Fim: para onde vão os finais felizes?
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Sobre este e-book
Términos de relacionamento nem sempre representam sofrimento e dor. Pode ser libertador entender que não é preciso se fazer caber no olhar do outro, ou tentar se encaixar em situações desagradáveis apenas para ter alguém ao lado. E mais: é preciso sentir, intensa e demoradamente, tudo que surge desse tipo de experiência.
Fim: para onde vão os finais felizes?, de Gabie Fernandes, resultado das histórias pessoais da autora e dos desamores com ela compartilhados, rasga protocolos e trata com muita honestidade (e bom humor) das crenças românticas que também acabam quando as relações não têm o desfecho esperado.
Dos dias ruins, cicatrizes e perdas, nasceu um livro sobre como se refazer e reencontrar o seu próprio final feliz.
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Fim - Gabie Fernandes
Para início de conversa
Sempre digo que eu sou um para-raios de problemas. Por algum motivo as pessoas se sentem livres pra desabafar comigo. Não levo jeito pra conselhos, mas sou uma boa ouvinte, deve ser por isso.
Um dia desses uma das minhas grandes amigas me mandou mensagem falando sobre uma das muitas crises de amor pelas quais ela estava passando com o mesmo cara. Meu coração também não estava na melhor fase, e achei uma boa ideia a gente passar o dia juntas falando sobre nada.
Rimos, choramos e nos preenchemos. As mulheres têm este poder: nós nos curamos!
Já passava das 20h quando eu chamei o Uber. Calculando rapidinho o tempo da corrida, eu chegaria em casa perto das 20h30 e ainda daria tempo de ver um episódio de The Big Bang Theory.
O motorista chegou, eu entrei e ele perguntou, como quem não quer nada:
— Indo passear, moça?
Eu sorri mesmo de máscara e respondi, num tom brincalhão:
— Tô indo pra casa, só vim dar um cheiro numa amiga que tá com dor de desamor.
Ele parou, pensou e disse:
— Ah, é? E eu posso te contar a minha história?
Sabe aquela cena do filme que antecede uma grande virada de chave? Aquele momento curto que faz o roteiro ficar empolgante? Foi isso que eu senti. Estava ali o meu plot twist.
O motorista começou a falar então da ex-esposa. Ele contou que ainda era apaixonado, mas ela não queria mais, que ele tinha certeza de que era a mulher da vida dele, que ele faria de tudo pra tê-la de volta, que nunca havia sofrido tanto. Ele começou a chorar.
Perto das 20h30, conforme previsto, ele chegou na minha casa. Encostou o carro e desligou o aplicativo. Abaixou o banco, bebeu um gole de água. Eu aproveitei a pausa pra avisar minha mãe que havia chegado, mas iria demorar pra subir… Ele continuou chorando enquanto eu reunia todos os meus bons conselhos, do alto dos meus vinte e cinco aninhos, sobre amor e tentava dar um vislumbre de esperança para aquele homem que tinha idade pra ser meu pai.
As horas foram passando. Perto das 22h30, visivelmente mais calmo, ele pediu desculpas por ter esticado tanto a conversa, por ter chorado e por ter tomado o meu tempo.
Eu respondi que não tinha problema e contei pra ele que falar de amor era a minha coisa favorita na vida… E disse que eu tinha um presente – simples, mas de coração. Subi no meu apartamento, peguei um exemplar do 23 MOTIVOS PARA NÃO SE APAIXONAR, autografei, entreguei e falei, com todo o carinho que consegui reunir numa frase:
— O AMOR É BOM, eu juro!
Ele ficou emocionado e nós trocamos telefones, afinal, eu fiquei preocupada.
Contei o caso curioso pra minha mãe e ela não se surpreendeu:
— Tem algo em ti que exala amor...
Achei bonito.
Pouco tempo depois, seu Alexandre, o motorista do Uber, me escreveu contando as boas-novas: tinha decidido cortar contato com a ex, tava se cuidando e fazendo terapia. Ia viajar e tinha decidido trocar de carro.
Um relacionamento saudável é lindo de ver, principalmente quando é com a gente mesmo.
Nesse dia eu entendi que não basta só falar de amor; é preciso também falar de desamor. As pessoas só querem ser ouvidas. Que privilégio ser esse para-raios de problemas!
É no fim que encontramos os começos, disso não tenho dúvida!
Se o teu coração está machucado, saiba que tem cura.
Que cada capítulo deste livro seja como um abraço quentinho, um pote de sorvete e uma conversa longa com alguém em quem você confia.
Amor é bom, principalmente o próprio!
Mil beijos,
Gabie
Depois do fim
Do lustre saem duas rachaduras grandes. Uma é mais grossa, perdeu uma lasquinha de reboco e dá pra ver uma linha cinza do concreto. E ela sai bem do ponto onde foi parafusada a estrutura de metal. A outra rachadura sai da primeira rachadura – uma ramificação da destruição – e segue até a extrema ponta do quarto, divisa entre as paredes. Por muito pouco não faz o caminho vertical e vem descendo até o piso. Consigo reparar nas faixas de tinta branco gelo malpintadas, cada uma indo pra um lado, numa malfeita dissincronia artística. Isso que dá não chamar um pintor profissional.
Há quanto tempo estou deitada na mesma posição? Não sei dizer ao certo, mas é tempo suficiente pro mundo escurecer lá fora e eu conseguir narrar com precisão assustadora os caminhos do teto.
Não tenho forças pra sair daqui. Não sinto