Entre o Ideal e o Real: Das Inquietudes Humanas
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Sobre este e-book
Desde as minhas primeiras memórias, fui atravessado por dois polos: o Ideal e o Real. Assim se deu a construção de parte da minha subjetividade, por meio desses dois extremos antagônicos e paradoxalmente complementares. Foi deles que sempre me alimentei durante toda a minha existência. Hoje, na fase que costumeiramente designamos adulta — tinha razão Freud quando disse "a criança é o pai do adulto" —, continuo entorpecido ininterruptamente pelo Real e o Ideal, as duas dimensões que contribuíram para a construção da minha psique. Desse modo, sou uma unidade que comporta uma duplicidade, uma complexidade, formada por incontáveis dobras, a minha (im)penetrável topografia. Tenho a nítida impressão de que acordei sonhando e desde então sonho acordado. Desse modo, apaixonado pelos sonhos e desiludido com a realidade, passei a construir utopias, moradas, topografias que não existem, pois a minha crença em um lugar que não existe tornou suportável habitar o topos, o lugar que existe. Entretanto, chega o momento em que a realidade por si mesma se impõe e, ainda que ela tenha essa força, eu não deixarei de ser sonho e realidade, ideal e real, continuarei a transitar entre esses dois polos, que apesar de antagônicos são complementares, pois tanto um como o outro cabem e estão dentro de mim. Portanto, há uma parte de mim que insiste em sonhar e outra que impiedosamente me desperta.
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Entre o Ideal e o Real - João Batista da Silva
Introdução
Penso que somos semelhantes aos anfíbios, pois esses possuem vida dupla, uma vida aquática e outra terrestre. Nós também usufruímos de um mundo ideal e de um mundo real, de uma vida terrestre e de uma vida celeste. No entanto, não tenho conhecimento das inquietudes de um anfíbio, mas reconheço que tenho algum conhecimento das inquietudes humanas.
Neste ensaio, Entre o ideal e o real: das inquietudes humanas, tenho a pretensão de convidá-los à reflexão da condição humana em face a essa vida dupla, o ideal e o real, a partir de temas contemporâneos e em determinadas situações, com os olhos voltados para a história para melhor compreender o estado atual. Muito embora bem saiba que os assuntos não se esgotarão aqui e que muitas provocações não serão respondidas.
Assim, ao abordar essa vida dupla, entre o ideal e o real, de maneira aleatória, começo o primeiro ensaio sobre o ideal de perfeição e o quanto esse pode se tornar um flagelo em nossas vidas, visto que vivemos envoltos em um mundo em que parecer ser ocupou o espaço do ser e, quando adotamos tal imperativo, não há como deixar de indagar: quanto sacrifício será dispendido em nome da bendita perfeição?
Em continuidade, no segundo ensaio, apresento como ideia central a seguinte questão: há uma ordem necessária que torna possível a existência de tudo? Se antes tínhamos uma visão determinista, ideal, acerca do novelo da nossa existência, bem como dos fenômenos naturais, hoje sabemos que essa perspectiva merece ser revista, pois o caos, o acaso e o aleatório não podem mais ser desprezados. Ou devemos continuar a crer que a nossa existência está predeterminada?
Prosseguindo, no terceiro ensaio, exponho que a dúvida é uma centelha que habita a nossa alma e, por conseguinte, a maior inimiga da fé. De um lado, a fé como ideal e do outro, a dúvida como real. Para alguns a fé é necessária e a dúvida apavorante, ao passo que para outros a dúvida não pode ser olvidada, pois é ela que move o mundo. As questões são: como lidamos com essa vida dupla? Por que para alguns a dúvida sempre foi malquista? Somos capazes de extirpar a dúvida que faz morada em nossa alma?
No quarto ensaio, a arte de esculpir a si mesmo, descrevo algumas facetas do ser humano, pois o ser humano é um ser que escolhe, que decide, que projeta, que promete e que se sonha. A questão é sobre a liberdade humana diante dessas singularidades
de escolher, decidir, projetar, prometer e sonhar. Somos capazes de esculpir a nós mesmos sem quaisquer influências?
Hoje bem sabemos da importância do tempo, bem como o quanto estamos imersos no mundo das telas. Assim, no quinto ensaio, O pêndulo existencial e a ficção do tempo e o ideal: das telas defronte ao mundo real
, apresento o quanto nos encontramos sob o império do tempo, bem como sob o reino das telas. Nessa toada, já não temos tempo para nós mesmos e, quando encontramos um tempo para nós mesmos, afundamo-nos nas profundezas das telas. Existe um tempo para viver? Qual é o tempo de viver?
A busca de um sentido para a existência parece a ser a mais antiga de todas as inquietações humanas e talvez a única para a qual não se encontra uma resposta satisfatória. Essa é a reflexão exposta no sexto ensaio. Vivemos em um momento no qual as nossas angústias devem ser medicalizadas para que possamos continuar produtivos e, por conseguinte, as nossas inquietudes devem ser apascentadas, pois estamos todos bem. Existiria um sentido universal para a existência ou cada um deve buscar o seu?
Discutir sobre a morte sempre foi um tabu para muitas pessoas, tendo em vista que determinadas crenças sempre apontam na direção de uma outra vida e qualquer objeção a tal crença soa como desarrazoada. No sétimo ensaio, sobre a vida e a morte, disserto sobre essa questão. Será que temos uma visão exata do que seja a vida e a morte? Ou temos uma visão superficial? A nossa vida e a nossa morte estão predeterminadas? Tais provocações estão presentes nesse ensaio.
As emoções, os nossos afetos, em especial a nossa cupidez é o mais desajustador, o desejo é desajustador e discorrer sobre ele penso que seja algo inquietante, mas libertador. No oitavo ensaio o tema é sobre o desnudar dos nossos afetos. A nossa educação moral teve como um mantra de que existe um tempo adequado para tudo. Poderíamos aplicar essa máxima para os nossos afetos? Ou seja, há o tempo adequado para deixá-los nus? Ou eles devem serem escondidos até que a morte nos separe?
A liberdade é um dos mais preciosos bens humanos, por ela se vive e por ele se mata. Do sonho de liberdade é a temática do nono ensaio. Podemos falar de uma liberdade absoluta? Ou devemos negá-la sob pena de mostrar quem de fato somos com vistas a atender às expectativas alheias? À liberdade dedicamos poesias, compomos e cantamos músicas etc. Ela grita dentro de nossa alma, pois é lá que ela é plena.
Há quem diga ter plena convicção de quem se é. No entanto, se nos dispusermos ir mais fundo nessa questão, talvez não tenhamos mais tanta certeza. Das nossas certezas
: quem somos nós? É o décimo e último ensaio deste livro. A nossa história está permeada de fábulas e estórias acerca das nossas origens. Tais ideias foram cravadas desde a infância em nossas mentes. Entretanto, chega um momento da vida em que as inquietudes começam a comparecer, pois a realidade se impõe por si mesma contra todo e qualquer ideal ou estória. Sabemos quem somos nós neste pequeno grão de areia que vagueia na imensidão da Via Láctea?
Boa leitura!
Em que medida o ideal da perfeição pode tornar-se o nosso flagelo?
Há tantos ideais caros que custam uma vida toda e jamais se materializarão. Julgo oportuno reportar à minha infância, o prelúdio do belo, do grandioso, do espetacular, o momento em que o mundo tinha uma proporção nunca dantes vista. O mundo mágico que se abria diante dos meus olhos, as estórias, as fábulas que sempre terminavam com todos felizes. Eu habitava o reino das perfeições.
Entretanto, à medida que a infância me abandonou, abriu-se uma nova janela na qual o fantástico desaparecia e o mundo real, a vida como ela é, foi pouco a pouco se instalando no meu dia a dia. Vez ou outra, ardia em mim o desejo de retornar, mas diante da impossibilidade me pus a sonhar, pintar o mundo com as cores que eu escolhia como as melhores. Assim, dei-me conta de que poderia sonhar com o ideal da perfeição, sempre com a doce ilusão de que em um dado momento ele se cristalizaria diante de mim. Eu agora habito o mundo dos sonhos, eu posso sonhar e, segundo dizem, eu devo acreditar sempre nos meus sonhos, pois a crença neles é o que os tornará reais.
Assim, visando a expor as minhas inquietudes acerca de nossas crenças, em especial, o ideal da perfeição, eis-me aqui diante dessas páginas e das palavras que se exteriorizam em nossa linguagem enquanto indivíduos; o que permite a comunicação intersubjetiva, ou seja, entre nós e os outros, será o caminho do nosso diálogo.
Portanto, é com o intuito de estabelecer essa comunicação entre nós que farei o uso das palavras, ainda que essas possam ser ambíguas quando se manifestarem na linguagem, com vistas a responder à questão anteriormente proposta: em que medida o ideal da perfeição pode tornar-se o nosso flagelo?
Indubitavelmente, as palavras ganham contornos diferentes desde o momento que chegam à nossa inacabada subjetividade, em nosso eu, que, em virtude de suas próprias vivências, carrega dentro de si uma pluralidade de sentidos. Como exemplo posso tomar a palavra perfeição e, por conseguinte, os nossos ideais de perfeição e o sentido ou o modo como tais ideais atravessam cada de um de nós.
Inevitavelmente, as palavras uma vez vociferadas ganham uma superabundância de significados, passam a ter vida própria. Algumas encontram morada em nossa alma, algumas nem entram lá e outras já têm aparentemente os seus significados consolidados. Quando digo aparentemente consolidados, estou a admitir que a linguagem é viva, isto é, ela se movimenta e, em virtude dessa mobilidade, pode sofrer mudanças nos seus significados.
As palavras têm a capacidade de expressar as nossas sensações, nossas imaginações, nossas emoções, nossos sonhos, enfim, toda a sorte de sentimentos que nos habitam. A linguagem é a trilha que nos permite passear, mostrar o nosso ser, comunicar-se com aqueles que são conhecidos e com aqueles que ainda não conhecemos.
O ser humano, ao longo de sua existência, povoou diversas regiões do planeta, bem como migrou para muitos lugares, cada povo com a sua forma de ser, o que denominamos hoje de diversidade cultural, pois cada cultura tem seus símbolos, suas palavras, seus hábitos, seus costumes, suas crenças etc., e certamente os seus significados que podem ser distintos de outras culturas.
Em sua trajetória pelo globo terrestre, os humanos criaram uma infinidade de instrumentos necessários à sua sobrevivência. Entretanto, considero que há um que não devo esquecer-me: a linguagem. Segundo Thomas Hobbes (1588-1679), a linguagem, que tem como primeiro autor Deus, foi a mais nobre e útil de todas as invenções, permitiu nominar as coisas, conectá-las, registrar pensamentos, recordações, transmitir saberes aos nossos descendentes, propiciar a conversa recíproca e civilizar o homem por meio do contrato e do Estado¹.
Entretanto, há um paradoxo, qual seja: quanto à linguagem, citada como autoria de Deus por Hobbes, se assim aceita for, como podemos admitir que Deus criou uma infinidade de linguagens, já que cada povo tem a sua própria linguagem, bem como as suas respectivas representações de Deus? Como seria possível a ideia de um Deus único, monoteísta, criar uma pluralidade de linguagens e uma pluralidade de Deuses, o politeísmo?
Entendo como mais plausível a ideia de que a linguagem é uma invenção humana — assim eu creio — destinada a princípio a nominar coisas, objetos, estados afetivos e, por conseguinte, permitir a comunicação humana, mas que, depois de um determinado tempo de uso, passou a ter vida própria e, nos lábios de certos homens, transformou-se em poder.
Nasceu com esses o poder da persuasão ou a arte de persuadir por meio de discursos capazes de dar às palavras o poder de transcender
e convencer alguns, na maioria das vezes, de uma realidade que inexistia. Essas habilidades lhes facultaram a capacidade de encontrar as palavras certas, o modo mais apropriado de dizê-las de sorte que tais palavras se tornaram música
, inebriavam os seus ouvintes e os faziam levitar.
Tal predicação das palavras e,