A Psicossintese e A Abordagem Holistica
A Psicossintese e A Abordagem Holistica
A Psicossintese e A Abordagem Holistica
A Psicossntese e a Abordagem Holstica(1) - Marina Pereira Rojas Boccalandro(2) Antes de falarmos sobre a Psicossntese, vamos falar primeiro sobre o seu criador, Roberto Assagioli. Conhecendo melhor o homem, poderemos entender mais facilmente a sua abordagem filosfica de vida, o seu conceito de homem e a sua psicologia. Roberto Assagioli nasceu em Veneza, na Itlia, no dia 27.2.1888, ao meio dia. Seu pai faleceu quando Roberto era bem pequeno. Sua me casou-se novamente, com um judeu, Alessandro Assagioli, de quem Roberto assumiu o nome. Sua famlia era de classe mdia alta e ele recebeu uma educao clssica em que era de suma importncia o estudo de lnguas. Assagioli dominava, depois de vrios anos de estudo, oito lnguas, incluindo o grego, o snscrito e o latim. Em sua casa, falavam ingls, francs e italiano, lnguas com as quais se sentia especialmente confortvel. Aos oito anos, j falava alemo e tambm estudou russo na Universidade de Florena aps 1906. Fez parte de sua educao como a de toda criana italiana da classe mdia alta: estudar Dante Aligheri, particularmente a Divina Comdia. Encorajado pelos pais, Assagioli, desde cedo, visitou vrios pases europeus para ampliar seus conhecimentos sobre as grandes culturas e modos de vida de cada uma delas. Seu pai era grande conhecedor da cabala e, desde cedo, instruiu o pequeno Roberto nos mistrios dessa sabedoria judaica. Ele continuou sempre tendo um grande interesse pela causa e pelo povo judeu. Na 2 guerra mundial, chegou a ser preso e ficar confinado por um ms. Mais tarde, ele conta que aproveitou esse tempo para fazer exerccios psico-espirituais. Sua me era filiada a Sociedade Teosfica, e isso o colocou desde cedo frente ao conhecimento espiritual esotrico. Tornou-se alpinista na juventude e parece que essa atividade serviu como imagem para criar a Psicossntese. Viveu em Veneza at ir estudar Medicina em Florena, onde se especializou em Psiquiatria e Neurologia. Depois de formado, resolveu fazer seu doutorado em Zurich com Freud e Jung. Sua tese, apresentada em 1910, foi uma crtica Psicanlise. Em uma entrevista que deu a um jornalista americano em 1974, poucos meses antes de sua morte, Assagioli coloca: "Eu nunca encontrei Freud pessoalmente, mas mantive correspondncia com ele, que escreveu para Jung manifestando a esperana de que eu promovesse a causa da Psicanlise na ltlia. Porm, eu logo me tornei um herege. Com Jung, tive um relacionamento mais cordial. Ns nos encontramos muitas vezes durante anos e tivemos timos papos.
De todos os psicoterapeutas modernos, Jung o mais prximo em teoria e prtica psicossntese." Aps o doutoramento, Assagioli foi estudar com Bleuler, o criador do termo esquizofrenia, em um hospital de Zurich. Terminando seus estudos em Zurich, voltou Itlia onde comeou a praticar psicanlise. Logo comeou a perceber a limitao desse mtodo que, segundo ele, lidava apenas com uma parte do ser humano, "o poro". Sempre trabalhando na sua profisso, foi buscando um mtodo ou abordagem teraputica que se coadunasse melhor com sua viso de mundo. Essa busca resultou na criao da psicossntese, que tambm podia ser aplicada na Educao, nas relaes interpessoais, no desenvolvimento e fortalecimento da personalidade humana. Entre as duas guerras, viveu em Roma e casou-se com Nella, uma catlica romana e teosofista na dcada de 20. Viveram juntos durante 40 anos e tiveram um filho de nome llrio. Tambm, nessa poca, continuou suas pesquisas tendo entre seu crculo de amizades e estudos sobre a base espiritual da vida, pessoas como Groce, Tagore, Suzuki, Ouspensky e Alice Bailey. Em 1926, fundou o Instituto de Cultura e Terapia Psquica em Roma. Nessa poca, publicou muitos artigos em revistas e jornais da rea. Esses artigos, mais tarde, formariam o seu livro Psicossntese manual de Princpios e Tcnicas. Com o incio da 2 Guerra Mundial, teve de fechar o Instituto, pois foi duramente perseguido pelo governo fascista, que no concordava com suas atitudes e idias humanitrias. Refugiou-se nas montanhas e, depois da Guerra, abriu seu Instituto em Florena, onde funciona at hoje. Durante toda sua vida profissional, escreveu muitos artigos publicados em Revistas e Jornais de Psicologia e Medicina. Deu vrias palestras em vrios pases da Europa e tambm nos Estados Unidos. Alm do livro Psicossntese (1965), escreveu tambm O ato da vontade (1974). Ele era considerado um homem de grande sabedoria, humor e originalidade. Assagioli era contra um controle institucional central; achava que a Psicossntese era um processo em evoluo e que deveria ir se adequando a cada cultura que a recebia. Tudo indica que a Psicossntese continua crescendo, pois, diferente do que ocorre com outros mtodos similares destinados ao auto conhecimento, ela "no um sistema fechado, mas uma abordagem que procura modificar e evoluir de acordo com as transformaes e evolues mundiais" (Parfitt, 1994: pg. 16). Assagioli morreu em 1974, em Florena, em plena atividade, escrevendo, dando palestras e entrevistas. Agora vamos comear a falar de psicossntese. Primeiro vamos deixar o prprio Assagioli falar sobre ela. Na mesma entrevista dada ao jornalista americano Keen, quando ele lhe pergunta sobre as diferenas entre Psicossntese e Psicanlise, Assagioli responde o seguinte:
"Ns prestamos muito mais ateno ao inconsciente superior e ao desenvolvimento do Self Transpessoal". Em uma de suas cartas, Freud disse: "Estou interessado somente no subsolo do ser humano". A psicossntese est interessada na construo toda. Ns tentamos construir um elevador que permitir a uma pessoa acessar cada nvel de sua personalidade. Afinal, uma construo com apenas um poro muito limitada; ns queremos abrir o terrao onde voc pode tomar sol ou olhar para as estrelas. Nosso interesse pela sntese de todas as reas da personalidade. Isso quer dizer que a Psicossntese HOLSTICA, global e, inclusive, no contra a Psicanlise, nem mesmo contra a mudana comportamental, mas insiste que a necessidade de significado, de valores elevados, de uma vida espiritual so to reais como as necessidades biolgicas ou sociais. Ns negamos que haja quaisquer problemas isolados. Tome o sexo, por exemplo: No h sexo per se. O sexo est conectado com cada outra funo. Os chamados conflitos sexuais so, freqentemente, causados por conflitos de poder entre duas pessoas e s podem ser resolvidos desfazendo-se as complexas interaes entre elas. Antes de abordarmos a concepo da personalidade de Assagioli, vamos apresentar uma pequena estria, contada por Piero Ferrucci, na introduo do seu livro What we way be. Era uma vez um homem que h muito tempo procurava o que era a Verdade. Depois de muitos anos de busca, recebeu informaes de que, se ele fosse a um poo, que ficava em determinada localizao, receberia a resposta que h tanto procurava. Chegando ao poo indicado, ele grita a pergunta. - O que a verdade? Das profundezas veio a resposta: - V at a encruzilhada da vila e l voc encontrar o que procura. Ento, ele se dirigiu prontamente para l e encontrou apenas trs lojas bem desinteressantes: uma vendia pedaos de metal, outra vendia madeira e a terceira, arames finos. Ele ficou desapontado, no vendo nenhuma relao com o que procurava. Voltou ao poo, exigindo uma explicao e a nica resposta que ouviu foi: - "Voc compreender no futuro". Ficou furioso, sentiu-se feito de tolo e foi embora indignado. Continuou na busca pela verdade. Com o passar dos anos, esqueceu-se do poo e do que ele tinha lhe dito. Certa vez, ouviu uma msica maravilhosa que o atraiu irresistivelmente e foi em direo a ela. Encontrou um homem tocando uma ctara de forma perfeita. De repente, teve um lampejo de entendimento. Via que a ctara era feita de madeira, metal e fios de arame, iguais aos que tinha visto nas trs lojas da encruzilhada. "Finalmente compreendera a mensagem do poo: j recebemos tudo aquilo de que necessitamos, nossa tarefa reunir e usar tudo de maneira apropriada. Nada tem significado se percebemos apenas fragmentos separados. Porm, medida que os fragmentos unem-se em sntese, uma nova entidade emerge, cuja natureza ns no poderamos ter previsto considerando apenas os fragmentos." Assagioli tinha uma concepo pluridimensional da personalidade humana. Para tentar explic-la, criou um diagrama que, segundo ele, apesar de ser uma representao grosseira e elementar, que d apenas um quadro esttico de uma construo interna e deixa de fora o seu aspecto dinmico, que o mais importante
e essencial, este diagrama pode nos ajudar a compreender a sua concepo de personalidade humana. Com essas reservas e restries, o mapa o seguinte: Diagrama 1: 1) Inconsciente Inferior 2) Inconsciente Mdio 3) Inconsciente Superior ou Superconsciente 4) Campo da Conscincia 5) "Eu" Consciente ou "Ego" 6) Eu Superior 7) Inconsciente Coletivo Assagioli, 1982, pg Nota: ateno nas linhas pontilhadas. Todos os aspectos da personalidade esto em constante intercmbio, em constante relao. INCONSCIENTE INFERIOR: (tambm chamado por seguidores de Assagioli, "profundo" ou "interior"). Aqui encontramos todos os impulsos bsicos ou desejos primitivos, as atividades fisiolgicas fundamentais. Os complexos, carregados de emoo, os sonhos e imaginaes de espcie inferior. As manifestaes patolgicas como as fobias, obsesses, compulses, crenas, paranides. Esse inconsciente muito parecido com o conceito de inconsciente de Freud. No temos como acessar esse inconsciente, mas podemos criar condies para que ele emerja mais facilmente, por meio de exerccio de relaxamento, estados alterados de conscincia. Podemos contat-lo mediante material que aparece nos sonhos e pelos atos falhos. INCONSCIENTE MDIO: aqui est todo o material a que facilmente podemos ter acesso. Aqui esto as nossas experincias elaboradas, desenvolvidas, as nossas lembranas, a nossa histria. tudo aquilo que no est no campo de nossa conscincia no momento, mas que podemos lembrar assim que quisermos. CAMPO DA CONSCINCIA: designa a parte da personalidade da qual possumos uma percepo direta: o fluxo incessante de sensaes, imagens, pensamentos, sentimentos, desejos, impulsos que podemos analisar e julgar. O "EU" CONSCIENTE OU "EGO": O "eu" o centro do campo da conscincia. como se fosse uma tela branca, na qual se projetam as mais diferentes imagens (pensamentos, emoes, sentimentos). A tela branca permanece sempre a mesma, o que muda so as projees que nela acontecem. O "eu" para Assagioli um reflexo do "Eu Superior", s cognoscvel pelas "vivncias transpessoais" de muito difcil comunicao. INCONSCIENTE SUPERIOR: a regio de que emana todo o esclarecimento, nossas intuies, nossas inspiraes superiores - artsticas, filosficas, cientficas, "imperativos" ticos, impulsos para a ao humanitria e herica. a fonte de sentimentos superiores, como o amor altrusta, os estados de contemplao, iluminao e xtase. Aqui esto latentes todas as funes psquicas superiores e as energias espirituais.
O EU SUPERIOR OU SELF TRANSPESSOAL: Tambm chamado Eu Espiritual, a Centelha Divina, o Esprito, etc. o centro ordenador, um centro de energia de pura conscincia. o si mesmo, aquele aspecto nosso que permanece sempre inalterado. Quando dormimos, desmaiamos, estamos anestesiados ou hipnotizados e o "eu" pessoal desaparece, mas quando acordamos, ele reaparece novamente. Isso nos leva a supor que o reaparecimento do eu consciente ou ego se deve existncia de um centro permanente, de um Eu verdadeiro situado "alm" ou "acima" daquele. Assagioli dizia que "no estgio atual da investigao psicolgica, pouco se sabe em definitivo a respeito do Eu, mas a importncia desse centro sintetizador justifica plenamente o prosseguimento das pesquisas. Eu creio que ainda pouco sabemos a respeito dele, apenas sentimos que existe." a conscincia de sermos ns mesmos, independente do nosso corpo fsico (criana, adolescente, adulto ou velho); independente das nossas emoes (ira, felicidade, amor, angstia, por exemplo); independente dos nossos pensamentos e valores, que podem mudar constantemente. INCONSCIENTE COLETIVO: Ns no estamos isolados no mundo. A linha divisria do diagrama do ovo deve ser vista como delimitadora e no "divisora". Da mesma forma como a nossa pele recebe e envia energia fsica (calor) para o exterior, tambm recebemos e enviamos energia emocional e mental. nesse Inconsciente Coletivo que se supe estarem as memrias da raa e o conhecimento dos mitos. Com o diagrama acima descrito, Assagioli diz pretender mostrar que s na aparncia que existem dois eus. O "eu pessoal" no toma geralmente conhecimento do outro e o "Eu Superior" latente e no se revela diretamente a nossa conscincia. Diz, ainda, que no existem dois eus, duas entidades separadas e independentes. Para ele, o "Eu" uno; manifesta-se em diferentes graus de conscincia e auto-realizao, e que o "eu pessoal" uma projeo de sua fonte luminosa, o "Eu Superior" (p. 34). Algumas das tcnicas usadas pela Psicossntese: Na psicossntese, pode-se usar uma quantidade muito grande de tcnicas para ajudar o processo psicoterpico e o auto-conhecimento. Entre elas, podemos citar: -Catarse -Interpretao de sonhos -Escrever os sonhos -Reviver situaes -Escrever -Fazer dirio -Auto identificao -Desindentificao -Desenvolvimento e treinamento da vontade -Treinamento e uso da imaginao -Visualizao -Meditao -Relaxamento -Exerccios respiratrios -Utilizao de smbolos
-Musicoterapia -Terapia artista -Testes projetivos -Contos de fadas -Terapia grupal -Psicodrama
Como vemos, o leque de possibilidades que podemos atingir com todas essas tcnicas muito grande. O importante que, como terapeutas, usemos aquelas de que mais temos conhecimento e experincia. Precisamos, tambm, procurar quais as tcnicas que mais se adaptam aos nossos clientes. J na psicossntese pessoal, no nosso prprio processo de auto-conhecimento tambm podemos fazer uso daquelas, com as quais sentimos mais afinidade. Existem alguns conceitos que so bsicos na psicossntese. Os principais, que vamos ver Desindentificao e Identificao. aqui so: Vontade, Subpersonalidade,
sobre esses quatro conceitos que falaremos a seguir. VONTADE Na Psicossntese, a Vontade um processo central; faz parte do "Eu" ou "Self'. A Psicossntese valoriza o ato de querer, as qualidades da Vontade e seus aspectos e tambm ensina tcnicas prticas para o desenvolvimento e o uso adequado dessa funo. Ela a fora construtiva que guia intuio, impulso, emoo, sensao, imaginao e pensamento em direo de objetivos imediatos ou transcendentes. por meio da funo da Vontade que o Self pode coordenar, integrar e direcionar as nossas metas e propsitos. Segundo Assagioli, "a Vontade a fora central de nossa individualidade, a essncia mais ntima de ns mesmos, portanto, de certo modo, a descoberta da Vontade significa a descoberta de nosso verdadeiro ser". A Vontade a energia interior que nos proporciona a qualidade que chamamos querer. Se dentro da psicologia analtica, dois dos arqutipos mais importantes so animus e nima, na Psicossntese os dois mais importantes so: Vontade e Amor. Se olharmos um pouco para o processo evolutivo, podemos verificar que na escala do reino animal, dos menos desenvolvidos (ex: os insetos) aos medianamente desenvolvidos (peixes, aves) at os mais desenvolvidos (mamferos), vamos ver que apenas com os seres humanos se entra num reino diferente.
"Do mesmo modo que os animais so mais livres que os vegetais devido ao fato de poderem mover-se no mundo fsico, os humanos so mais livres porque podem mover-se no mundo das idias, planos e vises de variabilidade infinita - e eles podem fazer isto, independentemente do meio ambiente ..." Ns podemos verdadeira e livremente escolher, assumindo total responsabilidade de autodeterminao. a esta aquisio evolucionria, ainda muito em desenvolvimento, que damos aqui o nome de vontade." ( Fiorucci, P. cap. VI). Com algumas ressalvas afirmao de Fiorucci, podemos ver a importncia da vontade nos diferenciando dos outros seres da natureza. importante no confundirmos desejo com vontade. O desejo emoo, impulso instintivo, mais ligada ao biolgico, ao eu pessoal; j a vontade est ligada ao que chamamos Eu Superior, Self ou Esprito. Na entrevista que Keen fez com Assagioli, ele pergunta: - "Por que voc posiciona a vontade no centro do ego? Voc est advogando uma nova forma de voluntarismo? Deveramos emendar Descartes para lermos: Exero um ato de vontade, logo existo?" Ao que Assagioli responde: "Creio que a vontade a Cinderela da psicologia moderna. Tem sido relegada cozinha. A noo vitoriana de que a fora de vontade poderia superar todos os obstculos foi destruda pela descoberta da motivao inconsciente por Freud. Mas, infelizmente, isso levou a psicologia moderna para uma viso determinstica do homem como sendo um feixe de foras competitivas sem nenhum centro. Isso contrrio a toda a experincia direta do ser humano com referncia a si mesmo. Em algum ponto, talvez durante uma crise quando o perigo ameaa, ocorre um despertar no qual o indivduo descobre sua vontade. Essa revelao, de que o Self e a Vontade esto intimamente conectados, pode mudar toda uma percepo que uma pessoa tenha de si mesma e do mundo. Ela v que um sujeito vivo, um ator, dotado de poder de escolha, de relacionar-se, de provocar mudanas em sua prpria personalidade, nos outros, nas circunstncias. E essa percepo leva a um sentimento de totalidade, segurana e alegria. Em decorrncia da negao da vontade pela psicologia moderna, ela negou que tenhamos experincia direta do Self. Com a certeza de que se tem uma vontade, vem a constatao da ntima conexo entre Vontade e o Self. Essa a experincia existencial da percepo direta de pura auto conscincia. a auto conscincia que distingue o homem dos animais. Os seres humanos so conscientes e tambm sabem disso. Podemos expressar a importncia da auto conscincia, a unio de volio e ser, dizendo (em oposio a Descartes): "Estou ciente de ser e ter vontade" ou "Sou um Self volitivo". Assagioli, ainda falando sobre a vontade nessa entrevista, diz que os psiclogos acadmicos, em vez de colocarem ratinhos dentro dos laboratrios, deveriam examinar suas prprias vivncias da Vontade, e os comparam aos telogos que se recusaram a olhar atravs do telescpio de Galileu por temerem perturbar sua viso de mundo. Diz, ainda, que impossvel descrev-la e que ela uma questo de experincia direta. Assagioli usa trs categorias ou dimenses para o estudo e treinamento da vontade. So elas: aspectos, qualidades e estgios.
Diz que os aspectos da vontade humana plenamente desenvolvida so: -vontade -vontade -vontade -vontade forte; hbil; boa; transpessoal.
A vontade forte: a mais fundamental o mais ntimo aspecto de vontade. na fora de vontade que reside o seu poder e a sua energia e isso necessrio para que possamos dar incio e andamento a qualquer projeto por ns almejado. Esse aspecto como os outros podem ser treinados. A mesma lei que serve para o fsico (treinamento com exerccios fsicos, levam a um preparo e/ou aumento de volume e fora muscular) tambm serve para a vontade: treinamento constante com disciplina nos leva a ter uma vontade cada vez mais desenvolvida. A vontade hbil: se ficarmos apenas no primeiro aspecto da vontade: a fora, estaremos usando-a, muitas vezes, de forma inadequada e at desastrosa. A funo essencial da vontade hbil fazer com que usemos a melhor estratgia, economizando energia e direcionando a nossa vontade de forma mais direta e eficaz. A vontade boa: nas duas categorias anteriores, o homem visto como uma unidade isolada, e a vontade como um instrumento de realizao pessoal. Na realidade, porm, o homem isolado no existe, ele est em constante interao com os outros seres, famlia, companheiros de trabalho, sociedade em geral. Aqui j se pensa como os objetivos individuais podem (e devem) ajustar-se a um crculo de solidariedade humana mais ampla. Aqui vontade deve ser direcionada para escolher os objetivos que se harmonizam com a felicidade dos outros e com o bem comum da humanidade. A vontade transpessoal: quando o homem se sente insignificante, quando sua vida no tem sentido, quando suas necessidades bsicas e pessoais j esto satisfeitas ou no, preciso buscar um sentido mais amplo e mais transcendente para se continuar vivendo. Vrios autores tem tratado desse assunto, e entre eles, Maslow, Frankl e at Einstein que diz "O homem que acha a prpria vida sem sentido no apenas um infeliz, mas quase indigno de viver". A vontade transpessoal expresso do Self Transpessoal que opera nos nveis supraconscientes da psique. Sua ao sentida pelo self pessoal ou ego, como uma "chamada" ou "atrao". A exemplo disso, temos a converso de Saulo (So Paulo, apstolo). "Saulo era um feroz perseguidor dos cristos. Numa viagem a Damasco a fim de prender todos o cristos que encontrasse, foi cercado por uma luz vinda do cu e caindo por terra ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem s tu, senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus a quem tu persegues; dura coisa para ti recalcitrar contra o aguilho. E ele tremendo e atnito disse: Senhor, que queres tu que eu faa? E o senhor respondeu-lhe: Levanta-te, e entra na cidade e a ser dito o que deves fazer. Aqueles que o acompanhavam estavam espantados, ouvindo a voz, mas no vendo ningum. E Saulo, levantando-se da terra e tendo os olhos abertos no via nada. Eles, porm levando-o pela mo, conduziram-no a Damasco. E esteve ali trs dias sem ver, e sem comer e nem beber" (pg. 1324)3. Depois desse episdio, Paulo
fica dez anos se preparando, estudando e meditando e passa ento a pregar em nome de Jesus e do Cristianismo. Para Assagioli, essa iluminao, esse chamado constituem uma manifestao do que ele denomina vontade transpessoal. Podemos falar que vrios outros indivduos tiveram essa vontade transpessoal bem desenvolvida e entre eles: Jesus, Buda, So Francisco de Assis, Gandhi e muitos outros. Quanto qualidades da Vontade, ele diz que ela precisa ser enrgica, disciplinada, concentrada, determinada, persistente, corajosa e organizada. So seis os estgios da Vontade para ele: 1) 2) 3) 4) 5) 6) Propsito, objetivo ou meta, baseadas na avaliao, motivao e inteno; Deliberao; Escolha e Deciso; Afirmao; Planejamento; Direo da execuo.
Esses seis estgios so iguais aos elos de uma corrente, portanto, a prpria vontade, isto , o ato da vontade. SUBPERSONALIDADES Antes de comearmos a falar das Subpersonalidades, vamos ver o que Jung tem a falar de complexo: "Os complexos so personalidades parciais ou fragmentrias... Um complexo um aglomerado de associaes... O complexo dotado de tenso ou energia prpria, tem a tendncia de formar, tambm por conta prpria, uma pequena personalidade... Os complexos so grupos autnomos de associaes, com tendncia de movimento prprio, de viverem sua vida independentemente de nossa inteno... Gostamos de pensar que somos unificados, mas isso no acontece, nem nunca aconteceu. Realmente, no somos senhores dentro de nossa prpria casa. agradvel pensar no poder de nossa Vontade, em nossa energia e no que podemos fazer, mas na hora 'h', descobrimos que podemos faz-lo at certo ponto, porque somos atrapalhados por esses pequenos demnios, os complexos..." Essas afirmaes de Jung nos deixam perceber como ele fala do complexo, mas reticente para descrever a energia bsica, a energia que est na raiz do complexo. Assagioli, continuando o trabalho de Jung, como discpulo seu que foi, traz para ns o conceito de Subpersonalidade, que muito parecido como o conceito de complexo de Jung. Assagioli consegue dar dois passos muito importantes alm de Jung; descreve de forma mais clara que a energia bsica da subpersonalidade de cunho emocional. Para ele, as subpersonalidades so formadas por traos psicolgicos que no foram bem integrados.
A subpersonalidade seria o papel representado por ns, dessa ou daquela maneira, isto , no o nosso desempenho, mas o estilo do desempenho. Ex: o papel de me pode ser representado como sendo me dominadora, castradora, fraca ou omissa e, assim por diante. Esse processo no consciente, na maioria das vezes. A segunda grande contribuio de Assagioli em relao a esse conceito so os exerccios para integrarmos esses vrios aspectos da personalidade, num todo harmonioso, no desprezando a energia bsica que existe na raiz de cada arqutipo (que a fonte de cada subpersonalidade), mas deixando de lado aquilo que no nos serve, aquilo que negativo, para deixar aparecer o real arqutipo positivo para a personalidade. Assagioli diz: "devemos nos tornar cnscios dessas sub personalidades e, assim, poder sintetiz-las num todo orgnico maior, sem reprimir qualquer dos traos teis". Podemos encontrar casos de subpersonalidades bem descritos na literatura psiquitrica. No so muito comuns, mas todos ns conhecemos alguns casos inclusive que foram levados para as telas dos cinemas em que aparecem duas ou mais subpersonalidades em um nico indivduo. Continuando os estudos de Assagioli sobre esse conceito, creio ser importante mencionar Sasportas, psiclogo e astrlogo com formao em Psicossntese. Para ele, "subpersonalidades so "satlites psicolgicos" que coexistem dentro da personalidade..." "So padres de sentimentos, pensamentos, comportamentos, percepes, posturas e modos de movimentar-se que tendem a se unir em resposta s vrias situaes da vida." Para ele, o ncleo de cada subpersonalidade um arqutipo. "No fundo de cada subpersonalidade existe algo que surge e que a constri, um impulso, uma presso, um princpio arquetpico." Para ele, "a subpersonalidade uma sntese de vrios traos e de outros elementos psicolgicos". IDENTIFICACO DESIDENTIFICACO "Somos dominados por tudo aquilo com que o nosso eu se identificou. Podemos dominar e controlar tudo aquilo de que nos desidentificamos" Assagioli Segundo Assagioli, nesse princpio reside o segredo de nossa escravido ou de nossa liberdade. Para ele, identificar-se com uma fraqueza, um defeito, uma emoo ou impulso pessoal nos leva a uma limitao, a uma paralisao. Se falamos "estou com medo", ou "estou irritado" ficamos mais dominados ainda pelo medo e pela ira.
Conta uma discpula de Assagioli que, quando foi visit-lo, logo aps ele ter se mudado, perguntou-lhe: O senhor est muito cansado? Ele lhe respondeu: "Eu no estou cansado, quem est cansado o meu corpo fsico". O processo de identificao - desidentificao baseia-se principalmente no reconhecimento de que temos um corpo fsico, um corpo emocional e um corpo mental mas no somos apenas esses corpos, eles nos pertencem, so nossos instrumentos para vivermos, para fazermos coisas, nos relacionarmos, pensarmos e podermos ter valores. Ns temos subpersonalidades, mas ns no somos essas subpersonalidades. preciso, inicialmente, reconhecermos que o poder dessas identificaes reside principalmente no fato de no termos conscincia delas. Quando essas subpersonalidades forem "desmascaradas" estaremos mais aptos a lidar com elas. Depois de as reconhecermos, o segundo passo seria aceit-las como existentes em ns para depois, num terceiro momento, transform-las. No se pretende exclu-las, mat-las em ns, mas deixar que a energia positiva que jaz na raiz dessas subpersonalidades, complexos ou emoes possa vir tona para nosso uso e nosso desenvolvimento pessoal. Agora, ao nos desidentificarmos, precisamos buscar a identificao com o nosso EU superior ou nosso SELF Superior. Assagioli coloca o seguinte diagrama para explicar a identificao com algum centro unificador externo a ns: Diagrama II: 1) Eu consciente ou "Ego" 2) Centro Unificador Externo 3) Eu Superior
Assagioli, pg. 39
1982,
Depois do processo de desidentificao, precisamos nos identificar com o nosso verdadeiro EU, nosso Self. Quando reconhecemos e aceitamos esse nosso EU Maior, podemos, ento, construir em torno dele uma nova personalidade mais coerente, organizada e unificada. Podemos, ento, criar uma imagem ideal genuna, no fantasiosa, que tem um poder criativo dinmico. Assim, vo se eliminando as incertezas, vai-se concentrando a energia e utilizando o grande poder criador sugestivo das imagens. "Uma vez feita a escolha da forma ideal, comea a psicossntese prtica, a construo efetiva da nova personalidade."
Esse trabalho Assagioli divide em trs partes: 1) Utilizao das energias disponveis; 2) Desenvolvimento dos aspectos da personalidade que so deficientes; 3) Coordenao e subordinao das vrias energias e funes psicolgicas criao de uma slida organizao da personalidade. Para melhor explicarmos o processo de identificao desidentificao, vamos usar a seguinte analogia: A luz do sol, como chega a ns, nossa viso, uma luz transparente, sem cor. Se essa mesma luz passar por um prisma ns a veremos como sete cores diferentes. Supondo que a nossa conscincia pudesse ver apenas uma cor de cada vez e, subindo em termos de freqncia vibratria, da cor vermelha (a mais baixa freqncia) at a faixa violeta (a de mais alta freqncia), ela ficasse apenas no nvel de vibrao vermelha (que corresponde ao chacra4 bsico ou Kundalini), estaria identificada com os impulsos animais em ns, com o princpio do prazer, com compulses que precisam ser satisfeitas, no aqui e agora. Se subirmos na faixa vibratria, at a cor verde (que corresponde vibrao do chacra cardaco), a conscincia se identificaria com o Amor fraterno e desinteressado, com o Amor filial, com a criao artstica, com o Amor incondicional e a compaixo. Se subirmos nessa escala vibratria, ao chegarmos na cor violeta (o stimo chacra, a Coroa), estaramos num plano Transpessoal em que a conscincia poderia identificar-se com o Atman, o Esprito Universal e j estaramos dentro da Psicossntese Transpessoal.