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O Mundo Como Ele É
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E-book319 páginas3 horas

O Mundo Como Ele É

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Sobre este e-book

Todos os dias ouvimos palavras como socialismo, capitalismo, comunismo, liberalismo etc. Mas o que de fato isso significa para a vida das pessoas? O ser humano vive em sociedade e, para isso, precisa se organizar social, política e economicamente. Então é necessário discutirmos o que é sistema econômico (o modo com a sociedade produz) e as ideologias (aquilo que sustenta a forma de organização desta sociedade). Independente da opinião do leitor sempre haverá um modo de produção e uma ideologia. Por isso aqui temos uma relevante importância. Renato Moreira, em O MUNDO COMO ELE É: Sistemas Econômicos e Ideologias propõe neste livro investigativo abordar como os sistemas econômicos e as ideologias evoluíram desde o início da humanidade até os dias atuais. Compreender o passado é importante para responder a seguinte pergunta: Que mundo queremos viver? Os editores
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de abr. de 2022
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    O Mundo Como Ele É - Renato Moreira

    1. Sistema econômico

    A Economia é uma ciência social que estuda como a sociedade decide empregar os recursos para a produção de bens e serviços. Porém, temos recursos limitados, contrapondo-se às necessidades humanas, que são ilimitadas. Baseando-se nestas restrições, originam-se os chamados problemas econômicos fundamentais: 1) Como produzir (no âmbito da tecnologia)?; 2) O que e quanto produzir (no âmbito da produção)?; 3) Para quem produzir (no âmbito da distribuição)? Dessa forma, o modo como a sociedade resolverá os problemas econômicos fundamentais depende da sua organização econômica, ou seja, como está estruturado o seu sistema econômico. Tal conceito parte do princípio de que a atividade é sempre realizada por mais de uma pessoa, o que torna necessário dirigir as atividades para um objetivo comum. Portanto, a produção, circulação (de bens e serviços) e distribuição da renda interessa a todos os indivíduos.

    Na realidade, o sistema econômico não se apresenta de forma homogênea, se comparado em diversos países. Porém, podemos observar a presença de algumas características comuns. Por exemplo, o comunismo primitivo se baseava no trabalho coletivo. Já o escravagismo dividia-se basicamente em homens livres e escravos. O feudalismo estava baseado na relação do senhor feudal e do servo. No capitalismo, a relação básica está na propriedade privada (dos meios de produção) e no trabalho assalariado.

    Por outro lado, o sistema econômico apresenta várias formas de atividade econômica. Entre as mais comuns estão: a coleta, a criação de gado (pecuária-pastoril), a agricultura, a agroindústria, a indústria, o artesanato e os serviços. E dentro de cada uma delas existe uma divisão de tarefas. Neste caso, ela pode ocorrer em função do sexo, idade, da força física, ou mesmo da capacidade intelectual de cada indivíduo, por exemplo.

    Temos que fazer algumas considerações sobre a indústria. Tal ramo começou a ganhar destaque na economia a partir de 1760 com a Primeira Revolução Industrial. Muitos empregos são gerados na sua cadeia produtiva. Por isso, é preciso citar os mais importantes para compreendermos a sua importância. A sua evolução se deu da seguinte forma:

    1) INDÚSTRIA ARTESANAL: Se caracteriza por não haver divisão do trabalho, ou seja, o artesão realiza todas as etapas ou as atividades necessárias para a obtenção do produto final. É o trabalho manual;

    2) INDÚSTRIA MANUFATUREIRA: É o estágio intermediário. Assim, cada trabalhador (ou grupo) realiza uma tarefa diferente com o uso de máquinas simples. Dessa forma, todas as tarefas são complementares para a obtenção do produto final;

    3) INDÚSTRIA MODERNA: Surgiu com a Revolução Industrial (a partir do século 18) e predomina até nossos dias. Caracteriza-se por grande divisão do trabalho e emprego de máquinas cada vez mais avançadas. Assim, o trabalhador passa a ser o operador desses equipamentos. Neste contexto, a Indústria Moderna se divide em vários segmentos:

    a) BENS DE PRODUÇÃO (DE BASE, DE CAPITAL, OU INDÚSTRIA PESADA): Produz máquinas e equipamentos para outras indústrias. Entre eles: metalmecânica, material de transporte, material elétrico, material para energia e material para comunicações;

    b) BENS INTERMEDIÁRIOS: Produz novas matérias-primas e insumos para as empresas, entre eles: minerais não metálicos (cimento, telhas, vidro), químicos (soda cáustica), metalurgia (ferro, aço, alumínio), siderurgia, cria demanda para produtos metalúrgicos (ferro, aço, manganês);

    c) BENS DE CONSUMO (BEM FINAL), que se ramificam em:

    c.1) DURÁVEIS: Ciclo longo de reposição (automóveis, eletrodomésticos, etc.). No caso dos automóveis, por exemplo, cria mercado para máquinas e ferramentas, ou seja, Bens de Produção no setor de material de transporte;

    c.2) NÃO DURÁVEIS (INDÚSTRIA LEVE, INDÚSTRIA TRADICIONAL): Ciclo longo de reposição. Indústria têxtil (tecidos e vestuário), alimentícia (alimentos e bebidas) e calçadista, por exemplo.

    No caso do setor agrícola, devemos ressaltar:

    I) AGRICULTURA EXTENSIVA OU DE SUBSISTÊNCIA: É caracterizada pelo uso de técnicas rudimentares na produção. Normalmente é utilizada pela agricultura familiar (baixa produtividade). Pode ser encontrada tanto nas pequenas propriedades quanto nas grandes, com o predomínio da utilização da mão de obra humana e baixa mecanização. Para preparar a terra, a queimada é um dos métodos utilizados. Quando se desgasta o solo, tem-se por costume abandonar a área.

    II) AGRICULTURA INTENSIVA: É um sistema de produção agrícola que faz uso intensivo dos meios de produção, no qual se produzem grandes quantidades e se requer grande uso de insumos e capital (elevada produtividade). Também é voltada para o abastecimento do mercado consumidor interno e para a exportação. Para preparar a terra, um dos métodos utilizados é a rotação de culturas, visando a desgastar menos o solo. Assim, usa-se a terra sem abandono.

    III) AGROPECUÁRIA: Consiste no conjunto de atividades primárias, associada ao cultivo de plantas (agricultura) e à criação de animais (pecuária) para consumo humano. Também produz para o fornecimento de matérias-primas na fabricação de roupas, medicamentos, biocombustíveis, entre outros.

    IV) AGROINDÚSTRIA: É o conjunto de atividades relacionadas à transformação de matérias-primas provenientes da agricultura, pecuária ou silvicultura. Para cada uma dessas matérias-primas, a agroindústria é um segmento da cadeia que vai desde o fornecimento de insumos agrícolas até o consumidor. Dessa forma, faz a integração entre o campo e a cidade.

    V) AGRICULTURA SOCIALISTA: Trata-se das fazendas de propriedade do Estado (fazendas coletivas) voltadas para a produção do consumo interno. Utiliza métodos intensivos, com grande uso de insumos e capital (elevada produtividade). Abastecida a população do país, o excedente pode ser utilizado para exportação.

    De modo geral, caracterizamos o sistema econômico neste livro como um sistema de produção, de distribuição e de consumo de bens e serviços de uma economia. Assim, podemos considerá-lo como uma forma organizada que a estrutura econômica de uma sociedade assume. Ou seja, ele é uma forma política, social e econômica sob a qual está organizada a sociedade. Isso engloba, por exemplo, o tipo de propriedade, de divisão do trabalho, os processos de circulação de bens e serviços, o consumo e os níveis de desenvolvimento tecnológico.

    2. Ideologia

    Este termo apareceu pela primeira vez em 1801, no livro Elementos de Ideologia do francês Destutt de Tracy. Todas as sociedades precisam se organizar para que possam funcionar econômica, política ou socialmente. Para isso, é necessária uma forma. E essa forma se dá através de um conjunto de normas, valores, ideias e práticas sociais que procuram justificar as relações econômicas, políticas e sociais existentes na sociedade. É importante perceber que a ideologia é uma estrutura de pensamento ligada a um grupo, geralmente aquele que domina um país ou território. Isso quer dizer que ela também serve como elemento de dominação de um grupo. Assim, ela tem como função manter a coesão social e a estrutura econômica vigente através das ideias do grupo dominante.

    Nesse sentido, Marx, em A Ideologia Alemã, de 1846, ensina que as ideias das classes dominantes são as que prevalecem na sociedade como um todo. Embora a sociedade esteja dividida em classes, somente as ideias das classes dominantes são consideradas verdadeiras. Para isso, os que dominam a sociedade precisam fazer com que os demais não percebam que estão divididos em classes. Assim, os dominados veem que certas características humanas são comuns a todos, o que torna as diferenças sociais de menor importância. E para que estas ideias sejam comuns a todos é preciso disseminá-las através da educação, da religião, dos costumes e dos meios de comunicação disponíveis.

    Portanto, empregaremos neste livro o termo ideologia ao que se refere às ideias, doutrinas ou crenças que visam justificar moralmente as relações sociais, políticas e econômicas. Dessa forma, procura-se, através dela, fazer com que a sociedade passe a aceitar essas ideias como forma de validá-la. Assim, a ideologia dá base de sustentação ao sistema econômico. Ela começa a se desfazer quando surgem conflitos sociais. E, se as divergências forem muito profundas, geralmente terminam em revoluções.

    3. Estado

    Historicamente, o Estado, como o conhecemos no século 21, se formou a partir do final da Idade Média. Corresponde ao período do absolutismo monárquico, quando os reis, apoiados pela burguesia, conseguiram estabelecer seu poder perante o papado e os senhores feudais. É o Estado que alguns autores denominam de Estado Moderno. Estruturado em órgãos independentes e harmônicos entre si, os seus poderes são delimitados. Isso ocorre através de um documento (geralmente escrito) conhecido como constituição, ou seja, é o Estado de Direito baseado nas leis.

    Portanto, neste livro, entendemos o Estado (grafado com inicial maiúscula) como uma entidade com poder soberano para governar um povo dentro de uma área territorial delimitada. Ele possui soberania reconhecida, tanto interna como externamente. É dirigido por um governo, que é o seu administrador. O Estado desempenha funções políticas, sociais e econômicas. As funções tradicionais do Estado englobam três domínios: o Poder Executivo (é o governo em si: a administração pública), o Poder Legislativo (que cria as leis) e o Poder Judiciário (que tem a prerrogativa de julgar conforme as leis).

    4. Classes sociais

    Este conceito já era utilizado desde a antiguidade. Historiadores encontram em documentos egípcios referências à existência de classes já naquela época. Aristóteles, por exemplo, divide a sociedade em escravos e homens livres. Além disso, no seu livro Política, divide os cidadãos em pobres, de classe média e ricos. Na mesma obra, estabelece relações entre o governo e certas classes sociais. Na Idade Média, São Tomás de Aquino, juntamente com outros padres da Igreja Medieval, defendiam que as relações econômicas e sociais baseadas no sistema senhorial refletiam uma ordenação natural e imutável. Ressaltavam a importância da distribuição do trabalho e das tarefas segundo as diferentes classes. Ainda sustentavam que tais distinções econômicas e sociais entre os homens eram indispensáveis para manter o sistema produtivo. Já Adam Smith elaborou sua tese sobre classes sociais baseado na função econômica. Assim, havia três classes: a agrária, a industrial e a assalariada. Elas tinham origem nas fontes de renda, ou seja, na terra, no capital e no trabalho, respectivamente.

    Marx e Engels, no Manifesto Comunista (1848), afirmaram que: A história de todas as sociedades que até hoje existiram é a história da luta de classes. Dessa forma, ela está relacionada diretamente com a superação de uma classe em relação a outra no que se refere aos modos de produção. Isto é, uma ascensão da classe considerada inferior no sistema produtivo. As consideradas mais abastadas perdem sua posição na hierarquia social. Outros autores argumentam que, nas sociedades capitalistas industriais, a hierarquização social se processa através das diferenças profissionais. A expansão do capitalismo contribui para a ampliação das oportunidades e do crescimento da classe média.

    Portanto, referimos neste livro que o conceito de classe está ligado a um grupo de pessoas que têm a mesma função hierárquica na sociedade. Dessa forma, o conceito de classe se identifica com o próprio funcionamento da sociedade. Nesta caracterização incluem-se fatores socioeconômicos, tais como a apropriação dos meios de produção e sua posição no sistema produtivo. Isso significa que o conceito de classe social, de um modo geral, está ligado à estrutura social e aos modos de produção. Ou seja, onde cada grupo se insere na sociedade e qual a sua função no sistema produtivo.

    5. Mercado

    Em sentido geral, que será usado neste livro, um mercado existe quando os compradores pretendem trocar o dinheiro por bens e serviços que são oferecidos pelos vendedores. Estes são conhecidos como agentes econômicos (indivíduos, empresas e governo), que procedem à troca no local onde são realizadas as transações comerciais (feiras, lojas, bolsa de valores, etc.). Desse modo, o mercado pode ser entendido como o local no qual agentes econômicos procedem à troca de bens e serviços de uma determinada economia. A formação de um mercado e o seu desenvolvimento pressupõem a existência de um excedente econômico que permita a troca desses bens e serviços. Uma economia que depende das interações entre compradores e vendedores sem a interferência do Estado é conhecida como economia de mercado.

    6. Meios de produção

    Neste livro, usaremos esse termo como foi proposto por Marx, que o definiu como o conjunto formado pelos meios de trabalho e pelo objeto de trabalho. Os meios de trabalho incluem os instrumentos de produção (ferramentas, máquinas, etc.), as instalações prediais (edifícios, silos, armazéns), as diversas formas de energia, o combustível e os meios de transporte. O objeto de trabalho é o elemento sobre o qual é aplicado o trabalho humano: a terra e as matérias-primas, as jazidas minerais e outros recursos naturais. Segundo este conceito marxista, os donos dos meios de produção são os capitalistas.

    7. Mais-valia

    Conceito marxista que consiste no valor não pago ao trabalhador, isto é, a exploração exercida pelos capitalistas sobre seus assalariados (proletários, operários, empregados). Ela é a base do lucro do sistema capitalista.

    8. Capital

    Na teoria marxista, capital é o resultado da acumulação da mais-valia, obtida pelos empresários pela exploração de seus operários ou empregados. É um dos fatores de produção, da formação de riqueza e que gera renda. O capital também pode ser definido como todos os meios de produção que foram criados pelo trabalho e que são utilizados para a produção de outros bens.

    9. Forças produtivas

    Conceito marxista que corresponde à combinação da força de trabalho humana (seu corpo, sua energia, sua inteligência) com os meios de produção (ferramentas, máquinas, infraestrutura e tecnologia). Dispondo de todos esses elementos, o homem se organiza socialmente para produzir. Eles estabelecem relações sociais e técnicas de produção. Assim, o modo pelo qual os homens se organizam socialmente, dividindo funções e tarefas para dominar a natureza, visa produzir o seu sustento. Dessa forma, as relações de produção (sociais e técnicas) e as forças produtivas constituem o modo de produção (ex.: escravismo, feudalismo, capitalismo).

    10. Arqueologia, arqueólogos, Etnografia e Pré-História

    Podemos dividir a nossa linha do tempo em duas grandes partes: a Pré-História e a História. A História começou com a escrita. A Pré-História é estudada pelas disciplinas da Arqueologia e da Etnografia. A Arqueologia reconstitui o passado através de monumentos, instrumentos de trabalho, armas, utensílios, restos de habitação, entre outros. A Etnografia trata da produção, da cultura material, do regime social e da vida espiritual e também analisa a cultura e os costumes de tribos primitivas (que vivem isoladas do resto da humanidade).

    No caso da Arqueologia, temos uma questão a ser esclarecida: quando nos tornamos humanos? Essa é uma pergunta difícil de responder, por vários motivos. Primeiro, porque o registro dos fósseis, que é a fonte primária de informação, pode ser apenas um registro parcial, pois um fragmento é parte de um todo. Segundo, porque existe a possibilidade de se encontrar outro mais antigo. Caso isso ocorra, as origens dos humanos podem recuar ainda mais no tempo. Terceiro, porque, embora seja importante datar os materiais encontrados, nem sempre se pode determinar com absoluta certeza que esses materiais são de grupos humanos (ou da época em que nos tornamos humanos).

    Marx chama atenção, em seu livro O capital (vol. I, cap. 5), para a importância do material arqueológico. Ele diz que:

    As relíquias dos antigos instrumentos de trabalho têm a mesma importância para a investigação das extintas formas econômicas da sociedade que os ossos fósseis para a determinação de espécies de animais extintos. Não são os artigos feitos, mas a maneira pela qual são feitos, e com que instrumentos, que nos permite distinguir diferentes épocas econômicas. Os instrumentos de trabalho não só proporcionam um padrão do grau de desenvolvimento atingido pelo trabalho humano, como também indicadores das condições sociais sob as quais esse trabalho é realizado.¹

    Além disso, a atividade do arqueólogo é constituída pelo trabalho de campo, no qual os materiais recolhidos serão posteriormente analisados. Segundo Gordon Childe, este trabalho consiste em recuperar o passado (piecing together the past). Nessa atividade, uma das tarefas é determinar a idade desses materiais. Entre os principais métodos de datação estão: o do radiocarbono (ou carbono-14), o urânio-tório, as séries de urânio, o potássio-argônio, a termoluminescência, o arqueomagnetismo, o paleomagnetismo, o dendrocronologia, a hidratação da obsidiana, os teores químicos nos ossos e os ultrassons nos ossos.

    No caso da Etnografia, no século 19, o norte-americano Lewis. H. Morgan, por exemplo, realizou sua pesquisa sendo hóspede da tribo iroquesa dos senecas. Já o escocês James G. Frazer diz que, para entendermos o homem primitivo daquela época, é importante saber como se comportam os de hoje (das poucas tribos selvagens que ainda restam). Para o britânico Edward B. Tylor, por exemplo, os relatos de viajantes, comerciantes, missionários ou outros tipos de observadores podem ser levados em consideração. Argumenta ele que, ao compará-los e detectar uma regular coincidência, pode-se considerá-los como verdadeiros. Tais relatos podem, portanto, ser utilizados como provas pela Etnografia, embora ocasionalmente, por mais preciosos que sejam, apresentem defeitos. Entre eles, está o fato de que o contato com os chamados povos civilizados pode sofrer a sua influência. Esses autores evolucionistas (Morgan, Tylor e Frazer) não acreditam que mesmo a mais primitiva sociedade existente fosse equivalente ao ponto zero da evolução. No entanto, isso não frustra o sucesso desses estudos.

    Dessa forma, conhecemos essa época através do trabalho dos arqueólogos, dos antropólogos e dos etnógrafos. Por isso, este estudo deve ser realizado de forma conjunta, pois um complementa o outro.

    Portanto, neste livro, a análise da Pré-História é vista a partir da vida em sociedade do que chamamos de seres humanos. Aquilo que já foi descoberto pelos arqueólogos, os estudos dos antropólogos e dos etnógrafos. Quando não identificarmos um grupo específico, utilizaremos termos como estudiosos, cientistas e pesquisadores. Até mesmo poderíamos abordar estudos, como por exemplo, os de Charles Darwin, sobre a origem das espécies. Mesmo que, biologicamente, a origem do primeiro ser humano seja importante, não é matéria a ser aprofundada. O objetivo desta obra é examinar a vida humana em sociedade dentro de um sistema econômico. Isso quer dizer que estamos falando do convívio de um grupo de pessoas que está interagindo entre si.


    1 - Apud Bottomore, p. 15.

    1. COMUNISMO PRIMITIVO

    Das teorias existentes, a mais aceita é que o ser humano tenha surgido na África. Isso porque, de todos os fósseis encontrados pelo mundo, o mais antigo foi recolhido no continente africano. Além disso, os estudiosos acreditam que, no caso da vinda para a América, o homem deve ter atravessado o Estreito de Bering. Supõe-se que o nível do mar baixou, formando uma ponte de terra e tornando possível a passagem entre a Sibéria e o Alasca. Quanto à ida para a Austrália, pressupõem que tenham chegado lá construindo embarcações.

    De acordo com os pesquisadores, no período da Pré-História chamado de Paleolítico Inferior, por força das condições em que se encontravam, os nossos primeiros ancestrais², inicialmente habitavam as árvores das florestas tropicais do leste e centro-norte da África. A temperatura daquela época era mais quente do que a atual. Porém, estava

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