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Bion: a décima face: Novos desdobramentos
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Bion: a décima face: Novos desdobramentos
E-book271 páginas7 horas

Bion: a décima face: Novos desdobramentos

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Sobre este e-book

Este livro reúne alguns trabalhos apresentados nas Jornadas Psicanálise: Bion de 2016 e 2017, realizadas pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Nessas jornadas, psicanalistas apresentam suas contribuições e reflexões baseadas principalmente em experiências clínicas.

Bion sempre nos alerta para o fato de que a psicanálise tem a ver com a vida e deve servir para ampliar o contato com nossa própria realidade psíquica, fundamental para podermos nos aproximar de nossa própria intimidade e da de nossos analisandos. Nessa ótica, foram abordados temas relacionados com a experiência emocional vivida em cada sessão, o papel da dor psíquica no crescimento ou na deterioração psíquica, as características da atitude psicanalítica e a questão de como podemos lidar criativamente com a perspectiva da morte, permitindo que ela amplie nosso contato com a riqueza da vida.

Celso Antonio Vieira de Camargo

Membro efetivo da SBPSP
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de jul. de 2018
ISBN9788521213079
Bion: a décima face: Novos desdobramentos

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    Bion - Cecil José Rezze

    imagem de capa

    bion: a décima face

    Novos desdobramentos

    Organizadores

    Cecil José Rezze

    Celso Antonio Vieira de Camargo

    Evelise de Souza Marra

    Bion: a décima face: novos desdobramentos

    © 2018 Cecil José Rezze, Celso Antonio Vieira de Camargo e

    Evelise de Souza Marra (organizadores)

    Editora Edgard Blücher Ltda.

    Imagem da capa: iStockphoto

    Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar

    04531-934 – São Paulo – SP – Brasil

    Tel.: 55 11 3078-5366

    [email protected]

    www.blucher.com.br

    Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009.

    É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da

    editora.

    Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda.


    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


    Bion : a décima face : novos desdobramentos / organizadores : Cecil José Rezze, Celso Antonio Vieira de Camargo, Evelise de Souza Marra. – São Paulo : Blucher, 2018.

    264 p.

    Bibliografia

    isbn 978-85-212-1307-9

    1. Psicanálise 2. Bion, Wilfred R. (Wilfred Ru­precht), 1897-1979 - Crítica, interpretação, etc.

    I. Rezze, Cecil José. II. Camargo, Celso Antonio Vieira de. III. Marra, Evelise de Souza.

    cdd 150.195


    Índice para catálogo sistemático:

    1. Psicanálise


    Conteúdo

    Apresentação

    1. Atitude psicanalítica

    2. Sensibilidade, vulnerabilidade e fragilidade no processo analítico: algumas considerações sobre o conceito de simetria e interpretação na obra de Bion1

    3. Expansão do universo mental em vida face à morte1

    4. A dor psíquica na visão de Bion1

    5. Opinião e conveniência do analista?

    6. A linguagem de êxito e a importância do imaginário na prática da psicanálise e no seu desenvolvimento

    7. Bion: o autor na obra

    8. Introdução às ideias de Bion1

    9. . . . em uma sessão, estou interessado naquilo que não sei

    10. Intuição vivida ó ilusão, engano e mentiras: uma contribuição à observação psicanalítica

    11. Os desconhecidos, dentro e fora do conhecer 1

    12. Receptividade e submissão ao infinito da experiência

    Sobre os autores

    Apresentação

    Dez anos de jornadas

    Ao chegar aos dez anos de Jornadas Psicanálise: Bion na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) – parece que os números redondos provocam turbulências na alma –, nos vimos diante da imperiosa necessidade de avaliar, rever, pensar quais caminhos percorremos, quais poderão seguir-se e, dentre estes últimos: chegar ao fim das Jornadas?

    Paradoxal a ideia de término, por considerarmos que as Jornadas constituem uma contribuição ao pensamento psicanalítico de nossa Sociedade, bem como de outros grupos, permitindo um espaço em que tanto a experiência clínica quanto os desenvolvimentos conceituais possam se alçar a horizontes novos e inesperados. Uma das ideias centrais que norteiam a realização deste trabalho é a de que todos possam, da forma mais livre possível, explorar as contribuições e o conhecimento dos participantes. Para tal, temos privilegiado a participação, como apresentadores, de pessoas interessadas na obra de Bion que provenham de nosso meio, a SBPSP, embora outros olhares tenham enriquecido nossa experiência. Nas últimas jornadas, estendemos o convite a colegas de outras sociedades. Propomos também como método de trabalho exposições curtas que estimulem e deem espaço à participação grupal.

    Preocupação constante dos coordenadores do evento é como fazê-lo de forma que ele possa se apresentar com frescor renovado, a cada vez, e que dê a oportunidade de continuarem surgindo os pensamentos criativos que os colegas têm desenvolvido, podendo assim nos nutrir de conhecimento, realizações, enfim, um saber psicanalítico.

    Assim, nesse clima reflexivo, propusemos, neste encontro, que nos ocupássemos do todo da contribuição de Bion, por meio do que poderíamos chamar de síntese, retrospecto, condensação ou revisão histórica de conceitos. Os autores convidados desenvolvem o tema por vieses pessoais, singulares, mas acreditamos que tais desenvolvimentos possam ajudar a elaborar essa vasta indagação do contato ou impacto com a obra de Bion.

    Acrescentamos neste encontro duas palestras-curso. Uma, do Dr. Cecil José Rezze, centrou-se nos trabalhos iniciais de Bion (Experiências com grupos e O aprender com a experiência), fazendo uma exposição de conceitos básicos da teoria do pensamento. A outra, do Dr. João Carlos Braga, junta autor e obra e transita pela obra toda de Bion, desde Experiências com grupos, Teoria do pensamento, Transformações, até os trabalhos sobre mente primitiva e estados protomentais.

    Incluímos também, nesta publicação, os trabalhos da IX Jornada, cujo tema foi Em uma sessão interessa o desconhecido, citação de Bion em Cogitações, e também referência central do autor em questão, uma vez que nos lembra continuamente que o que importa na análise é o que analista e o analisando desconhecem, e não o que conhecem.

    Uma particularidade dos trabalhos é que são desdobramentos-reflexões de grupos de trabalho centrados no estudo teórico de Bion e em intensa prática clínica, nos quais têm surgido e são propostas ideias originais a partir das e as transformações de cada autor. Atualizamos a recomendação de Bion sobre a importância do aprender o valor da atividade psicológica ou psicanalítica – ou seja, psicanálise clínica.

    Assim, Arnaldo Chuster apresenta-nos uma abstração de vários elementos da obra de Bion a partir de um poema análogo, apontando para a questão da imaginação, da vulnerabilidade e da fragilidade na construção de imagens que contemplem ou atendam a simetria ou a lógica do inconsciente, que inclui a contradição.

    Claudio Castelo Filho, em outra aproximação, volta-se para a linguagem de êxito, dentre as variáveis psicanalíticas consideradas em Bion, discutindo as implicações de estarmos no âmbito da teoria da complexidade.

    Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho se detém na dor enquanto elemento de psicanálise, mediante proposições elaboradas e abertas para a realização do leitor, partindo de um belo recorte das dores no próprio Bion.

    Antônio Carlos Eva faz sua abstração da influência de Bion no que considera como atitude psicanalítica construída e mutante, fiel à ideia do aprender da experiência, bem como das implicações em si mesmo ao fazer da experiência emocional na sessão o seu centro de atenção.

    Paulo Cesar Sandler expõe suas ideias e defesa quanto ao acesso à verdade do analista em condições propícias. Aponta também os modos e riscos pelos quais, a seu ver, os analistas podem se afastar da verdade.

    Já o professor Antônio Muniz de Rezende apresenta uma elaboração pessoal sobre A expansão do universo mental face à morte, utilizando-se de penetrações do pensamento de Bion ao longo de sua vida como pensador.

    Temos quatro textos referentes ao tema O desconhecido, também apresentados pelos vértices absolutamente singulares de cada autor.

    Em comunicação compacta, Antonio Carlos Eva informa sobre como se posiciona na sala de análise.

    Deocleciano Bendocchi Alves faz aproximações, em um espectro amplo – no qual abarca reflexões sobre arqueologia e religião –, de conceitos psicanalíticos como play, realidade psíquica e sensorial.Em seu ensaio, Júlio Frochtengarten aborda referenciais teóricos, questões de método, linguagem de êxito e atitude psicanalítica, com aproximações a relatos clínicos.

    João Carlos Braga também acrescenta às elaboradas considerações teóricas sobre o par conhecer-desconhecer fragmentos de situações clínicas.

    Destacamos que, apesar dos temas e da escolha de autores que usam um referencial comum, o que é próprio de suas formações e suas personalidades eclode de modo gritante, como sói acontecer na experiência psicanalítica.

    Temos nos ocupado ao longo desses encontros, dos quais esta é a quinta publicação, da questão de o que faz o analista da experiência emocional?. Qual é a implicação da pessoa real do analista após Transformações? E o evolver do conhecer ao ser? Estamos em um novo paradigma? Que teoria da técnica, ou melhor, que prática se coaduna com a teoria do pensar em Bion?

    Somos gratos a todos aqueles que, neste período, têm atendido às nossas solicitações, contribuindo e participando como coordenadores de grupo, apresentadores de situações clínicas, apresentadores de trabalhos conceituais e clínicos e, ultimamente, nos grandes grupos de apresentação e discussão de situações clínicas. Especialmente gratos aos que se expõe com a intimidade da sua clínica.

    Somos gratos também aos colegas Antônio Carlos Eva, Marta Petricciani, Carmen Mion e Eva Migliavacca que, no decorrer dessas jornadas, fizeram parte da comissão organizadora, dando contribuição valiosa, ajudando a renovar a forma e o conteúdo delas. De grande importância, agradecemos também à diretoria da SBPSP, particularmente a científica, que tem nos dado ampla liberdade de trabalho.

    Esperamos que o leitor desta publicação possa fazer um uso criativo e estimulante para o pensar psicanalítico. Estendemos ao leitor parte do que na nossa experiência tem nos motivado apaixonadamente a continuar.

    Evelise de Souza Marra

    Psicóloga e mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

    1. Atitude psicanalítica

    Antônio Carlos Eva

    Procuro, no presente escrito, valer-me da minha trajetória como psicanalista; usarei esta dimensão para apontar como vejo os elementos que importam na minha teoria e prática.

    Trata-se, pois, de uma atitude pessoal, única, que vai se desenvolvendo com o passar do exercício clínico e teórico em psicanálise, os quais estão intimamente ligados e são interinfluenciáveis.

    Proponho que o encontro dessa atitude psicanalítica é consequência de inúmeros fatores, quase infinitos, e vou me aproximando de alguns e me afastando de outros, que já foram próximos e úteis. Tentarei, agora, descrever alguns deles, na medida em que minhas forças mentais o permitirem.

    Pretendo realizar um ensaio, como descoberto por Montaigne (1533-1592), no qual conclusões fortes e definitivas não estão presentes; o que escrevo, espero que sirva como estímulo para o patrimônio psicanalítico de cada um de nós.

    Faço isso porque, acima de tudo, a atitude psicanalítica é um todo em andamento, que didaticamente contém uma parte estável, central, a qual influencia e é influenciada continuamente por fatores ligeiros e leves que aparecem no dia a dia, quer na dimensão clínica e prática, quer nas teorias das quais me aproximo e tenho alguma compreensão; como disse, sempre em andamento. Ainda assim, há a dimensão estável e central, que, no meu senso comum, parece constante e à margem do dia a dia.

    A teoria central que uso privilegia a experiência emocional presente no encontro psicanalítico, da qual decorrem concepções e compreensões até formarem uma teoria psicanalítica pessoal.

    Sem sombra de dúvida, o autor que mais me influenciou nos últimos trinta ou quarenta anos é Bion, com sua extensa obra publicada, a minha compreensão da obra de Bion vai sendo por mim transformada a cada aproximação que faço dela.

    Penso que o centro de minha atitude clínica pode ser filiado à ideia d’O aprender com a experiência, que, em livro, foi publicado em 1962. De lá para cá, penso haver um período de lua de mel com a teoria de aprender com a emoção presente, na qual a experiência emocional presente era o todo do trabalho clínico. Passado e futuro, bem como os fatos em si, compartilhados ou relatados, pouca importância apresentavam para o desenvolver de pensamento, que acontecia por acúmulo de elementos α, lugar de onde se formava o conhecimento.

    A lua de mel noticiada anteriormente durou muitos anos, mas, progressivamente, foi-se percebendo que ela estava infiltrada por elementos psicanalíticos outros, que estão em outra dimensão que não a experiência emocional presente e pura do aprender com a experiência presente e só.

    Esse novo conjunto deve necessariamente conter e englobar o aprender com a experiência emocional presente; deve, necessariamente, contê-la, mas é mais complexo do que ela; abriga dimensões variadas, algumas das quais irei apresentar mais adiante. Como é um conjunto emocional, é impossível traçar limites objetivos entre seus componentes.

    Esse conjunto constitui um patrimônio. Cada um de nós nasce com parte dele, e ele é modificado com o passar da experiência de vida e de psicanálise em particular. Ele se incorpora à nossa atitude mental e influencia, poderosamente, a nossa aproximação do presente. O patrimônio citado oferece um ângulo novo a cada vez que me aproximo dele, e no meu entender, esse novo é praticamente inconsciente. O patrimônio a que me refiro não está disponível para a minha consciência e para o meu raciocínio em especial. Não é para meu uso consciente, mas está instalado e constitui minha personalidade, da qual decorre quem eu sou; melhor seria dizer quem eu estou, se me aproximo da teoria.

    Uma decorrência estratégica e vital desse entendimento se manifesta na escolha atual em nossos institutos de psicanálise. A cada dia, o interesse maior e central se encaminha para a personalidade do formando, que perdeu o paraíso de ser neutra ou resolvida e sem influência no que se vive; dessa proposta decorre que cada um de nós vê de maneira única e pessoal o que é a vida, por isso prioriza e percebe como importante a clínica e teoria que criamos e que vai constituir o patrimônio psicanalítico de cada um, compartilhado à medida que é publicado. A publicação ocorre de várias formas, uma delas acontecendo agora, por exemplo, por meio deste escrito que é intuído, percebido e examinado pelo outro.

    Com o passar do tempo, vou me aproximando de uma proposta revolucionária, que está explicitada por Bion desde a década de 1960 e que vai progressivamente sendo percebida. Ela sinteticamente pode ser assim escrita hoje: suponho que a concepção de Bion de que o pensamento, o conhecimento consequente, se dá por uma emoção; a emoção como base do pensamento revoluciona e subverte a antiga concepção de que o pensamento se dá fora da área das emoções. Acredito que esta revolução não pode ser aceita de maneira pacífica e fácil; ela provoca retornos, minuto a minuto, à área do pensamento objeto racional e só. Admitir a razão, a racionalidade como uma forma elaborada do pensar, protegida das emoções, está em andamento aos trancos e barrancos.

    Abro, agora, uma divisão em que uma parte é falar sobre psicanálise, que é o que faço agora, e a outra parte, outra dimensão, é a que se refere a fazer psicanálise, viver psicanálise, que se dá essencialmente, ou exclusivamente, na psicanálise clínica, na sessão psicanalítica.

    Hoje a psicopatologia do analisando, em decorrência dessa posição, perde força e essência, abrindo caminho para a psicanálise que se centra na experiência emocional presente, que depende clinicamente do ângulo, ou dimensão, ou viés, no qual me posiciono e valorizo, utilizando para isso meu patrimônio citado acima.

    Cada um de nós, penso eu, em atividade clínica e teórica utilizará a dimensão de falar sobre psicanálise, fora do consultório psicanalítico; e vivendo e exercendo a dimensão de estar em psicanálise dentro dele. Nessas dimensões temos a condição favorável, de perceber quão única e pessoal é nossa atitude. Para isso necessitamos, quer na clínica, quer na dimensão teórica, de capacidade de suportar o que o outro vê e intui na situação, e que é necessariamente diferente do que vejo e intuo.

    Chamo de respeito um elemento essencial para a psicanálise que se centra no aprender com a experiência emocional presente; pois, se desrespeitamos o outro enquanto diferente de nós e se com isso ele deixa de ser uma pessoa, não é possível aprender com a experiência, uma vez que certamente utilizaremos memória e desejo para caracterizar e nomear o que percebemos. Isto vale, nunca é demais lembrar, para mim e para o outro; vale para o par psicanalítico.

    Loucura, burrice, psicopatia, psicose, neurose, regressão, transferência e contratransferência são nomes que são usados, com muita frequência, para substituir respeito e compreensão diante do outro diferente de mim. Proponho que minha função psicanalítica não é esclarecer para o outro o certo ou normal que está em mim. A atitude psicanalítica é participar da experiência no encontro psicanalítico em andamento.

    As descrições clínicas mais frequentes que fazia antigamente, mas que, vez por outra, faço no presente com meus analisandos e que estão apoiadas em teorias de personalidade que, por sua vez, se apoiam em certa psicopatologia compatível com as mesmas teorias, foram progressivamente ganhando uma compreensão de que elas são decorrentes do interesse e foco que emprego. Por assim dizer, nascem do encontro para formar-se e robustecer-se. São, penso eu, consequência do entrechoque das duas personalidades ali presentes.

    Acredito firmemente que hoje o analisando é visto por meio de minha atitude psicanalítica, a qual forma o meu patrimônio psicanalítico, sempre em mudança. É por meio desse patrimônio que cada um de nós intui, percebe e deduz as características mentais de quem está diante de nós; quando possível, do par formado.

    Proponho que o analisando em contato com o analista será atraído para o que prevalece na mente do analista. Bion diz, por várias vezes, em sua obra, que a área de trabalho psicanalítico está onde se dá o conhecimento (K). É vedado ao analista, enquanto trabalha com a experiência emocional presente e possivelmente compartilhada com o analisando, viver e priorizar as dimensões pessoais de amor e ódio, pois estas não levam ao conhecimento emocional, por si mesmas.

    Os institutos de psicanálise, em particular o de nossa Sociedade, na qual milito e a qual influencio, oferecem ao analista dimensões variadas de aprendizado: análise didática, supervisões, seminários clínicos, cursos teóricos, além da convivência em grupo para a maioria das atividades. Espera-se, com isso, que cada um de nós mergulhe no ambiente de modo a construir uma atitude psicanalítica pessoal e em andamento, o que acontece a cada momento, inclusive neste momento em que apresento este escrito, esperando que seja uma gota dessa atitude.

    Cada um de nós, sem cessar, ativamente, vai colhendo alguns elementos dessa imensidão oferecida e vai formando sua própria concepção de psicanálise. Ela continuamente agrega fatores e descarta outros, já existentes, mas que perdem a atualidade; não se encontram mais em uso. O essencial e o básico dessa construção são feitos de modo inconsciente, não podendo, pois, ser objetivamente apresentados.

    Na minha experiência, levei muitos anos para que pudesse formular um conjunto dinâmico de elementos, que são o que percebo como centrais e essenciais, como patrimônio, e que me orientam na clínica e consequentemente também na teoria.

    Apontarei apenas que o centro de meu interesse, quando estou psicanalista de acordo comigo mesmo, é o que chamo de experiência emocional, desejavelmente compartilhada, ao menos em parte, fator básico e essencial para aprender na experiência e desenvolver pensamentos que convivem sempre com elementos de não pensamento, que constituem o que chamo de função psicótica da personalidade.

    A seguir menciono os trancos e solavancos que Bion e, em seguida, eu mesmo sofremos, cada um à sua maneira e com seu patrimônio, com o aparecimento da teoria das transformações; de funções que vão além do conhecimento; ou funções acontecendo diferentemente do que nomeio experiência emocional (K); elementos que por vezes são chamados o sendo na vida toda, mesmo antes do nascimento biológico; e de dimensões que vão além do tradicional campo de experiência emocional presente, base para o pensamento e função α. Inserem-se aí as ideias de pensamento sem pensador, de pensamentos selvagens, que procuramos domesticar; outras funções que estão em área nem consciente, nem inconsciente etc. Proponho que estes agregados à teoria inicial da experiência emocional presente decorrem das dificuldades que vamos apurando na clínica, as quais restringem e por vezes impedem o ato de fé; estes novos elementos acrescentados procuram ser uma complementação da teoria das emoções anteriormente apresentada; procuram supri-la de novas dimensões.

    Acrescentei, dentro dessa atitude psicanalítica, o ato de fé que me permite estar disponível para a emoção vivida. O ato de fé cria uma força para me manter no que percebo do presente vivido; para não me afastar do

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