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Introdução a arquitetura hospitalar
Introdução a arquitetura hospitalar
Introdução a arquitetura hospitalar
E-book321 páginas6 horas

Introdução a arquitetura hospitalar

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Sobre este e-book

A arquitetura de estabelecimentos assistenciais de saúde pode ser considerada como o melhor exemplo de funcionalidade em edificações, apresentando alta complexidade e uma dinâmica única de acompanhamento das frequentes descobertas científicas. Realizar pesquisas nesse campo sempre será um desafio, pois diversos conceitos funcionais modificam-se rapidamente, tornando-se antiquados, além de haver as habituais atualizações e alterações de normas. As revisões das pesquisas na área das edificações para saúde, portanto, tornam-se obrigatórias.

A segunda edição de Introdução à Arquitetura Hospitalar tem o principal objetivo de incorporar visões atualizadas sobre os temas tratados, mantendo sua função de primeiro contato com a área para estudantes e arquitetos interessados.
IdiomaPortuguês
EditoraRio Books
Data de lançamento28 de nov. de 2023
ISBN9788594971104
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    Introdução a arquitetura hospitalar - Antônio Pedro Alves de Carvalho

    Antônio Pedro Alves de Carvalho

    INTRODUÇÃO À

    ARQUITETURA HOSPITALAR

    2a Edição

    Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar

    São Paulo – 2022

    Ilustrações trabalhadas pelo Grupo de Estudos em Arquitetura

    e Engenharia Hospitalar da Universidade Federal da Bahia – GEA-hosp

    ©Antônio Pedro Alves de Carvalho

    Projeto gráfico e diagramação: Bocca Editora

    Capa: Hospital Lariboisiere, Paris

    Coordenação Editorial

    Denise Corrêa e Daverson Guimarães

    Produção Gráfica

    Maristela Carneiro e Denise Corrêa.

    Produção do ebook

    Jair Domingos de Sousa

    ABDEH – Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar

    End: Av. Marquês de São Vicente, 446, Sala 301 01139-000 – Barra Funda, São Paulo - SP

    www.abdeh.org.br

    CONSELHO EDITORIAL

    Coordenação Prof. Dr. Antônio Pedro de Carvalho

    Membros

    Profª. Dra. Claudia Miguez

    Profª. Esp. Doris Vilas-Boas

    Prof. Dr. Fabio Bitencourt

    Profª. Dra. Elza Costeira

    Prof. Esp. João Carlos Bross

    Prof. MSc Márcio Nascimento de Oliveira

    Rio Books

    Av. Jarbas de Carvalho, 1733, 101 – Recreio dos Bandeirantes Rio de Janeiro – RJ

    CEP 22795-445

    Tel. (21) 99312-7220 [email protected] www.riobooks.com.br

    Apresentação à 2ª edição

    A arquitetura de estabelecimentos assistenciais de saúde pode ser considerada como o melhor exemplo de funcionalidade em edificações, apresentando alta complexidade e uma dinâmica única de acompanhamento das frequentes descobertas científicas. Realizar pesquisas nesse campo sempre será um desafio, pois diversos conceitos funcionais modificam-se rapidamente, tornando-se antiquados, além de haver as habituais atualizações e alterações de normas. As revisões das pesquisas na área das edificações para saúde, portanto, tornam-se obrigatórias.

    A segunda edição de Introdução à Arquitetura Hospitalar tem o principal objetivo de incorporar visões atualizadas sobre os temas tratados, mantendo sua função de primeiro contato com a área para estudantes e arquitetos interessados. A estrutura da obra foi mantida, com capítulo inicial tratando da história e generalidades sobre a arquitetura hospitalar. Nele, defende-se que a evolução da arquitetura hospitalar demonstra a influência dos tipos de tratamentos de saúde nas tipologias arquitetônicas. A adoção inicial da forma hospitalar em nave, que se constituía em um grande galpão, onde se colocavam doentes de diversos tipos, demonstra claramente o papel segregador da instituição na época. Apenas se procurava abrigar os marginalizados da sociedade, de modo a retirar mendigos das ruas, como até hoje se faz.

    O surgimento da tipologia pavilhonar é colocado como um reflexo do início da função do hospital como local de cura, marcando uma clara inflexão no tratamento dos doentes. Da mesma forma, a posterior verticalização do edifício, no início do século XX, indicadora do desenvolvimento técnico provocado pela adoção da estrutura metálica e de elevadores, representa o domínio da tecnologia como paradigma da medicina.

    Os estabelecimentos de saúde têm no hospital seu modelo mais completo, a síntese de todos os serviços possíveis. Estudando-se o hospital tem-se o domínio do que há de mais simples e mais complexo na área dos cuidados de saúde. Em relação ao privilégio da função no projeto hospitalar, observa-se que este se constitui num instrumento didático por excelência, proporcionando ao arquiteto o exercício de uma metodologia passível de ser aplicada em outros edifícios complexos.

    No campo dos projetos de saúde, as diversas técnicas e métodos de auxílio utilizados devem ser corretamente dominados, para a execução de trabalhos minimamente satisfatórios. Como exemplo dessas técnicas, são citadas as visitas a edifícios semelhantes, nas suas diversas formas, a relação entre os espaços, a avaliação pós-projeto (APP), a avaliação pós-ocupação (APO), as consultorias, a checagem de normas, as maquetes virtuais, as entrevistas, os questionários, a realidade virtual, o projeto participativo, também chamado de codesign, a pesquisa bibliográfica, fotos e filmes, enfim, diversos instrumentos que podem ser adotados como auxiliares na chamada programação arquitetônica.

    Dentre as técnicas de auxílio ao projeto arquitetônico mais utilizadas, podem-se destacar, o pré-dimensionamento, a setorização e os fluxogramas. Os pré-dimensionamentos são básicos por necessitarem de levantamentos de mobiliário, pessoal e forma de execução dos serviços que serão executados no espaço estudado. Este instrumento, bem executado, garantirá as dimensões mínimas e ideais dos espaços para as atividades de saúde. Necessita, ainda, de uma listagem de equipamentos e mobiliário, que auxiliará o empreendimento em outras fases, como em relação aos projetos de instalações, no levantamento de custos e compra de materiais, além da própria contratação de pessoal.

    A setorização também se constitui em tarefa essencial para o projeto arquitetônico de saúde, principalmente por buscar agrupar os espaços relacionados, garantindo a essencial proximidade das tarefas. Tal procedimento também terá reflexo nos projetos complementares e, mesmo, na administração do estabelecimento. Os fluxogramas se constituem em ferramentas essenciais na determinação das circulações internas das unidades funcionais e em suas interligações. Prever os trajetos de pacientes, funcionários, visitantes e outros usuários dará ao projetista a necessária visão de conjunto do sistema a ser edificado, o que permitirá a definição do partido arquitetônico mais adequado à compreensão de suas interconexões. A gestão de projetos hospitalares necessita das informações de todos os participantes, utilizando-se da informática e formas diversas de controle, que são continuamente atualizadas. A programação arquitetônica é tratada ressaltando-se a necessidade de uma metodologia clara na confecção do projeto hospitalar.

    O quarto capítulo mantém o enfoque teórico e prático, com diversos exemplos das principais unidades funcionais de um hospital, procurando fornecer material de consulta para aqueles que iniciam o contato com esse tipo de projeto. As unidades funcionais dos hospitais são colocadas em seus programas mais comuns, tendo sua própria lógica de fluxos internos. A adoção, nos hospitais, do apoio centralizado, provoca economia de escala, sensível não somente em relação ao consumo energético e de insumos como de custos administrativos. Essa economia possui limites dados pelas dificuldades gerenciais impostas quando o empreendimento atinge certo porte. Destaca-se, ainda, a capacidade dos hospitais em financiar pesquisas, além de adquirir e manter produtos de intenso conteúdo tecnológico.

    Em relação às tendências de evolução da arquitetura de estabelecimentos de saúde, destaca-se o papel do tratamento de saúde como tarefa interdisciplinar. Ressalta-se a questão do controle de infecção, fator de vital importância nos dias atuais de ocorrências de pandemias e doenças infecciosas diversas em grandes centros urbanos. A atualização normativa e de referências deve ser pontuada, pois servirá para aprofundamentos de pesquisadores e estudantes de maneira geral, podendo-se, através das referências indicadas, orientar os desenvolvimentos mais aprofundados sobre cada tema tratado.

    A questão ambiental também é ressaltada, pois atinge o hospital de forma particularmente severa, por este ser um equipamento grande consumidor de energia e gerador de resíduos. A saída para essa situação parece ser, paradoxalmente, uma forma de diminuição do atendimento hospitalar, a desospitalização. Essa tendência administrativa, no entanto, longe de provocar o declínio do papel do hospital, o tem transformado em equipamentos de emergência, ainda mais necessários, como foi demonstrado pela escassez de UTI durante a covid-19.

    Ao apresentar a segunda edição dessa obra, não se pode deixar de registrar os agradecimentos ao Grupo de Estudos em Arquitetura e Engenharia Hospitalar (GEA-hosp) e à Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (ABDEH), sem os quais esta publicação seria impossível.

    Antônio Pedro Alves de Carvalho

    Sumário

    1 A ARQUITETURA PARA A SAÚDE: evolução e metodologia

    1.1 Evolução da Arquitetura para a Saúde

    1.2 A Metodologia de Confecção de Projetos Arquitetônicos Complexos

    2 PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA

    2.1 Técnicas de programação

    2.2 Proposição

    2.3 Avaliações

    3 GESTÃO DE PROJETOS

    3.1 Fatores Intervenientes na Gestão de Projetos Hospitalares

    3.2 Plano Diretor Hospitalar

    3.3 Coordenação de Projetos

    4 O PROJETO ARQUITETÔNICO

    4.1 Implantação

    4.2 Atendimento Ambulatorial

    4.3 Internação

    4.4 Atendimento Imediato

    4.5 Centro Cirúrgico

    4.6 Imagenologia

    4.7 Medicina Nuclear

    4.8 Patologia Clínica

    4.9 Apoio

    5 TENDÊNCIAS E INDICAÇÕES DE EVOLUÇÃO

    REFERÊNCIAS

    O AUTOR

    Índice de figuras

    1.1.1 Representação artística do Templo Asclepieion de Kos durante a época helenística

    1.1.2 Esquema de valetudinária romana

    1.1.3 O hospital da Santa Cruz de Barcelona, demonstrando a evolução do partido em nave para o claustro por ampliações sucessivas

    1.1.4 Área hospitalar da Abadia de Saint Gall

    1.1.5 Hospital de Toledo, do arquiteto Enriques Egas. Exemplo de Sistema Radial

    1.1.6 O típico sistema em pavilhão: o hospital Lariboisiere

    1.1.7 Vista do hospital Lariboisiere em 2009

    1.1.8 Esquema da enfermaria Nightingale

    1.2.1 Esquema simplificado de um sistema de saúde hierarquizado, baseado na teoria das localidades centrais de Christaller (1966)

    1.2.2 Esquematização dos centros de módulos assistenciais de saúde no estado de Alagoas

    2.1.1 Exemplo de estudos de evidências do terreno com análise de declividades e visuais

    2.1.2 Atribuições dos estabelecimentos de saúde

    2.1.3 Exemplo de pré-dimensionamento tridimensional de sala de parto

    2.1.4 Gráfico de relação funcional

    2.1.5 Fluxograma de uma unidade de atendimento imediato

    2.1.6 Exemplo de matriz de inter-relações e o grafo resultante, considerando os setores de um hospital

    2.1.7 Exemplo de estudos de zoneamento com análise de fluxo a partir de áreas equivalentes

    2.1.8 A modulação de 1,20m, seus múltiplos e submúltiplos

    2.1.9 Estudo de frequência de espaços em unidade de urgência e emergência

    2.1.10 Modulação estrutural utilizada na Rede Sarah

    2.1.11 Modulação na Rede Sarah e a relação com os leitos e calhas de instalações

    2.2.1 Volumetria típica hospitalar obedecendo o partido misto

    2.2.2 Solução pavilhonar com estética inovadora da Rede Sarah

    2.3.1 Utilização da técnica de mapeamento visual em uma unidade de internação existente

    3.1.1 Esquema de central de tratamento de resíduos hospitalares

    3.1.2 Esquema da previsão de andar técnico e shaft para instalações em unidades de saúde

    3.2.1 Esquema das fases de um Plano Diretor Hospitalar

    4.1.1 Perfil de um típico partido vertical em placa e torre

    4.1.2 Partido horizontal com sistema em corredor único

    4.1.3 Variante do partido em corredor único

    4.1.4 Partido horizontal com sistema em T

    4.1.5 Partido horizontal com sistema em H

    4.1.6 Exemplo de implantação em partido misto

    4.2.1 Ambulatório com circulação de uso comum

    4.2.2 Ambulatório com circulação exclusiva de funcionários

    4.2.3 Exemplo de centro cirúrgico ambulatorial

    4.3.1 Esquema de pressão do ar em isolamento

    4.3.2 Unidade de internação com corredor central duplamente carregado, sanitários junto ao acesso e posto mais próximo do controle de entrada

    4.3.3 Unidade de internação com corredor central duplamente carregado, sanitários entre os quartos e posto centralizado

    4.3.4 Unidade de internação com corredor duplo e sanitários ao fundo

    4.3.5 Modelo típico de UTI com apoio à frente e salão ao fundo

    4.3.6 Exemplo de UTI neonatal

    4.4.1 Modelo de emergência hospitalar com atendimento infantil diferenciado

    4.5.1 Centro cirúrgico com salas separadas em corredores de acesso distintos

    4.5.2 Centro cirúrgico de corredor único

    4.5.3 Típico centro cirúrgico de corredor duplo, usado na rede Sarah pelo arquiteto João Filgueiras Lima

    4.5.4 Variante de centro cirúrgico de corredor duplo

    4.5.5 Centro cirúrgico de corredor periférico

    4.5.6 Esquema de fluxo laminar em salas de cirurgia

    4.6.1 Unidade de imagenologia com corredor duplo

    4.7.1 Exemplo de unidade de medicina nuclear

    4.7.2 Exemplo de unidade de medicina nuclear – estudo de zoneamento

    4.8.1 Unidade de patologia clínica em hospital

    4.8.2 Estudo para laboratórios com nível de biossegurança 2 e 3

    4.8.3 Detalhe de guichê para garantia de estanqueidade na passagem de objetos em laboratório NB-3

    4.9.1 Exemplo de cozinha hospitalar para hospital de médio porte

    4.9.2 Estudo de central de material para hospital de médio porte

    4.9.3 Estudo de farmácia hospitalar

    4.9.4 Estudo de lavanderia hospitalar

    1.1 Evolução da Arquitetura para a Saúde

    O estudo da arquitetura dos estabelecimentos de saúde não pode ser desvinculado dos conceitos e práticas médicas adotadas durante a idealização de seus espaços. A doença e a busca de sua cura possuem inter-relações permeadas por aspectos culturais e ideológicos que, por sua vez, levam a diferentes tipos de soluções espaciais e construtivas. Analisar a arquitetura para a saúde, portanto, será o mesmo que visitar os paradigmas curativos que se estabeleceram no decorrer da história da medicina. A afirmação que, em arquitetura, a função determina a forma não poderá ser mais verdadeira do que nas edificações para a saúde, onde o correto desempenho das atividades pode determinar a vida ou morte de seres humanos.

    A classificação das diversas formas de tratar a saúde no decorrer do tempo não se constitui em tarefa fácil, sobretudo porque a separação dos aspectos mágicos e científicos na medicina é acontecimento relativamente recente (MAGNER, 1992, p. 19). Os espaços para tratamento de saúde priorizaram, durante muito tempo, o aspecto sagrado ou religioso, até porque aqueles que forneciam os cuidados tinham estes procedimentos como ocupação. De acordo com Loren Não se pode falar de verdadeira evolução científica da Medicina até a metade do século XIX, isto é, até o aparecimento de Claudio Bernard, Luis Pasteur e Santiago Ramón e Cajal. (LORÉN, 1975, p.36)

    Uma divisão simplificada da história dos sistemas de tratamento de saúde pode ser efetuada quanto ao uso do sagrado ou de filosofias na explicação e propostas de cura. As práticas sagradas põem o motivo das dores humanas no campo das crenças. As formas filosoficamente determinadas estabelecem a saúde e seus problemas como acontecimentos pertencentes à natureza. No primeiro caso, pode-se citar o animismo (que estabelecem a deuses presidindo os fenômenos naturais), as orações, promessas e tantos sortilégios como só a mente humana é capaz de criar. No segundo caso, estariam as formas conhecidas de medicina, que vão da acupuntura, naturismo, homeopatia e a alopatia, baseada na dita ciência normal (BUZZI; DOISENBANT, 2008).

    A crença na influência dos astros, a prática da astrologia na Índia e Mesopotâmia, pode ser exemplificada como dos primeiros estabelecimentos de uma filosofia que propunha leis naturais que se refletiam na saúde das pessoas. Na mesma linha pode ser posta a milenária defesa do equilíbrio de forças contrárias (yin e yang), entre os chineses. O início da atual ciência de base empírica está nas primeiras contribuições da clínica, que teve como padrão os escritos de Hipócrates (ARAGÓ, 1967).

    Deve-se realçar que as diferentes maneiras de tratar a saúde não apresentam evolução linear, no sentido de superioridade desta ou daquela forma – as mais diversas visões convivem até os dias de hoje. Só se pode falar de predominância de uma explicação e forma de tratamento em determinado grupo social, em determinado momento. Assim devem ser vistas, inclusive, as soluções da moderna medicina alopata, amplamente dominante na civilização ocidental contemporânea, mas que sofre críticas cada vez mais frequentes. Como afirma López Piñero (2001, p. 49) […] o pluralismo médico ou coexistência de vários sistemas médicos é um fenômeno presente na prática da totalidade das sociedades atuais […]. Assim se nota, nos albores da civilização, uma clara predominância do sagrado relativamente a maneiras de encarar as doenças, resultando que os templos religiosos fossem modelos arquitetônicos de locais de acolhida e tratamento. Este modo foi predominante até meados do século XVIII.

    Até finais do século XIX, podem-se identificar, na evolução das tipologias de edificações para a saúde, três sistemas ou filosofias de projeto arquitetônico: a nave e o claustro, o sistema radial e o pavilhonar. A nave e o claustro, inspirados em formas de edifícios religiosos, demonstram formalmente a falta de diferença entre as doenças e o caráter de abrigo dos hospitais do período. O tratamento da saúde em edificações públicas era uma questão de caridade e tentativa de isolamento dos marginalizados pela sociedade. O sistema radial já indica certa preocupação ambiental e separação de patologias. A facilidade de vigilância e de visão de altares e ícones religiosos ilustra a continuação da predominância do sagrado na recuperação dos doentes.

    A predominância da teoria miasmática e, posteriormente, a bacteriológica, conduz a uma radical mudança nos procedimentos relativos aos cuidados de saúde no século XIX. Procurou-se um papel humano mais ativo no processo curativo, passando o médico e a enfermeira leigos a serem elementos importantes nos hospitais, sendo defendidas medidas de melhoria ambiental. O higienismo constituiu-se num movimento que contribuiu para a adoção da separação de diferentes tipos de patologias e defesa da necessidade de ventilação e iluminação naturais. A abordagem propriamente científica da arte de curar, no entanto, só se estabelece com a descoberta dos agentes etiológicos das doenças. O combate aos micro-organismos, então, passa a ser o objetivo e o método de tratar os males da saúde.

    O reflexo deste paradigma na arquitetura, nesta fase, será a diminuição do tamanho das naves ou adoção do sistema em pavilhões isolados. Com esta modificação, nota-se uma verdadeira revolução formal dos estabelecimentos hospitalares, que representava:

    • A prioridade na recuperação de doentes;

    • Clara decisão por melhoria ambiental;

    • Predomínio do tratamento leigo, com maior status da profissão médica e o surgimento da enfermagem organizada;

    • Estabelecimento de espaços de apoio administrativo e logístico, aumentando definitivamente a complexidade da organização hospitalar.

    O sistema pavilhonar também poria o arquiteto como profissional decisivo no estabelecimento de melhores condições de trabalho no hospital. A equipe de saúde torna-se interdisciplinar e vai ganhar em complexidade, iniciando um processo que levaria ao atual estado, em que os mais diversos profissionais desempenham atividades importantes na recuperação do doente.

    A Saúde e o Sagrado: o surgimento do hospital

    A história da arquitetura de edifícios para a saúde confunde-se com a evolução do conceito de hospital. O significado do termo – e de seus semelhantes (hospedaria, hotel) – passa pela consideração de abrigo e do passar a noite, o que coincide, por sua atual definição, como aquele estabelecimento que possui uma unidade de internamento ou que trata de pacientes por mais de vinte e quatro horas. Em outros aspectos, a imagem que tinha o hospital na idade média – que possuía índices de mortalidade elevadíssimos – e a que temos nos dias de hoje, não pode ser comparada. As funções dos primeiros estabelecimentos que levavam este nome, de acolhida, de abrigo e cuidado, no entanto, continuam a existir. Fazer referência à história dos hospitais é tratar sobre a evolução da própria arquitetura para saúde – uma arquitetura que não pode ser centrada simplesmente no edifício hospitalar, mas que possui nesta edificação seu principal modelo.

    A predominância inicial do sagrado no tratamento de saúde, na idade média, não esconde a tentativa de marginalização do doente, da consideração dos males da saúde como punição divina, implicando no afastamento da doença do olhar do cidadão dito saudável. Sem sombra de dúvida, foi Foucault (1979), em sua análise sobre os equipamentos públicos de repressão, quem detectou a função inicial do hospital, de retirada do ambiente público do indesejável e perigoso para a sociedade, na visão das classes dominantes. O papel do hospital em relação à cidade começa com o entendimento de sua função segregadora e de vigilância, numa sociedade temerosa da ação de epidemias devastadoras, cujo mecanismo não compreendia.

    Os primeiros cuidados de saúde na história vinham da consideração da doença como um castigo divino. Da cura

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