Uma nova era para o ao1

Problemas tcnicos no constituem mais entrave para o uso das estruturas metlicas em edificaes no Brasil. Os custos finais esto mais competitivos e comeam a chegar do exterior painis de fechamento industrializados e outros sistemas capazes de explorar o potencial das estruturas metlicas. Enfim, o ao pode entrar em uma nova era na construo civil brasileira Parece que o ao finalmente ter o lugar que merece na construo civil brasileira. Nem o topo nem o ostracismo, mas um posto na galeria dos materiais disponveis no mercado para a execuo de estruturas. Competitivo em alguns casos e invivel em outros, assim como acontece com o concreto, a madeira, o concreto protendido e os pr-moldados. Alguns dos argumentos comumente usados para descartar a opo pelas estruturas metlicas esto deixando de fazer sentido. o caso das exigncias do Corpo de Bombeiros, hoje bem mais flexveis. Em So Paulo, por exemplo, a corporao emprega desde 1995 um modelo de anlise de obras em estrutura metlica que cruza dados sobre a altura da edificao, nmero de andares, rea e finalidade do prdio. A partir da, definido o tempo de resistncia exigido da estrutura, independente do material empregado. Existem problemas em alguns Estados, mas a oferta de materiais de proteo para a estrutura e a atitude dos bombeiros mudaram muito. Um dos textos normativos sobre o assunto que est em andamento na ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas) e deve estar aprovado at o final do ano segue a mesma linha. Resultado: o ao deixar de ser visto de forma diferenciada em relao a outros materiais, como o concreto, por exemplo. Outra norma, tambm em discusso na ABNT, vai definir o dimensionamento correto da estrutura metlica para o tempo de resistncia ao fogo exigido pela norma. Tecnologias no faltam. Os chamados retardadores de calor placas de gesso, amianto, vermiculita ou l de rocha, mantas cermicas e tintas intumescentes resolvem o problema. verdade que tais protees so dispendiosas. Entretanto, preciso analisar as necessidades especficas de cada obra. Em um empreendimento que no precisa de velocidade de execuo, o ao dificilmente se torna competitivo, pois a diminuio no cronograma e a conseqente reduo de custos diretos e indiretos que fazem a diferena na conta final. De forma isolada, a estrutura metlica mais cara do que a de concreto.

Texto extrado da revista Tchne 36 set/out 1999. P.18-23

A escolha do material sempre uma incgnita. Cada sistema tem um uso apropriado, afirma o calculista Jorge Zaven Kurkdjian. Responsvel por projetos em So Paulo como o Instituto Cultural Ita, o Centro Cultural Fiesp (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo) e a nova Escola Panamericana de Arte, todos em estrutura metlica, Kurkdjian afirma que cada um desses empreendimentos possua um motivo diferente para empregar o material. No caso do Centro Cultural Fiesp, um espao recm-agregado ao edifcio da Federao das Indstrias localizado na avenida Paulista, no restava outra alternativa. No havia espao para a montagem de um canteiro de obras e, por se tratar de uma estrutura aparafusada em outra existente (de concreto), a leveza do ao era vital para no ocasionar sobrecarga nas fundaes. No foi uma opo. S poderia ser feito dessa forma, afirma o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, cujo escritrio elaborou o projeto do centro cultural. Para ele, uma das atribuies do arquiteto exatamente eleger a tcnica mais adequada para cada tipo de construo. O profissional tem que raciocinar sempre com a nica tcnica possvel, diz. Tal lgica faz tanto sentido que um dos profissionais brasileiros mais associados construo metlica, o arquiteto Siegbert Zanettini, admite que o ao no vai substituir o concreto. No acredito que um sistema seja melhor do que outro. Responsvel pelo projeto arquitetnico da nova unidade da Escola Panamericana de Arte, em construo na zona oeste da capital paulista, Zanettini acredita que a evoluo do concreto tem sido fenomenal e o material possui grande tradio no meio tcnico. Quando falo do ao, estou defendendo a tecnologia, no um material de forma isolada, afirma. De qualquer forma, alguns tabus continuam caindo. Considerada invivel pelo meio tcnico para a construo de edificaes residenciais, a estrutura metlica comea a dar provas do contrrio. Em Mogi das Cruzes-SP, uma empresa especializada em estruturas de ao, a Semetal, est na fase final da construo de dois edifcios residenciais de quatro pavimentos com estrutura metlica e paredes internas de gesso acartonado. So oito unidades com cerca de 75 m2, cujo preo unitrio est avaliado em R$ 65 mil. Segundo a empresa, o custo da construo, incluindo o terreno, no ultrapassou R$ 450/m, preo similar aos R$ 430,48/m2 calculados pelo Departamento de Economia da Pini, tendo como referncia o ms de junho, para um prdio sem elevador de padro mdio. Detalhe: o acabamento do prdio da Semetal muito bom e o clculo da Pini no inclui custos com movimentao de terra e fundaes, por exemplo.

Uma das dicas da Semetal para os construtores e projetistas interessados em trabalhar com o ao sempre manter a alvenaria independente da estrutura para evitar problemas de fissuras, trincas e rachaduras, resultantes de movimentaes causadas por coeficientes de dilatao trmica distintos dos materiais. Na construo de um edifcio que abrigar uma clnica odontolgica para a Universidade Braz Cubas, em Mogi, a Semetal est aplicando a metodologia com sucesso. Toda a alvenaria armada, grauteada e apenas engastada na estrutura metlica; h um pequeno vo para que o ao possa trabalhar normalmente. Iniciada em abril deste ano, a obra de 7 mil m2 de rea construda deve estar com a parte civil concluda at o final do ano. Velocidade tambm foi a palavra-chave na obra do Educandrio So Paulo da Cruz, na zona norte da capital paulista. Com estrutura metlica a partir do primeiro subsolo, o edifcio de 8 mil m2 de rea construda, com trs subsolos, piso trreo e sete pavimentos, foi erguido em um ano e meio pela Construtora Toda do Brasil, com gerenciamento da Ip. Projetado pelo arquiteto Sidney Meleiros Rodrigues, com clculo estrutural da Cia. de Projetos, o prdio precisava ser inaugurado antes do incio do ano letivo de 1998. No havia, tambm, espao para a montagem de um canteiro compatvel com o porte da obra. Fora isso, havia a necessidade de grandes vos livres no local previsto para o anfiteatro e no primeiro subsolo para o embarque e desembarque dos alunos. Resultado: a opo pela estrutura metlica foi inevitvel. Trata-se de uma soluo rpida que, em contrapartida, exige um desembolso financeiro imediato pelo cliente para a aquisio da estrutura, afirma o arquiteto Sidney Rodrigues. Outro problema, ainda mais srio, apontado pelo calculista e professor de Estrutura Metlica da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, Jlio Fruchtengarten: o fim das grandes escolas de formao de engenheiros e projetistas que existiam nos escritrios, fbricas e mesmo nas construtoras brasileiras. O processo de terceirizao e a valorizao excessiva da informtica esto barrando o surgimento de grandes profissionais, afirma o professor. Podese argumentar que o problema generalizado e afeta tambm os outros sistemas construtivos? Sim responde o professor , mas o espao reservado construo metlica na engenharia nacional reduzido, o que torna o problema ainda maior.

TIRA -DUVIDAS
O engenheiro Fernando Ottoboni Pinho, professor de Estruturas Metlicas e Pontes Metlicas da Escola de Engenharia de Volta Redonda e vice-presidente da ABCE (Associao Brasileira da Construo Metlica), foi um dos membros da equipe tcnica da FEM. Criada em 1953 com o nome de Fbrica de Estruturas Metlicas pela CS (Companhia Siderrgica Nacional), a FEM constitui um marco na histria do uso do ao na construo civil brasileira. Hoje, com uma nova razo social, a FEM Projetos, Construes e Montagens continua a desempenhar um importante papel no meio tcnico nacional. Pinho aceitou responder a Tchne algumas das dvidas mais comuns em relao ao uso das estruturas metlicas na construo. Quais so os tipos de ao disponveis para a construo civil? Existe uma grande quantidade de aos disponveis para uso estrutural. De acordo com os catlogos das usinas, podemos resumir os tipos utilizados na construo metlica: ao-carbono comum; ao de baixa liga e alta resistncia mecnica; ao de baixa liga e alta resistncia atmosfrica; e ao de baixa liga, alta resistncia mecnica e corroso. Quais so os principais componentes de uma estrutura metlica e como feita a montagem? Um dos obstculos no Brasil para a ampla utilizao das estruturas metlicas sempre foi a falta de componentes industria para panos, lajes, paredes interna, vedaes e juntas. Isso ainda uma realidade? A falta de componentes, de fato, j foi um obstculo. Hoje dispomos de uma grande oferta de componentes industrializados que complementam o sistema construtivo tanto, em qualidade quanto em velocidade e limpeza. As frmas metlicas para lajes tipo Steel Deck, os painis de gesso acartonado e a grande oferta de telhas e painis de chapa zincada Os principais componentes so pilares, vigas, vigas pr-pintada so alguns exemplos. secundrias, trelias e contraventamentos. A Quais devem ser os principais cuidado tomados pelo montagem deve comear com os pilares, de calculista durante a elaborao do projeto estrutural? referncia com os que integram os contraventamentos. Em seguida, vm as vigas ou Se o projeto bsico ou arquitetnico previa a trelias principais e, por fim, as vigas ou trelias utilizao da estrutura metlica, j comea bem. secundrias. Deve-se observar na concepo e clculo, porm, os aspectos de padronizao, leveza e adaptao dos Quais so as principais patologias que atacam as materiais e perfis disponveis. Tambm importante estruturas de ao? observar a relao peso/custo para obter um conjunto A mais comum a corroso, seguida por problemas que, alm de ser adequado ao uso previsto, se nos detalhes construtivos, principalmente nas desenvolver bem nas fases subseqentes de ligaes. A corroso pode ser evitada com um detalhamento. suprimento, fabricao, transporte e esquema de pintura adequado, executado para evitar montagem. Importante: empregar sempre normas que as demais fases da obra possam danific-la. atualizadas. Quanto aos detalhe,. devem ser estudados de forma minuciosa para evitar problemas de acesso, acmulo de sujeira e umidade.

Balana do ao
Principais vantagens e desvantagens das estruturas metlicas Vantagens
Rapidez na execuo da estrutura Possibilidade de montagem e desmontagem da estrutura, permitindo a reutilizao do material em outra obra A tecnologia limpa torna possvel a execuo de ampliaes e reformas sem perturbar os usurios Menor peso e volume da estrutura com conseqente alvio das fundaes e maior espao para a utilizao dos ambientes Trata-se de um sistema estrutural de preciso, que possibilita juntas e folgas milimtrlcas e, portanto a opo de compra de todos os componentes da obra corri antecedncia Garantia da qualidade do material por se tratar de um produto Industrializado Diminuio do desperdcio Reduo da rea do canteiro de obras e do espao para estocagem Ganho de novos pavimentos em um mesmo limite de gabarito devido a diminuio da altura do vigamento

Desvantagens
Desembolso nico para a aquisio da estrutura - as siderrgicas vm tentando resolver o problema com o parcelamento dos pagamentos Falta de fornecedores nacionais de componentes industriais para panos, lajes, paredes internas, vedaes e juntas Exige cuidados especiais para que as movimentaes diferenciadas dos componentes estruturais e dos panos e paredes no resultem em patologias. Uma soluo executar a alvenaria independente da estrutura para que a parede no trabalhe solidarizada Exige cuidados com relao composio dos materiais para impedir agresses qumicas Ao retirar massa do edifcio, a estrutura metlica piora as condies de conforto trmico Com menor massa. o material fica mais suscetvel propagao do calor, o que recomenda tratamento termoacstico Falta de fornecedores nacionais de perfis laminados Medidas adicionais de proteo para aumentar o tempo de resistncia da estrutura metlica ao fogo Falta de normas tcnicas brasileiras, por exemplo, para dimensionamento de estruturas metlicas em situao de incndio Preo elevado da estrutura quando analisada de forma isolada