Valsa

dança de salão com tempo 3/4

Valsa (do alemão Walzer e francês Valse) é um gênero musical e dança em compasso ternário. Sua influência na história da música culta ocidental foi enorme, com a possível exceção do minueto.[1] Transplantada para as Américas foi gradualmente sendo adaptada e eventualmente nacionalizada por compositores e bailarinos locais.[2] Se tornou a dança de salão mais popular do século XIX, sendo também usada em várias operetas, ballets, óperas e música instrumental.[3]

História

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Frontispício do Manual de Dança de Wilson (1816), mostrando nove posições da valsa, em sentido relógio a partir da esquerda, incluindo a Valsa lenta francesa (Nº 2), Valsa Sauteuse (Nº 5), Valsa Jetté ou Quick Sautese (Nº 8) e um movimento da Valsa alemã (Nº 9)

Há referências a uma dança de par deslizante, que evoluiria para a valsa, que datam da Europa do século XVI. O filósofo francês Michel de Montaigne escreveu sobre uma dança que viu em 1580, em Augsburg, em que os dançarinos se abraçavam tão intimamente que os seus rostos se tocavam.[4] Por volta de 1750, as classes baixas camponesas das regiões da Baviera, Tirol e Estíria (Áustria) começaram a dançar uma dança de casais chamada Walzer. O Ländler, uma dança campestre em compasso ternário, era popular na Boémia, Áustria e Baviera, e espalhou-se do campo para os subúrbios da cidade. Enquanto as classes altas do século XVIII continuavam a dançar os minuetos (como os de Mozart, Haydn e Haendel), os nobres entediados escapavam para os bailes dos seus criados.[5] Os compositores mais famosos do gênero são os membros da família Strauss, Josef e Johann Strauss. A forma musical foi depois reinterpretada por compositores como Frédéric Chopin, Johannes Brahms e Maurice Ravel. Johann Strauss II compôs mais de duzentas valsas sendo considerado o Rei da Valsa.[5]

Escandalizando muitos quando foi introduzida pela primeira vez, a valsa tornou-se moda em Viena por volta de 1780, espalhando-se por vários países nos anos seguintes. Alguns manuais de dança, a exemplo do A Description of the Correct Method of Waltzing, de Thomas Wilson, de 1816, iniciavam o texto introdutório fazendo uma defesa e um elogio da valsa, antes de apresentar os passos e coreografias de suas variantes.[6] No fim do século XIX a dança passou a ser aceita pela alta sociedade — especialmente pela sociedade vienense.No início do século XX passa a ser um dos tipos de dança de par competitivos na dança de salão.[7]

No século XXI, além da dança de salão, as valsas são muito utilizadas em bailes de debutantes, casamentos e formaturas.[8] A celebração de apresentação das jovens de quinze anos acontece em toda a América Latina, sendo uma marca cultural nas comunidades hispânicas também nos Estados Unidos, com o nome de quinceañera. [9]

Valsa Viennese

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O musicólogo Derek Scott analisa as características musicais que aparecem com a valsa vienense, em especial seu ritmo contagiante, bem como novos timbres orquestrais introduzidos por Joseph Lanner e Johann Strauss pai e Johann Strauss filho. Estes, especialmente os últimos, criaram um estilo de música que deu um novo sentido para a música de entretenimento no contexto da produção industrial de partituras e da organização empresarial em torno da orquestra de baile ou concerto.[10] Joseph Lanner é mais lembrado como um dos primeiros compositores vienenses a transformar a valsa de uma simples dança camponesa para algo que até a mais alta sociedade poderia desfrutar, seja como acompanhamento da dança ou pela música. Ele era tão famoso quanto seu amigo e rival musical Johann Strauss I, que era mais conhecido fora da Áustria em sua época por conta de suas turnês no exterior, em particular para a França e Inglaterra.[11]

Valsa na América Latina

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A valsa e a polca são as primeiras danças não espanholas a chegar na América Latina hispânica. Ambas alcançaram grande êxito nas colônias. Tanto é assim que a valsa tomou uma forma própria em vários países, entre eles o Peru, Argentina (onde é conhecida como valsa argentina ou "litoraleña"), Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá.[12]

No Equador, a valsa europeia chega com as guerras de independência no início do século XIX, sendo adaptada por músicos locais no pasillo, um gênero musical vocal em compasso ternário e com temática amorosa.[13]

A valsa peruana, conhecida como "vals criollo" ou "valsecito" é um gênero musical originário da cidade de Lima, capital do Peru, tendo surgido nas festas de bairros populares limenhos (os Barrios Altos).[12] Passou por várias fases, incluindo o período conhecido como da guardia vieja (velha guarda), do final do século XIX até a década de 1920. Numa segunda fase, predominou uma representação poética da classe trabalhadora com compositores como Felipe Pinglo, enquanto, a partir da década de 1950, aparecem valsas cheias de nostalgia, a exemplo de "Fina estampa", de Chabuca Granda,[14] também gravada por Caetano Veloso.

Valsa no Brasil

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A valsa chegou ao Brasil com a transferência da corte portuguesa ao país, em 1808, sendo adotada, ao lado da quadrilha nos salões da sociedade urbana emergente. Ao longo da segunda metade do século XIX, a valsa, assim como a polca, continuou a ter grande aceitação como música instrumental, sendo incorporada no final do século ao repertório dos músicos de choro. Se misturando com a modinha, numa terceira fase, adentrando o século XX, a valsa "com letra" se consolida como canção amorosa.[15]

A valsa enquanto dança de salão

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A dança de salão na Inglaterra se desenvolveu no início do século XX, nos salões de baile populares à beira-mar, dando preferência a valsas mais lentas, diferentemente das danças e bailes privados ou oficiais, onde imperava a valsa Vienense, mais rápida e de difícil execução. No entanto, em meados do século, tanto o estilo de valsa mais lento, conhecido como valsa inglesa, quanto a valsa vienense – além do foxtrote, do tango de salão e Quick-step, bem como as danças latino-americanas, rumba, salsa, samba, jive, passo doble e chá-chá-chá – passaram a compor o conjunto de danças para competição internacional.[16]

A coreografia que é popularmente conhecida como valsa nessas competições é a valsa inglesa ou lenta, dançada a aproximadamente 90 pulsações por minuto com três tempos por compasso (o padrão internacional de 30 compassos por minuto ), enquanto a valsa vienense é dançada a cerca de 180 pulsações (58-60 compassos) por minuto. Até hoje, no entanto, na Alemanha, Áustria, Escandinávia e França, as palavras Walzer (alemão), vals (dinamarquês, norueguês e sueco) e valse (francês) ainda se referem implicitamente à dança original vienense e não à valsa lenta.[16]

A valsa, assim como as outras danças de salão mencionadas é avaliada segundo um padrão internacional de dança, ou seja um conjunto de níveis de dança, programas de passos e estilos de dança que fazem parte das competições internacionais de danças salão, classificadas pela entidade Conselho Mundial de Dança. O Dancesport (em português Dança Esportiva) é o termo oficial que representa a Dança de Salão como um esporte competitivo em nível amador e profissional. Este programa padrão da dança utilizado em competições internacionais é chamado de syllabus, uma sequência de passos principais e oficiais para um determinado ritmo, escolhidos por uma entidade superior, neste caso a Imperial Society Teachers of Dance (ISTD).[17][18]

Valsas (composições)

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Ver também

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Referências

  1. Lamb, Andrew (2001). «Waltz». Grove Music Online 
  2. «Orígenes del gentilicio musical en el siglo XIX en Hispanoamérica: genealogía de un proceso». Boletín Música (36): 21-50. 2014. Consultado em 5 de maio de 2024 
  3. Yaraman, Sevin (2002). Revolving embrace: the waltz as sex, steps, and sound. Col: Monographs in musicology. Hillsdale, N.Y: Pendragon Press 
  4. Nettl, Paul (1946). «Birth of the Waltz». Dance Index. 5. New York: Dance Index-Ballet Caravan, Inc. p. 208, 211 
  5. a b Wechsberg, Joseph (1973). The Waltz Emperors: The Life and Times and Music of the Strauss Family. [S.l.]: Putnam. p. 49. ISBN 978-0-399-11167-9 
  6. WILSON, Thomas (1816). A Description of the Correct Method of Waltzing: The Truly Fashionable species of Dancing. London: Sherwood, Neely, and Jones 
  7. Smith, Karen Lynn (2010). Popular dance: from ballroom to hip-hop. Col: World of dance. New York: Chelsea House Publishers 
  8. Gama, Gheysa Lemes Gonçalves (2020). «'Meus 15 Anos' e seus Significados: Rito de Passagem e Rito de Consumo em Festas de Debutantes». Universidade de Caxias do Sul. Rosa dos Ventos. 12 (3). Consultado em 9 de maio de 2024 
  9. Carranza, Mayavel Saborío (2010). «La quinceañera, un fenómeno de transculturación e interculturalidad». Decires (em espanhol) (14): 25–40. ISSN 1405-9134. doi:10.22201/cepe.14059134e.2010.12.14.207. Consultado em 27 de maio de 2024 
  10. Scott, Derek B. (2008). Sounds of the metropolis: the Nineteenth-century popular music revolution in London, New York, Paris, and Vienna. New York: Oxford University Press 
  11. Randel, Don Michael, ed. (2003). The Harvard dictionary of music 4th ed ed. Cambridge, Mass: Belknap Press of Harvard University Press 
  12. a b Yep, Virginia (1993). «El Vals Peruano». Latin American Music Review / Revista de Música Latinoamericana (2): 268–280. ISSN 0163-0350. doi:10.2307/780177. Consultado em 2 de junho de 2024 
  13. Wong, Ketty (2011). «The Song of the National Soul: Ecuadorian Pasillo in the Twentieth Century». Latin American Music Review (1): 59–87. ISSN 1536-0199. doi:10.1353/lat.2011.0001. Consultado em 27 de maio de 2024 
  14. Salazar, Rafael; León, Javier (2014). «Vals criollo (Peru)». In: Horn, David. Bloomsbury encyclopedia of popular music of the world. Vol. 9: Genres: Caribbean and Latin America / ed. by David Horn 1. publ ed. New York: Bloomsbury. pp. 899–901 
  15. Severiano, Jairo (2013). Uma história da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34. p. 23-24; 53. ISBN 9788573263961 
  16. a b French, Hilary (2022). Ballroom: a people's history of dancing. London: Reaktion Books 
  17. MOORE, Alex (2021). Ballroom Technique. ASSIN: B000PH46KI. [S.l.]: Routledge. ISBN 9780367545338. OCLC 1289243761. Resumo divulgativoWorldcat 
  18. Capela, João (26 de outubro de 2012). «Syllabus da Valsa Inglesa Internacional - Passos da Valsa Inglesa». Academia João Capela - Escola de Dança em Barcelos. Consultado em 22 de dezembro de 2022