As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras
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Sobre este e-book
Ressalta-se que a grafia de palavras de origem africana surgidas nesse texto, decidiu-se manter como já está estabelecido seus usos em português, ou aportuguesada. Em algumas citações, as palavras estarão escritas como aparecem no texto pesquisado, respeitou-se a grafia e não se lançou mão da edição filológica de texto.
Por fim, os fios para entender a intelectualidade negra nas Améfricas estão aqui apontados, com o objetivo de que outros e outros pesquisadores possam retomá-los até que se possa visualizar a rede e as conexões das ideias de homens e mulheres que reexistem a cada dia, numa luta constante contra o racismo e a violência de gênero nesta sociedade capitalista, que é perversa e desumana.
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As vozes das Améfricas - Denilson Lima Santos
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
REITOR
Miguel Sanches Neto
VICE-REITOR
Ivo Mottin Demiate
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E ASSUNTOS CULTURAIS
Beatriz Gomes Nadal
EDITORA UEPG
Jeverson Machado do Nascimento
CONSELHO EDITORIAL
Beatriz Gomes Nadal
Adilson Luiz Chinelatto
Antônio Liccardo
Augusta Pelinski Raiher
Dircéia Moreira
Giovani Marino Favero
Ivana de Freitas Barbola
Névio de Campos
Copyright © by Denilson Lima Santos & Editora UEPG
EDITORA UEPG - EQUIPE EDITORIAL
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Jeverson Machado do Nascimento
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Emilson Richard Werner
CAPA
Beatriz Vieira de Oliveira
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Andressa Marcondes
CONVERSÃO PARA EPUB
Marco Wrobel
S237
Santos, Denilson Lima
As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras / Denilson Lima Santos. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2024.
Ebook; Epub. - (Reexistências)
ISBN: 978-65-86234-66-4
1. Sociologia da Literatura. 2. Estudos Africanos e da Diáspora. 3. Intelectuais negros. 4. Hegemonia e contra-hegemonia. 5. Movimento negro. I. Santos, Denilson Lima. II. Título. III. Série.
CDD: 305.552
Ficha catalográfica elaborada por Rodrigo Pallú Martins – CRB 9/2034/O
Depósito legal na Biblioteca Nacional
Editora filiada à ABEU
EDITORA UEPG
Praça Marechal Floriano Peixoto, n. 129 - 84010-680
Ponta Grossa – Paraná - (42) 3220-3306
e-mail: [email protected]
site: www.editora.uepg.br
2024
Oh, meu corpo, faça de mim um homem que sempre questiona!
Frantz Fanon
Dedico este livro ao Orixá Exu, que me salvou e reencantou minha vida.
Opé ire! E sopé là oóre ní o opé.
A frase acima é de uma música em iorubá, e poderia ser traduzida assim: Gratidão pelas bênçãos. Estou agradecido e honrado por sua bondade
.
Em suma, agradeço:
À minha família consanguínea;
Ao filhos e filhas da Ẹgbẹ́ Òrìṣà Ẹlẹ́gbárá Atèlé Elédàá ou Templo do Orixá Exu, minha família por laços de ancestralidade;
Ao meu companheiro Alberto Alexsandro da Silva Pedra, pelo apoio;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pela Bolsa Produtividade: Processo: 306596/2020-2;
À Editora da UEPG;
A toda pessoa que contribuiu diretamente ou indiretamente para a efetivação desta pesquisa.
Sumário
Prefácio
Introdução
A Discursividade da Ancestralidade nas Améfricas
A escrita e a circulação de ideias: os periódicos
As epistemologias negras
A estética do impensável
Oriki de sortilégios com as palavras
Os contos de minha terra e outros escritos
Caminhos inconclusos
Referências
Posfácio
Sobre o autor
Pontos de referência
Página de Título
Capa
Sumário
Prefácio
Página Inicial
arte decorativa de abertura de capítuloPrefácio
As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras
Jucélia Bispo dos Santos(UNILAB)
Foi com grande alegria que recebi o convite para prefaciar esta obra e o aceitei de imediato, pois conheço o Denílson desde 2000, quando da entrada como professores (as) aprovados (as) no concurso da Secretaria Municipal de Educação de Irará. Logo após, nos aproximamos mais, sobretudo, a partir de uma nova trajetória profissional, na condição de professores da Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira), Campus dos Malês, São Francisco do Conde, Bahia, entre 2016-2017. Ao longo desses anos construímos uma relação de afeto e parceria acadêmica, sobretudo, nos trabalhos de pesquisa e extensão. Na Unilab coordenamos o grupo de pesquisa GEPILIS- Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Linguagem e Sociedade (2017-2019), Denílson na condição de coordenador e eu na condição de vice coordenadora. O nosso grupo de pesquisa é composto por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, portanto, temos como característica a perspectiva multidisciplinar e/ou interdisciplinar ao desenvolver atividades de investigações científicas nas áreas de Linguística, Letras, Artes e das Ciências Humanas e Sociais. A proposta do grupo é abordar a linguagem como um lugar de práticas socioculturais, ou seja, por meio de uma perspectiva in/inter/multi/pluri/transdisciplinar, concebemos a linguagem como uma possibilidade abrangente, tradutora de culturas e de identidades. São, portanto, subáreas de interesse do grupo em suas ações de pesquisa e de extensão: linguagens, culturas e identidades; formação de professores; ecologia de saberes; diversidade, diferença e desigualdade social; processos de ensino e de aprendizagem em uma perspectiva decolonial; políticas linguísticas; alfabetização e letramentos; dentre outras possibilidades. A nossa empatia se deu pela simpatia e pelas afinidades dos projetos de pesquisa e extensão e pelas nossas áreas de atuação e/ou pelos laços afetivos daqueles (as) que defendem os saberes docentes e discentes necessários a uma pedagogia balizada por uma prática educativa libertadora.
Normalmente nos prefácios, assim como na análise literária, escrevemos sobre os livros e os interpretamos; lançamos luz sobre seus aspectos e antecipamos aquilo que o leitor encontrará neles. Como se sabe, o objetivo do prefácio é escrever sobre o livro, e escrever sobre algo é uma técnica que a filosofia acadêmica nos ensina muito bem. Por isso, em tese, não deveria haver dificuldades em escrever um prefácio, mas eu confesso que tenho dificuldades de escrever prefácios. No caso deste livro do Denílson, minha tarefa torna-se ainda mais difícil, porque o texto conta com a magia suficiente para encantar o leitor e, seguramente, com uma potência. Desse modo, as palavras que se seguirão dizem menos sobre o livro do que deveriam. Afinal, o que eu poderia dizer de um livro cujas intensidades e pensamentos se dizem por si mesmos? Sinto-me sem palavras para expressar. Mesmo assim, vou ensaiar algumas palavras, na tentativa de encontrar um sentido para aquilo que o livro move em mim.
Este livro que prefacio é um convite ao leitor para considerar alguns destes fatores, ao apresentar uma análise sobre a produção e a luta política de intelectuais negros, o autor busca construir reflexões acerca dos desafios contemporâneos sobre o papel da Universidade na formação e nas possibilidades das condições básicas para o bom trabalho, sobre o seu projeto político estratégico, no século XXI.
Existe uma quantidade significativa de estudos sobre intelectuais, mas quando se tratam intelectuais negros (as) o volume ainda é pequeno. Para justificar essa afirmação lanço a seguinte pergunta: Você já parou para pensar quantos intelectuais negros e negras conhecemos ao longo da nossa vida estudantil? Para a nossa geração que estudou a educação básica nos anos 80 e 90 do século passado, antes da criação da Lei 10.639, a legislação que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, sendo elas públicas ou particulares, desde o ensino fundamental até o ensino médio, algumas poucas pessoas poderão lembrar de Machado de Assis. Cabe ressaltar que ele era negro, pois muitos deixaram esta informação passar comodamente despercebida. E quantos intelectuais negros e negras você conheceu ao longo da sua vida acadêmica? Vale a reflexão...
O livro do Denílson convida o leitor para entender que vários são os pontos de vista a respeito do conceito de intelectual, os tipos e as funções que exercem na sociedade. Esses intelectuais promovem a consciência de grupo para a população negra, apontando os caminhos da resistência e da reexistência. Com relação aos indivíduos a quem atribui-se a denominação intelectual, percebe-se uma dificuldade da sociedade brasileira e da própria comunidade de intelectuais em atribuí-la a negros e negras. Historicamente, os(as) negros(as) exerceram e exercem funções de intelectuais. Esse livro possibilita a abertura para construções contra hegemônicas, onde os grupos subalternizados organizam e sistematizam concepções de mundo ancoradas em projetos coletivos de transformação social. Ressalto, então, que qualquer hegemonia, no sentido sempre dominante, jamais será total ou exclusiva. A qualquer momento, formas de política e cultura alternativas, ou diretamente opostas, existem como elementos significativos na sociedade
.
Publicar livros que trata das obras de intelectuais negros e negras no ambiente educacional e acadêmico amplia as referências na produção das pesquisas, apresentando através de histórias reais de resistências o significado de pertencimento, unindo os laços destruídos pela diáspora africana, (re)construindo sentidos e significados. Neste trabalho, Denílson discute como esses sentidos e significados reconstruídos através da produção do intelectual negro que se destaca na condição de um agente de letramento. Isso implica dizer que nessas atividades, esses intelectuais negros manifestam suas identidades, suas crenças, seus valores, suas ideologias, para produzir sentidos na relação com o outro. Nessa relação, o intelectual negro age enquanto sujeito que se põe, não apenas, contra o poder, mas que agencia uma luta coletiva pelo poder, é figura importante nos processos de letramentos da cultura negra, no intuito de somar esforços para a construção de uma insurgência coletiva. Compreender os letramentos sob essa ótica faz-nos refletir sobre a atuação dos intelectuais, suas metodologias de atuação política e as relações que estabelecem com os leitores e a sociedade. Os intelectuais quando atual enquanto agente de letramento orienta seus leitores para agirem em prol de sanarem demandas sociais. E o fazem a partir de seus saberes teórico-metodológicos, dos saberes de sua própria prática, de suas relações com instituições sociais, do diálogo com os saberes e interesses dos (as) leitores(as). Ao orientar para a ação social, o intelectual negro trabalha como curador de fontes de informações e de recursos, o que implica pesquisar, refletir, planejar, facilitar acessos.
O livro As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras
destaca o papel político dos intelectuais negros(as) preocupados em traçar trajetórias de vidas, em analisar suas produções, estabelecer relações entre estes e outros sujeitos, com o intuito de compreender melhor seus papéis sociais. Nesta produção, o autor busca tratar do conceito de intelectual, dando ênfase principalmente quando este é atribuído a pessoas negras que exerceram ou exercem funções intelectuais. Tomou-se por base um conjunto de autores que compõe as referências básicas sobre o tema, identificando as principais contribuições para o debate sobre a necessidade de repensamos algumas práticas cunhadas nas relações entre os indivíduos nas instituições e nos espaços de produção intelectual candente. Portanto, compreendemos que o termo intelectual é uma construção histórica, cultural fortemente influenciada pelo pensamento etnocêntrico e tem relação também com os mecanismos de legitimação do poder de fala de um indivíduo ou grupo social, no âmbito social. Fala que pode estar alinhada a defesa de um projeto coletivo, calcado em princípios universais ou em ideologias usadas como dispositivos para a manutenção de uma ordem social, política, econômica que beneficia uma pequena parcela da sociedade. É nesse sentido que a ação do intelectual negro