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Histórias curtas - Rubem Fonseca
Copyright © 2015 by Rubem Fonseca
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
F747
Fonseca, Rubem, 1925-
Histórias curtas / Rubem Fonseca. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2015.
ISBN 978-85-209-2392-4
1. Conto brasileiro. I. Título.
15-20634
CDD: 869.93
CDU: 821.134.3(81)-3
SUMÁRIO
A luta contra o preconceito racial
Coma
Devaneio
Eles
O peido
Incorpóreo
Humilhação
A preferida
O pudico
Netinho querido
Viver
O amputado
O mundo é nosso!
Jardim de flores
O reencontro
A noviça
Televisão
Andar é preciso
Bola ou búrica?
Cem anos
Regime
Olhares e sussurros
Animal de estimação
O roedor de ossos
Justiça
Atração
Suzy
Quem vê cara não vê coração
O brinco de pérola
O colecionador
O que há em um nome?
Condição insólita
Deus e o diabo
Folie à deux
Ouvir
Um bom trabalho
Hóstias
Fazer as pessoas rirem e se sentirem felizes
A LUTA CONTRA O PRECONCEITO RACIAL
Decidi que iria lutar contra essa falsa noção de que existem raças superiores. Os defensores dessa ideia acreditam que ela é uma teoria científica comprovada. Essa crença tem sido usada para toda sorte de barbaridades, escravidão, exclusão, carnificinas.
Mas o que eu podia fazer? Pensei em comprar uma metralhadora para matar racista, mas não sabia onde comprar uma metralhadora. Pensei em uma porção de coisas tolas e insensatas, mas afinal tive uma boa ideia: pichar as paredes da cidade com a frase ABAIXO O RACISMO.
Comprei várias latas de tinta, preta e vermelha, e vários pincéis. Eu tinha que escolher uma parede em que a pichação tivesse grande visibilidade, que captasse a atenção de todos os transeuntes.
Andei pela cidade procurando a melhor parede, a mais ostensiva, e quando a encontrei iniciei imediatamente o meu trabalho. Escrevi, contente, mais do que contente, feliz, muito feliz, a frase ABAIXO O RACISMO duas vezes, uma com tinta vermelha e outra com tinta preta.
Senti o meu braço sendo agarrado com força. Era um policial fardado, que disse:
O senhor está preso.
Fui colocado numa viatura e levado para um distrito policial. Lá chegando, o delegado, depois de ouvir o guarda que me detivera, me informou:
O senhor infringiu a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. O artigo 65 diz que quem pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano está sujeito à pena de detenção de três meses a um ano e multa. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, como é o seu caso, que estava pichando o monumento aos heróis brasileiros na guerra mundial, a pena é de seis meses a um ano de detenção e multa.
Resumindo o drama: um juiz me condenou a seis meses de detenção e a pagar uma multa. Mas eu paguei a multa e como tinha um bom advogado não fiquei detido um dia sequer. Já falei que o meu pai é rico? Mas ele e meu irmão só vivem pensando em remédios, só me procuram para perguntar se estou tomando os remédios, eles deviam pensar no preconceito racial, mas não querem nem saber.
Fiquei imaginando uma maneira de lutar contra esse tipo de discriminação. Afinal descobri.
A primeira que escolhi foi uma negra. Negra mesmo, retinta, lustrosa. O nome dela era Jenny. Namorei um tempo, falei frases de amor — as mulheres adoram ouvir o homem dizer eu te amo, sonho com você todas as noites, baboseiras desse tipo — e ela acabou indo para a cama comigo. Era virgem e tinha 25 anos.
Exultei quando Jenny ficou grávida. Durante os nove meses dei todo o apoio de que ela precisava. Afinal nasceu a criança, era um menino, bem mulato, cor da pele, tipo de cabelo, formato do nariz. Uma felicidade. Jenny quis que ele fosse registrado como Genilson.
Eu ia a toda parte com Jenny e Genilson, o menino num carrinho-berço, que eu mesmo empurrava. Quando cruzava com um transeunte eu dizia é meu filho
. Mas isso era pouco. Coloquei em volta do carrinho do bebê uma faixa onde se lia: ABAIXO O PRECONCEITO RACIAL.
Não sei se já disse que o meu pai é um homem muito rico, viúvo, com dois filhos, eu e o Gumercindo. Portanto, eu tinha condições econômicas de fazer uma proposta a Jenny.
Jenny, vai morar aqui com a gente uma outra mulher, com quem também vou ter um filho. Não se preocupe, vou depositar na conta que abri no banco para você esta quantia.
Mostrei um papel com a cifra.
Todo mês?
Todo mês.
Não foi fácil conseguir a índia. Claro que procurei em várias tribos. Acabei achando a minha índia, mas paguei caro por ela. (Não quero falar sobre isso.) O seu nome era Abayomi.
Abayomi e Jenny se deram muito bem. Eu dormia com as duas na mesma cama. (Não quero falar sobre isso.)
Afinal, Abayomi ficou grávida. E teve uma menina. Foi registrada com o nome de Diaurum.
Comprei um carrinho de bebê com dois lugares e saía todos os dias empurrando dois carrinhos, um deles transportava um cartaz dizendo TENHO UM FILHO DE UMA MULHER NEGRA E UMA FILHA DE UMA MULHER ÍNDIA. ABAIXO O PRECONCEITO RACIAL.
Eu estava muito feliz, ainda que um pouco cansado de passar todas as manhãs empurrando o carrinho dos bebês e o do cartaz, que era pesado. Mas o cansaço não me impedia de dizer, a todas as pessoas que passavam, são meus filhos e uma das mães é negra e a outra é índia, abaixo o preconceito racial
.
Um dia, porém, uma ambulância parou ao meu lado e de dentro dela saltaram dois enfermeiros que me pegaram pelo braço, dizendo venha conosco, não se preocupe com as crianças, venha
.
Dentro da ambulância começaram a me dar injeções que me fizeram ficar completamente abestalhado. Estou internado num hospital psiquiátrico. Fico isolado num quarto, tomando remédios. Às vezes um sujeito que diz que é meu irmão me visita e conta que tive um surto psicótico, mas que vou ficar bom.
Neste momento estou deitado, de olhos fechados, mas não estou dormindo. Ouvi a conversa dos dois médicos que estavam no meu quarto.
Ele está apresentando sintomas de depressão. Creio que deveríamos usar a eletroconvulsoterapia
, observou um deles.
Boa ideia
, concordou o outro, vamos começar o tratamento amanhã
.
Eu quero ficar bom e ir para casa. Eu tenho uma coisa para fazer. O que mesmo?
COMA
Abri os olhos e vi um sujeito de avental branco.
Bem-vindo
, disse ele.
Olhei em volta.
Onde é que eu estou?
Hospital Santa Margarida. Eu sou enfermeiro.
Hospital?
O senhor está aqui há dois meses. Em coma. Mas não se preocupe. É do governo. O senhor não vai pagar nada.
Em coma?
Dois tiros no peito. Não sei como, não... Deve ter sido assalto. Sorte, o senhor teve muita sorte.
Fiquei tentando lembrar o que teria acontecido.
Vou medir a sua pressão
, disse ele, colocando um troço no meu braço.
Depois de algum tempo informou:
Treze por nove, ótimo. Agora vou lhe dar uma pílula.
Às vezes mudava de enfermeiro, mas o cara sempre colocava um troço no meu braço.
Um dia um deles me disse:
O policial de plantão quer falar com o senhor. Quer saber como foi o assalto.
O policial era um sujeito gordo. Entrou limpando o suor do rosto com um lenço.
Esse hospital é uma merda. Obriga a gente a trabalhar de paletó e gravata. Puta que pariu!
Sentou-se numa cadeira ao lado da minha cama.
Meu nome é Aristides. O seu é José Silva, eu sei. Seu José, conte como foi o assalto.
A história saiu tão depressa que pareceu verdade.
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