Os Tropeiros No Paraná
De George Abrão
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Os Tropeiros No Paraná - George Abrão
OS TROPEIROS
NO
PARANÁ
George Abrão
ROTA DOS TROPEIROS
NO CAMINHO DO VIAMÃO,
NOS CAMPOS GERAIS DO
PARANÁ
OS TROPEIROS CONTAM
SEUS CAUSOS
NOS CAMPOS GERAIS
GEORGE ABRÃO
1ª EDIÇÃO
MARINGÁ
2024
1
Dados Internacionais de Catalogação e Publicação OS TROPEIROS CONTAM SEU CAUSOS NOS
CAMPOS GERAIS
George Abrão
(História e Literatura)
1ª Ed. Unidades 327 Pg.
ISBN
1 – Os tropeiros contam seus causos
CDD 800
--------------------------------------------------------------
Edição: George Abrão
Capa: Thais de Assis Abrão
Revisão: Lauro Volaco e João Luiz Goltz de Almeida
Prefácio: Toni Barbar
Diagramação: George Abrão
Copyright 2024 de George Abrão
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, seja eletrônico, mecânico, datiloscópico, de gravação ou
outros sem a prévia autorização do autor.
2
APRESENTAÇÃO
TROPEIROS - NO ATUAL BAIRRO PEDRINHAS -
DESCENDO PARA O PORTO DE JAGUARIAÍVA
(PORTO VELHO)
Minha terra natal, a bela Jaguariaíva, encontra-se nos Campos Gerais do Paraná e dentro do pequeno bioma do Cerrado Paranaense, resultando numa bela mistura dos dois biomas, onde as imponentes araucárias convivem pacificamente com os retorcidos barbatimões.
A área territorial de Jaguariaíva também foi agraciada por situar-se na rota dos TROPEIROS: Caminho Real do Viamão, que começava nesta cidade gaúcha e ia até Sorocaba, no estado de São Paulo. Por esse motivo, desde criança, eu já ouvia falar sobre os TROPEIROS, suas histórias e sua cultura, pois foi um desses intrépidos homens o fundador da cidade: Coronel Luciano Carneiro Lobo. Por isso tudo hoje, com esta minha humilde 3
obra, presto a minha homenagem à sua memória e as de todos os TROPEIROS que ajudaram no desenvolvimento do nosso Paraná.
4
PREFÁCIO
É com grande satisfação que apresento o prefácio do livro escrito pelo meu amigo George Abrão Os Tropeiros Contam Seus Causos nos Campos Gerais
, uma obra que mergulha nas memórias e tradições de uma das regiões mais emblemáticas do Brasil: os Campos Gerais. Este livro rico em gravuras e fotos, é uma homenagem aos tropeiros que, com suas trajetórias e histórias, deixaram uma marca indelével na cultura e na história desta vasta e rica região.
Os Campos Gerais, com sua paisagem exuberante e desafios singulares, foram palco de muitas jornadas épicas e encontros memoráveis. Neste cenário grandioso, os tropeiros desempenharam um papel fundamental, não apenas na economia, mas também na construção de um legado cultural único.
Os Tropeiros Contam Seus Causos nos Campos Gerais
é mais do que uma coletânea de relatos; é uma viagem ao coração das histórias que moldaram a região. Cada causo aqui presente é um pedaço do quebra-cabeça que revela a vida e os desafios enfrentados por esses viajantes intrépidos. Através de suas narrativas, somos convidados a reviver momentos de coragem, solidariedade e até mesmo humor, que definiram não apenas a trajetória dos tropeiros, mas também a identidade cultural dos Campos Gerais.
Este livro não seria possível sem a colaboração de muitas pessoas. George Abrão agradece a todos que contribuíram com suas histórias, pesquisas e 5
experiências. Suas memórias e insights foram fundamentais para dar vida a esta obra e garantir que a rica tradição dos tropeiros continue a ser celebrada e lembrada.
Espero que você, leitor, encontre nesta obra uma janela para o passado vibrante dos Campos Gerais e sinta a mesma fascinação que senti ao descobrir essas histórias. Que as aventuras e causos aqui narrados inspirem você e transportem você para uma época de grandes jornadas e grandes encontros.
Boa leitura e que você possa se deixar levar pelos caminhos e causos dos tropeiros, assim como eu fui tocado por suas histórias.
Parabenizo o escritor, pesquisador e poeta George Abrão por mais esta obra.
Com gratidão,
Toni Barbar
6
- Dedico esta minha obra às memórias dos TROPEIROS, homens que com muita coragem e aferro levaram o progresso para muitas regiões do nosso país, mormente ao que atravessaram o nosso estado, rumo a Sorocaba, pelo Caminho do Viamão.
- Aos descendentes dos TROPEIROS que firmaram raízes em várias de nossas cidades, deixando nelas muito da sua tradição e costumes.
7
- Agradeço a Deus por ter-me permitido escrever mais este livro que, com certeza, além de servir de lazer aos que os porventura lerem, também servirá como fonte de estudos e pesquisas sobre esse movimento tão importante do passado:
O TROPEIRISMO!
- Agradeço também a todos os que me contaram muito do que escrevi.
8
SUMÁRIO
14-INTRODUÇÃO
16-TROPEIRISMO
21-A COMITIVA TROPEIRA
23-A DISCIPLINA DA TROPA
25-A VIAGEM DOS TROPEIROS
29-CAMPOS GERAIS DO PARANÁ
31-DESCRIÇÃO DOS CAMPOS GERAIS POR
SAINT HILAIRE
34-ROTAS DOS TROPEIROS NO PARANÁ
38-A FEIRA DE GADO DE SOROCABA
41-UM TROPEIRISMO DIFERENTE NOS
CAMPOS GERAIS: DE PORCOS
CIDADES PARANAENSES SITUADAS NA
ANTIGA ROTA DOS TROPEIROS: CAMINHO
REAL DO VIAMÃO
45-Rio Negro
48-Campo do Tenente
50-Lapa
52-Balsa Nova
54-Palmeira
57-Ponta Grossa
60-Carambeí
63-Castro
68-Piraí do Sul
70-Jaguariaíva
74-Sengés
A COMIDA TROPEIRA
77-Paçoca de carne seca
78-Feijão tropeiro
79-Quirera
9
80-Churrasco Gaúcho
82-Arroz tropeiro
83-VESTIMENTAS
85-APETRECHOS
88-CÓDIGO DE ÉTICA
89-VOCABULÁRIO
95-PROVÉRBIOS
97-RELIGIOSIDADE
HOMENAGENS AOS TROPEIROS
102-Monumento do Tropeiro na Lapa
103-Museu do Tropeiro na Lapa
104-Memorial do Tropeirismo em Ponta Grossa 105-Monumento do Tropeiro em Carambeí 106-Monumento do Tropeiro em Castro
108-Museu do Tropeiro em Castro
109-Monumento do Tropeiro em Piraí do Sul 110- Parque Ambiental Dr. Ruy Cunha – Bosque do Tropeiro em Jaguariaíva
ALGUNS TROPEIROS DOS CAMPOS GERAIS
113-Lapa
114-Balsa Nova
115-Palmeira
116-Ponta Grossa
117-Castro
118-Piraí do Sul
119-Jaguariaíva
120-0S AMORES DOS TROPEIROS
124-ALGUMAS CURIOSIDADES
CRENDICES E SUPERSTIÇÕES
126-Boitatá
128-Curupira
129-Lobisomem
10
131-Mula sem cabeça
133-O fogo sempre aceso
134-O negrinho do pastoreio
136-O tesouro do Padilhão
137-Os dois cavaleiros
138-Zumbi de cavalo
POEMAS EM HOMENAGEM AOS TROPEIROS
143-A prece do cavalo
145-Caminhos de Palmas
151-Campos Gerais
157-Comitiva tropeira
159-Elegia do tropeiro
163-Fogão de tropeiro
168-Herança tropeira
171-Homenagem ao Dia do Tropeiro
173-Nhô João, o tropeiro
177-No tempo dos tropeiros
179-O bairro
181-O estalo do açoite
182-O pouso
183-O riso dos tropeiros
184-O tropeiro e a tapera
189-Para entender a distância no coração do tropeiro
194-Poesia popular tropeira
195-Porto Velho
198-Rancho de tropeiro
200-Retalhos dos caminhos tropeiros
202-Romance do tropeiro doido
207-Rumo e querência para um tropeiro morto 212-Sina tropeira
216-Sinueiro
11
218-Sonho do filho de um tropeiro 222-Tropeirismo
224-Tropeiro
227-Tropeiro
228-Tropeiro de minha infância
232-Tropeiro e sua boiada
234-Tropeiros
236-Último adeus do tropeiro
245-Birivas
247-Herança de tropeiro
249-No caminho das tropas
251-O tropeiro
252-Tropeiro velho
FILMES E SÉRIE TELEVISIVA SOBRE OS
TROPEIROS DO SUL
257-Os tropeiros
259-Histórias de tropeiros
261-Homens do caminho
OS TROPEIROS CONTAM SEUS CAUSOS
264-A corda do diabo
271-A lambida da onça
274-A panela de dinheiro
276-A Santa do Paredão
279-Capão do Matadouro
281-Cascavel
287-Criação de quê?
289-Ganância paulista
291-Ladrões de cincerros
293-Maria Quissé
295-O boitatá da Fazenda Diamantina
297-O dia em que o caçador virou caça 301-O pouso mal-assombrado
12
304-O tropeiro e a loura 306-O velho tropeiro
308-Os tropeiros deram com os burros n’água 310-Travessia do rio
312-Trezentas onças
314-Tropeiros no lombo da mula
316-Túmulo Fora do cemitério
318-Uma viagem prejudicada
HERANÇA DOS TROPEIROS NO CAMPOS
GERAIS
321-Costumes
322-Culinária
323-Linguajar
325-Provérbios
326-Vestimentas
327-EPÍLOGO
13
INTRODUÇÃO
OBRA DE IRINEU GRACIANO ALVES ARTISTA PLÁSTICO
CASTRENSE
Quando nos deliciamos com um prato de feijão tropeiro ou de quirera com suã de porco, além do tradicional churrasco de fogo de chão acompanhado por uma paçoca de carne seca, quem de nós se pergunta sobre as origens dessa culinária tão saborosa? De fácil resposta:
Todas essas delícias, e outras mais, têm sua origem no tropeirismo, cujos integrantes foram responsáveis por transportar mercadorias no lombo de mulas em várias regiões do Brasil, desde a descoberta das minas de ouro e pedras preciosas, no final do século XVII.
Esse movimento tropeirista
, que tanto progresso trouxe a várias regiões do Brasil, fundando vilarejos, dentre eles alguns se transformaram em 14
grandes cidades; que influenciou usos, costumes, linguajar e vestimentas, cujos integrantes, os tropeiros, vêm ganhando reconhecimento da população brasileira e podem virar Patrimônio Imaterial - pelo Iphan -, e até Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco.
15
TROPEIRISMO
Movimento que começou nos primórdios do século XVIII com o fim do Ciclo do Ouro nas terras onde hoje se situa o Paraná. O ouro naquele período era sinônimo de riqueza, um país com bastante ouro ostentava a posição de país muito rico.
A descoberta da América pelos espanhóis e portugueses dava a esperança de se encontrar o eldorado, isto é a terra com muito ouro.
A exploração espanhola teve início na América Central vindo até a região da Argentina, onde extraíram muito desse precioso metal. Naquela região o transporte era todo feito no lombo de mulas, sendo necessárias centenas de milhares destes animais que foram criados na região com esta finalidade.
No Brasil os portugueses, sabedores da façanha espanhola, viviam na expectativa de encontrar ouro 16
em terras brasileiras. O Tratado de Tordesilhas limitava o território de exploração entre Espanha e Portugal: a costa do Oceano Atlântico pertencia a Portugal e o restante da América aos espanhóis.
Enfim, o ouro foi descoberto pelos portugueses, fato que ocorreu no litoral onde hoje é o Estado do Paraná, precisamente na cidade de Paranaguá, a qual deve a sua origem ao ouro, pois ocorreu uma migração intensa para região com o objetivo de explorá-lo e o povoado de início, foi aumentado, sendo que em 1646 foi criada a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá que em 1648
passou à categoria de Vila. Tal exploração dava-se nos rios e encostas dos morros.
Outras duas cidades acabaram surgindo no litoral: Antonina e Morretes. Boatos diziam que no alto da serra, no Primeiro Planalto, havia ouro, e através dos índios e seus caminhos chegaram a uma região de vastos campos, onde em seus rios foi encontrado ouro e novamente o contingente populacional ia aumentando. Foi formado um povoado às margens do Rio Atuba denominado Vilinha, local que mais tarde passou a se chamar Curitiba, a qual foi a primeira povoação portuguesa na Região Sul fora do litoral e tornou-se um ponto estratégico para a ocupação portuguesa de toda a Região Sul, que hoje é brasileira e não espanhola.
Com a fundação de Curitiba todos os Campos Gerais do Paraná, região de Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva, Lapa, Tibagi, e vindo para o sul até os campos de Lages, em Santa Catarina, passou a ser chamado de Campos de 17
Curitiba. Região extensa de campos nativos que propiciava a criação de gado cavalos e muares. O
ouro extraído na região era transportado por mulas até o Porto de Paranaguá de onde ia para a Europa, sendo este o único meio de transporte na época.
Embora a atividade econômica principal fosse a extração do ouro, outras atividades econômicas existiam para dar sustentabilidade a ela, pois as pessoas tinham que ter alimento e transporte. Tais atividades, como: plantação de milho, mandioca, batata e a criação de gado, cavalos e mulas eram feitas na região dos Campos de Curitiba. Grandes áreas de terras foram requeridas por mineradores à corte portuguesa para criação de gado, sendo que tais concessões deram origem aos currais.
Pedro Taques de Almeida fundou uma companhia de terras e trouxe muitos paulistas para adquirirem áreas nos Campos Gerais e, ao longo do tempo já existiam muitos currais, isto é, fazendas de criação de gado.
O ouro do Paraná era pouco e foi se esgotando, o que levou à procura do minério em outras regiões.
Como nas terras onde hoje se situa o estado de Minas Gerais foram descobertas grandes jazidas de ouro, prata, ferro, cobre, estanho e pedras preciosa, gerando com isso grande necessidade de carne para alimentação e de animais para o transporte de pessoas e de carga, os habitantes do Paraná, mormente nos Campos de Curitiba, que estavam produzindo justamente o que eles precisavam, começaram a vender gado e animais de carga para as Minas Gerais, dando origem a um novo ciclo 18
econômico: o do tropeirismo nas terras onde hoje é o Paraná. Porém a necessidade era muito grande na região de Minas Gerais, de maneira que a produção dos Campos de Curitiba não era suficiente para abastecer à demanda. Daí surgiu a necessidade de buscar em outras regiões. Havia boatos que na Região Sul havia muito gado bovino e mulas, sendo