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Por um Triz: Sucesso do TikTok, da mesma autora de Nossa Estação
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E-book465 páginas6 horas

Por um Triz: Sucesso do TikTok, da mesma autora de Nossa Estação

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Sobre este e-book

A nova comédia romântica alto-astral da mesma autora de "Nossa Estação"

Um casamento cancelado

Quando finalmente chega o dia de Annie se casar com Alexander, a última coisa que ela espera é ser deixada de pé no altar. Ela tinha tanta certeza de que ele era o homem certo. Agora, ela não tem ideia de como pode ter entendido tão errado.

Um encontro inesperado

Depois de um encontro casual com Patrick, um velho amigo que a lembra de quem ela costumava ser, Annie faz uma promessa: ela dirá sim a todas as oportunidades que surgirem dali em diante.

Um bilhete extra para a lua de mel

Poderia uma viagem espontânea com Patrick ser o caminho para consertar o coração de Annie? Ela está prestes a descobrir quando embarca em sua lua de mel — com um homem que não é seu marido...

"Por um Triz é o melhor livro de Laura até agora."

— Beth O'Leary

"Não me lembro da última vez que um livro me fez esquecer que tinha um telefone."

— Stacey Halls

IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de set. de 2023
ISBN9786581462161
Por um Triz: Sucesso do TikTok, da mesma autora de Nossa Estação

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    Por um Triz - Laura Jane Williams

    1

    Eu estava no meio da melhor manhã da minha vida.

    — Annie-Chuchu, você está parecendo uma... modelo. Não. Peraí. Melhor que isso. Uma supermodelo — declarou minha irmã mais nova, Freddie, enquanto minha melhor amiga, Adzo (uma vez ela me disse que esse nome significa nascida na segunda-feira em Gana), dava os toques finais no meu delineador labial. Freddie me chamava de Annie-Chu desde que tinha idade suficiente para falar; o que, como minha mãe nunca cansava de lembrar a todos nós, foi praticamente desde que saiu de seu útero, diferentemente de mim, sua decepção em forma de filha, que passou três anos de cara fechada e em silêncio, quase fazendo com que ela desenvolvesse ansiedade crônica. Ela nunca se cansava de nos lembrar disso também.

    Freddie entortou a cabeça para o lado avaliando o trabalho de Adzo. Vinha bem a calhar ter uma melhor amiga que, sim, era uma física teórica, mas que também dominava um lápis para contorno. Não que eu estivesse muito nervosa nem nada do tipo, mas de jeito nenhum eu confiaria em outra pessoa para fazer aquilo.

    — Você está incrível — continuou Freddie. — Que palavra usamos quando alguém é, tipo, a chefona? A pessoa que manda em tudo?

    — Majestosa? — sugeriu Adzo.

    — Sim! Especialmente com a coroa de flores!

    Ela faz os melhores elogios, minha maninha.

    — Vem aqui, vem — eu disse com um sorriso, puxando seu corpinho de treze anos pelo pulso na minha direção.

    Nós tínhamos passado a noite na suíte de um hotel chique em Mayfair, tudo pago pelos meus futuros sogros como um agrado para as meninas. Nós três — eu, Adzo e Freddie — havíamos chegado ontem e nos aconchegamos para fofocar e rir, fazendo dancinhas idiotas para as redes sociais em nossos roupões que combinavam para celebrar minha última noite como uma mulher solteira. Tinha sido perfeito — e eu só tinha chorado duas vezes. Eu estava empolgada para me casar, mas posso dizer com honestidade que, se eu caísse acidentalmente em um bueiro antes de chegar à igreja, eu morreria tendo acabado de viver as mais lindas vinte e quatro horas jamais vividas. Tudo tinha sido mágico.

    Adzo estava dando toda a atenção às ondas castanhas que desciam selvagens pelas minhas costas — outra coisa que eu não confiaria a mais ninguém — e eu abaixei a voz para dizer a Freddie: — Você ainda pode ir lá em casa o tanto que quiser. Isso não muda nada! Me aconcheguei no pescoço dela e encarei nosso reflexo no espelho gigante à nossa frente.

    — O Alexander te ama.

    — Posso ir até nas noites de sábado? — ela perguntou.

    — Ursinha, eu não acho que você vai continuar querendo passar as noites de sábado por muito mais tempo com sua irmã mais velha que cheira a naftalina.

    — Eu vou.

    Eu franzi o nariz, fazendo com que ela risse.

    — Vamos ver.

    Adzo deu um passo para trás, lançou um último olhar sobre mim e virou o resto de sua mimosa — um sinal visível de que estava satisfeita com sua manhã de trabalho. Ela estava estonteante, suas maçãs do rosto ainda mais acentuadas do que normalmente porque havia usado um iluminador em creme, forçando a luz a brilhar em seu rosto como se ela estivesse, de alguma forma, acesa em seu interior. Seus olhos escuros foram delineados como um olho de gato e suas tranças estavam presas em espirais volumosas no topo da cabeça. Felizmente ela não iria entrar comigo na igreja, porque com certeza todos os olhos se fixariam nela.

    Adzo realmente chegou a recusar-se a ser uma dama de honra antes mesmo que eu tivesse a chance de convidá-la. Eu não curto essas coisas, ela declarou assim que lhe mostrei a aliança pela primeira vez. Nem pense em me convidar para alguma coisa, beleza? Eu ri e concordei. Era típico de Adzo. Ela não faz o que todas as outras pessoas fazem. Na verdade, Freddie também é assim, ela marcha no compasso do seu próprio ritmo.

    — Você está na oitava série ou na nona, Freddie-Frufru?

    Adzo aprendeu rapidamente que ninguém era chamado pelo nome de batismo no nosso mundo. Todos eram Beltrano-Chuchu ou Sicrano-Frufru, ou ursinho ou joaninha ou porquinho-oinc. Freddie respondeu dizendo que tinha acabado de começar a nona série.

    — Ela está com treze anos, prestes a fazer vinte e cinco — provoquei. Freddie, na realidade, se chamava Frederica, mas, quando descobriu sobre a desigualdade salarial entre os gêneros, ela decidiu que queria um nome que não dê para saber se eu sou menina ou menino só de ver meu currículo, assim eles não podem me discriminar. Ela é esperta. Mais esperta que eu.

    Freddie relaxou no meu colo e eu inspirei o seu cheiro: loção corporal de melancia e spray de cabelo que dançava suavemente ao redor de sua juba ombré. Eu pagava caro para que minhas raízes ficassem um pouco mais escuras e minhas pontas um pouco mais claras, mas as dela eram daquele jeito naturalmente.

    — Obrigada por ser minha dama de honra sem defeitos — eu sussurrei. — Você é a minha melhor amiga.

    — Você é a minha melhor amiga — ela sussurrou de volta. E então um pensamento lhe ocorreu e ela torceu o nariz em desgosto. — Você tem Tic Tac, né? Você tá com bafo.

    Eu guinchei e tentei alcançá-la para fazer barulho de pum na sua nuca um segundo tarde demais — ela já tinha se desvencilhado do meu aperto com alegria.

    — Cuidado com o gloss! — Adzo uivou enquanto se precipitava para nos separar.

    — Eu nunca fiz alguém ficar tão bonita!

    Freddie saltitou para o outro lado do cômodo e eu, tomando cuidado com meu vestido, me movi comicamente e fui atrás dela em câmera lenta. Para sua sorte, fomos interrompidas pela chegada do meu pai, que entrou no quarto com a chave que havíamos deixado para ele na recepção. Nós congelamos, ficamos coletivamente conscientes de que não havia mais tempo para brincadeiras e de que o dia do casamento provavelmente deveria ser mais sério do que a forma como estávamos agindo até agora.

    — Papai! — Freddie correu em direção a ele. — Nós tivemos a melhor noite. Fizemos um chá da tarde! E comemos pizza na cama!

    Usando seu terno azul-marinho favorito e uma gravata vermelha larga que fazia par com o lenço colocado em seu bolso superior, o longo corpo norueguês de meu pai parecia ainda mais longo com aquele caimento personalizado. Ele já trazia um pequeno copo-de-leite em sua lapela, feito para combinar com o meu buquê. Envolvendo Freddie com seu braço, ele tomou fôlego e olhou para mim.

    — Então esta é você no dia do seu casamento, Chuchu — disse em tom de elogio, absorvendo minha visão diante dele.

    Eu sorri de volta. Ver os olhos dele brilharem me fez lacrimejar também, fiquei sem palavras. Merda de casamentos. Você imagina que vai estar toda serelepe e que não vai ser como todas as outras noivas e aí PAM: na sua cara. Você é tão sentimental e emotiva quanto qualquer outra garota vestida de branco.

    — Você está linda — ele disse. — Linda de verdade. Freddie se agarrou ao braço dele, pegando sua mão:

    — Eu disse que ela estava majestosa.

    — Rainha do mundo. — Papai sorriu e Adzo sacudiu um lenço de papel na minha frente antecipando o que estava por vir.

    — Dê batidinhas, não esfregue — ela instruiu severamente. — Dê batidinhas suaves ou você vai melecar tudo.

    Eu respirei fundo. O dia do meu casamento.

    O vestido era assinado por um estilista, meu pai me levaria ao altar e eu iria pegar o sobrenome de Alexander em menos de uma hora.

    Antes de começar a planejar o casamento, se você me perguntasse o quão tradicional eu era em uma escala de um a dez, eu diria dois ou três. Adzo e eu já tínhamos tido milhões de conversas sobre como ser uma mulher-forte-e-independente-que-por-acaso-está-comprometendo-sua-vida-com-a-de-outra-pessoa. As coisas que eram esperadas de uma noiva estavam enraizadas na noção de que ela era a propriedade de alguém (por exemplo: o pai levar a noiva ao altar), que era valiosa por ser pura e intocada (por isso o vestido branco virginal). Um dia, na nossa pausa do almoço, Adzo ficou me perguntando se Alexander toparia juntar nossos nomes com um hífen ou mesmo pegar o meu, e eu considerei perguntar isso a ele. Mas, quando o momento realmente chegou, encontrei um grande conforto nessas tradições centenárias de casamento e cedi à maioria delas sem muita resistência. Eu queria todo aquele ritual, a história e a expectativa.

    Minha única declaração visível de feminismo foi de que eu iria fazer o primeiro discurso durante o jantar. No casamento da minha amiga Jo, ela pegou o microfone e disse: Boa noite. Obrigada por virem hoje. Meu magnífico pai, meu maravilhoso padrinho e meu lindo marido vão dar os seus discursos daqui a pouco..., e então todos começaram a aplaudir e torcer. Mas eu vou ser a primeira, porque só por cima do meu cadáver eu deixaria um monte de homens falarem no meu lugar..., e nesse momento a plateia já estava ensandecida.

    Eu achei sua atitude hilária.

    Mamãe achava que era grosseiro a noiva discursar, mas eu queria fazer o mesmo.

    — Certo, então, senhora Mackenzie, você está pronta? — papai disse, suas feições murchando subitamente. — Uau. Senhora Mackenzie. Você não vai mais ser uma Wiig. Ele se virou para Freddie e, com uma voz ironicamente séria, insistiu: — Nunca se case, ouviu? Você é a próxima geração de Wiigs. Precisamos que você carregue o nome da família.

    Freddie revirou os olhos participando da brincadeira.

    — Paaaaaaaaai.

    — Eu sei, Fred, mas você só vai entender como é isso quando tiver seus próprios filhos, eles crescerem e te deixarem estonteada com as pessoas que se tornaram. É muita emoção. — A mão dele subiu até a altura do coração, como se pudesse massagear seus sentimentos pelo lado de fora.

    — Eu ainda sou uma Wiig neste momento — eu o tranquilizei, colocando a mão em seu ombro. — E, mesmo quando eu não for mais, sempre serei sua filha.

    — Com o bônus de me dar um genro.

    Papai sorriu quando disse isso, mas eu propositalmente nunca tinha lhe perguntado se ele gostava de Alexander, porque, desde a primeira vez que o levara para passar um fim de semana em nossa casa, eu suspeitei de que não gostaria da resposta. E agora não era a hora de entrar nesse assunto. Eu amava papai, mas também tinha certeza do meu futuro. Não coloque a sua mão no fogo, minha falecida avó costumava dizer. Você vai se queimar.

    — Exatamente — eu disse, em tom conciliador. — Você não está perdendo nada, está ganhando.

    Papai estendeu o braço, convidando-me: — Vamos tomar um shot de vodca no caminho pra saída — ele sugeriu. — Eu preciso acalmar os meus nervos. Devia existir alguma espécie de manual especial para pais no dia do casamento de suas filhas. Eu me sinto todo... confuso. Nervoso.

    — Vamos — eu disse, sentindo o calor aumentar nas minhas bochechas e sabendo que era um sinal de alerta de que eu começaria a chorar se não mudássemos de assunto. — Vambora!

    Adzo juntou as últimas coisas de que precisava para manter minha aparência de noiva bem-arrumada pelo resto do dia e Freddie deu uma última voltinha na frente do espelho e pegou suas flores de dama de honra. Minha mãe tinha ido direto para a igreja a fim de bancar a anfitriã. Ela adora ter um público e estar no centro das atenções, então escolheu fazer isso em vez de passar a noite com a gente no hotel. Ela disse que só atrapalharia e que se sentiria melhor durante o dia se dormisse na própria cama. Eu fiquei um pouquinho aliviada quando ela disse isso, para ser honesta. Nosso relacionamento é... complicado. Eu tento não pensar demais nisso. Todo mundo tem atritos com a própria mãe em alguma medida, né?

    Olhei para meu pai, minha irmã e minha melhor amiga. As pessoas que eu mais amo no mundo estavam ali por mim, extasiadas por mim. Eu me sentia amada por Alexander — é claro que sim —, mas desde que ficamos noivos todo mundo tinha se reunido e se intrometido nos meus planos e ideias e isso tinha sido como um casulo aconchegante de romance magnífico e cheio de votos de felicidade. Pensar nisso e em como, ao voltar para a suíte mais tarde, eu seria a senhora Mackenzie — casada! Eu! Finalmente! — fazia minha respiração ficar presa na garganta. Não conseguia imaginar nenhuma outra coisa que pudesse tornar este dia mais especial. Era como se todas as minhas entranhas tivessem sido supercarregadas com eletricidade e até o simples ato de existir estivesse amplificado. As cores estavam mais brilhantes, as emoções mais fortes.

    Tudo estava tão perfeito.

    2

    Quando Jo, aquela amiga da universidade que fez o discurso engraçado, ficou noiva, comecei, de fato, a me questionar sobre o que eu e Alexander tínhamos. Eu havia lido uma vez em algum lugar que funerais não eram para os mortos, mas para os vivos, e acho que muitas vezes os casamentos não são para o casal diante do altar, mas para a congregação. Será que um dia alguém já foi a um casamento e pensou em mais alguém além de si mesmo? Eu não. Digo, é claro que quando a Jo se casou eu estava superempolgada por ela. Ela conheceu Kwame em um aplicativo, deslizou o perfil para a direita em uma solitária tarde de domingo e o encontrou pela primeira vez dois dias depois. Um mês se passou e ela já o chamava de meu namorado. Aquilo no mínimo me surpreendeu, porque seu último relacionamento fora com uma namorada, então eu simplesmente presumi que Jo nunca mais iria sair com um homem de novo depois do tanto que ela falou mal deles. Humanos existem para nos surpreender, acho, e quem sou eu para atribuir uma categoria para a sexualidade de uma amiga só para que eu mesma me sinta melhor ao saber onde ela se enquadra no espectro? (A presunção nos torna idiotas, era outra coisa que minha avó costumava dizer.)

    Enfim.

    Depois de três meses, Jo e Kwame estavam dizendo Eu te amo e, passados mais seis meses, eles foram morar juntos. Eu queria ser uma boa amiga, como a Bri e a Kezza foram — as outras duas que, juntamente com Jo, formavam o nosso Quarteto Fantástico da amizade —, e assim a gente tentou abordar gentilmente a ideia de que talvez as coisas estivessem indo rápido demais. Pra que a pressa? A Jo não surtou nem ficou brava quando a gente levantou a questão; ela simplesmente sorriu. Eu lembro disso com bastante clareza. Era uma tarde de sábado e estávamos comendo quinoa com linguiça no Bridges na Stoke Newington, bem no começo da primavera. Ela deu de ombros e todas nós soubemos que era real oficial quando ela disse com ar sonhador: Esse parece diferente. Nós queremos as mesmas coisas.

    Nós queremos as mesmas coisas.

    Aquilo me pegou porque, àquela altura, eu já estava com Alexander havia nove anos e nós ainda tínhamos apartamentos e vidas sociais separados, e, mesmo que nos divertíssemos juntos em encontros ou nos finais de semana em que ele não estava jogando rúgbi, parecia que a gente não conseguia alinhar de verdade o rumo que estávamos tomando. Eu não queria ser chata e nem ser Aquela Namorada. Todo mundo conhece Aquela Namorada. A que fica fazendo ultimatos para ficarem noivos ou terminarem tudo. Quero você inteiro, ou não quero nada! Esse tipo de coisa. Eu queria ser mais desencanada do que aquilo. E eu era. Durante todos os anos na casa dos vinte, eu fui uma garota desencanada, mas aí meus amigos da universidade começaram a noivar, casar e engravidar e pif-paf-pow, deixei de ter vinte e nove anos e estar alegremente acompanhando a galera e passei para o lado dos trintões, com todo mundo seguindo em frente, menos eu.

    Naquela época, a Bri também conheceu seu namorado e, devido à imigração, teve que se casar às pressas por causa da papelada e só contou para a gente depois. Kezza já tinha conseguido a aprovação para adotar como mãe solo e estava ativamente se preparando para a adoção, tinha até mesmo colocado todas nós como referências de rede de apoio comprometida. Ela se recusou a se contentar com um homem medíocre para realizar o trabalho mais importante de sua vida, ela disse, declarando que estava feliz em fazer isso sozinha e encontrar alguém mais tarde, porque, para ela, a maternidade era mais importante que o casamento. E assim eu, de nós quatro, era a única pessoa que não estava fazendo nada além de continuar a nadar. O Quarteto Fantástico se estilhaçou igualzinho a uma estrela que atinge a atmosfera da Terra e se parte em mil pedaços. Isso me deixava em pânico ao imaginar o meu lugar no mundo.

    É mentira aquilo que dizem sobre amigos serem a família que a gente escolhe. Amigos encontram parceiros e vão lá construir suas próprias famílias, e estar de pé na igreja ao lado de Alexander enquanto uma das minhas pessoas favoritas unia a sua vida à de alguém que ela conhecia havia apenas um ano me deixou realmente insegura. Foi aí que eu finalmente puxei esse assunto com ele — que precisávamos pensar sobre o nosso próprio futuro. Acho que o casamento também o comoveu, porque na semana seguinte ele trouxe um monte de folhetos de casas em Islington que seus pais queriam ajudar a comprar com uma entrada. Ele queria que eu morasse com ele e eu fiquei empolgadíssima — e aliviada.

    Não existe nada melhor do que alguém dizendo em voz alta que você é a pessoa com quem se quer construir algo. Acho que a parte mais incerta da minha vida foi quando fiz trinta anos e senti que todo mundo menos eu tinha planos e que eu ainda não tinha crescido pra valer. Ir morar com Alexander me fez uma adulta de verdade, avançando na vida como todo mundo. Preparei jantares para ele e organizei nossa mobília, e fiquei estranhamente interessada em coisas que eu sempre jurei que não faria — me tornei a pessoa que comprava o cartão de aniversário para a mãe dele e que oferecia jantares para poder conhecer seus colegas de trabalho e parceiros de rúgbi. E eu gostei. Eu me deleitei com aquilo. Nós finalmente queríamos as mesmas coisas também.

    Quando cheguei à igreja com papai, Freddie e Adzo, fiquei surpresa em ver a cerimonialista do lado de fora, parecendo bastante corporativa e séria em um terninho preto, calças pantacourt e sapatilhas, seu cabelo preto em um sedoso rabo de cavalo. Ela tinha me dito na noite anterior, com sua cadência cantada do Sri Lanka, para levar todo o tempo que eu precisasse para sair do carro e fazer retoques e ajustes de última hora, para respirar fundo. Todo mundo espera pela noiva, ela repetiu diversas vezes. Você pode levar o tempo que precisar, tudo bem? Ela deveria estar me esperando na porta da igreja, depois de garantir que todos estivessem sentados. Ao vê-la, franzi o cenho.

    — Quem é aquela? — perguntou Freddie, notando meu olhar preocupado.

    — Happy — respondi baixinho, e minhas mãos ficaram imediatamente suadas. Meu corpo soube, antes que a minha mente pudesse compreender, que as coisas estavam prestes a dar errado. Meu sentido-aranha estava em alerta máximo.

    — Tem algo errado. Ela deveria estar na porta da igreja.

    Papai espiou pela janela.

    — Tenho certeza de que está tudo bem — ele entoou cautelosamente. — Não consigo imaginar por que não estaria.

    As palavras dele ficaram em suspensão.

    Happy se aproximou do carro enquanto estacionávamos, parecia cansada e pálida — tecnicamente aquela não era a aparência que alguém gostaria que sua cerimonialista tivesse. Imediatamente imaginei que o sacerdote tivesse ficado doente e que o casamento seria realizado por alguém totalmente desconhecido. Essa foi a primeira coisa que me ocorreu. A segunda foi que talvez houvesse algo errado com o bolo ou que não tivéssemos gelo suficiente para os baldes de champanhe. Mas coisas de bufê só importavam para a recepção, era um problema para mais tarde, não para agora.

    Talvez ela tenha vindo me dizer que Alexander está muito emocionado.

    Talvez ele tenha mandado uma mensagem pra mim.

    Talvez ela tenha vindo me dizer o quanto ele me ama e o quanto quer que eu entre na igreja o mais rápido possível.

    Mas não foi isso o que ela disse.

    — O que você quer dizer com ele não está vindo?

    — Hum... — Happy enrolou, claramente desconfortável. — Ele me mandou uma mensagem. E parece que ele mudou de... ideia.

    Tudo o que eu pude fazer foi repetir tudo o que ela me disse, feito um papagaio. Eu não conseguia encontrar minhas próprias palavras.

    — Mudou de ideia.

    Os olhos dela já eram grandes, mas ficaram ainda maiores, desejando que eu entendesse. Mas eu não entendi.

    — Eu tentei ligar... — ela reforçou.

    Ela deu um sorriso amarelo como que pedindo desculpas para o meu pai, minha irmã e Adzo, que estava com o corpo totalmente congelado, como se, caso ela se movesse um milímetro, o mundo todo fosse desabar. Apenas os olhos dela se mexiam, alternando o foco entre mim e a cerimonialista. Não dava para ter certeza de que ela estava respirando.

    O Alexander não vem.

    Era o dia do meu casamento, o céu estava azul, meu pai estava ao meu lado e a cerimonialista — que tinha uma mancha de batom rosa no dente da frente que me fazia passar a língua instintivamente nos meus próprios dentes para o caso de eles também estarem sujos — havia acabado de me dizer que o meu noivo enviou uma mensagem (uma mensagem!) para dizer que não ia ter casamento.

    — Desculpe, eu só estou tentando... lidar com tudo... isso. — Eu gesticulei no ar à minha frente. — Só pra confirmar... você tentou me ligar ou ele tentou me ligar?

    Meus olhos coçavam, meus pensamentos estavam em uma corrida de obstáculos. Pisquei rapidamente. Happy não piscou nenhuma vez enquanto media suas palavras.

    — Eu — ela disse. — Primeiro eu liguei pra ele, mas, quando ele não atendeu, eu liguei pra você. Obviamente você também não atendeu. — Ela pausou, ponderando sobre o que dizer. — Eu sinto muito, Annie.

    — Me deixe ver seu celular? — eu pedi, e minhas falas saíram rápidas e entrecortadas. Eu precisava de provas. — A mensagem? — Minha voz soava muito distante. Eu estava mexendo a boca, mas tudo estava acontecendo bem longe, no fim de um túnel muito comprido.

    Percebi que papai tinha se movido para dizer algo, mas ele pensou melhor.  Em vez disso, colocou seu braço ao redor de Freddie. Ela me encarou, seus olhos brilhantes dardejando entre os adultos, enquanto tentava alcançar a mão de Adzo. O olhar no rosto de Adzo me deu ânsia de vômito.

    — Por favor — eu acrescentei. Minha voz estava estridente e alta. No limite. Respirei fundo e forcei um sorriso na direção de Freddie, tentando lhe dizer para não entrar em pânico. Minha irmã franziu o cenho, ela sabia o que hoje significava, e tinha estado empolgada porque eu estava empolgada.

    Happy sorriu de volta dolorosamente, sua expressão era um retrato da compaixão. Ela devia ter entendido tudo errado, eu raciocinei. Alexander não iria simplesmente não aparecer no dia do nosso casamento. Isso seria algo horrível de se fazer. Imperdoável. É claro que ele viria. Nós estávamos noivos. As pessoas estavam esperando. Eu não tinha comido uma refeição completa em seis meses, cada milímetro do meu corpo estava bronzeado artificialmente e eu já tinha encomendado os cartões de agradecimento de Senhor e Senhora Mackenzie.

    O instante em que noivamos surgiu de repente na minha cabeça. Ele me pediu em casamento na manhã de Natal, assim que acordamos, a caixinha tinha aparecido na minha mesa de cabeceira em algum momento durante a noite.

    — Que tal? — ele perguntou sorrindo, deitado de lado de modo a alongar seu torso nu.  Tudo que fiz em resposta foi gritar e colocar o anel imediatamente no meu dedo, esquecendo-me de que aquilo era algo que ele deveria fazer. Nunca achei que seria possível querer desmaiar de felicidade até aquele momento, mas usar o anel me deu mais deleite, mais êxtase, mais tudo que qualquer outra coisa na minha vida. Aquele anel consolidou o meu futuro.

    — Imagino que isso seja um sim? — ele falou e eu imediatamente irrompi em lágrimas, assentindo com a cabeça e fazendo tanto barulho que a mãe dele bateu na porta do chalé compartilhado em que estávamos para conferir se estava tudo bem.

    Happy desbloqueou seu iPhone e abriu uma conversa. Minha mão tremia quando peguei o aparelho, minha boca estava seca como gim. Eu me concentrei.

    Happy, você foi maravilhosa ao planejar tudo para hoje, mas eu não vou. Não consigo fazer isso. Por favor, diga para a Annie que eu sinto muito. Vou garantir seu pagamento completo até o fim da semana que vem. Obrigado por tudo. Acredito que você consiga lidar com os convidados. Alexander.

    As pessoas insistem em dizer que parece terem levado um tapa quando descobrem algo chocante e é um clichê superutilizado, mas, enquanto lia a mensagem pela segunda, terceira e quarta vez — desesperada para encontrar o significado mais profundo, a parte que Happy não tinha interpretado bem ou que entendeu errado —, eu me sentia pegajosa e irada. Como ele pôde fazer isso comigo? Que porra tinha acontecido desde que o vi ontem à tarde? Havia outra pessoa? Era uma piada? Meu cérebro não conseguia fazer a matemática complicada de entender aquilo. A mensagem era tão curta. Li tudo outra vez: eu fui um pensamento secundário, meu nome apareceu entre um elogio e uma promessa de pagamento para uma mulher que conhecíamos havia oito meses. Alexander me conhecia desde a universidade. Nada disso fazia qualquer sentido.

    Meus olhos ficaram marejados e uma lágrima caiu na minha mão. Apenas uma. Não foi um fluxo constante de lágrimas, nem um choro alto ou gritado ou soluçante. Distraidamente, entreguei minhas flores para Freddie e então, engolindo em seco, devolvi o celular para Happy. Com ambas as mãos trêmulas livres, pude pressionar as pontas dos dedos em minhas têmporas, forçando-me a pensar.

    Como eu conserto isso?

    Eu não estava com o meu próprio telefone, porque planejara passar o dia com cada uma das pessoas que eu conhecia que poderiam me ligar. Eu não podia ligar para ele usando meu próprio celular, nem ver se ele tinha me ligado.

    Puta que pariu! Era melhor que ele tivesse me ligado.

    Eu precisava ouvir a voz dele. Ele poderia consertar isso. Ele poderia explicar e aí riríamos juntos desse mal-entendido terrível e Adzo poderia retocar minha maquiagem e faríamos piadas sobre como eu estivera enxergando pelo em casca de ovo.

    Né?

    NÉ?

    — Pai, você pode ligar pra ele? Isso não pode estar acontecendo.

    — Não pode, querida — ele concordou, tensionando a boca em uma linha fina.

    — Vamos falar com ele.

    — Você vai ficar bem — Adzo disse suavemente. — Eu prometo.

    Papai remexeu no bolso do paletó para pegar o celular, então rolou a tela até encontrar o nome de Alexander e tocou no botão de ligar. Imediatamente pude ouvir a mensagem no correio de voz — o telefone não chegou a tocar nem uma vez. O celular dele devia estar desligado.

    Oi, você ligou para Alexander Mackenzie. Se não atendi é porque estou no laboratório ou treinando rúgbi. De qualquer modo, deixe seu recado e eu te retorno. Abraço.

    Ele soava tão normal. Tão comum. Eu já tinha escutado a mensagem do seu correio de voz tantas vezes que a sabia de cor. Como podia um homem que deixou sua noiva no altar soar tão normal e comum? Onde caralhos ele estava?

    — Eu vou matá-lo — papai disse por fim. — Isso é inacreditável. É sério, eu vou esganar ele.

    Em uma vozinha hesitante e com seus olhos castanhos arregalados, Freddie chamou:

    — Annie?

    E isso foi tudo. Eu poderia ser forte se todo mundo estivesse sendo forte. Eu poderia segurar a barra enquanto todo mundo agisse como se aquilo fosse algo que pudesse ser resolvido. Mas a raiva na voz de papai e o medo na de Freddie fizeram a coisa toda se tornar real: Alexander não viria e todo mundo sabia disso.

    — Certo — declarou Adzo. — Todo mundo de volta pro carro. Vamos. Rápido. Rápido!

    — Eu vou avisar pra todo mundo lá dentro — a cerimonialista sussurrou para papai. E depois, para mim: — Eu realmente sinto muito, Annie.

    Eu me enfiei no banco traseiro do carro — graças a Deus ele ainda estava lá e o motorista não tinha saído para fumar um cigarro na esquina ou deixado o motor ligado enquanto circulava pelos arredores. Papai esperou por mim na beira da calçada e então me ajudou a pegar a cauda do vestido para que ela não arrastasse ou sujasse. Como se aquilo importasse agora.

    — O que você vai dizer? — eu resmunguei de dentro do carro. Freddie se agarrava ao meu braço com força. Aquela era a pior coisa que aconteceu comigo em toda a minha vida.

    Happy fez uma careta sombria:

    — Não se preocupe. Eu já tive que fazer isso antes. Infelizmente.

    Ela fechou a porta do carro e papai abaixou o vidro.

    — Obrigado — ele disse a ela, preocupado.

    — Se cuida — ela falou para mim.

    Deixei Freddie se aninhar embaixo do meu braço e olhei pela janela. Adzo estava batendo o pé, mas não dizia nada. Nem mesmo ela sabia o que dizer. O carro se afastou do meio-fio e em poucos segundos a igreja era um borrão no retrovisor.

    Ficamos em silêncio no carro. Várias coisas — em sua maioria perguntas — ficavam passando pela minha cabeça e sumindo na mesma velocidade porque uma enxurrada de pensamentos diferentes abria caminho a cotoveladas. E depois mais alguns.

    Isso realmente estava acontecendo?

    Será que ele já quis mesmo casar comigo alguma vez?

    Foi porque eu estava gorda demais?

    Ou porque meus dentes não eram suficientemente retos?

    Será que ele teve um caso e engravidou alguém e só descobriu agora e achou que escolhê-la em vez de a mim era a coisa justa a se fazer?

    Ele era gay?

    Será que, na verdade, eu tinha alucinado que ele queria casar comigo? Será que imaginei a aliança, o modo como ele pensava e opinava sobre os convites e a organização dos lugares? Será que imaginei o tanto que ele ficou empolgado quando desmarcaram com a banda que tocou no casamento do primo dele deixando-a livre para tocar no nosso?

    E se ele mudasse de ideia outra vez e aparecesse na igreja depois que eu já tivesse ido embora?

    E se ele estivesse esperando lá, arrependido e envergonhado, rezando para que meu motorista voltasse com o carro, e, enquanto a gente fizesse o retorno, ele esperaria e correria até nós, chorando, arrasado

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