Substituição de Cimento Por Cinza de Casca de Arroz

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Influncia da substituio parcial de cimento por cinza ultrafina da casca de arroz com elevado teor de carbono nas propriedades

do concreto
Influence of the partial replacement of cement by ultrafine rice husk ash with high-carbon content on the properties of concrete Guilherme Chagas Cordeiro Romildo Dias Toledo Filho Eduardo de Moraes Rego Fairbairn Resumo
Guilherme Chagas Cordeiro
Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Av. Alberto Lamego, 2000 Campos dos Goytacazes RJ Brasil CEP 28013-602 Tel.: (22) 2739-7373 E-mail: [email protected]

Romildo Dias Toledo Filho


Programa de Engenharia Civil/COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro Ilha do Fundo, Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 21945-970 Tel.: (21) 2562-8474 E-mail: [email protected]

arroz com elevado teor de carbono em concretos de resistncia convencional e de alta resistncia. Estudou-se a influncia do emprego da cinza ultrafina (10%, 15% e 20% de substituio de cimento, em massa) nas propriedades reolgicas (tenso de escoamento e viscosidade plstica), na resistncia compresso (7, 28, 90 e 180 dias) e na penetrao acelerada de ons cloreto. Alm disso, a elevao adiabtica da temperatura de um concreto convencional com 15% de cinza ultrafina foi comparada com a elevao de um concreto de referncia. Os resultados indicaram que a cinza ultrafina produz melhorias significativas nas propriedades dos concretos para ambas as classes de resistncia.
Palavras-chave: Cinza da casca de arroz. Concreto. Pozolana. Atividade pozolnica. Alto teor de carbono.

ste trabalho descreve o emprego de cinza ultrafina da casca de

Abstract
This paper describes the use of ultrafine rice husk ash with high-carbon content in ordinary and high-strength concretes. The influence of ultrafine ash (10, 15 and 20% of cement replacement, in mass) on rheology (yield stress and plastic viscosity), compressive strength (7, 28, 90, and 180 days) and rapid chloride-ion penetrability was investigated. In addition, two
experiments were carried out on an adiabatic calorimeter to investigate the exothermic behavior of a reference concrete and conventional concrete with 15% ultrafine ash. The results indicated that the addition of ultrafine rice husk

Eduardo de Moraes Rego Fairbairn


Programa de Engenharia Civil/COPPE Universidade Federal do Rio de Janeiro E-mail: [email protected]

Recebido em 15/07/09 Aceito em 30/10/09

ash improved the evaluated properties for both types of concrete.


Keywords: Rice husk ash. Concrete. Pozzolan. Pozzolanic activity. High carbon content.

Ambiente Construdo, Porto Alegre, v. 9, n. 4, p. 99-107, out./dez. 2009. ISSN 1678-8621 2005, Associao Nacional de Tecnologia do Ambiente Construdo. Todos os direitos reservados.

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Introduo
A grande disponibilidade de cinza da casca de arroz tem motivado inmeras pesquisas sobre sua aplicao em concretos desde a dcada de 1970 (HWANG; CHANDRA, 2002; JAMES; SUBBA RAO, 1986; MEHTA, 1977; ZHANG; MALHOTRA, 1996). A obteno de produtos cimentcios contendo cinza residual da casca de arroz uma alternativa para solucionar o problema da disposio das cinzas no meio ambiente, alm de gerar um material de maior valor agregado. O emprego da cinza da casca de arroz tende a promover melhorias nas propriedades mecnicas (BUI; HU; STROEVEN, 2005; ZHANG; MALHOTRA, 1996) e na durabilidade de concretos (NEHDI; DUQUETTE; EL DAMATTY, 2003), alm de reduzir a temperatura de hidratao (MEHTA; PIRTZ, 1978). Por outro lado, a cinza pode comprometer a trabalhabilidade do concreto em razo da elevada superfcie especfica de suas partculas e, em alguns casos, do alto teor de carbono remanescente aps a queima da casca. Vrios estudos foram conduzidos com o intuito de determinar as condies de queima mais adequadas para a produo de cinza da casca de arroz com alta reatividade (JAMES; SUBBA RAO, 1986; HANAFI et al., 1980; MEHTA; PITT, 1976; SUGITA, 1994). Fatores associados queima da casca de arroz, como temperatura, taxa de aquecimento, tempo de residncia e ambiente, determinam o teor de slica, a estrutura da slica, a superfcie especfica e a quantidade de impurezas na pozolana, o que influencia sobremaneira sua reatividade. Assim, possvel produzir cinzas da casca de arroz com teores de slica amorfa acima de 95% e superfcies especficas em torno de 40.000 m2/kg, o que confere ao material elevada atividade pozolnica. Contudo, as condies adequadas de queima obtidas em laboratrio so, por vezes, extremamente difceis de obter em larga escala, sobretudo em caldeiras convencionais, como as utilizadas em grande parte das unidades de beneficiamento de arroz. Assim, percebe-se uma grande discrepncia ao se compararem as propriedades de cinzas produzidas em laboratrio e do material residual proveniente da indstria. Alm disso, a falta de homogeneidade, principalmente no que se refere ao tamanho de partculas e ao teor de carbono, compromete sua comercializao como pozolana (MALHOTRA; MEHTA, 1996). Nesse escopo, este trabalho visa estudar o uso em concreto de uma cinza ultrafina da casca de arroz produzida a partir de um subproduto com alto teor de carbono (12%). Nesse caso, utilizou-se uma moagem ultrafina em moinho vibratrio para conferir maior homogeneidade cinza. O potencial da cinza ultrafina foi avaliado com o emprego de diferentes teores de substituio de cimento Portland (0%, 10%, 15% e 20% em massa) em concretos de resistncia convencional (25 MPa) e de alta resistncia (60 MPa). Estes foram avaliados quanto reologia (ensaios em remetro BTRHEOM), resistncia compresso e penetrao acelerada de ons cloreto. Por fim, comparou-se a elevao adiabtica da temperatura de um concreto de resistncia convencional com 15% de cinza ultrafina da casca de arroz com a elevao de um concreto de referncia (100% de cimento Portland).

Materiais e mtodos
A cinza residual utilizada como matria-prima foi coletada em uma unidade de beneficiamento de arroz, localizada no municpio de Jaragu do Sul, SC. No houve controle das condies de queima da casca de arroz. Contudo, a presena de slica cristalina, sob a forma de cristobalita, ilustrada na Figura 1, indica que temperaturas acima de 800 C foram provavelmente alcanadas (HAMAD; KHATTAB, 1981). Cominuiu-se a cinza residual em um moinho vibratrio (Aulmann & Beckschulte Maschininfabrik) com vaso cilndrico (dimetro interno de 19 cm) de ao de 33 L. A cada batelada foram utilizados 16,5 L de corpos moedores cilndricos (dimetro 13 mm e altura 13 mm) de alumina e 8 L de amostra. O tempo de moagem, otimizado com base no consumo de energia e nos valores de atividade pozolnica da cinza, foi de 120 min (CORDEIRO et al., 2009). As condies de moagem adotadas possibilitam a reduo das partculas para um tamanho mdio inferior a 10 m, com demanda energtica da ordem de 100 kWh/t (CORDEIRO, 2006). As Tabelas 1 e 2 apresentam, respectivamente, a composio qumica e as principais caractersticas fsicas da cinza ultrafina da casca de arroz. A composio qumica foi determinada por fluorescncia de raios X (espectrmetro Phillips PW 2400). Determinou-se a perda ao fogo de acordo com os procedimentos prescritos na norma brasileira NBR 5743 (1989). A distribuio de tamanho das cinzas foi obtida por meio de analisador de partculas a laser Mastersizer 2000, Malvern Instruments. Obteve-se a superfcie especfica da amostra por adsoro de nitrognio (mtodo BET) em equipamento Gemini 2375 V5. A massa especfica foi determinada em picnmetro a gs (He), modelo Accupyc da Micromeritics. A

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atividade pozolnica neste trabalho foi determinada por duas metodologias distintas: ndice de atividade pozolnica com cimento Portland (NBR 5752:1992) e Chapelle Modificado (RAVERDY et al., 1980) baseado na fixao de CaO pela cinza. Pelos resultados, importante destacar o elevado teor de carbono e atividade pozolnica, o reduzido tamanho de partculas e a elevada atividade pozolnica da cinza ultrafina. Para a produo dos concretos utilizaram-se cimento Portland sem adio mineral (cimento para poos petrolferos CPP Classe G NBR

9831:1993), agregado grado com dimenso mxima nominal de 19 mm, areia quartzosa de rio (mdulo de finura de 2,12), aditivo superplastificante com base em cadeia de ter carboxlico (soluo aquosa com 32,6% de slidos) e gua deionizada. A Tabela 1 apresenta a composio qumica do cimento Portland, determinada por espectroscopia de fluorescncia de raios X. A Tabela 2 apresenta as principais propriedades fsicas do cimento.

Figura 1 Difratograma de raios X da cinza da casca de arroz difratmetro Rigaku Miniflex com tubo de Cu-K

Composto Cinza residual Cimento Portland

SiO2 82,62 20,85

Al2O3 0,38 4,23

Fe2O3 0,49 5,25

CaO 0,85 63,49

Na2O 0,05 0,16

K2O 1,81 0,40

SO3 0,06 2,38

Perda ao fogo 11,88 1,05

Tabela 1 Composio qumica (%) da cinza da casca de arroz e do cimento Portland

Caracterstica (unidade) Tamanho mdio de partcula (m) Percentual maior que 45 m Superfcie especfica (m2/kg) Massa especfica (kg/m3) ndice de atividade pozolnica (%) Atividade qumica (mg CaO/g)
1 2

Cinza da casca de arroz 6,8 0 33.672 1 2.293 109 736

Cimento Portland 16,9 8,4 308 2 3.170

Superfcie especfica B.E.T. superfcie especfica Blaine

Tabela 2 Caractersticas da cinza ultrafina da casca de arroz e do cimento Portland

Influncia da substituio parcial de cimento por cinza ultrafina da casca de arroz com elevado teor de carbono nas propriedades do concreto

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A dosagem dos concretos foi realizada com o auxlio do programa computacional Betonlab Pro2 (SEDRAN; DE LARRARD, 2000), que possibilita a simulao numrica de diferentes composies para a seleo adequada dos materiais com base no Modelo de Empacotamento Compressvel, proposto por De Larrard (1999). Os valores de resistncia compresso dos concretos de referncia foram estipulados em 25 MPa e 60 MPa, e a consistncia, de acordo com ensaio de abatimento do tronco de cone, foi mantida na faixa entre 130 mm e 170 mm, com teores especficos de aditivo superplastificante. Foram dosadas quatro misturas para cada classe de resistncia: referncia e concretos com substituio de 10%, 15% e 20% (em massa) de cimento Portland por cinza ultrafina da casca de arroz, conforme mostram as Tabelas 3 e 4. Como as massas especficas do cimento Portland e da cinza ultrafina so diferentes, a correo nos valores de massa de material por metro cbico de concreto foi feito com a reduo proporcional da massa de agregados. Dessa forma, o volume de material aglomerante (cimento e cinza ultrafina) maior nos concretos com cinza em comparao com as misturas de referncia, o que representa uma vantagem adicional desse tipo de aplicao. Alm do ensaio de abatimento, a caracterizao dos concretos no estado fresco foi realizada pela

determinao da tenso cisalhante de escoamento (0) e viscosidade plstica () com emprego do remetro BTRHEOM (DE LARRARD et al., 1997), Figura 2a, aps 10 min da etapa de mistura dos concretos em betoneira. Admitiu-se, neste trabalho, que os concretos comportaram-se como fluidos de Bingham. A resistncia compresso dos concretos foi determinada pela ruptura de corpos-de-prova cilndricos (100 mm de dimetro e 200 mm de altura) em prensa servo-controlada Shimadzu UH-F1000kNI, aps 7, 28, 90 e 180 dias de cura em cmara mida (temperatura de 21 C e umidade relativa de 100%). Os ensaios foram conduzidos de acordo com a NBR 5739:1994, com velocidade de 0,0075 mm/min, e foram utilizados quatro corpos-de-prova para cada idade. Investigou-se o comportamento dos concretos com vistas durabilidade em ensaios de penetrao acelerada de ons cloreto aos 28 dias, de acordo com as prescries normativas da ASTM C1202 (2002). Nesse caso, os testes foram feitos em duplicata. Alm disso, realizaram-se dois testes em um calormetro adiabtico (Figura 2b) para investigar o comportamento exotrmico dos concretos de resistncia convencional de referncia e com 15% de cinza ultrafina da casca de arroz. Os testes foram conduzidos em um corpo-de-prova de 200 L at 500 horas de hidratao.

Materiais (kg/m3) Misturas Referncia Cinza ultrafina da casca de arroz


*

Cimento Portland 365,9 329,3 311,0 292,2

Cinza ultrafina 36,6 54,9 73,2

Agregado mido 724,7 724,0 723,9 723,7

Agregado grado 1001,0 999,9 999,6 999,4

gua 220,3 220,3 220,3 220,3

SP* 0,36 0,43 0,54

10% 15% 20%

SP: aditivo superplastificante, cujo valor se refere massa da frao slida.

Tabela 3 Composio dos concretos de resistncia convencional Materiais (kg/m3) Misturas Referncia Cinza ultrafina da casca de arroz
*

Cimento Portland 478,0 430,2 406,3 382,4

Cinza ultrafina 47,8 71,7 95,6

Agregado mido 905,3 904,1 903,4 902,9

Agregado grado 860,0 858,8 858,1 857,7

gua 164,4 164,4 164,4 164,4

SP* 1,43 1,91 2,20 2,39

10% 15% 20%

SP: aditivo superplastificante, cujo valor se refere massa da frao slida.

Tabela 4 Composio dos concretos de alta resistncia

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Cordeiro, G. C.; Toledo Filho, R. D.; Fairbairn, E. de M. R.

(a)

(b)

Figura 2 Remetro BTRHEOM (a) e calormetro adiabtico do Laboratrio de Estruturas da COPPE/UFRJ (b)

Resultados
A substituio de parte do cimento Portland pela cinza ultrafina da casca de arroz reduz os valores de abatimento do tronco de cone em decorrncia da elevada superfcie especfica da cinza e do alto teor de carbono, como pode ser observado na Tabela 5 abatimento inicial. Com isso, fez-se necessrio emprego de teores especficos de aditivo superplastificante (vide Tabelas 3 e 4) para a manuteno dos valores de abatimento do tronco de cone na faixa estabelecida (Tabela 5 abatimento final). Aps a equiparao da consistncia, foram realizados ensaios no remetro BTRHEOM. A Tabela 5 tambm apresenta os valores de 0 e , obtidos com o modelo de Bingham, que adequado para os concretos na faixa de consistncia utilizada (CORDEIRO; TOLEDO FILHO; FAIRBAIRN, 2008; DE LARRARD, 1999). Para ambas as classes de resistncia verifica-se uma diminuio acentuada dos valores de 0, sem segregao, aps a incorporao da cinza ultrafina da casca de arroz, fenmeno que pode ser atribudo ao efeito lubrificante proporcionado pelo aditivo superplastificante. Para o parmetro , a reduo em funo da incorporao da cinza menos expressiva. Quanto ao teor de cinza ultrafina na mistura, no so verificadas grandes variaes nos valores de 0 e . importante destacar que um concreto com facilidade para o bombeamento e com consistncia satisfatria apresenta, em geral, valores de viscosidade plstica inferiores a 300 Pa.s (DE LARRARD, 1999). A substituio de cimento pela cinza ultrafina da casca de arroz proporciona incrementos nos valores de resistncia compresso do concreto de resistncia convencional, principalmente nas idades mais avanadas (Tabela 6). Os teores de substituio de cimento por cinza ultrafina de 15% e 20% apresentam os melhores resultados e so estatisticamente superiores aos demais em todas as

idades avaliadas, porm sem diferenas significativas entre si, de acordo com Anlise de Varincia e teste de Duncan (p<0,05) (GOMES, 1990). O teor de substituio de 10% apresenta comportamento intermedirio entre a mistura de referncia e as demais. As taxas de aumento da resistncia compresso no tempo, para os distintos concretos, no apresentam diferenas expressivas entre si. H de se ressaltar o valor de resistncia alcanado pelo concreto com 20% de cinza aos 180 dias (40,76 MPa), que cerca de 23% superior ao alcanado pela referncia. No caso dos concretos de alta resistncia, os valores de resistncia compresso das quatro misturas no apresentam diferenas significativas nos ensaios realizados aps 7 dias de cura. Nas demais idades avaliadas, os ganhos de resistncia so menos expressivos do que os obtidos para o concreto convencional, e a mistura com 20% de cinza ultrafina apresenta resistncia estatisticamente superior s demais. Aos 90 e 180 dias, no h diferenas entre os valores de resistncia dos concretos com 10% de cinza e de referncia (teste de Duncan, p<0,05). O mesmo ocorre para os concretos com 10% e 15% de cinza. O teste de Duncan revela, entretanto, que as misturas de referncia e com 15% de cinza ultrafina no so estatisticamente iguais. importante notar que, aps 28 dias de cura, os concretos com 20% de cinza ultrafina alcanam valores de resistncia superiores a 80% da resistncia obtida aos 180 dias. Esse fato sugere que as reaes pozolnicas da cinza ultrafina da casca de arroz utilizada neste trabalho contribuem de forma mais expressiva para a resistncia compresso dos concretos nos 28 dias iniciais de cura. Tambm oportuno destacar as similaridades entre esses resultados e os obtidos por Zhang e Malhotra (1996). Os autores atriburam o comportamento superior na compresso reduo da porosidade, da quantidade de portlandita e da espessura da zona de transio pasta/agregado.
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Influncia da substituio parcial de cimento por cinza ultrafina da casca de arroz com elevado teor de carbono nas propriedades do concreto

Concreto convencional Caracterstica Referncia 140 140 901 54 Cinza ultrafina 10% 100 150 351 64 15% 80 160 339 63 20% 50 160 436 55

Concreto de alta resistncia Referncia 130 130 693 306 Cinza ultrafina 10% 100 170 296 235 15% 60 160 304 268 20% 20 170 285 250

Abatimento inicial (mm) Abatimento final (mm) 0 (Pa) (Pa.s)

Tabela 5 Parmetros reolgicos dos concretos com cinza ultrafina da casca de arroz Resistncia compresso (MPa) Coeficiente de variao (%) Mistura Referncia Cinza ultrafina 10% 15% 20% 7 dias 17,3 (3,6) 21,7 (2,9) 24,5 (2,6) 24,2 (2,3) 53,9 (2,1) 52,5 (0,4) 52,8 (2,5) 54,5 (1,0) 28 dias 24,0 (4,7) 29,0 (3,3) 32,6 (2,7) 32,6 (2,0) 60,9 (2,8) 61,0 (2,4) 63,4 (1,3) 70,0 (0,4) 90 dias 30,9 (3,6) 35,3 (2,0) 38,6 (1,4) 38,6 (2,3) 68,7 (1,6) 70,0 (2,0) 71,5 (0,6) 74,2 (1,7) 180 dias 33,0 (3,0) 37,5 (0,8) 40,3 (4,3) 40,8 (4,8) 71,2 (0,3) 72,5 (2,6) 73,4 (1,5) 76,2 (1,2)

Concreto convencional

Concreto de alta resistncia

Referncia Cinza ultrafina 10% 15% 20%

Tabela 6 Resultados de ensaios de resistncia compresso aos 7, 28, 90 e 180 dias dos concretos com cinza ultrafina da casca de arroz com os respectivos coeficientes de variao (entre parnteses)

Com relao penetrao acelerada de ons cloreto, a cinza ultrafina da casca de arroz proporciona redues muito pronunciadas nos valores de carga eltrica total passante, tanto para os concretos convencionais quanto para os de alta resistncia, como pode ser observado na Figura 3. Para os concretos convencionais, a mistura de referncia classificada como de alta penetrao (8.451 C), enquanto os concretos com a cinza ultrafina apresentam baixa penetrao, com valores de carga eltrica inferiores a 2.000 C. O melhor comportamento verificado para o concreto com 20% de cinza, o qual apresenta carga eltrica (1.026 C), prxima ao limite entre as classes de baixa e muito baixa penetrao inica. O emprego da cinza nos concretos de alta resistncia possibilita a obteno de concretos com

muito baixa penetrao, em contraste com a mistura de referncia (baixa penetrao). A reduo dos valores de carga eltrica pode ser atribuda densificao da microestrutura dos concretos proporcionada pelas reaes pozolnicas da cinza da casca de arroz em conjunto com o efeito fler de suas partculas diminutas. Alm disso, os teores mais elevados de aditivo superplastificante, empregados nas misturas com cinza da casca de arroz, podem proporcionar um melhor adensamento aos concretos, o que poderia contribuir para o refinamento dos poros. A melhoria promovida pela cinza da casca de arroz penetrao inica acelerada observada neste trabalho similar constatada por Nehdi, Duquette e Damatty (2003).

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Cordeiro, G. C.; Toledo Filho, R. D.; Fairbairn, E. de M. R.

10000
8451

Classificao AST M Concreto convencional Concreto de alta resistncia


Alta

8000 Carga eltrica (C) 6000

4000
M o de ra da

2000 0

1863 1179 585 1305 279 1026 261 B a ixa M uito ba ixa De s pre zve

Referncia

10% 15% 20% Cinza ultrafina da casca de arroz

Figura 3 Valores de penetrao acelerada de ons dos concretos com cinza ultrafina da casca de arroz

Figura 4 Curvas de elevao adiabtica da temperatura dos concretos de referncia e com 15% da cinza ultrafina da casca de arroz

A Figura 4 mostra os resultados dos ensaios de elevao adiabtica da temperatura conduzidos nos concretos de resistncia convencional de referncia e com 15% de cinza ultrafina da casca de arroz. Normalmente, a substituio de uma parcela de cimento por aditivo mineral acarreta reduo do calor de hidratao como decorrncia da diluio do cimento Portland (CORDEIRO, TOLEDO FILHO; FAIRBAIRN, 2008; MEHTA; PIRTZ, 1978). Para a cinza ultrafina da casca de arroz investigada neste trabalho, no entanto, esse comportamento no observado. A comparao entre as curvas de elevao revela que a substituio de cimento pela cinza ultrafina no

produz modificaes quanto quantidade de calor liberado pelos concretos. A diferena entre os valores de elevao da temperatura igual a apenas 0,6 C aps 500 horas de ensaio. Os coeficientes de elevao adiabtica, iguais a 0,142 C.m3/kg e 0,141 C.m3/kg para os concretos de referncia e com 15% de cinza ultrafina da casca de arroz, respectivamente, no apresentam diferenas expressivas entre si. A elevada atividade pozolnica da cinza ultrafina, comprovada nos ensaios de pozolanicidade (Tabela 2) e de resistncia compresso dos concretos (Tabela 6), contribui para esse comportamento, uma vez que as reaes
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pozolnicas so tambm exotrmicas (WALLER, 1999).

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Concluses
De acordo com os resultados apresentados, possvel concluir que: (a) os procedimentos de moagem ultrafina adotados possibilitam a produo de cinza da casca de arroz com ndice de atividade pozolnica igual a 109% e atividade Chapelle de 736 mg/g a partir de um resduo parcialmente amorfo e com elevado teor de carbono em sua composio; (b) com a cinza ultrafina da casca de arroz possvel a produo de concretos com reduo dos parmetros reolgicos de Bingham 0 e , desde que a consistncia dos concretos seja corrigida previamente com teores especficos de aditivo superplastificante; (c) o emprego da cinza residual em substituio ao cimento Portland, at o teor de 20%, proporciona incrementos significativos nos valores de resistncia compresso, tanto para os concretos de resistncia convencional quanto para os de alta resistncia. Nesse aspecto, os concretos com 20% de cinza ultrafina apresentam os maiores valores de resistncia aps 180 dias de cura. Cabe ressaltar que os concretos com cinza apresentam maior volume de material aglomerante em comparao com as misturas de referncia; (d) com relao penetrao acelerada de ons cloreto, o uso de cinza residual ultrafina possibilita mudanas qualitativas na classificao dos concretos segundo a ASTM C 1202 (1997). O concreto convencional muda de alta para baixa penetrao de ons cloro em decorrncia do uso de cinza ultrafina, enquanto, para o concreto de alta resistncia, a mudana de baixa para muito baixa penetrao de ons cloreto; e (e) no que se refere ao ensaio de calorimetria, o emprego de 15% de cinza ultrafina no concreto convencional no proporcionou alterao na temperatura de elevao adiabtica, o que indica a elevada reatividade da cinza estudada.

Referncias bibliogrficas
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Cordeiro, G. C.; Toledo Filho, R. D.; Fairbairn, E. de M. R.

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Agradecimentos
Capes, ao CNPq e Faperj, pelo auxlio financeiro.

Influncia da substituio parcial de cimento por cinza ultrafina da casca de arroz com elevado teor de carbono nas propriedades do concreto

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