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Revista da Faculdade de Letras CINCIAS E TCNICAS DO PATRIMNIO Porto 2007 I Srie vol. V-VI, pp. 363-389
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Il est humain dans le sens le plus bref et le plus ternel du mot (lie Faure)
Resumo As Meninas (em espanhol - Las Meninas) o nome de um famoso quadro pintado por Diego Velsquez (1599-1660), pintor andaluz, de ascendncia portuguesa pelo lado paterno, da cidade do Porto. O quadro As Meninas, talvez o primeiro exemplo de pintura realista de sempre, representa um retrato de famlia, donde sobressaem a Infanta Margarida (lha dos monarcas, ao tempo a herdeira directa sucesso da Coroa espanhola) que ocupa o centro da composio, ladeada por duas damas de honor que so As Meninas. A princesa parece levitar sob a aura dum feixe intenso de luz que transpe uma portada lateral. Ao iluminar todo o espao cnico anterior (onde esto desenhadas mais guras), recria com os vrios degrads de sombras e cor, um verdadeiro trompe-lil, dando a sensao paradoxal de movimento pendente. A tela impe-se ao olhar do observador pela sua energia intrnseca, aliada atmosfera de meia-luz e pouca luminosidade. As feies do rei e da rainha de Espanha surgem reectidas num espelho, o que introduz um elemento novo de perturbao para o normal entendimento de toda a aco que se desenrola nossa volta. Muito se tem analisado e escrito, sobre o grande mistrio que a pintura As Meninas encerra, entre eles o lsofo francs Michel Foucault com o seu livro As Palavras e as Coisas (Les Mots et les Choses: une archologie des sciences humaines). J Jonathan Brown d a sua interpretao no mbito do ilusionismo Barroco, ao criar um efeito de iluso, suspenso entre a nobre arte da pintura e a realidade. Mas h uma pergunta que se impe perante a complexidade visual do quadro e que, ao longo da historiograa da arte tem estimulado a nossa imaginao, pela diculdade em descobrir uma fcil e clara resposta para este enigma, o que que Velsquez est na realidade a pintar? Abstract
The Maids of Honour (Las Meninas is a Portuguese word used to name the Maids of Honour of the Royal children in the 17th century) is the most famous of Diego Velazquezs (1599-1660) paintings, native painter of Andalusia, but of Portuguese descent by the paternal side, of Oporto city. The picture Las Meninas (or The Royal Family), maybe the rst example of
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realistic painting ever made, describes a family portrait where we can see the Infanta Margarita (the straight heiress to the throne, with her court) in the rst plan, side by side, with Dona Maria Agustina Sarmiento kneeling at the Infants feet and Dona Isabel de Velasco behind her. The princess seems to levitate under an aura of intense light which passes beyond a portal side, revealing the entire previous scenario (where are designed more gures), who creates with the various degrads of shadows and colour, a true trompe-lil, giving the impression of an inconsistent pending movement. The canvas imposes to our eyes for their intrinsic energy, combined with an atmosphere of half-light and low luminosity. The features of royal couple (the princesss parents) appears by reection in a mirror, introducing a new element of confusion, to the normal understanding of all the action that takes place around us. Much has been discussed and written concerning the great ambiguity that the painting Las Meninas closes, among them the French philosopher Michel Foucault, in his book, The Order of Things: an Archaeology of the Human Sciences. Jonathan Brown also gives his own interpretation about the skill technique of Velasquez and his Baroques illusionism, to create an effect of delusion, suspended between the noble art of painting and reality. But, there is an issue that we must admit in presence of the visual complexity of the painting, which along the historiography of art has inspired our imagination by the difculty in nding an easy and a straightforward answer to this mystery, what indeed is Velasquez painting? Palavras-chave:pintura, observador, Corte, Barroco, obras-primas, aposentador, Alcar, Ordem de Santiago, portugueses
As Meninas (em espanhol - Las Meninas) o nome como cou conhecido o quadro pintado em 16561, pelo renomeado pintor andaluz Diego Velsquez que culmina todo um percurso de vida feito dum labor nico, pessoal, coincidindo com o perodo barroco da escola espanhola de pintura. Actualmente, esta obra-prima smbolo de toda a arte universal pertena do acervo de Pintura do Museu Nacional do Prado, em Madrid, desde a data da sua inaugurao em 1819. A tela, para alm das suas grandes dimenses, impe-se de imediato ao olhar do observador pela sua energia intrnseca, aliada a uma atmosfera intimista de meia-luz e penumbra do ambiente envolvente, inseridas no tempo histrico seiscentista.
Antonio Palomino y Velasco (1653-1726) escreve a primeira biograa completa de Velsquez no El Parnaso espaol pintoresco laureado, includa na sua obra El Museo pictrico y escala ptica.
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Foi concebida e executada, aparentemente de forma livre e espontnea mas que, ainda hoje, no nos deixa de atrair e surpreender, ao ser de todo em todo paradoxal, por despertar uma forte sensao de movimento suspenso como num jogo de espelhos. Ser um imenso fotograma a revelar um simples acontecimento vivido no grande salo interior do Alcar de Madrid (Palcio Real), por onde passam num determinado momento do dia vrios personagens, residentes ociais da Corte espanhola, num total de onze, cada um com o seu papel especico distinto, uns mais marcantes que outros, aqui imortalizados pela mestria do trao de Velsquez. Esta extraordinria pintura prope, ao simples espectador, o registo informal duma cena familiar e transmite, em simultneo, uma fora e um magnetismo to intensos que supera os vrios sculos da sua duradoura longevidade, sem que o prprio artista tivesse disso plena conscincia, ao aplicar o ltimo retoque de tinta na tela que se abre ao nosso olhar. como se fossemos tambm ns, actores convidados para a envolvncia cnica desse mesmo acto, ao sermos transportados por uma imaginria mquina do tempo. Muito se tem analisado e escrito devido aos diversos paradoxos de perspectiva e s relaes complexas que se estabelecem entre o observador e as pessoas nele retratadas -, sobre o grande enigma que o quadro As Meninas, de Velsquez, encerra na sua histria de vida. o caso, entre outros, do lsofo francs Michel Foucault com o seu livro Les Mots et les Choses: une archologie des sciences humaines, Gallimard, Paris, 19662. Prembulo Diego Rodrguez de Silva y Velsquez (1599-1660)3, um dos maiores artistas de todos os tempos, vai ser o pintor principal da Corte do Rei Filipe IV (1605-1665) de Espanha (terceiro de Portugal), chamado de Rei Planeta, dum imprio onde O Sol nunca se punha, cujo reinado ao prolongar-se desde 1621 at sua morte em 1665, vai coincidir no tempo com o apogeu e o incio da decadncia histrica da toda-poderosa Espanha, pela consumao das independncias de Portugal e Holanda. Apesar disso, o sculo XVII o Sculo de Ouro espanhol no campo artstico, literrio, cultural e religioso. A sua vida e obra so, uma vez mais, objecto de estudo e investigao. fcil escrever uma biograa sobre Velsquez, mas no ser mais que um curriculum vitae4. escasso o nmero de documentos pessoais e ociais relacionados com a sua obra. De igual modo, ao no assinar a maioria dos trabalhos faz com
Em portugus, As Palavras e as Coisas - uma arqueologia das cincias humanas, traduo de Antnio Ramos Rosa, edies 70, Lisboa, 1988. 3 Philip Troutman, Velasquez, Spring Books, 1965. 4 Bernard Dorival, Les Peintres clbres, Editions DArt Lucien Mazenod, Genebra, 1948, pp. 214-217.
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que a cronologia dos mesmos seja feita segundo a tcnica e normas estilsticas empregues. A sua pintura, redescoberta nos tempos modernos (igual a outros pintores seus coetneos), continua a despertar um sentimento concomitante de fascnio e interrogao mas que o mundo hoje cada vez mais respeita e admira. Para se situar, presentemente, no centro do universo artstico, Velsquez pinta pouco mais de cem quadros, mas alguns so extraordinrias obras de arte. O seu naturalismo barroco permite-lhe captar, singularmente o que v, ao possuir uma admirvel capacidade para traar na tela, as pinceladas precisas com as quantidades ajustadas de pigmentos numa poesia de cores, a m de produzir o efeito desejado. O pintor, sua vida e obra Velsquez vai dedicar toda a energia duma vida sua arte. Comea a pintar muito cedo, ainda quase criana, porando sempre at uns dias antes de morrer. Teve uma existncia familiar e econmica segura, sem grandes privaes ou paixes mal disfaradas. A sua pintura serena e livre, duma execuo contnua mas nunca descomedida, reecte nas suas vrias fases, uma vida tranquila sem sobressaltos nem outras surpresas desagradveis, para consigo ou a sua famlia, bem ao contrrio do que ocorreu com outro grande pintor da poca e em parte rival, no que respeita hegemonia e importncia do legado - estamos a falar conforme no podia deixar de ser de Rembrandt van Rijn (1606-1669). Baptizado na igreja de So Pedro em Sevilha, a 6 de Junho de 15995, logo muito provavelmente, o seu nascimento ter ocorrido uns dias antes. o primeiro lho de Joo Rodrigues da Silva e de Jernima de Velsquez. Pouco ou nada se sabe dos seus cinco irmos e uma irm. Os avs paternos eram naturais do Porto. Desde muito novo comea a demonstrar um gosto especial para o desenho. De incio (1609), no estdio de Francisco de Herrera, o Velho, mas que devido ao difcil feitio deste, muito rapidamente, passa a partir de 1 de Dezembro de 16106, a trabalhar como aprendiz no atelier de Francisco Pacheco, pessoa possuidora de muitas melhores qualidades pessoais e de tutor. Aqui se mantm at aos dezoito anos, onde no dia 4 de Maro de 1617, aps seis anos de prtica e aquisio de conhecimentos nas vrias tcnicas de pintura, obtm a necessria licena para se tornar pintor associado da respectiva agremiao com direito de exercer pintura em todas as partes do reino. A relao com o novo Mestre (que em m de vida redige
Jacques Lassaigne, Velsquez - Les Mnines (Muse du Prado), Les Chefs-Duvre Absolus de la Peinture, Ofce du Livre Fribourg, 1973, p. 11. 6 Idem, Ibidem, p. 11.
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o livro A Arte da Pintura, sua antiguidade e grandezas7, um dos melhores tratados do Barroco espanhol) torna-se mais intensa, ao casar-se em 1618, com a sua lha Juana. Ao mesmo tempo o sogro, ao fazer-se rodear de intelectuais e acadmicos, torna o seu estdio um reconhecido ponto de encontro e tertlia entre pensadores, homens de letras, artistas e estudantes, exs. Francisco de Zurbarn, Alonso Cano, entre outros. Alm do mais, procura tambm sensibiliz-lo para a pintura italiana que se encontrava exposta no El Escorial e no Pao de Madrid. Com esta ideia e em busca de melhor sorte, em 1622, ausenta-se de Sevilha para um primeiro contacto com Madrid (desde 1561, durante o reinado de Filipe II, Madrid passa a ser a nova capital do Imprio espanhol), mas s retorna em denitivo Corte do Rei Filipe IV, ao alcanar a reputao de pintor sobredotado depois do sucesso obtido por um retrato equestre do rei (hoje perdido), por ele pintado em 30 de Agosto de 1623 e ainda mais com o favor e proteco do todo-poderoso Gaspar de Guzmn, Conde-Duque de Olivares, primeiro-ministro plenipotencirio e homem preponderante da governao. A partir daqui, estabelece-se ao longo do decorrer dos anos, entre aqueles dois homens, uma relao de cumplicidade que ultrapassa o simples apoio e proteco dispensada pelo rei-mecenas a um seu subordinado. De igual modo, apesar de ser mais um funcionrio da corte, a sua fama comea a ultrapassar a imagem depreciativa at a estabelecida, de simples pintor de retratos. Os quadros executados por Velsquez ainda na poca da Escola de Sevilha (Sevilha, cidade porta de entrada para as Amricas, nesta altura por motivos econmicos, um grande centro difusor e de criao de pintura) incluem os primeiros retratos e composies religiosas, alm dos caractersticos e populares bodegones, onde aqui se privilegiam as cenas da vida quotidiana, em que a bebida, comida e petiscos, so os elementos chaves em locais to tpicos, como tabernas, cozinhas, casas de pasto, etc.. Os seus primeiros trabalhos denotam a tcnica tenebrista do Chiaroscuro de Michelangelo Merisi de Caravaggio (1573-1610) chamado o pintor maldito que tambm vai inuenciar pelo seu naturalismo outros dos seus pares, exs. Rubens, Rembrandt, Murillo, etc. -, pela utilizao dos contrastes da luz e das sombras8, de modo a dar forma e volume ao espao e s guras (muitas delas simples pessoas do povo), usando a cor, muitas vezes como simples suporte, cria um efeito de iluso dos sentidos, por exemplo, Mulher fritando ovos (1618), Trs homens mesa (1618), Adorao dos reis magos (1619), O Aguadeiro (c.1620), etc..
Aqui, escreve sobre Velsquez: Depois de cinco annos de educao e ensino, dei-lhe a mo de minha lha, levado pelas suas virtudes, pela sua modstia, pelas suas bellas qualidades e pelas esperanas que me davam o seu bom natural e o seu grande talento . 8 La Peinture Espagnole de Velsquez a Picasso, Editions dArt Albert Skira, Genebra, 1952, p. 49.
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Emprega o seu conhecimento prtico, ao pintar directamente sobre a tela de uma maneira solta, sem o auxlio da quadrcula, nem do esboo prvio muito elaborado9. Especializando-se em mltiplos retratos da Corte e quadros histricos10, evidencia no estilo um estudo rigoroso da realidade e da natureza, onde imprime uma atmosfera muito prpria e pessoal, de acordo com a sua personalidade algo distante mas de uma vontade inabalvel, senhor de uma sensibilidade luzente e impetuosa. Em 1628, com a vinda em misso diplomtica de Peter Paul Rubens (1577-1640) a Madrid (acabado de regressar de Itlia onde cara impressionado com as cores, a luz e os mltiplos matizes das pinturas de Ticiano, Veronese e Tintoretto), nasce uma grande estima e amizade entre ambos, a tal ponto que Rubens consegue sensibilizar Velsquez para visitar Itlia, no intuito de melhor desenvolver a sua tcnica, o que acontece por duas vezes. Assim de 1629 a 31, viaja ocialmente por Veneza, Bolonha, Roma, Npoles (onde se encontra com Jusepe de Ribera), tomando conhecimento da qualidade das obras de arte e do trabalho dos melhores artistas da Renascena italiana11, a que volta de novo, vinte anos mais tarde, em 1649. Neste segundo perodo preocupa-se em adquirir vrias obras de pintura e estaturia para a Coroa espanhola e executa uma das suas obras-primas, o Retrato do Papa Inocncio X que inspira de forma obsessiva no sculo XX, Francis Bacon com os seus vrios estudos sobre o mesmo modelo. Durante a fase que medeia as duas viagens, executa uma srie de outras obras de superior tcnica e qualidade, tais como Francisco de Quevedo (1631), A Rendio de Breda ou As Lanas (1635), em que emprega linhas diagonais de perspectiva em vez da normal cruz vertical, Cavalo Branco (1635), Filipe IV of Spain in Brown and Silver (1635)12, O Conde-Duque de Olivares (1637), os vrios retratos equestres e a sequncia dos bobos da corte, etc., etc.. de realar que durante o tempo em que esteve ausente em Itlia, o rei no se deixou pintar por mais ningum; a tela com o retrato em corpo inteiro que dele se conserva na National Gallery, bordado de castanhos, brancos e brilhante prata, pelo efeito de pinceladas rpidas e soltas, denota a inuncia da escola italiana e induz a um detalhe raro de Velsquez, a sua assinatura autografa13. Em 16 de Fevereiro de 165214, nomeado Aposentador do Palcio Real que justica uma maior responsabilidade na Corte. Os derradeiros anos acentuam a sua maturidade e naliza os trabalhos, como por exemplo, os retratos de D. Mariana, Vnus ao espelho (1648)15 - o mais antigo nu da pintura na Espanha da Inquisio,
The Arts - Painting, Drawing, Sculpture and Architecture, Odhams Press Ltd, London, p. 88. Albert Skira, op. cit., pp. 48-69. 11 Idem, ibidem, p. 55. 12 Michael Levey, A Room-to-Room Guide to the National Gallery, Edinburg, 1972, pp. 90-91. 13 Dale Brown, Vlasquez et son temps 1599-1660, Collections Time-Life, 1969, 1972, 58. 14 Jonathan Brown, LAge dor de La Peinture Espagnole, Flammarion, Paris, 1991, p. 217. 15 Philip Hendy, The National Gallery London, Thames and Hudson, Londres, 1960, p. 204.
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percursor da famosa Maja despida de Goya, pintada por volta de 1800 -, a Infanta Maria Teresa de Espanha, com dois relgios (1652), a Infanta Maria Margarida, o Rei Filipe IV (mais velho), Mercrio e Argos (1659), As Fiandeiras (ou A Fbula de Aracn), possivelmente, o primeiro quadro da histria dedicado ao trabalho e, por m, As Meninas, considerada uma das maiores obras-primas de todos os tempos, cuja primeira referncia aparece no inventrio do Alcar de Madrid, em 20 de Setembro de 1666. Em 1659, pinta os ltimos quadros: a Infanta Margarida e o Prncipe Filipe Prspero. Uma das incumbncias ociais de Velsquez, na difcil e desgastante carreira burocrtica de corteso16 da Corte - para o m, alm de responsvel mximo como aposentador da Casa Real era tambm o seu mestre-de-cerimnias, o que vai limitar o conjunto total dos seus quadros, a pouco mais de cem - foi o de organizar o casamento da Infanta Maria Teresa de ustria (rainha consorte) com Lus XIV, o Cristianssimo Rei Sol de Frana, na fronteira de ambos os pases, no intuito de sagrar a paz aps dcadas de conito; tal facto acentua a decadncia denitiva de Espanha, como principal potncia europeia. Essa esgotante tarefa deixa-o bastante debilitado. Regressa inopinadamente a Madrid depois de contrair uma febre sbita17. Sucumbe quase de seguida, aos 61 anos, depois de uma rpida e mortal doena febril, s 2 da tarde de um sbado de 6 de Agosto de 1660, um dia tpico e ardente, igual a muitos outros dias ressequidos do vero continental da meseta ibrica. Para o enterro, seguido pelos altos dignitrios da Corte e da Igreja18, vestem-lhe o hbito de Cavaleiro da Ordem de Santiago e o Monarca manda pintar sobre o peito da tnica negra que enverga no quadro As Meninas, a vibrante Cruz prpura smbolo da Ordem, um sinal evocativo pelo seu insigne papel em prol da Arte. Quatro dias depois morre-lhe a mulher Juana Pacheco, possivelmente submergida insuportvel dor da saudade. As suas origens portuguesas Eu sempre gostaria mais de ser o primeiro pintor das coisas comuns do que um pintor de segundo plano da arte maior (Velsquez)
Velsquez pelo lado paterno descendente de portugueses19. Segundo o que fala a tradio, os avs Dona Maria e Diogo Rodrigues da Silva (gentil-homem cujo
Jonathan Brown, Velzquez: painter and courtier, New Haven: Yale University Press, 1986. Jonathan Brown, Painting in Spain, 1500-1700, Yale University Press, New Haven & London, 1998, p. 186. 18 Idem, LAge dor de La Peinture Espagnole, p. 221. 19 Jacques Lassaigne, Velsquez Les Mnines (Muse du Prado), Les Chefs-Duvre Absolus de la Peinture, Ofce du Livre Fribourg, 1973. p. 11.
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nome vai inspirar os apelidos de baptismo em verso castelhana do neto Diego) so naturais do Porto20, provindos de uma famlia com hbitos e pretenses de nobreza (que nunca se comprovou) que emigram, em meados ou nais do sculo XVI, com poucos haveres para a Andaluzia. Lembro que na altura Portugal se encontrava sob domnio da coroa espanhola. O lho Joo Rodrigues da Silva (ou Juan Rodrguez de Silva) vai exercer advocacia em Sevilha e casa com Jernima Velsquez, oriunda da pequena e decadente aristocracia local. Na opinio do seu coetneo Zurbarn, ambos os progenitores (futuros pais) teriam familiares como ociais da Inquisio no Santo Ofcio. Hoje, no entanto, est assente a hiptese mais provvel do nosso gnio da pintura ser lho de cristo-novo portugus21, sem tradio aristocrtica. Algumas pistas podem corroborar esta ideia a sada rpida de Portugal dos avs, por nenhum motivo aparente, para a prspera regio da Andaluzia no Sul de Espanha e no mesmo sentido, a constante preocupao de Velsquez em garantir, para si e toda a famlia, um ttulo de nobilitao, isto , carregou sempre com ele a secreta esperana de subir do ponto de vista social, da imagem do simples homem comum a aristocrata, o que poderia ser de fcil resoluo atravs duma Ordem religiosa, mas s o ir conseguir pela interveno directa do Rei devido oposio dos outros elementos da hierarquia da ordenao. Aqui, nem mesmo o Rei poderia conceder este ttulo, sem o consentimento expresso do Conselho da mais exclusiva Ordem Militar espanhola que sempre ps em causa a pureza de sangue do pintor. Durante os meses seguintes so inquiridos ao pormenor, todos os seus ancestrais e interrogadas dezenas de pessoas. Os ltimos anos de vida so marcados pela sua obsesso de receber o hbito da Ordem de Santiago que implicaria o almejado enobrecimento familiar. Outro aspecto relevante, desde os iniciais bodegones at s pinturas da Corte, o olhar de Velsquez, em muitos dos seus quadros, ser atrado para acontecimentos e situaes envolvendo imagens de pessoas com algum handicap: social, econmico, racial ou fsico, o que pode signicar estarmos na presena duma genealogia espiritual de judeu-converso. Por c, a Inquisio portuguesa (ou Tribunal do Santo Ofcio) j se tinha estabelecido no reinado de D. Joo III, desde 1536, atravs da primeira bula Cum ad nihil magis, de 17 de Dezembro de 1531. Com o declnio histrico e cultural progressivo de Portugal que se acentua com a perda da soberania em 1580, a coroa portuguesa passa a estar sob a tutela do rei de Espanha, a que se convencionou chamar a Dinastia dos Filipes.
I Grande Enciclopdia Portuguesa e Brasileira, vol. XXXIV, p. 469, Editorial Enciclopdia, Lda., Lisboa Rio de Janeiro, s./d. [1945]. 21 Uma Secreta Aspirao (An Aspiration Sealed), de Yasujiro Otaka, s./d.
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O domnio de Espanha vai manter-se at 1640, j em pleno reinado de Filipe IV, o que aliado intolerncia religiosa com a nossa feroz Inquisio (famosa policia religiosa ultra catlica), vai acentuar o progressivo isolamento de Portugal em relao ao mundo nos seus vrios domnios e motivar o seu crnico atraso cultural, econmico e social. A elite nanceira e intelectual, em mos de judeus, vtima de apertada vigilncia e perseguio com uma srie de discriminaes e restries mas acima de tudo sem liberdade, tendo para no morrer de ser obrigada a fugir ou a converter-se fora ao catolicismo. Em todas as pocas da nossa histria, homens dos mais variados campos do saber, trocam a terra de origem por um Pas estrangeiro onde possam exercer a sua prosso com uma outra sabedoria e paz de esprito. Muitas famlias, tais como as de Espinosa e Velsquez, vem-se na contingncia de emigrar em busca de lugares de maior tolerncia e liberdade religiosa, j que o judasmo ser por c o delito mais comum durante os sculos XVI e XVII. Com a parentela de Velsquez acontece um fenmeno paradoxal, pois estes cristos-novos descendentes dos primeiros judeus espanhis expulsos pelo dito do Reis Catlicos, de 1492, retornam terra original donde tinham sado h geraes. Outras das caractersticas que nos apontam a sua ascendncia portuguesa, tem a ver com alguns traos do seu carcter que tambm se reecte na sua pintura22, como sejam: a de uma melancolia altiva cmplice duma ironia latente, ensimesmada; o ter pintado pouco e sem pressa; ser senhor de uma pacincia pouco subserviente mas de uma curiosidade sem limites por tudo o que diferente. Velsquez o grande desterrado em terras de Espanha23. Do casamento com Juana Pacheco (1602-1660), nascero duas lhas, Francisca e Incia, respectivamente em 1619 e 1621. Ser o apelido Velsquez por parte da me que ir perpetuar o nome de linhagem sugerindo ao pintor a ideia de ser um nobre. Mais tarde assina de Velsquez, Diego Velsquez ou Didactus Velsquez. Tal como Picasso, o sobrenome da me que escolhe para assinatura e o torna clebre. Hoje, a sua esttua encontra-se entrada da fachada frontal do Museu do Prado.
Thomaz Cabreira, Velsquez um pintor portugus, Separata Trabalhos da Academia de Sciencias de Portugal, vol. I, Livraria Central, 1908, pp. 147-152. 23 Idem, ibidem, p.151.
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As Meninas (leo sobre tela, 1656, 318 x 276 cm, Museu do Prado, Madrid)
No vs que o olho abraa a beleza do mundo inteiro? (...) janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo (Leonardo da Vinci)
Diego Velsquez um dos representantes mximos da pintura ao personicar o Barroco que se difunde pela Europa nos princpios de Seiscentos, como reaco ao Maneirismo. Este um estilo artstico padro, peculiar, algo bizarro como austero e pretensioso onde se vericam j as primeiras manifestaes anti-clssicas; ser de incio um movimento anti-renascentista em fase de transio para a etapa seguinte - o Barroco. A Arte Barroca desenvolve-se na Europa Ocidental a partir de 1600. O termo Barroco advm da palavra portuguesa homnima que signica prola imperfeita (ou por extenso jia falsa) como sinnimo da degenerescncia do classicismo. A palavra foi facilmente assimilada pelas lnguas francesa e italiana. No deixa de ser um estilo singular complexo que traduz livremente os conitos interiores sentidos no dia-a-dia, pelo homem desta poca. Em Portugal, temos como paradigmas entre outros, na literatura, os casos de Frei Lus de Sousa, Francisco Rodrigues Lobo, D. Francisco Manuel de Melo, Padre Antnio Vieira, Soror Mariana Alcoforado, Padre Manuel Bernardes, Soror Maria do Cu e na arquitectura, a Torre Sineira da Igreja dos Clrigos, verdadeiro ex-lbris do barroco portuense da Invicta.
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Esta uma poca estilstica e losca menos complexa e passional que a anterior, embora psicolgica e emocionalmente seja mais expressiva e realista, ao inspirar-se no fervor e na devoo religiosa que se segue ao Conclio de Trento (1545-1563), alinhado pela Contra-Reforma, ao assumir o Barroco como estilo ocial da Igreja Catlica numa tentativa de retorno tradio e espiritualidade dos costumes, sem contudo o Homem (ser livre e pensante ao ter a plena conscincia de si) perder de vista agora a sua dignidade tal como sucedera na Idade Mdia. O Barroco, ou a arte do conito, uma poca de dualidades (ex. cu versus inferno, optimismo e pessimismo), no eterno jogo entre os poderes sagrado (leia-se divino) e humano, no qual no h mais um tempo de certezas mas que, paradoxalmente, se comeam a dar grandes progressos evolucionrios na Histria da civilizao e nos vrios campos do saber, exs. anatomia, astronomia, matemtica, cartograa, cosmograa, etc.. A seguir ao Humanismo do Renascimento nasce um homem de pensamento renovado, um novo indivduo. O progresso do conhecimento cientco e o incremento cultural do Renascimento vo tambm receber o inestimvel contributo dos Descobrimentos, como verdadeiro salto do Homem para a Modernidade. O magnus opus pintado por Velsquez em 1656 (fez em 2006, trezentos e cinquenta anos), ainda na plenitude das suas capacidades, de um realismo quase fotogrco muito em moda na altura. Mantm-se no Alcar Real de Madrid (destrudo por um incndio que durou trs dias, em 1734, em noites de festividades e celebrao nas vsperas de Natal) transitando de seguida para o Palcio Novo (actual Palcio Real de Madrid, residncia ocial do Rei de Espanha), aps a reconstruo daquele. No princpio do sculo XIX, em conjunto com vrias outras coleces reais colocado no Real Museu de Pintura e Escultura, presente Museu do Prado, um dos primeiros museus pblicos do continente europeu. Teve durante a sua longa existncia outras designaes: inicialmente, chamouse A senhora D. Imperatriz com as suas damas e uma an e depois de se ter salvo in extremis das chamas, passou a ser conhecido por A famlia do Rei Filipe IV. S no catlogo de 1834, realizado por Pedro de Madrazo, que adquire o ttulo presente de As Meninas, palavra portuguesa cuja designao genrica atribuda no sculo XVII s Damas de Honor que zelavam ao pormenor pelas crianas da realeza. As Meninas, talvez o primeiro exemplo de pintura realista de sempre, representa um quadro de famlia, smbolo da sociedade espanhola de seiscentos, pintado sobre uma grande tela (318x276 cm), uma tela to famosa como original pela sua composio, de que se encontram referncias tanto na obra de Goya como nos impressionistas, ex. douard Manet (um dos seus grandes admiradores e que muito o inspirou) considera-o o pintor dos pintores, alm de artistas contemporneos como Picasso e Salvador Dal, entre outros.
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Para Carl Justi, um instante fotogrco ou um momento cristalizado no tempo, da maneira como se vivia na Corte de Filipe IV24, de que Velsquez foi uma testemunha privilegiada, para o melhor e pior, tanto pela sua grandeza e honrarias como de sujeio ao tdio e ao ritmo das arbitrariedades do natural despotismo palaciano. A cena decorre numa das salas do Alcar, de arquitectura simples e aspecto conventual, nas quais Velsquez ter certamente executado a maior parte do seu trabalho, decorada com uma srie de quadros colocados nas paredes como num estdio, sob a temtica mitolgica, alguns possivelmente da autoria de Rubens, Jordaens ou at do genro Juan del Mazo, casado com a sua lha Francisca (1619-1658). De uma forma bastante ousada para a poca, o nosso artista pe em evidncia alguns dos rostos socialmente menos marcantes na vida diria da Corte - onde se inclui ele prprio que a despeito de tudo no passava de um artce ou simples assalariado mesteiral embora dotado dum gnio criador -, colocados quase exactamente ao nvel dos Reis de Espanha, Filipe IV e da sua segunda esposa e sobrinha, Mariana de ustria, trinta anos mais nova, da dinastia da Casa de Habsburgo (os ustrias, como os espanhis apelidavam), uma das famlias mais inuentes e poderosas da Europa que aqui aparecem reectidos em pequenas silhuetas fantasmagricas, no espelho dos fundos. H quem interprete esta atitude de coragem humana, em Velsquez, como uma mensagem codicada subliminar, ao revelar que toda gente nasce igual independentemente de tudo o mais, uma ideia deveras arriscada numa Espanha ainda imperial, mas tambm opulenta, mstica, fradesca, beata, em pleno sculo XVII25.
Jonathan Brown and J. H. Elliott, A palace for a King: the Buen Retiro and the court of Philip IV, New Haven: Yale University Press, 1980. 25 Hippolyte Taine refere-se ao perodo de Velsquez, deste modo A Espanha nessa poca era toda monrquica e catlica, vencia os turcos em Lepanto, estabelecia-se na frica, combatia os protestantes na Alemanha, perseguia-os em Frana e atacava-os em Inglaterra, convertia e subjugava os idolatras do Novo Mundo; expulsava da sua ptria os mouros e os judeus; depurava a sua prpria f fora de autos-de-f e de perseguies; prodigalizava as armadas, os exrcitos, o ouro e a prata da sua Amrica, o sangue mais precioso dos seus lhos, o sangue vital do seu prprio corao em cruzadas desmesuradas e multplices, com tal obstinao e tal fanatismo que caiu extenuada aos ps da Europa ao m de sculo e meio, mas com tal entusiasmo, com tal resplendor de gloria, com um fervor to nacional que estes homens enamorados da monarquia e da causa a que consagravam a sua vida, s experimentavam o desejo de exaltar a realeza e a religio pela sua obedincia e de formar em volta deles um exrcito de eis, de combatentes e de adoradores. Nesta monarquia de inquisidores e de cruzados que conservam os sentimentos cavalheirescos, as paixes sombrias, a ferocidade, a intolerncia, e o misticismo da Idade mdia, os maiores artistas so homens que possuram no mais alto grau as faculdades, os sentimentos e as paixes do pblico que os rodeava. Os mais clebres poetas, Lope de Veja e Calderon, foram soldados aventureiros, voluntrios da marinha, duelistas e enamorados, to exaltados e to msticos no amor como os poetas e os D. Quixotes dos tempos feudais, catlicos to ardentemente apaixonados que, no m da vida, um foi familiar da Inquisio, outros zeram-se sacerdotes e o mais ilustre de todos, o grande
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Desde 1724 que Antnio Palomino foi capaz de identicar os vrios personagens que habitam o quadro26. A Infanta Margarida (lha dos monarcas, ao tempo a herdeira directa sucesso da Coroa espanhola, a despeito dos seus verosmeis cinco anos, aps a morte do meio-irmo, o Prncipe das Astrias, Baltasar Carlos), sendo a personagem principal e modelo dilecto do pintor, ocupa o centro da composio, quase em pose, ladeada por duas damas de honor que so As Meninas, D. Isabel Velasco e D. Agustina Sarmiento, pintadas praticamente em tamanho natural, numa postura protectora para com a princesa. Esta parece levitar sob a aura dum feixe intenso de luz que transpe uma portada lateral. Ao iluminar todo o espao cnico anterior do quadro, cria com os vrios degrads de sombras e cor, um verdadeiro trompe-lil, transmitindo ao observador uma forte sensao de imagens-vivas pelo conjunto das volumetrias obtidas com as guras em presena. Perto desta, sobressaem pelas suas condies especcas peculiares, uma acompanhante, a an Maria Barbola, alem de nascimento com cerca de vinte anos, ricamente vestida que olha xamente os reis numa atitude interrogativa espera de um possvel sinal, e Nicolas Pertusato, de famlia nobre italiana da regio de Milo que apesar de a sua sionomia simular uma criana pequena, j seria um adolescente, certamente portador de nanismo hiposrio, a provocar num acto de rebeldia um grande mastim que indiferente a tudo volta, dormita a seus ps. De todas as pessoas presentes, este moo de cmara, ser o que ter maior longevidade, vindo a falecer j no sculo XVIII (c.1710)27 com sessenta e cinco anos, uma idade invejvel para a poca. Logo atrs surgem no meio da obscuridade, uma governante de servio ou dama de companhia, Marcela de Ulloa com vestes de monja, a conversar a meia-voz com um impassvel cavalheiro no identicado, possivelmente o guarda-damas, Diego Ruiz de Azcona28. J no canto esquerdo, Velsquez desenhou, em lugar de relevo e numa postura quase arrogante, o seu auto-retrato num assomo de armao notria do seu temperamento, cuja ndole podemos ir buscar herana portuguesa com origens paternas no Porto. Nas vestes da capa de veludo com mangas de seda, percebemos a cruz da Ordem de Santiago, que foi includa na tela somente aps sua morte. Aqui a sua farta cabeleira negra e bigode no disfaram o olhar vivo e penetrante,
Lope de Veja, desmaiava dizendo missa quando pensava no martrio e sacrifcio de Jesus Cristo, in lAncien Rgime, Paris, Librairie Hachette, 1876. 26 Jonathan Brown, Images and Ideas in Seventeenth-Century Spanish Painting, Princeton University Press, New Jersey, 1978, p. 88. 27 Francisco Javier Snchez Cantn, Las Meninas y sus personajes, Barcelona, Editorial Juventud, 1943, p. 18. 28 Jos Gudiol, Velzquez (1599-1660), historia de su vida, catalogo de su obra, estudio de la evolucion de su tecnica, Ediciones Poligrafa, S.A., Barcelona, 1982, p.288.
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muito calmo e concentrado, manuseando ao mesmo tempo com mestria os pincis e as tintas que cobrem a paleta. de realar a enorme tela que tem sua frente. As imagens do rei e da rainha de Espanha (que com frequncia vinham v-lo trabalhar) surgem reectidas num espelho atrs da Infanta, o que introduz um elemento novo de perturbao, para o normal entendimento de toda a aco que se desenrola nossa volta, produzindo um efeito invulgar ilusrio da realidade. Acima do retrato h dois quadros do acervo do palcio e, mais ao fundo, um homem entra em cena e movimenta uma cortina, trazendo mais luminosidade tela - vislumbramos o camareiro da rainha (aposentador), D. Jos Nieto, dalgo ao servio da cmara-real que vai espreitando atravs do vo duma porta, no patamar das escadas. Toda a cena deve-se passar na galeria do cuarto bajo del Prncipe, tambm chamada de pieza principal, por ter pertencido em tempos, ao quarto ocupado no segundo andar pelo Prncipe Baltazar Carlos29. Picasso que sugeriu, ao reeditar uma das suas muitas rplicas deste quadro que esta imagem poderia bem ter ocorrido em pleno sculo XX, no tempo de Franco, com um elemento da polcia politica prestes a mandar avanar, a qualquer momento a Guarda Civil, apreensivo perante o que o seu olhar inquisitorial espantado, presencia. Por m, parece que nada nem ningum consegue perturbar o silncio do estdio, nem mesmo o rumor das palavras ou o roagar dos vestidos de seda pelo cho, num ambiente etreo de ternura melanclica. Mas h uma pergunta primordial que se impe, diante da complexidade visual e da ambiguidade de interpretao, pelos vrios paradoxos e anacronismos que tem suscitado a anlise do quadro ao longo da histria, tanto pela diculdade em descobrir uma fcil e clara resposta30, como ao recriar a nossa imaginao, prende a historiograa de arte a este enigma: o que que Velsquez est a pintar? Pelo ttulo da obra poder bem ser a Infanta Margarida mais o seu squito. Mas, porque que o nosso pintor nos aparece a trabalhar com todos os seus apetrechos sobre uma grande tela invertida que no nos deixa ver o que est a ser representado? Ser o seu auto-retrato? Se forem as meninas, ento, qual a razo de surgir reectido no espelho os rostos do casal real? Ou ser simplesmente, outra qualquer realidade escondida ao nosso olhar que nunca haveremos de saber31?
Jonathan Brown, ibidem, p. 88. A Arte do Retrato: quotidiano e circunstncia, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999, p. 87 Nada ultrapassa a complexidade de reexo plasmada e escondida no quadro As Meninas, com tanta gente a olhar de dentro para fora da tela, suspensa no que aqui se passa ou se vai passar As Meninas continuam visivelmente espera da nossa entrada na pintura ou na quimera. 31 Jonathan Brown, Images and Ideas in Seventeenth-Century Spanish Painting, Yale University Press,
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Tem havido at hoje, um nmero signicativo de explicaes, mas uma coisa certa, o quadro As Meninas, sempre tem provocado admirao, mltiplas exegeses e muitas mais reaces, desde as grandes interpretaes matemticas, astrolgicas, morais, polticas e at outras diferentes anlises sobre o estilo, grau de criatividade artstica e inventiva da obra. Jonathan Brown enquadra a sua interpretao no mbito do ilusionismo Barroco, isto , Velsquez ao reproduzir o ambiente onde se desenrola a aco, novamente pelo controlo subtil de luz e sombras, produz um efeito de iluso, suspenso entre a nobre arte da pintura e a realidade32. Segundo a opinio de Jaime Brasil alm dos seus mritos propriamente picturais, desenho, harmonia de valores, cromatismo, atmosfera e outros requisitos de boa tcnica, , na arte de ver e espiritualizar a realidade, um verdadeiro tratado cientco e losco 33. Para o pintor napolitano Luca Giordano, a Teologia da Pintura, mas segundo Thomas Lawrence, o quadro incarna a autntica losoa da arte. O quadro As Meninas pertence a um grupo restrito de obras-primas, onde se incluem: O Casal Arnolni, de Jan van Eyck; Os Embaixadores, de Hans Holbein, o Jovem; A Famlia de Carlos IV, de Goya; Olmpia e Um Bar nas Folies-Bergres, de Manet, em que o nal da narrativa pictrica parece estar mais alm do que simplesmente se observa, isto , so pinturas estruturadas num contexto em aberto, por uma nova organizao do espao que requer a participao activa e atenta do espectador sobre a inteno e sentido da composio, dando assim azo especulao e interpretao de cada um34, como se ao transpormos a terceira dimenso chegssemos ao signicado absoluto da sua essncia. E quase todos os investigadores coincidem num ponto: o tema estaria sempre relacionado com a velha ambio do pintor alcanar uma posio nobre de prestgio, para ele, o nome de famlia e para a sua arte, questo de suma importncia na Espanha do sculo XVII35.
Pelican History of Art, 1998, p. 87 - This tension between form and content has been an important reason for its irresistible fascination to writers of every stripe and inclination. Critics, scholars, poets, playwrights, and philosophers all have tried to reach its essence, to provide a truly denitive explanation of its meaning, only to nd that the picture has eluded the elaborate intellectual traps that they have set for it. In the face of these circumstances, and in the absence of any conclusive documentation, it must be admitted that no single interpretation will ever satisfy every point of view. Las Meninas, like every great work of art is renewed, not depleted, by time and thus remains for ever alive. 32 Idem, p. 98. 33 Jaime Brasil, Velsquez, Portuglia Editora, Lisboa, 1960, pp.23 e 213. 34 Jonathan Brown y Carmen Garrido, Velsquez la tcnica del genio, Ediciones Encuentro, 1998, pp. 181-194. 35 Jonathan Brown y Carmen Garrido, ibidem, p. 184.
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A Semiologia na Pintura A pintura de Velsquez, As Meninas, tambm encerra outro enigma que primeira vista pode passar despercebido, mas se olharmos de modo mais atento e cuidado vericamos que uma das meninas (a da esquerda) oferece Princesa Margarida uma bandeja com um pequeno pcaro de barro, normalmente utilizado para se beber gua por ele. Mas porqu um objecto to simples e rstico, na intimidade de um aposento real da Corte mais poderosa do mundo? Pode-se avanar com uma explicao teraputica para a poca. A Infanta Margarida (1651-1673) sofreria, como simples hiptese acadmica, de puberdade precoce, sinal de um Sndrome de McCune-Albright, caracterizado por uxo menstrual anormalmente abundante (menorragia) ou de durao demasiado longa (hipermenorreia), acompanhado de disfuno endcrina com precocidade somtica e sexual que num quadro clnico completo, pode-se complicar com bcio ou tumor da tiride, proeminncia ocular, anomalias sseas, etc., que podem causar deteriorao da qualidade de vida e morte prematura, o que justamente veio a acontecer aos 22 anos, j casada com o seu tio Leopoldo I, Imperador do Sacro Imprio Romano-Germnico. Assim, para limitar as anormais hemorragias era comum na altura (como ainda hoje vulgar, o uso popular das guas da fonte de Acero de Madrid), para obstruir os vasos sanguneos, mastigar argila ou beber determinadas guas que serviam de remdio para uma possvel cura. Logo, o quadro mais famoso da Histria representar um acto teraputico, simbolizado por uma simples caneca colocada estrategicamente no seu centro visual. O quadro pode ser considerado um pequeno abrge ilustrado de semiologia (seco da medicina que trata dos sintomas e sinais das doenas) em que as vrias patologias aqui representadas (deslam diante dos nossos olhos, num friso de notvel intensidade dramtica mas ao mesmo tempo de grande humanidade e sempre com uma postura digna e respeitvel perante o sofrimento humano e a sua sabedoria) induzem uma sentida emoo na atitude de respeito que o pintor demonstra a todos ns, simples observadores atentos, ao recriar com eminente dignidade e de modo igual as vrias personagens, cada uma com a sua prpria especicidade, sejam elas da realeza, da aristocracia, da igreja ou gente comum, demonstrando um superior poder de observao e uma grande sensibilidade na avaliao psicolgica dos retratados. Ser possivelmente, a primeira vez em arte (e que poucas mais vezes se ir repetir nos anos vindouros) que adoptada uma postura to vibrante e democrtica perante tudo aquilo que diferente e bizarro, do resto da silente maioria da sociedade dita convencional. Alm dos dois casos de nanismo j referidos Maria Barbola (acondroplasia) e Nicolas Pertusato (n. hiposrio) e do possvel Sndrome de Albright da
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Infanta Margarida, h a registar uma outra patologia que acompanhou como uma maldio a dinastia dos Habsburgos ao longo dos sculos e que se vai acentuar dramaticamente nas ltimas geraes. De novo, o espelho pintado no quadro vai ser a chave que nos vai deixar aperceber o indcio. O casal j referenciado so os Reis de Espanha, Filipe e Mariana de ustria (tio e sobrinha) que aqui inequivocamente aparecem com aquela caracterstica morfolgica, tpica desta famlia o Prognatismo mandibular ou lbio de Habsburgo. uma alterao gentica que se caracteriza pela existncia de um maxilar inferior (ou mandbula) extremamente pronunciado, deixando como tal o lbio inferior signicativamente afastado do superior, deformando a sionomia normal do rosto, causada por sucessivos casamentos consanguneos ao longo de geraes, por um princpio de conservao da pureza do sangue em famlias da aristocracia. Esta tendncia para as relaes endogmicas que por vezes tm motivaes polticas, muito naturalmente com o tempo podem provocar degenerao gentica com aparecimento de indivduos fracos, debilitados que na maioria das vezes no resistem para alm da primeira infncia - dos muitos lhos que Filipe IV teve nos dois casamentos, s um lho varo, Carlos II (1661-1700) que sobreviver morte do pai (alm da irm, a Infanta Margarida), quase todos os demais morreram demasiado prematuramente. Por conseguinte, o prprio Carlos II, chamado O Enfeitiado (ou Amaldioado), sendo o ltimo da dinastia dos Habsburgos em Espanha, foi uma criana mental e sicamente incapaz, enfezada, raqutica, que comea a andar tarde e mal, pois sempre coxeou bastante. Desgurado pela grave acentuao do prognatismo mandibular que o faz babar-se e lhe limita a fala, inapto e quase louco para se valer a si prprio. Tal como a irm Margarida, deveria sofrer de acromeglia (doena endcrina com compromisso sseo) e provavelmente de epilepsia. Todo este quadro clnico vai conduzir sua morte precoce sem descendncia directa por ser tambm impotente, enfermidade atribuda pelos clrigos da poca a um feitio ou bruxaria. Esta situao ir provocar nos anos seguintes uma convulso na Europa, a que se convencionou chamar Guerra da Sucesso de Espanha (1700-1714).
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O legado de Velsquez
Quanto ao vcio de pedir, a arte de no dar Eu quero aprender a arte de viver (J-M N)
Velsquez ao utilizar os vrios castanhos da Andaluzia, mais os ocres e magentas da meseta ibrica, com os azuis venezianos e o claro-escuro de Caravaggio (um dos seus mentores iniciais), produz uma inventiva relao simbitica entre as tintas e a tela, com uma utilizao peculiar dos pincis, sem esquecer o predomnio da gama larga dos eternos cinzentos. esta marca de mestre que torna a sua pintura to intemporal como eterna, fazendonos vezes sem conta buscar e redescobrir novos dados e sensaes como se fosse a primeira vez que entrssemos em contacto com a sua pintura. A pincelada rpida e solta, aparentemente imprecisa, base de manchas e pequenos toques de cor e de luz dominam a composio, criando aspectos atmosfricos, cromticos e luminosos, de igual modo, as suas preocupaes com a luz solar e os seus efeitos sobre a cor com os seus dgrads, ao aplicar o leo atravs de retoques de cor, situam-no mais de duzentos anos antes, como precursor do Impressionismo de Degas, Claude Monet, Auguste Renoir, Vincent van Gogh e outros, da segunda metade do sculo XIX. Como exemplos paradigmticos temos, as telas As Fiandeiras (ou A Fbula de Aracn) e As Meninas. Ao pintar As Meninas no auge da sua carreira s teria mais quatro nos de vida. Ser que teve a intuio do seu m para breve, ao concluir o primeiro quadro realista de sempre? Ele desperta-nos a sensao de coisa viva ou de um recomear de novo da aco, aps uma pausa involuntria dessa poca particular da histria, em que Velsquez xa para a posteridade num realismo e numa unidade plstica surpreendente, uma cena ntima palaciana da Corte Imperial de Filipe IV, levando-nos a entrar involuntariamente numa espcie de cpsula do tempo. Na verdade, premonitrio do movimento chamado de Realismo, na arte da pintura do sculo XIX. Com as suas harmonias e desarmonias cromticas de tons e matizes, eleva-nos a um sentido superior de Beleza independente da temtica. Com a srie dos retratos pintados na etapa nal da vida, atinge a sua plena maturidade pela impressionante unidade que aparece em todos eles, unidade estilstica e tcnica, dentro de uma gama cromtica mais rica que nunca36. H quem j dissesse que o
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segredo de Velsquez era possuir uma retina com a sensibilidade de um negativo de fotograa mas que nunca ele prprio se conformou a ser um simples elemento passivo perante a energia da vida ou a forma inanimada das coisas, dentro duma realidade, de sentir e ver a cor que s poderia ser por ele pintada. A arte alterao, deformao, interiorizao, imaginao criativa, fantasia, livre arbtrio, mas sem truques ou excessos desnecessrios. Hoje ainda, Velsquez considerado mestre de pintores, em busca dum ideal de beleza37. A sua obra caracteriza a sua personalidade voluntariosa, o carcter dos retratados, o ambiente que os envolve, a poca em que viveu e at com os seus equvocos como homem e pintor38. Com ele, a arte do retrato capta aquele nmo e nico momento irrepetvel para nos dar a todos ns, um sentido de imortalidade.
Concluso Velsquez viveu sempre, desde os tempos de Sevilha, como um eremita isolado, refugiado, num ambiente austero e imperturbvel de um claustro. No alcar real mantm o seu perl imperturbvel, rgido, indiferente, s preocupado em realizar as suas tarefas de artce da pintura com a honestidade de um burocrata da arte, sem adoptar atitudes exibicionistas, sem pretenses intelectuais, sem querer dar nas vistas, orgulhosamente modesto e requintadamente simples39. Como pintor a primeira excepo ao estilo de pintura religiosa, alheio s coisas da religio pela falta de um verdadeiro sentimento religioso e de desapego perante os costumes do tempo, mas jamais ser um livre-pensador. recordado como um dos mais inuentes pintores da arte europeia, j respeitado no seu tempo, com uma vida modelar que no lembra um nativo da Sevilha andaluza, talvez incutido pelo carcter portugus dos traos paternos. Considerado o mais humano mestre da Pintura Universal, pelo respeito e dignidade com que notoriamente faz transparecer nas mltiplas e vrias personagens (independentemente da classe social, beleza, perfeio, protagonismo politico ou riqueza econmica, de cada uma delas) que pinta ao longo de uma vida tranquila, silenciosa, feita sem pressas nem grandes ambies, parecendo ter sempre a perfeita noo das consequncias para o futuro, do seu papel imprescindvel na memria inalienvel do Homem que vai muito para alm do tempo fsico que vive e que deixa para a livre contemplao dos vindouros em numerosas obras-primas.
Antnio Pardete da Fonseca, Goya, Velsquez e Jacinto del Caso o estudo e a individualizao, Separata da Revista Gil Vicente, Guimares, 1965, pp. 7-9. 38 Idem, ibidem p. 9. 39 Jaime Brasil, ibidem, pp.23 e 213.
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Velsquez tal como Pieter Brueghel, o Velho (1525-1569) e Caravaggio (1573-1610), pinta a gente comum do povo, sem disfarces, retratando de maneira lcida, a verdade diria, com a tragdia e a constelao dos seus defeitos, imperfeies e decincias. O seu mundo comea e acaba na corte do seu generoso mecenas, pintando vezes sem conta e ao longo dos anos os Habsburgos, sem lisonjas nem exaltao40. Talvez um dos mritos a que devemos estar gratos a Filipe IV, homem fraco, sensvel, apaixonado da caa e prisioneiro do ritual minucioso da Corte, apesar de lento a tomar qualquer deciso, foi reconhecer o valor de Velsquez, o Diogo da Silva, tal como amistosamente o chamava41, ao proteg-lo, nomeando-o muito cedo, pintor ocial em 6 de Outubro de 1623: A Diego Velsquez, pintor, mandei receber no meu servio para que se ocupe no que se lhe ordenar da sua prosso. E este, por sua vez, t-lo- imortalizado para a posteridade numa srie de retratos. Mais tarde quase no m da vida, o rei concede-lhe o hbito da Ordem de Santiago, por uma especial dispensa papal, ao no possuir como j dissemos nobreza familiar, tendo sido dele investido em 28 de Novembro de 165942. Ao tempo, a pintura no era considerada uma ocupao digna de um gentil-homem. Velsquez integra o denominado Sculo de Ouro Espanhol quando acontece o grande incremento nas artes e na literatura em Espanha onde se incluem na pintura nomes como El Greco, Zurbarn, Murillo, Alonso Cano43 e escritores do nvel de um Miguel de Cervantes, Lus de Gngora (por ele pintado em 1622), Lope de Veja, Pedro Caldern de la Barca, Tirso de Molina, etc., coincidindo, em parte, com o declnio gradual da inuncia dos Habsburgos, na Europa e no mundo do sculo XVII. Muitos outros lhe vo pagar tributo recriando alguns dos trabalhos mais signicativos da sua carreira. considerado o maior pintor espanhol perante a fora, o novo poder do seu gnio e ainda pelas suas correntes de inuncia - um dos prenunciadores da arte moderna. Velsquez, apesar do seu talento incontornvel, s no sculo XIX que a sua pintura comea a ser apreciada fora das fronteiras limites de Espanha a mestria da sua obra conhece por m reconhecimento internacional (aps um eclipse nos sculos XVII e XVIII44) e vai inspirar pintores de todo o mundo at aos nossos dias.
Thomas Craven, A Treasury of Art Masterpieces, Simon & Schuster, New York, 1958, p.165. Eduardo Freitas da Costa, Um Prncipe Portugus Pintado por Velazquez da Silva, Livraria Samcarlos, Lisboa, 1960. 42 Idem, LAge dor de La Peinture Espagnole, p. 219. 43 Jonathan Brown, ibidem, p. 89. 44 Francisco Javier Snchez Cantn, ibidem, p. 9.
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Mas h uma dvida insanvel que persiste. Como que ns, portugueses, sempre to ciosos das nossas pequenas expectativas, falsas esperanas e vs glrias, no nos preocupmos em assumir uma parte da herana de Velsquez, sem nenhuma dvida, um dos maiores na Arte da gesta lusada.
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Bibibliograa
Joo-Maria Nabais, Licenciatura em Medicina e Cirurgia, Faculdade de Medicina da Universidade Clssica de Lisboa - 1974. Actualmente, exerce funes de Assistente Hospitalar Graduado de Pediatria Mdica na Sub-regio de Sade de Setbal e no S.A.M.S.; Integra o Ncleo de Pedopsiquiatria; Grupo de Fundadores da revista literria SOL XXI e da Direco da Associao Cultural SOL XXI. H vrios anos que colabora regularmente com a sua escrita, para diversas revistas e jornais.
reas de interesse tem mais de duas centenas de artigos e ensaios publicados nas reas das Cincias da Sade, Histria da Medicina, Escritores Mdicos, Judasmo, Arte e de Literatura. Fez trs dezenas de comunicaes sobre Histria da Medicina e da Arte, em geral, tendo realizado conferncias cientcas nacionais e internacionais sobre Histria da Medicina e a gesta dos mdicos sefarditas portugueses. Distinguido por mais de uma vez: Prmio Moldarte Pintura, 1987; Prmio ANTNIO PATRCIO de Poesia, 1996, 2002 e 2006 com os livros Poemas, Sons de Urbanidade e O Lugar e o Mito, todos pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Mdicos; Medalha de Mrito Cultural da Associao de Escritores Mdicos e Jornalistas de Bucareste Romnia, 2004.
Obra potica A sua obra literria (poesia) consta de quinze livros publicados: O Silncio das Palavras - 1992; Crepsculo das Noites Breves - 96; Instantes e Vivncias - 97; POEMAS - 97; Novos Navegantes* - 98; Memrias de Amor e Seduo - 2000; Cidade dos Rios - 01; Sons de Urbanidade* 01; Esprito do Vento 02; Monsaraz 02; Palhais 02; Criana, Um Tempo de Fuga 02; Interior Luz 03; O Lugar e o Mito 05; Terra de Hmus e Neblinas 07.
(*) inclui um CD
Conferncias e palestras mais importantes 1997 - Estvo Rodrigues de Castro (1559-1638) - Anais 5 Congresso Internacional da UMEAL, Baha; 1998 - A Medicina na Escrita - Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XX, Castelo Branco; 1999 - Estvo Rodrigues de Castro (1559-1638), esse desconhecido - Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XX, Castelo Branco; 2000 - Inspirao & Criatividade, Anais 5 Congresso Internacional da UMEAL, Recife;
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2000 - Egas Moniz, segui imperturbvel o meu caminho, Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XX, Castelo Branco; 2001 - Amato Lusitano, un monde decouvrir - Anais do 45 Congresso Internacional de Escritores Mdicos, Atenas; 2001 - Amato Lusitano, l fora h um mundo a descobrir Anais do Congresso Internacional de Histria da Medicina, Faculdade de Cincias Mdicas, Lisboa; 2001 - A Importncia de Amato Lusitano, na Medicina do sculo XVI, Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2002 - Miguel Bombarda e as Singularidades da Gerao de 70 com Antero de Quental Anais do 1 Congresso Internacional de Cultura Humanstica-Cientca Portuguesa Contempornea Universidade de Coimbra; 2002 - A Vida de Pedro Nunes no Simbolismo da sua Escrita, Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2003 - The Dracula Romance Within The Context of The 19TH Century Medicine - Anais do 47 Congresso Internacional de Escritores Mdicos, Bucareste; 2003 - Garcia de Orta, um Contemporneo de Amato, Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2004 - The Diaspora of the Portuguese Sephardic Doctors, Associao de Amizade PortugalIsrael; Saudades Second Conference Tour, Lisboa; 2004 - Um Estudo Compreensivo da Alma do Mdico-Escritor - 48 Congresso Internacional de Escritores Mdicos, Viana do Castelo; 2004 - Ribeiro Sanches, tal como Amato um Mdico do Mundo, Jornadas de Estudo, da Prhistria ao Sculo XXI Castelo Branco; 2004 - A Medicina nas Artes - III Congresso Internacional de Histria de Arte, Porto; 2005 - O Hospital Dona Estefnia, um smbolo de modernidade no Portugal de oitocentos Sociedade de Geograa de Lisboa (Seco de Histria da Medicina); 2005 - The Landscape in the Painting of Abel Salazar, 49 Congresso Unio Mundial Escritores Mdicos, Isernia Itlia; 2005 - Medicina e Judasmo na transio para a Modernidade, XVII Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2006 - Judasmo & Dispora, Galeria Matos Ferreira, Lisboa; 2006 - A Genialidade louca ou o novo poder do gnio, Hospital Jlio de Matos, Lisboa; 2006 - A Pedra da Loucura nos 150 anos do nascimento de Freud Sociedade de Geograa de Lisboa (Seco de Histria da Medicina);
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2006 - The Ship of Fools, an incursion to the study of madness through art history, 40 Congresso Sociedade Internacional de Histria da Medicina, Budapeste; 2006 - Contributos de Amato Lusitano para a Histria das Religies e da Cincia - XVIII Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2006 - Rembrandt na busca perene do autoconhecimento Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lngua e Cultura Neerlandesa; 2007 A Alma Multifacetada do Mdico-Escritor - Sociedade da Lngua Portuguesa, Lisboa; 2007 A Criana - aproximaes vrias sob o ponto de vista histrico, - XIX Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2008 Lio de Anatomia: um estudo prospectivo sobre Histria da Medicina na arte de Rembrandt Sociedade de Geograa de Lisboa (Seco de Histria da Medicina); 2008 A criana no tempo de Amato Lusitano, uma anlise historiogrca das Centrias de Curas Medicinais - XX Jornadas de Estudo, da Pr-histria ao Sculo XXI, Castelo Branco; 2009 In memoriam: O Pogrom de Lisboa de 1506, 4s Culturais, Gabinete de Referncia Cultural, Cmara Municipal de Lisboa; 2009 O amanhecer da escurido no Pogrom de Lisboa de 1506 Sociedade de Geograa de Lisboa (Seco de Histria).
A escrita literria encontra-se distribuda por vrias antologias e a sua obra est especialmente citada, entre outras publicaes Aquedutos em Portugal (livro em edio bilingue) - Lber / Epal, de 1991. Cntico em Honra de Miguel Torga - Fora do Texto, Coimbra, 1996. O Mundo Fascinante da Medicina (no volume A Medicina e a Arte), de 1997, por Armando Moreno. A Paisagem Interior - vol. I (crtica e esttica literrias) de 2000, do Jos Fernando Tavares. Aromas & Cheiros, CD com dois poemas 2000. Pintura em Portugal 2001. DNa (suplemento DN), n 301, Dezembro 2002. Amato Lusitano nos Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior - da prhistria ao sculo XXI - (separata), 2004. Revista Boca do Inferno, n. 9 e 10, Cmara Municipal de Cascais - 2004 e 2005.
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Revista Egosta Junho 2004. Homenagem a Teixeira de Pascoaes, com o ensaio Teixeira de Pascoaes, notas breves para uma biograa Outubro 2004. Poesia Portuguesa Contempornea, edio russa bilingue (com os 25 maiores poetas portugueses actuais) So Petersburgo, 2004. O Horto de Amato Lusitano, edio Instituto Politcnico de Castelo Branco, 2004 Anidades, Revista da Casa Museu Abel Salazar, n2 II Srie, com o ensaio Abel Salazar, um esprito renascentista do sculo XX portugus, 2005. Cadernos de Estudos Sefarditas, n6, ensaio, A Dispora de Francisco Sanches, na Busca da Conscincia do Eu, edio F. L. U. L., 2006. Imprensa da Universidade de Coimbra, ensaio, Miguel Bombarda e as singularidades da gerao de 70 com Antero de Quental, 2006. Palavras de Vento e de Pedra, edio Cmara Municipal do Fundo, 2006. Contos de Mdicos Portugueses, edio Celom, 2007. Revista de Psiquiatria (Hospital Jlio de Matos), Vol. XIX n2 (ensaio, A Nave dos Loucos, uma incurso ao estudo da loucura atravs da arte, 2006; Vol. XXI n1 (ensaio, Miguel Bombarda e a conscincia da desrazo em Antero de Quental, 2008). Revista Vrtice, 133 (2007) e 141 (ensaio, Rembrandt, na busca perene do autoconhecimento, 2008). Revista Vesalius (Acta Internationalia Historiae Medicinae), Vol. XIV, n2 (ensaio, The art in Abel Salazars life (1889-1946): a Portuguese renaissance spirit of the twentieth century, 2008).
Membro das seguintes associaes: Sociedade Portuguesa de Pediatria Sociedade Nacional de Belas-Artes Sociedade Portuguesa de Autores Associao Portuguesa de Escritores Associao Cultural Sol XXI Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Mdicos
JOO-MARIA NABAIS
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Unio Internacional de Mdicos Escritores e Artistas Lusfonos Unio Mundial de Escritores Mdicos Sociedade de Lngua Portuguesa Sociedade de Geograa de Lisboa e das Seces de Histria e Histria da Medicina Associao Portuguesa de Historiadores da Arte Sociedade Internacional de Histria da Medicina
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