Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero: Questões Identitárias e Político-Culturais
()
Sobre este e-book
Na obra, organizada em três grandes seções, os autores, profissionais da Educação do Instituto Federal Baiano – IF BAIANO, Universidade Federal da Bahia – UFBA e Universidade do Estado da Bahia – UNEB, oferecem uma valiosa contribuição ao debate, a partir da visão de quem vivencia o saber científico em ebulição constante diretamente de uma instituição de ensino. O trabalho toma como base estudos dos campos da Linguística, Letras, Artes e outras áreas, para tratar de temáticas em torno do macrotema de raça e gênero, relacionado à linguagem, às manifestações artístico-culturais e à Educação, resultando em uma imersão que perpassa desde os saberes ancestrais quilombolas às recentes mídias sociais.
Partindo desse movimento, a persona curiosa do leitor é quem ganha. Ao ter contato com análises dinâmicas e diversificadas, pela ótica de diversas áreas do conhecimento, este livro proporciona uma experiência que pode tanto subsidiar o trabalho de pesquisa e docência quanto amadurecer visões e ideais de vida em sociedade para um público mais amplo.
Shagaly Ferreira
Jornalista e mestre em Literatura e Cultura
Relacionado a Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero
Ebooks relacionados
Professoras/ES em Disputa: Um Estudo de Caso na Rede Municipal de Ensino de Manaus Sobre o Trabalho com Gênero e Diversidade Sexual nas Escolas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInterdisciplinaridade, Interculturalidade e Interseccionalidade: Faces Negras na Escola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLinguagens Infantis: Linguagens Infantis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasItamatatiua: Identidade Cultural e Televisão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComunicação, Cultura e Identidade: volume 1 - Folkcomunicação no Tocantins Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Reveses da Ausência: As "Questões Raciais" na Produção Acadêmica do Serviço Social no Brasil (1936-2013) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPensamento Racial Brasileiro e a Inclusão Social da População Negra: O Papel da Pedagogia Antirracista Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Suposta Homossexualidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoder e desigualdades: Gênero, raça e classe na política brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAvenida Feminilidades: mulheres trans e travestis em situação de rua em Manaus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnquanto Deus não está olhando Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCidade Dormitório Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIgualdade e Progresso: Precisamos falar de violência de gênero e empoderamento feminino Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFlores de plástico: Edição comemorativa de 40 anos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCultura do Estupro em Mato Grosso: parte 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCordel da Arte Contemporânea Brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA estrada vai além do que se vê: um estudo de caso sobre impacto social em rodovias e projetos de infraestrutura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBranquitude, Música Rap E Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPublicidade e Periodização da Vida: (Re)Significações da Velhice Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA poesia na precariedade do existir Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMA: Eu. Mulher. Trans. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIshi e Tanaru: A Extinção de Povos Originários Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas públicas antirracistas: análises sobre racismo estrutural e programas de transferência de renda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPresença da Literatura na Formação de Jovens Leitores e Professores: Contextos, Identidades e Práticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Verdade Sobre Os Homens Na Educação Infantil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBrasil: O País de Plástico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRedescobrir: Conto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Mulher no Discurso da Publicidade e os Efeitos de Sentido para a Promoção do Capital Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTecituras das cidades: Histórias, música e paisagens sonoras Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Filosofia para você
O que os olhos não veem, mas o coração sente: 21 dias para se conectar com você mesmo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Minutos de Sabedoria Nota: 5 de 5 estrelas5/5Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sobre a brevidade da vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5PLATÃO: O Mito da Caverna Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Livro Proibido Dos Bruxos Nota: 3 de 5 estrelas3/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5São Cipriano - O Livro Da Capa De Aço Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprendendo a Viver Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Príncipe: Texto Integral Nota: 4 de 5 estrelas4/5Aristóteles: Retórica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Platão: A República Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mais Esperto Que O Diabo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Caibalion: Uma iniciação ao hermetismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA ARTE DE TER RAZÃO: 38 Estratégias para vencer qualquer debate Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os 72 Nomes De Deus Nota: 5 de 5 estrelas5/5Você é ansioso? Nota: 4 de 5 estrelas4/5Política: Para não ser idiota Nota: 4 de 5 estrelas4/5Baralho Cigano Nota: 4 de 5 estrelas4/5100 Gotas de Pensamento: Volume 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA república Nota: 5 de 5 estrelas5/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte de Escrever Nota: 4 de 5 estrelas4/5Além do Bem e do Mal Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Bhagavad Gita Nota: 5 de 5 estrelas5/5Curso De Mapa Astral Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero - Fernanda da Silva Machado
Língua, Discursos, Relações
Étnico-raciais e de Gênero
questões identitárias e político-culturais
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Fernanda da Silva Machado
Nelian Costa Nascimento
(org.)
Língua, Discursos, Relações
Étnico-raciais e de Gênero
questões identitárias e político-culturais
Desenho de personagem de desenho animado Descrição gerada automaticamenteMINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA BAIANO
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Jair Messias Bolsonaro
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Victor Godoy Veiga
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Tomás Dias Sant’Ana
REITOR
Aécio José Araújo Passos Duarte
PRÓ-REITOR DE ENSINO
Katia de Fátima Vilela
PRÓ-REITOR DE PESQUISA E INOVAÇÃO
Rafael Oliva Trocoli
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Leonardo Carneiro Lapa
PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
Hildonice de Souza Batista
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO
Calila Teixeira Santos
À bell hooks (in memoriam), por deslocar da obviedade as violências racial, de gênero e de classe, combatendo-as com seu legado teórico-analítico.
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano – IF BAIANO, por proporcionar a livre maturação e divulgação de conhecimento, promovendo um diálogo intra, inter e suprainstitucional.
À Pró-Reitoria de Extensão do IF BAIANO, por promover as conexões necessárias entre saber acadêmico-institucional e a sociedade em geral, atuando também como difusora de ensino e pesquisa, para além da extensão.
À Comissão do Curso de Pós-Graduação em Língua, Discursos Relações Étnico-Raciais e de Gênero pela coragem e empenho em formalizar em proposta uma demanda social, sobretudo pela riqueza das relações construídas/consolidadas no processo.
Aos autores participantes do percurso desde o projeto até a finalização desta coletânea. Sua generosidade na partilha de saberes, seu envolvimento e carinho e sua competência são patentes na escrita de cada linha que compõe este livro.
A todos que contribuíram, ainda que de forma menos direta, para as discussões aqui presentes, motivadas sobretudo por uma visão de sociedade mais equânime.
As organizadoras
Sumário
INTRODUÇÃO
SEÇÃO I
LINGUA(GEM): DISCURSOS DE RAÇA E DE GÊNERO
CAPÍTULO 1
OS EFEITOS DE SENTIDO SOBRE O FEMINISMO: INTERDISCURSO, MEMÓRIA E HISTORICIDADE
Quezia dos Santos Lima
CAPÍTULO 2
NEM TODES NEM NINGUÉM NO APAGAR DA EDUCAÇÃO: SILÊNCIOS E SILENCIAMENTOS NO ATRAVESSAR DO DISCURSO POLÍTICO
Rafaella Elisa Santos Rolim Miranda Brito
CAPÍTULO 3
RELAÇÕES RACIAIS E INSTAGRAM: ANTIRRACISMOS E FEMINISMOS NA ARENA IMATERIAL DA LÍNGUA E DOS DISCURSOS
Fernanda da Silva Machado
SEÇÃO II
INTERFACES ARTÍSTICO-CULTURAIS: RELAÇÕES DE RAÇA E DE GÊNERO
CAPÍTULO 4
A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO NOS HÁBITOS CULTURAIS E REVALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE DO MUNICÍPIO DE CRAVOLÂNDIA, NA BAHIA: FOLIAS/TERNO DE REIS – CONTRIBUIÇÕES NEGRO-AFRICANAS E INDÍGENAS
Tainá Ribeiro de Souza
Ivo Ferreira de Jesus
CAPÍTULO 5
UMA RADICALIZAÇÃO DA LINGUAGEM NO TEATRO FÍSICO DE FÁBIO VIDAL
Caio Lincoln Santos Araujo
CAPÍTULO 6
PRÁTICAS DE PERFORMANCE E MEMÓRIA COMO FERRAMENTAS CONTRACOLONIAIS. REFLEXÕES ENTRE SETORES POPULARES, AFRO-BRASILEIRES E INDÍGENAS
Lucrecia Raquel Greco
CAPÍTULO 7
RELATO DE EXPERIÊNCIA REFERENTE A UM PROJETO DE EXTENSÃO: JOGOS E BRINCADEIRAS INDÍGENAS NO IF BAIANO CAMPUS ALAGOINHAS (2020-2021)
Rita Marcia Amparo Macedo
SEÇÃO III
EDUCAÇÃO: RAÇA E GÊNERO
CAPÍTULO 8
QUEM CABE AQUI? DISCUSSÕES PRELIMINARES ACERCA DO LUGAR DAS ESTUDANTES NEGRAS NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Rosangela Lima de Neves Rodrigues
Leliana Santos de Sousa
Nelian Costa Nascimento
Merilande Oliveira Soares Eloi
CAPÍTULO 9
QUEM NÃO SABE PODE APRENDER SABER APRENDENDO: SABERES ANCESTRAIS E AS LEIS 10.639/2003 E 11.340/2006 NA ESCOLA
Maria Asenate Conceição Franco
Letícia dos Anjos Sales
Jussimara de Santana Barreto
SOBRE AS AUTORAS E OS AUTORES
SOBRE AS ORGANIZADORAS
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA
INTRODUÇÃO
Se racismo e machismo são elementos fundadores da sociedade,
as hierarquizações serão reproduzidas em todos os espaços.
Desse modo, a ciência já foi utilizada para legitimar racismo
através dos estudos de evolução biológica do século XIX,
que introduziam o conceito de racismo biológico
assim como para tentar provar uma suposta
inferioridade natural
da mulher.
(Djamila Ribeiro)
Elaborada como resultado das reflexões preliminares dos profissionais envolvidos no projeto em andamento de constituição do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero (EaD) do Instituto Federal Baiano – IF BAIANO, esta coletânea quase homônima, Língua, Discursos, Relações Étnico-Raciais e de Gênero: questões identitárias e político-culturais, aborda algumas das discussões empreendidas que extrapolam os aspectos operacionais requeridos nesse projeto. A coletânea já surge então como a concretização do compromisso com o pensamento crítico e teórico que ordena as ações desde a gênese do referido curso.
A relevância das análises empreendidas por esses docentes e técnicos administrativos, enquanto profissionais da educação, em parceria com discentes orientandos e professores pesquisadores de instituições externas, está na ampliação dos recursos teóricos da área de Linguística, Letras e Artes, mediante uma relação dialógica e dinâmica com a área de Educação.
Além disso, ressalte-se que esses autores atuam como integrantes de grupos de pesquisa tanto internos do IF BAIANO quanto externos, além de, em sua maioria, estarem ainda vinculados ao Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade (Geni/ IF BAIANO) e/ou ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi/ IF BAIANO), desenvolvendo o fazer científico mediante processos como produção e divulgação de saberes.
Sendo assim, são firmadas neste livro diferentes camadas dialógicas, na verdade: entre áreas de conhecimento, entre autores que reúnem suas experiências em um diálogo inter e extracampi, empenhados em um projeto diverso no que concerne às vivências de pesquisa. Portanto, entabula-se uma discussão que aprofunda o debate e pode delinear estratégias para o campo educacional.
Desse modo, tal trabalho traz uma abordagem integrativa do macrotema das relações étnico-raciais e de gênero, sob o espectro de estudos de diversas áreas, contribuindo para: a) o adensamento do debate inter e intracampos; b) a difusão do conhecimento; c) o amadurecimento das práticas de ensino; bem como d) o aprofundamento do debate político-social, já que propostas de reflexão sobre esse tema não escapam de sua vinculação político-ideológica.
Os capítulos são reunidos em três seções. A Seção I: Lingua(gem): discursos de raça e de gênero
é composta pelos três primeiros capítulos que concentram estudos que tratam da ação discursivo-ideológica de raça e de gênero em seu funcionamento na língua. Já na Seção II: Interfaces artístico-culturais: relações de raça e de gênero
, são empreendidas análises voltadas para manifestações das artes e da cultura. Por fim, na Seção III: Educação: raça e gênero
, as discussões voltam-se para o debate da macrotemática aliada à área de Educação.
O Capítulo 1, intitulado Os efeitos de sentido sobre o feminismo: interdiscurso, memória e historicidade
, é de autoria de Quezia dos Santos Lima. A partir do referencial teórico da Análise do Discurso materialista (1969), ela analisa como a memória discursiva funciona para a discursivização sobre o feminismo e sobre as feministas. O percurso que é feito tem a ver com essa historicidade constitutiva dos discursos, o que coloca a língua em relação com a história produzindo sentidos. Como lembra Orlandi (2008), o sentido não se aloja separadamente, mas no espaço discursivo criado pelos (nos) dois interlocutores.
Nesse capítulo, são discutidos os efeitos de sentido sobre o termo feminismo na sociedade patriarcal, os quais, muitas vezes, têm uma conotação de insulto, por estarem relacionados a formações imaginárias sobre as concepções de feministas como aquelas que desejam ser melhores que os homens, as que são feias, lésbicas e masculinizadas e que são contra a família tradicional. Daí a rejeição ao termo feminismo e a consequente não identificação de muitas mulheres enquanto feministas, as quais consideram esses atributos como não favoráveis ao padrão imposto à mulher e naturalizado socialmente.
Partindo-se do pressuposto de que o discurso é um objeto teórico, no qual se pode ver a relação necessária entre o dizer e as condições de produção desse dizer, considerando o que é dito em um discurso, o que é dito em outro, relacionando-o ao não dito, a autora faz uma abordagem em torno da constituição de discursos sobre o feminismo e a circulação dos efeitos de sentido sobre feministas, algo importante ainda para que se compreenda como o feminismo é discursivizado de maneiras diferentes por feministas e antifeministas em distintos momentos.
O Capítulo 2, Nem todes nem ninguém no apagar da educação: silêncios e silenciamentos no atravessar do discurso político
, de Rafaella Elisa Santos Rolim Miranda Brito, toma uma postagem em uma rede social como materialidade de análise, sob o escopo da Análise de Discurso materialista. Tem-se, com esse trabalho, o objetivo de pensar o funcionamento do silêncio e do silenciamento de sujeitos e da educação, com fulcro no grito de denúncia e no apagar dos processos subjetivos, linguísticos e educacionais.
A autora trabalha com a possibilidade de a palavra se configurar como instância discursiva reguladora das relações e as disputas de poder. Assim, a sua configuração, notadamente a sua marcação morfológica de gênero se constitui como elemento a materializar processos discursos de embate de (des)legitimação de sujeitos e de práticas, sejam elas sexuais-afetivas, sejam linguísticas.
Observou-se um duplo movimento de resistência, em que as ideologias dominante e dominadas entram em embate no mesmo espaço discursivo e nem todes nem ninguém apresenta legitimidade para performar, a não ser sob a égide do que é simbolizado como normal. Evidencia-se a busca por um efeito de homogeneidade a partir do destaque à denúncia em si e ao sujeito-enunciador, mas não tanto ao objeto de denúncia.
Já no Capítulo 3, que encerra a Seção I, Relações raciais e Instagram: antirracismos e feminismos na arena imaterial da língua e dos discursos
, a autora Fernanda da Silva Machado ancora sua pesquisa na atual e tardia vigência da necessidade de superação do racismo no campo imaterial da língua e dos discursos, como um modo de enfrentamento. Para tanto, ela recorre à observação dos efeitos de sentido, materializáveis na língua, compreendida como mediadora da relação homem-sociedade, conforme seleção de pressupostos da Análise do Discurso de Michel Pêcheux (1969), assim como ao necessário alinhamento das concepções de ideologia e de racismo (e de antirracismo, consequentemente), conforme observações de Sílvio Almeida (2019).
A autora toma como centro da análise, na página de Instagram Carol Moreira, um vídeo que trata dos casos de racismo envolvendo a premiação Globo de Ouro, cuja chamada é Entenda a treta do Globo de Ouro
, assim como uma publicação associada ao tema da crítica antirracista, um carrossel que trata do caso do Emmy 2021. Adicionalmente, com a finalidade de se contemplar a aplicação da pauta antirracista à agenda feminista, é observada a série de postagens intitulada Se você gostou desse filme dirigido por homem talvez goste desse dirigido por mulher
, feita em parceria com a página do Instagram Narrativa Feminina.
A subjetividade antirracista, de acordo com a filiação teórica da Análise do Discurso, é observada nesse capítulo enquanto alteridade, fragmentação e contiguidade: tripé esse que caracteriza as movimentações intra e interdiscursivas, à medida que observa as alianças e tensões das identidades antirracistas e feministas, formas-sujeitos em relação de aderência, hibridismo ou descolamento de suas formações discursivo-ideológicas.
O objetivo delineado no Capítulo 4, A influência da globalização nos hábitos culturais e revalorização da identidade do município de Cravolândia, na Bahia: Folias/Terno de Reis – contribuições negro-africanas e indígenas
, que abre a Seção II, de autoria de Tainá Ribeiro de Souza e Ivo Ferreira de Jesus, é analisar a influência negro-africana e indígena e como a globalização influenciou na perda dos hábitos culturais da festa Folias/Terno de Reis, que deixou de existir, no município de Cravolândia (BA).
A referida análise busca apresentar uma crítica à forma como os hábitos culturais estão sendo afetados pelo processo da globalização, mudando gosto, hábitos, costumes e tradições. A cidade de Cravolândia (BA) também se encaixa em um grupo com características singulares e plurais, respectivamente, reunindo elementos de continuidade e contiguidade que incluem laços de aliança, filiação e fraternidade. Na interação desses vínculos, os autores encontram uma importante herança intergeracional e racial, que se reflete na relação familiar-identitária e afeta as alianças, os pactos e a convivência entre os membros.
No Capítulo 5, Uma radicalização da linguagem no teatro físico de Fábio Vidal
, o autor Caio Lincoln Santos Araújo reflete sobre o corpo que se tornou palco de disputas políticas nos últimos séculos: uma luta contracultural, que radicalizou o pensamento sobre o corpo pós-moderno e o modo de vida capitalista. O teatro de Fábio Vidal, em Joelma (2013), a história de uma das primeiras mulheres transgênero da Bahia, e a pesquisa de mestrado do atuante sobre seu método de trabalho são utilizados como experiência para jogos de conceitos entre os estudos culturais, a contracultura e o teatro físico.
A pesquisa desse capítulo dialoga com Lúcia Romano, Regiane Silva, Artaud, Foucault, Butler, Deleuze e Guattari, assim como com Daniel Lins, sobre radicalizações da linguagem que buscam superar a lógica do pensamento capitalista e o regime dos signos, subverte o gênero por meio da linguagem e resiste a uma biopolítica dos dispositivos sociais, que docilizam e disciplinam os corpos, para entender o que pode o corpo no teatro físico de Fábio Vidal, em seu solo e em parceria com o cineasta Edson Bastos.
O Capítulo 6, Práticas de performance e memória como ferramentas contracoloniais: reflexões entre setores populares, afro-brasileires e indígenas
, da autora Lucrecia Raquel Greco, traz reflexões antropológicas que convidam a pensar na corporalidade por vias epistemológicas e metodológicas, abordando processos que produzem, de forma micropolítica, subjetividades e relações (GRECO, 2009, 2013). Esses processos poderiam também ser pensados como uma reapropriação dos meios de reprodução (PRECIADO, 2018), contemplando experiências que podem promover diversos devires marcados por distintos signos políticos existenciais.
Por um lado, suas pesquisas se desenvolvem em três coletivos (integrados majoritariamente, porém não exclusivamente, por jovens negres brasileires): a Associação de Capoeira de Rua Berimbau, no estado do Rio Grande do Sul; a Escola de Jongo, no estado de Rio de Janeiro; e o Grupo de Teatro do Oprimido Pé de Poeta, no estado da Bahia. Todos reivindicam tanto a identidade negra dxs integrantes como a identidade negra, popular e/ou de resistência político-cultural dos gêneros performáticos praticados.
Por outro lado, a pesquisadora compartilha duas experiências com grupos na Argentina: o EM, coletivo de mulheres com o qual realizou tanto sua pesquisa doutoral como um processo de trabalho com corpo e expressão que continuou como grupo de composição em performance; assim como a experiência Dança e Memória Qom, ou DMQ, um ciclo de oficinas de dança e memória com coletivos qom, que se estendeu à publicação de um livro de autoria coletiva.
O Capítulo 7, Relato de experiência referente a um projeto de extensão: jogos e brincadeiras indígenas no IF Baiano Campus Alagoinhas (2020-2021)
, da autora Rita Marcia Amparo Macedo, é embasado na importância de reconhecer a origem da formação da nossa população dando o devido valor à cultura Afro-Brasileira e Indígena e relevar o papel dessas culturas na formação do Estado brasileiro com suas contribuições que permitem valorizar um vasto legado e reconhecer os pilares fundamentais da cultura brasileira.
A autora relata suas vivências enquanto docente, abordando um projeto que desenvolveu o trabalho com os jogos e as brincadeiras indígenas que, embora tenham projeção internacional, ainda são pouco contemplados no Brasil. O fato de o projeto ter sido sediado no Instituto Federal Baiano, Campus Alagoinhas, agrega ainda mais significado à atividade, já que são reunidos cultura, história e ensino honrando a matriz indígena dessa cidade e das pesssoas que lá vivem.
Introduzindo a Seção III, Educação: raça e gênero, o Capítulo 8, Quem cabe aqui?: discussões preliminares acerca do lugar de estudantes negras nas instituições de ensino superior
, trabalho em coautoria das pesquisadoras Rosangela Lima de Neves Rodrigues, Leliana Santos de Sousa, Nelian Costa Nascimento e Merilande Oliveira Soares Eloi, visa contribuir com discussões preliminares a respeito da estrutura social (ALMEIDA, 2019) opressora, racista, desigual, misógina que pode incidir em inadequações nas instituições de ensino superior e aponta para uma redução dos espaços de circulação, os saberes das mulheres negras (HOOKS, 2005, 2013).
As autoras trazem questionamentos acerca da possibilidade de reconhecimento e representatividade das estudantes negras nos espaços de circulação de saber. Além disso, buscam investigar de que modo a estrutura institucional produz inadequação do espaço para essas estudantes que são impelidas a duvidar de seu pertencimento a esse lugar. Para avançar com essas questões é utilizado um estudo bibliográfico com a hipótese de que a intersecção de raça, gênero e classe social (AKOTIRENE, 2018) muitas vezes coloca as estudantes negras em uma posição precária na academia.
Finalizando a coletânea, o Capítulo 9, Quem não sabe pode aprender saber aprendendo: saberes ancestrais e as leis 10.639/2003 e 11.340/2006 na escola
, das pesquisadoras Maria Asenate Conceição Franco, Letícia dos Anjos Sales e Jussimara de Santana Barreto, concebe a educação formal como direito sociopolítico que pode contribuir para a emancipação humana. Além disso, compreende que o aprendizado escolar, baseado no modelo eurocêntrico antilibertário, reproduz o racismo antinegro e sexismo patriarcal e obsta a materialização das leis 10.639/2003 e 11.340/2006.
O objetivo nesse capítulo