Arbutus
Arbutus, também conhecido como árbuto,[3] (Arbutus L.) é um género de plantas com flor pertencente à subfamília Arbutoideae da família das Ericaceae.[4] O género inclui 12 espécies de pequenas árvores e arbustos,[5] entre as quais o conhecido medronheiro.[6][7] O género tem distribuição natural nas regiões temperadas quentes do Mediterrâneo, Europa Ocidental (incluindo as Canárias) e América do Norte,[8] mas várias espécies são amplamente cultivadas como plantas ornamentais fora do seu habitat natural.[9]
Arbutus | |||||||||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||||||||
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Espécie-tipo | |||||||||||||||||||||
Arbutus unedo L. 1753 | |||||||||||||||||||||
Espécies | |||||||||||||||||||||
Descrição
editar- Morfologia
As espécies do género Arbutus são pequenas árvores ou arbustos, com a casca caindo em grandes flocos, permanecendo apenas nas partes velhas dos troncos.[9][10] Muitas das espécies ocorrem em ecossistemas sujeitos a fogos florestais pelo que desenvolveram mecanismos de regeneração pós-incêndio. Um dos mais notáveis é a presença de um lignotúber situada perto do nível do solo, que fornece armazenamento de energia resistente ao fogo e gemas que brotam se o dano provocado pelo fogo exigir a substituição do tronco ou dos ramos.
As folhas apresentam filotaxia alternada, são perenes, pecioladas, coriáceas, com nervação eucamptódroma e margens inteiras ou finamente serrilhadas.[9]
As flores ocorrem em inflorescências terminais em racemos agrupados. As brácteas florais endurecem precocemente; os pedicelos são contínuos com o cálice; bractéolas 2, basais. A flores são pentâmeras, inodoras, com estivação imbricadas; lobos de cálice livres; corola urceolada, constringindo para o meio e inflando simultaneamente; estames 10, iguais; filamentos distintos, iguais, expandidos abaixo para uma base felpuda inchada, o conectivo às vezes prolongado para uma asa membranácea sagitada estendendo-se acima do ápice da antera; anteras esporadas, o ápice deiscente por poros elípticos subterminais, com tecido em desintegração; pólen sem fio de viscina; ovário superior.[9]
Os frutos são bagas comestíveis por humanos, vermelhas quando maduras, áspero-tuberculadas, glabras ou pilosas; as sementes são castanhas, parcialmente embebidas numa placenta carnosa.[9] O desenvolvimento dos frutos é retardado por cerca de cinco meses após a polinização, de modo que as flores aparecem enquanto os frutos do ano anterior ainda estão amadurecendo.[11]
- Ecologia
Os membros do género Arbutus são usados alimento de algumas espécies de lepidópteros, incluindo as espécies Pavonia pavonia, a borboleta-imperador, e Eucheira socialis, conhecida pelos norte-americanos como «madrone butterfly».[12] A distribuição desta última espécie é fortemente condicionada pela distribuição de Arbutus.[12]
Sistemática
editarO género foi descrito por Carolus Linnaeus e publicado em Species Plantarum 1: 395. 1753.[9] Algumas espécies dos géneros Epigaea, Arctostaphylos e Gaultheria estiveram anteriormente classificadas no género Arbutus.[13] O nome genérico Arbutus foi derivado do nome latino do medronheiro, espécie agora referida pelo binome Arbutus unedo.[14]
Um estudo publicado em 2012 analisou o DNA ribossómico de Arbutus e seus géneros relacionados apresenta resultados que sugerem que o género Arbutus é parafilético e que as espécies da Bacia do Mediterrâneo estão mais intimamente relacionados com Arctostaphylos, Arctous, Comarostaphylis, Ornithostaphylos e Xylococcus do que com as espécies norte-americanas ocidentais de Arbutus. Esse mesmo estudo indica que a separação entre os dois grupos de espécies (o afro-euroasiático e o norte-americano) ocorreu na fronteira entre o Paleogeno e o Neogeno.[15]
Na sua presente circunscrição taxonómica o género Arbutus inclui as seguintes espécies:[16][7][5]
- Afro-Eurásia
- Arbutus andrachne L. — sueste da Europa e sudoeste da Ásia;
- Arbutus canariensis (Duhamel) Veill. — endemismo das Ilhas Canárias;
- Arbutus pavarii Pampan. — Líbia;
- Arbutus unedo L. — difundido por toda a bacia do Mediterrâneo, incluindo as ilhas Baleares, a Sicília, o oeste de França e oeste da Irlanda, bem como as regiões da costa ocidental europeia, para sul, até ao Algarve em Portugal. A espécie é também nativa na Ucrânia e nas Canárias;[17][18]
- Arbutus × andrachnoides (sin.: A. × hybrida e A. andrachne × unedo) — as espécies A. unedo e A. andrachne hibridizam naturalmente onde as suas áreas de distribuição coincidem; o híbrido, designado por Arbutus × andrachnoides, herda características de ambas as espécies de origem, mas os frutos não conseguem desenvolver-se bem e, como híbrido, é improvável que se reproduza por sementes.
- América do Norte
- Arbutus arizonica (A.Gray) Sarg. — Novo México, Arizona e México oriental, estendendo-se para sul até Jalisco;
- Arbutus bicolor S. González, M. González et P. D. Sørensen — Mexico;
- Arbutus madrensis M. González — oeste do México;
- Arbutus menziesii Pursh — costa ocidental da América do Norte desde o sul da Columbia Britânica ao centro da Califórnia, nas encostas ocidentais da Sierra Nevada e das montanhas da cadeia costeira do Pacífico (Pacific Coast Range);
- Arbutus mollis Kunth — México;
- Arbutus occidentalis McVaugh & Rosatti — oeste do México;
- Arbutus tessellata P.D.Sørensen — México;[19]
- Arbutus xalapensis Kunth (sin. A. texana, A. peninsularis e A. glandulosa) — Texas, Novo México e nordeste do México.[18]
- Híbridos
- Arbutus × andrachnoides Link (A. andrachne × A. unedo):[18] this hybrid has gained teste híbrido ganhou o Award of Garden Merit da Royal Horticultural Society;[20]
- Arbutus × androsterilis M.Salas & al. (A. canariensis × A. unedo) nas ilhas Canárias;[21]
- Arbutus × thuretiana Demoly (A. andrachne × A. canariensis)
- Arbutus × reyorum [ (A. andrachne × A. canariensis) × A. unedo ]
- Espécies anteriormente integradas no género
- Arctostaphylos tomentosa (Pursh) Lindl. (como A. tomentosa Pursh)
- Arctostaphylos uva-ursi (L.) Spreng. (como A. uva-ursi L.)
- Comarostaphylis discolor (Hook.) Diggs (como A. discolor Hook.)
- Gaultheria phillyreifolia (Pers.) Sleumer (como A. phillyreifolia Pers.)[18]
Etnobotânica
editarA madeira macia do medronheiro é mencionada por Teofrasto na sua Historia Plantarum como sendo em tempos antigos usada para fazer fusos para fiar. Para Ateneu, no Dipnosofistas, o medronheiro é a árvores referida por Asclepíades de Mirlea.[22]
Uma descrição do cultivo dos medronheiros no Alandalus está incluído na obra sobre agricultura (Kitāb al-Filaḥa) escrita no século XII pelo agrónomo ibne Alauame.[23]
Alguns membros do género, com destaque para Arbutus unedo, são conhecidos pelo nome comum de «medronheiro». Em espanhol estas espécies são designadas por «madroño», o que deu origem aos vocábulos madrones ou madronas pelos quais as espécies deste género são conhecidas nos Estados Unidos.[24][25]
A espécie mais conhecida na América do Norte é Arbutus menziesii (o Pacific madrone), nativa das regiões Noroeste do Pacífico e Norte e Centro da Califórnia. É a única árvore perene de folhas largas nativa do Canadá.
Algumas espécies dos géneros Epigaea, Arctostaphylos e Gaultheria foram anteriormente classificadas em Arbutus. Como resultado da sua classificação anterior, Epigaea repens tem o nome comum alternativo de trailing-madrone
- Usos e simbolismo
Várias espécies são amplamente cultivadas como plantas ornamentais fora de suas áreas naturais, embora o cultivo seja frequentemente difícil devido à sua intolerância ao distúrbio radicular. O híbrido 'Marina' é muito adaptável e prospera em condições de jardim.
O medronheiro (Arbutus unedo) faz parte da heráldica da cidade de Madrid (El oso y el madroño, o urso e o medronheiro). Uma estátua de um urso comendo o fruto de um medronheiro está instalada no centro da cidade (na Puerta del Sol). A imagem aparece nos brasões de cidades, táxis, tampas de bueiros e outras infraestruturas da cidade.
As espécies do género Arbutus eram importantes para o povo Salish que habitava a região costeira em torno do estreito da ilha de Vancouver, que usava casca e folhas daquelas plantas para criar remédios para resfriados, problemas estomacais e tuberculose, e como base para contraceptivos. Aquelas árvores também figuram nos mitos dos Salish.[26][27]
Os frutos das espécies deste género, com destaque para Arbutus unedo, são comestíveis, mas tem sabor mínimo e não são amplamente consumidos. No sul de Portugal, o fruto de A. unedo é destilado numa aguardente potente conhecida como medronho. Em Madrid, o fruto de A. unedo é destilada em madroño, um licor doce e frutado. Na Grécia a aguardente é produzida com a designação de koumaro, proveniente dos frutos do arbusto designado por koumaria (medronheiro), e está documentada desde tempo bizantinos. Na ilha da Sardenha também se produz aguardente de medronho, chamada corbezzolo (o nome da planta em italiano), mas o mais tradicional são os licores, compotas e rebuçados de medronho.
As espécies de Arbutus são boas para lenha, pois a sua madeira queima a elevada temperatura e por muito tempo. No Pacífico Noroeste a madeira de A. menziesii foi muito utilizada como fonte de calor, já que a madeira não tem valor na indústria madeireira, uma vez que não cresce em madeiras direitas.
My love's an arbutus (O meu amor é um arbutus) é o título de um poema do escritor irlandês Alfred Perceval Graves (1846–1931), musicado pelo seu compatriota Charles Villiers Stanford (1852–1924).
A compositora, cantora e pintora canadiana Joni Mitchell (nascida em 1943), inclui uma referência ao farfalhar do arbutus na sua canção For The Roses, que, segunda ela, pareciam aplausos.
Classificação lineana do género
editarSistema | Classificação | Referência |
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Linné | Classe Decandria, ordem Monogynia | Species plantarum (1753) |
Ver também
editar- Myrica rubra, uma planta de um género diferente, mas com um fruto semelhante ao medronho, cujo nome às vezes é traduzido incorretamente do chinês como Arbutus.
Referências
editar- ↑ [1] y Gen. Plant., ed. 5, nº 488, p. 187, 1754[2].
- ↑ «Genus: Arbutus L.». Germplasm Resources Information Network. United States Department of Agriculture. 4 de junho de 2003. Consultado em 17 de abril de 2012
- ↑ «árbuto | Infopédia»
- ↑ «The plant list, Arbutus». Royal Botanic Garden, Kew
- ↑ a b Act. Bot. Mex no.99 Pátzcuaro abr. 2012. Arbutus bicolor
- ↑ Silva, J. (2007). Floresta e sociedade - uma história em comum, in Público.
- ↑ a b Arbutus em The Plant List
- ↑ Stuart, John D.; Sawyer, John O. (2001). Trees and Shrubs of California. [S.l.]: University of California Press. p. 150. ISBN 978-0-520-22110-9
- ↑ a b c d e f «Arbutus». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden (em inglês). Consultado em 10 de março de 2023
- ↑ Mabberley, D. J. 1997. The plant book: A portable dictionary of the vascular plants. Cambridge University Press, Cambridge.
- ↑ «Arbutus – iNaturalist». Consultado em 9 de novembro de 2017
- ↑ a b P. G., Kevan; R. A., Bye (1991). «natural history, sociobiology, and ethnobiology of Eucheira socialis Westwood (Lepidoptera: Pieridae), a unique and little-known butterfly from Mexico». Entomologist (em inglês). ISSN 0013-8878
- ↑ Hileman, Lena C.; Vasey, Michael C.; Thomas Parker, V. (2001). «Phylogeny and Biogeography of the Arbutoideae (Ericaceae): Implications for the Madrean-Tethyan Hypothesis». Systematic Botany. 26 (1): 131–143. JSTOR 2666660. doi:10.1043/0363-6445-26.1.131 (inativo 31 dezembro 2022).
- ↑ Quattrocchi, Umberto (2000). CRC World Dictionary of Plant Names. I: A–C. [S.l.]: CRC Press. p. 182. ISBN 978-0-8493-2675-2
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- ↑ Lista completa.
- ↑ Arbutus unedo en The Euro+Medit PlantBase
- ↑ a b c d «GRIN Species Records of Arbutus». Germplasm Resources Information Network. United States Department of Agriculture. Consultado em 17 de abril de 2012
- ↑ Paul D. Sørensen 1987. Arbutus tessellata (Ericaceae), new from Mexico, Brittonia, 39(2):263–267.
- ↑ «RHS Plantfinder – Arbutus × andrachnoides». Royal Horticultural Society. Consultado em 12 de janeiro de 2018
- ↑ Pascual, M. Salas; Acebes Ginovés, J. R.; Del Arco Aguilar, M. (1993). «RHS Plantfinder - Arbutus × androsterilis, a New Interspecific Hybrid between A. canariensis and A. unedo from the Canary Islands». Royal Horticultural Society. Taxon. 42 (4): 789–792. JSTOR 1223264. doi:10.2307/1223264
- ↑ Dipnosofistas, II.35.
- ↑ ibne Alauame, Iáia (1864). Le livre de l'agriculture d'Ibn-al-Awam (kitab-al-felahah) (em francês). Traduzido por J.-J. Clement-Mullet. Paris: A. Franck. pp. 233–234 (ch. 7 – Article 8). OCLC 780050566 (pp. 233–234 (Article VIII)
- ↑ Pojar, Jim; Andy MacKinnon (1994). Plants of Coastal British Columbia. Vancouver: Lone Pine Publishing. 49 páginas. ISBN 978-1-55105-042-3
- ↑ Francis, Daniel (2000). The Encyclopedia of British Columbia 2nd ed. Madeira Park, BC: Harbour Publishing. 20 páginas. ISBN 978-1-55017-200-3
- ↑ Pojar and MacKinnon, 49
- ↑ Plants of the Pacific Northwest Coast: Washington, Oregon, British Columbia & Alaska, Paul Alaback, ISBN 978-1-55105-530-5
Bibliografia
editar- Davidse, G., M. Sousa Sánchez, S. Knapp & F. Chiang Cabrera. 2009. Cucurbitaceae a Polemoniaceae. 4(1): i–xvi, 1–855. In G. Davidse, M. Sousa Sánchez, S. Knapp & F. Chiang Cabrera (eds.) Fl. Mesoamer.. Universidad Nacional Autónoma de México, México.
- Sørensen, P. D. 1995. 12. Arbutus Linnaeus. Fl. Neotrop. 66: 194–221.
- Stevens, W. D., C. Ulloa Ulloa, A. Pool & O. M. Montiel Jarquín. 2001. Flora de Nicaragua. Monogr. Syst. Bot. Missouri Bot. Gard. 85: i–xlii,.
Galeria
editar-
Tronco de Arbutus menziesii.
-
o híbrido Arbutus × andrachnoides.
-
O híbrido Arbutus × thuretiana.
Ligações externas
editar- El género Arbutus en Árboles Ibéricos
- (em alemão) PPP-Index
- (em inglês) USDA Plants Database
- (em inglês) Referência ITIS: Arbutus
- (em inglês) Referência NCBI Taxonomy: Arbutus
- (em inglês) Referência GRIN gênero Arbutus[ligação inativa]