O retorno da borboleta ribeirinha à região de Brumadinho

Espécie rara está ameaçada de extinção e foi reencontrada por biólogos que trabalham no monitoramento da biodiversidade em regiões próximas às afetadas pelo rompimento da barragem da Vale 

Há mais de 10 anos, a borboleta ribeirinha (Parides burchellanus) não era vista na região de Brumadinho. Preta e com pontos cor de rosa nas asas e no corpo, a borboleta foi reencontrada por biólogos nas áreas próximas às afetadas pelo rompimento da barragem da Vale. A espécie vive em populações extremamente pequenas, em áreas de dossel fechado de mata ciliar – às margens de rios e ribeirões – e está ameaçada de extinção em razão da destruição desses espaços. Encontrada somente no Brasil, existem registros de populações da borboleta em apenas três localidades: em Planaltina, no Distrito Federal; na Serra da Canastra, em Minas Gerais e em Brumadinho. 

Desde 2020 biólogos têm realizado o monitoramento da biodiversidade na região de Brumadinho, estudando áreas afetadas em maior ou menor intensidade para verificar se diferentes espécies indicadoras de plantas e animais terrestres e aquáticos foram impactadas, e se, neste caso, estão se recuperando, em comparação com áreas de referência. “As borboletas são animais que chamamos de bioindicadores. São organismos cuja presença indica uma característica ambiental ou cuja ausência também indica uma caraterística”, explica a bióloga e especialista em borboletas da UFMG Dra. Marina Beirão. Segundo ela, a presença da borboleta ribeirinha pode indicar que a mata ciliar está estruturada e as águas não estão poluídas. 

Marina faz parte da equipe que percorreu mais de 100km de área em busca dessa e de outras espécies de borboletas. Foram três meses de procura em cinco pontos de interesse ao redor de três ribeirões próximos à área de rompimento da barragem da Vale. “O monitoramento dessa borboleta auxilia tanto na ampliação do conhecimento científico como para avaliar a viabilidade dessas populações nas áreas adjacentes. As informações dos monitoramentos dessas populações nas áreas adjacentes servem como fonte de informação para auxiliar no processo de recuperação da área que foi impactada,” explica a Dra. Cristiane Cäsar, analista ambiental da Vale.  

As borboletas têm um papel extremamente importante para a manutenção das matas nativas e para a ampliação da diversidade de plantas e animais. “A maioria das plantas precisa de polinizadores como borboletas, abelhas, algumas espécies de aves e mamíferos para que elas possam se reproduzir, gerar frutos e sementes. Então a presença dessas borboletas e de outras espécies pode indicar uma ampliação na diversidade de plantas e de outros grupos animais que aí participam dessa interação no ambiente. Quando a gente encontra essa espécie nas áreas do entorno, isso serve como um indicativo ambiental do que deve ser feito na área impactada para que o ambiente esteja propício ao retorno desses animais após a sua recuperação”, conta Cristiane. 

Ao longo do tempo, espera-se uma recolonização, por meio da dispersão de indivíduos provenientes das áreas adjacentes em monitoramento, para as áreas recuperadas. Conscientizar a população também é um passo importante da preservação de todas as espécies presentes. “O interesse é o que motiva a maior parte dos trabalhos ambientais. Procure, tire foto das espécies. Isso estimula o interesse”, afirma Marina. 

De maneira permanente, diversos especialistas estudam mais de 50 pontos às margens do Rio Paraopeba para avaliar a biodiversidade aquática e terrestre em áreas impactadas ou não pelo rompimento da barragem. Lagoas e afluentes do rio também são avaliados, para entender o real impacto do rompimento sobre a biodiversidade. Nas águas, são monitoradas espécies de peixes, insetos aquáticos e plâncton. Em terra, os especialistas observam plantas, mamíferos, aves, répteis, anfíbios e insetos. A recuperação do ambiente impactado para promover a diversidade e manutenção de plantas e animais é um dos compromissos de reparação da Vale.