Contos Contados E Compilados
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Contos Contados E Compilados - Alexandre Vieira
Apresentação
A coletânea de treze contos que este livro compila não foi escrita recentemente. Na verdade, foram todos escrito há cerca de 10 anos, durante o período de faculdade. Tenho um carinho especial por esses contos e espero poder contá-los
para o maior número possível de pessoas. Tratam de assuntos bem diferentes e os tamanhos são variados, porém, como ponto comum, todos foram escritos com muita paixão e vontade.
Espero poder transportá-los para o mundo histórico dos romanos, com o conto Romanos
, bem como colocá-los sentados em uma roda de fogueira, com o conto Histórias
, assim como fazê-los dar algumas risadas com os contos Picolé de Ameixa
e Ligação
.
Acredito que esta será a primeira publicação de outras que virão, pois pretendo retomar a escrita de contos e, quem sabe, de um romance. Todo e qualquer feedback é muito bem-vindo, podendo contatar-me no e-mail [email protected]
Boa leitura!
Sumário
Apresentação
Sumário
Histórias
Boa Noite
Caminhada Noturna
Direção Perigosa
Ei, Juíz...
Ligação
Musculus Nerdis
Natal
Negociação
Romanos
Picolé de Ameixa
Protestos
Rodoviária
Histórias
– Acabaram os salgadinhos e os refrigerantes. Os sanduíches, o frango e o arroz carreteiro também foram devorados. O brigadeiro sumiu, alguém comeu ele sozinho. Só sobrou água e uma barra de chocolate – disse Arnaldo, segurando a barra nas mãos.
Daniel abriu bem os olhos, excitado. – Eu quero esse chocolate!
Raimunda se manifestou na sequência. – Não, eu quero essa barra! Eu fui a que comeu menos, seus moleques!
– Não é justo que apenas uma pessoa coma a barra toda. Temos que dividir ela – manifestou-se Letícia.
Arnaldo suspirou. Ele quem organizara esse acampamento, ele quem providenciara os alimentos, por isso, naturalmente, os outros três jovens esperavam pela sua decisão. Após uma rápida ponderação, decidiu:
– Vamos fazer o seguinte. Estamos aqui há 2 dias. Amanhã de manhã iremos embora. Ainda são 16h. Já tivemos um almoço generoso. Com certeza ninguém aqui vai morrer de fome. Não precisamos dividir o chocolate. Vamos tornar as coisas mais divertidas na nossa última noite de acampamento – fez uma breve pausa e encarou os seus amigos um por um – vamos fazer uma competição de histórias e quem contar a melhor fica com a barra de chocolate.
A ideia ficou no ar por alguns instantes. Raimunda foi a primeira a quebrar o silêncio:
– Não aceito, eu quero essa barra!
– Você sempre quer do seu jeito. Não, Raimunda, cada um tem direito de competir e ganhar a barra. Além do mais, não temos nada pra fazer. Vamos acender uma fogueira e soltar a criatividade. Eu aceito! Asseverou Daniel.
– Eu também aceito – disse Letícia – cada um tem direito a uma história. Ao final das quatro histórias, escolhemos a melhor. Cada um tem direito a um voto, e não pode votar na própria história!
– Só você é a do contra, Raimunda – disse Arnaldo – por que, uma vez na vida, você não pode simplesmente aceitar a decisão da maioria?
– A maioria é burra – arrematou Raimunda. Franziu o sobrolho, crispou os lábios e virou a cara, irritada.
Letícia, apaziguadora, aproximou-se de Raimunda, colocou uma mão em seu ombro e, com os lábios em seus ouvidos, cochichou:
– Rai, se eu ganhar te dou a barra de chocolate. Nem gosto muito de doce. Então, você terá duas chances, a sua história e a minha. Combinado?
Raimunda aliviou a tensão em seu semblante. Olhou para Letícia, e deu um sorriso. Adorava segredinhos. Agora sim estava ficando interessante. Olhou para Daniel e depois para Arnaldo. Encarou ele por alguns instantes e disse:
– Tudo bem, eu aceito.
Arnaldo bateu palmas uma vez, empolgado. – Ótimo. Vamos recolher lenha para a fogueira. É o tempo de cada um criar ou relembrar sua história.
Letícia disse:
– Não há regras específicas para o tipo de história a ser contada. Pode ser inventada ou conhecida. Fantástica ou real. Movimentada ou parada. Reflexiva ou singela. Vamos lá!
Cerca de duas horas depois, em uma clareira no meio da floresta, uma fogueira destacava-se na escuridão. Havia árvores frondosas nas redondezas, de pelo menos 15 metros de altura, com galhos retorcidos. Uma grama alta cercava as imediações, com uma única passagem, uma trilha antiga, que a floresta já começava a reivindicar, lentamente. Sentados ao redor da fogueira, quatro vultos se destacavam, lançando sombras na paisagem natural ao redor. Era possível ouvir o ruído de água ao longe, de um rio das redondezas, bem como o piar de uma coruja.
Formavam um quarteto curioso. Raimunda, alta e magra, com seus cabelos ruivos rebeldes. Usava calça jeans e um casaco rosa. Daniel, gordo e rosado. Tinha longos cabelos pretos lisos, presos em um rabo de cavalo. Usava uma camiseta de banda e um casaco de couro. Usava uma calça de couro justa, destacando suas coxas abundantes. Arnaldo, por sua vez, usava calça jeans e um casaco esportivo azul. Tinha cabelo curto e era musculoso. Letícia, por fim, era magra e baixa. Usava óculos. Vestia uma calça jeans e um casaco verde. Tinha cabelos loiros curtos. Todos eram jovens, na faixa etária dos 16 aos 20 anos. A maioria se sentavam em toalhas no chão. Daniel estava deitado. Ao redor, quatro barracas pequenas se destacavam, iluminadas pelas chamas da fogueira.
– Se estão todos acomodados, então vou começar. Arnaldo suspirou e começou sua história.
***
Era uma vez...
Era uma vez, que previsível – disse Raimunda.
– Vai começar? Ralhou Daniel. Deixa o Arnaldo falar. Nem começou e já está criando caso.
– Posso continuar, Raimunda? Perguntou, calmamente, Arnaldo.
– Foi só um comentário bobo. Deixa de drama, gente!
– Não é drama. Uma boa história deve ser ouvida do começo ao fim, sem interrupções. Deixe os comentários para o final. Arnaldo olhou seus amigos, esperou silêncio, fez um gesto para Raimunda com as mãos, que significava basta, e continuou.
Era uma vez, em um reino muito distante, um rei muito sisudo. Não se divertia com nada. Nunca havia dado um sorriso durante sua vida. Dizia que era uma perda de tempo rir. Dedicou sua vida a expandir seu reino por meios diplomáticos e militares. Conseguiu fazer com que seu reino atingisse o ápice. Sua capital era considerada um bastião de poder. Suas largas ruas abrigavam pessoas de todas as partes do mundo. Dezenas de eventos culturais movimentavam a capital. O comércio da cidade nunca parava, funcionava dia e noite, e era possível comprar e vender qualquer tipo de mercadoria, dos quatro cantos do mundo.
Um dia, quando fez 50 anos, o rei percebeu que não havia mais nada a fazer pelo seu reino. Não havia necessidade de expandir-se mais. Não havia como melhorar sua capital, a cidade já era considerada o centro do mundo. Seus cidadãos estavam felizes, não faltava comida. A doença não existia, apenas nas histórias dos mais velhos. Os cofres públicos estavam cheios. Havia avanços e inovações por todo o reino, que melhoravam cada vez mais a vida das pessoas. Sua vida de dedicação ao reino tivera resultados esplêndidos. Nunca perdeu tempo participando de festas ou diversões, ocupava cada segundo de seu dia pensando em como resolver os problemas do reino. Finalmente, quando percebeu que não havia mais nada a melhorar, desesperou-se. Não era mais útil para o reino, não fazia diferença se ele era o rei ou não. Seu reino poderia seguir seu rumo sozinho. Passou o resto do dia pensando.
No dia seguinte, pela manhã, chamou seu secretário e anunciou:
– Prepare uma festa de aniversário para mim. Uma grande festa, a maior de todas. Quero os melhores músicos, a melhor comida e o maior número de convidados que o reino já viu. Você tem 3 dias para preparar tudo. Pode gastar quanto quiser, e pedir ajuda para quem quiser. Estarei em meus aposentos durante esse período. Não quero ser incomodado até que a festa comece.
O secretário, conhecido pela sua inexpressividade, pela primeira vez em anos arregalou os olhos e abriu a boca de espanto. Nunca vira o rei perder tempo com uma festa, e muito menos vira o rei organizar uma. Não perdia tempo com nada que fosse alheio ao reino. Não tinha família, nunca se casara e nunca rira. Inclusive, entre a alta classe social do reino, havia uma aposta secreta circulando. Mil moedas de ouro para quem fizesse o rei dar um sorrisinho. Ninguém nunca conseguira ganhar a aposta. E, agora, estava pedindo para ele organizar a maior e melhor festa de todas, em três dias. Engoliu em seco e um suor frio começou a brotar de suas têmporas. Três dias sem dormir.
O rei, impassível, disse.
– Está perdendo preciosos segundos, secretário.
Com isso, o secretário partiu para a tarefa mais difícil de sua vida. De fato, não dormiu nada nos dias seguintes. Reuniu um grupo competente e dividiu os