Como promover um ambiente de trabalho mais saudável para as pessoas LGBT+

Na semana do Dia Internacional do Orgulho LGBT+, 28 de junho, trazemos uma perspectiva profissional sobre a importância de um ambiente de trabalho inclusivo. A psicóloga do Zenklub, Camila Blanco Moretti, oferece orientações valiosas para tornar o ambiente de trabalho mais acolhedor e saudável.

Analisando nossa base de dados anônimos em 12.697 sessões de janeiro de 2023 a maio de 2024, voltadas exclusivamente ao público LGBTQIA+, identificamos os motivos mais frequentes que levam essas pessoas à terapia: questões de identidade de gênero (4%), relacionamentos ou conflitos amorosos (8%), autoconhecimento (15%) e, principalmente, ansiedade (16%).

Desafios enfrentados pela comunidade LGBT+

Os desafios, principalmente de saúde mental, enfrentados pela comunidade LGBT+, inclusive no trabalho, são significativos e frequentemente se manifestam como a ansiedade. Camila explica que esses desafios estão enraizados na estrutura predominante da sociedade e consequentemente nas organizações.

"As pessoas LGBT+ em organizações são minoria, o que significa que a maioria atende à norma heteronormativa e homogênea, dificultando a inclusão."

Essa falta de acolhimento impõe restrições ao próprio comportamento e até na forma de se expressar. Enquanto a necessidade de manter o emprego leva a uma vigilância constante sobre as próprias atitudes gerando mais sofrimento emocional.

"A inserção dessa população muitas vezes chega com restrições nos modos de agir, se vestir, se enfeitar, permitindo a expressão de identidades diversas."

Impacto da discriminação e preconceito

A discriminação e o preconceito, inclusive  no trabalho, têm um impacto profundo na saúde mental das pessoas LGBT+. Moretti aponta que não existe saúde mental com desigualdade, seja ela de classe, gênero ou raça.

"Locais com desigualdades marcadas promovem sofrimento intenso. Por exemplo, uma mulher lésbica que usa vestimentas masculinas pode ouvir: 'Tudo bem ser lésbica, mas poderia se vestir/comportar como mulher.'"

Quanto mais uma pessoa se distancia da norma heteronormativa e branca, mais preconceito enfrenta. Em sua larga experiência, Moretti vê, por exemplo, diferença na chegada numa empresa de um homem gay em comparação com uma mulher trans ou travesti preta.

Portanto, refletir sobre a diversidade dentro das organizações é crucial: quem está sendo contratado e quais cargos estão ocupando? A diversidade está presente em todos os setores e hierarquias?

Ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor

Para criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor, os gestores precisam adotar estratégias abrangentes e contínuas. Camila recomenda a promoção de educação constante, reflexão crítica e conscientização sobre as leis.

"É fundamental estabelecer canais de acolhimento e denúncia. Para promover transformação, é preciso conscientizar todos sobre os direitos humanos. Isso deve ser uma luta coletiva."

A transformação dos espaços de trabalho é um processo contínuo. Tudo muda e se transforma no mundo o tempo todo; é preciso se transformar também. Isso inclui contratar profissionais LGBTQIAPN+ para diversas áreas.

"Se não encontrá-los, é essencial promover programas internos de capacitação, desenvolvimento e carreira. Elas não podem estar apenas nos grupos de diversidade ou disponíveis para fotos em datas comemorativas."

Implementar essas estratégias de forma eficaz envolve:

• Educação e treinamento: Workshops e treinamentos regulares sobre diversidade e inclusão.

• Políticas inclusivas: Desenvolver e implementar políticas que protejam os direitos das pessoas LGBTQIAPN+.

• Canais de suporte e denúncia: Estabelecer canais claros e confidenciais para relatar discriminação e preconceito.

• Programas de desenvolvimento: Criar programas de desenvolvimento de carreira específicos para pessoas LGBTQIAPN+.

O Papel da terapia para LGBT+

A terapia é fundamental para apoiar as pessoas LGBT+ que enfrentam problemas de saúde emocional, inclusive devido a um ambiente de trabalho hostil. Na psicoterapia, encontram um espaço de acolhimento sem julgamento, onde podem explorar e entender melhor os desafios que enfrentam.

Durante o processo terapêutico, é possível promover a conscientização dos atravessamentos sociais que geram sofrimento emocional. "A desconstrução de padrões cristalizados permite a reconstrução de novas formas de ser e estar no mundo, mais confortáveis consigo mesmas."

A terapia também promove a conscientização sobre direitos, oferecendo mais segurança e autonomia na tomada de decisões. Revisitar a própria história permite ressignificar vivências, reconhecer o presente e transformar o futuro.

Zenklub no mês da Diversidade

No mês da diversidade, o Zenklub reforçou seu compromisso com a inclusão e o apoio à comunidade LGBTQIAPN+ por meio de diversas iniciativas importantes. Entre elas, destaca-se a criação de um filtro que permite aos profissionais se autodeclararem parte da comunidade LGBT+.

Essa funcionalidade facilita a busca por terapeutas que compartilham experiências de vida similares, promovendo um atendimento mais empático e personalizado.

Além disso, realizamos um evento de capacitação para nossos profissionais, com o objetivo de oferecer um atendimento ainda mais sensível e inclusivo à comunidade LGBT+. Esse treinamento faz parte de uma série de ações realizadas no mês da diversidade, inclusive internamente em conjunto com a Conexa, focadas em educar e preparar nossos times para melhor atender às necessidades dessa comunidade.

Criar um ambiente de trabalho mais saudável e inclusivo para a comunidade LGBT+ não é apenas uma questão de política corporativa, mas uma questão de direitos humanos e bem-estar. As orientações da psicóloga Camila Blanco Moretti e os dados do Zenklub destacam a importância de acolher a diversidade e combater a discriminação para promover a saúde mental no ambiente de trabalho.

É fundamental que as organizações implementem estratégias contínuas de educação, políticas inclusivas e canais de suporte. Assim podemos garantir que todos os funcionários, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, se sintam valorizados e seguros.

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