Mulheres que se leem: Confissões, memórias e registros de mulheres que leem, se leem e são úteis à sociedade
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Sobre este e-book
Enquanto vira as páginas, a leitora é convidada a se perguntar: como abraçar a sua identidade em meio à mudança e ao caos? Como traçar seu próprio caminho, mantendo-se fiel a si mesma? Essas questões, intrínsecas à narrativa do livro, inspiram a mergulhar profundamente na busca por respostas e, no processo, encontrar o poder e a inspiração para redescobrir-se como um ser livre e capaz.
Um livro transcendente, que é como um movimento, uma comunidade e um convite para abraçar o poder de ser mulher, em todas as suas formas, em meio ao tumulto das mudanças e em busca contínua da identidade.
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Mulheres que se leem - Clube de Livro
© Clube de Livro, 2023
Todos os direitos desta edição reservados à Editora Labrador.
Coordenação editorial PAMELA OLIVEIRA
Assistência editorial LETICIA OLIVEIRA
Projeto gráfico, diagramação e capa AMANDA CHAGAS
Consultoria de escrita CENTRAL DE ESCRITORES: ROSE LIRA E GABRIELLA MACIEL FERREIRA
Preparação de texto JAQUELINE CORRÊA
Revisão LÍVIA LISBÔA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Jéssica de Oliveira Molinari - CRB-8/9852
MULHERES QUE SE LEEM : confissões, memórias e registros de mulheres que leem, se leem e são úteis à sociedade / Clube de Livro. São Paulo : Labrador, 2023.
240 p.
Bibliografia
ISBN 978-65-5625-454-8
1. Mulheres 2. Clubes do livro 3. Superação I. Clube de Livro
23-5505
CDD 305.4
Índice para catálogo sistemático:
1. Mulheres
Labrador
Diretor geral DANIEL PINSKY
Rua Dr. José Elias, 520, sala 1
Alto da Lapa | 05083-030 | São Paulo | SP
[email protected] | (11) 3641-7446
editoralabrador.com.br
A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do organizador. A editora não é responsável pelo conteúdo deste livro.
O organizador conhece os fatos narrados, pelos quais é responsável, assim como se responsabiliza pelos juízos emitidos.
Dedicatória
Dedicamos este livro a todas as mulheres que não querem passar despercebidas nesta terra. A todas as mulheres que anseiam deixar a sua marca no mundo, seja por conquistas pessoais ou profissionais, seja pela educação e cuidados prestados aos filhos.
A todas as mulheres que são cuidadoras em tempo integral, sempre prontas a ajudar ao próximo, cedendo o seu ombro para acolher uma amiga ou um familiar.
A todas as mulheres que se sentem cansadas, exaustas com a rotina do dia a dia, mas que não desistem de si mesmas nem dos seus propósitos.
Finalmente, dedicamos este livro a todas as mulheres que, assim como nós, buscam ser um pouco melhores a cada dia e que encontram nos livros uma forma de fazer isso acontecer.
Agradecimentos
Agradecemos primeiramente a Deus, por permitir que este livro fosse escrito.
Aos nossos familiares e amigos, que nos dão o suporte e o apoio necessários para que possamos exercer nossa escrita.
A cada uma das mulheres que compõem a Comunidade de Mulheres Intelectualmente Ativas do Clube de Livro, por toda inspiração e incentivo, e em especial Ana Cláudia Cavalcante, embaixadora do projeto Eu Escritora.
A todos que contribuíram de alguma forma para que este livro fosse escrito e estivesse em suas mãos.
Sumário
Prefácio
Introdução | MULHERES QUE SE LEEM PRECISAM SE LER SEM SE PERDER
por Alyne Christina Regis Moura
PARTE 1 | COISAS DE MULHER(ZONA)
1 MULHER GOSTA DE ADULTECER CEDO
por Jalline Gea Caldas Martins
2MULHER GOSTA DE CONQUISTAR
por Sarah Gonçalves Rodrigues
3MULHER GOSTA DE NOVIDADES
por Renata Rodrigues Nascimento
4MULHER GOSTA DE VENCER
por Débora Ayeska de Oliveira Santos
5MULHER GOSTA DE APRENDER
por Rosângela Medeiros Áfio
PARTE 2 | A MULHER SARADA E O SARAR-SE
6PODEM TAPAR MINHA VOZ, MAS NÃO ME CALO
por Eline de Sousa Marinho
7EU, ENTRE O CUIDAR E O CUIDAR-ME
por Ana Cláudia Silva de Oliveira Cavalcante
8MINHA MENTE É MAIS FORTE QUE MINHA CABEÇA
por Patrícia Freire de Vasconcelos
9A (IN)FERTILIDADE É UMA QUESTÃO DE POSICIONAMENTO
Felícia Bighetti Sarrassini
10QUANDO A RESPONSABILIDADE PRODUZ AUTORRESPONSABILIDADE
por Danielle de Almeida Rocha
11QUANDO A LIMITAÇÃO LEVA À POTÊNCIA PESSOAL
por Liana Bezerra Góis
PARTE 3 | A VIOLÊNCIA É VIL, AS CONFISSÕES SÃO SAGRADAS
12COMO CUIDO DE MIM E DO PRÓXIMO, SEM ME COLOCAR EM RISCO?
por Carla Núbia Nery Oliveira
13DA MINHA CRIANÇA CUIDO EU E NINGUÉM MAIS
por Maria Rosinê Magalhães dos Santos Castro
14A ÚLTIMA PALAVRA É MINHA… E NÃO DA VIOLÊNCIA QUE ME RODEIA
por Edmara Monteiro da Silveira
15TÓXICO É DIFERENTE DE ABUSIVO, MAS EU ME PACIFICO
por Cristiany Oliveira Brito
16A AGRESSÃO, O AGRESSOR E O SENSO COMUM SOU MAIS EU!
por Josemara de Maria Saraiva Ponte de Abreu Costa
17A FILA ANDA, O CICLO SE REPETE, E CABE A MIM PARAR
por Soraya de Oliveira Guimarães Carvalho
PARTE 4 | POSSO PERDER… MAS NÃO ME PERCO!
18PERDER NA LUTA CONTRA O LUTO, PARA GANHAR ESPAÇOS ETERNOS
por Roberta Oliveira Castelo Branco
19ENTRE SUBTRAÇÕES E CÁLCULOS… EU
por Nelyse Rosa Moraes Maia
20EU ME PERDI, MAS ME ACHEI QUANDO TRANSCENDI
por Ana Paula Pires Lázaro
21QUANDO QUEM PARTIU SE CONFUNDE COM QUEM FICOU
por Tatiana Martins Pereira
22ORFANDADE NA ADOLESCÊNCIA, QUANDO A SOLIDÃO SE TORNA REAL
por Eloá Reginese da Silva Fonseca de Souza
23CARTA A UMA IRMÃ… UM ESPELHO QUE REFLETE MESMO QUANDO QUEBRA
por Isa Aguiar Martins Schmitt
PARTE 5 | MULHERÃO RIMA COM… SUPERAÇÃO
24DIFÍCIL PARA MIM? POSSO SUPERAR DO MEU JEITO
por Anayana de Carvalho Pinheiro
25LADO RUIM OU LADO BOM? A DECISÃO PROVÉM DO MEU OLHAR
por Thuany Karla Dantas Theotônio
26FUGIR OU ENFRENTAR? O QUE IMPORTA É NÃO SE BOICOTAR
por Ana Carolina Maciel Jácome Vieira
27RECOMEÇOS… QUANDO VOCÊ QUISER
por Gabriele Braga da Rosa Moreira
28(RE)COMEÇO, MANIA DE IR EM FRENTE
por Bruna Keidna Lopes Francelino
29EXISTE ALGO NOVO NO FRONT? SÓ A AUTOMOTIVAÇÃO
por Joselany Áfio Caetano
PARTE 6 | IDENTIDADE NÃO É RG
30O (RE)NASCIMENTO DO EU
por Maria Geucilene Freitas Barros (Leninha)
31SABER O QUE QUER É SABER QUEM É
por Giuslaine de Sousa Feitosa
32HOJE, O MEU EU, FAÇO EU!
por Alyne Christina Regis Moura
33SOU QUEM SOU E SOU O QUE HERDEI
por Carmem Rita Sampaio de Sousa Neri
34IDENTIDADE EM MEIO À LIBERDADE
por Flávia Diniz Diógenes
35A IDENTIDADE DO FEMININO EM UM AMBIENTE MASCULINO
por Izabel Serejo Lima
CONCLUSÃO | MULHERES QUE SE LEEM SÃO ÚTEIS À SOCIEDADE E A SI MESMAS
APRESENTAÇÃO DAS AUTORAS
RELAÇÃO DE OBRAS JÁ LIDAS PELO CLUBE DE LIVRO
Prefácio
Em 2021, tive a honra de acompanhar a escrita e a publicação do livro Mulheres que se escrevem, uma aventura literária de Mulheres Intelectualmente Ativas. Me surpreendeu, na noite de lançamento, o valor expresso e comunicado pelo grupo, através de cada detalhe construído e composto para o nascimento do primeiro livro. E o que é a escrita que inspira, cheia de sentido e significado, senão uma escrita de olho nos detalhes que a vida escreve em cada pessoa?
Pois bem, dois anos depois, elas voltam...
E voltam em maior número, em maior intensidade, com a segurança própria de um segundo livro: já sabemos que podemos expressar o que vivemos por meio da vida, e o que aprendemos por meio da leitura
. Assim, um grupo de 35 mulheres espalhadas pelo Brasil afora, novamente se reúnem para gerar e parir Mulheres que se leem!
Mas espera aí! Não seria Mulheres que leem-se?
Não! Mulher que lê e aprende a se ler, sabe que existe a licença poética que abre as portas entre as normativas teóricas; sabe que pode criar novas palavras para definir o indefinível; sabe que a vida cria todos os dias, se escreve todos os dias e, portanto, é preciso se ler todos os dias para não ficar desatualizada sobre si mesma; sabe que muitas vozes chegam aos seus ouvidos dizendo não pode
, mas também sabe que PODE.
Acompanhar a escrita de 35 mulheres é uma jornada cheia de aventura:
• de emoções regidas por hormônios em alta e baixa;
• de carências nunca expressadas que encontram na escrita uma oportunidade de dar seu grito;
• de sustos e encantamento na hora de se ler;
• de curvas que vão das divergências às convergências próprias de qualquer caminho cheio de vida;
• de ritmos diferentes que precisam ser regidos por uma batuta como a da Ana Cláudia Cavalcante;
• de um processo seletivo gentil e firme, com doses de carinho e elegância como o da organizadora e responsável pelo Clube de Livro, Alyne Christina Regis Moura;
• e da disposição, perseverança e ousadia de se expor das 35 Mulheres Intelectualmente Ativas e capazes de se ler após se escrever
.
O livro Mulheres que se leem nos eleva a um conteúdo proveniente de mulheres capazes no que fazem e dispostas a se apropriar do que são e se tornam a cada dia. Um conteúdo profundo de mulheres que buscam compreender e dar nomes aos seus desafios, dores, perdas, lutos, ganhos, superação, força, beleza e poder pessoal. Mulheres que desistiram há muito de serem conduzidas pela ilusão dos contos de fadas
, e optaram de forma consciente por construírem a própria realidade.
No lançamento da obra anterior, elas me perguntaram: foi fácil?
, e eu respondi diante de um auditório repleto de pessoas com olhos fixos no palco: NÃO!
.
Repito a mesma pergunta dirigida a mim naquela ocasião: a segunda foi mais fácil?
, e eu respondo um sonoro NÃO!
Por quê? Porque as histórias se tornaram mais ousadas, mais desnudas, mais despudoradas. Saíram das sombras, dobraram as esquinas correndo e, ouvir e ler cada uma, me trouxe emoções raras. Se no primeiro livro eu fui afetada, no segundo eu fui sacudida. E se distanciar de uma obra que gera um teor de muita vida envolvida, para ter um olhar analítico, nunca é fácil.
Por isso eu lhe desafio a uma reflexão final: é mais fácil ler os outros que se ler?
Até parece que estou ouvindo sua resposta agora...
Mas para nosso conforto, nem tudo que é difícil é de todo ruim, pelo contrário, reside na dificuldade de ler-se os maiores achados de tesouros raros. Então, pegue a sua bateia (peneira de garimpo) e leia-se enquanto percorre as águas deste livro com aroma de confissões, memórias e registros que fazem diferença naqueles adentram sua profundidade.
Rose Lira
Presidente da Central de Escritores e Consultora de Escrita.
Introdução
Mulheres que se leem precisam se ler sem se perder
Alyne Christina Regis Moura
Presidente do Clube de Livro
Como é bom fazer parte do Clube de Livro!
Eu costumo dizer isso para todas as mulheres que me procuram interessadas em fazer parte de um clube de leitura. O nosso clube não é um simples clube de leitura: nós compomos a Comunidade de Mulheres Intelectualmente Ativas. Mulheres que não apenas leem. Leem, se leem, escrevem, se escrevem, e se permitem viver uma transformação a partir da leitura e da escrita.
A seguir, proporciono a você um passeio pelo universo do nosso Clube de Livro, e espero que desfrute desta viagem literária. Nosso ponto de partida será o período inicial do clube de leitura, que começou tímido, em 2019, com apenas quatro membros que discutiram o livro Quem pensa enriquece, do Napoleon Hill, acompanhados de um belo café, em uma cafeteria de Fortaleza, Ceará.
Foi um encontro tão inspirador, que saímos de lá com o próximo livro escolhido e com data marcada para a próxima discussão, que aconteceria na mesma cafeteria. Dali em diante, a cada encontro, tínhamos cada vez mais mulheres interessadas em participar do Clube. Falávamos com tanta paixão sobre a leitura e sobre nossos encontros, que outras mulheres se sentiam impulsionadas a experimentar a sensação prazerosa de se deleitar com a leitura.
Eu acredito que tudo que julgamos ser chato, enfadonho ou que enxergamos como obrigação acaba não sendo fácil de adotar como hábito. A partir do momento em que enxergamos a leitura como um hábito prazeroso, que pode nos proporcionar trocas de experiências com outras pessoas que leram o mesmo livro, ela se transforma em algo fantástico. E, sem perceber, o hábito da leitura é implementado na sua vida. Creio que tenha sido dessa maneira para muitas das mulheres que compõem hoje a Comunidade de Mulheres Intelectualmente Ativas.
A próxima parada da nossa viagem veio por causa da pandemia da covid-19, período em que os encontros presenciais foram suspensos, nos obrigando a realizar os encontros mensais de forma on-line. Sempre lemos um livro por mês, e o encontro para discuti-lo se dá no início do mês posterior. Sem perceber, demos um passo muito importante para o nosso clube de leitura on-line, que foi a oportunidade para mulheres de outros Estados do Brasil poderem participar dos nossos encontros. Assim, estar presente on-line foi um caminho sem volta, pois, mesmo depois do término da pandemia, com a retomada dos encontros presenciais, mantivemos os encontros virtuais para viabilizar a participação dos membros do nosso grupo que moram fora do Ceará.
Ampliamos nossa presença geográfica: Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O intercâmbio de conhecimentos, vivências, experiências e aprendizados se enriquece com a presença de mulheres de diferentes idades, regiões, formações e estados civis no nosso clube de leitura.
Continuamos nossa viagem entrando nos caminhos dos workshops, momentos destinados à prática dos conhecimentos adquiridos através dos livros lidos. Afinal, conhecimento adquirido que permanece guardado serve para nada; é preciso aplicá-lo. Qual o sentido de aprender se não for para aplicar e ter resultados? Seria perda de tempo. Isso traduz muito bem a nossa missão enquanto clube de leitura:
Desejo ser útil à sociedade na qual estou inserida, procurando sempre me aperfeiçoar através da leitura intencional e da troca de conhecimentos que o Clube de Livro pode me proporcionar. Respeitarei os meus valores, os meus princípios, a minha família, meus amigos e parentes, bem como as minhas colegas da comunidade de mulheres intelectualmente ativas. Serei uma mulher cujo nome merece respeito em todos os lugares por onde passar. Evitarei a procrastinação na leitura em todas as suas formas, não deixarei para amanhã o que posso ler hoje. Eu creio em mim, nos meus valores e nos meus objetivos de vida, e estou disposta a percorrer a jornada necessária para alcançá-los. Com a ajuda de Deus farei tudo o que for possível, lícito e honesto.
Eu sou intelectualmente ativa!
Faço parte do Clube de Livro.
Faço questão de entregar uma cópia da missão do clube a partir do momento em que cada uma inicia a sua trajetória conosco, para que possa se identificar e se apoderar das palavras ali contidas, exercendo essas ações dentro do seu ciclo de convivência. Sempre que leio essa missão, me arrepio e me emociono, pois sei o quão bom é ter a sensação de pertencimento a um grupo unido e que tem um propósito claro e definido.
A próxima parada da nossa viagem é no advento da escrita do livro Mulheres que se escrevem. É uma obra composta por crônicas, ensaios e histórias escrita por dezoito mulheres intelectualmente ativas que se desafiaram a serem ativas também na escrita, e não apenas na leitura. Muita coisa mudou após a escrita desse livro. Trouxemos tanta visibilidade ao nosso clube e à nossa comunidade, que decidimos escrever uma segunda obra, agora intitulada Mulheres que se leem, desta vez com 35 leitoras-escritoras ou escritoras-leitoras, que nos trazem confissões, memórias e registros de mulheres que leem, se leem e são úteis à sociedade.
Indico a leitura de ambas as obras para toda mulher que não quer passar despercebida nessa vida, mas sim deixar o seu legado para a sociedade.
Agora, responderei à sua provável dúvida:
Como proceder para fazer parte do Clube de Livro?
É muito simples: em nossa página no Instagram, @clube_delivro, anunciamos qual será o livro do mês; basta lê-lo, participar de um dos encontros, virtual ou presencial, e, a partir de então, você já poderá usufruir de todos os projetos, eventos e workshops proporcionados por ele.
Então, vamos começar!
Capítulo 1
MULHER GOSTA DE ADULTECER CEDO
Jalline Gea Caldas Martins
"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha
da vida, removendo pedras e plantando flores."
––– Cora Coralina, poetisa e contista brasileira –––
Muito se fala sobre o amadurecimento precoce das mulheres, por se mostrarem sempre emocionalmente mais equilibradas, resilientes, ou ainda por terem uma maior capacidade reflexiva desde a infância.
Particularmente, eu precisava de toda essa maturidade aos dezesseis anos, quando engravidei, mesmo tendo conhecimento sobre métodos contraceptivos. Adolescentes têm essa mania de se colocar em risco e nunca achar que algo vai lhes acontecer. Assim, com o choque da descoberta da gravidez, precocemente, iniciou-se minha vida adulta.
Posso definir o momento que demos a notícia para a minha família com algumas palavras: drama, decepção, culpa, choro, julgamento e, depois de muitos dias, amor e acolhimento. Além da gravidez, veio também o casamento e, com ele, minha emancipação. A liberdade das saídas sem precisar dizer a hora que iria voltar. Fazer o que bem quisesse. Era dona do meu nariz! A falta de maturidade e de conhecimento sobre o que estava acontecendo fez com que eu, inicialmente, vivesse a gestação e o casamento com uma leveza que ninguém imaginava. Mal sabia das noites maldormidas e dos desafios que estavam por vir. Logo fui sentindo os desconfortos, as mudanças no meu corpo, e, ao mesmo tempo, o amor incondicional que estava ali, fazendo morada.
Romantizar a gravidez na adolescência não é o meu objetivo. Em paralelo a todo o amor que recebi, sofri olhares preconceituosos; colegas me questionavam se eu realmente seguiria com a gravidez; alguns professores e familiares diziam que, provavelmente, eu não conseguiria completar o ano letivo. Lembro bem que, no início do 3º ano, já no sétimo mês de gestação, um professor de matemática chamou minha atenção por estar conversando com uma amiga durante a aula, e me disse, com hostilidade no olhar e no tom de voz: Já não basta você estar grávida nessa idade, ainda fica de conversinha em sala de aula? Vai amadurecer quando?
. Chorei silenciosamente, me senti vulnerável, confusa em relação ao meu próprio comportamento e à fala do meu professor. Foi então que percebi que eu claramente não estava preparada para adultecer.
"Às vezes não existem palavras que estimulem a coragem.
Às vezes, é preciso, simplesmente, mergulhar."
––– Clarissa Pinkola Estés –––
Fui me fortalecendo, deixando a adolescência de lado e abraçando a rotina de estudante, esposa, mãe e dona de casa, tudo em plenos dezesseis anos.
Tive uma grande rede de apoio formada por amigos e família, e isso fez toda a diferença para mim. Eu estava disposta a contrariar o senso comum de que mães adolescentes são um caso perdido, o que me exigiu a coragem de desapegar de uma adolescência que eu não viveria mais.
Escolhi ser uma mãe comprometida e construir um lar de amor e paz.
O João Pedro nasceu espalhando luz para todos os cantos. Lembro da dificuldade para amamentar e da minha