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Os Diamantes Azuis
Os Diamantes Azuis
Os Diamantes Azuis
E-book941 páginas8 horas

Os Diamantes Azuis

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Grande trilogia dos 3 primeiros livros da Série: Os Diamantes Azuis Livro I - Planeta Luz Livro II - O Resgate. Livro III - Luzes e Bolhas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de mai. de 2024
Os Diamantes Azuis

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    Os Diamantes Azuis - Juvenil Tomás

    JUVENIL TOMÁS

    OS DIAMANTES AZUIS

    TRILOGIA

    VOLUME I - PLANETA LUZ

    VOLUME II - O RESGATE

    VOLUME III - LUZES E BOLHAS

    1

    As primeiras e emocionantes experiências de vida em uma nova Dimensão.

    2

    ÍNDICE

    Introdução....................................................................... 04

    Episódio I – A Primeira Missão .................................... 13

    Episódio II – Planeta Luz .............................................. 31

    Episódio III – Missão Gaia ............................................163

    3

    INTRODUÇÃO

    Caríssimos (as),

    Tudo começou com o desejo de aprofundar as reflexões sobre o polêmico e intrigante tema da vida e sua continuidade após a morte terrena. Muitos pensamentos que passavam pela minha mente, conscientemente, ou mesmo em sonhos.

    Clotildes Maria de Melo, era uma mulher simples, porém de grande fé e força espiritual. Após seu falecimento comecei a sentir a necessidade de um maior aprofundamento espiritual, entender melhor e aceitar melhor as passagens da vida, nascimento, crescimento, morte e renascimento.

    Estanislau, o Tio Lau, era um homem alegre, brincalhão, bom jogador de truco, não era muito religioso, mas cultivava uma espiritualidade bastante acentuada.

    Desejo falar também de Alebh, minha sobrinha, menina religiosa, persistente, que teve sua vida tolhida aos 14 anos. Eu poderia escrever um livro somente sobre este fato, pois foi extremamente dramático. Alebh foi sequestrada nas imediações do colégio onde estudava e assassinada. Porém antes de tudo ser esclarecido passaram-se 40 dias, nos quais ela ficou desaparecida e só depois disso seu corpo foi encontrado em um matagal.

    Poderia falar do desespero e da grande angústia da família, os sobressaltos, a terrível descoberta.

    Mas não vou falar muito disso, essa é a parte triste que já passou, este livro é sobre a vida, a vida que transcende a morte como a conhecemos. Este livro é sobre a grande vida, a vida maior, a vida que supera todos os obstáculos, todos os 4

    sofrimentos, todas as decepções, a vida que nos leva a crescer como seres imortais e eternos. É um livro sobre esperança, vitória e paz.

    Flor é a avó materna de Alebh, já vivia doente e praticamente sedada há algum tempo, alternava momentos de consciência e inconsciência (Idas e vindas). Resolveu partir poucos dias após a partida de Alebh.

    E Tobias? Tobias é baseado em alguns sonhos que tive. Mas sabem aqueles sonhos que parecem muito mais que sonhos, que são tão marcantes que algum tempo depois se confundem com a realidade? Pois é, foi assim, claro que os complementei ao escrever, mas procurei ser fiel à mensagem que transmitiam.

    Luz para todos!

    Juvenil Tomás

    5

    PREFÁCIO

    Por: Benedito Pereira da Costa - Pioneiro de Brasília Bacharel em administração de empresas e pós-graduado em MBA Marketing, talentoso, profícuo e comprometido com a arte de escrever, o confrade Juvenil Tomás honra-me com o pedido para prefaciar o seu livro Os Diamantes Azuis - Volume I - Planeta

    Luz, 2ª edição.

    Dizem que a vida começa aos 40 anos. Desse modo, a sua transmite a impressão de que se iniciou há menos de duas décadas. O autor tem, portanto, estrada longa por caminhar, que, seguramente, com habilidade e perseverança, há de transpor com êxito pleno.

    Entre outras atividades, passa boa parte do tempo escrevendo: há mais de 10 anos que se dedica a essa maravilhosa tarefa.

    Natural de Piunhy (MG), reside em Brasília há 42 anos e pode ser considerado quase pioneiro da cidade, à qual brindou com os seguintes exemplares, todos campeões de leitura e de vendagem:

    ● 2012 Os Diamantes Azuis (Volume I): Planeta Luz, 1ª edição, e A Lei Universal da Atração;

    ● 2013 Os Diamantes Azuis (Volume II): O Resgate;

    ● 2015 Somos Todos Magos;

    2015 Indiguinho – O Menino Azul.

    Recentemente participei de seminário em que palestrante, de renome internacional, procurou mostrar o quanto valioso é cuidar do próprio ser. Frisou que as cirurgias plásticas não fazem milagres por si sós: beleza e forma perfeita podem vir também do espírito.

    6

    Juvenil possui rara capacidade de convencimento, e todo o compêndio tem esse mister como objetivo. A cultura do espírito é tônica dos escritos. Não faz muito, assim me dirigi a ele (por ocasião de outro lançamento e vendagem respectiva): Prezado Juvenil: na TV, assisti, ontem, às 21h, às explicações sobre o livro magnífico A Lei Universal da Atração. Conversa simples, agradável e entusiasmante. Gostei da apresentação, do começo ao fim.

    A linha é essa. Você está certo. Tudo podemos, desde que acreditemos firmemente na possibilidade de realização.

    Pensamento positivo atrai coisas positivas, pensamento negativo atrai coisas negativas. Sua colocação a respeito de saúde é real e ocorre com frequência.

    Afinal, você me convenceu e pelo que tenho acompanhado tem convencido milhares de leitores e ouvintes.

    Se me permite, gostaria de fazer algumas sugestões: a) divulgar mais os exemplares em: ● sites, rádios, TVs,

    jornais, escolas, revistas especializadas, ● associações, ●

    academias, ● sindicatos de escritores;

    b) programar matéria para o Correio Braziliense (há uma página em que os repórteres contam a história de profissionais talentosos), talvez seria conveniente contato prévio, por telefone; c) fazer palestras na rede pública (nível elementar, secundário e superior): a direção escolar dá muito apoio a essas iniciativas. No Distrito Federal, a maravilhosa Rádio Verde-Oliva, 98.7, faz algo semelhante, e com muito brilhantismo.

    Tendo em vista a grandiosidade desta obra, que espero tenha o sucesso das anteriores, e por reconhecer os méritos extraordinários de Juvenil Tomás, registro neste prefácio as 7

    palavras do meu saudoso ex-professor de português há mais de 50 anos, desembargador Romeu Jobim *, ao disciplinar sobre o valor:

    "Que vem a ser um valor? Conforme já tive ocasião de acentuar, é, precisamente, o que faz com que algo não nos seja indiferente. Inexiste, portanto, ser natural, ou fruto da elaboração humana, despido de algum valor.

    Se satisfaz a uma necessidade de natureza econômica, como um saco de batatas, por exemplo, é útil. Se consiste em um ato nobre, que pode servir de norma, na retribuição adequada de um feito meritório, ou em um pôr de sol, uma flor, um quadro ou livro que nos empolgue, diremos cuidar-se de ser com valor moral ou ético, justo e belo ou estético, respectivamente. Tais valores (existem outros mais) fazem com que os seres concretos ou abstratos a que aderem não nos sejam indiferentes.

    Sendo a província em foco a das artes (por excelência, o produto de nosso fazer, o factibile) – entre elas logo nos ocorrendo a dança, a música, a pintura, a literatura –, o valor a cogitar-se terá a denominação de belo ou estético. Sem este, a obra ou o fazer em questão é de todo indiferente e, portanto, sem existência, enquanto arte. E quando um objeto (no caso da literatura um texto) alcança o plano artístico? Diria, simplesmente, que quando esplende. Sem esplendor não há obra de arte.

    * Pioneiro de Brasília, professor, escritor, poeta, membro da Academia Brasiliense de letras e de outras tantas entidades culturais, o qual, infelizmente, nos deixou há pouco.

    8

    Deste modo, e como, em arte literária, a elaboração se processa através do texto que, de consequência, há de ostentar valor estético, afirmaria que o primeiro passo, para quem pretende alcançá-lo, é o conhecimento do idioma de que se utiliza. Esse passo o aluno já deu, faz tempo. Outro avanço, que também considero importante, sobretudo no plano da ficção, em prosa ou poesia, reside em não escrever a partir dos próprios sentimentos, enquanto tais. Entenda-se, porém, a colocação que faço.

    O que mais interessa ao leitor talvez sejam os próprios sentimentos, dito de outro modo: a paisagem que descortina de sua janela, a rua em que mora, a dor ou a alegria que sente. Assim, se optamos por escrever sobre nossas particularidades, estaremos agradando em cheio o leitor, mas só na medida em que elas, de tal forma generalizadas, coincidam com as dele. Que exemplo melhor para enfatizar isso senão o de Fernando Pessoa quando, naquele imortal poema, focaliza o rio de sua aldeia?

    Sucede que os valores são, de natureza, indemonstráveis.

    Um teorema ou um ser de feição relacional podem e devem ser demonstrados. Um valor, não. Pode, simplesmente, ser mostrado e, por isso, discutido. Qualitativos, ademais, nada obstante bipolares (belo e feio), não têm existência per se, só nos seres a que aderem e, ainda, sem dimensão quantitativa, os valores são absolutos, daí a heresia de que variem com o tempo e a época.

    Costumes e modismos é que, relativos, mudam. Valores, não."

    Neste mesmo seguimento de reflexão, cito minha inesquecível professora de Filosofia no curso Clássico de Ciências Sociais, Drª Maria do Socorro Jordão Emerenciano, a qual, no seu primeiro dia de aula, nos disse (jovens esperançosos de conseguir boas notas no vestibular):

    9

    ─ Se estiverem pensando que vim aqui para explicar como se obtém aprovação no exame para ingresso em escola de nível superior, desistam; minha matéria não cai em nenhum desses testes, no Brasil. O meu objetivo é instruir vocês como pensar e do raciocínio fazer o uso devido; principalmente, para proporcionar o bem ao ser humano e contribuir para o progresso da ciência.

    E isso ela fez: ensinou-nos a raciocinar e ter discernimento ante as dificuldades da vida. Lembro-me de que na época éramos uns 40 alunos, dos quais muitos se submeteram à rigorosa triagem, que até hoje o é. Muitos obtiveram aprovação e garantiram o ingresso em universidade. Todos com quem conversei tinham gratidão à professora pelo ensinamento primoroso que lhes dedicava.

    Assim, posso ─ com felicidade e confiança no trabalho literário de Juvenil Tomás, ainda que viajando pelo passado de mais de meio século, que me serve de apoio robusto ─ afirmar que seu futuro será grandioso; seus textos prometem muito, e a prova maior é o sucesso presente que têm tido no meio acadêmico.

    Às vezes, encontramo-nos (nem sempre com muita constância, apesar de há anos trabalharmos na mesma empresa) e pergunto-lhe: como estão os livros, Juvenil? Ele, em humildade característica dos bons profissionais e em demonstração de princípio religioso, afirma:

    ─ Vão indo bem, graças a Deus! Não me posso queixar.

    Por tudo, desejo ao meu querido companheiro das letras toda a plenitude e brilho nos projetos de literatura, com a certeza de que Os Diamantes Azuis - Volume I - Planeta Luz, 2ª edição,

    10

    de agradável e estimulante leitura, alcançará vendagem extraordinária no Brasil e no exterior.

    Os leitores que tiverem a felicidade de compulsá-lo poderão concluir que o enriquecimento cultural advindo é nobre e que o autor palmilha a estrada do infinito ─ indecifrável e maravilhoso.

    Feliz resultado, digno Juvenil. O retorno do investimento virá sem que note. Desejo passar por você daqui a alguns anos, indagar-lhe: como estão os livros? e ter alegria de ouvir a notícia (já esperada):

    ─ A obra Os Diamantes Azuis (Livro I) Planeta Luz, 2ª

    edição, seguidas tiragens experimentou, todas esgotadas.

    Prossiga, pois, garboso confrade ─ com altivez e dedicação ─ o caminho encantador da escrita e faça dele, como tem feito, mais uma das maneiras louváveis de disseminar o bem comum.

    Ab imo pectore.

    Com o abraço e a estima do

    Benedito

    11

    PLANETA LUZ

    EPISÓDIO I

    A PRIMEIRA MISSÃO.

    Tobias despertou e percebeu que, estranhamente, dormira sobre uma pedra, uma grande pedra preta que se destacava do solo, não era muito lisa, mas tinha uma bancada que se assemelhava a uma cama. Apesar daquela estranha cama, sentia-se muito bem, descansado, como se tivesse dormido confortavelmente por um bom tempo. Levantou-se e olhou em volta, era um vale muito bonito, recoberto de capim verde, entremeado de grandes e proeminentes pedras, não era grama, era uma espécie de pastagem para animais, bastante regular com mais ou menos dez centímetros de altura, só era mais alto em volta das pedras como se a emoldurá-las. Mais abaixo, após um suave declive, corria um caudaloso rio.

    Respirou fundo, sentiu o frescor da brisa e da relva que o rodeava. O ar puro, fresco e aromatizado enchia e massageava seus pulmões que se expandiam gostosamente, captando o oxigênio límpido e alimentando suas células com aquele gás benfazejo. Um pequeno arbusto ao seu lado o saudava com suaves movimentos de seus galhos. De algumas folhas pendiam brilhantes gotas de orvalho que se tornavam pequeninos sois refletindo os matutinos raios do astro rei.

    Reconheceu

    parcialmente

    aquele

    lugar,

    lembrava-se

    vagamente dele como um vale à beira de uma estrada que passava muitas vezes quando era criança e era candieiro – o guia dos bois

    - do carro de boi de seu pai.

    12

    Ops! Não tinha aquele rio ali, era apenas um grotão, algo estava diferente.

    Não se lembrava de como havia chegado ali. Olhando para o lado mais alto, viu algo parecido com uma barraca de camping bastante grande, de onde saíram duas pessoas ao seu encontro, ficou um pouco assustado, pois se trajavam de modo estranho com vestes parecidas com soldados do antigo Império Romano.

    Chegaram à pequena distância e ficaram parados, Tobias perguntou:

    — Que lugar é este? — Eles não responderam, ele insistiu:

    — Há quanto tempo estou dormindo sobre esta pedra? — Um deles finalmente respondeu: — Vinte e dois anos.

    — Vinte e dois anos? — Repetiu ele incrédulo — Isto não pode ser! Ninguém dorme vinte e dois anos, muito menos sobre uma pedra.

    Eles nada responderam. Tobias sentiu um calafrio e começou a perceber que algo muito diferente estava acontecendo, sentindo um forte tremor nas pernas, sentou-se novamente na pedra e exclamou:

    — Meu Deus! O que aconteceu? Que lugar é este?

    Reanimando-se do choque inicial aproximou-se novamente dos dois, digamos...soldados, dizendo:

    — Por favor, me digam que lugar é este? O que estou fazendo aqui?

    Eles responderam apenas: — Vá trabalhar.

    Tobias estava muito confuso e perguntou:

    — Trabalhar? Como? O que devo fazer?

    13

    Eles apenas repetiram: — Vá trabalhar.

    Ele insistia e fez inúmeras perguntas, mas os dois só respondiam aquilo — Vá trabalhar — Depois de algum tempo começaram a irritar-se e o ameaçaram com uma chibata. Então se afastou dos dois, caminhando em direção ao rio. Logo percebeu que próximo à margem havia mais pessoas, estavam ocupadas cada uma fazendo alguma coisa, umas cortavam madeiras, outras cavavam buracos. Ficou observando o que faziam e ficou ainda mais atordoado.

    Um homem descia o pequeno rio montado sobre um tronco de árvore, chegava a certa altura descia dele e subia o rio arrastando o tronco com grande dificuldade, depois subia no tronco e descia novamente até a mesma altura que descera antes e voltava a subir arrastando o tronco. Vezes sem conta descia o rio, vezes sem conta o subia novamente, por dias a fio, anos talvez.

    Outro cavava um grande buraco e em seguida cavava um segundo enchendo o primeiro com a terra deste. Parecia estar nesse ofício há bastante tempo, visto a quantidade de sinais que já deixara atrás de si. Outro ainda; carregava um punhado de madeira de um lado para outro, onde era temporariamente depositado, para logo a seguir ganhar terceiro destino, tão impermanente quanto os anteriores. Todos trabalhavam, mas de uma forma estranha, aparentemente sem objetivos, sem organização nenhuma.

    Enquanto observava, os dois soldados se aproximaram novamente e ordenaram rispidamente: — Vá trabalhar.

    Por mais que insistisse em perguntar o que deveria fazer, nada respondiam e se tornavam agressivos ameaçando-o.

    14

    Então apanhou um machado que estava disponível, aproximou-se de um homem que cortava um tronco e perguntou:

    — Posso te ajudar?

    O homem respondeu: — Se quiser pode cortar aí — Indicando onde ele deveria trabalhar. Tobias começou a cortar o tronco e os dois guardas se afastaram. Então tentou conversar com o homem:

    — Que lugar é este?

    — Não sei.

    — O que vocês estão fazendo?

    — Também não sei, só mandaram trabalhar, não explicaram nada, se alguém fica parado ameaçam castigar, se está fazendo alguma coisa, seja lá o que for, nos deixam em paz.

    — Há quanto tempo está aqui?

    — Bastante tempo.

    Tobias observou o comportamento dos guardas e dos trabalhadores. Se alguém ficava parado era ameaçado e instigado a trabalhar, porém não se dava nenhuma orientação nem exigência quanto ao trabalho, podia-se fazer qualquer coisa, desde que estivesse em atividade.

    Ao fim do dia acenderam uma pequena fogueira ao centro do local onde estavam e adormeceram ali mesmo.

    Tentou conversar com alguns que demoraram um pouco mais a dormir, mas não obteve nenhuma informação importante, todos estavam atordoados, não sabiam onde estavam, nem o que estavam fazendo. Já haviam entendido apenas que deveriam estar em atividade, fazendo alguma coisa.

    15

    Entre tantas coisas estranhas e não explicadas, estava o fato de não sentirem fome, lembrou-se que não comera nada durante o dia, observou que alguns comeram algumas frutas, também não sentia sono, porém deitou-se e ficou observando as estrelas e exclamou:

    — Meu Deus! Alguma coisa muito forte, muito significativa aconteceu, será que é o que estou pensando?

    Depois de algum tempo, acabou adormecendo.

    No dia seguinte resolveu começar nova atividade, junto com novo parceiro, pegou uma escavadeira e começou a cavar um buraco próximo ao homem que observara no dia anterior, tentando conversar com ele:

    — Qual é seu nome, meu caro?

    — Carlos.

    — Você sabe que lugar é este? O que estamos fazendo aqui?

    Sem parar de cavar, Carlos respondeu:

    — Não temos certeza de nada, ninguém explica nada. Mas você já ouviu aquela expressão passar desta para melhor, subir para o andar de cima ou algo parecido? Acho que foi o que aconteceu conosco, meu caro.

    Sentiu um grande tremor, suas pernas fraquejaram, ele caiu de joelhos e começou a chorar. Já tivera aquele pressentimento antes e agora era praticamente confirmado pela observação do companheiro. Carlos o amparou dizendo:

    — Calma! Não tenho certeza de nada.

    16

    — Mas eu acho que você está certo, isto aqui é muito diferente de tudo que já vi. Nós não sentimos fome, já vi alguns comendo frutas, mas parece ser mais por hábito.

    — É verdade! Eu também como às vezes, sinto o sabor, são muito boas, mas acho que se não comer também não me fará falta.

    Então mudou um pouco a conversa:

    — Carlos, se realmente estamos em um novo estágio da nossa vida e estamos aqui, deve haver algum propósito.

    — É muito estranho, ninguém nos orienta, já estou aqui há bastante tempo e outros há mais tempo ainda e não sabemos o que fazer.

    Durante o restante do dia ele pensou muito, tentando entender o que estava acontecendo e, principalmente, no propósito daquele grupo estar ali. Comeu algumas frutas, eram realmente muito saborosas.

    À noite os guardas se afastavam e eles ficavam mais à vontade, podiam conversar ou dormir se quisessem. Tobias se aproximou daquele homem que vira descendo e subindo o rio diversas vezes, com o tronco de madeira:

    — Como é o seu nome?

    — João.

    Fez todas as perguntas de praxe, João também nada sabia, mas não desconfiava que pudesse ter morrido, achava que aquilo era uma prisão.

    — Se isto é uma prisão, por que ninguém tenta fugir?

    João começou a chorar e falou com a voz embargada: 17

    — É horrível! - E por pouco não conseguia prosseguir, Tobias aguardou um pouco e perguntou:

    — O que é horrível? — João enxugando os olhos prosseguiu:

    — Eu já tentei fugir. Cara, é uma coisa horrível, surge uma grande escuridão e um grande medo e sentimentos de horror se apoderam da gente.

    — Da gente? Havia muitos?

    — Eu tentei sozinho, outros já tentaram em grupos, todos dizem a mesma coisa.

    Tobias ficou novamente sozinho. Andou pelo acampamento observando. O acampamento era iluminado pela luz da pequena fogueira e muitos dormiam em volta dela. Começou a distanciar-se da luz, não tinha a intenção de fugir, mas apenas de verificar as informações de João. À medida que avançava a escuridão se tornava mais intensa, a vegetação mais fechada e agressiva com densos espinheiros. De súbito surge um grande temor de não conseguir mais voltar, a fogueira parecia ter se distanciado repentinamente e era um pequeno ponto de luz longínquo em meio a grande escuridão.

    Tentando voltar, percebeu que estava dentro de um espinheiro e a fugidia luz da pequena fogueira era de parca valia, a escuridão era assombrosa. Começou a rezar fervorosamente e pensou: —

    Tenho que me acalmar, senão não consigo sair deste espinheiro

    — com muito cuidado e movimentando-se aos poucos foi livrando-se do espinheiro esgueirando em direção à fogueira. Ao retornar percebeu que estava com diversos arranhões e sentia algum incômodo como se fosse dor, mas era uma dor diferente.

    Todos já dormiam, ele deitou-se e ficou contemplando as estrelas, o céu estava limpo e lindamente coroado de estrelas brilhantes.

    Procurando mais atenciosamente não conseguiu identificar 18

    nenhuma das constelações conhecidas.

    A noite foi longa, não conseguiu dormir, pensou muito e tomou uma decisão, que poria em prática logo que amanhecesse.

    O dia amanheceu nublado, mas as nuvens não eram muito espessas, havia algumas fendas por onde entranhavam reluzentes raios de sol que se estendiam longamente pelo horizonte, como se fossem os dedos de Deus abraçando e aquecendo a terra.

    Tobias aproximou-se de Carlos e disse:

    — Carlos! Quero fazer algumas coisas e preciso da sua ajuda.

    — Minha ajuda? Nunca vi isto por aqui, porém, desde que não me complique com os guardas, tudo bem.

    — Não vai lhe complicar, você continuará fazendo a mesma coisa, só que cavará os buracos nos lugares que eu indicar e os deixará abertos.

    — Tudo bem.

    Tobias pegou uma vara de madeira mediu dez palmos, o que dava aproximadamente dois metros, escolheu o primeiro ponto e traçou uma linha imaginária perpendicular ao rio passando ligeiramente acima do local da fogueira. Pediu a Carlos:

    — Marque o primeiro ponto aqui. - Depois caminhou pela linha imaginária medindo 20 metros e pediu que marcasse o segundo ponto. Voltando pela linha marcou um ponto a cada 2

    metros perfeitamente alinhados entre o dois pontos extremos, então disse a Carlos:

    — Para cada sinal que marcamos, preciso que você cave um buraco de aproximadamente um metro de profundidade por quarenta centímetros de largura.

    19

    Carlos procurou com os olhos identificar os guardas que permaneciam a certa distância sem interferir e respondeu:

    — Se aqueles lá não me perturbarem; tudo bem.

    — Também não tenho certeza, comece e vamos ver o que acontece. Monte uma pequena equipe e faça dez linhas de buracos iguais a essa.

    Desceu ao rio e procurou João:

    — João! Notei que você gosta de trabalhar com madeira e está há muito tempo transportando este tronco. Preciso de sua ajuda para fazer um trabalho um pouco diferente.

    — Que trabalho é este?

    — É o seguinte: você deverá convidar mais dez pessoas, subirem um pouco mais pela margem do rio até a floresta, selecionar árvores de porte médio, com troncos de aproximadamente quarenta centímetros de diâmetro, cortá-los com altura de quatro metros, descer pelo rio e arrastá-los até próximo ao local da fogueira.

    — De quantos troncos você precisa?

    De pronto fez algumas contas mentais: - São cem só para os esteios, depois o piso e as paredes - e respondeu:

    — Aproximadamente mil troncos.

    — É muita madeira! Para que tudo isso?

    — Precisamos construir algo.

    — Apenas dez pessoas para fazer tudo isso, levaremos um bom tempo.

    — Você tem algum outro compromisso agendado? —

    Perguntou sorrindo.

    20

    — Nenhum! — Respondeu João, já se afastando em direção a um pequeno grupo de pessoas que se aproximava do rio.

    Ao retornar do rio, absorto em seus pensamentos, pensando no próximo grupo que deveria convidar, encontrou os dois guardas plantados bem a sua frente. Ergueu os olhos, os dois o olhavam com cara de poucos amigos. Um deles disse:

    — Você precisa trabalhar.

    — Mas é exatamente o que estou fazendo.

    — Não brinque comigo, não vejo você cavando ou cortando nada.

    — Não estou brincando meu caro, estou organizando algumas coisas, isto se chama administração e é um trabalho.

    O guarda meneou a cabeça em sinal de discordância e ia dizer algo, mas o outro o interrompeu:

    — Espere talvez ele tenha razão. As ordens são para que eles estejam em atividade e ele está em atividade.

    — Mas acho que isto não é um trabalho — insistiu o primeiro.

    — Cuidado, posso processá-lo junto ao Conselho de Administração.

    Os dois ficaram confusos, o segundo decidiu:

    — Vamos conversar com o Arcanjo — E afastaram-se rapidamente.

    — Arcanjo? — Sentiu novamente um tremor e ficou por alguns segundos meio desnorteado. Depois respirou fundo e disse para si mesmo:

    — Bem! Vamos em frente.

    21

    Tentando superar o turbilhão mental que quase o paralisa, começou a correr ladeira acima. Mais uma surpresa! A cada passo mais forte que dava, seu corpo subia quase volitando no ar e demorando bem mais que o normal para voltar novamente ao chão. Lembrou-se do andar dos astronautas na lua, com pouca gravidade eles brincavam andando em grandes passos ou mesmo em saltos. Suspirou e pensou: - Novidades, novidades e mais novidades.

    Subiu, correndo, a pequena ladeira até próximo à fogueira e procurou Manoel, aquele homem que gostava de cortar madeira e ainda arfante, mais pela emoção que pelo cansaço, falou:

    — Manoel! Gostaria de ajudar-me a fazer um trabalho?

    — Que trabalho é esse?

    — Ao invés de ficar cortando madeira desorganizadamente, quero que você faça algo organizado. A equipe do João trará os troncos, reúna você também uma equipe, separe 100 troncos que ficarão inteiros e servirão como esteios, os demais vocês abrirão ao meio, alisando-os o melhor possível, para que pareçam tábuas.

    Pode fazer isto?

    — Claro que sim, mas por quê?

    — Precisamos fazer algo, você entenderá depois.

    — Tudo bem. — Respondeu Manoel.

    Por vários dias seguidos Tobias organizou várias equipes, encarregadas de diversas tarefas. Àquelas três já formadas, juntaram-se várias outras e o projeto começou a tomar forma.

    A princípio os trabalhadores não entendiam muito bem o que estava acontecendo e não davam muita importância àquelas atividades, trabalhando ainda apáticos como antes. Mas à medida 22

    que as equipes foram se entrosando e criando padrões de trabalho organizado e cooperativo, muitos foram se animando e trabalhavam mais felizes e até alguns sorrisos e risos, bem raros anteriormente, começaram a ser vistos e ouvidos naquele vale.

    Além do trabalho em si, organizou algumas outras atividades, tais como o momento próximo ao meio-dia, quando todos se reuniam para uma pequena confraternização, alimentavam-se com frutas, conversavam e ele explicava o que estavam fazendo.

    Outra atividade que trouxe bastante aproximação e conforto entre eles foi o momento de oração e meditação, à noite. Todos eram convidados, mas logicamente não era obrigatória a participação, alguns não tinham o hábito de rezar e, a princípio não se sentiam muito confortáveis, mas aos poucos foram adaptando-se e integrando-se mais ao grupo.

    Alguns meses depois.

    Os dois guardas saíram da cabana, logo pela manhã e caminhavam descontraídos em direção ao local que iam diariamente e ficavam observando os trabalhadores, de repente levaram um grande susto. Enfileirados à sua frente estavam todos os trabalhadores parados.

    — O que está acontecendo? Por que estão parados? Vão trabalhar!

    Tobias se adiantou um pouco dos demais e disse:

    — Não vamos mais.

    Os dois se assustaram mais ainda. Um deles disse afobadamente:

    — Serão chicoteados!

    23

    — Todos nós? — Perguntou, apontando as centenas de trabalhadores.

    Percebendo a perplexidade dos guardas, os tranquilizou:

    — Não se preocupem, está pronto.

    — Pronto? O que é que está pronto?

    Percebendo que era uma situação inusitada, para a qual não estavam preparados para lidar, o segundo guarda puxou o primeiro e disse:

    — Vamos chamar o Arcanjo — E saíram apressadamente em direção à grande barraca.

    De onde estavam viam apenas a lateral da barraca. Viam apenas os vultos em seu interior e perceberam que houve uma grande agitação, alguém se vestia e colocava complementos apressadamente.

    Logo saíram da barraca, só que desta vez os dois já conhecidos eram acompanhados de um terceiro, que parecia ser o chefe deles.

    Vestia uma armadura semelhante à dos dois, só que mais requintada e brilhante, um grande capacete e uma grande espada.

    Dirigiu-se energicamente a Tobias, que permanecia à frente dos demais trabalhadores:

    — O que está acontecendo aqui? Por que estão parados?

    Tobias dirigiu-se a ele respeitosamente:

    — Está pronto senhor!

    — Pronto? O que é que está pronto?

    Ele indicou com a mão direita:

    24

    — Veja o senhor mesmo — Passando apressadamente entre os trabalhadores, logo o chefe dos guardas parou admirado, via uma linda cabana construída de madeira. Andou em volta dela e observou os detalhes. Foi construído um piso elevado, com os troncos abertos e alisados, formando um belo piso de madeira, as paredes foram construídas da mesma forma, a cobertura foi feita com folhas de palmeiras cuidadosamente amarradas.

    O chefe da guarda retirou do bolso algo que parecia uma agenda e começou a consultar, em seguida tirou seu capacete, jogou de lado e disse:

    — Não estava previsto para acontecer agora! Mas realmente

    — elevando bastante a voz gritou:

    — ESTÁ PRONTO!

    Ao ouvirem o grito, os trabalhadores foram tomados de grande alegria, começaram a gritar e comemorar, abraçavam-se e se cumprimentavam. Alguns pareciam estar mais conscientes do ocorrido, outros não entendiam, mas acabavam deixando-se levar pela energia e espírito de felicidade dos outros.

    Enquanto os trabalhadores comemoravam os guardas foram retirando suas armaduras e deixando conhecer sua verdadeira identidade. Quando tiraram as armaduras, tornaram-se translúcidos, brilhantes e luminosos como algo celestial. Agora não havia mais dúvidas, eram três anjos.

    Os trabalhadores se reuniram em volta deles e se ajoelharam rezaram e pediram que explicassem o que estava acontecendo. O

    arcanjo explicou:

    — Este é um lugar de purificação. Vocês todos são vitoriosos, foram agraciados com a possibilidade de caminhar para o Paraíso, porém ainda não estão prontos para Ele e devem cumprir algumas 25

    missões, acostumarem-se com novas realidades, antes de poderem ser encaminhados ao Paraíso.

    Os trabalhadores comemoraram novamente. Um deles perguntou:

    — Senhor, o que faremos agora?

    — A tarefa de vocês era trabalhar organizadamente para fazer algo útil, poderia ser qualquer coisa: um barco, uma ponte sobre o rio, etc. Fizeram uma casa, ficou muito bonita e eu considerei a missão cumprida. Terminaram bem antes do prazo estipulado, vocês ainda teriam vinte e dois anos para concluir. Portanto, nestes vinte e dois anos vocês podem escolher: voltar a dormir ou cumprir outras missões.

    Quase todos responderam:

    — Queremos outras missões — E alguém comentou:

    — Com a experiência que adquirimos aqui, será mais fácil cumprir as próximas.

    O arcanjo voltou a explicar:

    — Não encontrarão os mesmos desafios, cada um é diferente e para homogeneizar os conhecimentos vocês não se lembrarão que estiveram aqui. Estarão juntos com pessoas diferentes, que vieram de diversos lugares e diversas fases de purificação, mas pensarão que é a primeira missão e todos serão iguais enquanto trabalham.

    Outro trabalhador questionou:

    — Assim perdemos tempo, tendo que começar sempre de novo, se levássemos a experiência, poderíamos concluir os trabalhos em menos tempo — O Arcanjo respondeu: 26

    — Outra coisa que aprenderão é que o tempo aqui não é contado como conhecem e não é o mais importante, o mais importante é a evolução.

    Outro ainda perguntou:

    — Então para onde iremos agora?

    — Isto eu não sei, meu trabalho com vocês termina aqui, mas vocês poderão subir esta montanha e descobrirão. Se quiserem poderão descansar na casa de vocês por algum tempo, depois partem. Mas antes de partir tenho ainda uma surpresa para vocês, como eu disse antes, em um grupo como este há pessoas com diversos níveis de purificação e há alguns entre vocês que concluíram, com esta missão, a sua purificação e seguirão comigo para o Paraíso.

    Houve uma grande comoção entre os trabalhadores e uma grande curiosidade para saber quem eram.

    — Isto nem eu sei ainda, somente a Deus é conhecido.

    Precisamos de um momento de muita concentração e oração agora, peço que todos se ajoelhem e vamos orar fervorosamente a Deus, para que Ele nos indique os purificados. Ajoelharam-se e o Arcanjo rezou:

    — Deus pai todo poderoso criador do Céu e da Terra, nós vos oferecemos, neste momento, este nosso trabalho, que ele seja aceito por Vós como prova de nossa dedicação e amor na construção do nosso caminho para a Glória eterna. E, se é de vosso agrado que alguns dos fiéis que ora terminam este trabalho sejam conduzidos a Vossa presença, que nos indique seus escolhidos.

    Houve um grande silêncio e todos permaneciam em oração profundamente concentrados. Depois de alguns minutos começou 27

    a ouvir-se alguns soluços entre os trabalhadores, como alguém que começasse a chorar. Dentre os trabalhadores alguns começaram a transfigurar-se, eram seis no total, suas vestes ficaram alvas e eles brilhavam, então houve uma grande comoção e todos queriam abraçá-los.

    Depois de muita comemoração e cumprimentos, os seis foram carregados até a presença dos anjos, que também os abraçaram e disseram:

    — Bem-vindos, benditos filhos de Deus para o Paraíso que foi preparado para vocês.

    Então os nove, dando adeus aos demais trabalhadores, se retiraram abraçados.

    Houve certa desolação entre os que ficaram, foi muita emoção naquela manhã. Combinaram que descansariam por alguns dias e depois também partiriam.

    Algumas semanas depois alguns acharam que já era hora de partir, reuniram um pequeno grupo, entre eles estava Tobias. No dia combinado para partir, ele acordou bem cedo para participar da última alvorada naquele vale, ainda no lusco-fusco da madrugada. Observava tudo, o frio e brilhante orvalho que cobria a relva e os arbustos, a bruma fumegante que subia do rio e envolvia as árvores e a cabana formando um ambiente tão fantástico que fustigava sua alma com sentimentos tão agudos que transcendiam a razão, não lhe era possível identificar sua natureza. Ajoelhou-se, molhou as mãos no fresco orvalho e levou ao rosto, amalgamando aquela água límpida e divina com suas humanas e latejantes lágrimas que brotavam abundantes.

    Depois daquele momento de contemplação e adoração, reuniu seu grupo e começaram a subir a montanha, do alto dela avistaram 28

    dois enormes vales e muitas comunidades cada uma com uma incumbência a cumprir.

    Caminharam um pouco mais e encontraram uma linha de trem de ferro, seguindo a linha, pouco mais à frente chegaram uma pequena estação; aguardaram nela por algum tempo e logo viram um trem aproximando-se e parando suavemente à frente deles.

    Embarcaram e o trem partiu, movia-se com tanta suavidade que parecia flutuar. Um intenso sono apoderou-se deles e em pouco tempo todos adormeceram.

    29

    EPISÓDIO II

    PLANETA LUZ

    Este livro está estruturado em Episódios, no formato de uma Série.

    Embora com certa independência os Episódios vão se interligando logicamente, com o decorrer da história.

    Este Episódio I é um pouco mais longo e, por sua vez, está dividido em capítulos.

    30

    CAPÍTULO I

    A TRAVESSIA

    Era um lindo vale, cortado ao meio por um rio de água muito limpa, que nascia em uma montanha e descia formando poços e cascatas; ladeado por duas grandes montanhas. Mais abaixo as montanhas se aproximavam, afunilando o vale e apertando o rio que se precipitava em uma grande cachoeira.

    O vale era muito bonito e extenso, abrigando Ales porções de planícies entre as margens do rio e as montanhas, ricamente aquinhoado de vegetação: plantas e flores. Entre as plantas, muitas e variadas, espécies frutíferas. O único fator de desconforto era que, uma observação mais atenta não revelava nenhuma saída dele, parecia bastante isolado em relação à parte externa.

    Eram ao todo doze mulheres que viviam ali, haviam erguido algumas cabanas para se abrigarem, alimentavam-se de frutas.

    Eram quase todas idosas e viviam em harmonia, exceto três delas que pareciam um tanto inquietas com a vida no vale e de vez em quando brigavam.

    Clotildes era uma senhora de aproximadamente setenta anos, não sabia há quanto tempo estava ali, nem como chegara. Quando ela chegou já encontrou algumas; outras chegaram depois. Agora fazia bastante tempo que não chegava mais ninguém, ela sentia que não mais chegariam e, seja lá o que fosse aquele grupo, ele estava completo.

    Ela conhecia bem as plantas, conhecia muito bem e utilizava as ervas medicinais, para si mesma e para as outras, fazendo vários tipos de chás e caldos, muito reconfortantes e 31

    restauradores. Ultimamente estava mais atenta e andava bastante, observando o vale, primeiramente sozinha, depois convidava outras mulheres para andar e observar.

    O vale era bastante grande e não faltava nada para elas, aparentemente

    poderiam

    ficar

    ali

    por

    muito

    tempo

    tranquilamente, mas algumas se inquietavam e reclamavam querendo sair, mas não sabiam como.

    Clotildes chamou sua amiga Aurora para conversar:

    — Aurora! Nós estamos aqui há bastante tempo, mas de algum tempo para cá, estou sentindo algo diferente, as mulheres estão inquietas, mais agressivas.

    — Eu também tenho observado isso -- respondeu Aurora -

    Tenho conversado com elas, tentando acalmá-las e ao mesmo tempo saber o que as incomoda, mas não tive muitas respostas.

    — Vamos fazer o seguinte: vamos convidar todas para conversarmos juntas.

    Marcaram para aquela tarde à margem do rio em uma pequena praia tranquila, entrecortada de pedras. Todas se fizeram presentes e começou a reunião.

    Clotildes explicou ao grupo o motivo da reunião, conforme já havia exposto a Aurora e outras concordaram, dizendo compartilhar o mesmo sentimento.

    — Temos que sair daqui -- exclamou Guida, um pouco exaltada. Houve um momento de silêncio, como se todas avaliassem sinceramente aquela afirmação.

    Vera ponderou: — Sair por quê? Temos tudo aqui, o vale é grande, nada nos ameaça.

    — Está faltando alguma coisa - completou Ada. Aurora 32

    argumentou:

    — Creio que estamos um pouco confusas, mas o importante é que tenhamos calma e, se vamos fazer alguma coisa, temos que ter união e fazermos juntas.

    Depois de conversarem por muito tempo, concluíram que precisavam conhecer melhor o vale e identificar possíveis saídas.

    Formaram quatro grupos de três mulheres cada. O primeiro seguiu o curso do rio rumo à nascente, o segundo seguiu rumo à foz, o terceiro para a montanha da esquerda e o quarto para a montanha da direita. Os grupos tinham a incumbência de observar detalhadamente todos os aspectos, assinalar, se encontrassem algum caminho e retornar em no máximo seis dias, para nova reunião.

    Passados seis dias todos os grupos estavam de volta, relatando suas observações. Os dois grupos que seguiram o rio tiveram mais ou menos as mesmas conclusões, era impossível segui-lo, pois a montante nascia em uma montanha íngreme, sem condições de ser escalada. O grupo que seguiu a jusante concluiu também pela impossibilidade de descê-lo, devido à grande cachoeira que se formava.

    Os grupos que exploraram as montanhas laterais, porém viram indícios de poderem vencer as montanhas. O grupo que explorou a montanha da esquerda, a qual vamos chamar de montanha A, concluiu que era possível escalá-la, embora fosse muito difícil, pois a montanha era íngreme, mas havia pontos com vegetação que poderiam servir de amparo.

    O grupo que explorou a montanha B encontrou uma grande gruta, que aparentemente atravessaria a montanha, porém não foi possível comprovar isto devido ao pouco tempo que dispunham para retornar.

    33

    O grupo deparou-se então com a primeira grande questão a resolver. Qual seria o melhor caminho? E o mais intrigante ainda, onde eles levariam? Aonde elas chegariam após cruzar uma das montanhas?

    Discutiram a questão por várias horas, sob vários aspectos, sejam os pragmáticos, da conveniência do caminho A ou B e ainda os sentimentais, com defesas de um ou outro lado, baseados nos sentimentos e pressentimentos sem, no entanto, chegar a um consenso. Cansadas, decidiram adiar a decisão para o dia seguinte.

    Nos dias seguintes conversaram muito, mas não conseguiam chegar a um consenso e o pior é que as posições começaram a radicalizar-se na defesa da opção A ou B.

    Nas conversas pelo menos uma coisa era consenso, em quaisquer das escolhas, precisariam de cordas. Uma das componentes do grupo então propôs que começassem a fazer cordas de cascas de árvores e de cipós, enquanto continuavam a explorar as possibilidades. Foi proposto também que iniciassem uma novena e que rezassem muito, pedindo a Deus que iluminasse a decisão certa.

    Vários dias depois, marcaram uma reunião onde deveria ser definido o rumo a seguir. Após muita discussão, não houve consenso e decidiram colocar as propostas em votação. O Grupo partidário da montanha B, pela gruta, foi vencedor por sete a cinco.

    Embora pertencesse ao grupo vencedor, Clotildes argumentou que aquele resultado não deveria ser considerado, pois a travessia certamente seria difícil e precisariam estar todas unidas. Guida sugeriu a formação de dois grupos que seguiriam destinos diferentes. A proposta também não foi acolhida, pois sentiam que 34

    deveriam seguir juntas.

    Considerando que duas opções já haviam sido eliminadas, tornava-se um pouco mais fácil agora explorar as duas opções restantes. Elas formaram dois grupos com seis componentes cada e desta vez teriam até um mês para explorar as montanhas A e B.

    O compromisso era voltar em no máximo um mês, mesmo que encontrassem condições favoráveis não deveriam seguir, deveriam voltar avaliar as opções e seguirem em definitivo juntas.

    Passados trinta dias, o grupo que explorou a montanha A, com a opção de escalada, voltou desanimado, não conseguiu muito progresso, depois de várias tentativas por caminhos diferentes, não conseguiu prosseguir até o alto da montanha, embora algumas componentes ainda defendessem que seria possível se fizessem outras tentativas por outros caminhos.

    As mulheres do grupo que explorou a montanha B pela gruta, também não conseguiram informações conclusivas. A gruta era escura e encontraram bastante água como se fosse um lago subterrâneo, que dificultaria a passagem, mas até onde conseguiram

    avançar

    não

    encontraram

    obstáculos

    intransponíveis, nadaram pelo lago sempre tendo o cuidado de manter uma corda atada ao ponto de partida para poderem voltar.

    Para atravessá-lo seriam necessárias tochas para iluminar o caminho e procurar saídas do outro lado.

    Discutiram bastante, analisaram as opções e colocaram novamente em votação, desta vez a montanha B ganhou por nove a três.

    Não havia mais como protelar a decisão, consideraram o processo decisório concluído, com o acatamento da decisão da maioria e no dia seguinte começaram a preparar a partida.

    Precisariam de muitas cordas e tochas, além das já prontas, 35

    fizeram muitas outras.

    Outra decisão importante que deveriam tomar era a respeito da alimentação e água que teriam que levar. Notavam que umas comiam bem mais que outras e, no entanto, não notavam grande diferença entre os resultados. Decidiram então fazer uma experiência. Durante um mês, duas das mulheres se alimentariam e beberiam normalmente, duas comeriam apenas uma fruta e beberiam um copo de água, duas comeriam uma fruta e nada beberiam duas comeriam meia fruta e meio copo de água, duas tomariam apenas um copo de água e duas nada comeriam nem beberiam.

    Cumprido o prazo e as condições, as mulheres relataram suas experiências: As que haviam comido e bebido, embora uma ração mínima, relataram que estavam bem e não sentiam nenhuma diferença em relação à alimentação normal, várias frutas e vários copos de água por dia. As que deixaram de comer ou beber, no entanto, relataram que não se sentiam bem e que embora não sentissem fome ou sede, sentiam falta da alimentação e água e estavam bastante fracas. Decidiram então

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