Teia
De Urbano Leafa
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Teia - Urbano Leafa
TEIA
Sumário
Nota do Autor
Prefácio
Parte 01
✔ Eles nunca saberão!
Parte 02
Parte 03
Parte 04
Nota do autor
Desde os seis anos de idade viajo em histórias. Lembro que assistia uma série de aventura que passava à tarde na TV, sobre uma guerreira que não recordo o nome, e que gostava tanto e de tão ansioso para ver os próximos episódios escrevia o que eu achava justo que fosse o destino da tal guerreira na trama, não sei como, mas quase sempre acertava.
Aos doze anos passei por um período de inspiração muito forte para a criação de histórias, veio a mim um amontoado de personagens, eles eram tão presentes em minha mente que, muitas vezes, quase podia conversar com eles. Decidi escrever a manuscrito sobre, mostrava a minha mãe que incentivava e pedia que eu depois passasse para um livro, porém, a adolescência veio, e com ela o punk rock, a anarquia e outras coisas que me fizeram ocupado demais para querer montar um livro; queria montar uma banda, tinha um blog sobre rock, mas nunca parei de escrever.
Entretanto, minhas histórias nunca retratavam a minha cidade como cenário, certo dia falei com um cartunista da cidade, o incrível Ivanildo Sill, frequentador do mesmo bar de rock que eu frequentava, sobre escrever uma história e que gostaria de saber como conseguir apoio para lançar um livro, e ele me perguntou onde seria o cenário dessa história, respondi que seria na Inglaterra, ele me disse Então peça apoio aos ingleses para fazer seu livro!
, na época essa afirmação me desanimou, achei que seria complicado trazer aquele universo complexo para dentro da minha cidade, foi quando conheci a escrita de Agatha Cristhie, que na minha visão, traz algo parecido com Arthur Conan Doyle, mas com muito mais detalhes. Me apaixonei por seus escritos, passei inúmeras noites lendo os livros dela, e ao ler outros livros do gênero, me encantei com o romance policial. Foi aí que conheci Sabrina, ela seria a personagem que me perseguiria madrugada a fio, implorando para ganhar vida, era a primeira também a me acordar e se apresentar visualmente no meu primeiro delírio, ela apareceu no meio de estudantes que saiam de uma escola no bairro da Rendeiras (bairro vizinho), veio falar comigo e pensei que me conhecia, foi quando ela pediu que eu não falasse alto, que falasse com ela através da mente. Nessa época eu era espírita kardecista, (hoje cético) acreditava que ela era um espírito ou algo do tipo, mas ela negou tal coisa, disse que estava no meu subconsciente e que eu deveria tirá-la de lá, pois lá ela estava aprisionada. A princípio nem se chamava Sabrina, ela até me pediu para que eu lhe desse um nome, então pensei e dei o nome de uma cadelinha que sempre que escrevia, ficava olhando para mim, como se tivesse falando algo no olhar. Ela inclusive vive até hoje na casa de meus pais, foi um modo também de homenageá-la, já que está ficando velhinha. Então, nome dado, conversava com Sabrina sempre que podia, conforme o tempo que passava escrevendo sobre sua história, ela foi sumindo na forma física e ia tomando conta da minha mente.
Já Chamies veio após um contato que tive com a cultura Hindu, observava os terapeutas de Reiki, e pensava que eles eram pessoas acima de qualquer suspeita, pessoas espiritualizadas demais para alguém olhar para ele e imaginá-lo cometendo um crime; também os via como pessoas que não eram desse planeta, sua áurea quase que acima dos erros humanos me fez fielmente acreditar que existe algo alienígena naquelas pessoas. Já o nome Chamies
, surgiu ao ouvir uma banda chamada Discarga
, onde numa introdução de uma de suas músicas, ouço uma palavra que parecia Chamies!
Mas quando pesquisei, percebi que tinha ouvido errado, esse erro fez com que eu decidisse que aquele seria o nome daquele personagem vindo de Andrômeda.
A história que você irá ler, estava escrita num caderno que guardava com muito carinho, entretanto, após o término do meu primeiro casamento, perdi muitas coisas na casa da minha ex-companheira, coisas que também não tive forças para exigir, não queria lutar por coisas matérias, apesar de ter sido um fim amigável, meu emocional não permitia que eu tivesse contato contínuo com ela, então decidi deixar para lá, e bem depois fiquei sabendo que foram jogados no lixo. Não liguei, pois tinha os personagens em mente, e esse também era o problema, eles não pararam de me perturbar, falavam que não podiam ir para o lixo, não podiam se perder. Quando entrei no mundo da poesia e tive a oportunidade de escrever um livro, planejei este momento de escrever as histórias, já tinha mais conhecimento do universo editorial, e uma pessoa que me apoia em qualquer que seja o projeto, minha atual companheira, que é fotógrafa, produtora cultural e audiovisual, percussionista e poeta (com o livro Inflama, que é sensacional), me auxiliou desde o começo, tanto em arrumar computadores para escrever a história, como também dando feedback em cada capítulo, me ajudando a fazer essas histórias saírem da mente e ir para o papel. E também tivermos a ideia de levar essa história para o audiovisual, pois sabemos que um livro não é mais algo tão badalado nos dias digitais, E pensamos que o audiovisual despertaria a curiosidade de quem assistiu, de ver a história completa. Outra coisa que quis passar nessa história, é o protagonismo negro, tanto os manuscritos quanto a atual versão que fiz, os personagens em sua maioria são negros, isso é reflexo de uma falta que eu sentia de ler personagens mais próximos a minha realidade, pois geralmente nos contos policiais, os personagens negros era poucos ou quase nenhum.
E trazer essa proposta para o audiovisual também está incentivando as pessoas negras que eu conheço, mostrando uma nova perspectiva de experiência artística e, tirar aquela ideia que só podemos ter o papel nas telas de escravizados, traficantes, favelados ou papéis que reforçam os estereótipos negros.
Não lembro de ter visto um negro, por exemplo, roqueiro em nenhum filme que assisti. Queria relatar o negro sem ter que colocar rótulos padrões neles.
Coloco o racismo no meio desse personagem, mas não quis exagerar também nesse ponto, já que o racismo aqui relatado, é apenas um dos fatores da revolta e não o único.
No meio desse processo de reconstrução da história, conheci uma designer muito talentosa que posta seus desenhos em formato de HQ’s numa página do facebook, E pensa em fazer um HQ físico com uma personagem que me inspirou nesse desafio de Sabrina, A personagem chama-se Lilly, e foi criado a partir dos traumas que sua criadora passou, Fiquei muito triste ao saber desse fato e também do fato dela receber ameaças de estupro coletivo devido ao seu personagem, Fiquei pensando o quanto isso é revoltante, pois antes mesmo de concluir o HQ físico, ela já sofre repressão. É uma pessoa, super gente fina, atenciosa, troquei ideia com ela e disse que quando terminarmos as histórias, trocaremos figurinhas, Lilly e Sabrina são mais que necessárias para os dias atuais.
Voltando ao livro, outra coisa que me ajudou a ambientar o cenário, foram os programas policiais da cidade, que são campeões de audiência, as pessoas em geral têm essa sede de justiça e o personagem é uma jarra transbordando. A verdade que ninguém quer admitir. A população espera sempre um herói, e um herói homem que mate o mal e defenda os fracos e oprimidos. Para os fãs de programas policiais, sempre observei um tesão por derramamento de sangue de bandido, por essa cegueira, elegeram um corrupto, genocida e patife de quinta categoria, o idiota que hoje é presidente do Brasil assim como tantos outros corruptos sanguinários, velhos decrépitos e proclamadores de fakes news.
O conservadorismo sempre traz a busca do herói nacional, O patriotismo é uma doença infantil, já dizia Einstein, creio que ver cadáveres de bandido, inflamar as tradições retrógradas é um estado mental baseado somente na projeção de ideias morais invioláveis, entretanto a prática nunca é feita. Acabam sendo o que condena o próximo por aqui que também faz. Resumindo em uma só palavra: Hipocrisia.
Outra coisa que quis fazer do livro, foi a eternização do meu bairro Cedro, E suas adjacências, principalmente a Rendeiras e José Liberato. Onde passei minha infância e adolescência. Lembrar do convívio com minha família, vizinhos, de amigas e amigos que moram lá ainda. Como uma amiga dos tempos de pré- adolescência, que recentemente tivemos contato através das redes sociais, em movimento de poesia.
Bem, ela corrigiu este livro. Creio que foi o elemento-chave para que a história.
Para quem gosta de histórias sobre crimes, suspense e coisas de outro mundo, seja bem-vinda e bem-vindo a TEIA.
Prefácio
Aqui não adiantarei gratuitamente muitos e significativos trechos deste livro (ou na linguagem contemporânea colonizada: não darei spoiler
); ainda menos farei Análises críticas detalhadas de partes chave ou ponte do mesmo; ou anteciparei o que se mostra em cada parte ou na sequência da narrativa, que, em minha percepção, é um misto de romance de suspense e certo horror com distopia mística
de ficção científica entremeada, do início ao fim, de uma forte crítica social. Certamente existem outras camadas na obra que, assim como uma cebola,
Podem nos mostrar outras possibilidades de significados em suas diferentes dimensões, interligadas como os anéis e arcos da casca da cebola ou mesmo em sua imagem de título: uma teia. Nesta teia somos expostos a muitos fatos da convivência humana e social que, em uma sociedade como a nossa, se insiste em jogar pra baixo do tapete
, tais como: machismo e sexismo, racismo, hipocrisia religiosa, falta de empatia e compreensão com os (as) jovens, entre outras violências do dia a dia de séculos de história nas sociedades antigas, modernas e atuais.
Nesta Teia literária que vocês têm em mãos, Urbano Leafa nos põe em confronto Com dilemas e perguntas que inquietam a humanidade e a sociedade há muito tempo; um longuíssimo tempo. Por exemplo: de onde surge ou o que provoca a violência e o Desejo de matar?; surgem da sociedade e de suas leis e normas desiguais e injustas que muitas vezes funcionam apenas para uma pequena parcela da população. Surgem como respostas a diversos traumas humanos que as pessoas sofrem, como mecanismo de defesa e sobrevivência na selva social?; surgem do caráter, da mente e das emoções descontroladas das pessoas, ou seja, na estrutura psíquica humana já há esta tendência ao mal e à violência e a sociedade, com suas violências, só dá uma forcinha
para estes instintos brutais da humanidade?; ou a violência é também provocada por influências místicas e astrais
de seres maldosos de outros planetas que querem dominar a humanidade ou se vingar da maldade humana e usam pessoas já feridas e desejosas de matar, como aqui representados ficticiamente pelas personagens Chamies e Sabrina?.Deixo as respostas para vocês, estas e outras possíveis que surjam em suas mentes, ou que venham de seus estudos e experiências de vida em diálogo com o texto de Teia….
O que é a humanidade?; o que a caracteriza?; seriam bondades, amor, cuidado; ou Também loucura, prazer em sofrer e provocar sofrimento; instintos de defesa cravejados no medo em uma selva social?; ou ondas/possibilidades de se transformar, um vir a ser e estar sendo dentro de um mar de incertezas, injustiças, desejos e sofrimentos?...
E a sociedade, o que ela é?; o que a caracterizaria?. A sociedade seria e se caracterizaria como um polvo abstrato com tentáculos infinitos que nos envolvem, prendem e manipulam com suas leis, linguagens, palavras, tradições, normas, normatizações, significados culturais, religiões,
Valores familiares, heranças ancestrais que se perpetuam e insistem em ser conservadas à força, mesmo hipocritamente?; se caracterizaria pela transformação da natureza em objetos como folhas, papéis, computadores, livros, cadeiras, cigarros, revólveres, facas, martelos, fogões, geladeiras, celulares?; ou a sociedade seria as trocas econômicas, dinheiro, poder, fama, exibicionismo, sistemas políticos, noções de certo, errado, bom, mau, felicidade, infelicidade?; a sociedade nos cria, diz o que somos ou quem somos ou quem estamos sendo, molda nossos comportamentos, nossas emoções e diz se somos doentes ou sãos?...
Seria a sociedade a teia metaforizada aqui nesta obra de Urbano Leafa?; ou seria a teia a humanidade?; ou uma complexa mistura entre as duas: a teia é tanto a Humanidade e a sociedade, que se retroalimentam e enredam?; novamente, deixo as Respostas, e outras possíveis perguntas, para vocês, apesar de eu ter ensaiado algumas aqui...
A forte, instigante e porque não também tocante (já que mexe conosco, com nossas emoções e crenças sobre a humanidade e a sociedade...) história aqui tecida por Urbano é provocante em sua humanidade e desestabilizadora em seus questionamentos, Ironias e exposições das tripas das convivências humanas e sociais, a partir das tessituras literárias traçadas pelo autor, certamente também advindas de suas experiências humanas e sociais.
Seria Urbano a aranha desta Teia?; ou você que lerá a obra e tecerá suas próprias
Impressões e fios de significados da mesma?; ou as próprias personagens que foram Tomando vida no autor e se materializaram nas páginas que seguem?. E estas personagens bem poderiam ser nossos (as) amigos e amigas mais próximos (as); Parentes, aquela pessoa que vemos no ônibus indo para a escola ou para o trabalho, ou mesmo que vemos nos noticiários da TV ou internet, ou que nos atendem em Consultórios terapêuticos; ou nós mesmos (as). Sim, a sociedade, e a humanidade, tanto amam – e o que seria o amor
? – quanto podem matar.
Convido vocês a se enredarem nesta Teia tecida por – e que teceu –
Urbano Leafa.
Ivan Nicolau Corrêa.
Poeta. Mestre em Educação Contemporânea.
Licenciado em Letras. Terapeuta Floral e Reikiano.
Praticante e Facilitador de Meditação.
Capítulo 1
Estopim
Caruaru, 24 de março de 2005,
No refeitório da escola Maria Auxiliadora, Sabrina, uma jovem negra de cabelos crespos e corpo franzino, 16 anos, desenvolvia um seminário sobre anatomia humana na hora do intervalo, quando se aproximou dela, Luíza, uma garota também negra, gorda, de cabelos lisos, vestindo uma camisa de banda de rock:
-Sabrina, Tu não sabe o que aconteceu?!
-O que foi? Não vê que estou ocupada!
-Mulher, Carlinhos me chamou para sair com ele!
-Legal para vocês, agora me deixa terminar esse seminário. Que tenho que entregar segunda-feira.
-Mas ele te chamou também!
-E ele agora quer eu e tu num poli amor? Eu não curto essas viagens não visse.
-Não mulher, ele chamou a gente para ir no Cemitério Dom Bosco com ele. -E ele quer visitar quem lá? Ou foi um parente que morreu e ele tá nos convidando para o enterro?
-Tu não entendeu…vamos entrar no