Dejetos Suinos
Dejetos Suinos
Dejetos Suinos
BIPERS
Publicação conjunta do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves – EMBRAPA e da
Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/RS
AGOSTO/2002
Roberto Diesel
Cláudio Rocha Miranda
Suínos e Aves Carlos Cláudio Perdomo
ANO 10 BIPERS no 14 AGOSTO/2002
Circulação: Semestral
Tiragem: 2000
Coordenação: Roberto Diesel, ENGo Agro
EMATER/RS
Rua Botafogo 1051
Caixa Postal 2727
CEP 90150-053 – Porto Alegre, RS
Fone: (51) 233-3144
Fax: (51) 229-6199
http: / / www.emater.tche.br /
Coletânea de tecnologias sobre dejetos suínos
Roberto Diesel1
Cláudio Rocha Miranda 2
Carlos Cláudio Perdomo 3
1
Extensionista EMATER/RS
2
Eng. Agr., M.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves
3
Eng. Agr.,D.Sc., Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.
Sumário
1 Introdução 6
2 Dejetos suínos 6
2.1 Características dos dejetos suínos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2 Poder poluente dos dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3 Estimativa do volume de dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.4 Como planejar o manejo dos dejetos suínos . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4.1 Fase de produção e coleta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.4.2 Armazenagem dos dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4.3 Tratamento dos dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.4 Utilização dos dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.5 Uso dos dejetos na agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4.6 Distribuição dos dejetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3 Outras tecnologias 24
3.1 Sistema de produção de suínos em cama sobreposta . . . . . . . . . . 24
3.2 Compostagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.3 Uso de peneiras e prensas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
5 Bibliografia consultada 28
6 Anexo 31
5
1 Introdução
A poluição provocada pelo manejo inadequado dos dejetos suínos cresce em
importância a cada dia, quer seja por uma maior consciência ambiental dos
produtores, quer seja pelo aumento das exigências dos órgãos fiscalizadores e da
sociedade em geral. Essa combinação de fatores tem provocado grande demanda
junto aos técnicos no sentido de viabilizar soluções tecnológicas adequadas ao
manejo e disposição dos dejetos de suínos, que sejam, ao mesmo tempo, compatíveis
com as condições econômicas dos produtores, atendam as exigências legais e que
possam ser de fácil operacionalização. Soluções essas que nem sempre se revelam
de fácil execução, seja por problemas decorrentes de inadequação das instalações,
haja vista que só mais recentemente a questão dos dejetos passou a ser efetivamente
considerado na concepção das edificações suinícolas, quer seja devido as dificuldades
financeiras do suinocultor, ou mesmo, pelo desconhecimento dos técnicos acerca das
opções tecnológicas mais adequada para cada caso.
A presente publicação tem a pretensão de atender exatamente esse último
aspecto, ou seja, apresentar de forma acessível e prática uma coletânea das principais
informações relacionadas ao tema dejetos de suínos e que estavam dispersas em
dezenas de publicações (teses, monografias e artigos publicados em congressos) e
que, normalmente, o “técnico de campo” não tem o devido acesso.
A concepção geral que nos orienta nessa publicação é de que os nutrientes
presente nos dejetos devem ser, preferencialmente, reciclados através do seu uso
agrícola, levando assim a existência esquemática de três tipos básicos de situações
para o manejo dos dejetos suínos: 1) granja que possui área agrícola suficiente para
reciclar os dejetos na propriedade; 2) granja que não possui área própria suficiente
para reciclar os dejetos, mas possui áreas próximas (vizinhos) em condições e com
interesse em aproveitá-lo; 3) a granja com produção de dejetos superior à capacidade
interna de reciclagem e sem condições de exportar o excedente para áreas agrícolas
vizinhas. Cada uma dessas situações demanda uma estratégia diferente, sendo que
para a primeira e a segunda situação, as alternativas tecnológicas devem levar mais
em conta os aspectos relacionados ao armazenamento e distribuição dos dejetos,
enquanto que para a terceira, obrigatoriamente, se deverá pensar em formas de
tratamento dos dejetos excedentes.
A partir dessa concepção geral organizamos o presente boletim de forma que o
interessado possa ter uma visão geral do assunto e que disponha de um roteiro básico
dos procedimentos a serem considerados para elaboração correta de um projeto de
manejo dos dejetos da granja suinícola.
2 Dejetos suínos
A poluição ambiental por dejetos é um problema que vem se agravando na
suinocultura moderna. Diagnósticos recentes têm demonstrado um alto nível de
6
contaminação dos rios e lençóis de água superficiais que abastecem tanto o meio
rural como o urbano.
A capacidade poluente dos dejetos suínos, em termos comparativos, é muito
superior a de outras espécies. Utilizando-se o conceito de equivalente populacional
um suíno, em média, equivale a 3,5 pessoas. (LINDNER, 1999).
Em outras palavras, uma granja de com 600 animais possui um poder poluente,
segundo esse critério, semelhante ao de um núcleo populacional de aproximadamente
2.100 pessoas.
A causa principal da poluição é o lançamento direto do esterco de suínos sem
o devido tratamento nos cursos de água, que acarreta desequilíbrios ecológicos e
poluição em função da redução do teor de oxigênio dissolvido na água, disseminação
de patógenos e contaminação das águas potáveis com amônia, nitratos e outros
elementos tóxicos.
Os principais constituintes dos dejetos suínos que afetam as águas superficiais são
matéria orgânica, nutrientes, bactérias fecais e sedimentos. Nitratos e bactérias são
os componentes que afetam a qualidade da água subterrânea.
A produção de suínos acarreta, também, um outro tipo de poluição que é aquela
associada ao problema do odor desagradável dos dejetos. Isto ocorre devido a
evaporação dos compostos voláteis, que causam efeitos prejudiciais ao bem estar
humano e animal. Os contaminantes do ar mais comuns nos dejetos são: amônia,
metano, ácidos graxos voláteis, H2 S, N2 0, etanol, propanol, dimetil sulfidro e carbono
sulfidro. A emissão de gases pode causar graves prejuízos nas vias respiratórias
do homem e animais, bem com, a formação de chuva ácida através de descargas
de amônia na atmosfera, além de contribuírem para o aquecimento global da terra
(Perdomo, 1999; Lucas et al, 1999).
7
Tabela 1 — Composição química média dos dejetos suínos obtida na
Unidade do Sistema de Tratamento de Dejetos da Embrapa,
Concórdia-SC
Variável Mínimo (mg/L) Máximo (mg/L) Média (mg/L)
DQO 11.530,2 38.448,0 25.542,9
Sólidos totais 12.697,0 49.432,0 22.399,0
Sólidos voláteis 8.429,0 39.024,0 16.388,8
Sólidos fixos 4.268,0 10.408,0 6.010,2
Sólidos Sedimentáveis 220,0 850,0 428,9
Nitrogênio total 1.660,0 3.710,0 2.374,3
Fósforo total 320,0 1.180,0 577,8
Potássio total 260,0 1.140,0 535,7
Fonte: SILVA (1996)
de nutrientes, o que diminui seu valor fertilizante. Observou-se que cerca de 38%
das amostras de esterco tinham menos de 5 Kg/m3 de nutrientes e, o que é
mais preocupante, 27% do total das amostras apresentaram menos de 3 Kg/m3 de
nutrientes e um teor de matéria seca inferior a 1%.
8
Para determinar a qualidade de um efluente, deve-se estabelecer parâmetros
de controle, confiáveis e significativos. No caso dos dejetos suínos os principais
parâmetros utilizados são os seguintes:
Demanda Química de Oxigênio (DQO-mg/l): é a quantidade de oxigênio
necessária para oxidar quimicamente a matéria orgânica e inorgânica oxidável da
água, ou seja a quantidade de oxigênio consumida por diversos compostos sem a
intervenção de microorganismos.
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO-mg/l): principal unidade de medição de
poluição dos efluentes. Corresponde a quantidade de oxigênio necessário para que
as bactérias depuradoras possam digerir cargas poluidoras na água. Quanto maior a
DBO maior é a poluição causada. No processo de digestão desta carga poluidora as
bactérias necessitam de certa quantidade adicional de oxigênio, que é denominada de
DBO.
Sólidos Totais (ST - mg/l): O conteúdo de sólidos totais corresponde a matéria
sólida contida nos dejetos e que permanece após a retirada da umidade.
Sólidos Voláteis (SV - mg/l): Caracterizam a fração de material orgânico, assim
como o teor de sólidos fixos indicam o teor de sólidos minerais.
Nutrientes:
Nitrogênio Total (NTK - mg/l): Dos nutrientes o que tem maior interesse no estudo
das águas residuárias são o nitrato, nitrito, a amônia e o nitrogênio orgânico. O
nitrogênio total é a soma da amônia livre e do nitrogênio orgânico.
Sua presença indica o grau de poluição do aqüífero ocasionada por despejo de
água rica em fertilizantes nitrogenados. Em teores elevados, na preparação de
alimentos para crianças, pode causar a cianose (methemoglobinemia), doença que
atinge crianças. O seu padrão máximo na água é 10 mg/l (SABESP).
9
Para facilitar a execução de projetos, foi desenvolvida uma recomendação prática,
onde a quantidade de dejetos é estimada de acordo com o sistema produtivo utilizado
pelo produtor e com o grau de desperdício da água na granja, conforme Tabela 4.
10
2.4.1 Fase de produção e coleta
A densidade dos dejetos, o tipo de piso, o tipo de bebedouro, a tipologia da
edificação e o manejo de água para limpeza determinam o volume de dejetos líquidos
produzidos.
Nessa fase devemos pensar em todas as maneiras possíveis de evitarmos o
desperdício de água. Para ter uma idéia do que o desperdício significa cabe mencionar
que uma pequena goteira num bebedouro, com pressão de 2,8 kg/cm2 representa uma
perda de 26,5 litros/hora (0,63m3 /dia) e 150 litros/hora num vazamento maior.
As principais medidas preventivas que devem ser observadas nessa etapa são as
seguintes:
• Bebedouros
O bebedouro ideal é aquele que fornece um adequado volume de água na
unidade de tempo, com baixa velocidade de escoamento. A altura e o ângulo de
posicionamento dos bebedouros devem ser determinados em função do modelo
e do tamanho dos animais.
11
Nas fases em que os animais apresentam grande variação de peso, a exemplo
da creche, crescimento e terminação, é importante que os bebedouros sejam
ajustáveis ou colocados em alturas diferentes. Assim, suínos jovens preferem
beber juntos, portanto bebedouros mais afastados entre si, não apresentam bom
rendimento.
Cada tipo de bebedouro apresenta um altura ideal para sua instalação de acordo
com a fase do animal (Tabela 5). Por exemplo, a altura dos bebedouros tipo taça
deve facilitar a limpeza e evitar a contaminação pelas dejeções. Para a porca em
lactação é recomendável uma altura mais elevada do bebedouro, mantendo, no
entanto, um sistema a parte para o leitão.
12
O uso de nutrientes na ração acima das exigências dos animais (margens de
segurança) onera os custos de produção e aumenta a excreção de nutrientes.
O emprego da técnica de restrição alimentar em suínos em terminação reduz o
volume de fezes produzido, bem como a excreção diária de fósforo, nitrogênio e
outros minerais.
Redução nos níveis de NaCl (cloreto de sódio) fornecidos na dieta, de maneira
a atender apenas os níveis exigidos, reduzirá o Na e o Cl excretados, ao mesmo
tempo que haverá uma utilização racional da água e menor volume de dejetos
produzidos.
Promotores de crescimento como o cobre e o zinco, se usados na forma
quelatada na ração, podem reduzir a excreção de nutrientes nas fezes dos
animais.
• Técnicas de edificação
Em algumas edificações pela falta de orientação técnica, a água da chuva
mistura-se com os dejetos aumentando seu volume. Para se evitar essa situação
devemos tomar os seguintes cuidados:
O beiral das edificações deve ter no mínimo 80cm para evitar que a água da
chuva, ao escoar, atinja os canais externos de coleta dos dejetos.
Nos arredores dos depósitos de dejetos deve-se fazer uma boa drenagem para
evitar a entrada da água da chuva.
Recomenda-se que seja construído um depósito, separado da esterqueira, para
escoamento da água de limpeza e desinfeção das instalações.
A prática de cobrir a esterqueira com objetivo de evitar a entrada da água da
chuva e a proliferação de moscas não deve ser recomendada, pois normalmente
a água se evapora com o passar do tempo e as moscas não conseguem se
multiplicar no esterco úmido.
13
• Esterqueira
É um depósito que tem por objetivo captar o volume de dejetos líquidos
produzidos num sistema de criação, durante um determinado período de tempo
(normalmente entre entre 4 e 6 meses), para que ocorra a fermentação anaeró-
bica da matéria orgânica. A carga de abastecimento é diária, permanecendo o
material em fermentação até a retirada.
Características:
As esterqueiras normalmente são de formato retangular pela facilidade de
construção, mas estas são mais susceptíveis às rachaduras, devido a maior
pressão que ocorre nos cantos. Quando no formato circular tem a vantagem
de proporcionar melhor distribuição das cargas nas suas paredes laterais. As
esterqueiras podem ser construídos de alvenaria, pedras, solo cimento ou lona
PVC especial.
Nas laterais e fundo da esterqueira deve ser feita uma drenagem das águas da
chuva para evitar a pressão que ocorre nela quando o depósito estiver vazio. O
depósito deve ser dimensionado em função do número de animais e do tempo
de armazenamento dos dejetos.
Vantagem:
Facilidade de construção, permite a fermentação do dejeto e o seu melhor
aproveitamento como fertilizante. Seu custo é aproximadamente 20% menor
do que a bioesterqueira.
Desvantagem:
Nesse processo não ocorre separação de fases e o dejeto fica mais concentrado,
exigindo maiores áreas para sua disposição final como fertilizante.
• Bioesterqueiras
Consiste numa adaptação da esterqueira convencional para melhorar a efi-
ciência no tratamento do dejeto, através do aumento do tempo de retenção
do mesmo. Esta construção é composta por uma câmara de retenção e um
depósito. Surgiu a partir dos biodigestores, pois a câmara de fermentação é
semelhante a um biodigestor, porém sem campânula.
Características:
Realizam o processamento dos dejetos na forma de digestão anaeróbica, com
alimentação e descarga contínuas.
Pode ser construída de diferentes materiais, com tijolos, blocos de cimento ou
pedras, com diferentes formas, que seguem as recomendações da esterqueira
convencional.
A parede divisória não pode ser inferior a 2/3 da altura do nível de dejetos na
câmara.
14
A câmara de fermentação tem uma profundidade mínima de 2,5 metros,
possibilitando menor variação de temperatura e relação largura/comprimento de
3:1. Nela o dejeto é retido por no mínimo 45 dias e depois vai para o depósito.
O depósito deve ser dimensionado para um período mínimo de 120 dias de
estocagem e a sua profundidade máxima deve ser de 2,5 metros. O material
a ser utilizado para fertilização nas áreas de lavouras é aquele localizado no
depósito.
Vantagens:
Reduz a carga orgânica do dejeto, bem como melhora a qualidade do esterco a
ser distribuído na lavoura.
Desvantagem:
Custo aproximadamente 20% superior à esterqueira.
Biodigestores
São câmaras que realizam a fermentação anaeróbia da matéria orgânica
produzindo biogás e biofertilizante.
Características:
Processo da digestão anaeróbia consiste na transformação de compostos
orgânicos complexos em substâncias mais simples, como metano e dióxido de
carbono, através da ação combinada de diferentes microorganismos que atuam
na ausência de oxigênio. O biodigestor pode ser construído de pedra ou tijolo e
a campânula de ferro, fibra de vidro ou PVC.
Existem dois tipos principais de biodigestores, o de batelada e o contínuo. No
Brasil o modelo contínuo (indiano) foi o mais difundido pela sua simplicidade e
funcionalidade.
Os dejetos de suínos possuem um bom potencial energético em termos de
produção de biogás, tendo em vista, que mais de 70% dos sólidos totais são
constituídos pelos sólidos voláteis, que são o substrato dos microrganismos
produtores de biogás.
O biogás liberado pela atividade de fermentação anaeróbia do dejeto tem
elevado poder energético e a sua composição varia de acordo com a biomassa.
No meio rural pode atender quase que totalmente às necessidades energéticas
básicas, tais como: cozimento, iluminação e geração de energia elétrica para
diversos fins.
Biofertilizante é o efluente resultante da fermentação anaeróbia da matéria
orgânica, na ausência de oxigênio, por um determinado período de tempo.
Pode ser utilizado como adubo do solo tanto puro quanto na formação de
compostagens.
O tamanho do biodigestor deve estar de acordo com as necessidades
energéticas da propriedade, com a capacidade de consumo do biogás produzido,
15
com o número de animais existentes e com a área disponível para aplicação do
biofertilizante.
Um método prático prático para estimar o tamanho do biodigestor é dado pela
fórmula abaixo: TB= V X TRH
Onde:
TB = Tamanho do biodigestor (m3 );
V = vazão diária de dejetos (m3 /dia);
TRH = tempo de retenção necessário para a degradação da matéria orgânica
(varia de 20 a 50 dias).
Vantagens:
Fornecimento de combustível no meio rural através do biogás e adubo através
do biofertilizante.
Valorização dos dejetos para uso agronômico.
Redução do poder poluente e do nível de patógenos.
Exigência de menor tempo de retenção hidráulica e de área em comparação com
outros sistemas anaeróbios.
Desvantagens:
Processo de fermentação anaeróbia é lento porque depende das bactérias
metanogênicas cuja velocidade de crescimento é lenta, o qual se reflete num
tempo longo de retenção dos sólidos.
Necessidade de homogeneização dos dejetos para garantir a eficiência do
sistema.
• Tratamento físico
O dejeto passa por um ou mais processos físicos, onde ocorre a separação das
fases sólida e líquida. Como tratamento físico tem-se a separação de fases, que
pode ser efetuada por processo de decantação, centrifugação, peneiramento
e/ou prensagem, e a desidratação da parte líquida por vento, ar forçado ou ar
aquecido. A separação entre as fases sólidas e líquida poderá minimizar os
custos de implantação do tratamento.
16
No item referente a outras tecnologias apresentaremos alguns equipamentos
possíveis de serem utilizados na separação de fases.
• Tratamento biológico
Ocorre a degradação biológica do dejeto por microorganismos aeróbios e anae-
róbios, resultando em um material estável e isento de organismos patogênicos.
Nos dejetos com características sólidas é possível fazer o tratamento biológico
através dos processos de compostagem, enquanto em dejetos fluídos pode-se
executar os processos de lagoas de estabilização.
A Embrapa Suínos e Aves está desenvolvendo pesquisa de sistemas capazes
de equacionar o aproveitamento e tratamento dos dejetos suínos. Estes
estudos, sugerem a separação das frações sólidas e líquidas dos dejetos, com
aproveitamento da primeira como fertilizante e tratamento da fração líquida.
17
Tabela 6 — Eficiência combinada na remoção da carga orgânica
e nutrientes do decantador, 2 lagoas anaeróbias, 1
lagoa facultativa e 1 lagoa de aguapés
Variáveis Valores Valores finais Eficiência
iniciais (mg/l) (%)
DBO5 13.500 mg / l 186,03 98,62
Nitrogênio 2.337 mg / l 185,51 92,06
Fósforo 660 mg / l 19,42 97,05
8
Coliformes fecais 5.08 x 10 - 99,9
Fonte: Medri (1996).
18
No entanto, sua utilização para bovinos de leite não é recomendada devido aos
riscos sanitários.
Piscicultura
A utilização dos dejetos suínos na alimentação de peixes é comum em vários
países. Sua principal finalidade é fornecer um alimento barato aos peixes
permitindo uma maior agregação de renda na propriedade.
O principal beneficio do dejeto na água é a produção de organismos planctônicos
que servem de alimentos aos peixes.
O policultivo de peixes é o principal sistema de criação que usa dejetos suínos,
sendo a carpa comum, a tilápia nilótica e as carpas chinesas, as principais
espécies utilizadas.
Na Tabela 7, observa-se a distribuição dos peixes normalmente, recomendados
para o policultivo na região Sul do Brasil.
O dejeto suíno deve ser aplicado com moderação nos ambientes aquáticos, pois
seu uso excessivo pode causar mortalidade de peixes, devido a falta de oxigênio
na água. Deve-se procurar manter uma taxa de oxigênio dissolvido de 5mg/litro.
A dosagem de dejetos a ser aplicada depende basicamente da temperatura da
água. Recomenda-se de uma maneira geral, utilizar uma quantidade equivalente
a 10% do peso vivo dos peixes, quando a temperatura da água for superior
a 20o C. Caso a temperatura for menor, alimenta-se o tanque com dejetos na
quantidade de 3 a 5% do peso vivo dos peixes.
Vantagens:
O aproveitamento racional do esterco de suínos na alimentação de peixes
contribui para a produção de carne a baixo custo e melhora a renda da
propriedade rural.
19
Desvantagens:
O uso excessivo dos dejetos nos açudes pode comprometer o desenvolvimento
dos peixes e causar problemas ambientais principalmente no momento da
despesca.
20
A concentração de N,P,K, nos estercos animais, está relacionada com a
qualidade dos alimentos consumidos pelos mesmos e o tamanho do animal,
medido em peso vivo. Em média, 75% do nitrogênio, 80% do P2 O5 e 85% do
K2 O presentes nos alimentos, são excretados nas fezes.
O fósforo está presente mais na forma de compostos orgânicos, enquanto que a
urina contém apenas traços do elemento. No esterco manejado de forma líquida
há necessidade de homogeneização da biomassa, porque o fósforo pode ser
fixado no fundo das lagoas e esterqueiras.
O potássio está presente, em grande parte na urina dos animais, é altamente
solúvel em água e prontamente disponível, pois encontra-se totalmente na forma
mineral. Deve-se evitar perdas de K solúvel por vazamentos nas esterqueiras,
pois pode fluir juntamente com a água.
pH: o pH dos estercos fermentados deve ser superior a 6,5, principalmente
quando o material for colocado em cobertura nas pastagens ou culturas anuais.
Em função disso é importante que o material a ser fermentado na esterqueira
tenha um tempo de retenção de pelo menos 120 dias.
Determinação da densidade dos dejetos
O ideal é que fossem coletadas amostras dos dejetos nas esterqueiras e
enviadas para análises químicas e físicas nos laboratórios. No entanto, como
estas tem um custo elevado, um dos métodos indicados para ser utilizado a
campo é o uso do densímetro, que permite a determinação da densidade,
sendo possível com isto, estimar a composição em nutrientes e calcular a dose
adequada a ser aplicada para uma determinada cultura.
Primeiramente, mistura-se os dejetos na esterqueira, agitando-os por alguns
minutos, até perfeita homogeneização. Em seguida, com um recipiente
adequado, retira-se uma amostra para a determinação da densidade. Para
realizar a leitura, mergulha-se o densímetro no recipiente, observa-se até onde
ele imerge e registra-se o valor obtido. Os densímetros recomendados devem ter
escala de 1000a 1060 kg/m3 . Com o valor da densidade, consulta-se a tabela de
conversão, obtendo-se às características químicas dos dejetos analisados (Vide
tabela de densidade Anexo I).
Quando se avalia um esterco mais pastoso, densidade superior a 1030kg/m, com
teores acima de 6% de matéria seca, o densímetro perde precisão na leitura.
Neste caso, deve-se fazer uma nova medição, observando-se o seguinte: diluir
o liquame na proporção de 1:1 com água; fazer uma boa homogeneização da
amostra; introduzir o densímetro e fazer uma nova leitura.
Quantidade a aplicar solo
A quantidade de dejetos a ser aplicada depende do valor fertilizante, do resultado
da análise do solo e das exigências da cultura a ser implantada.
21
Para se evitar a adição de alguns nutrientes em quantidades superiores as
exigidas, deve-se fazer o cálculo, tomando por base o nutriente cuja quantidade
seja satisfeita com a menor dose do adubo orgânico.
Cálculo das quantidades de nutrientes aplicados através de adubos
orgânicos
Fórmula para adubos sólidos:
X= A X B / 100 X C X 100 X D
Onde:
X = Quantidade de nutrientes (kg/ha)
A = Quantidade de produto a aplicar (kg/ha)
B = Teor de matéria seca do produto (%)
C = Concentração do nutriente na matéria seca (%)
D = Índice de eficiência na liberação dos nutrientes (Tabela)
Fórmula para adubos líquidos:
X= A X B X C
Onde:
A = Quantidade de nutriente a aplicar (kg/ha)
B = Concentração do nutriente no produto (kg/m3 )
C = Índice de eficiência na liberação dos nutrientes (Tabela 8)
N 0,5 0,2 -
P2 0 5 0,6 0,2 -
K2 0 1,0 - -
Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
(SBCS,1994).
22
Tabela 9 — Concentração média de N, P2 O5 e K2 O e teor
de matéria seca de alguns materiais orgânicos de
origem animal
Material orgânico N P2 O5 K2 0 Matéria seca
% mm
Esterco sólido de suínos 2.1 2.8 2.9 25
3
kg/m de chorume
Esterco líquido de suínos 4.5 4.0 1.6 6
Concentração calculada com base em material isento de água.M/m =
relação massa/massa.
Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS,1994).
23
Se o esterco está sendo usado como um recurso o produtor deve conhecer
os níveis de fertilidade do solo, as necessidades das culturas, o conteúdo dos
nutrientes do esterco, e as possíveis perdas decorrentes da época e do método
de aplicação.
A distância entre a esterqueira e o local onde é aplicado o esterco é o fator
de maior influência no custo do transporte e distribuição na lavoura. Pesquisas
realizadas avaliando os custos, de sistemas de aplicação de esterco, observaram
que para a distância de 10 km entre a esterqueira e a lavoura, a operação
somente foi econômica quando foram utilizados tanques de grande capacidade
para o transporte, e um distribuidor de capacidade menor na lavoura.
3 Outras tecnologias
3.1 Sistema de produção de suínos em cama sobreposta
O uso da cama sobreposta para criação de suinos nas fases de crescimento e
terminação ("deep bedding") foi introduzido no Brasil em 1993 pela Embrapa Suinos
e Aves através dos pesquisadores Paulo Armando de Oliveira e Juri Sobestiansky
(Morés, 2000).
Constitui-se num sistema de produção de suinos em leito formado por maravalha
ou outro material (serragem, palha, casca de arroz, sabugo triturado de milho) onde os
dejetos são misturados ao substrato do leito, submetido ao processo de compostagem
dentro da própria edificação (Oliveira, 2000).
Este sistema exige um modelo de edificação totalmente aberto nas laterais, para
facilitar a ventilação, sendo o piso constituído por terra compactada.
Como o processo de compostagem é aeróbio são reduzidas as emissões de
amônia (NH3 ) e odores, bem como ocorre a evaporação da fração líquida contida
nos dejetos.
Este sistema de produção apresenta vantagens e desvantagens em relação ao
sistema convencional.
As vantagens estão relacionadas principalmente ao menor custo de investimento
em instalações e manejo de dejetos, melhor conforto e bem estar animal e melhor
aproveitamento da cama como fertilizante agrícola, devido a concentração de
nutrientes e a redução quase total da água contida nos dejetos.
De uma maneira geral vários problemas são reduzidos com o uso da cama
sobreposta, como é o caso do canibalismo caudal, e dos problemas de cascos e das
articulações.
As desvantagens estão associadas ao maior consumo de água no verão, maior
cuidado e necessidade de ventilação nas edificações, disponibilidade do substrato que
servirá de cama e principalmente aspectos sanitários relacionados com a ocorrência
de infecções por micobactérias (Mycobacterium avium - intracellulare MAI).
A Linfadenite causada pela micobactérias não provoca mortalidade nem atraso
no crescimento dos suínos, mas dependendo da gravidade das lesões nos gânglios,
24
o serviço de inspeção de carnes pode determinar a condenação ou o destino
condicionado das carcaças afetadas, com prejuízos tanto para o produtor como para
a indústria.
A cama pode não ser a fonte primária de micobactérias, mas ela pode permitir
o acúmulo e mesmo a multiplicação de micobactérias de outras fontes. Assim a
constante exposição de leitões para camas infectadas na maternidade e creche pode
levar a ocorrência de lesões no abate. Também aves domésticas e selvagens podem
contaminar as camas que são usadas para suínos dar início a infecção no rebanho.
Para saber se o rebanho está infectado deve-se fazer o teste de tuberculinização com
PPD aviária, no plantel de porcas e machos.
Sugere-se que os produtores que desejam usar o sistema de cama sobreposta,
tenha o plantel de origem dos leitões livres desta doença, bem como a maravalha ou
serragem a ser usada como cama seja submetida a tratamento térmico em secador
comercial e não tenha ficado exposta ao tempo.
3.2 Compostagem
Processo de decomposição e bioestabilização de resíduos orgânicos. Pode
ser obtida por p’rocessos físicos, químicos e bioquímicos e biológicos. A prática
da compostagem tem sido bastante difundida nas zonas rurais com objetivo de
reintegração no solo dos componentes fertilizantes.
Características do processo
Para se ter uma compostagem eficiente dos resíduos orgânicos devemos observar
algumas condições importantes como: material apropriado com tamanho de partículas
de 1 a 5 cm, relação C/N, em torno de 30/1, umidade em torno de 60% e temperatura
variando de 60 a 70o C.
O preparo do composto requer um local adequado para a construção, de
preferência próximo a uma fonte de água situado em terreno plano ou levemente
inclinado, protegido de ventos, insolação e que tenha boa drenagem.
A montagem das pilhas deve obedecer a seguinte seqüência:
25
Desvantagens da compostagem
Requer monitoramento do processo para se obter um bom composto orgânico.
26
O esterco dos animais juntamente com o lixo orgânico devem ter um cuidado
especial na propriedade, pois são excelentes fontes de reprodução das moscas.
Considerando-se que, cada suíno produz em média dois quilos de esterco, isso
representa um potencial em termos de substrato para gerar 2.000 moscas. Paiva
(1997) recomenda as seguintes mediadas para se combater a proliferação de moscas:
• Manter a calha da coleta do dejeto dos suínos com água suficiente para cobrir o
esterco.
• Uma fina camada de água mantida sobre o esterco impede a criação de moscas.
• Proteja com tela os alimentos e utensílios domésticos para não alimentar moscas
adultas;
• Use tela nas portas e janelas das casas, impedindo a entrada das moscas;
27
5 Bibliografia consultada
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6 Anexo
31