Um Mágico Entre Os Espíritos

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS

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UM MÁGICO ENTRE OS

ESPÍRITOS





HARRY

HOUDINI

Ilustrado

1924

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WEISS, Erich (Harri Houdini), 1874 – 1926

W429 Um Mágico Entre os Espíritos / Harry Houdini – 1ª. Edição -

São Paulo: Clube de Autores, 2020

Título original: A Magician Among The Spirits – Tradução de Reverendo Paulo de Tarso

1. Espiritismo / Espiritualismo (Mediunidade, reencarnação, levitação, materialização). 2. Fenômenos paranormais. I. Título. II.

Autor.

CDD 133.9

130

CDU 135

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5

6

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ...................................................................................... 11

PREFÁCIO............................................................................................. 19

CAPÍTULO I – IRMÃS FOX -AS FUNDADORAS DO ESPIRITISMO

MODERNO ............................................................................................ 21

CAPÍTULO II - OS IRMÃOS DAVENPORT ...................................... 39

CAPÍTULO III - DANIEL DUNGLAS HOME ..................................... 62

CAPÍTULO IV - PALLADINO ............................................................. 75

CAPÍTULO V - ANN O'DELIA DISS DEBAR .................................... 93

CAPÍTULO VI - DR. SLADE E SUAS LOUSAS ESPÍRITAS .......... 107

CAPÍTULO VII – ESCRITA EM LOUSA E OUTROS MÉTODOS . 129

CAPÍTULO VIII - FOTOGRAFIA ESPIRITUAL ............................ 145

CAPÍTULO IX - SIR ARTHUR CONAN DOYLE ............................ 167

CAPÍTULO X - POR QUE ECTOPLASMA? .................................... 196

CAPÍTULO XI - SUBPRODUTOS DO ESPIRITISMO................... 211

CAPÍTULO XII – AS INVESTIGAÇÕES SÁBIAS E AS OUTRAS . 222

CAPÍTULO XIII - COMO OS MÉDIUNS OBTÉM INFORMAÇÕES

............................................................................................................. 247

7

CAPÍTULO XIV - EM QUE SE DEVE ACREDITAR PARA SER

ESPÍRITA ........................................................................................... 259

CAPÍTULO XV – OS MÁGICOS COMO DETETORES DE FRAUDE

............................................................................................................. 273

CAPÍTULO XVI - CONCLUSÃO ....................................................... 295

APÊNDICE ........................................................................................ 300

Numa singela homenagem, dedico este livro à memória de minha santa mãe. Se Deus em sua infinita sabedoria alguma vez enviou um anjo sobre a Terra em forma humana, tal anjo foi minha mãe.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI 10

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI INTRODUÇÃO

DESDE o início de minha carreira como arista mágico, eu interessei-me pelo espiritismo como algo pertencente à categoria do misticismo, e, paralelamente à minha carreira artística, associei-me a médiuns, acumulando e classificando argumentos e realizando sessões de maneira independente para averiguar a verdade acerca destas coisas. Na época, fiquei contente em surpreender meus clientes, mas, apesar de estar os enganando, eu não via nem compreendia a seriedade de brincar com os sentimentos sagrados e com o resultado funesto que inevitavelmente se seguia. Para mim, era uma brincadeira. Eu era um mágico e, como tal, minha ambição estava sendo gratificada e meu desejo por pequenas emoções, satisfeito. Depois de investigar profundamente percebi a gravidade de tudo isso. Ao avançar para anos mais maduros de experiência, fui levado a perceber a seriedade em brincar com a reverência sagrada que o ser humano normalmente concede aos que partiram e, quando eu pessoalmente fui atingido por uma dor semelhante, fui tomado de tristeza e senti-me culpado de tanta frivolidade. E pela primeira vez percebi que estava à beira do crime.

Como consequência, minha própria atitude mental foi se modificando. Eu sou um dos que daria alegremente grande parte de minhas posses terrenas pelo consolo de uma palavra de um de meus entes queridos que partiram - apenas uma palavra que eu tivesse certeza que havia vindo deles - e por isso entendi a sacralidade desse pensamento, e tornei-me profundamente interessado em descobrir se havia uma possível realidade de retorno, pelo espírito, de alguém que faleceu, e, desde então, dediquei a esse esforço meu coração, alma e a capacidade cerebral que possuo. Nesse estado de espírito, iniciei uma nova linha de pesquisa psíquica com toda a seriedade e, 11

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI desde esse momento até o presente, jamais tornei a entrar em uma sala de sessões (espíritas), senão com mente aberta, ansiosa por saber se a intercomunicação pode existir e disposto a aceitar qualquer demonstração que provasse uma revelação verdadeira.

A

questão

sobre

a

realidade

ou

falsidade

da

intercomunicação entre mortos e vivos, mais do que qualquer outra coisa, chamou minha atenção e à qual dediquei anos de pesquisa e estudo científico. Sir Arthur Conan Doyle disse em uma de suas palestras:

Quando alguém bate à porta, não para, mas vai mais longe investigando para conhecer a causa, e mais cedo ou mais tarde se descobre que uma mensagem está sendo entregue...

Portanto, fui investigar as batidas (raps), mas, como resultado de meus esforços, devo confessar que estou mais longe do que nunca da crença na genuinidade das manifestações dos espíritos e, após vinte e cinco anos de pesquisa e esforço ardentes, declaro que nada foi revelado que me convencesse de que a intercomunicação fora estabelecida entre os Espíritos dos que partiram e os que ainda estão na carne.

Fiz acordos com catorze pessoas diferentes nos quais qualquer um de nós que morresse primeiro se comunicaria com o outro se fosse possível. Mas nunca recebi uma palavra. O primeiro desses pactos foi feito há mais de vinte e cinco anos e não tenho dúvidas de que se qualquer uma dessas pessoas pudesse ter me contatado, ela o teria feito. Um dos pactos foi feito com meu secretário particular John W. Sargent, um homem sensato. Tínhamos grande confiança um no outro. No dia anterior à sua operação, ele me disse:

Houdini, pode ser meu fim. Se for, eu entrarei em contato você, não importa o que aconteça do outro lado, desde que haja alguma maneira de chegar até você. E se eu conseguir, você saberá que sou eu porque vou fazer isso de uma maneira tão forte que você não terá dúvidas.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Ele morreu no dia seguinte. Isso foi há mais de três anos e não houve sinal. Eu esperei e assisti acreditando que, se um espírito pudesse entrar em contato, seria ele. E sei que nossas mentes estavam tão próximas uma da outra que eu teria recebido o sinal que meu amigo jurou me mandar. Ninguém poderia me acusar de não estar disposto a receber esse sinal porque ele teria sido o maior esclarecimento que eu poderia ter neste mundo.

Sir Arthur Conan Doyle, espírita sincero e crente nos fenômenos espiritistas, a quem conheço e estimo, disse-me que não obtive resultados convincentes porque sou cético, todavia, quero deixar claro que não sou um escarnecedor. Acredito firmemente em um Ser Supremo e que existe um Além. Portanto, desde a partida de meus amados pais desta terra, minha prática, como dever final, é visitar os lugares sagrados de descanso deles e pedir sua proteção e silenciosas bênçãos através do Onipotente Todo-Poderoso. O

primeiro lugar que visito quando volto de uma viagem é justamente esse local sagrado. Ambos me prometeram fielmente inúmeras vezes nesta vida que, se pudessem me ajudar e me proteger de seus túmulos ou do Além, o fariam. Minha mente sempre esteve aberta, receptiva e pronta para acreditar nisso. Ao participar de sessões espíritas, sempre fiz uma promessa de honra comigo mesmo para banir todos os pensamentos profanos da minha mente até o máximo da minha capacidade. Eu persuadia toda a minha alma, cérebro e pensamento de maneira que o médium tinha minha total atenção a tal ponto que, no final, me sentia tão exausto quanto o médium que, independentemente da causa, mostrava aos presentes os efeitos de grande tensão. Assim, deve-se ver que eu não sou cético. No entanto, tem sido meu trabalho de vida identificar e apresentar publicamente problemas, cujos segredos nem mesmo os mágicos profissionais foram capazes de descobrir, e cujos efeitos se mostraram tão inexplicáveis para os cientistas quanto quaisquer maravilhas dos médiuns, e afirmo que, no que diz respeito à revelação de farsas, meus anos de investigação foram mais 13

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI produtivos do que o mesmo período de trabalho semelhante de qualquer cientista; que meu registro como místico dos místicos me qualifica para investigar além da superfície em qualquer problema de mistério que me seja apresentado e que, com meus olhos treinados pela experiência de trinta anos nos domínios do mistério e do ocultismo, não é estranho que eu veja esses chamados fenômenos de um ângulo diferente do leigo comum ou mesmo do investigador especialista.

Um incidente memorável em minha vida e que mostra quão pouco as pessoas em geral entendem os métodos pelos quais meus mistérios são produzidos e também mostra como é fácil até mesmo para um grande intelecto, diante de um mistério que não pode compreender, concluir que há algo sobrenatural envolvido. Tal incidente tem a ver com Madame Sarah Bernhardt.

Durante um de meus vários compromissos em Paris, ela testemunhou minhas performances e estava ansiosa para ver uma de minhas grandes façanhas, então, quando estávamos em Boston nos mesmos dias para apresentações, por uma boa camaradagem, lhe fiz uma performance no meu hotel adicionando algumas experiências extras para que contemplasse. Quando estávamos sentados no carro a caminho da minha demonstração, ela colocou o braço gentilmente em volta do meu ombro e com aquela maravilhosa voz que ela tinha e que emocionou milhares de espectadores, mas que agora parou para sempre, disse-me:

"Houdini, você faz coisas maravilhosas. Você não poderia...

não poderia trazer minha perna de volta para mim?"

Olhei para ela, trêmulo, e, ao ver um brilho travesso e não pequeno em seus olhos, respondi:

- Meu Deus, madame, certamente que não; você não pode estar falando sério. Sabe que meus poderes são limitados e está realmente me pedindo para fazer algo impossível.

Sim, disse ela, inclinando-se para mais perto de mim mas você faz o impossível.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Contemplamos um ao outro; ela, a mulher cansada de viajar e experiente do mundo; Eu, o humilde mágico, perplexo e estupefato pelo extraordinário e não intencional elogio que ela estava me prestando. Então eu perguntei:

Você está brincando?

Mais non, Houdini, j'ai jamais été mais serieux dans ma vie 1

ela respondeu enquanto balançava a cabeça lentamente.

Madame, você está exagerando minha capacidade, eu lhe respondi. Cada uma das maravilhosas conquistas científicas modernas, tais como telefone, rádio, máquinas voadoras etc., foram classificadas como impossíveis no passado e seriam vistas como manifestações

sobrenaturais,

se

não

espirituais.

Coisas

semelhantemente misteriosas, mas com princípios e detalhes de reprodução mais simples, foram os instrumentos usados por sacerdotes de antigos cultos religiosos com o objetivo de manter cativa a massa de pessoas incautas.

Não é incomum obter pequenas ilusões para os olhos ou ouvidos ou lográ-los, mas quando essas ilusões e logros são creditados para formas espirituais dos falecidos e vozes dos mortos em vez de serem reconhecidos como alguns fenômenos subjetivos provocados por alguma causa física, a situação se torna grave.

Reputar reações naturais como algo sobrenatural constitui praticamente tudo o que é necessário para ser colocado na categoria de médiuns, que representam os sacerdotes e ministros do espiritismo.

Parentes angustiados se agarram em uma única palavra que para eles indique mesmo remotamente que o espírito que eles procuram está em comunicação. Um pequeno sinal que chama a imaginação deles destrói toda a cautela e eles acabam se convencendo. Então eles começam a aceitar todos os tipos de eventos naturais como sendo resultado da intervenção de espíritos.

1 Oh, não, Houdini, nunca fui tão séria na minha vida.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Esse estado mental produz muitos infortúnios, incluindo suicídios daqueles que pensam que estão indo para a felicidade com os entes queridos além do túmulo. Quando, na Europa, em 1919, um noivado foi interrompido pela Primeira Guerra Mundial, fiquei impressionado com a ânsia dos pais aflitos pelo consolo de uma palavra do rapaz que havia falecido e meu desejo pela verdade foi renovado com fresco vigor. Fui informado de que a febre dos médiuns se tornou tão grande em Berlim que os moradores angustiados gastaram grandes somas de dinheiro na esperança de descobrir médiuns que fossem capazes de garantir a eles um vislumbre por trás do véu.

Observei com total interesse e preocupação essa grande onda de espiritismo varrer o mundo nos últimos meses e percebi que ela se apoderou de pessoas de temperamento neurótico, especialmente aquelas que sofrem de luto, acabando por ser uma ameaça à saúde e sanidade.

O professor George M. Robertson, eminente psicopatologista e médico superintendente do Royal Edinburgh Mental Hospital, apontou para o perigo da insanidade resultante da forte crença no espiritismo pelos neuróticos, objeto de parte de seu relatório anual em 1920. Ele diz:

Aqueles que sofreram luto durante a guerra e os suportaram com serenidade nos dias de mais incidentes e em meio à pressão de atividades de guerra, como a Cruz Vermelha e outros trabalhos, acham muito mais difícil aguentar agora, embora o tempo tenha passado. Alguns foram solapados desde que a guerra chegou ao fim, e muitos, como consolo para seus sentimentos, se interessaram pelo espiritismo. Desde que o Dr. Charles Mercier citou no prefácio de seu livro Spiritualism and Sir Oliver Lodge" (Espiritismo e Sir Oliver Lodge) meu aviso sobre o perigo de pessoas neuróticas se engajarem em investigações práticas de natureza espírita, recebi muitos pedidos para falar mais sobre o assunto, e pouco tenho a acrescentar, exceto para reafirmar a o que já disse.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI

"Eu não considero Sir Arthur Conan Doyle ou Sir Oliver Lodge como juízes seguros, cuja opinião deve ser aceita sobre esse assunto difícil e importante, tendo em vista o luto e os desejos inconscientes.

Se o desejo é pai do pensamento, é mãe da alucinação dos sentidos.

Os truques que podem enganar o cérebro, sem precisar recorrer a auxílios espíritas, são simplesmente surpreendentes, e apenas aqueles que fizeram um estudo da psicologia mórbida e da psicologia normal percebem toda a verdade disso.

Com grande curiosidade li os artigos dos principais cientistas sobre fenômenos psíquicos, particularmente os de Sir Arthur Conan Doyle e Sir Oliver Lodge, nos quais discutiram suas respectivas conversões à crença na comunicação com os mortos. Não há dúvida de que alguns desses cientistas são sinceros em sua crença, mas infelizmente é por essa sinceridade que milhares se convertem. O

fato de serem cientistas não lhes confere um dom especial para detectar o tipo específico de fraude usada pelos médiuns, nem os impede de serem enganados, especialmente quando pelo pesar são fortalecidos em sua crença, pois vários livros e registros do assunto estão repletos de enganos nos quais incorreram cientistas notáveis que tentaram investigar médiuns proeminentes. É perfeitamente racional supor que eu possa ser enganado uma ou duas vezes por uma nova ilusão, mas se minha mente, que foi tão intensamente treinada por anos para inventar efeitos misteriosos, pode ser enganada, quão mais suscetível deve ser o observador comum.

Durante minha última viagem ao exterior, em 1919, participei de mais de cem sessões com o único objetivo de investigação honesta; essas sessões foram presididas por médiuns conhecidos na França e na Inglaterra. Além de assistir a essas sessões, passei muito tempo conversando com pessoas proeminentes relacionadas com o espiritismo. No curso de minhas intensas investigações, conheci a maioria dos famosos médiuns de nosso tempo. Submeti-me a condições impostas por eles e a resultados religiosamente esperados, mas ainda questiono qualquer suposta prova da existência de 17

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI espíritos que se interessem, de alguma maneira, física ou mentalmente, pelo bem-estar dos homens mortais. Não está dentro do propósito deste livro, que é o resultado de meus anos de investigação, dar a todos os detalhes históricos sobre todos os meios mencionados, embora sejam fornecidos em cada assunto para alicerçar minhas reivindicações. Cada uma delas é baseada em um estudo minucioso dos registros, como também são minhas afirmações, muitas das quais apoiadas por evidências documentais que tenho em minha posse.

Passei boa parte da minha vida estudando e pesquisando.

Nos últimos trinta anos li todas as publicações de literatura sobre o tema espiritismo que pude. Acumulei uma das maiores bibliotecas do mundo em fenômenos psíquicos, espiritismo, magia, bruxaria, demonologia, maus espíritos etc., parte do material que remonta a 1489 e duvido que alguém no mundo tenha uma biblioteca tão completa sobre o espiritismo moderno, porém nada que eu tenha lido sobre os chamados fenômenos espíritas me impressionou como genuíno. É verdade que algumas das coisas que li pareciam intrigantes, mas questiono se seriam reproduzidas sob diferentes circunstâncias, sob condições de teste diante de mágicos especializados e comitês de mente aberta. Minha jornada não foi uma investigação de alguns dias, semanas ou meses, mas sim se estendeu por trinta anos e, nesses trinta anos, não encontrei um incidente comprovado como genuíno. Se houvesse alguma demonstração real e pura desses fenômenos, que não cheirasse a fraude, que não pudesse ser reproduzida por poderes terrestres, teríamos algum fundamento, mas até o presente momento tudo o que eu investiguei foi o resultado de cérebros iludidos ou daqueles que estavam ativa e intensamente propensos a acreditar.

HOUDINI.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI PREFÁCIO

EU ABRAÇARIA o espiritismo com satisfação se suas alegações pudessem ser provadas, mas não estou disposto a ser iludido pelas imposições fraudulentas dos chamados médiuns ou paranormais, ou a aceitar como realidade sagrada qualquer das provas que tenha sido me apresentada até agora.

A crença infantil dos antigos na demonologia e na bruxaria; as superstições dos civilizados e incivilizados, e aqueles maravilhosos mistérios das épocas passadas são todos ridicularizados pelo conhecimento crescente da geração atual; no entanto, somos convidados, com toda a seriedade, por alguns cientistas e estudiosos, a aceitar como verdade absoluta os fenômenos produzidos por seus médiuns favoritos, que, até agora, não provaram ser nada além de representações ficciosas, sutilmente preparadas, repousando sobre as bases frágeis, ou melhor, absolutamente sem base alguma.

Não apenas homens e mulheres educados, com anseios emocionais por alguma garantia da existência continuada de entes queridos que partiram, mas pessoas de todos os níveis culturais e condições de vida se renderam completamente à crença na ficção mais monstruosa, confirmada apenas por uma pessoa, testemunha única do chamado fenômeno, mesmo quando o médium, através do qual o fenômeno deveria ter ocorrido, foi pego trapaceando várias vezes.

Eu acredito em uma vida futura e nenhuma bênção maior poderia ser concedida a mim do que a oportunidade, mais uma vez, de falar com minha santa mãe que me espera de braços abertos para me aconchegar ao seu coração em boas-vindas, assim como ela fez quando entrei nesta esfera mundana.

19

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI H.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI

CAPÍTULO I – IRMÃS FOX -

AS FUNDADORAS DO

ESPIRITISMO MODERNO

A HISTÓRIA das, assim chamadas, manifestações espirituais modernas data de 1848 no casarão solitário de John D. Fox e sua esposa na vila de Hydesville, no estado de Nova York, e centra-se em suas duas filhas, Margaret, de oito anos, e Kate, mais jovem um ano e meio. Exploradas com sucesso enquanto ainda crianças; acreditadas como dotadas de verdadeiro poder oculto; tornaram-se mundialmente famosas como As irmãs Fox, seu registro é, sem dúvida, um dos mais importantes da história do espiritismo.

John Fox e sua esposa pareciam ser pessoas boas e

honestas, mas eram agricultores entusiastas. Dos dois, a esposa era a mais simples de espírito, e quando essa mulher nervosa e supersticiosa começou a ouvir ruídos estranhos que não podia explicar, e que pareciam de alguma maneira estranhamente relacionados com suas filhas, ela concluiu prontamente que os sons não eram naturais e começou a refletir sobre o assunto. Seus medos aumentaram com a persistente recorrência dos sons misteriosos e, em pouco tempo, ela confidenciou isso a alguns dos vizinhos. Eles ficaram tão intrigados quanto a mãe das meninas, a casa dos Fox tornou-se um objeto de suspeita e a vizinhança passou por si mesma a investigar o assunto e procurar a solução do mistério.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Com

o

aumento

do

interesse,

aumentaram

proporcionalmente os ruídos, que passaram a ser conhecidos como

rappings (batidas), e que, apesar das crianças negarem saber a forma como eram produzidas, as batidas normalmente respondiam às duas meninas por um estranho código de perguntas. A possibilidade de trapaça por parte dessas crianças nunca foi cogitada por ninguém em Hydesville. Com isso, timidamente começou a surgir a idéia de serem respostas de um espírito desencarnado, o que logo se tornou uma teoria. Então, foi perguntado às meninas se um assassinato já havia sido cometido naquela casa. Os sons assustadores do código responderam afirmativa e imediatamente aos ávidos investigadores, comprovando a teoria e levando à idéia de que havia uma pessoa real no Mundo Espiritual tentando se comunicar de maneira grotesca, que assemelhava-se um pouco à telegrafia, para dar aos seres humanos o benefício de seu vasto conhecimento, estando todo o caso ligado de alguma maneira oculta às duas meninas.

Nesse momento cabal, uma filha casada do casal Fox chegou a Hydesville para uma visita. Vinte e três anos mais velha que a pequena Margaret, de personalidade muito diferente do pai ou da mãe,

pareceu

ter

compreendido

instantaneamente

as

potencialidades dos poderes ocultos de suas irmãs menores e assumiu imediatamente o comando total dos assuntos da família Fox.

Seu primeiro passo foi organizar uma Sociedade de Espíritas e incentivar multidões a vir a casa ver as crianças. Hydesville ficou famosa quase da noite para o dia. As notícias das batidas (raps) peculiares se espalharam com rapidez relâmpago e logo se tornaram um assunto fascinante, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, França, Itália e Alemanha. Dizia-se que mulheres como Harriet Martineau e Elizabeth Barrett Browning se interessaram completamente no assunto e homens intelectuais foram presos nas tramas do pensamento contemporâneo.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Hydesville tornou-se muito rapidamente um campo pequeno demais para as operações da Sra. Fish, a irmã mais velha, e logo ela apareceu em Rochester com as meninas, exibindo publicamente seus feitos a grandes multidões por dinheiro, obtendo de cem a cento e cinquenta e cinquenta dólares por noite em lucros, que ela embolsava. De Rochester, ela as levou para a cidade de Nova York, e mais tarde as meninas fizeram um tour pelas cidades dos Estados Unidos, atraindo os mais importantes teólogos, médicos e profissionais de todos os ramos, além de grandes multidões em todos os lugares. Não há registro de que as meninas tenham estado sob o controle da Sra. Fish depois de deixarem a cidade de Nova York, embora ela as ameaçasse continuamente e Margaret tenha a temido até o fim da vida.

A grande turnê terminou e Kate, apadrinhada por Horace Greeley, foi para a escola. Margaret se tornou uma jovem atraente, destinada a se tornar a mais famosa das duas médiuns e iniciou uma série de sessões em salas alugadas por ela e pela mãe no Union Hotel, na Filadélfia. Ali o romance entrou em sua vida em um dia de 1853 na pessoa do Dr. Elisha Kent Kane, o notável explorador do Ártico.

A carreira dele fora notável. Pertencente a uma das famílias mais aristocráticas da Filadélfia; o filho de um juiz; bonito; com menos de trinta e quatro anos; Formado há mais de dez anos na Universidade da Pensilvânia, fora para a China com o Comodoro Parker na função de cirurgião da embaixada, depois obteve uma licença e viajou pela Grécia a pé, subiu o Nilo, viajou pela Índia, Ceilão e Ilhas do Mar do Sul e até desafiou o Himalaia. A Guerra do México lhe proporcionou a oportunidade de ganhar esporões de bravura, e, por fim, se juntou a expedição de socorro que foi em busca de Sir John Franklin em 1850.2

2 Sir John Franklin foi um célebre explorador do Ártico. Em 1845, ele foi nomeado para comandar de uma expedição enviada pelo Almirantado 23

UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI Este homem muito viajado e experiente foi instantânea e irresistivelmente atraído pela jovem médium. Uma amizade foi formada e não demorou muito para que o Dr. Kane decidisse que, independentemente de todos os obstáculos, ela deveria ser sua esposa. Apesar dos esforços de sua família, ele logo tomou providências para educar Margaret, e ela foi mandada com um tutor para um bairro tranquilo da Filadélfia, onde uma tia do médico poderia supervisioná-la e onde, além de seus outros estudos, ela deveria ser fluente em francês, alemão e italiano, bem como canto e instrumentos. Suas férias foram passadas com uma irmã do senador Cockrell. Por cerca de três ou quatro anos, ela ficou reclusa do mundo, enquanto o médico fazia todo o possível para erradicar de sua mente tudo o que estivesse relacionado ao espiritismo e aos

raps. Então houve uma reviravolta.

O médico ficou com problemas de saúde em decorrência da permanência no Ártico e decidiu ir para o exterior. Não houve cerimônia civil ou religiosa para marcar seu casamento com Margaret, mas pouco antes de ele partir, na presença de sua mãe e de outras testemunhas, ele declarou que eram marido e mulher. Sua saúde piorou em Londres e ele partiu para as Índias Ocidentais, onde Margaret e sua mãe deveriam se juntar a ele, mas seus preparativos para a viagem foram interrompidos pelo anúncio de sua morte em Havana em 16 de fevereiro de 1857. Margaret ficou arrasada por este golpe. Uma doença prolongada se seguiu e, quando ela finalmente se recuperou para enfrentar a vida, não apenas sem amigos e sozinha, mas também sem dinheiro algum, pois, devido a Britânico em busca da passagem noroeste. A expedição partiu de Greenhlthe, em 18 de maio de 1845, e deu notícias pela última vez na entrada do Estreito Lancaster, em 26 de julho de 1845. Trinta e nove expedições de socorro, públicas e privadas, foram enviadas da Inglaterra e da América em busca do explorador desaparecido entre 1841 e 1851.

McClintock encontrou vestígios da expedição desaparecida em 1859, o que confirmou rumores anteriores de sua destruição total.

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UM MÁGICO ENTRE OS ESPÍRITOS – HARRY HOUDINI um compromisso, ela não participou do espólio do médico.

Desiludida, desanimada e amargurada, ela voltou ao seu espiritismo e aos raps. Durante trinta anos, ela vagueou de um lugar para outro realizando sessões. Durante trinta anos, sofreu torturas de remorso e problemas de saúde. Ela acreditava que estava sendo levada para o inferno. Ela odiava o que tinha se tornado e às vezes tentava afogar seus problemas no vinho. Por trinta anos, ela viveu com medo constante de sua irmã mais velha. Então Margaret Kane encontrou um consolo temporário na Igreja Católica. Mas ainda havia mais meses de luta antes que ela finalmente encontrasse coragem para contar a história dos mundialmente famosos raps em uma confissão assinada dada à imprensa em outubro de 1888.3

Faço isso, disse ela, "porque considero meu dever, uma coisa sagrada, uma missão sagrada, expô-lo (o espiritismo). Quero ver o dia em que isto será totalmente eliminado. Depois de expô-lo, espero que o Espiritismo receba um golpe fatal, fui a primeira no ramo e tenho o