Janismo
Janismo foi um comportamento político e ideologia frequentemente atribuído a Jânio Quadros,[1] o 22.º presidente do Brasil. Consistia de um populismo conservador que visava mobilizar a classe baixa, sobretudo composta pelo operariado, contra a elite política.
Antecedentes
editarDurante o mandato do ex-presidente Juscelino Kubitschek, o governo brasileiro adotou uma política desenvolvimentista. Construiu a cidade de Brasília sob a promessa de desenvolvimento da indústria nacional em 5 anos.[2]
Princípios
editarO janismo é definido pelas promessas de campanha eleitoral e ações do governo sob a presidência de Jânio Quadros. O principal objetivo da ideologia é combater a corrupção.[3] Caracteriza-se como populismo que contrata com o getulismo e o peronismo. A diferença entre o janismo e o getulismo estava na forma como suas políticas visavam a classe baixa. Enquanto Getúlio Vargas apelava para a classe trabalhadora com promessas de melhores condições de vida e trabalho,[4] Jânio apelava para a mesma classe com promessas de levar à justiça funcionários corruptos do governo.[5] Características do janismo incluem:
- Anticorrupção: Jânio divulgou propaganda anticorrupção ao longo de sua campanha eleitoral, por vezes de forma lúdica, usando uma vassoura para indicar que iria "varrer os ratos, ricos e reacionários";[6]
- Não alinhamento: Jânio recusou-se a seguir os pontos de vista de sua coligação, mantendo relações com os países do Bloco de Leste e chegando a condecorar o revolucionário cubano Che Guevara e o cosmonauta soviético Iuri Gagarin,[7][8] apesar da ideologia conservadora de seu partido, PTN. Ele também nomeou ministros rivais de sua base política no Congresso Nacional;
- Política apartidária:[9] Jânio nunca se comprometeu com nenhum partido, mas "só com as massas", em quem queria ter confiança na sua liderança. Segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, Jânio deixou claro que estava acima de todos os partidos e políticos tradicionais.[10]
- Antiparlamentarismo: Depois de perder o apoio do Congresso brasileiro, Jânio escreveu uma carta ao público declarando que o parlamento era dominado por elites políticas que tentavam boicotar seu governo.[11] Jânio esperava governar acima da vontade do Legislativo por meio do apoio popular;
- Moralismo: Socialmente conservador, Jânio chegou a proibir o uso de biquini nas praias, lança-perfume em bailes e até rinhas de galo.[8]
Movimento Jan-Jan
editarDurante a eleição presidencial de 1960, insatisfeitos com a candidatura de Henrique Teixeira Lott (apoiado pelo PTB), os sindicalistas apoiaram a candidatura de Jânio Quadros à presidência e de João Goulart (Jango), seu rival, à vice-presidência.[12] Essa coalizão não formal foi chamada de "Movimento Jan-Jan". Pela primeira vez em décadas, foi eleito um vice-presidente que concorreu na oposição (Goulart era aliado do principal rival de Jânio, Kubitschek). Apesar da divergência entre os dirigentes, Jânio era o candidato preferido da classe trabalhadora.
Legado
editarEntre o fim do século XX e meados século XXI, alguns políticos, como Levy Fidelix e Fernando Chiarelli, fizeram do ataque à corrupção do Estado brasileiro à maneira do janismo suas plataformas de campanha.[13][14] Em 1994, o MTR, criado por Fernando Ferrari e ligado à candidatura de Jânio ao governo paulista,[15] ressurgiu como PRTB, fundado por Fidelix e que anos depois viu a filiação de Pablo Marçal. Outro partido ligado ao janismo é o Partido Trabalhista Nacional (atualmente chamado Podemos), que surgiu em 1997 buscando refundar o PTN de Jânio.
Referências
- ↑ «Janismo». Dicio, Dicionário Online de Português
- ↑ «50 anos em 5: entenda o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek». altoastral.com.br. 22 de agosto de 2016
- ↑ «Corrupção: a vassourinha de Jânio Quadros». historiahoje.com. 18 de outubro de 2014
- ↑ Viviane Tavares (24 de maio de 2013). «Consolidação das Leis Trabalhistas, criada por Vargas, completa 70 anos». agencia.fiocruz.br. Consultado em 8 de outubro de 2024
- ↑ «"Vem aí outro Jânio Quadros?". Até parece, mas capitão Bolsonaro é coisa muito pior - Ricardo Kotscho». 18 de maio de 2019
- ↑ «Brasileiros Ilustres - Jânio Quadros». Academus. Consultado em 8 de outubro de 2024
- ↑ «JANIO CONDECORA GUEVARA». almanaque.folha.uol.com.br. 20 de agosto de 1961. Consultado em 8 de outubro de 2024
- ↑ a b Nogueira, André (22 de outubro de 2021). «Jânio Quadros: As bizarras proibições do 22º presidente da República». Aventuras na História. Consultado em 10 de outubro de 2024
- ↑ «Governo Jânio Quadros». escolakids
- ↑ SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, pp. 429–430
- ↑ «Renúncia do Presidente Jânio Quadros - Que Dia é Hoje?». Educa
- ↑ «A ascensão de Jânio Quadros». jornalggn.com.br. 30 de dezembro de 2013
- ↑ «Levy Fidelix troca aerotrem por corrupção». O Antagonista. 14 de fevereiro de 2018
- ↑ «Trajetória de ex-deputado é marcada por insultos, ações judiciais e referências a Jânio Quadros - 20/04/2011 - UOL Notícias». noticias.uol.com.br
- ↑ «Jânio Quadros». cpdoc.fgv.br. Consultado em 8 de outubro de 2024