Direitos e Garantias Fundamentais - Teoria Geral
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Direitos e Garantias Fundamentais - Teoria Geral
DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS
1. NOMENCLATURA ADEQUADA
Tanto a referência à direitos humanos quanto à direitos fundamentais são
adequadas e no geral querem se referir aos direitos fundamentais da pessoa
humana, se alguma distinção pode ser feita será referente à origem ou à
positivação.
2.2. CONCEITOS
Para um melhor aprendizado é necessário diferenciar alguns conceitos que
permeiam tal matéria e que podem ser confundidos até mesmo pelos mais
experientes estudiosos, vejamos:
2.3. DIREITOS
São as disposições declaratórias. É o que se atribui a alguém. O que se
pretende proteger.
Direitos são disposições contidas em normas que atribuem a alguém a
titularidade de uma prerrogativa sobre um bem, um valor ou ainda sobre faculdades
reconhecidas pela ordem jurídica.
2.4. GARANTIAS
André Alencar dos Santos DIREITO CONSTITUCIONAL 3
2.5. DEVERES
Os deveres constituem obrigações que a ordem jurídica impõe, ou seja, em
situações de fazer ou não fazer algo para a necessária convivência harmônica na
sociedade.
Os deveres não precisam ser redigidos de forma tal, posto que quando se
atribui um direito ao sujeito da ordem jurídica, como por exemplo o direito à vida
privada, está se estabelecendo aos demais sujeitos da ordem jurídica o dever de
respeito ao direito declarado ao primeiro.
André Alencar dos Santos DIREITO CONSTITUCIONAL 5
3.1. HISTORICIDADE
Os direitos fundamentais têm caráter histórico, são frutos de uma lenta e
contínua evolução em que os debates e confrontos no seio social fazem surgir
declarações de direitos em prol da convivência mais harmônica e mais humana
entre os seres.
Os direitos declarados são como revelações de direitos humanos já naturais
ou são como formas de descobertas de direitos que ainda não haviam sido
identificados no atual estágio de evolução.
Ponto fundamental é entender que a historicidade dos direitos fundamentais
irá levar, fatalmente, à idéia de que os novos direitos declarados não excluem os
anteriores, ou seja, as declarações que se sucedem sempre devem primar pela
agregação ou acumulação, jamais pela revogação de direitos fundamentais. Por
isso, a tendência dos direitos fundamentais é a acumulação ou ampliação, a
descoberta de novos direitos.
limitações ao poder estatal. Portanto, apesar das críticas que os primeiros direitos e
seu regime liberal sofreram a posteriori, cabe dizer que estes primeiros direitos
foram por demais importante, porque fixaram um limite ao poder estatal,
principalmente, ao se fixar o princípio da legalidade (Estado de Direito – princípio
da liberdade aos particulares), o direito à resistência, à revolução (Poder
Constituinte), à propriedade e à segurança.
São exemplos clássicos, na maioria dos casos previstos no Art. 5º: Direito de
propriedade; Direito de contratar (autonomia da vontade como manifestação do
direito de propriedade); Direito de manifestar o pensamento religioso – direito de
crença; Liberdade política de participar do governo (eleger e ser eleito); Direito à
vida; Direito à liberdade religiosa; Direito à Liberdade de expressão; Direito à
Intimidade; e Princípios contra a tributação excessiva;
São lembrados pela palavra Liberdade.
Diz o STF:
MS 22.164 (STF): ―Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e
políticos) — que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o
princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e
culturais) — que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o
princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de
titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o
princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de
desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados,
enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial inexauribilidade.‖ (MS
22.164, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 17/11/95)
Pode-se pensar na ampliação de direitos fundamentais com a seguinte idéia:
3.2. UNIVERSALIDADE
Os direitos humanos, até pela caracterização de humanos, são para todos
os homens. Dirigem-se ao ser humano em razão da natureza de homem, em
caráter abstrato.
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3.3. AMPLIAÇÃO
Tendo em visto a historicidade dos direitos fundamentais e sua capacidade
de expansão tem-se por característica a ampliação dos direitos fundamentais.
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estão sujeitas – e considerado o substrato ético que as informa - permite que sobre elas
incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do
interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois
nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com
desrespeito aos direitos e garantias de terceiros." (MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
12/05/00)
MS 24.369 (STF): "Delação anônima. Comunicação de fatos graves que teriam sido
praticados no âmbito da administração pública. Situações que se revestem, em tese, de
ilicitude (procedimentos licitatórios supostamente direcionados e alegado pagamento de
diárias exorbitantes). A questão da vedação constitucional do anonimato (CF, art. 5º, IV, in
fine), em face da necessidade ético-jurídica de investigação de condutas funcionais
desviantes. Obrigação estatal, que, imposta pelo dever de observância dos postulados da
legalidade, da impessoalidade e da moralidade administrativa (CF, art. 37, caput), torna
inderrogável o encargo de apurar comportamentos eventualmente lesivos ao interesse
público. Razões de interesse social em possível conflito com a exigência de proteção à
incolumidade moral das pessoas (CF, art. 5º, X). O direito público subjetivo do cidadão ao
fiel desempenho, pelos agentes estatais, do dever de probidade constituiria uma limitação
externa aos direitos da personalidade? Liberdades em antagonismo. Situação de tensão
dialética entre princípios estruturantes da ordem constitucional. Colisão de direitos que se
resolve, em cada caso ocorrente, mediante ponderação dos valores e interesses em
conflito. Considerações doutrinárias. Liminar indeferida." (MS 24.369, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ 16/10/02)
deve ser visto como forma de averiguar se uma lei que interfira na propriedade ou
na liberdade das pessoas foi razoável.
Caso seja detectada na lei restritiva de direitos fundamentais a sua
dispensabilidade (inexigibilidade), inadequação (falta de utilidade para o fim
perseguido) ou de ausência de razoabilidade em sentido estrito
(desproporção entre o objetivo perseguido e o ônus imposto ao atingido,
poderá o STF, segundo palavras do Ministro Gilmar Mendes, declarar a lei em
questão inconstitucional com base na cláusula do devido processo legal em sua
acepção substantiva.
Portanto, o devido processo legal é uma limitação ao legislador no momento
de estabelecer limitações aos direitos fundamentais. Por isso, o STF tem usado tal
princípio para declarar a inconstitucionalidade de leis que sejam desarrazoadas.
A. Princípio da proporcionalidade ou limitação ao excesso: Nasce na
França, decorrente da ―jurisdição administrativa‖, ou seja, vem do Direito
Administrativo para o Constitucional. Na França, caberia recurso
administrativo quando o ato tivesse eivado de excesso de poder (desvio de
poder).
B. Princípio da proporcionalidade ou proibição de excesso: Na origem
alemã o princípio da proporcionalidade também deriva do Direito
Administrativo e visa controlar o poder de polícia que não pode ultrapassar as
medidas necessárias para proporcionar o bem comum. O Tribunal
Constitucional Alemão elevou o princípio da proporcionalidade à matéria
Constitucional ao decidir que o legislador não deve exceder na sua liberdade
de inovação do ordenamento jurídico criando leis que restrinjam
excessivamente os direitos fundamentais, ou seja, a base constitucional é o
próprio Estado de Direito.
Segundo o Tribunal Constitucional Alemão: ―O meio empregado pelo legislador
deve ser adequado e necessário para alcançar o objetivo procurado. O meio é adequada
quando com seu auxílio se pode alcançar o resultado desejado; é necessário quando o
legislador não poderia ter escolhido outro meio, igualmente eficaz, mas que não limitasse ou
limitasse da maneira menos sensível o direito fundamental‖.
C. Princípio razoabilidade: Com este nome os americanos têm-se utilizado
da cláusula do devido processo legal para que os juízes possam dizer quando
uma lei feriu ou não, excessivamente, um direito fundamental. O devido
processo legal passou de uma visão adjetiva, processual para uma visão
material, substantiva. Quando analisado pelo lado formal, processual o devido
processo legal impõe a garantia de que o processo será ordenado conforme a
legalidade. Já na acepção substantiva, material, o devido processo legal
significa que a legislação restritiva de direitos tem de ser necessária,
adequada e contenha as justas medidas para alcançar o objetivo visado.
3.5. INTERDEPENDÊNCIA
Os direitos fundamentais se interagem com as garantias fundamentais para
formar uma rede de proteção do indivíduo contra o Estado ou mesmo para exigir
deste a prestação de serviços essenciais para a dignidade da pessoa humana.
Neste sentido os direitos fundamentais estão interligados às garantias
fundamentais porque os direitos necessitam das garantias para assegurar uma
proteção efetiva. Por isso vê-se no texto constitucional que a liberdade de
locomoção é atribuída em época de paz e é protegida por meio de habeas corpus.
Também se vê que o acesso à informação é gratuito e por isso o remédio do
habeas data também será gratuito.
3.6. COMPLEMENTARIEDADE
Os direitos e garantias fundamentais se complementam na medida em que
um direito não pode ser interpretado isoladamente, sem observar-se a rede
protetiva que a Constituição cria.
Por exemplo, trabalhando com o princípio do devido processo legal, que já é
uma complementação ao princípio da dignidade da pessoa humana vê-se que não
há devido processo legal (em sua vertente judicial) sem amplo acesso à justiça,
não há acesso há ordem jurídica justa se o juiz ou tribunal for de exceção, não há
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processo justo se a parte não tiver um defensor e por isso o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados.
Assim também outros direitos fundamentais devem ser interpretados com
outros direitos fundamentais. Se a vida privada e a intimidade são invioláveis então,
nada mais fácil de concluir que a regra é que o domicílio e a comunicação também
sejam invioláveis.
3.7. CONCORRÊNCIA
Os direitos fundamentais constituem-se em rol bastante extenso de forma
explícita, mas também existem os direitos fundamentais implícitos – como o
princípio da proporcionalidade ou o princípio da proibição à auto-incriminação.
Portanto, não há impedimento de que uma mesma pessoa possa utilizar, em
conjunto, simultaneamente, dois ou mais direitos fundamentais – muito
pelo contrário porque vários deles são interdependentes.
Portanto, os direitos fundamentais podem ser usados em conjunto, por
exemplo: o direito de informação está atrelado ao direito de opinião. O direito à
intimidade protege a invasão domiciliar, que por sua vez é uma das facetas do
direito à propriedade.
3.8. EFETIVIDADE
As normas constitucionais e, em especial, os direitos fundamentais gozam
da máxima efetividade possível já que são normas que estão localizadas no ápice
da pirâmide normativa, estão na Lei Fundamental e Suprema do Estado.
O princípio da máxima efetividade aos direitos fundamentais procura garantir
que os direitos fundamentais não sejam violados ou aniquilados por ações estatais,
ou ainda, sejam tornados inefetivos por falta de ação estatal para a sua
concretização.
A Constituição diz:
Art. 5º § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.
Sendo assim os direitos fundamentais merecem dos poderes constituídos a
máxima proteção e a maior busca possível para sua efetivação.
3.8.1. Legislativo
O legislador tem o papel de densificar os direitos fundamentais,
concretizando-os mediante leis infraconstitucionais necessárias à sua definição e
amplitude. O papel do legislador é minudenciar os direitos fundamentais fazendo
com que sejam de fácil aplicação e integração ao ordenamento jurídico.
3.8.2. Executivo
O administrador tem o papel de zelar, proteger, guardar e, principalmente,
respeitar os direitos fundamentais. Alguns direitos fundamentais dependem de
atuação também do Poder Executivo e, por isso, cabe a ele efetivar e prestar
direitos fundamentais para que a concretização dos direitos seja efetiva.
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3.8.3. Judiciário
O julgador tem o papel de proteger, resguardar, fazer valer e garantir os
direitos fundamentais quando seja levada ao seu conhecimento qualquer lesão ou
ameaça a direito. O judiciário é o grande protetor dos direitos fundamentais e se
legitima na medida em que os torna efetivos, protegendo-os contra as
arbitrariedades das demais autoridades estatais.
3.9. IRRENUNCIABILIDADE
Os direitos fundamentais podem não ser exercidos, porém, jamais
renunciados. O fato de um sujeito não querer se locomover não o tirará, quando
quiser, de usar o direito de locomoção.
Alguém que não queira exprimir seu pensamento tem o direito de não fazê-
lo, porém, a ordem jurídica o protegerá quando quiser fazê-lo.
O detentor de direitos fundamentais poderá fazer concessões temporárias
(jamais permanentes) sobre algum de seus direitos fundamentais, desde que a
concessão não seja violadora da própria dignidade da pessoa humana. Assim, não
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3.10. IMPRESCRITIBILIDADE
A falta de exercício não torna os direitos fundamentais prescritos. Assim
como não se pode renunciar os direitos fundamentais (permanentemente), também
não incide sobre eles a ação do tempo. O não uso dos direitos fundamentais não
interfere na proteção que gozam perante a ordem jurídica.
3.11. INALIENÁVEIS
Os direitos fundamentais, em sua grande maioria, não admitem a alienação
posto que a venda seria uma renúncia. Os direitos fundamentais personalíssimos,
por falta de conteúdo material, são indisponíveis dentro do comércio, não é lícito a
alienação da liberdade ou da intimidade.