Aposentação: Aposentadoria para ação
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Pré-visualização do livro
Aposentação - Dulce Helena P. Soares
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Soares, Dulce Helena Penna
Aposent-Ação : Aposentadoria para Ação / Dulce Helena Penna Soares, Aline Bogoni Costa. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor, 2011.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7585-460-0
1. Aposent-Ação (Programa de Orientação para a Aposentadoria) 2. Aposentadoria - Aspectos psicológicos 3. Aposentadoria - Aspectos sociais 4. Aposentadoria - Projetos 5. Aposentados - Trabalho 6. Identidade (Psicologia) I. Costa, Aline Bogoni. II. Título.
11-06013 CDD – 155.672
Índices para catálogo sistemático:
1. Programa de orientação profissional para
aposentados : Psicologia 155.672
ISBN: 978-65-5374-187-4
Projeto gráfico e diagramação: Lindiana Valença
Capa: Rodrigo Oliveira
Revisão: Gisele Achkar
© 2011 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores.
Sumário
Agradecimentos
Apresentação
Parte 1– Reflexões sobre trabalho, identidade, aposentadoria e projetos
1. O lugar do trabalho na vida humana
2.Um olhar para a identidade a partir do trabalho
3. A aposentadoria chegou, e agora?
3.1 Aposentadoria: contexto da população
3.2 Aposentadoria: transformações identitárias e desafios
4.Projetos de futuro naaposentadoria
Parte 2 – Os projetos de futuro na aposentadoria: resultados de uma pesquisa de campo
5.Trajetórias de vida eprojetos na aposentadoria
Caracterização do contexto da pesquisa
5.1 As trajetórias pessoais e profissionais identificadas
5.2 As trajetórias pessoais e profissionais e suas relações com a aposentadoria
5.3 Tipos de projetos de futuro: núcleos de sentido e categorias encontradas
6.Tipos de projetos de futuro
Parte 3 – Aposent-Ação: Aposentadoria para a Ação!
7.Aposent-Ação – Aposentadoria para ação
7.1 A história do Aposent-Ação
7.2. Objetivos do Aposent-Ação
7.3 Duas modalidades do Aposent-Ação
8.A formação do grupo Aposent-Ação
8.1 A vivência em grupos
8.2 A duração dos programas: intensivos ou extensivos?
8.3. Qual o número ideal de participantes?
9. Os encontros passo a passo e as técnicas mais utilizadas paradinamizar o grupo
9.1 Orientações para a entrevista inicial
9.2. Planejamento de 12 encontros Aposent-Ação
9.3 Orientações para a entrevista final ou devolutiva/ integrativa
10. Reflexões e avaliações doAposent-Ação
10.1 Reflexões e avaliações de participantes
10.2 Reflexões e depoimentos de orientadores do Programa Aposent-Ação (ex-estagiários de psicologia do LIOP)
11. Orientação psicológica para aposentadoria
Referências
Agradecimentos
A todos os participantes do Programa Aposent-Ação, aposentados e pré-aposentados que nos contaram sobre suas vidas, medos e expectativas, angústias e prazeres em relação à aposentadoria.
Aos estagiários do LIOP – Laboratório de Informação e Orientação Profissional da UFSC, sua iniciativa e criatividade permitiram que este Programa fosse criado e continuasse acontecendo.
Aos mestrandos e doutorandos que se identificaram com o Programa e pesquisam temas como projetos de ser, de futuro e o tempo livre na aposentadoria.
Dulce Helena agradece ao Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária (GPPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), que a acolheu no ano de 2010/2011 para realizar o POSDOC e oportunizou este tempo de um ano para estudar, pesquisar e escrever sobre aposentadoria.
Ao Sérgio, companheiro de todas as horas, inclusive das horas da escrita do livro, à Pipa minha mascote ao lado do computador. Aos meus pais que ao se aposentarem continuaram em Ação, Maria professora, na catequese, e Flávio arquiteto, projetando voluntariamente.
Aline agradece aos colegas, amigos e orientadores do Doutorado em Psicologia da UFSC, em especial à Professora Dulce, que ama o que faz, transparece em atitudes a todos. Ao meu filho Vinícius, que mesmo antes de nascer já participava da elaboração deste livro. Ao marido Rodrigo, amor paciente e presente em todos os momentos, para toda a vida. Aos pais, Waldemar e Lurdes, incentivadores sempre, que hoje vivem sua Aposentadoria com Ação e paixão.
Apresentação
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos
(FERNANDO PESSOA).
As palavras de Fernando Pessoa inspiram nossa reflexão inicial sobre o tema maior deste livro: o aposentar-se. A aposentadoria é um Tempo de Travessia, pois a referência do trabalho, muito importante na constituição da identidade humana, se transforma. Para alguns se torna difícil o desprendimento da rotina e o despertar para novos interesses e motivações. Como abandonar as roupas usadas e rever os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares com vistas a novos projetos de futuro?
Compreendemos o trabalho como atividade central para a construção da identidade humana, especialmente na sociedade em que vivemos, onde se preceitua a supervalorização da produtividade e do capital. Perder a referência do trabalho ao se aposentar, resulta em muitas dúvidas, conflitos e dificuldades para a construção de novos projetos de futuro, ainda mais se não houve preparação para essa transição. De forma simplista, o homem aposentado está na contramão do projeto social de ser trabalhador, conceito que o acompanhou durante a maior parte da vida. Embora muitos de nós fechemos os olhos para isso, acreditando que não irá acontecer conosco e com as pessoas próximas, ao nos deparamos com este momento, percebemos o quanto o rompimento com o trabalho impacta psicológica e socialmente.
O interesse das autoras pelo tema aposentadoria
tem relação direta com suas trajetórias profissionais. Destacamos a relevância de nossa formação em Psicologia, trabalhando desde o início da carreira, com jovens vestibulandos, depois com estudantes universitários em seu planejamento de carreira. Chegar ao aposentado, que deixa este mundo do trabalho, para iniciar uma nova etapa de sua vida, foi uma continuidade desta experiência. Desde o atendimento dos jovens buscamos desenvolver a ideia de projetos de futuro e constatamos sua importância também no momento de decidir pela aposentadoria.
Em nossa trajetória profissional, foi determinante a aproximação com a aposentadoria no desenvolvimento do Programa de Orientação para a Aposentadoria Aposent-Ação, projeto de extensão do Laboratório de Informação e Orientação Profissional (LIOP), do Departamento de Psicologia, da Universidade Federal de Santa Catarina, oferecido gratuitamente na região da grande Florianópolis. O Aposent-Ação é uma experiência de Orientação Profissional para Aposentadoria, por meio de reuniões grupais com pré-aposentados e recém-aposentados, objetivando promover reflexões acerca do momento de afastamento do trabalho e da profissão, compartilhar informações e experiências e, principalmente, discutir os projetos de futuro dos participantes na aposentadoria. O detalhamento desse Programa será realizado no decorrer do livro de forma descritiva e prática.
Nosso percurso como Coordenadoras dos Grupos Aposent-Ação pode ser descrito como uma vivência desafiadora, envolvente, rica em aprendizados e, em muitos momentos, inquietante pela percepção de que há muito por se estudar e desenvolver nesse campo de atuação em Psicologia.
Não poderíamos deixar de citar, as diferentes experiências pessoais e familiares das autoras com a aposentadoria que sempre motivaram reflexões. Uma de nós conviveu com uma família de professores, as mulheres professoras primárias e os homens professores de diferentes níveis, do ensino médio ao ensino superior. Para os professores, a aposentadoria vem cedo, e a falta de projetos de alguns chamou nossa atenção, pois o trabalho ocupava um lugar de destaque e de prazer em suas vidas. Deixar a sala de aula foi deixar um pouquinho de viver. A outra autora teve sua infância e adolescência vividas em uma cidade interiorana, onde a aposentadoria frequentemente se dá na agricultura. Percebeu-se que o agricultor não deixa de ser agricultor ao aposentar-se e, tampouco, deixa abruptamente de trabalhar e de ter projetos futuros. Esses aposentados, em sua maioria, continuam a realizar os cuidados com suas terras e com os animais, a planejar as colheitas e a ter relacionamentos sociais ativos. De certa forma, a aposentadoria é, simplesmente, a percepção de uma renda, pois os vínculos com o trabalho continuam a existir e os projetos de vida continuam semelhantes. A realidade do aposentado rural diferencia-se daquela apresentada nos textos de Psicologia, bem como se distancia das dificuldades de aposentar-se, presentes nos relatos dos integrantes de programas como o Aposent-Ação, por exemplo.
Ao aposentar-se recebemos o título de inativo, às vezes escrito na carteira de trabalho. O título do livro traz esta questão, da Aposentadoria para a ação, e não para a estagnação. Discutimos o estereótipo do aposentado como sujeito inativo
, improdutivo, incapaz de outras atividades. Para nós, a pessoa poderá sempre desenvolver outros afazeres, sejam eles ligados aos relacionamentos, às questões artísticas, ao voluntariado, à consultoria àquilo que sempre trabalhou, ou mesmo desenvolvendo uma nova carreira, pois está previsto que viveremos ainda uns 20 a 30 anos após a aposentadoria. Por que não escolher uma nova profissão?
Nossas vivências profissionais e pessoais propiciaram discussões inspiradoras, presentes na elaboração deste livro, embora nem tudo fosse possível escrever: o que acontece com a nossa identidade profissional ao se aposentar? Qual o lugar do aposentado em nossa sociedade? Existe um novo sentido de trabalho para quem se aposenta? Há novos projetos de futuro que transcendem o trabalho? O que fazer com todo o tempo, agora livre do trabalho formal?
Apresentaremos ao leitor uma reflexão teórica, fundamento para nossa atuação, os achados de um estudo sobre os Projetos de Futuro na Aposentadoria e, de forma bem prática, detalharemos o Programa de Orientação para Aposentadoria Aposent-Ação, seus objetivos, a estrutura, o planejamento dos encontros e os resultados de alguns grupos realizados.
Consideramos este livro indicado para profissionais que atuam ou estudam o tema Aposentadoria, nas empresas públicas e privadas, e Universidades, assim como para pessoas que vivem hoje a aposentadoria e outras que se interessam pelo tema.
Esperamos propiciar uma leitura agradável e boas reflexões!
Dulce Helena Penna Soares
Aline Bogoni Costa
Parte 1– Reflexões sobre trabalho, identidade, aposentadoria e projetos
Apresentamos um recorte teórico como referencial para os leitores sobre os temas Trabalho, Identidade, Aposentadoria e Projetos de Futuro em Psicologia. Embora esta parte divida-se em quatro títulos, estes foram construídos de forma integrada, pois entendemos cada um dos tópicos como interdependente.
Nossa abordagem teórica se ampara na concordância de que o trabalho ocupa lugar de centralidade na vida humana e, tal entendimento, justifica as dificuldades das pessoas em lidar com as mudanças, perdas e rupturas quando se aposentam.
Objetivamos esclarecer como estes conceitos apoiam a experiência de orientação para a elaboração de projetos na aposentadoria e, para isso, no decorrer do texto apresentaremos diversos exemplos, depoimentos e falas de participantes do grupo Aposent-Ação (os nomes utilizados são fictícios e estão apresentados em itálico).
1. O lugar do trabalho na vida humana
Encontrar um lugar para o trabalho na vida humana pode parecer tarefa simples, se não fossem tão complexas as relações que estabelecemos a partir dele. Vamos trazer neste tópico breves reflexões conceituais sobre o tema, fundamentais para a posterior compreensão do contexto da aposentadoria. Nossa opção, porém, é não aprofundar demasiadamente os conceitos, o que nos distanciaria da proposta deste livro e nos levaria a uma discussão de vários volumes.
Entre as categorias conceituais utilizadas para a definição de homem, entendemos o trabalho como participante em densa medida, devido a sua noção analítica histórica e dialética, por vincular-se à natureza humana e à trajetória identitária.
O homem constrói em sua mente cada um de seus projetos antes de executá-los
.
Para iniciar, retomamos, brevemente, a compreensão de trabalho para Marx, caracterizando-o como atividade exclusivamente do ser humano. Trabalhar consiste em um processo a partir do qual o homem, por sua própria ação espontânea, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza e, ao modificar a natureza por sua ação, também tem sua própria natureza (humana) modificada. O conceito de trabalho é restrito ao homem. Mesmo que uma aranha execute operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonhe o arquiteto humano com a perfeição da construção dos favos nas colmeias, o homem constrói em sua mente (consciência, imaginação) cada um de seus projetos antes de executá-los, ou seja, suas ações são dotadas de intencionalidade. (MARX, 1988)
A noção de intencionalidade permite-nos entender o trabalho como um processo civilizatório, por meio do qual o homem se distanciou dos outros primatas, construiu os seus primeiros instrumentos e perpetuou as técnicas de confecção deles. O processo civilizatório de trabalho traduz-se em atividade humana orientada para um determinado fim no intuito de produzir valores de uso, bens resultantes do intercâmbio entre o homem e a natureza. Partindo deste entendimento, o ato de trabalhar consiste na apropriação da natureza para a satisfação das necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a natureza, comum a todas as suas formas sociais (MARX, 1988).
Esclarecendo um pouco mais, se os homens diferenciam-se dos demais animais por meio do processo de trabalho, produzem sua própria vida material e, ao mesmo tempo em que modificam a natureza, também são por ela modificados, podemos dizer que a relação do homem com a natureza é dialética. O modo de produção não é estanque em si, modifica-se no correr dos séculos e, por consequência, muda o tipo de trabalho, a visão do mundo do homem e o mundo propriamente dito. Assim, mesmo que tivéssemos uma história do homem e uma história da natureza, estas não podem ser entendidas em separado, pois se relacionam direta e reciprocamente.
Cabe uma parada nesse ponto para a distinção de processo de trabalho e processo de produzir mais valia. O processo de trabalho consiste na produção de valor de uso (forma natural). É trabalho concreto, útil e qualitativo. Este expressa o metabolismo entre o homem e a natureza com finalidade de uso (valor de uso), somente tem valor pelo uso. Já o processo de trabalho com vistas à produção de mais valia (forma de valor) consiste em trabalho abstrato, onde prevalecem os valores de troca, ou seja, quando o homem troca seu trabalho por algo (remuneração ou outra mercadoria), este torna-se mercadoria de troca (MARX, 1988). Em resumo, o trabalho concreto, ao assumir a forma de trabalho abstrato, traduz-se em estranheza e distanciamento de seu criador (o trabalhador). Assim, deixa de ter valor de uso (qualitativo) e representa em si uma mercadoria (quantitativo), ou seja, a venda da força de trabalho humano para a produção de bens, muitas vezes, não conhecidos ou utilizados pelo trabalhador. Temos, então, a alienação do homem pelo seu trabalho.
A sociedade nos conhece pelo que somos no trabalho. Afinal, me digam: o que somos nós aposentados?
"Sinto que ficar sem trabalho é deixar de ter valor, assim como uma mercadoria que não conseguimos mais comprar. A sociedade nos conhece pelo que somos no trabalho. Afinal, me digam: o que somos nós aposentados?" (MARCOS)
O conceito de alienação é permeado pela compreensão de trabalho concreto e de trabalho abstrato. A alienação pode ser: da relação do trabalhador com o produto de seu trabalho quando o objetivo for alheio ao seu domínio; da relação do trabalhador com atividades que não lhe fazem sentido ou não propiciem prazer e realização; da relação do homem consigo próprio, ao afastar do subjetivo para ser genérico e seguir aos padrões que interessam à produção e, por consequência, aliena-se dos outros homens (MARX, 1993).
"O meu trabalho mudou. No início, eu me sentia mais realizado e tinha amigos de verdade no trabalho. Agora, vou trabalhar e parece que é só por obrigação. Um dia depois do outro, só isso. Agora tenho colegas e poucos amigos, porque cada um tem seu interesse de estar lá." (EMANUEL)
O trabalhador no processo de trabalho alienado é desrealizado, não se satisfazendo no trabalho, mas se degradando; não se reconhecendo, mas se negando. A atividade produtiva, dominada pela fragmentação e isolamento capitalista, na qual os homens são atomizados, não realiza adequadamente a função de mediação entre o homem e a natureza, reificando e coisificando o homem e suas relações. Dessa forma, em lugar da consciência de ser social livre e emancipado, temos o culto da privacidade, a idealização do indivíduo tomado abstratamente (ANTUNES, 2005).
A gente espera muito tempo para se aposentar e, quando chegamos perto, o desejo é contraditório.
Valorar o trabalho na sociedade atual necessita de um olhar em uma dupla dimensão. Se por um lado o trabalho emancipa, por outro também pode alienar; se tem capacidade para libertar, pode igualmente escravizar
(ANTUNES, 2006). As mudanças do setor produtivo, como a extinção de postos de trabalho, a estrutura que não absorve a todos os trabalhadores, o desemprego, entre outras facetas, não permitem a investigação da realidade sem realizar um movimento entre o todo e as partes e sem considerar a contradição como essencial
. (DIOGO e COUTINHO, 2006).
"A gente espera muito tempo para se aposentar e, quando chegamos perto, vem uma dúvida. É contraditório quando falo com minha família sobre isso. A gente se acostuma a ter trabalho fixo, a fazer uma atividade. É uma escravidão silenciosa e quando não temos mais, sentimos falta". (LUCAS)
É preciso, no entanto, ter em mente as transformações históricas pelas quais o cenário do trabalho passou e tem passado, cada vez de forma mais intensa, devido especialmente à amplitude de aplicação do conhecimento humano, do rompimento de limites geográficos, resultado da tecnologia, e da recíproca transformação de valores do homem e natureza, efeitos deste movimento. Assim, a discussão sobre a centralidade do trabalho para o homem e para a sociedade é sempre atual e polêmica. Há os que a defendem e entendem o trabalho como fundamental, ao mesmo tempo em que outros contrariam esta posição, ao preconizarem o seu fim.
Entre os que assumem a posição de concordar com a centralidade do trabalho, seguindo a concepção marxista, citamos Antunes (1995; 2005), ele discute e reafirma a importância da categoria trabalho para a sociedade atual. Já Codo (1997) trata dos significados complexos produzidos na transformação do homem e da natureza promovida pelo trabalho e das dificuldades quando do rompimento com estes significados.
Outros autores se opõem ao entendimento de que o trabalho é central para o homem. Offe (1985) entende o trabalho como não sendo mais estruturante da sociedade e norteador das relações sociais, devido à perda de sua coerência, de sua unidade, resultado da diversidade de formas com que se apresenta. Compartilha do mesmo pensamento Gorz (1987), entendendo que o trabalho adquire caráter acidental e provisório, basicamente devido à automação e à informatização, constituindo-se em trabalhadores que realizam tarefas indiferentes. Já Habermas (1983) apregoa que somente por meio da categoria de trabalho social ou da razão instrumental não é possível se especificar a forma de vida humana e essa especificação não se dá a partir de uma ontologia, mas sim de uma antropologia.
Nossa abordagem teórica é de concordar com o trabalho ocupando o lugar de centralidade na vida humana. Partimos deste entendimento para justificar as dificuldades das pessoas em lidar com as rupturas na aposentadoria.
A discussão sobre a relevância e o não-desaparecimento do trabalho é permeada pelo desafio de compreender o mosaico de forma que a classe trabalhadora atual se configura,