Hiperfoco
Hiperfoco é uma forma intensa de concentração mental que foca a consciência em um assunto, tópico ou tarefa. Em alguns indivíduos, assuntos ou tópicos também podem incluir devaneios, conceitos, ficção, imaginação e outros objetos da mente. O hiperfoco em um determinado assunto pode causar desvios de tarefas atribuídas ou importantes.
Do ponto de vista psiquiátrico, o hiperfoco é considerado um traço do TDAH em conjunto com a desatenção, e tem sido proposto como um traço de outras condições, como esquizofrenia e transtorno do espectro autista (TEA).[1][2]
O hiperfoco pode ter uma relação com o conceito de fluxo.[2] Em algumas circunstâncias, tanto o fluxo quanto o hiperfoco podem ser beneficiais para sucessos, mas em outras circunstâncias, o mesmo foco e comportamento podem ser uma desvantagem, distraindo da tarefa em mãos. No entanto, ao contrário do hiperfoco, o fluxo é frequentemente descrito em termos mais positivos, sugerindo que não são dois lados da mesma condição sob circunstâncias ou intelecto contrastantes.[3]
Sintoma psiquiátrico
editarO hiperfoco pode, em alguns casos, também ser sintomático de uma condição psiquiátrica. Em alguns casos, é referido como perseveração[2] — uma incapacidade ou deficiência em alternar tarefas ou atividades (“Troca de Tarefas”),[4] ou parar de repetir respostas mentais ou físicas (gestos, palavras, pensamentos) apesar da ausência ou termino de um estímulo.[5][6][7][8] Distingue-se da estereotipia (um comportamento idiossincrático altamente repetitivo).[1]
As condições associadas ao hiperfoco ou perseveração incluem transtornos do neurodesenvolvimento, particularmente as que compõem o espectro autista e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). No TDAH, pode ser um mecanismo de enfrentamento ou um sintoma de autorregulação emocional. As pessoas chamadas “duas vezes excepcionais”, com alto intelecto e dificuldades de aprendizagem, podem ter um ou ambos dos comportamentos de hiperfoco e perseveração.[2][1] Essas condições são muitas vezes imitadas por condições semelhantes envolvendo disfunção executiva ou desregulação emocional, e a falta de diagnóstico e tratamento pode levar a mais comorbidades.[1]
TDAH
editarNo TDAH, pensamentos podem ser mais lentos do que em pessoas neurotípicas (embora isso não seja universal) e podem ser "longos ou tangenciais".[1][9] Esses sintomas de desatenção ocorrem em conjunto com o que foi chamado de "hiperfoco" pela Declaração de Consenso Europeu de 2019 sobre TDAH em adultos. A concentração excessiva ou hiperfoco geralmente ocorre se a pessoa achar algo "muito interessante e/ou fornecer gratificação instantânea, como jogos de computador ou bate-papo online. Para tais atividades, a concentração pode durar horas a fio, de forma muito focada."[1]
O TDAH é uma dificuldade em direcionar a atenção (uma função executiva do lobo frontal), não uma falta de atenção.
Condições improváveis de serem confundidas com hiperfoco geralmente envolvem repetição de pensamentos ou comportamentos, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático[10] e alguns casos de lesão cerebral traumática.[4]
Autismo
editarDois principais sintomas do transtorno do espectro autista (TEA) incluem sons ou movimentos repetitivos e fixação em várias coisas, incluindo tópicos e atividades.[11] O hiperfoco no contexto do TEA também tem sido referido como a incapacidade de redirecionar pensamentos ou tarefas à medida que a situação muda (flexibilidade cognitiva).[12]
Uma explicação sugerida para o hiperfoco em pessoas com TEA é que a atividade em que eles estão hiperfocados é previsível. A aversão a situações imprevisíveis é uma característica do TEA,[13] portanto, enquanto focam em algo previsível, eles terão dificuldade em mudar para uma tarefa imprevisível.[11]
Esquizofrenia
editarA esquizofrenia é uma condição mental caracterizada por uma desconexão da realidade, incluindo delírios grandiosos, pensamento desorganizado e comportamento social anormal.[14] Recentemente, o hiperfoco chamou a atenção como parte dos sintomas cognitivos associados a esse transtorno. Nesse caso, o hiperfoco é um foco intenso no processamento da informação disposta à sua frente. Essa hipótese sugere que o hiperfoco é a razão pela qual aqueles que sofrem de esquizofrenia têm dificuldade em espalhar sua atenção por várias coisas.[15]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c d e f Kooij, J. J. S.; Bijlenga, D.; Salerno, L.; Jaeschke, R.; Bitter, I.; Balázs, J.; Thome, J.; Dom, G.; Kasper, S. (1 de fevereiro de 2019). «Updated European Consensus Statement on diagnosis and treatment of adult ADHD». European Psychiatry. 56: 14–34. ISSN 0924-9338. PMID 30453134. doi:10.1016/j.eurpsy.2018.11.001
- ↑ a b c d Webb, James T.; Amend, Edward R.; Webb, Nadia E.; Goerss, Jean; Beljan, Paul; Olenchak, F. Richard (2005), Misdiagnosis and Dual Diagnoses of Gifted Children and Adults: ADHD, Bipolar, OCD, Asperger's, Depression, and Other Disorders, ISBN 9780910707640, Scottsdale, AZ: Great Potential Press, Inc., pp. 50–51,
…there are no empirical data that support hyperfocus as an aspect of ADD/ADHD. In gifted children without ADD/ADHD, this rapt and productive attention state is described by Csikszentmihalyi (1990) as ‘flow.’ … What has been coined ‘hyperfocus’ in persons with ADD/ADHD seems to be a less medical-sounding description of perseveration. Thus the apparent ability to concentrate in certain limited situations does not exclude the diagnosis of ADD/ADHD.
- ↑ White, Holly A.; Shah, Priti (1 de abril de 2006). «Uninhibited imaginations: Creativity in adults with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder». Personality and Individual Differences. 40 (6): 1121–1131. ISSN 0191-8869. doi:10.1016/j.paid.2005.11.007
- ↑ a b «Psychiatric Glossary of Terms in Psychiatry». priory.com. Consultado em 1 de setembro de 2022
- ↑ Winn, Philip, ed. (2001), «Perseveration», Dictionary of Biological Psychology, ISBN 9780415136068, Taylor & Francis, p. 595
- ↑ Helm-Estabrooks N (2004). «The problem of perseveration». Semin Speech Lang. 25 (4): 289–90. PMID 15599818. doi:10.1055/s-2004-837241
- ↑ Grinnell, Renée (2008). «Perseveration». Psych Central
- ↑ Dictionary.com definition
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Leitura adicional
editar- Hartmann, T. (1998). Healing ADD: Simple Exercises That Will Change Your Daily Life 1st ed. [S.l.]: Underwood-Miller. ISBN 1-887424-37-7. (pede registo (ajuda))
- Hartmann, T. (1997). Attention Deficit Disorder: A Different Perception 2nd ed. [S.l.]: Underwood. ISBN 978-1887424141
- Goldstein, S.; Barkley, R. A. (1998). «ADHD, hunting and evolution: "Just So" stories (commentary)». ADHD Report. 6 (5): 1–4
- Jensen, P. S.; Mrazek, D.; Knapp, P. K.; Steinberg, L.; Pfeffer, C.; Schowalter, J.; Shapiro, T. (1997). «Evolution and Revolution in Child Psychiatry: ADHD as a Disorder of Adaptation» (PDF). Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. 36 (12): 1672–1681. PMID 9401328. doi:10.1097/00004583-199712000-00015 [ligação inativa]
- Shelley-Tremblay, J. F.; Rosén, L. A. (1996). «Attention Deficit Hyperactivity Disorder: An Evolutionary Perspective». The Journal of Genetic Psychology. 157 (4): 443–453. PMID 8955426. doi:10.1080/00221325.1996.9914877
- Funk, J. B.; Chessare, J. B.; Weaver, M. T.; Exley, A. R. (1993). «Attention deficit hyperactivity disorder, creativity, and the effects of methylphenidate». Pediatrics. 91 (4): 816–819. PMID 8464673. doi:10.1542/peds.91.4.816
- Flippin, R. (2008). «ADHD Symptom: Hyperfocus». ADDitude magazine