Diário De Um Detento
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Diário De Um Detento - Vinicius Novaes
DIÁRIO DE UM DETENTO
A vida na prisão como ela realmente é.
De Funcionário Público Federal a presidiário.
O dia a dia no CDP e no Presídio dos Famosos.
Por
VINICIUS NOVAES
Para a minha única filha, Laura, pela experiência de um amor incondicional.
Para Adriana, o meu amor eterno, minha companheira de jornada, minha razão de viver, e a única que jamais soltou da minha mão.
Apresentação
O meu nome é Vinicius Novaes. E quando eu fui preso pela primeira vez aos 46 anos de idade, no dia 11 de abril de 2019, eu era um respeitado funcionário público federal, casado há quase 15 anos e pai orgulhoso de uma linda menina de 10 anos.
Por conta de um divórcio conturbado e de ter cometido um crime banal em um momento de ira, a minha vida virou de ponta cabeça, e eu perdi quase tudo, status, família, respeito, admiração, dinheiro, emprego, e o pior de tudo, algo que eu jamais imaginei que aconteceria comigo nem nos meus piores pesadelos, eu perdi o bem mais precioso que um ser humano pode perder e que eu tanto aprendi a valorizar: a liberdade.
Eu também jamais poderia imaginar o que aconteceria comigo após a minha prisão, que eu faria um verdadeiro tour pelo sistema penitenciário paulista, passando por delegacias, por cadeia pública, por um CDP - Centro de Detenção Provisória, e muito menos que eu seria transferido para o presídio dos famosos, a Penitenciária II Dr. José Augusto Salgado
de Tremembé, ou simplesmente P2 como é mais conhecida, onde eu conviveria com presos ilustres, como Cristian Cravinhos, condenado a 38 anos de prisão pelo assassinato do casal von Richthofen; Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, o irmão do ex-ministro José Dirceu, cuja semelhança física com o irmão ilustre é impressionante, e que também fora condenado na Operação Lava Jato a 10 anos, seis meses e 23 dias de prisão por lavagem de dinheiro e organização criminosa; Acir Filó, ex-prefeito de Ferraz de Vasconcelos (SP) e autor do livro Diário de Tremembé
, cujo objetivo seria obter fama e dinheiro ao revelar detalhes íntimos sobre a vida dos presos mais famosos de Tremembé, mas cujo tiro saiu pela culatra, pois a escrita e publicação do livro enquanto Acir ainda estava na P2 causou revolta e indignação entre os presos e reações do judiciário, o que acabou acarretando a transferência do político (por mim testemunhada) para o CDP de Pinheiros na capital.
Porém, mais do que contar a minha história, ou falar sobre as trágicas histórias dos outros presos, meus companheiros de jornada, o meu principal objetivo com essa obra é relatar como é o cotidiano no sistema penitenciário brasileiro, como é o dia a dia na prisão, como os presos são tratados, o que temos de suportar, como são as acomodações, a alimentação, roupas, drogas, bebidas e sexo, enfim, contar como é a vida atrás das grades, e como eu fiz para sobreviver em um ambiente tão hostil e desumano, onde a maldade reina absoluta.
E por fim, também vou dar um testemunho sincero, sobre como é difícil dar a volta por cima, deixar tudo para trás, já que você fica marcado como gado pelo resto da vida com a pecha de ex-presidiário, e como isso torna desafiador, ou mesmo quase impossível, a tal ressocialização
, quando uma simples pesquisa no Google revela o seu passado criminoso.
Um peixe fora d’água
Segundo dados do Sisdepen - que é a plataforma de estatísticas do sistema penitenciário brasileiro que sintetiza as informações sobre os estabelecimentos penais e a população carcerária – no período de julho a dezembro de 2021, das 670.714 pessoas encarceradas no Brasil, 60 % dos presos estavam com idade inferior a 35 anos, porém no CDP de São José dos Campos-SP, a primeira penitenciária para o qual eu fui transferido depois de ficar 5 dias na cadeia pública de Caçapava, esse número chega a 80%, sendo os presos da minha faixa etária (de 46 a 60 anos) apenas 5% dos detentos daquela unidade. Então com 46 anos de idade eu era chamado ou de tiozinho
ou mais velho
pelos meus colegas de cela. E isso me chocou em dois sentidos, primeiro porque a questão etária só fez aumentar a minha sensação de não pertencimento, sabe aquele sentimento de não se encaixar em tudo que o rodeia, como um torcedor infiltrado na torcida adversária? No CDP eu me sentia assim o tempo todo, um estranho no ninho, como um peixe fora d’água, esse aqui não é o meu lugar
, esse pensamento não saia da minha cabeça.
Mas também me chocou ver tanta juventude desperdiçada. No CDP de São José dos Campos por exemplo, 40% dos presos estão na faixa etária dos 18 aos 24 anos. São jovens no auge de sua vida, de sua força física e intelectual, que deveriam estar trabalhando ou se formando em alguma universidade, mas ao invés disso estão dando os seus primeiros passos no mundo do crime, frequentando a universidade do crime que é aquele lugar, porque uma coisa eu posso garantir, nada de bom sai de um lugar como aquele. A legislação chama o preso de reeducando
, o que é uma piada de mau gosto, pois não existe nenhuma reeducação ou recuperação, apenas punição, dor, sofrimento e humilhação. O sistema é bruto, feito para punir e oprimir. Se funciona ou não? Basta olhar as estatísticas sobre reincidência criminal (que segundo alguns estudos 70% dos presos retorna ao mundo do crime depois da prisão) para chegar a uma conclusão se esse é o melhor modelo para a sociedade, que é quem vai arcar com as consequências.
Quanto a escolaridade, dos cerca de 700 mil presos em todo o país, 8% são analfabetos, 70% não chegaram a concluir o ensino fundamental e 92% não concluíram o ensino médio. Não chega a 1% os que ingressam ou tenham um diploma do ensino superior como eu que possuo graduação superior completa com pós-graduação e um MBA em Administração de Empresas.
Quem nunca ouviu a expressão cadeia no Brasil é para os três 'pês': preto, pobre e prostituta
? Pois bem. O ditado não está muito longe da realidade. Entre os presos, 61,7% são pretos ou pardos. Quanto a ser pobre, acho que nem preciso comentar que a maioria dos presos recorre a Defensoria Pública e que é muito difícil ver quem pode pagar bons advogados preso, mas para essa regra claro que há exceção, só estou falando do mais comum, da maioria, mas eu mesmo conheci no sistema prisional presos que podemos classificar como ricos, como políticos e empresários, cumprindo pena. Só sobre as prostitutas que eu não posso opinar, pois nunca entrei na ala feminina, então não sei se é mito ou realidade que existem muitas prostitutas presas, mas por conversar com os companheiros e, por estudar as estatísticas do Sisdepen para escrever esse livro, posso dizer que a maioria das mulheres está presa por crimes relacionados ao tráfico de drogas, segundo dados do CNJ, Conselho Nacional de Justiça, nos últimos cinco anos, 15.263 mulheres foram presas no Brasil. A acusação contra 9.989 delas (65%) foi de tráfico de drogas. Já entre os homens, em 2019, o tráfico representava 27,4%, quase um em cada três, o que também torna o crime de tráfico de drogas o delito mais comum entre os homens, superando crimes como roubos e furtos. O que acontece na prática é que muitos juízes enquadram casos de pessoas pegas com drogas como tráfico para garantir a prisão, já que a lei brasileira não define a quantidade do que é considerado tráfico. Porém, eu não vou entrar aqui nessa questão complexa da chamada política antidrogas, porque não é o tema desse livro, por isso não vou me aprofundar, porém não poderia deixar de mencionar que o que mais enche cadeia no Brasil é o crime de tráfico de drogas, sejam os acusados criminosos de verdade, ou forjados
como eles costumam dizer, que são pessoas pegas com pouca quantidade, para consumo próprio, e que o juiz usando a brecha da lei brasileira que não define quantidade enquadrou como tráfico, ou, pelo que eu ouvia lá dentro ainda mais comum, que a polícia no momento da prisão plantou
determinada quantidade de drogas com o indivíduo para garantir a prisão.
Ouro de tolo
Agora que você já sabe um pouco mais sobre mim, e como eu fui um ponto fora da curva nas estatísticas do sistema prisional, chegou a hora de mergulhar mais a fundo na minha história para compreender como de funcionário público federal, pai de família e sem nenhuma passagem criminal, cidadão de bem com reputação ilibada, eu me tornei um presidiário.
Como eu disse no início, tudo começou com um processo de divórcio muito conturbado. As brigas com a minha ex-mulher, desencadeadas pelo tumultuado processo de divórcio, me levaram, em momentos de ira e descontrole emocional, a tomar atitudes inconsequentes. Atitudes essas que me levaram a desafiar a justiça e desrespeitar as leis. Eu tenho plena consciência disso. Mas, depois de muito refletir (e na prisão eu tive muito tempo para isso), cheguei a conclusão que na verdade a minha tragédia pessoal começou bem antes disso, começou com um sentimento de vazio existencial que a maioria de nós chega a experimentar em algum momento da vida (na maioria dos casos quando estamos na casa dos 40 anos) e que alguns chamam de crise da meia-idade
, no entanto, eu diria que é algo muito mais profundo do que isso, é um intenso questionamento sobre todo o sentido da vida em um sentimento que mistura frustração, tristeza e infelicidade. É como se nada fizesse sentido, como se tudo pelo que você lutou a vida toda, emprego, status, dinheiro, títulos, fosse inútil, não tivesse valor nenhum.
Eu acredito que você conheça a famosa música do Raul Seixas Ouro de Tolo
, lançada por coincidência no ano do meu nascimento, 1973. Essa música defini com exatidão como eu me sentia.
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
Esse é apenas um trecho para ilustrar, mas recomendo que você busque na internet pela letra completa, ou pelo vídeo no YouTube, porque essa música é um retrato fiel da forma como eu me sentia.
É um sentimento horrível. Eu tinha tudo para ser feliz: uma família, um bom
emprego (estável e bem remunerado), porém, assim como na música, emprego, família, carro do ano, eu achava tudo aquilo um saco.
Por conta desse sentimento, dessa tristeza sem fim, eu procurei ajuda médica e acabei sendo diagnosticado como portador do mal do século, a depressão. Me tratei por anos. Me entupi de remédios. Me afastei do trabalho. Mas de nada adiantava, pois o meu vazio existencial era algo muito mais profundo. Era um buraco na alma que não se cura com remédios.
Agora você pode até achar polêmico o que eu vou dizer, mas o que eu digo é por experiência própria, eu joguei a minha saúde e muito dinheiro fora ao tomar antidepressivos por tantos anos, pois eles não resolvem o problema, apenas mascaram.
Eu não vou focar aqui na complexa questão da depressão, mas no meu caso ela era causada por esse vazio existencial, pela vida sem sentido, e eu só me livrei desse mal quando larguei os remédios e encarei os meus demônios de frente.
Isso não acontece da noite para o dia. É difícil. É complexo. Requer muita reflexão e autoconhecimento. Mas principalmente requer muita coragem. Coragem para tomar decisões difíceis. Decisões que adoramos empurrar com a barriga, mas que são questões que não se resolvem sozinhas e uma hora ou outra teremos que enfrentar. E uma dessas decisões difíceis que eu tive que enfrentar foi a de colocar um ponto final em um casamento fracassado. Mas términos nunca são fáceis. E eu não estava preparado para o que viria a seguir.
A Guerra dos Roses
- Eu preciso falar com você.
Eu disse isso para a minha ex-mulher assim que ela chegou em casa, após ela passar quase dois meses fora, de férias conjugais, na casa da irmã solteira no litoral.
- Eu quero o divórcio. - disse em seguida.
- Acabou né? - foi a resposta dela.
Ela não estava surpresa. Ela sabia que o nosso casamento já havia acabado há muitos anos e que há tempos estávamos juntos
somente por conveniência e pelo bem
da nossa filha.
Já dormíamos em quartos separados há quase uma década. Ela viajava sozinha duas ou três vezes por ano, em férias conjugais, e mal nos falávamos durante esses períodos.
- Você está conhecendo outra pessoa?
- Sim, estou. - fui o mais honesto possível.
Ela não ficou nervosa. Não sei dizer o que ela sentia naquele momento, mas talvez resignação, ela apenas aceitou.
Naquele momento não nos olhávamos com ressentimento. Fomos casados por quase 15 anos. Nos conhecemos ainda adolescentes, tivemos nossos namorados, nossas vidas separadas, para anos depois nos reencontrarmos e nos casarmos.
Não tínhamos uma história dramática para contar. Nem sequer precisávamos de um acerto de contas. Precisávamos só decidir como seria dali em diante, e descobrir como contar para a nossa filha de 10 anos.
- Como vamos contar para a Laura? - ela perguntou.
- Vamos contar juntos, com calma, transmitir tranquilidade para ela, e dizer que tudo vai ficar bem. - eu respondi.
Essa foi a parte mais difícil, contar para a nossa filha. Ela chorou bastante, foi de cortar o coração, mas eu expliquei que não existe ex-pai e que eu jamais a abandonaria e muito menos deixaria de fazer parte da vida dela e que ela sempre poderia contar comigo, que o meu amor por ela é incondicional, então ela finalmente se acalmou.
Passamos então a discutir as questões práticas da separação, quem se mudaria, quando se mudaria. Ficou acertado que ela se mudaria até o final do ano (estávamos em janeiro) para a casa da irmã, a mesma irmã que ela tanto gostava de visitar quando tirava férias do nosso casamento.
- Ok, eu não quero te apressar, mas que fique bem claro que o nosso casamento acabou. - eu respondi diante do pedido inusitado de passarmos quase 1 ano convivendo sob o mesmo teto como ex-cônjuges.
Ela concordou. Não era exatamente o que eu queria, mas diante das circunstâncias era um bom acordo. Eu só queria que tudo acabasse bem.
Hoje no fundo eu acredito que ela tinha a expectativa de retomarmos a nossa vida a dois.
No dia seguinte, a peguei chorando pelos cantos, me compadeci, tenho coração, mas não retrocedi da minha resolução de pôr fim a nossa união, pois eu tinha convicção que o nosso casamento já havia acabado.
E também agora já era tarde. Não tinha mais volta. Eu já estava apaixonado por outra pessoa.
Eu segui o nosso acordo. Passei a me comportar como homem solteiro, comecei a sair e não dar satisfação, voltar a hora que eu bem entendesse, passar a noite fora. Não éramos mais marido e mulher.
Na primeira vez que eu passei a noite fora o caldo já entornou. Ao retornar para casa pela manhã, ela estava arrumando as coisas, caixas espalhadas para todos os lados.
- O que está acontecendo ? - perguntei.
- Enquanto eu estava fora você trouxe outra mulher para dentro de casa !!! Seu canalha !!! Cachorro sem vergonha !!! A vizinha escutou as risadas !!! - Ela berrava visivelmente transtornada, daí quando ela partiu para cima e começou a me arranhar, para evitar coisa pior, entrei no carro e sai de casa.
A partir daí começamos a nossa própria versão da Guerra dos Roses
– filme com Michael Douglas