeioamento prossional dever ocorrer por meio do intercmbio de experincias, com estabelecimento de redes de pesquisadores, realizao de seminrios, criao ou fortalecimento de fruns virtuais, promoo de cursos para aperfeioamento tcnico-pedaggico para os prossionais em exerccio. A segunda linha contempla a formulao e publicao de material didtico-pedaggico especco, bem como a realizao de pesquisas e o mapeamento de informaes que subsidiem a implementao das polticas e a implementao de experincias pedaggicas alternativas. Devido complexidade das aes, ser preciso criar estratgias e planos de trabalho com as demais secretarias do MEC e dos ministrios envolvidos, bem como discutir democraticamente com as secretarias de educao dos estados e universidades a forma de implantao deste plano.

Situao do projeto
A proposta preliminar e as estratgias para implementao de cada ao esto sendo debatidas nas bases dos movimentos sociais com representao no GPT17 e sero incorporadas ao plano nal. A ao 1, relativa formao inicial e continuada diz respeito Licenciatura em Educao do Campo e teve seu processo de formulao concludo em mbito interno, a partir de amplos debates com o GPT, nos quais foram denidas diretrizes, princpios, metodologia, pblico-alvo e forma de implementao. Os projetos-piloto sero executados por universidades pblicas em parceria com a Secretaria de Educao Superior (Sesu) e a Secad.

17 Instituto Tcnico de Capacitao e Pesquisa da Reforma Agrria (ITERRA), Comisso Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rede de Educao do Semi-rido (RESAB), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Confederao Nacional de Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

Educao do Campo

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5.3. Reviso do Plano Nacional de Educao Lei n 10.172/2001


Introduo
A criao do Plano Nacional de Educao (PNE) foi determinada pelo art. 214 da Constituio Federal e tem por objetivo articular as aes voltadas para o desenvolvimento do ensino em seus diversos nveis e modalidades, capazes de conduzir erradicao do analfabetismo, universalizao do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formao para o trabalho e promoo humanstica, cientca e tecnolgica do pas. Por ocasio da formulao do atual PNE, a educao para as populaes identicadas com o campo foi tratada de modo inadequado e insuciente. Educadores e representantes dos movimentos sociais do campo apontam equvocos e omisses em grande parte do diagnstico e nas metas denidas, as quais no correspondem s demandas reais dessas populaes. Considerando-se que o prprio Plano determinava a avaliao de sua implementao pelo Congresso Nacional e o seu aperfeioamento, a CGEC/Secad, em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), elaborou uma proposta para corrigir as distores apontadas.

Objetivo
Tornar o diagnstico, as diretrizes e as metas do PNE condizentes com uma Educao do Campo de qualidade, referenciada nas experincias e contextos de suas populaes e segmentos.

Justicativa
A construo e realizao de um projeto de desenvolvimento nacional alicerado em princpios de justia social e eqidade implicam a garantia de acesso para as populaes do campo educao de qualidade, pblica e gratuita, referenciada em suas diferentes experincias e contextos. O Plano Nacional de Educao (PNE), institudo pela Lei n 10.172/01, estabelece metas a serem cumpridas em dez anos, contados a partir da data de sua aprovao. Para cada um dos nveis e modalidades da educao, assim denidos na LDB, o PNE

Anotaes

apresenta um diagnstico, diretrizes e metas. Alguns dos captulos do PNE se referem educao para as populaes que vivem e trabalham no campo, de forma imprecisa e por vezes imprpria. Seria esperado que as localidades rurais recebessem tratamento diferenciado e especco, porque so elas as que apresentam de forma mais acentuada os problemas cuja soluo o Plano considera prioritria; entretanto, isso no aconteceu.

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Nas diretrizes estabelecidas para o Ensino Fundamental, encontra-se um exemplo claro desse tratamento equivocado, segundo o Plano,
A escola rural requer um tratamento diferenciado, pois a oferta de ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do Pas, e a ampliao da oferta de quatro sries regulares em substituio s classes isoladas unidocentes a meta a ser perseguida, considerando as peculiaridades regionais e a sazonalidade. (BRASIL. PNE, 2002)

A recomendao de que a oferta de quatro sries regulares deve substituir as classes isoladas unidocentes parte de uma compreenso equivocada porque atribui valor negativo a esse tipo de organizao escolar, a qual, em condies favorveis de formao e remunerao do professor e de infra-estrutura adequada, permitiria a oferta de ensino em reas de populao muito rarefeita. Alm disso, a mesma diretriz se limita a estabelecer como meta a ser perseguida a oferta de apenas quatro sries do ensino fundamental, em descumprimento ao preceito constitucional, que estabelece o Ensino Fundamental de oito anos como obrigatrio e gratuito, alm de direito pblico subjetivo. A transformao aventada refora prticas de nucleao escolar que se efetivam pela reunio de vrias pequenas escolas em unidades escolares maiores, com o correspondente transporte de alunos para longe de suas localidades. Pior ainda, refora a tendncia de fechamento das escolas do campo e a transferncia de seus alunos para escolas localizadas na periferia das cidades. Cabe salientar que o transporte escolar tem sido apontado como um dos principais problemas da educao oferecida s populaes do campo, pois tem sido feito de maneira inadequada e, na maioria das vezes, conduzindo crianas das localidades rurais para as urbanas. Como conseqncia de tudo isso temos a estigmatizao dos alunos por parte dos colegas da cidade e, conseqentemente, a reduo de sua auto-estima, com prejuzos para a vida escolar e pessoal e altas taxas de evaso e abandono. Para a Educao de Jovens e Adultos, o diagnstico estabelece:
Como face da pobreza, as taxas de analfabetismo acompanham os desequilbrios regionais brasileiros, tanto no que diz respeito s regies poltico-administrativas como no que se refere ao corte urbano/rural. Assim, importante o acompanhamento regionalizado das metas, alm de estratgias especcas para a populao rural. (Op. Cit)

No entanto, nos objetivos e metas traados, no aparece expresso o meio rural, mas apenas
Estabelecer programa nacional, para assegurar que as escolas pblicas de ensino fundamental e mdio localizadas em reas caracterizadas por analfabetismo e baixa escolaridade ofeream programas de alfabetizao e de ensino e exames para jovens e adultos, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais. (Op. Cit.)

Uma outra questo importante que no foi aventada no plano a formao de prossionais de educao voltada especicamente para as populaes do campo. Entre as metas propostas para o Magistrio da Educao Bsica essa necessidade no sequer mencionada.

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Em virtude de todas estas consideraes, constatou-se a necessidade de elaborao de um diagnstico preciso das decincias e necessidades da educao para a realidade do campo, tendo em vista sua diversidade, bem como o estabelecimento de objetivos e metas pertinentes, que garantam o direito educao para as populaes identicadas com o campo.

Benecirios
Toda a populao do campo, em particular educadores e alunos das escolas do campo, envolvendo segmentos como pescadores artesanais, trabalhadores da pesca, agricultores familiares, agricultores assalariados, trabalhadores rurais temporrios, assentados, ribeirinhos, caiaras.

Estratgias de implementao
A CGEC, em articulao com o GPT, elaborou uma proposta de alterao do PNE para ser apresentada ao Congresso Nacional, em conjunto com as demais propostas do MEC. A dinmica dos trabalhos realizou-se por meio de reunies de uma comisso composta por representantes da Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime) e de movimentos sociais e sindicais de diferentes segmentos do campo organizados em mbito nacional Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Rede de Educao do Semi-rido Brasileiro (Resab), Via Campesina e Centros Familiares de Formao por Alternncia (Ceffa). As discusses foram pautadas pelas Diretrizes Operacionais da Educao Bsica nas Escolas do Campo e por uma orientao de educao voltada para a incluso e a diversidade. A proposta de alterao do PNE est em tramitao no Ministrio da Educao para ser encaminhada ao Congresso Nacional.

5.4. Frum Permanente de Pesquisa em Educao do Campo


Introduo
No perodo de 19 a 21 de setembro de 2005, foi promovido em Braslia o 1 Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo, em parceria com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra). O encontro teve como objetivo debater com pesquisadores de 24 estados brasileiros as principais questes tericas e prticas enfrentadas pelos atores da Educao do Campo. O debate foi estruturado a partir de 4 eixos temticos: 1) O Campo da Educao do Campo; 2) A Produo Pedaggica dos Movimentos Sociais e Sindicais; 3) Escola do Campo e 4) Pesquisa do Campo. A m de dar continuidade a esse debate foi institudo o Frum Virtual de Pesquisa em Educao do Campo, espao de convergncia, troca e articulao de pesquisas e reexes tericas.

Anotaes

Objetivo
Promover, por meio da instituio de uma rede virtual de pesquisadores, o debate acerca da Educao do Campo, bem como a articulao dos pesquisadores e a divulgao das pesquisas em andamento nesta temtica.

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Objetivos especcos
Criar uma biblioteca virtual para divulgao de artigos, textos, dissertaes, teses, entre outros materiais; Criar salas de bate-papo para debate on-line (fruns virtuais) de temas relativos Educao do Campo.

Justicativa
Diversas questes tericas e prticas tm desaado o governo e os movimentos sociais a avanar na construo da Educao do Campo, especialmente no campo terico e metodolgico. Para atingir o modelo almejado de escola do campo so necessrios estudos e pesquisas que contribuam para o conhecimento da diversidade cultural e das especicidades da docncia, entre outros aspectos. O Professor Bernardo Manano, em palestra proferida no I Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo (2005), estabeleceu 1996 como o ano em que comeou a se estruturar a reexo e o debate a respeito da Educao do Campo. Segundo ele, at ento predominava o paradigma do Ensino Rural, no qual o campo visto como apndice produtivo da cidade. Nesse paradigma, a educao oferecida populao rural ou implementada a partir de um vis urbanocntrico e instrumentalista, a m de resolver questes urbanas - tais como conteno de migrao, explorao dos recursos naturais - ou com o objetivo de urbanizar o campo. As polticas pblicas construdas a partir dessa concepo fundamentam-se em conceitos pedaggicos que colocam o campo como a faceta atrasada da cidade e a educao prioritariamente a servio do desenvolvimento urbano-industrial. Esta perspectiva do campo como meio secundrio, atrasado e provisrio cou incrustada nas polticas pblicas de educao do Estado brasileiro at recentemente. O paradigma da Educao do Campo, diferentemente do Ensino Rural, designa o campo como espao de vida, espao geogrco onde se realizam todas as dimenses da vida humana e no apenas um espao de produo de mercadorias. As formulaes tericas da Educao do Campo preconizam a superao do antagonismo entre a cidade e o campo. Campo e cidade so vistos como partes mutuamente complementares. Ao contrrio da pretensa superioridade do urbano sobre o rural, a teorizao da Educao do Campo considera e respeita a existncia de tempos e modos diferentes de ser, viver e produzir, admitindo diferentes modelos de organizao da educao. Para isso, necessria a construo de uma nova base conceitual sobre o campo e sobre a Educao do Campo. O que pressupe aes focadas na perspectiva de se instalar nas instituies de pesquisa e produo de conhecimento, ligadas aos meios acadmicos ou aos movimentos sociais, uma agenda de pesquisa na temtica do campo e da Educao do Campo, cuja estratgia tem sido a de mobilizar pesquisadores e instituies para o tema.

Metas
Implementar o Frum Virtual de Pesquisa, iniciado com 79 participantes do I Encontro Nacional de Pesquisa em Educao do Campo.

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Pblico-alvo
Pesquisadores e pesquisadoras em Educao do Campo; Gestores pblicos; Professores das escolas do campo; Universidades; Sistemas de Ensino.

Estratgia de implementao
O projeto foi desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educao Distncia (Seed) do MEC, a qual cou responsvel pela capacitao de tcnicos da CGEC para o desenvolvimento e administrao do Frum, alm do fornecimento de suporte tcnico para a plataforma e-ProInfo. Essa plataforma um ambiente colaborativo de aprendizagem, desenvolvido pela SEED, que utiliza a tecnologia internet e permite a concepo, administrao e desenvolvimento de diversos tipos de aes, como cursos a distncia, complemento a cursos presenciais, projetos de pesquisa, projetos colaborativos.

Resultados alcanados
A partir da divulgao da criao do Frum, j foram cadastrados 70 pesquisadores e abertos dois fruns, um para discusso da proposta de Licenciatura em Educao do Campo e outro para discusso da proposta de reviso do Plano Nacional de Educao. Foi tambm criada uma Biblioteca Virtual, na qual foram disponibilizados textos sobre Educao do Campo.

5.5. Apoio Educao do Campo


Introduo
O apoio educao do campo realizado por meio da transferncia voluntria de recursos nanceiros a projetos de capacitao de prossionais de educao, reforma e construo de escolas, elaborao ou aquisio de material didtico e apoio tcnico, relativos a todos os nveis de educao. So enfocadas as demandas especcas e diferenciadas das populaes campesinas, tais como: ribeirinhos, pescadores, agricultores familiares, assentados, caiaras, extrativistas, dentre outros, em cumprimento s Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo, institudas pela Resoluo CNE/CEB n 01/02.

Objetivo geral

Anotaes

Promover, mediante apoio tcnico e nanceiro, a melhoria da qualidade do ensino ministrado nas escolas do campo, prioritariamente as de ensino fundamental, com vistas ao desenvolvimento de prticas voltadas para uma educao do campo contextualizada.

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Objetivos especcos
Promover a capacitao dos prossionais da educao do campo professores, tcnicos e gestores das secretarias estaduais e municipais de educao com vistas ao desenvolvimento de prticas orientadas pela valorizao do campo em todos os processos da aprendizagem escolar; Estimular a elaborao, impresso, reproduo, aquisio e distribuio de materiais didticos e pedaggicos, que considerem as especicidades do ambiente do campo e a diversidade social e cultural que os constitui; Estimular a incluso de atividades curriculares e pedaggicas contextualizadas ao campo.

Justicativa
So muitos os elementos que demonstram a desigualdade de tratamento entre as escolas pblicas urbanas e rurais, com claro prejuzo para as ltimas. No entanto, no que se refere aos aspectos sobre os quais incide o presente projeto, as principais questes dizem respeito adoo de prticas voltadas para a valorizao do ambiente do campo, em sua complexidade histrica, cultural, social e econmica, no processo de aprendizagem. Neste sentido, so elementos importantes a estruturao curricular, a organizao do tempo e espao de aprendizagem e a adoo de materiais didtico-pedaggicos em que o campo seja compreendido como elemento dinmico, expresso da riqueza e complexidade da realidade brasileira. A legislao educacional apresenta uma vasta base para a instituio de polticas pblicas voltadas s pessoas que vivem e trabalham no campo. A LDB18, em seu art. 28, estabelece que a oferta de educao bsica para a populao rural seja adequada s peculiaridades da vida rural de cada regio. J o art. 5 da Resoluo CNE/CEB n 01/02 exige que as propostas pedaggicas das escolas do campo contemplem a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, polticos, econmicos, de gnero, gerao e etnia. Em relao formao de professores, o nico do art. 12 da referida Resoluo determina que os sistemas de ensino desenvolvam polticas de formao inicial e continuada, habilitando todos os professores leigos e promovendo o aperfeioamento permanente dos docentes. A capacitao do educador tem sido considerada uma das variveis mais relevantes para a progresso e o aprendizado dos alunos, dada a importncia deste prossional no processo de aprendizagem. Essa compreenso foi conrmada nos Seminrios Estaduais de Educao do Campo, realizados pela SECAD/MEC em 25 estados entre 2004 e 2006. A inadequao do material didtico-pedaggico utilizado nas escolas, no qual no se faz referncia ao campo ou seu ambiente e suas populaes so representadas de forma estereotipada e preconceituosa, um aspecto ressaltado nos mesmos seminrios e em diversos fruns voltados para essa discusso.
18 Lei n 9.394/96, que institui as Diretrizes e Bases da Educao Nacional.

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Metas
As metas para este projeto so estipuladas anualmente, tendo como benecirio nal os alunos matriculados nas escolas pertencentes aos sistemas de educao contemplados com os recursos conveniados.

Benecirios
So benecirios nais os alunos matriculados no ensino fundamental em escolas do campo das redes municipais e estaduais de ensino ou em instituies comunitrias, confessionais ou lantrpicas que desenvolvem atividades na educao do campo. J os benecirios diretos so as escolas apoiadas tcnica e nanceiramente e os prossionais, professores e tcnicos capacitados.

Forma de implementao
Anualmente so publicadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) resolues que regulamentam a transferncia voluntria de recursos da dotao oramentria da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (Secad), por meio de convnios. O apoio nanceiro pode ser pleiteado por instituies federais, estaduais, municipais ou por entidades da sociedade civil sem ns lucrativos que apresentem projetos educacionais sob a forma de Plano de Trabalho (PTA), conforme disposies constantes no Manual de Orientao para Assistncia Financeira a Programas e Projetos Educacionais, publicado pelo FNDE. Os projetos so analisados pela Coordenao-Geral de Educao do Campo (CGEC) que utiliza como critrios para a anlise e aprovao os princpios e diretrizes preconizados pelas Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo. No caso de propostas de entes pblicos, conferida prioridade aos municpios ou estados com maior nmero de matrculas nas escolas do campo em relao ao total da matrcula no ensino fundamental. Para a elaborao de material didtico-pedaggico, a seleo leva em conta a pertinncia do contedo em relao realidade local, tendo em vista a valorizao da cultura dos diferentes segmentos do campo e sua incorporao nas atividades de aprendizagem. Como forma de otimizar o alcance dos recursos tambm conferida prioridade aos projetos provenientes de territrios, regies e outros recortes histricogeogrcos priorizados por programas que demandam aes integradas do Governo Federal.

Parceiros Institucionais
Fundo Nacional de Desenvovimento Educacional O FNDE tem o papel de agente nanceiro. Operacionaliza a execuo dos projetos de iniciativa dos entes pblicos e privados para obteno de nanciamento, desde a publicao da Resoluo at a nalizao da prestao de contas. Secretarias Estaduais e Municipais de Educao So os executores dos projetos conveniados. Funcionam tambm como parceiros na implementao de projetos-piloto e de experincias pedaggicas inovadoras.

Anotaes
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CADERNOS SECAD

Organizaes no-Governamentais Atuam como executoras dos projetos, parceiras na experimentao de propostas pedaggicas inovadoras e interlocutoras da Secad com os movimentos sociais.

Financiadores
O projeto nanciado com recursos da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao e de Projetos de Cooperao Internacional.

Resultados alcanados
Em 2004, foram alocados pela Ao 0946 Apoio Educao do Campo, R$ 2.027.756,69 e rmados 14 convnios com entidades no-governamentais e Secretarias Estaduais de Educao, que apresentaram projetos nos termos da Resoluo CD/ FNDE N 46/2004. Como resultado da execuo desses projetos foram beneciadas 4.702 escolas, nas quais estavam matriculados cerca de 44.243 alunos, sendo capacitados 700 tcnicos e 9.226 professores. No ano de 2005, foram beneciadas 2.377 escolas estaduais e municipais de ensino fundamental, nas quais estavam matriculados 282.747 alunos, sendo capacitados 338 tcnicos e 10.690 professores. Os projetos foram elaborados nos termos da Resoluo CD/FNDE N 15/2005, tendo sido celebrados 165 convnios, que totalizaram valores da ordem de R$ 9.330.613,07, provenientes da Ao 0946 Apoio Educao do Campo. Ainda no ano de 2005, por meio da Ao 09CW Apoio Reestruturao da Rede Fsica Pblica, e da Ao 09EV Apoio Aquisio de Equipamentos para a Rede Pblica, ambas pertencentes ao Programa 1061- Brasil Escolarizado, foram nanciados, mediante convnio, 47 projetos de construo, ampliao e/ou aquisio de equipamento para escolas, sendo beneciadas 81 escolas, 15.661 alunos e 536 professores. Foram investidos recursos da ordem de R$ 5.580.880,66. Em 2006, foram realizados 71 convnios com prefeituras, secretarias estaduais e entidades no-governamentais de todo o pas, sendo aplicados R$ 6.500.000,00 (seis milhes e meio de reais). Os projetos que deram origem aos convnios foram apresentados em conformidade Resoluo CD/FNDE N 16/2006, sendo beneciadas 5.952 escolas do campo, nas quais estavam matriculados 414.074 alunos, com capacitao de 389 tcnicos e 19.986 professores.

5.6. Licenciatura em Educao do Campo


Introduo
O Programa de Apoio Formao Superior e Licenciatura em Educao do Campo uma iniciativa da Secad/MEC e da Secretaria de Educao Superior (Sesu), cujo objetivo apoiar programas integrados de licenciaturas que proponham alternativas de organizao do trabalho escolar e pedaggico e viabilizem a expanso da educao bsica para o campo, com a qualidade exigida pela dinmica social e pela necessidade de se reverter a histrica desigualdade que sofrem os povos do campo.
Educao do Campo

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A proposta apoiar experincias-piloto de formao em nvel superior de professores especializados para atuarem em escolas do campo, denidas como aquelas que tm sua sede no espao geogrco classicado pelo IBGE como rural, e mais amplamente as que, mesmo tendo sua sede em reas consideradas urbanas, por atenderem a populaes de municpios cuja produo social e cultural est majoritariamente vinculada ao campo, tm sua identidade denida nesta relao.

Objetivo
Promover a formao de educadores para atuar nas diferentes etapas e modalidades da educao bsica dirigidas s populaes que trabalham e vivem no campo, atravs do estmulo criao, nas universidades pblicas de todo pas, de cursos regulares de Licenciatura em Educao do Campo.

Objetivos especcos
Formar e habilitar professores para a docncia multidisciplinar em escolas do campo, nas seguintes reas do conhecimento: Linguagens, Artes e Literatura; Cincias Humanas e Sociais; Cincias da Natureza e Matemtica; e Cincias Agrrias. Promover a construo de projetos de formao de educadores que sirvam de referncia para polticas pblicas e cursos regulares de formao, tendo em vista a expanso da educao bsica de qualidade.

Justicativa
De acordo com o INEP (2006:24), em 2005, apenas 21,6% dos professores de 1 a 4 srie das escolas rurais possuam formao superior, contra 56,4% dos docentes de escolas urbanas. Alm disso, 6.913 funes docentes eram exercidas por professores que tinham apenas o ensino fundamental, a maioria deles atuando nas regies Nordeste e Norte. Embora essa situao seja grave, os dados revelaram tambm um aspecto positivo, a proporo de professores leigos atuando nas primeiras sries do ensino fundamental na rea rural declinou acentuadamente no perodo de 2002 a 2005, com uma reduo de 8,3% para 3,4% do total de professores em exerccio. A disparidade entre o nvel de formao dos docentes do ensino mdio que atuam na zona rural e os da zona urbana tambm grande. Ainda segundo o INEP, apesar da rede fsica na zona rural ser bastante reduzida, com 14.822 docentes que atuam em 1.377 estabelecimentos, 11,3% dos docentes possuem escolaridade de nvel mdio, enquanto na zona urbana esse percentual de 4,2%. De acordo com o Censo dos Prossionais do Magistrio da Educao Bsica realizado pelo Inep em 2003, a remunerao dos professores das reas rurais era bem inferior dos que lecionavam em escolas urbanas. Nas sries iniciais do Ensino Fundamental, o salrio mdio era de R$ 452,00 na rea rural e de R$ 766,10 na rea urbana. J nas sries nais, os professores de escolas rurais recebiam, em mdia, R$ 558,60, ao passo que os das escolas urbanas recebiam R$ 907,00. A situao s se equiparava no ensino mdio, onde os salrios eram praticamente equivalentes: R$ 1.077,40 na rea rural e R$ 1.059,40 na rea urbana.

Anotaes
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Em resumo, existem 354.316 professores atuando na educao bsica do campo, os quais representam 15% dos prossionais em exerccio no pas. Esses professores, em sua grande maioria, so os menos qualicados e os que recebem os menores salrios. Esse quadro de problemas da educao do campo, associado demanda por uma qualicao especca para os educadores, tem sido constantemente debatido nos encontros que a Secad vem promovendo nos ltimos anos, especialmente nos 25 Seminrios Estaduais de Educao do Campo, promovidos entre 2004 e 2005, em parceria com Secretarias Estaduais e Municipais de Educao, Conselhos Estaduais de Educao, sociedade civil organizada, Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime) e Conselho Nacional de Secretrios de Educao (Consed). A proposio de uma licenciatura especca para a Educao do Campo est respaldada na Resoluo n 03/97, do Conselho Nacional de Educao (CNE), que xa Diretrizes para os Novos Planos de Carreira e Remunerao para o Magistrio dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e recomenda que os sistemas de ensino implementem programas de desenvolvimento prossional dos docentes em exerccio, inclusive a formao em nvel superior, bem como no PNE19, que destaca a formao inicial e continuada dos professores e demais servidores da educao como condio para elevao da qualidade do ensino.

Metas
O presente projeto tem por meta, no primeiro ano, apoiar 5 universidades e, nos anos posteriores, 10 novas universidades a cada ano, a m de que cada uma desenvolva a licenciatura com 50 alunos. Dessa forma, ao nal de 4 anos, estima-se que 35 universidades estaro desenvolvendo a licenciatura nos seus cursos regulares.

Pblico-alvo
As propostas de Licenciatura Plena em Educao do Campo apresentadas pelas universidades devero se destinar, prioritariamente, para educadores que tenham o ensino mdio concludo e ainda no tenham formao de nvel superior, nas seguintes situaes: professores em exerccio nas escolas do campo da rede pblica; outros prossionais da educao com atuao na rede pblica; professores e outros prossionais da educao que atuem nos centros de alternncia20 ou em experincias educacionais alternativas de Educao do Campo; professores e outros prossionais com atuao em programas governamentais de educao; jovens e adultos que desenvolvam atividades educativas no-escolares nas comunidades do campo.

19 Plano Nacional de Educao, aprovado pela Lei n 10.172/2001. 20 A pedagogia da alternncia um processo educativo em que o aluno alterna perodos de aprendizagem na famlia com perodos na escola. Os ambientes e os tempos escolar e comunitrio so interligados por meio de instrumentos pedaggicos especcos capazes de constituir um conjunto harmonioso entre comunidades e a ao pedaggica.

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Estratgia de implementao
Em dezembro de 2005, com a colaborao de consultores, especialistas, representantes de secretarias do MEC e membros do Grupo Permanente da Educao do Campo (GPT) foi elaborada uma proposta preliminar para o Plano Nacional dos Prossionais da Educao do Campo. Esse Plano apresenta diferentes aes dirigidas universalizao e expanso no atendimento escolar no campo. A primeira ao proposta a Licenciatura em Educao do Campo, a qual foi aprovada, em abril de 2006, pela Cmara Temtica de Formao de Professores do MEC21 e por representantes das Universidades Federais de Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Bahia, Paran, Roraima, Par, Universidade de Braslia, Universidade Regional do Nordeste, do Estado do Rio Grande do Sul e UnB e pela Universidade Estadual da Bahia, bem como por representantes da UNDIME, CONSED. Em novembro de 2006, a SECAD e a SESU, em reunio extraordinria do GPT, divulgaram a deciso de implementar projetos-piloto de Licenciatura em Educao do Campo em universidades pblicas, mediante apresentao de propostas a serem analisadas pelas referidas Secretarias. O acompanhamento dos projetos se dar por meio da anlise de relatrios de atividades, parciais e nal, apresentados pelas universidades e pela vericao in loco. O projeto encontra-se em fase de implementao das atividades de proposio, anlise e aprovao das propostas para descentralizao de recursos.

Anotaes

21 Instncia criada por meio da Portaria MEC n. 695/2004.

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Referncias Bibliogrcas

ARROYO, M. G. Formao de Educadores e Educadoras do Campo. Braslia: MEC, 2004. BOEIRA, D. A. Do Olhar Policial ao Trabalhador Nacional: os patronatos agrcolas e a ressocializao da delinqncia juvenil no Brasil. In: Seminrio internacional Fazendo Gnero. Florianpolis: Editora Mulheres, 2006. BRASIL. Cmara dos Deputados: Comisso de Educao, Cultura e Desporto. Plano Nacional de Educao. Braslia: Cmara dos Deputados, 2002. ______. Ministrio da Educao. Ministrio do Desenvolvimento Agrrio. Ministrio do Trabalho e Emprego. Saberes da Terra. Programa Nacional de Educao de Jovens e Adultos Integrada com Qualicao Prossional para Agricultores(as) Familiares. Braslia: MEC/MDA/MTE, 2005. ______. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao. Parecer CNE/CEB n 36/2001. Diretrizes Operacionais da Educao Bsica para as Escolas do Campo. Braslia: MEC/CNE, 2003. ______. Ministrio da Educao. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira. Referncias para uma poltica nacional de educao do campo. Caderno de Subsdios. Braslia: Inep/MEC, 2004. ______. Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao. Parecer CNE/CEB n 1/2006. Dias Letivos para aplicao da Pedagogia de Alternncia nos Centros Familiares de Formao por Alternncia (CEFFA). Braslia: MEC/CNE, 2003. ______. Ministrio da Educao. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira. Panorama da Educao do Campo. Braslia: Inep/MEC, 2006. CALAZANS, M. J. C. Para Entender a Educao do Estado no Meio Rural: traos de uma trajetria, 2005. Disponvel em: <http://www.tvbrasil.com.br/salto>. Acesso em: dez. 2006. CALDART, R. S. Elementos para Construo do Projeto Poltico e Pedaggico da Educao do Campo. In: MOLINA, M. C; JESUS, S. M. Por uma Educao do Campo. Braslia: Articulao Nacional por uma Educao do Campo, 2004. GUANZIROLI, C. E; CARDIM, S. E. Novo Retrato da Agricultura Familiar: o Brasil redescoberto. Braslia: Projeto de Cooperao Tcnica Incra/FAO, 2000. RIBEIRO, M. L. S. Histria da Educao Brasileira: a organizao escolar. 13 Edio. Campinas: Autores Associados, 1993.

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Anexo I
Diretrizes Operacionais da Educao Bsica nas Escolas do Campo, Parecer CEB n 36/2001, do Conselho Nacional de Educao, aprovado em 04/12/2001.22
I RELATRIO
Na longa histria das comunidades humanas, sempre esteve bem evidente a ligao entre a terra da qual todos ns, direta ou indiretamente, extramos nossa subsistncia, e as realizaes da sociedade humana. E uma dessas realizaes a cidade ... (Wiliams Raymond, 1989).

A Cmara da Educao Bsica CEB, no cumprimento do estabelecido na Lei n 9.131/95 e na Lei n 9.394/96 LDB, elaborou diretrizes curriculares para a educao infantil, o ensino fundamental e o mdio, a educao de jovens e adultos, a educao indgena e a educao especial, a educao prossional de nvel tcnico e a formao de professores em nvel mdio na modalidade normal. A orientao estabelecida por essas diretrizes, no que se refere s responsabilidades dos diversos sistemas de ensino com o atendimento escolar sob a tica do direito, implica o respeito s diferenas e poltica de igualdade, tratando a qualidade da educao escolar na perspectiva da incluso. Nessa mesma linha, o presente Parecer, provocado pelo artigo 28 da LDB, prope medidas de adequao da escola vida do campo. A educao do campo, tratada como educao rural na legislao brasileira, tem um signicado que incorpora os espaos da oresta, da pecuria, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaos pesqueiros, caiaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um permetro no-urbano, um campo de possibilidades que dinamizam a ligao dos seres humanos com a prpria produo das condies da existncia social e com as realizaes da sociedade humana. Assim focalizada, a compreenso de campo no se identica com o tom de nostalgia de um passado rural de abundncia e felicidade que perpassa parte da literatura, posio que subestima a evidncia dos conitos que mobilizam as foras econmicas, sociais e polticas em torno da posse da terra no pas. Por sua vez, a partir de uma viso idealizada das condies materiais de existn-

Anotaes

cia na cidade e de uma viso particular do processo de urbanizao, alguns estudiosos consideram que a especicidade do campo constitui uma realidade provisria que tende a desaparecer, em tempos prximos, face ao inexorvel processo de urbanizao que dever homogeneizar o espao nacional. Tambm as polticas educacionais, ao tratarem o urbano como parmetro e o rural como adaptao, reforam essa concepo.
22 Homologado pelo Despacho do Ministro da Educao, publicado no Dirio Ocial da Unio de 12/03/2002.

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J os movimentos sociais do campo propugnam por algo que ainda no teve lugar, em seu estado pleno, porque perfeito no nvel das suas aspiraes. Propem mudanas na ordem vigente, tornando visvel, por meio das reivindicaes do cotidiano, a crtica ao institudo e o horizonte da educao escolar inclusiva. A respeito, o pronunciamento das entidades presentes no Seminrio Nacional de Educao Rural e Desenvolvimento Local Sustentvel foi no sentido de se considerar o campo como espao heterogneo, destacando a diversidade econmica, em funo do engajamento das famlias em atividades agrcolas e no-agrcolas (pluriatividade), a presena de fecundos movimentos sociais, a multiculturalidade, as demandas por educao bsica e a dinmica que se estabelece no campo a partir da convivncia com os meios de comunicao e a cultura letrada. Assim sendo, entende a Cmara da Educao Bsica que o presente Parecer, alm de efetivar o que foi prescrito no texto da Lei, atende a demandas da sociedade, oferecendo subsdios para o desenvolvimento de propostas pedaggicas que contemplem a mencionada diversidade, em todas as suas dimenses. Ressalte-se nesse contexto, a importncia dos Movimentos Sociais, dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educao, da SEF/MEC, do Conselho Nacional de Secretrios Estaduais de Educao (CONSED), da Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (UNDIME), das Universidades e instituies de pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel, das ONGs e dos demais setores que, engajados em projetos direcionados para o desenvolvimento socialmente justo no espao diverso e multicultural do campo, conrmam a pertinncia e apresentam contribuies para a formulao destas diretrizes. Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo: Proposio Pertinente?
Esta cova em que ests, com palmos medida, a conta menor que tiraste em vida, de bom tamanho, nem largo nem fundo, a parte que te cabe deste latifndio. No cova grande, cova medida, a terra que querias ver dividida. uma cova grande para teu pouco defunto, Mas estars mais ancho que estavas no mundo uma cova grande para teu defunto parco, Porm mais que no mundo te sentirs largo. uma cova grande para tua carne pouca, Mas terra dada no se abre a boca. (Morte e Vida Severina, Joo Cabral de Melo Neto)

No Brasil, todas as constituies contemplaram a educao escolar, merecendo


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especial destaque a abrangncia do tratamento que foi dado ao tema a partir de 1934. At ento, em que pese o Brasil ter sido considerado um pas de origem eminentemente agrria, a educao rural no foi sequer mencionada nos textos constitucionais de 1824 e 1891, evidenciando-se, de um lado, o descaso dos dirigentes com a educao do campo e, do outro, os resqucios de matrizes culturais vinculadas a uma economia agrria apoiada no latifndio e no trabalho escravo. Neste aspecto, no se pode perder de vista que o ensino desenvolvido durante o perodo colonial, ancorava-se nos princpios da ContraReforma, era alheio vida da sociedade nascente e exclua os escravos, as mulheres e os agregados. Esse modelo que atendia aos interesses da Metrpole sobreviveu, no Brasil, se no no seu todo, em boa parte, aps a expulso dos Jesutas 1759, mantendo-se a perspectiva do ensino voltado para as humanidades e as letras. Na primeira Constituio, jurada a 25 de maro, apenas dois dispositivos, os incisos XXXII e XXXIII do art.179, trataram da educao escolar. Um deles assegurava a gratuidade da instruo primria, e o outro se referia criao de instituies de ensino, nos termos do disposto a seguir:
Art.179 A inviolabilidade dos Direitos Civis e Polticos dos Cidados Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurana individual e a propriedade, garantida pela Constituio do Imprio, pela maneira seguinte: [..] XXXII. A instruo primria gratuita a todos os Cidados. XXXIII. Colgios, e Universidades, aonde sero ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras e Artes.

A Carta Magna de 1891 tambm silenciou a respeito da educao rural, restringindo-se, no artigo 72, pargrafos 6 e 24, respectivamente, garantia da laicidade e liberdade do ensino nas escolas pblicas:
Art.72 A Constituio assegura aos brasileiros e a estrangeiros residentes no pas a inviolabilidade dos direitos concernentes liberdade, segurana individual e propriedade nos termos seguintes: [...] 6 Ser leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos pblicos. [...] 24 garantido o livre exerccio de qualquer prosso moral, intelectual e industrial.

Anotaes

Alm disso, uma dimenso importante do texto legal diz respeito ao reconhecimento da autonomia dos Estados e Municpios, imprimindo a forma federativa da Repblica. No caso, cabe destacar a criao das condies legais para o desenvolvimento de iniciativas descentralizadas, mas os impactos dessa perspectiva no campo da educao foram prejudicados pela ausncia de um sistema nacional que assegurasse, mediante a articulao entre as diversas esferas do poder pblico, uma poltica educacional para o conjunto do pas. Neste contexto, a demanda escolar que se vai constituindo predominantemente oriunda das chamadas classes mdias emergentes que identicavam, na educao escolar, um fator de ascenso social e de ingresso nas ocupaes do embrionrio processo de industrializao. Para a populao residente no campo, o cenrio era outro. A ausncia de uma conscincia a respeito do valor da educao no processo de cons-

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tituio da cidadania, ao lado das tcnicas arcaicas do cultivo que no exigiam dos trabalhadores rurais nenhuma preparao, nem mesmo a alfabetizao, contribuiu para a ausncia de uma proposta de educao escolar voltada aos interesses dos camponeses. Na verdade, a introduo da educao rural no ordenamento jurdico brasileiro remete s primeiras dcadas do sculo XX, incorporando, no perodo, o intenso debate que se processava no seio da sociedade a respeito da importncia da educao para conter o movimento migratrio e elevar a produtividade no campo. A preocupao das diferentes foras econmicas, sociais e polticas com as signicativas alteraes constatadas no comportamento migratrio da populao foi claramente registrada nos anais dos Seminrios e Congressos Rurais realizados naquele perodo. do 1 Congresso da Agricultura do Nordeste Brasileiro - 1923, por exemplo, o registro da importncia dos Patronatos na pauta das questes agrcolas que deveriam ser cuidadosamente estudadas. Tais instituies, segundo os congressistas, seriam destinadas aos menores pobres das regies rurais e, pasmem, aos do mundo urbano, desde que revelassem pendor para a agricultura. Suas nalidades estavam associadas garantia, em cada regio agrcola, de uma poderosa contribuio ao desenvolvimento agrcola e, ao mesmo tempo, transformao de crianas indigentes em cidados prestimosos. A perspectiva salvacionista dos patronatos prestava-se muito bem ao controle que as elites pretendiam exercer sobre os trabalhadores, diante de duas ameaas: quebra da harmonia e da ordem nas cidades e baixa produtividade do campo. De fato, a tarefa educativa destas instituies unia interesses nem sempre aliados, particularmente os setores agrrio e industrial, na tarefa educativa de salvar e regenerar os trabalhadores, eliminando, luz do modelo de cidado sintonizado com a manuteno da ordem vigente, os vcios que poluam suas almas. Esse entendimento, como se v, associava educao e trabalho, e encarava este como puricao e disciplina, superando a idia original que o considerava uma atividade degradante. Havia ainda os setores que temiam as implicaes do modelo urbano de formao oferecido aos professores que atuavam nas escolas rurais. Esses prossionais, segundo educadores e governantes, desenvolviam um projeto educativo ancorado em formas racionais, valores e contedos prprios da cidade, em detrimento da valorizao dos benefcios que eram especcos do campo. De fato, esta avaliao supervalorizava as prticas educativas das instituies de ensino, que nem sempre contavam com o devido apoio do poder pblico, e desconhecia a importncia das condies de vida e de trabalho para a permanncia das famlias no campo. A Constituio de 1934, acentuadamente marcada pelas idias do Movimento Renovador, que culminou com o Manifesto dos Pioneiros, expressa claramente os impactos de uma nova relao de foras que se instalou na sociedade a partir das insatisfaes de vrios setores cafeicultores, intelectuais, classes mdias e at massas populares urbanas. Na verdade, este um perodo de fecundas reformas educacionais, destaque-se a de Francisco Campos, que abrangia, em especial, o ensino secundrio e superior e as contribuies do j citado Manifesto. Este, por sua vez, formulou proposies fundadas no estudo da situao educacional brasileira e, em que pese a nfase nos interesses dos estudantes, pautou a discusso sobre as relaes entre as instituies de ensino e a sociedade.
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A propsito, o texto constitucional apresenta grandes inovaes quando comparado aos que o antecedem. No caso, rma a concepo do Estado educador e atribui s trs esferas do poder pblico responsabilidades com a garantia do direito educao. Tambm prev o Plano Nacional de Educao, a organizao do ensino em sistemas, bem como a instituio dos Conselhos de Educao que, em todos os nveis, recebem incumbncias relacionadas assessoria dos governos, elaborao do plano de educao e distribuio de fundos especiais. Por a, identicam-se, neste campo, as novas pretenses que estavam postas na sociedade. Lei, como era de se esperar, no escapou a responsabilidade do poder pblico com o atendimento escolar do campo. Seu nanciamento foi assegurado no Ttulo dedicado famlia, educao e cultura, conforme o seguinte dispositivo:
Art. 156 A Unio, os Estados e os Municpios aplicaro nunca menos de dez por cento e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos, na manuteno e no desenvolvimento dos sistemas educativos. Pargrafo nico. Para realizao do ensino nas zonas rurais, a Unio reservar, no mnimo, vinte por cento das cotas destinadas educao no respectivo oramento anual.

Como se v, no mbito de um federalismo nacional ainda frgil, o nanciamento do atendimento escolar na zona rural est sob a responsabilidade da Unio e passa a contar, nos termos da legislao vigente, com recursos vinculados sua manuteno e desenvolvimento. Naquele momento, ao contrrio do que se observa posteriormente, a situao rural no integrada como forma de trabalho, mas aponta para a participao nos direitos sociais. Para alguns, o precitado dispositivo constitucional pode ser interpretado como um esforo nacional de interiorizao do ensino, estabelecendo um contraponto s prticas resultantes do desejo de expanso e de domnio das elites a qualquer custo, em um pas que tinha, no campo, a parcela mais numerosa de sua populao e a base da sua economia. Para outros, no entanto, a orientao do texto legal representava mais uma estratgia para manter, sob controle, as tenses e conitos decorrentes de um modelo civilizatrio que reproduzia prticas sociais de abuso de poder. Sobre as relaes no campo, o poeta Tierra faz uma leitura, assaz interessante e consegue iluminar, no presente, como o faz Joo Cabral de Melo Neto, em seu clssico poema Morte e Vida Severina, um passado que tende a se perpetuar.
Os sem-terra anal Esto assentados na pleniposse da terra: De sem-terra passaram a Com-terra: ei- los enterrados Os sem-terra anal Esto assentados na pleniposse da terra: De sem-terra passaram a Com-terra: ei- los enterrados desterrados de seu sopro de vida aterrados terrorizados terra que terra torna torna Pleniposseiros terratenentes de uma vala (bala) comum

Anotaes
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Pelo avesso anal Entranhados no Lato ventre do latifndio que de improdutivo revelou-se assim ubrrimo (...) (Campos,1998)

Em 10 de dezembro de 1937, decretada a Constituio que sinaliza para a importncia da educao prossional no contexto da indstria nascente. Esta modalidade de ensino, destinada s classes menos favorecidas, considerada, em primeiro lugar, dever do Estado, o qual, para execut-lo, dever fundar institutos de ensino prossional e subsidiar os de iniciativa privada e de outras esferas administrativas. Essa inovao, alm de legitimar as desigualdades sociais nas entranhas do sistema de ensino, no se faz acompanhar de proposies para o ensino agrcola.
Art. 129 [...] dever das indstrias e dos sindicatos econmicos criar, na esfera da sua especicidade, escolas de aprendizes, destinadas aos lhos de seus operrios ou de seus associados. A lei regular o cumprimento desse dever e os poderes que cabero ao Estado sobre essas escolas, bem como os auxlios, facilidades e subsdios a lhes serem concedidos pelo poder pblico.

Por outro lado, o artigo 132 do mesmo texto ressalta igualmente a importncia do trabalho no campo e nas ocinas para a educao da juventude, admitindo inclusive o nanciamento pblico para iniciativas que retomassem a mesma perspectiva dos chamados Patronatos.
Art. 132 O Estado fundar instituies ou dar o seu auxlio e proteo s fundadas por associaes civis, tendo umas e outras por m organizar para a juventude perodos de trabalho anual nos campos e ocinas, assim como promover-lhe a disciplina moral e o adestramento fsico, de maneira a prepar-la ao cumprimento dos seus deveres para com a economia e a defesa da Nao.

No que diz respeito ao ensino primrio gratuito e obrigatrio, o novo texto institui, em nome da solidariedade para com os mais necessitados, uma contribuio mdica e mensal para cada escolar. Cabe observar que, no perodo subseqente, ocorreu a regulamentao do ensino prossional, mediante a promulgao das Leis Orgnicas. Algumas delas emergem no contexto do Estado Novo, a exemplo das Leis Orgnicas do Ensino Industrial, do Ensino Secundrio e do Ensino Comercial, todas consideradas parciais, em detrimento de uma reestruturao geral do ensino. O pas permanecia sem as diretrizes gerais que dessem os rumos para todos os nveis e modalidades de atendimento escolar que deveriam compor o sistema nacional. No que se refere Lei Orgnica do Ensino Agrcola, objeto do Decreto-Lei n 9.613, de 20 de agosto de 1946, do Governo Provisrio, tinha como objetivo principal a preparao prossional para os trabalhadores da agricultura. Seu texto, em que pese a preocupao com os valores humanos e o reconhecimento da importncia da cultura geral e da informao cientca, bem como o esforo para estabelecer a equivalncia do ensino agrcola com as demais modalidades, traduzia as restries impostas aos que optavam por cursos prossionais destinados aos mais pobres.

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Isto particularmente presente no captulo que trata das possibilidades de acesso aos estabelecimentos de ensino superior, admitidas para os concluintes do curso tcnico-agrcola.
Art. 14 A articulao do ensino agrcola e deste com outras modalidades de ensino far-se- nos termos seguintes: [...] III - assegurada ao portador de diploma conferido em virtude da concluso de um curso agrcola tcnico a possibilidade de ingressar em estabelecimentos de ensino superior para a matrcula em curso diretamente relacionado com o curso agrcola tcnico concludo, uma vez vericada a satisfao das condies de admisso determinadas pela legislao competente.

Alm disso, o Decreto rearmava a educao sexista, mascarada pela declarao de que o direito de ingressar nos cursos de ensino agrcola era igual para homens e mulheres.
Art. 51. O direito de ingressar nos cursos de ensino agrcola igual para homens e mulheres. Art. 52. No ensino agrcola feminino sero observadas as seguintes prescries especiais: 1. recomendvel que os cursos de ensino agrcola para mulheres sejam dados em estabelecimentos de ensino de exclusiva freqncia feminina. 2. s mulheres no se permitir, nos estabelecimentos de ensino agrcola, trabalho que, sob o ponto de vista da sade, no lhes seja adequado. 3. Na execuo de programas, em todos os cursos, ter-se- em mira a natureza da personalidade feminina e o papel da mulher na vida do lar. 4. Nos dois cursos de formao do primeiro ciclo, incluir-se- o ensino de economia rural domstica.

Com isso, o mencionado Decreto incorporou na legislao especca o papel da escola na constituio de identidades hierarquizadas a partir do gnero. A Constituio de 1946 remonta s diretrizes da Carta de 1934, enriquecida pelas demandas que atualizavam, naquele momento, as grandes aspiraes sociais. No campo da educao, est apoiada nos princpios defendidos pelos Pioneiros e, neste sentido, confere importncia ao processo de descentralizao sem desresponsabilizar a Unio pelo atendimento escolar, vincula recursos s despesas com educao e assegura a gratuidade do ensino primrio. O texto tambm retoma o incremento ao ensino na zona rural, contemplado na Constituio de 1934, mas, diferentemente desta, transfere empresa privada, inclusive s agrcolas, a responsabilidade pelo custeio desse incremento. No inciso III do art. 168, xa como um dos princpios a serem adotados pela legislao de ensino a responsabilidade das empresas com a educao, nos termos a seguir:

Anotaes

Art. 168. A educao direito de todos e ser dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princpios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. [...] III - as empresas industriais, comerciais e agrcolas, em que trabalham mais de cem pessoas, so obrigadas a manter ensino primrio gratuito para os seus servidores e para os lhos destes;

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Esclarea-se, ademais, que o inciso transcrito, em sendo uma norma de princpio, tinha eccia jurdica limitada, desde que dependia de lei ordinria para produzir efeitos prticos. Ao contrrio, o artigo 156 da Constituio de 1934, a que acima nos referimos, era uma norma de eccia plena, que poderia produzir efeitos imediatos e por si mesma, no necessitando de lei ordinria que a tornasse operacional. Registre-se, enm, que, tambm como princpio balizador da legislao de ensino, a Constituio de 1946, no inciso IV do mesmo artigo 168, retoma a obrigatoriedade de as empresas industriais e comerciais ministrarem, em cooperao, a aprendizagem de seus trabalhadores menores, excluindo desta obrigatoriedade as empresas agrcolas, como j havia ocorrido na Carta de 1937, o que denota o desinteresse do Estado pela aprendizagem rural, pelo menos a ponto de emprestar-lhe status constitucional. Na Constituio de 1967, identica-se a obrigatoriedade de as empresas convencionais agrcolas e industriais oferecerem, pela forma que a lei estabelece, o ensino primrio gratuito de seus empregados e dos lhos destes. Ao mesmo tempo, determinava, como nas Cartas de 37 e 46, que apenas as empresas comerciais e industriais, excluindo-se, portanto, as agrcolas, estavam obrigadas a ministrar, em cooperao, aprendizagem aos seus trabalhadores menores. Em 1969, promulgada a emenda Constituio de 24 de janeiro de 1967, identicava-se, basicamente, as mesmas normas, apenas limitando a obrigatoriedade das empresas, inclusive das agrcolas, com o ensino primrio gratuito dos lhos dos empregados, entre os sete e quatorze anos. Deixava antever, por outro lado, que tal ensino poderia ser possibilitado diretamente pelas empresas que o desejassem, ou, indiretamente, mediante a contribuio destas com o salrio-educao, na forma que a lei viesse a estabelecer. Do mesmo modo, esse texto determinou que as empresas comerciais e industriais deveriam, alm de assegurar condies de aprendizagem aos seus trabalhadores menores, promover o preparo de todo o seu pessoal qualicado. Mais uma vez, as empresas agrcolas caram isentas dessa obrigatoriedade. Quanto ao texto da Carta de 1988, pode-se armar que proclama a educao como direito de todos e, dever do Estado, transformando-a em direito pblico subjetivo, independentemente dos cidados residirem nas reas urbanas ou rurais. Deste modo, os princpios e preceitos constitucionais da educao abrangem todos os nveis e modalidades de ensino ministrados em qualquer parte do pas. Assim sendo, apesar de no se referir direta e especicamente ao ensino rural no corpo da Carta, possibilitou s Constituies Estaduais e Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - LDB - o tratamento da educao rural no mbito do direito igualdade e do respeito s diferenas. Ademais, quando estabelece no art. 62, do ato das Disposies Constitucionais Transitrias, a criao do Servio Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), mediante lei especca, reabre a discusso sobre educao do campo e a denio de polticas para o setor. Finalmente, h que se registrar na abordagem dada pela maioria dos textos constitucionais, um tratamento perifrico da educao escolar do campo. uma perspectiva residual e condizente, salvo conjunturas especcas, com interesses de grupos hegemEducao do Campo

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nicos na sociedade. As alteraes nesta tendncia, quando identicadas, decorrem da presena dos movimentos sociais do campo no cenrio nacional. dessa forma que se pode explicar a realizao da Conferncia Nacional por uma Educao Bsica do Campo, que teve como principal mrito recolocar, sob outras bases, o rural e a educao que a ele se vincula. A propsito, se nos ativermos s Constituies Estaduais, privilegiando-se o perodo que se segue promulgao da Carta Magna de 1988, marco indelvel do movimento de redemocratizao no pas, pode-se dizer que nem todas as Cartas fazem referncias ao respeito que os sistemas devem ter s especicidades do ensino rural, quando tratam das diferenas culturais e regionais. 1 Educao Rural nas Constituies Estaduais Brasileiras Em geral, as Constituies dos Estados abordam a escola no espao do campo determinando a adaptao dos currculos, dos calendrios e de outros aspectos do ensino rural s necessidades e caractersticas dessa regio. Alguns Estados apontam para a expanso do atendimento escolar, propondo, no texto da Lei, a inteno de interiorizar o ensino, ampliando as vagas e melhorando o parque escolar, nessa regio. Tambm est presente, nas Constituies, a determinao de medidas que valorizem o professor que atua no campo e a proposio de formas de efetiv-la. Na verdade, os legisladores no conseguem o devido distanciamento do paradigma urbano. A idealizao da cidade, que inspira a maior parte dos textos legais, encontra na palavra adaptao, utilizada repetidas vezes, a recomendao de tornar acessvel ou de ajustar a educao escolar, nos termos da sua oferta na cidade s condies de vida do campo. Quando se trata da educao prossional igualmente presente em vrias Cartas Estaduais, os princpios e normas relativos implantao e expanso do ensino prossionalizante rural mantm a perspectiva residual dessa modalidade de atendimento. Cabe, no entanto, um especial destaque Constituio do Rio Grande do Sul. a nica unidade da Federao que inscreve a educao do campo no contexto de um projeto estruturador para o conjunto do pas. Neste sentido, ao encontrar o signicado do ensino agrcola no processo de implantao da reforma agrria, supera a abordagem compensatria das polticas para o setor e aponta para as aspiraes de liberdade poltica, de igualdade social, de direito ao trabalho, terra, sade e ao conhecimento dos(as) trabalhadores(as) rurais. 2 Educao Rural e Caractersticas Regionais

Anotaes

Alguns estados apenas prevem, de forma genrica, o respeito s caractersticas regionais, na organizao e operacionalizao de seu sistema educacional, sem incluir, em suas Cartas, normas e/ou princpios voltados especicamente para o ensino rural. o caso do Acre, que no art. 194, II, estabelece que, na estruturao dos currculos, dever-se-o incluir contedos voltados para a representao dos valores culturais, artsticos e ambientais da regio.

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Com redaes diferentes, o mesmo princpio proclamado nas Constituies do Esprito Santo, Mato Grosso, Paran e Pernambuco. Em outros Estados, tal diretriz tambm est expressa nas Constituies, mas juntamente com outras que se referem, de forma mais especca e concreta, Educao Rural. o que se observa, por exemplo, nas Cartas da Bahia, de Minas Gerais e da Paraba. Ao lado disso, observa-se que algumas Cartas estaduais trazem referncias mais especcas educao rural, determinando, na oferta da educao bsica para a populao do campo, adaptaes concretas inerentes s caractersticas e peculiaridades desta. o que ocorre nos Estados de Alagoas, Bahia, Cear, Maranho, Sergipe e Tocantins, que prescrevem sejam os calendrios escolares da zona rural adequados aos calendrios agrcolas e s manifestaes relevantes da cultura regional. O Maranho, por exemplo, inseriu, no 1 do artigo 218 de sua Constituio, norma determinando que, na elaborao do calendrio das escolas rurais, o poder pblico deve levar em considerao as estaes do ano e seus ciclos agrcolas. J o Estado de Sergipe, no artigo 215, 3 da Carta Poltica, orienta que o calendrio da zona rural seja estabelecido de modo a permitir que as frias escolares coincidam com o perodo de cultivo do solo. Essa orientao tambm identicada nos Estados do Par, Paraba, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins, que determinam a xao de currculos para a zona rural consentneos com as especicidades culturais da populao escolar. Neste aspecto, a Constituio paraense, no artigo 281, IV, explicita que o plano estadual de educao dever conter, entre outras, medidas destinadas ao estabelecimento de modelos de ensino rural que considerem a realidade estadual especca. A Constituio de Roraima, no art. 149, II, diz que os contedos mnimos para o ensino fundamental e mdio sero xados de maneira a assegurar, alm da formao bsica, currculos adaptados aos meios urbano e rural, visando ao desenvolvimento da capacidade de anlise e reexo crtica sobre a realidade. A Constituio de Sergipe, no art. 215, VIII, manda que se organizem currculos capazes de assegurar a formao prtica e o acesso aos valores culturais, artsticos e histricos nacionais e regionais. 3 Expanso da Rede de Ensino Rural e Valorizao do Magistrio Alguns Estados inseriram, em suas constituies, normas programticas que possibilitam a expanso do ensino rural e a melhoria de sua qualidade, bem como a valorizao do professor que atua no campo. Neste caso, temos o Estado do Amap, que, no inciso XIV do artigo 283 de sua Carta, declara ser dever do Estado garantir o oferecimento de infra-estrutura necessria aos professores e prossionais da rea de educao, em escolas do interior; a Constituio da Paraba, no artigo 211, prescreve caber ao Estado, em articulao com os Municpios, promover o mapeamento escolar, estabelecendo critrios para a ampliao e a interiorizao da rede escolar pblica; o Rio Grande do Sul, no artigo 216 de sua Carta, estabelece que, na rea rural, para cada grupo de escolas de ensino fundamental incompleto, haver uma escola central de ensino fundamental completo, visando, com isto, assegurar o nmero de vagas sucientes para absorver os alunos da rea. Essas escolas centrais, segundo o 4 do mesmo artigo, sero indicadas pelo Conselho

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Municipal de Educao; Tocantins, no artigo 136 de sua Constituio, assegura ao prossional do magistrio da zona rural isonomia de vencimentos com os da zona urbana, observado o nvel de formao. 4 O Ensino Prossionalizante Agrcola Enm, h de se destacar que um conjunto de Estados-membros enfatizam, em suas Constituies, o ensino prossionalizante rural, superando, nos mencionados textos, a viso assistencialista que acompanha essa modalidade de educao, desde suas origens. Eis alguns deles, como se verica nas Cartas a seguir: a) Amap, no inciso XV do artigo 283 de sua Constituio, estabelece, como dever do Estado, promover a expanso de estabelecimentos ociais aptos a oferecer cursos gratuitos de ensino tcnico-industrial, agrcola e comercial. No pargrafo nico do artigo 286, esta mesma Carta determina que o Estado dever inserir nos currculos, entre outras matrias de carter regional, como Histria do Amap, Cultura do Amap, Educao Ambiental e Estudos Amaznicos, tambm Tcnica Agropecuria e Pesqueira. b) A Constituio do Cear, no 6 do artigo 231, determina que as escolas rurais do Estado devem obrigatoriamente instituir o ensino de cursos prossionalizantes. O 8 do mesmo artigo, norma de caracterstica programtica, prev que, em cada microrregio do Estado, ser implantada uma escola tcnico-agrcola, cujos currculos e calendrios escolares devem ser adequados realidade local. c) A Carta do Mato Grosso do Sul, em seu artigo 154, dentre os princpios e normas de organizao do sistema estadual de ensino, insere a obrigatoriedade de o estado xar diretrizes para o ensino rural e tcnico, que ser, quando possvel, gratuito e ter em vista a formao de prossionais e trabalhadores especializados, de acordo com as condies e necessidades do mercado de trabalho. d) Minas Gerais, no artigo 198 de sua Lei Maior, determina que o poder pblico garantir a educao, atravs, entre outros mecanismos, da expanso da rede de estabelecimentos ociais que ofeream cursos de ensino tcnico-industrial, agrcola e comercial, observadas as caractersticas regionais e as dos grupos sociais. e) O Par, no artigo 280 de sua Constituio, diz que o Estado obrigado a expandir, concomitantemente, o ensino mdio atravs da criao de escolas tcnicoagrcolas ou industriais. f) O Rio Grande do Sul proclama, em seu texto constitucional, artigo 217, que o Estado elaborar poltica para o ensino fundamental e mdio de orientao e formao prossional, visando, entre outras nalidades, auxiliar, atravs do ensino agrcola, na implantao da reforma agrria.

Anotaes

g) Rondnia, no artigo 195 de sua Carta, autoriza o Estado a criar escolas tcnicas, agrotcnicas e industriais, atendendo s necessidades regionais de desenvolvimento. O mesmo artigo determina, em seu pargrafo nico, seja a implantao dessas escolas includas no plano de desenvolvimento do Estado. Como se v, em que pese o esforo para superar, em alguns Estados, uma viso assistencialista das normas relativas educao e formao prossional especca, nem

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todas as Constituies explicitam a relao entre a educao escolar e o processo de constituio da cidadania, a partir de um projeto social e poltico que disponibilize uma imagem do futuro que se pretende construir e a opo por um caminho que se pretende seguir no processo de reorganizao coletiva e solidria da sociedade. Nos dias atuais, considerando que a nova legislao aborda a formao prossional sob a tica dos direitos educao e ao trabalho, cabe introduzir algumas consideraes sobre as atuais diretrizes para a educao prossional no Brasil elaboradas pela Cmara da Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao. Essas diretrizes traduzem a orientao contida nas Cartas Constitucionais Federal e Estadual, se no em todas, no mnimo, na maioria delas, incorporando, ao mesmo tempo, os impactos das mudanas que perpassam incessantemente a sociedade em que vivemos. Aprovadas em 05 de outubro de 1999, tais normas estabeleceram 20 reas e formao prossional, entre elas a de agropecuria, como referncia para a organizao dessa modalidade de atendimento educacional. Lembre-se ainda que, no sendo possvel, no momento, consultar todas as Leis Orgnicas Municipais, torna-se necessrio proceder a sua leitura com o propsito, em cada Municpio, de ampliar as assimilaes especcas sobre a matria. 5 Territrio da Educao Rural na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB)
[...] A Liberdade da Terra no assunto de lavradores. A Liberdade da Terra assunto de todos. Quantos no se alimentam do fruto da terra. Do que vive, sobrevive do salrio. Do que impedido de ir escola. Dos meninos e meninas de rua. Das prostitutas. Dos ameaados pelo Clera. Dos que amargam o desemprego. Dos que recusam a morte do sonho. A liberdade da Terra e a Paz do campo tem um nome. Hoje viemos cantar no corao da cidade para que ela oua nossas canes... Pedro Tierra

A Lei n 4.024, de 20 de dezembro de 1961, resultou de um debate que se prolongou durante 13 anos, gerando expectativas diversas a respeito do avano que o novo texto viria a representar para a organizao da educao nacional. O primeiro anteprojeto e os demais substitutivos apresentados deram visibilidade ao acirrado embate que se estabeleceu na sociedade em torno do tema. O anteprojeto, elaborado pelo GT indicado sob a orientao do ministro Clemente Marianni, representou o primeiro esforo de regulamentao do previsto na Carta Magna 1946. Este, alm de reforar o dispositivo constitucional, expressa as mudanas que perpassavam a sociedade em seu conjunto. Logo em seguida, diversos substitutivos, entre os quais os que foram apresentados por Carlos Lacerda, redirecionaram o foco da discusso. Enquanto o primeiro anteprojeto se revelava anado com as necessidades educacionais do conjunto da sociedade, dando nfase ao ensino pblico, a maior parte desses substitutivos, em nome da liberdade, representavam os interesses das escolas privadas. Em resposta, os defensores da escola pblica retomaram os princpios orientadores do anteprojeto inicial, apresentando um substitutivo elaborado com a participao de diversos segmentos da sociedade.

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Quanto ao ensino rural, possvel armar que a Lei no traduz grandes preocupaes com a diversidade. O foco dado integrao, exposta, por sua vez, no artigo 57, quando recomenda a realizao da formao dos educadores que vo atuar nas escolas rurais primrias, em estabelecimentos que lhes prescrevam a integrao no meio. Acrescente-se a isso o disposto no artigo 105 a respeito do apoio que poder ser prestado pelo poder pblico s iniciativas que mantenham na zona rural instituies educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaes e atividades prossionais. No mais, a Lei atribui s empresas responsabilidades com a manuteno de ensino primrio gratuito sem delimitar faixa etria.
Art. 31. As empresas industriais, comerciais e agrcolas, em que trabalhem mais de 100 pessoas, so obrigadas a manter o ensino primrio gratuito para os seus servidores e os lhos desses.

Com vistas ao cumprimento dessa norma, so admitidas alternativas tais como: instalao de escolas pblicas nas propriedades, instituio de bolsas, manuteno de escolas pelos proprietrios rurais e ainda a criao de condies que facilitem a freqncia dos interessados s escolas mais prximas. Por ltimo, resta considerar que o ensino tcnico de grau mdio inclui o curso agrcola, cuja estrutura e funcionamento obedecem ao padro de dois ciclos: o primeiro, o ginasial, com durao de quatro anos e o segundo, o colegial, com durao mnima de trs anos. Nada, portanto, que evidencie a racionalidade da educao no mbito de um processo de desenvolvimento que responda aos interesses da populao rural em sintonia com as aspiraes de todo povo brasileiro. Em 11 de agosto de 1971, sancionada a Lei n 5.692, que xa diretrizes e bases para o ensino de 1 e 2 graus, e d outras providncias. A propsito da educao rural, no se observa, mais uma vez, a incluso da populao na condio de protagonista de um projeto social global. Prope, ao tratar da formao dos prossionais da educao, o ajustamento s diferenas culturais. Tambm prev a adequao do perodo de frias poca de plantio e colheita de safras e, quando comparado ao texto da Lei n 4.024/61, a 5.692 rearma o que foi disposto em relao educao prossional. De fato, o trabalho do campo realizado pelos alunos conta com uma certa cumplicidade da Lei, que constitui a referncia para organizar, inclusive, os calendrios. Diferentemente dos tempos atuais, em que o direito educao escolar prevalece, e cabe ao poder pblico estabelecer programas de erradicao das atividades impeditivas de acesso e permanncia dos alunos no ensino obrigatrio. Mais recentemente, os impactos sociais e as transformaes ocorridas no campo inuenciaram decisivamente nas diretrizes e bases da oferta e do nanciamento da educao escolar.

Anotaes

luz dos artigos 208 e 210 da Carta Magna 1988, e inspirada, de alguma forma, numa concepo de mundo rural enquanto espao especco, diferenciado e, ao mesmo tempo, integrado no conjunto da sociedade, a Lei n 9.394/96 LDB - estabelece que:
Art. 28. Na oferta da educao bsica para a populao rural, os sistemas de ensino promovero as adaptaes necessrias sua adequao, s peculiaridades da vida rural e de cada regio, especialmente.

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I - contedos curriculares e metodologias apropriadas s reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organizao escolar prpria, incluindo a adequao do calendrio escolar s fases do ciclo agrcola e s condies climticas; III -adequao natureza do trabalho na zona rural.

Neste particular, o legislador inova. Ao submeter o processo de adaptao adequao, institui uma nova forma de sociabilidade no mbito da poltica de atendimento escolar em nosso pas. No mais se satisfaz com a adaptao pura e simples. Reconhece a diversidade sociocultural e o direito igualdade e diferena, possibilitando a denio de diretrizes operacionais para a educao rural sem, no entanto, recorrer a uma lgica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educao para o pas. Neste sentido, do texto da mencionada lei, no artigo 26, a concepo de uma base nacional comum e de uma formao bsica do cidado que contemple as especicidades regionais e locais.
Art. 26. Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversicada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

Alm disso, se os incisos I e II do artigo 28 forem devidamente valorizados, poder-se-ia concluir que o texto legal recomenda levar em conta, nas nalidades, nos contedos e na metodologia, os processos prprios de aprendizagem dos estudantes e o especco do campo. Ora, se o especco pode ser entendido tambm como exclusivo, relativo ou prprio de indivduos, ao combinar os artigos 26 e 28, no se pode concluir apenas por ajustamento. Assim, parece recomendvel, por razes da prpria Lei, que a exigncia mencionada no dispositivo pode ir alm da reivindicao de acesso, incluso e pertencimento. E, neste ponto, o que est em jogo denir, em primeiro lugar, aquilo no qual se pretende ser includo, respeitando-se a diversidade e acolhendo as diferenas sem transform-las em desigualdades. A discusso da temtica tem a ver, neste particular, com a cidadania e a democracia, no mbito de um projeto de desenvolvimento onde as pessoas se inscrevem como sujeitos de direitos. Assim, a deciso de propor diretrizes operacionais para a educao bsica do campo supe, em primeiro lugar, a identicao de um modo prprio de vida social e de utilizao do espao, delimitando o que rural e urbano sem perder de vista o nacional. A propsito, duas abordagens podem ser destacadas na delimitao desses espaos e, neste aspecto, em que pese ambas considerarem que o rural e o urbano constituem plos de um mesmo continuem, divergem quanto ao entendimento das relaes que se estabelecem entre os mesmos. Assim, uma delas, a viso urbano-centrada, privilegia o plo urbano do continuem, mediante um processo de homogeneizao espacial e social que subordina o plo rural. No caso, pode-se dizer que o rural hoje s pode ser entendido como um continuum

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urbano. O meio rural se urbanizou nas ltimas dcadas, como resultado do processo de industrializao da agricultura, de um lado, e, do outro, do transbordamento do mundo urbano naquele espao que tradicionalmente era denido como rural. Mais forte ainda o pensamento que interpreta o rmar-se do campo exclusivamente a partir da cidade, considerando urbano o territrio no qual a cidade est sicamente assentada e rural o que se apreende fora deste limite. No bojo desse pensamento, os camponeses so apreendidos, antes de tudo, como os executores da parte rural da economia urbana, sem autonomia e projeto prprio, negando-se a sua condio de sujeito individual ou coletivo autnomo. Em resumo, h, no plano das relaes, uma dominao do urbano sobre o rural que exclui o trabalhador do campo da totalidade denida pela representao urbana da realidade. Com esse entendimento, possvel concluir pelo esvaziamento do rural como espao de referncia no processo de constituio de identidades, desfocando-se a hiptese de um projeto de desenvolvimento apoiado, entre outros, na perspectiva de uma educao escolar para o campo. No mximo, seria necessrio decidir por iniciativas advindas de polticas compensatrias e destinadas a setores cujas referncias culturais e polticas so concebidas como atrasadas. Mas essa apenas uma forma de explicar como se d a relao urbano-rural em face das transformaes do mundo contemporneo, em especial, a partir do surgimento de um novo ator ao qual se abre a possibilidade de exercer, no campo, as atividades agrcolas e no-agrcolas e, ainda, combinar o estatuto de empregado com o de trabalhador por conta prpria. O problema posto, quando se projeta tal entendimento para a poltica de educao escolar, o de afastar a escola da temtica do rural: a retomada de seu passado e a compreenso do presente, tendo em vista o exerccio do direito de ter direito a denir o futuro no qual os brasileiros, 30 milhes, no contexto dos vrios rurais, pretendem ser includos. Na verdade, diz bem Arroyo que o forte dessa perspectiva propor a adaptao de um modelo nico de educao aos que se encontram fora do lugar, como se no existisse um movimento social, cultural e identitrio que arma o direito terra, ao trabalho, dignidade, cultura e educao. Isso verdadeiro, inclusive, para o Plano Nacional de Educao - PNE, recentemente aprovado no Congresso. Este - em que pese requerer um tratamento diferenciado para a escola rural e prever em seus objetivos e metas formas exveis de organizao escolar para a zona rural, bem como a adequada formao prossional dos professores, considerando as especicidades do alunado e as exigncias do meio -, recomenda, numa clara aluso ao modelo urbano, a organizao do ensino em sries. Cabe ressaltar, no entanto, que as formas exveis no se restringem ao regime seriado. Estabelecer entre as diretrizes a ampliao de anos de escolaridade, uma coisa. Outra coisa determinar que tal processo se realize atravs da organizao do ensino em srie. diretriz do PNE:
[ ...] a oferta do ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do Pas e a ampliao da oferta das quatro sries regulares em substituio s classes

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isoladas unidocentes meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade.

De modo equivalente, o item objetivos e metas do mesmo texto remete organizao em sries:
Objetivos e metas 16. Associar as classes isoladas unidocentes remanescentes a escolas de, pelo menos, quatro sries completas.

necessrio, neste ponto, para preservar o eixo da exibilidade que perpassa a LDB, abrindo inmeras possibilidades de organizao do ensino, remeter ao disposto no seu art. 23 que desvela a clara adeso da Lei multiplicidade das realidades que contextualizam a proposta pedaggica das escolas.
Art. 23. A educao bsica poder organizar-se em sries anuais, perodos semestrais, ciclos, alternncia regular de estudos, grupos no-seriados, com base na idade, na competncia e em outros critrios, ou por forma diversa de organizao, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

Por outro lado, uma segunda abordagem na anlise das relaes que se estabelecem entre os plos do continuum urbano-rural, tem fundamentado no Brasil a defesa de uma proposta de desenvolvimento do campo qual est vinculada a educao escolar. uma perspectiva que identica, no espao local, o lugar de encontro entre o rural e o urbano, onde, segundo estudos de Wanderley, as especicidades se manifestam no plano das identicaes e das reivindicaes na vida cotidiana, desenhando uma rede de relaes recprocas que reiteram e viabilizam as particularidades dos citados plos. E, neste particular, o campo hoje no sinnimo de agricultura ou de pecuria. H traos do mundo urbano que passam a ser incorporados no modo de vida rural, assim como h traos do mundo campons que resgatam valores sufocados pelo tipo de urbanizao vigente. Assim sendo, a inteligncia sobre o campo tambm a inteligncia sobre o modo de produzir as condies de existncia em nosso pas. Como se verica, a nitidez das fronteiras utiliza critrios que escapam lgica de um funcionamento e de uma reproduo exclusivos, conrmando uma relao que integra e aproxima espaos sociais diversos. Por certo, este um dos princpios que apia, no caso do disciplinamento da aplicao dos recursos destinados ao nanciamento do ensino fundamental, o disposto na Lei n 9.424/96 que regulamenta o FUNDEF. No art. 2, 2, a Lei estabelece a diferenciao de custo por aluno, rearmando a especicidade do atendimento escolar no campo, nos seguintes termos:
Art. 2 Os recursos do Fundo sero aplicados na manuteno e no desenvolvimento do ensino fundamental pblico e na valorizao de seu magistrio. [...] 2 A distribuio a que se refere o pargrafo anterior, a partir de 1998, dever considerar, ainda, a diferenciao de custo por alunos segundo os nveis de ensino e tipos de estabelecimentos, adotando-se a metodologia do clculo e as correspondentes ponderaes, de acordo com os seguintes componentes: I 1 a 4 sries; II 5 a 8 sries; III estabelecimento de ensino especial; IV escolas rurais. Educao do Campo

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Trata-se, portanto, de um esforo para indicar, nas condies de nanciamento do ensino fundamental, a possibilidade de alterar a qualidade da relao entre o rural e o urbano, contemplando-se a diversidade sem consagrar a relao entre um espao dominante, o urbano, e a periferia dominada, o rural. Para tanto, torna-se importante explicitar a necessidade de um maior aporte de recursos para prover as condies necessrias ao funcionamento de escolas do campo, tendo em vista, por exemplo, a menor densidade populacional e a relao professor/aluno. Torna-se urgente o cumprimento rigoroso e exato dos dispositivos legais por todos os entes federativos, assegurando-se o respeito diferenciao dos custos, tal como j vem ocorrendo com a educao especial e os anos nais do ensino fundamental. Assim, por vrias razes, conclui-se que esse Parecer tem a marca da provisoriedade. Sobra muita coisa para fazer. Seus vazios sero preenchidos, sobretudo, pelos signicados gerados no esforo de adequao das diretrizes aos diversos rurais e sua abertura, sabe-se, na prtica, ser conferida pela capacidade de os diversos sistemas de ensino universalizarem um atendimento escolar que emancipe a populao e, ao mesmo tempo, libere o pas para o futuro solidrio e a vida democrtica. II VOTO DA RELATORA luz do exposto e analisado, em obedincia ao artigo 9 da Lei n 9.131/95, que incumbe Cmara de Educao Bsica a deliberao sobre Diretrizes Curriculares Nacionais, a relatora vota no sentido de que seja aprovado o texto ora proposto como base do Projeto de Resoluo, que xa as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas escolas do campo. Braslia (DF), 04 de dezembro de 2001 Conselheira Edla de Arajo Lira Soares Relatora III DECISO DA CMARA A Cmara de Educao Bsica aprova por unanimidade o voto da Relatora. Sala das Sesses, em 04 de dezembro de 2001 Conselheiro Francisco Aparecido Cordo Presidente Conselheiro Carlos Roberto Jamil Cury Vice-Presidente

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RESOLUO CEB N 01, 03 DE ABRIL DE 200223 Institui Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo.
O presidente da Cmara da Educao Bsica, reconhecido o modo prprio de vida social e o de utilizao do espao do campo como fundamentais, em sua diversidade, para a constituio da identidade da populao rural e de sua insero cidad na denio dos rumos da sociedade brasileira, e tendo em vista o disposto na Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996 LDB, na Lei n 9.424, de 24 de dezembro de 1996, e na Lei n 10.172/2001 - PNE, e no Parecer CNE/CEB n 36/2001, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educao em 12 de maro de 2002, RESOLVE: Art. 1 A presente Resoluo institui as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas escolas do campo a serem observadas nos projetos das instituies que integram os diversos sistemas de ensino. Art. 2 Estas Diretrizes, com base na legislao educacional, constituem um conjunto de princpios e de procedimentos que visam adequar o projeto institucional das escolas do campo s Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Infantil, o Ensino Fundamental e Mdio, a Educao de Jovens e Adultos, a Educao Especial, a Educao Indgena, a Educao Prossional de Nvel Tcnico e a Formao de Professores em Nvel Mdio na modalidade Normal. Pargrafo nico. A identidade da escola do campo denida pela sua vinculao s questes inerentes sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes prprios dos estudantes, na memria coletiva que sinaliza futuros, na rede de cincia e tecnologia disponvel na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as solues exigidas por essas questes qualidade social da vida coletiva no pas. Art. 3 O Poder Pblico, considerando a magnitude da importncia da educao escolar para o exerccio da cidadania plena e para o desenvolvimento de um pas cujo paradigma tenha como referncias a justia social, a solidariedade e o dilogo entre todos, independente de sua insero em reas urbanas ou rurais, dever garantir a universalizao do acesso da populao do campo Educao Bsica e Educao Prossional de Nvel Tcnico. Art. 4 O projeto institucional das escolas do campo, expresso do trabalho compartilhado de todos os setores comprometidos com a universalizao da educao escolar com qualidade social, constituir-se- num espao pblico de investigao e articulao de experincias e estudos direcionados para o mundo do trabalho, bem como para o desenvolvimento social, economicamente justo e ecologicamente sustentvel. Art. 5 As propostas pedaggicas das escolas do campo, respeitadas as diferenas e o direito igualdade e cumprindo imediata e plenamente o estabelecido nos artigos 23, 26 e 28 da Lei n 9.394/96, contemplaro a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, polticos, econmicos, de gnero, gerao e etnia.
23 CNE. Resoluo CNE/CEB 1/2002. Dirio Ocial da Unio, Braslia 09 de abril de 2002. Seo 01, p. 32.

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Pargrafo nico. Para observncia do estabelecido neste artigo, as propostas pedaggicas das escolas do campo, elaboradas no mbito da autonomia dessas instituies, sero desenvolvidas e avaliadas sob a orientao das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao Bsica e a Educao Prossional de Nvel Tcnico. Art. 6 O Poder Pblico, no cumprimento das suas responsabilidades com o atendimento escolar e luz da diretriz legal do regime de colaborao entre a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, proporcionar Educao Infantil e Ensino Fundamental nas comunidades rurais, inclusive para aqueles que no o concluram na idade prevista, cabendo em especial aos Estados garantir as condies necessrias para o acesso ao Ensino Mdio e Educao Prossional de Nvel Tcnico. Art. 7 de responsabilidade dos respectivos sistemas de ensino, atravs de seus rgos normativos, regulamentar as estratgias especcas de atendimento escolar do campo e a exibilizao da organizao do calendrio escolar, salvaguardando, nos diversos espaos pedaggicos e tempos de aprendizagem, os princpios da poltica de igualdade. 1 - O ano letivo, observado o disposto nos artigos 23, 24 e 28 da LDB, poder ser estruturado independente do ano civil. 2 - As atividades constantes das propostas pedaggicas das escolas, preservadas as nalidades de cada etapa da educao bsica e da modalidade de ensino prevista, podero ser organizadas e desenvolvidas em diferentes espaos pedaggicos, sempre que o exerccio do direito educao escolar e o desenvolvimento da capacidade dos alunos de aprender e de continuar aprendendo assim o exigirem. Art. 8 As parcerias estabelecidas visando ao desenvolvimento de experincias de escolarizao bsica e de educao prossional, sem prejuzo de outras exigncias que podero ser acrescidas pelos respectivos sistemas de ensino, observaro: I - articulao entre a proposta pedaggica da instituio e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a respectiva etapa da Educao Bsica ou Prossional; II - direcionamento das atividades curriculares e pedaggicas para um projeto de desenvolvimento sustentvel; III - avaliao institucional da proposta e de seus impactos sobre a qualidade da vida individual e coletiva; IV- controle social da qualidade da educao escolar, mediante a efetiva participao da comunidade do campo.

Anotaes

Art. 9 As demandas provenientes dos movimentos sociais podero subsidiar os componentes estruturantes das polticas educacionais, respeitado o direito educao escolar, nos termos da legislao vigente. Art. 10 O projeto institucional das escolas do campo, considerado o estabelecido no artigo 14 da LDB, garantir a gesto democrtica, constituindo mecanismos que possibilitem estabelecer relaes entre a escola, a comunidade local, os movimentos sociais, os rgos normativos do sistema de ensino e os demais setores da sociedade.

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Art. 11 Os mecanismos de gesto democrtica, tendo como perspectiva o exerccio do poder nos termos do disposto no pargrafo 1 do artigo 1 da Carta Magna, contribuiro diretamente: I - para a consolidao da autonomia das escolas e o fortalecimento dos conselhos que propugnam por um projeto de desenvolvimento que torne possvel populao do campo viver com dignidade; II - para a abordagem solidria e coletiva dos problemas do campo, estimulando a autogesto no processo de elaborao, desenvolvimento e avaliao das propostas pedaggicas das instituies de ensino. Art. 12 O exerccio da docncia na Educao Bsica, cumprindo o estabelecido nos artigos 12, 13, 61 e 62 da LDB e nas Resolues n 3/1997 e n 2/1999, da Cmara da Educao Bsica, assim como o parecer do Pleno do Conselho Nacional de Educao, a respeito da formao de professores em nvel superior para a Educao Bsica, prev a formao inicial em curso de licenciatura, estabelecendo como qualicao mnima, para a docncia na Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o curso de formao de professores em Nvel Mdio, na modalidade Normal. Pargrafo nico. Os sistemas de ensino, de acordo com o artigo 67 da LDB desenvolvero polticas de formao inicial e continuada, habilitando todos os professores leigos e promovendo o aperfeioamento permanente dos docentes. Art. 13 Os sistemas de ensino, alm dos princpios e diretrizes que orientam a Educao Bsica no pas, observaro, no processo de normatizao complementar da formao de professores para o exerccio da docncia nas escolas do campo, os seguintes componentes: I - estudos a respeito da diversidade e o efetivo protagonismo das crianas, dos jovens e dos adultos do campo na construo da qualidade social da vida individual e coletiva, da regio, do pas e do mundo; II - propostas pedaggicas que valorizem, na organizao do ensino, a diversidade cultural e os processos de interao e transformao do campo, a gesto democrtica, o acesso ao avano cientco e tecnolgico e respectivas contribuies para a melhoria das condies de vida e a delidade aos princpios ticos que norteiam a convivncia solidria e colaborativa nas sociedades democrticas. Art. 14 O nanciamento da educao nas escolas do campo, tendo em vista o que determina a Constituio Federal, no artigo 212 e no artigo 60 dos Atos das Disposies Constitucionais Transitrias, a LDB, nos artigos 68, 69, 70 e 71, e a regulamentao do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio - Lei n 9.424/1996, ser assegurado mediante cumprimento da legislao a respeito do nanciamento da educao escolar no Brasil. Art. 15 No cumprimento do disposto no 2 do art. 2 da Lei n 9.424/96, que determina a diferenciao do custo-aluno com vistas ao nanciamento da educao escolar nas escolas do campo, o Poder Pblico levar em considerao: I - as responsabilidades prprias da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios com o atendimento escolar em todas as etapas e modalidades da Educao Bsica, contemplada a variao na densidade demogrca e na relao professor/aluEducao do Campo

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no; II - as especicidades do campo, observadas no atendimento das exigncias de materiais didticos, equipamentos, laboratrios e condies de deslocamento dos alunos e professores apenas quando o atendimento escolar no puder ser assegurado diretamente nas comunidades rurais; III - remunerao digna, incluso nos planos de carreira e institucionalizao de programas de formao continuada para os prossionais da educao que propiciem, no mnimo, o disposto nos artigos 13, 61, 62 e 67 da LDB. Art. 16 Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao, cando revogadas s disposies em contrrio. Conselheiro Francisco Aparecido Cordo Presidente da Cmara de Educao Bsica

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Anexo 2
Parecer CEB n 01/2006, do Conselho Nacional de Educao, aprovado em 01/02/2006. 1 Recomenda a Adoo da Pedagogia da Alternncia em Escolas do Campo
I RELATRIO O Secretrio da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao (SECAD/MEC) encaminha detalhada e rica exposio de motivos, na condio de responsvel pela Educao do Campo, no governo federal, para exame e manifestao desta Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao, sobre os dias considerados letivos para a Pedagogia da Alternncia, pois esse entendimento tem se apresentado como um dos principais elementos que vm dicultando o reconhecimento dos Centros Familiares de Formao por Alternncia (CEEFA) para a certicao de seus alunos. A exposio de motivos encontra-se muito bem amparada por extenso parecer, em grande parte fundamentado na tese de Doutorado, apresentada na Universidade de Braslia, em 2004, por Joo Batista Queiroz. A matria altamente relevante, pois a Educao do Campo assunto estratgico para o desenvolvimento socioeconmico do meio rural e a Pedagogia da Alternncia vem se mostrando como a melhor alternativa para a Educao Bsica, neste contexto, para os anos nais do Ensino Fundamental, do Ensino Mdio e da Educao Prossional Tcnica de nvel mdio, estabelecendo relao expressiva entre as trs agncias educativas famlia, comunidade e escola. Essa alternativa de atendimento populao escolar do campo surgiu na dcada de 1930, na Frana, nas Casas Familiares Rurais, estendendo-se na Europa pela Blgica e a Espanha, na frica pelo Senegal e na Amrica Latina pela Argentina, Brasil, Chile, Guatemala, Mxico, Nicargua, Paraguai... No Brasil, a denominada Pedagogia da Alternncia foi introduzida, em 1969, no Esprito Santo Movimento de Educao Promocional do Esprito Santo / MEPES a partir de Anchieta, encontrando rpida expanso com a orientao dos Padres Jesutas. Nesse estado e em mais quinze unidades da Federao brasileira, a alternncia mais efetiva a que associa meios de vida socioprossional e escolar em uma unidade de tempos formativos. Tais so as Escolas Famlias Agrcolas (EFA). A expanso dos Centros Familiares de Formao por Alternncia alcanou estados brasileiros do Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, sendo possvel identicar oito formas de organizao, algumas das quais no oferecem educao escolar. A seguir, caracterizamos experincias da Pedagogia da Alternncia, sempre com base em Queiroz (2004), destacando as que se organizam como escolas e as que no oferecem educao escolar:
1 Homologado por Despacho do Ministro, publicado no Dirio Ocial da Unio de 15/03/2006.

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a) Escolas Famlias Agrcolas (EFA), com 123 centros, presentes em 16 estados brasileiros, desenvolvendo os anos nais (segundo segmento) do Ensino Fundamental, Ensino Mdio e Educao Prossional Tcnica de nvel mdio. b) Casas Familiares Rurais (CFR), com 91 centros, presentes em seis estados, desenvolvendo os anos nais (segundo segmento) do Ensino Fundamental, Ensino Mdio e Educao Prossional Tcnica de nvel tcnico. c) Escolas Comunitrias Rurais (ECOR), com 03 centros no Esprito Santo desenvolvendo os anos nais (segundo segmento) do Ensino Fundamental. d) Escolas de Assentamentos (EA), com 08 centros no Estado do Esprito Santo, desenvolvendo os anos nais (segundo segmento) do Ensino Fundamental. e) Programa de Formao de Jovens Empresrios Rurais (PROJOVEM), com 07 centros no estado de So Paulo, atuando somente com cursos de qualicao prossional. f) Escolas Tcnicas Estaduais (ETE), com 03 centros localizados no Estado de So Paulo. g) Casas das Famlias Rurais (CDFR), com 03 centros situados nos Estados da Bahia, Pernambuco e Piau, desenvolvendo os anos nais (segundo segmento) do Ensino Fundamental. h) Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CDEJOR), com 04 centros em estados do sul do Brasil, atuando somente com cursos de qualicao prossional. A rede dos Centros Familiares de Formao por Alternncia (CEFFA), que se organiza em trs associaes UNEFAB, ARCAFARSUL e ARCAFAR-NORTE-NORDESTE congrega as EFA, CFR e ECOR, somando 217 escolas que adotam a Pedagogia da Alternncia. O presente parecer refere-se especicamente a essa rede. Os pilares dos CEFFA foram sendo construdos at os dias atuais e se constituem em: a) Pilares meios associao local (pais, famlias, prossionais, instituies) e Pedagogia da Alternncia (metodologia pedaggica); e b) Pilares ns formao integral dos jovens e desenvolvimento sustentvel do meio (social, econmico, humano, poltico...). Os objetivos dos CEFFA vo, portanto, desde a formao integral dos jovens do meio rural, adequada sua realidade, incluem a melhoria da qualidade de vida das famlias pela aplicao de conhecimentos tcnico-cientcos e o estmulo no jovem do sentido de comunidade, vivncia grupal e desenvolvimento do esprito associativo e solidrio, at a introduo de prticas relacionadas s aes de sade, nutrio e de cultura das comunidades. Aps a concluso do curso, o aluno recebe o histrico escolar (Ensino Supletivo ou Fundamental, Mdio ou Prossional de nvel tcnico) e o diploma de formao prossional (Ensino Mdio) ou de qualicao como prossional da agricultura (Ensino Fundamental). conveniente substituir a terminologia Ensino Supletivo, ainda ali utilizada, por Educao de Jovens e Adultos EJA.

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Segundo Queiroz (2004), possvel encontrar trs tipos de alternncia nos CEFFA: a) Alternncia justapositiva, que se caracteriza pela sucesso dos tempos ou perodos consagrados ao trabalho e ao estudo, sem que haja uma relao entre eles. b) Alternncia associativa, quando ocorre uma associao entre a formao geral e a formao prossional, vericando-se portanto a existncia da relao entre a atividade escolar e a atividade prossional, mas ainda como uma simples adio.

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c) Alternncia integrativa real ou copulativa, com a compenetrao efetiva de meios de vida socioprossional e escolar em uma unidade de tempos formativos. Nesse caso, a alternncia supe estreita conexo entre os dois momentos de atividades em todos os nveis individuais, relacionais, didticos e institucionais. No h primazia de um componente sobre o outro. A ligao permanente entre eles dinmica e se efetua em um movimento contnuo de ir e retornar. Embora seja a forma mais complexa da alternncia, seu dinamismo permite constante evoluo. Em alguns centros, a integrao se faz entre um sistema educativo em que o aluno alterna perodos de aprendizagem na famlia, em seu prprio meio, com perodos na escola, estando esses tempos interligados por meio de instrumentos pedaggicos especcos, pela associao, de forma harmoniosa, entre famlia e comunidade e uma ao pedaggica que visa formao integral com prossionalizao. Joo Batista Queiroz, na tese de doutorado j citada, conclui:
Numa concepo de alternncia formativa, no suciente a aproximao ou a ligao de dois lugares com suas lgicas diferentes e contraditrias, ou seja, a escola e o trabalho. necessria uma sinergia, uma integrao, uma interpenetrao rompendo com a dicotomia teoria e prtica, abstrato e concreto, saberes formalizados e habilidades (saber fazer), formao e produo, trabalho intelectual e trabalho fsico (manual).

Nos CEFFA, a durao das atividades de formao varia de trs a quatro anos: o mtodo de alternncia ocorre por meio de perodos em que os alunos passam na famlia/comunidade, duas semanas, alternando com outro perodo de uma semana (CFR) ou duas semanas (EFA) no centro de formao, isto , na escola. O calendrio escolar, quando de sua elaborao, tem presente os aspectos: sociocultural, participativo, geogrco e legal. A carga horria anual ultrapassa os duzentos dias letivos e as oitocentas horas exigidas pela Lei de Diretrizes a Bases da Educao Nacional. Os perodos vivenciados no centro educativo (escola) e no meio socioprossional (famlia/comunidade) so contabilizados como dias letivos e horas, o que implica em considerar como horas e aulas atividades desenvolvidas fora da sala de aula, mas executadas mediante trabalhos prticos e pesquisas com auxlio de questionrios que compem um Plano de Estudo. O Plano Curricular ou Plano de Formao formulado com base nos contedos denidos em nvel nacional para o Ensino Fundamental ou Ensino Mdio e ou Ensino Supletivo (Educao de Jovens e Adultos) mais as matrias de ensino tcnico, de acordo com as caractersticas de cada unidade educativa. No desenvolvimento metodolgico em que o aluno executa um Plano de Estudo, temos o perodo das semanas na propriedade ou no meio prossional, oportunidade em que o jovem discute sua realidade com a famlia, com os prossionais e provoca reexes, planeja solues e realiza experincias em seu contexto, irradiando uma concepo correta de desenvolvimento local sustentvel; enquanto isso, no perodo em que o aluno permanece em regime de internato ou semi-internato no centro de formao, isto , a escola, tem oportunidade de socializar sua realidade sob todos os aspectos, embasada em pesquisas e trabalhos tericos e prticos que realizam nas semanas em que permaneceram com suas famlias. Tudo isso desenvolvido com o auxlio de moEducao do Campo

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nitores (formadores), de forma que o aluno levante situaes vivenciadas na realidade familiar, busque novos conhecimentos para explicar, compreender e atuar, partindo do senso comum para alcanar o conhecimento cientco. O projeto educativo de cada CEFFA contribui, assim, para a constituio de um novo tecido social e econmico no contexto local. Ocorre a insero no prprio meio de origem com a gerao de emprego, de renda e de riquezas. A relao entre teoria e prtica desenvolve as pessoas e estas, por sua vez, desenvolvem seu meio. o aprender a aprender! a Educao do Campo em seu conceito mais atual e consentneo com a realidade. Equipe de monitores e professores responsvel pela organizao, dinamizao das atividades docentes e pela elaborao, conjuntamente com a Associao de Pais, Jovens Formados e Entidades Parceiras, do Plano de Formao, sempre respeitado o calendrio agrcola da regio em que a unidade educativa est situada e com apoio e assessoramento tcnico e pedaggico de entidades locais, regionais e nacionais. O jovem tambm orientado na elaborao do seu projeto prossional de vida, especialmente por meio de visitas s famlias durante os perodos de alternncia. Os Centros Familiares de Formao por Alternncia Escolas Famlias Agrcolas (EFA), Casas Familiares Rurais (CFR) e Escolas Comunitrias Rurais (ECOR) adotam os seguintes instrumentos pedaggicos: Plano de Formao; Plano de Estudo; Colocao em Comum socializao e organizao dos conhecimentos da realidade do aluno e do seu meio, que servem de base para o aprofundamento articulado nas vrias reas do saber; interdisciplinaridade; Caderno de Sntese da Realidade do Aluno (VIDA); Fichas Didticas; Visitas de Estudo; Intervenes Externas palestras, seminrios, debates... Experincias / Projeto Prossional do Aluno; Visitas Famlia do Aluno; Caderno de Acompanhamento da Alternncia; e Avaliao contnua e permanente. Com a nalidade de esclarecer e fundamentar os CEFFA, quanto ao cumprimento dos dispositivos legais que tratam do calendrio escolar e durao do ano letivo, a Exposio de Motivos da SECAD/MEC anexou trs planos curriculares que comprovam a durao do ano letivo e da carga horria em obedincia aos dispositivos legais:

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1) EFA Escola da Famlia Agrcola Chico Mendes Conselheiro Pena, Minas Gerais: 204 dias letivos anuais e 960 horas de carga horria total por ano; 2) EFA Escola da Famlia Agrcola do Soinho Socopo, Piau: Curso Tcnico em Agropecuria, com durao mnima de 03 anos, com integrao do Ensino Mdio com o Ensino Tcnico durao total de 3.500 a 4.200 horas, sendo o estgio tcnico de 470 horas, compreendendo o mnimo legal de 200 dias letivos anuais;

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3) CFR Casa Familiar Rural Chopinzinho, Paran: Ensino Supletivo (Educao de Jovens e Adultos) 210 dias letivos anuais com a carga horria anual de 826 horas (terceiro ano).

Apreciao: Legislao e Normas A legislao aplicvel matria de que trata este parecer Centros Familiares de Formao por Alternncia (EFA, CFR e ECOR), pode ser assim resumida (Lei n 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional): Artigo 22 A Educao Bsica tem por nalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formao comum indispensvel para o exerccio da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Artigo 23 A educao Bsica poder organizar-se em sries anuais, perodos semestrais, ciclos, alternncia regular de perodos de estudos, grupos no seriados, com base na idade, na competncia e em outros critrios, ou por forma diversa de organizao, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. 1 - ... 2 - O calendrio escolar dever adequar-se s peculiaridades locais, inclusive climticas e econmicas, a critrio do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o numero de horas letivas previsto nesta Lei. Artigo 24 A educao bsica, nos nveis fundamental e mdio, ser organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I a carga horria mnima anual ser de oitocentas horas, distribudas por um mnimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excludo o tempo reservado aos exames nais, quando houver; Artigo 28 Na oferta de educao bsica para a populao rural, os sistemas de ensino promovero as adaptaes necessrias sua adequao s peculiaridades da vida rural e de cada regio, especialmente: I contedos curriculares e metodologias apropriadas s reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II organizao escolar prpria, incluindo adequao do calendrio escolar s fases do ciclo agrcola e s condies climticas; III adequao natureza do trabalho na zona rural. Artigo 34 a jornada escolar no ensino fundamental incluir pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o perodo de permanncia na escola. O Conselho Nacional de Educao, no exerccio de sua funo normativa, manifestou-se pelo Parecer CNE/CEB n 05/97 em termos apropriados ao assunto de que estamos a tratar: quando a Lei se refere ao mnimo de oitocentas horas distribudas por um mnimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, est se referindo a oitocentas horas de sessenta minutos, ou seja, um total anual de 48.000 minutos.

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O mesmo Parecer, ao tratar de trabalho efetivo em sala de aula, assim se manifesta:


As atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos tericos e prticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstraes, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artstica, visando plenitude da formao de cada aluno. Assim, no so apenas os limites da sala de aula propriamente dita que caracterizam com exclusividade a atividade escolar de que fala a Lei. Esta se caracterizar por toda e qualquer programao includa na proposta pedaggica da instituio, com freqncia exigvel e efetiva orientao por professores habilitados. Os duzentos dias letivos e as oitocentas horas anuais englobaro todo esse conjunto.

oportuno destacar que o Parecer CNE/CEB n 10/2005, homologado pelo Senhor Ministro da Educao, conforme publicao no Dirio Ocial de Unio de 6/9/2005, ratica plenamente o que contm o parecer supracitado. Finalmente o Artigo 7 da Resoluo CNE/CEB n 01, de 03/04/2002, arma:
responsabilidade dos respectivos sistemas de ensino, por meio de seus rgos normativos, regulamentar as estratgias especcas de atendimento escolar do campo e a exibilizao da organizao do calendrio escolar, salvaguardando, nos diversos espaos pedaggicos e tempos de aprendizagem, os princpios da poltica da igualdade.

Anlise do mrito A educao para o meio rural brasileiro, isto , a Educao do Campo, considerando-se as dimenses do pas, a imensa diversidade que o caracteriza e a extrema desigualdade entre as oportunidades educacionais oferecidas no meio urbano e no meio rural, est a merecer uma ateno prioritria. No faltam alternativas de soluo propostas e em execuo, entre as quais poderamos citar: o Projeto Escola Ativa, desenvolvido pelo FUNDESCOLA/FNDE/MEC nos estados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, centrado nas denominadas escolas multisseriadas localizadas no meio rural e que se contam por milhares; segundo conhecimento especco do relator o projeto tem sido avaliado positivamente; a Escola Estadual Fundamar, localizada no municpio de Paraguau, em Minas Gerais, que oferece Educao Infantil e Ensino Fundamental, experincia premiada pela Fundao ABRINQ em 2002; o Projeto Semeando Educao e Sade na Agricultura Familiar, desenvolvido pelo municpio de Trs Passos, no Rio Grande do Sul que, devidamente avaliado por uma comisso de notveis, recebeu na rea de educao o Prmio Objetivos de Desenvolvimento do Milnio ODM BRASIL, promovido pelo governo federal em acordo com a ONU/PNUD (dezembro de 2005). Mas indubitvel que os Centros Familiares de Formao por Alternncia (CEFFA), nas formas de Escolas Famlias Agrcolas (EFA), Casas Familiares Rurais (CFR) e Escolas Comunitrias Rurais (ECOR), pela sua expanso 217 escolas em perto de vinte estados brasileiros, apresentam-se como uma alternativa bem-sucedida e bem avaliada, uma vez que a introduo da EFA no Brasil, pelo Estado do Esprito Santo, data de 1969.

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Tambm de se dizer que a variao da Pedagogia da Alternncia na forma de Alternncia Integrativa Real ou Copulativa, tambm conhecida como Alternncia Formativa, , sem sombra de dvida, a alternativa mais consistente, como bem o reconhece Joo Batista Queiroz em sua Tese de Doutorado (UnB/2004), cuja leitura parece-me altamente recomendvel. Evidenciou-se, tambm, no Relatrio, que a Pedagogia da Alternncia cumpre perfeitamente dispositivos da Lei n 9.394/96, quando analisados em conjunto, inclusive quanto durao do ano letivo anual em dias e quanto a sua durao em horas. No particular, os pareceres CNE/CEB n 05/97 e n 10/2005 tambm so esclarecedores em sua interpretao, quando o Conselho Nacional de Educao faz uso de suas funes normativas e de superviso ( 1 do artigo 9 da LDBEN) e, de modo especial, o Parecer CNE/CEB n 30/2001 e a Resoluo CNE/CEB n 1/2002, que institui Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas escolas do campo. II VOTO DO RELATOR 1 imprescindvel que todas as unidades educativas, de qualquer grau, nvel, etapa ou modalidade, vinculadas a um dos sistemas de ensino, cumpram a legislao e as normas educacionais em sua totalidade, inclusive quanto durao do ano letivo em dias e horas de sessenta minutos. mister enfatizar que esse cumprimento um direito dos alunos. 2 No corpo do Relatrio deste Parecer constam observaes e sugestes importantes para que se dena um determinado padro de qualidade e de funcionamento para a Pedagogia da Alternncia. 3 Os CEFFA cumprem as exigncias legais quanto durao do ano letivo, pois integram os perodos vivenciados no centro educativo (escola) e no meio socioprossional (famlia/comunidade), considerando como dias e horas letivos atividades desenvolvidas fora da sala de aula, mas executadas dentro do Plano de Estudo de cada aluno. 4 Cada Centro Familiar de Formao por Alternncia dever organizar sua proposta poltico-pedaggica nos termos da LDBEN, seja na forma de Escola Famlia Agrcola, Casa Familiar Rural ou Escola Comunitria Rural, submetendo-a ao sistema de ensino competente. 5 Recomenda-se que o Projeto Poltico-Pedaggico de cada CEFFA adote as caractersticas da Pedagogia da Alternncia na concepo de alternncia formativa, isto , alternncia integrativa real ou copulativa, de forma a permitir a formao integral do educando, inclusive para prosseguimento de estudos, e contribuir positivamente para o desenvolvimento rural integrado e auto-sustentvel, particularmente naquelas regies/ localidades em que prevalece a agricultura familiar. 6 Os Conselhos Estaduais ou Municipais de Educao, que ainda no se manifestaram sobre os dias considerados letivos para a Pedagogia da Alternncia, o que vem dicultando a certicao de concluso de curso dos Centros Familiares de Formao por Alternncia (EFA, CFR ou ECOR), so encorajados a examinar/reexaminar os Projetos Poltico-Pedaggicos a eles submetidos pelas instituies educacionais, sob a tica do presente Parecer e das concluses dos seminrios e simpsios que vm sendo realizados sob o patrocnio do MEC, ou de outros organismos, sobre a Educao do Campo.
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o Parecer que submeto considerao da Cmara de Educao Bsica, com o esclarecimento de que todos os destaques, em itlico ou negrito so do relator. Braslia (DF), 1 de fevereiro de 2006 Conselheiro Murlio de Avellar Hingel Relator III DECISO DA CMARA A Cmara de Educao Bsica aprova por unanimidade o voto do Relator. Sala das Sesses, em 1 de fevereiro de 2006 Conselheiro Cesar Callegari Presidente Conselheira Cllia Brando Alvarenga Craveiro Vice-Presidente

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Educao Ambiental: aprendizes de sustentabilidade Educao do Campo: diferenas rompendo paradigmas Educao Escolar Indgena: diversidade sociocultural indgena ressignificando a escola Gnero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenas e superar preconceitos Proteger para Educar: a escola articulada com as Redes de Proteo de Crianas e Adolescentes Educao em Direitos Humanos: democracia, liberdade e justia social Diversidade tnico-Racial: polticas afirmativas na educao Integrao entre Instituies de Educao e Comunidade: caminhos para o exerccio da cidadania Educao de Jovens e Adultos: a construo de uma poltica pblica

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