Matrimônio Cristão: Até Que A Morte Nos Separe
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Matrimônio Cristão - Saluar Antonio Magni
1
SUMÁRIO PG
INTRODUÇÃO 4
CAPÍTULO 1 MATRIMÔNIO O SACRAMENTO DO
AMOR 12
CAPÍTULO 2 A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO NA
EVOLUÇÃO DA IGREJA 29
CAPÍTULO 3 A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO
PREPARAÇÕES: REMOTA, PRÓXIMA E IMEDIATA 48
CAPÍTULO 4 A SEXUALIDADE NO MATRIMÔNIO
CRISTÃO 69
CAPÍTULO 5 SAIBA COMO ESTIMULAR O DIÁLOGO
SEM
BRIGAS
E
AINDA
MELHORAR
SEU
RELACIONAMENTO 91
CAPÍTULO 6 O CASAL CRISTÃO SABE REZAR 97
CAPÍTULO 7 A GRANDE ORAÇÃO DE AÇÃO DE
GRAÇAS: NOSSA PARTICIPAÇÃO CONTEMPLATIVA DA SANTA MISSA 112
CAPÍTULO 8 FAZENDO A EXPERIÊNCIA DE
ENCONTRO DO CASAL COM JESUS NO EXERCÍCIO
ESPIRITUAL DO DIA-A-DIA 144
CAPÍTULO 9 O CASAL CRISTÃO DISCERNE O
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO DA VIDA 168
CAPÍTULO 10 O CASAL APRENDENDO A DISCERNIR
AS MOÇÕES DE CONSOLAÇÃO E DESOLAÇÃO E O
PECADO 185
CAPÍTULO 11 FAZER-SE CASAL CRISTIFICADO PELA CONTEMPLAÇÃO DOS MISTÉRIOS DE CRISTO 212
CAPÍTULO 12 CONFIRMANDO NOSSO MATRIMÔNIO
NA PAIXÃO DE CRISTO 270
CAPÍTULO 13 O CASAL IDENTIFICANDO-SE COM A VIDA NOVA QUE A RESSURREIÇÃO NOS TRÁS 294
EPÍLOGO 319
BIBLIOGRAFIA 326
LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS
AUTORES 328
2
AGRADECIMENTO
Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro sobre o Matrimônio Cristão. Agradeço também aos Padres: Adroaldo, orientador do CEI, que me orientou nos exercícios espirituais, e me ajudou a construir toda experiência dos retiros, contemplações, meditações e estudos, obtidos durante os Exercícios Espirituais em etapas, que realizamos eu e minha querida esposa, em Itaici. Ao padre Chiquinho, Vitor e em especial Geraldo de almeida Sampaio, que ajudaram na minha formação religiosa e apostólica no movimento de Cursilhos de Cristandade que fiz em 1983. À Márcia, minha acompanhante nos exercícios, pelas suas inspiradas orientações, à Irmã Fátima que orientou nosso grupo de oração e discernimento e me orientou na busca de conhecer a minha personalidade através das tipologias e em especial o eneagrama. Irmã Zenaide, psicóloga que acompanhou o nosso grupo de partilha e melhoria da personalidade. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.
Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, em fim, vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)
3
INTRODUÇÃO
Sim, que eu vos conheça Senhor e me conheça cada vez mais para que eu possa me tornar uma pessoa melhor e possa te servir como Tu queres!
Quero iniciar este livro sobre o Matrimônio Cristão: até que a morte nos separe, tendo como base de que ser um bom cristão é uma luta diária. No atual contexto sociocultural, a convivência matrimonial tornou-se mais complexa e mais difícil.
Vários fatores são responsáveis por esse fato, mas um deles é, sem dúvida, a mudança nas expectativas quanto ao próprio matrimônio.
No passado, esperava-se que o casamento, além de possibilitar a construção de uma família, desse segurança econômica e social. A convivência foi regulada por meio de um contrato com direitos e deveres claramente definidos.
Hoje, porém, os casais que querem constituir família já não esperam do matrimônio primordialmente status social e segurança financeira. Além disso, já não se compreende o matrimônio como contrato pelo qual se pode garantir a estabilidade da convivência conjugal e familiar. Em vez, acentua-se a importância da realização de um relacionamento profundamente pessoal; a satisfação das mútuas necessidades afetivas e a formação de um núcleo íntimo de amparo que protege contra um mundo marcado pela competição e pelo anonimato. Compreender esse contexto se torna assim a precondição indispensável para o agir pastoral da Igreja.
Em geral, o sistema socioeconômico e o mundo do trabalho atual oferecem poucas oportunidades para a autorrealização. Muitas vezes, as pessoas fazem parte de um sistema funcional anônimo, que deixa espaço muito limitado para manifestações pessoais. Acentua-se a objetividade, a racionalidade e o intelecto dentro de um ambiente marcado pelas necessidades de agir com eficiência e competitividade total. Para ter uma compensação a esse contexto muitas vezes frustrante e totalmente racionalizado, as pessoas buscam um espaço que lhes permita a realização emocional. Elas, mais do que nunca, necessitam de um ambiente em que encontrem compreensão, proximidade afetiva e sentido da vida. Assim, esperam encontrar no matrimônio e na 4
construção de uma família tudo que lhes falta na sociedade tecnocrata de hoje.
Contudo, construir um relacionamento profundo e uma vida familiar feliz não é fácil num contexto como o acima descrito, sobretudo quando as expectativas são exageradas. Além disso, há o problema de que, em termos de interação social, os cônjuges em geral são mal preparados para o desafio que começam a assumir.
Nas discussões sobre o papel da Igreja diante de toda essa nova situação, é essencial, primeiramente, tomar clara consciência da problemática. Só assim será possível, num segundo momento, adequar a ação às necessidades alteradas e às novas demandas dos casais de hoje e do futuro, a fim de fortalecer os laços entre os cônjuges e ajudá-los a lidar melhor com as dificuldades, que, em comparação ao passado, se tornaram muito mais complexas.
Para que tal ajuda se torne eficaz também no contexto atual, parece-nos fundamental começar com algo muito básico, que, todavia, muitas vezes foge da nossa atenção: devemos familiarizar os casais com a fascinante dinâmica da teologia matrimonial atual, que, no fundo, é muito pouco conhecida por grande parte dos que se casam ou já estão casados. Isto é que nos buscaremos tratar durante o contexto do livro, buscando ajudar os casais nesta luta diária de serem felizes em seus matrimônios.
Eu e minha esposa estamos completando 48 anos de casados, iniciamos nossa vida religiosa de cristãos leigos no Movimento de Cursilhos de Cristandade, MCC, fiz o 59º Cursilho de Aparecida e Teka o 40º de Aparecida em Eu em 1983 e a Teka em 1984. Foi uma experiência maravilhosa. Tomamos consciência do nosso ser cristão comprometidos, Junto com minha esposa, fomos estudar teologia, fizemos o Curso Superior de Religião Paulo VI, da Arquidiocese de Aparecida - SP e os Cursos de Cristologia e Mariologia, com o Padre Geraldo de Almeida Sampaio. Tive oportunidade de fazer também, o Curso de Iniciação Teológica- na Mater Eclesiae, Rio de Janeiro. Foram anos de estudo e meditação. Nossa vontade de aprender era muito grande. Escolhemos a metodologia: Formação na Ação! Para isso, participávamos semanalmente na Escola de Formação Cristã do Cursilho. Aceitamos o convite do ministério de catequese.
5
Participamos de curso de catequese da Arquidiocese de Aparecida e assumimos a missão de sermos catequistas, a Teka de crianças e Eu de Jovens e adultos na Crisma. Em 89 fomos convidados a fazer o encontro de casais com Cristo que, tradicionalmente ocorre em um final de semana, iniciando na sexta-feira à noite, incluindo-se todo o dia do sábado e encerrando no domingo à noite. Marido e mulher têm a oportunidade de refletir sobre vários aspectos da vida conjugal. Palestras, depoimentos e dinâmica de grupos fazem parte do processo. Confesso que por obra dÉle o ECC
transformou e continua transformando minha vida e nossa relação de casal através do que considero uma providência Divina. Ouso dizer que, naqueles dias de intenso acolhimento cristão, percebi que eu e minha querida esposa estávamos nos planos do Senhor através de sua ação transformadora e regeneradora. Glória a Deus!
E a minha transformação de lá para cá é diária procurando sempre me policiar, melhorar, ouvir, servir e aprender cada vez mais.
Ressalto que muitas das vezes podem ocorrer imprevistos no meio do caminho quando buscamos as coisas de Deus, a qual no momento parece que não iremos conseguir sobrepor, sendo mais fácil encontrar o caminho da desistência.
Faço essa observação porque vi muitos casais desistirem de fazer o encontro por estarem passando por situações adversas e alheia a sua vontade, tais como: escala de trabalho, não saberem com quem deixar os filhos pequenos ou leva-los para cursos ou prova, por exemplo, e que não conseguem enxergar uma solução para resolver. Sugiro que caso ocorra essa situação, busque uma maior intimidade na oração, para que o Espirito Santo ilumine e mostre uma solução. Não desista com facilidade, persista, pois será um novo marco na vida do casal.
Aceitamos o convite do ministério de catequese.
Participamos de curso de catequese da Arquidiocese de Aparecida e assumimos a missão de sermos catequistas, a Teka de crianças e Eu de Jovens e adultos na Crisma. Foram são mais de 30 anos como catequistas, Graças à Deus! Só paramos para assumir a pastoral litúrgica da Arquidiocese de Aparecida.
Mas, o inimigo gosta de arrumar um meio para nos afastar da oração e do apostolado! No ano de 1993 fui designado para 6
coordenar um grupo de trabalho para reativar um curso de oficiais especialistas da aeronáutica, o trabalho intelectual e a montagem de todas as disciplinas e avaliações do curso, começaram a me afastar da oração e do estudo religioso. Para me afastar mais ainda, fui designado para realizar um pós graduação nos EUA, a necessidade de estudar inglês foi massificante. Fui para os EUA e lá estudava mais de 16 horas por dia. Quando voltei estava totalmente estressado e cansado de estudo. Comecei a construção de minha casa, pouco dinheiro e muito stress. Foram anos difíceis.
Resolvi pedir aposentadoria da Força Aérea. Dediquei-me totalmente à construção. Acabou o dinheiro e a casa não! Resolvi trabalhar de novo! Mandei currículos, e fui chamado. Comecei a trabalhar como engenheiro de manutenção em uma indústria de Taubaté. Foram dois anos de aprendizado e muitas dificuldades de relacionamentos no trabalho. Fui convidado a trabalhar em São José dos Campos em um Instituto de homologação de aeronaves, o IFI, com a grande missão de fiscalizar e homologar aeronaves da Embraer e das adquiridas de fora do Brasil, ou mesmo fabricadas no Brasil. Foi um ano de estudos e muitos aprendizados. Mas sentia estar desintegrado como pessoa, como marido e como cristão. Deixei-me levar pelos maus sentimentos e acabei indo ao fundo do poço, por pouco não joguei toda a minha felicidade fora!
Mas graças à minha querida esposa, que manteve firme sua oração e confiança no meu amor, pudemos resgatar nosso matrimônio e iniciar uma nova etapa em nossa vida.
No ano de 2001 iniciamos a experiência com os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, através de um retiro de fim de semana, EEL1, exercício espiritual para leigo, em Itaici, Indaiatuba, São Paulo. Foi uma experiência diferente de todas as outras que já havia vivenciado nos meus mais de 22 anos de apostolado leigo no MCC, Movimento de Cursilho de Cristandade, especialmente ligado à Escola Vivencial, escola de formação permanente, onde tenho recebido e compartilhado com amigos e irmãos de fé, a minha vida de cristão comprometido, procurando vivenciar o tripé: oração, formação e ação evangelizadora.
Os exercícios espirituais foram essenciais nesse caminhar, bem como o auxílio do grupo de casais com os quais partilhamos 7
nossas experiências espirituais e nosso dia-a-dia. A irmã Fátima e o padre Jesuíta Adroaldo, nossos acompanhantes espirituais, foram essenciais nessa caminhada. Foram nos dando dicas de estudo, orações e meditações, fundamentais para nossa reintegração matrimonial. O Padre redentorista Magalhães, através de suas orações e orientações, fez conosco uma verdadeira terapia de casal, fazendo-nos enxergar que temos ideias e temperamentos diferentes, mas Deus nos quis unidos para testemunhar, que o matrimônio é lindo e um caminho firme para juntos, chegarmos à eternidade.
Posso dizer que a vivência dos Exercícios Espirituais foi um marco que mudou a direção de minha vida. Decidi que dali em diante buscaria vivenciar e conhecer cada vez mais esta espiritualidade Inaciana. Ao mesmo tempo em que optava pela espiritualidade inaciana como estilo de vida, percebia também profundamente a razão pela qual Santo Inácio dá tanto valor aos retiros e o que eles contêm: silêncio, oração, conversa com alguém que nos acompanha e nos ajuda a perceber os moções do Espírito Santo, os momentos de desolação e consolação, bem como quais as regras, da 1º ou da 2º semana, que devemos observar e qual a linha de ouro para qual nossa vida está andando.
Além dos Exercícios de fim de semana, iniciei, juntamente com meu Grupo de Vivência Inaciana, uma pré CVX, o retiro na vida cotidiana, EVC. Fomos orientados pela Irmã Fátima, que hoje é orientadora do CEI, Itaici. Foram mais de dois anos de estudos, retiros e sérias orientações da Irmã e partilhas semanais e quinzenais dos companheiros de CVX. Decidimos fazer o retiro de oito dias com o Pe Romanelli, e depois o retiro de 30 dias em etapas com o Pe Adroaldo. Continuamos a nossa caminhada em pré-cvx, orientados pelo Emerson e Sandra, aqui de Guaratinguetá.
Continuamos nossa caminhada nos exercícios espirituais , nos formamos na orientação e acompanhamento dos exercícios espirituais, coordenados pela FAGE de Belo Horizonte e hoje continuamos ajudando nos exercícios, tanto em Itaici como aqui em Guaratinguetá, nos exercícios da vida cotidiana e buscando levar as orações e exercícios para todos que escrevo nos livros, 8
orientando para um retiro na vida, na linha da espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, Jesuíta.
Claro que neste estudo teremos oração, contemplação e meditação, e especialmente de cura interior. Mas, na verdade os verdadeiros cristãos não precisam ser cobrados a obedecer as Escrituras Sagradas, pois por amor ao Senhor Jesus estes leem, estudam de boa vontade e com alegria obedecem. Veremos que cada espiritualidade, ou carisma tem a sua maneira de rezar, uns contemplativamente, outros na leitura orante, mas todos na busca de se encontrar com Deus Criador, Seu filho Salvador e do Espírito Santo orientador e que nos dá ardor para sempre e cada vez mais buscar fazer a vontade de Deus!
Esse é o grande motivo pelo qual escrevo este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitores amigos, a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido e que a cura interior seja alcançada através do conhecimento de como se encontrar com Deus através da oração e do discernimento diário. Para que isto aconteça teremos estudos, exercícios, testes, oração, meditações e contemplações, na busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor. E assim sermos bons cristãos e discípulos missionários de Jesus Cristo!
No próximo capítulo iremos ver o Matrimônio que é uma realidade natural (o amor de um casal) elevada a sacramento. Sinal memorial da Aliança de Deus com seu povo amado do amor de Cristo pela sua esposa, a Igreja, da ação do Espírito Santo que invade o coração dos que se casam, transformando toda a vida matrimonial numa caminhada divina feita com pegadas humanas.
O valor do sacramento do matrimônio está na presença de Cristo e do Espírito, que une os dois esposos, na realidade única, invisível e extraordinária e não no esplendor das cerimônias.
Nem o casal nem a família vivem em um vácuo. Os membros de cada um desses pequenos núcleos, além de interagirem entre si, estão inseridos numa sociedade, que, por sua vez, se encontra em constante transformação. No intercâmbio com as estruturas socioeconômicas, culturais e religiosas, também 9
as próprias pessoas estão sendo modificadas. E as pessoas, por sua vez, mudam a sociedade.
É à luz desse complexo contexto que a situação do casal e da família tem de ser considerada. Caso realmente queiramos achar caminhos para amenizar a atual crise do matrimônio, devemos refletir com base em concepções dinâmicas de matrimônio e família. Estas realidades se encontram hoje num processo de permanente transformação e cada vez menos se apresentam como fenômenos uniformes e imutáveis.
10
CAPÍTULO 1 MATRIMÔNIO O SACRAMENTO
DO AMOR
Matrimônio é uma realidade natural (o amor de um casal) elevada a sacramento. Sinal memorial da Aliança de Deus com seu povo amado do amor de Cristo pela sua esposa, a Igreja, da ação do Espírito Santo que invade o coração dos que se casam, transformando toda a vida matrimonial numa caminhada divina feita com pegadas humanas. O valor do sacramento do matrimônio está na presença de Cristo e do Espírito, que une os dois esposos, na realidade única, invisível e extraordinária e não no esplendor das cerimônias.
É importante sublinhar que o matrimônio não é simples celebração pública, mas algo sagrado. Não é um mero compromisso social é compromisso assumido diante de Deus e da comunidade. A celebração do sacramento do Matrimônio deve primar pelo ambiente de fé, simplicidade, beleza, alegria e testemunho de amor e de vida diante da Igreja e da sociedade.
A importância dada ao sacramento é demonstrada pelo processo de preparação. O Sacramento seja celebrado e vivido com as devidas disposições humanas, morais e espirituais, tudo deve contribuir para dar sentido profundamente religioso, comunitário e festivo a um acontecimento marcante na vida dos participantes.
A vocação para o matrimônio é vocação para a santidade (cf Mt 5,48). Nos disse papa João Paulo II: Deus vos ama loucamente, ele deseja a vossa felicidade, mas quer que saibais conjugar sempre a fidelidade com a felicidade. A graça do sacramento do matrimônio atua de forma permanente, isto é, ao longo da vida do casal aperfeiçoando seu amor, fortalece sua união, ajudando na superação das dificuldades e contrariedades, bem como auxilia na compreensão mútua (qualidades e defeitos) anima os esposos assumir as cargas e responsabilidades do lar, na educação dos filhos e nos momentos dolorosos, nas situações de doenças e de dificuldades familiares.
O Matrimônio é o amor. Ninguém consegue viver sem a presença e a amizade de outras pessoas. Ninguém está sozinho. No casamento, essa amizade é repartida entre o marido e a mulher: é repartida entre o casal e os filhos, e com a comunidade onde vivem.
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O mais difícil do amor é permanecer firme nele. Só Deus mesmo é capaz de ser, sem defeito, fiel e amoroso. Quando o casal é fiel no amor, é um grande sinal de Deus. Deus está presente no amor do casal. Quem acredita nisso pode casar na Igreja.
A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e a geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, a dignidade de sacramento por Cristo Senhor.
Deus nos fez para a felicidade, não nascemos para viver sozinho, mas sim com uma companhia. O Pai quando criou o homem, deu a ele uma companhia: Eva. Deus também acrescentou: ‘Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne’ (Gn 2, 24).
CCE 1601; CIC 1055: "O
pacto matrimonial, pelo qual
o homem e a mulher
constituem
entre
si
a
comunhão íntima de toda a
vida, ordenado por sua
índole natural ao bem dos
cônjuges e à procriação e
educação da prole, entre os
batizados, foi elevado por Cristo Senhor à dignidade de sacramento".
Esse ato de se juntar com o sexo oposto para juntos viverem em uma só carne é o próprio Sacramento do Matrimônio.
Este é um Sacramento de Serviço (junto com a Ordem), através dele nos unimos ao sexo oposto para juntos construirmos uma família. O matrimônio é uma doação total ao outro e a Deus, somos chamados a construir uma
família cristã, com pensamentos
retos e morais.
Hoje, o Maligno vem se
apoderando deste Sacramento
como se fosse algo qualquer, ele usa
do casal como forma de destruir,
12
eliminar, desconcertar o convívio familiar. São muitos os casamentos feitos na Igreja Católica que possui objetivos contrários a conduta cristã, ou seja, muitos são os casais que vão para o altar com desejos carnais e com o seguinte pensamento: ‘Se não der certo, nos separamos’!
Muitos falam como é difícil aceitar o Sacramento da Ordem, ou seja, pensam que ser sacerdote é uma grande dificuldade nos dias de hoje. Só que tanto a Ordem como o Matrimônio são Sacramentos de Serviço, que necessitam da doação total dos que receberam o Sacramento. A missão do sacerdote é direcionar o povo ao caminho de Deus. A missão do casal é direcionar a família ao caminho da Santidade e do Amor Fraterno. Não podemos deixar de lembrar que é através do Sacramento do Matrimônio que nascem as vocações sacerdotais, vindas da educação que os familiares deram ao vocacionado.
Podemos chegar então à conclusão que o Sacramento do Matrimônio é uma vocação, devemos estar preparados para direcionar e educar filhos e Filhas de Deus no caminho da Santidade.
A grande prova da falta de preparo de muitos casais nos dias de hoje, são os inúmeros casamentos que não dão certo. O
divórcio é força do maligno, foi criado para separar a união que Deus criou entre dois de seus Filhos.
Podemos então chegar à conclusão que o Sacramento do Matrimônio é uma das grandes obras divinas, que foi criado para o Amor Familiar. A Família é o grande investimento que Deus criou, é através dela que se educa cidadãos retos procurando a imitação de Cristo Jesus. A bíblia nos mostra a força deste sacramento através dos tempos, dentro da história da salvação: 1. O Matrimônio no Antigo Testamento
O Antigo Testamento apresenta quatro séries de textos sobre o matrimônio: os relatos da criação, o ensino dos profetas, a literatura sapiencial e o Cântico dos Cânticos; a eles pode-se acrescentar outros testemunhos complementares.
1.1. Os relatos da criação
O projeto original de Deus sobre o matrimônio encontra-se delineado no segundo relato da criação (cf. Gn 2,18-23). Este texto 13
— pertencente à tradição javista (século X a.C.) — insiste na complementaridade e comunhão entre o homem e a mulher, que tem uma mesma dignidade. Mais concretamente, é afirmado que a mulher não é estranha ao homem mas parte dele, com idêntica capacidade de diálogo e amor. Graças a isto, o homem é chamado a sair de sua solidão (cf. Gn 2,18), entoa o que chamamos o primeiro «cântico nupcial» da humanidade: «esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem! » (Gn 2,23). O versículo final descreve não só o fato da atração do homem e da mulher mas, sobretudo, seu sentido: «por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne» (Gn 2,24).
O texto exalta, portanto, o amor, que na união sexual tende simbolicamente a reconstruir a unidade primordial: «carne de minha carne», mas tem também presente a dimensão procriativa.
Contudo, o que mais se põe em evidência é a unidade exclusiva do matrimônio — contra a poligamia — e sua indissolubilidade, já que a frase «são os dois uma só carne» expressa uma situação permanente de unidade de espíritos, muito mais do que a unidade corporal.
O primeiro relato da criação (cf. Gn 1) — mais tardio e pertencente à tradição sacerdotal (século VI a.C.) — expressa de maneira mais solene a unidade do homem e da mulher, que é desejada por Deus sobretudo para a procriação — «sede fecundos e multiplicai-vos» —, entendida no sentido religioso, tanto no âmbito da criação como no da esperança messiânica. A transmissão da vida é o desenlace natural e o fim específico da sexualidade; uma função tão nobre e importante que necessita a «bênção» de Deus.
Este contexto, acentuando a finalidade procriativa do matrimônio, não exclui a finalidade afetiva, tão sublinhada pela tradição javista:
«e os dois serão uma só carne».
Segundo os relatos da criação, o equilíbrio de ambas as dimensões, unitiva e procriativa, deve marcar para sempre o matrimônio tal e como Deus o concebeu no seu desígnio original.
Sem dúvida, o pecado truncou o equilíbrio e alterou as relações entre o homem e a mulher. A própria sexualidade se afastou de seus fins próprios e converteu-se muitas vezes em instrumento de 14
mútua tirania. Assim se explica todos os desvios que marcaram a história de Israel: a poligamia, o divórcio… De fato, as três famílias de Abraão, Isaac e Jacó, que constituem a espinha dorsal do Gênesis, não são exemplares (cf. Gn 12,10-20; Gn 20; Gn 29,15-30; 2Sm 3,2-5; 1Re 11,13). Sem dúvida, o Antigo Testamento, que contém também testemunhos de famílias exemplares, como a de Rute, Tobias (cf. Tb 8,6-7), Macabeus (cf. 2Mc 7), mostra que o matrimônio monogâmico, vivido no amor e na alegria dos filhos, era prática normal em Israel.
1.2. Os profetas
Os profetas fizeram um aporte decisivo para manter o ideal do matrimônio: apresentaram a alegoria nupcial como expressão das relações de amor e fidelidade entre Deus e seu povo, Israel.
Oséias foi o primeiro a usar esta imagem, partindo, quem sabe, do fracasso de seu próprio matrimônio, já que sua mulher se entregou à prostituição (cf. Os 1, 2), convertendo-se em símbolo da infidelidade de Israel. Diante dela, aparece a fidelidade de Deus que não se vinga, ao contrário, projeta uma novo noivado com seu povo (cf. Os 2,16; 21-22).
O profeta Jeremias recolhe o tema de Iahweh-Esposo, mas de forma mais terna, recordando as efusões do primeiro amor (cf.
Jr 2,2), o que dá lugar a que seja mais forte a reprimenda que dirige ao povo infiel (cf. Jr 2,32). O profeta Ezequiel volta à mesma ideia sob a imagem de uma moça abandonada, da qual Deus se enamora e à qual toma para si (cf. Ez 16,8).
A imagem aparece com maior frequência em Isaías: as dificuldades do desterro e do novo assentamento na terra pátria, são suavizados com a recordação de que Iahweh é o Esposo, e por isso, não poderá abandonar seu povo (cf. Is 54,4-6; 62,4-5). A imagem nupcial é importante por dois motivos. Em primeiro lugar, porque Deus não teria tomado a realidade matrimonial como símbolo de seu amor por Israel se tal realidade não tivesse sido sentida e vivida — ao menos habitualmente — como realidade de amor e fidelidade total. Em segundo lugar, porque Deus quer ensinar que o matrimônio tem sentido na medida em que reflete seus comportamentos e imita suas atitudes; disto decorre que, 15
entre o projeto matrimonial que Deus propõe e a realidade matrimonial tomada como símbolo, há uma íntima conexão.
Quem sabe seja este o motivo porque Malaquias apresenta o matrimônio como aliança: diante do mau comportamento de seu povo, Deus lhe acusa precisamente de infidelidade no matrimônio (cf. Ml 2,14-15). Deste modo, a espinha dorsal das relações entre Deus e seu povo — a Aliança — se projeta e, de alguma forma, se encarna no matrimônio.
1.3. A literatura sapiencial
A literatura sapiencial está repleta de referências aos valores do matrimônio e da família. Há dois temas que se destacam de maneira especial: os filhos e a mulher.
Os filhos são considerados um dom de Deus (cf. Sl 127,3-4) e devem ser educados, inclusive com rigor, sim, isto é necessário (cf. Eclo 30,1-2; Pr 1,8); eles, por sua parte, têm a obrigação de obedecer a seus pais (cf. Eclo 3,2-4).
Quanto à mulher, o livro do Eclesiástico canta a felicidade do esposo que encontrou uma mulher virtuosa (cf. Eclo 26,1-3), e por sua vez condena severamente o adultério de qualquer um dos cônjuges (cf. Eclo 23,18-19) e, especialmente da esposa (cf. Eclo 23,22-23). Por outro lado, o livro dos Provérbios insiste na necessidade de evitar o casamento com mulher estrangeira, porque o matrimônio possui uma relação com a Aliança, e como não é lícito violar a Aliança sinaítica, tampouco é lícito violar a aliança matrimonial (cf. Pr 2,16-17).
1.4. O Cântico dos Cânticos
Embora pertença à literatura sapiencial, este livro merece ser tratado à parte, pois possui como objetivo especial o de exaltar, ao mesmo tempo, o amor humano e o amor de Iahweh por seu povo. Em sua mensagem fundem-se entre si a experiência humana, capaz de vislumbrar as exigências de um amor verdadeiro, que requer uma renovação, purificação e reforço contínuo, e a mensagem profética, que assumiu esta experiência como símbolo do amor indefectível de Deus para com seu povo.
2. O Matrimônio no Novo Testamento
2.1. O ensinamento de Jesus
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Uma visão tão elevada do amor conjugal, como a que vimos, corresponde ao projeto original de Deus — aparecem refletidas no relato da criação (cf. Gn 2,18-23) —, que Jesus resgatou, rechaçando as corrupções vigentes de seu tempo e santificando a vida familiar. Mais ainda, Jesus elevou o Matrimônio à categoria de sacramento e a símbolo de sua aliança com a Igreja.
Não deixa de ser significativo o fato de Cristo ter nascido e crescido em uma família, embora seja uma família com características muito peculiares, como a de Maria, sua mãe, e a de José, coloca em evidência que a regra para todos é o amor totalmente desinteressado, mesmo estando subordinado à vontade de Deus (cf. Mt 1 e Lc 1 e2).
Em seu ministério público, Jesus manifesta seu interesse pela família, da qual conhece seus aspectos positivos e seus defeitos, suas alegrias e sofrimentos. Em Caná sua presença é uma bênção e uma ajuda material para os esposos no dia de seu casamento (cf. Jo 2,1-11). Em Betânia mantém e goza da amizade íntima com uma família de três irmãos. Quando chega às aldeias, entretém-se alegremente com as crianças, aos quais trata com carinho e amor verdadeiramente maternais. Em sua pregação serve-se do drama de um pai traído pelo filho, para revelar o amor infinitamente misericordioso de Deus Pai. Contudo, não faz da família algo absoluto, pois deseja que esteja aberta às exigências superiores de Deus (cf. Mc 3,31-35), estabelecendo assim as premissas para a opção por uma vida diferente do Matrimônio, quando se impõe as exigências do Reino.
Por outro lado, contestando a uma insidiosa pergunta de um escriba, estabelece um tríplice critério: a indissolubilidade do Matrimônio não admite nenhuma exceção, a permissão mosaica tinha um valor transitório e a união de alguém divorciado com outra pessoa é adultério (cf. Mt 19,4-9), é expressamente proibida pelo sexto mandamento (cf. Ex 20,14; Dt 5,18). A aparente exceção das palavras «exceto por motivo de fornicação» não está em conformidade com o ensino de Marcos (cf. Mc 10,11-12), Lucas (cf. Lc 16,18) e Paulo (cf. 1Cor 7,10-11), e até do próprio sentido destas palavras, já que Jesus se refere a uniões consideradas como que legítimas entre os pagãos e toleradas pelos judeus a 17
respeito dos prosélitos, mas que eram na realidade irregulares e, portanto, matrimônios falsos que, por ser uma espécie de concubinato, deveria ser evitado. Alguns, sem dúvida, pensam que trataria duma verdadeira exceção.
2.2. A doutrina paulina sobre o Matrimônio
As cartas paulinas oferecem um rico ensino