Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

A partir de $11.99/mês após o período de teste gratuito. Cancele quando quiser.

Segredos de um símbolo e outros contos
Segredos de um símbolo e outros contos
Segredos de um símbolo e outros contos
E-book254 páginas3 horas

Segredos de um símbolo e outros contos

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Prepare-se para se emocionar, porque este livro se destina a um público amplo que vive e se reconhece na realidade de cada dia.Assim, à medida que vamos avançando por estas páginas, será inevitável a pergunta: tudo o que está aqui é real?Milton Cavalieri recria na sua literatura algumas histórias, um universo de personagens que fogem do lugar comum, que amam e odeiam; são eles homens e mulheres que buscam novos caminhos ou mesmo a retomada de estradas já percorridas, para tentar achar a felicidade e a realização, seja ela qual for.O que é realmente importante nas nossas vidas?Acredite que este livro, através de seus contos singulares e contemporâneos, deverá nos responder ou, quem sabe, nos ajudar a achar o tão procurado norte dentro de cada um de nós.
IdiomaPortuguês
EditoraLitteris
Data de lançamento21 de dez. de 2022
ISBN9786555731569
Segredos de um símbolo e outros contos
Autor

Minton Cavalieri

Formado em Administração de Pequenas e Médias Empresas, funcionário público aposentado, Milton Cavalieri é neto de imigrantes italianos da segunda geração. Ele nasceu em Bela Vista do Paraíso (PR), em outubro de 1954. Filho de lavradores oriundos de Tibiriçá (SP), teve uma infância como qualquer criança que nasce na roça, sem luxo e sem conforto. Com o passar dos anos, a arte de escrever começou a aflorar em sua cabeça. Após a longa passagem rural, sua família mudou-se para São Paulo, em 1969. Passados dez anos, a família mudou-se para Londrina; porém Milton não se adaptou à cidade e retornou à terra da garoa por mais dez anos. Durante esse período, concluiu os estudos de primeiro e segundo graus.De volta a Londrina, fez diversos cursos. No entanto, o pensamento estava sempre voltado à sétima arte. Como não tinha condições de frequentar um curso nessa área, o autor montava uma espécie de “espinha dorsal” das histórias e as escrevia no caderno.

Relacionado a Segredos de um símbolo e outros contos

Ebooks relacionados

Ficção Literária para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Segredos de um símbolo e outros contos

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Segredos de um símbolo e outros contos - Minton Cavalieri

    Dedicatória

    Sob o sol escaldante, nas noites frias de inverno, nos momentos de tristeza e dor, mas também nas alegrias, no balbuciar das primeiras palavras, e, principalmente nos primeiros passos. Essa figura dotada de carinho, amor e bondade escolhida pelo Criador sempre esteve com as mãos estendidas qual uma incansável atalaia mostrando o caminho certo. Pequena de estatura, porém corajosa de espírito e gigante nas ações para defender suas crias das adversidades do destino até o seu derradeiro suspiro de vida:

    Minha mãe – Emília

    Agradecimentos

    Muito antes de ler a obra, Manual de Pintura e Caligrafia – do autor português – José de Souza Saramago, sugestão de uma amiga, eu já havia rabiscado dezenas de textos. Ocorreu que durante a leitura deparei-me com uma citação por demais interessante.

    Daria, se pudesse, todas as minhas virtudes para conhecer as profundas razões que levam as pessoas a escrever. É possível que quem escreve se revela o que realmente é.

    Oh, pá! Já me perguntei isso incontáveis vezes. De qualquer forma, independente dos motivos é um dos que agradeço. Também a minha família que me incentiva a seguir nesta indescritível caminhada. Aos professores, aos amigos de longa data e de escola que o tempo e as distâncias nos separaram. Outros que se enquadram neste rol são duas turmas especiais: os funcionários do Rest. Univ. e a farmácia do Hospital Universitário de Londrina. Dois ambiente onde trabalhei e guardo boas lembranças. E finalizando a lista não poderia deixar de fora a Editora Litteris, que há anos tem dado apoio e espaço para expor os meus textos.

    A todos deixo aqui a minha sincera gratidão.

    Milton Cavalieri

    Sumário

    Dedicatória

    Agradecimentos

    Motivação

    De pai para filho

    A testemunha

    Na fronteira da consciência

    Suplícios de um querubim

    A fruta do conde

    O recenseador

    Estação Terra

    A Missão

    Segredos de um símbolo

    O rei e o capão

    O beijo de pedras

    Delícias proibidas

    Palavras no olhar

    A saga de Benjy – Cognome, Vira 220.

    Presente de grego

    Sorriso da Mona Lisa

    Curiosidades à parte

    Outras Curiosidades

    Motivação

    Ainda que, aparentemente carregamos algo inexpressivo em nosso fardo, como se fôssemos prisioneiros de nós mesmos, não é por falta de sensatez. A propósito, nossa vida é repleta de efemeridades para questionarmos as futuras decisões em tão pouco tempo. Sendo assim, só conheceremos o resultado de uma experiência, aposta depois que arriscamos algumas de nossas fichas.

    De pai para filho

    A testemunha

    Ela poderia ter dito ironicamente: Dr. aqui está o seu chapéu. Só que não porque era analfabeta, e sequer tinha ideia de que a frase é o título de uma autobiografia escrita pelo doutor Joseph Ambrose Jerger.

    Era um dia normal de sábado para os habitantes do pequeno município localizado na região oeste, no interior do estado de São Paulo. No entanto, essa tranquilidade não iria permanecer por muito tempo ao redor de Carlinhos. Prestes a completar 15 anos, ele ainda não sentia na pele a importância e as necessidades de trabalhar para se manter. Um típico garoto que não tinha como exemplo se espelhar nas atitudes do pai. Porém, era dono de uma boa lábia. Foi então que uma voz vinda lá do quarto interrompeu a sua paz.

    – Carlinhos, já faz algum tempo que eu não vejo mais aquele chapéu pendurado aqui no cabide.

    – Que chapéu é esse, pai!?

    – Por acaso você não o pegou e foi bater pernas por aí!?

    – Nossa, pai! Imagina se eu ia sair de casa usando um chapéu!

    – Vai saber se você não mudou de ideia!

    – Bem capaz mesmo! O sr. sabe que eu só gosto de usar boné.

    – Mas você pode ter usado ele para algum disfarce.

    – Que coisa, hein! Só me faltava essa agora! Sair de casa com um chapéu na cabeça para me proteger não sei de quem!

    – Não duvido nada, viu moleque? Na sua idade eu aprontava muito.

    – Posso até imaginar o que o sr. fez no tempo de solteiro.

    – Só que eu nunca peguei o chapéu de ninguém.

    – Isso aí é uma indireta para mim!?

    – Entenda como quiser.

    – Então o sr. está me acusando de ter sumido com um chapéu velho e sujo, ainda fedorento de suor!?

    – Tá vendo só como você se entregou sozinho.

    – Para com isso pai. Foi só o jeito de falar.

    – Você deixa de ser abusado, moleque! Eu quero saber do meu chapéu!

    – Que importância tem isso agora se o senhor tem vários!?

    – Mas aquele é muito especial para mim. Você sabe disso.

    – Também, o senhor já falou sobre isso tantas vezes que eu até gravei a história numa fita. Mas eu não tenho a menor ideia aonde ele pode estar – disse o filho, enquanto organizava os utensílios lá na cozinha.

    Apesar da pouca idade Carlinhos era bem aplicado nos serviços domésticos durante a ausência da mãe. Felizmente, essa consciência ele herdara dela, que trabalhava fora, porque o marido nunca se aprumou na vida. No entanto, ele continuava inconformado com o filho por não encontrar o tal chapéu.

    – Aonde você está, mulher!? Vem aqui me ajudar...

    Ouvindo o pai sem noção chamando pela mãe, Carlinhos se exaltou.

    – Oh pai, por que o sr. está chamando pela mãe!?

    – Porque eu preciso dela aqui, oh!

    – Esqueceu que ela ainda não voltou do trabalho, poxa vida!?

    – Então, quando a tua mãe chegar em casa pergunta se ela guardou aquele chapéu em algum lugar. Não vai esquecer, viu moleque! – inquiriu indo à cozinha.

    – Aonde é que o sr. vai assim!? – perguntou ao vê-lo todo arrumado como se fosse a uma festa.

    – Não é da sua conta, moleque xereta. Cuida aí das suas obrigações e faz o que eu te pedi, porque assim vai ser melhor para você. Entendeu!? – alertou-o com o dedo em riste.

    – O sr. não tem jeito mesmo, hein pai! Acabou de almoçar e já vai sair outra vez! Por que não espera a mãe chegar!? Assim ela resolve esse mistério do seu chapéu de estimação – sugeriu sem se intimidar com a ameaça do pai.

    Seu Pedro fez de contas que nem ouviu o questionamento e a sugestão do filho. Em seguida virou nos pés e saiu batendo a porta da sala em sinal de protesto. Só que desta vez ele foi sem chapéu, mostrando as entradas na cabeça. Sozinho em casa, após organizar a cozinha, não demorou muito para que a sua fogosa namorada aparecesse. Pelo menos nesse ponto era bem melhor estar com uma garota do que aguentar as rabugices do pai.

    Enquanto se envolviam entre beijos e amassos no sofá, uma fita cassete com músicas variadas e românticas rodava no aparelho de som. Sugestão perfeita para deixar o ambiente com um clima ainda mais sensitivo. Mas, de repente, em meio às carícias que instigavam cada vez mais a irresistível libido de ambas as partes, alguém começou a bater palmas na calçada. Mesmo na casualidade a providência estava cumprindo a sua missão.

    – Caramba! Mas que gente sem noção! – reclamou Carlinhos a esmo.

    – Deixa bater à vontade. Quando perceber que ninguém foi atender a pessoa vai embora – sugeriu ela beijando-o no pescoço.

    – Não vai dar certo porque o som tá ligado! – disse Carlinhos tentando se livrar das suas carícias.

    – Então desliga, ou abaixa o volume.

    – Se eu fizer isso aí sim que a visita vai entender que tem gente em casa.

    – Como você é chato, hein Carlos! – esconjurou se afastando dele.

    – Fica calma aí, pô! E fala baixo! – pediu com um gesto de silêncio.

    – Então vai atender e despacha logo quem está lá fora.

    – Vamos esperar mais um pouco. Se a pessoa não desistir então eu vou ver quem é. Pode ser que seja alguma coisa importante. Nunca se sabe! – disse com a voz abafada após abaixar o volume do aparelho.

    Carlinhos tinha mesmo razão porque as palmas continuaram com muita insistência. Em poucos segundos os dois assumiram a compostura mais apropriada: ele se ajeitou dentro do short e a garota fechou a blusa. Com o coração quase a sair pela boca Carlinhos olhou pelas frestas da veneziana antes de abrir a porta da sala. Nada mal para quem estava em situação comprometedora. De imediato percebeu que a visita inoportuna não era o vizinho, ou alguém conhecido. Após breve reflexão ele fez sinal para que a namorada se aproximasse.

    – Tô achando muito estranho isso.

    – Por quê!?

    – Eu nunca vi esse homem na minha vida. Não que eu me lembre.

    – E agora, o que vamos fazer Carlos!?

    – Fale baixo e dá um jeito de se esconder.

    Enquanto Cíntia se enfiou no banheiro ele foi abrir a porta, tentando disfarçar a dupla preocupação. Seria mais um daqueles problemas rotineiros com o pai!? Ou um alerta de que a mãe da namorada estivesse vindo à sua procura como testemunha de um flagrante comprometedor!? Para lhe deixar menos ansioso, a primeira desconfiança foi a que melhor se encaixou. Ao mostrar a cara deslavada no vão da porta, própria de alguém que esconde algo, Carlinhos ouviu do estranho um pedido um tanto preocupante.

    – Você precisa ir à delegacia o mais rápido possível, rapaz!

    Sequer deu tempo para ele questionar a intimação verbal do desconhecido. O caso foi que após o aviso dito o homenzinho arruivado virou nos calcanhares, montou na bicicleta e desapareceu na rua. Imediatamente veio à cabeça de Carlinhos o que já havia presenciado outras tantas vezes:

    – Meu pai encheu o caco de novo! Só pode ter sido isso – disse para si mesmo enquanto trocava o short por uma calça.

    Para completar a boa ou má sorte a mãe ainda não havia retornado do trabalho. Logo, diante do exposto e mesmo sendo menor de idade, Carlinhos tinha de ir até lá para tentar resolver o motivo daquela urgência. Em sua imaginação ouviria do pai a mesma conversa de bêbado de sempre.

    Mas eu não nem comecei ainda, poxa vida!

    Quando chegou à delegacia, após levar Cíntia para casa de moto, viu diante do delegado a valentia do pai neutralizada por um par de algemas. Só que dessa vez Carlinhos se deparou com uma situação oposta, porque seu Pedro se achava mais sóbrio do que nunca. Fato que até então nunca havia ocorrido.

    No banco ao lado um peão de estância aguardava compenetrado o desfecho da autuação. Seu olho direito estava bastante inchado. Naquele momento Carlinhos nem se ateve em reparar quem era o tal mestiço. E menos ainda perceber que sobre a mesa entupida de papéis, um velho chapéu de feltro denunciava a razão do flagrante. De costume foi logo ralhando com o velho, como se fosse a inversão de um pai responsável revoltado com as traquinagens do filho.

    – Oh pai! Já é a segunda vez que o sr. vem parar nessa delegacia e ainda nem acabou o mês! Qual foi o problema agora!? – perguntou depois, sem perceber que o peão levantava os olhos em sua direção.

    – Sinto muito mesmo por tudo isso que aconteceu hoje, Carlinhos – disse o pai tentando explicar a sua atitude para lá de intempestiva. – Apenas não me conformo por ter dado só um soco na cara desse caboclo atrevido enquanto a gente discutia no boteco.

    – Discutindo sobre o quê, hein pai!? Pelo menos posso saber o motivo!?

    – Pode ter certeza que não foi por bebedeira, viu!

    – Bom, pelo menos isso dá para notar, porque o sr. não está conversando com a língua travada e nem tem o bafo de cachaça...

    Enquanto o diálogo fluía entre pai e filho, sob o olhar do único policial que havia no vilarejo paulista, o caboclo avançou qual uma fera sobre o garoto sem se importar com as consequências posteriores. Como não esperava pelo ataque, ambos foram ao chão, provocando um enorme barulho ao baterem em um velho armário de metal.

    A resistência continuou por alguns instantes até o chefe da prisão encostar o cano do revólver na nuca da vítima que se tornara réu. Sentindo-se impotente o nativo foi empurrado de frente contra a parede, ao mesmo que o seu auxiliar não excitou em cacetear suas ancas. Aos gritos todos ouviram com clareza a pergunta exacerbada que o delegado fez.

    – Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui!?

    A gravidade de sua voz ecoou pelo sujo e solitário corredor do presídio sem que houvesse uma resposta. Obviamente que após a intempestiva agressão seria quase impossível os envolvidos terem uma resposta na ponta da língua. A rigor, estavam mesmo era com a língua de fora. Trinta segundos foi o tempo máximo que o chefe da delegacia permitiu antes de fazer nova intimação aos alvoroçados. Embora refeitos da fúria apenas o silêncio pairou entre os três.

    – Bem, como nenhum de vocês pretende sair daqui tão cedo então vou enfiar os três em uma daquelas celas. Inclusive o sr., viu seu Pedro, que foi o responsável por toda essa bagunça generalizada na minha sala. Isso aqui é uma delegacia e não um boteco frequentado por bêbados e desordeiros. Portanto, exijo o máximo de respeito nessa casa – disse olhando-o nos olhos.

    Ainda se recompondo após o embate, seu Pedro ficou perplexo, pois desta vez tinha uma certa razão. Porém, não questionou as acusações do homem representante da lei e da ordem, porque havia cometido uma agressão diante de testemunhas. Depois, ironicamente o delegado reiterou a proposta, dirigindo-se para trás da mesa com o objeto da disputa entre as mãos.

    – Já que ele é impossibilitado de falar quem sabe lá dentro da cela os três juntos podem chegar a um acordo amigável! Concordam comigo!?

    – Como assim os três, seu delegado!? Eu sou menor de 18 anos e o sr. sabe disso! – retrucou Carlinhos, ainda sem perceber que o referido objeto da briga tinha tudo para ser o que o pai tanto procurou em casa.

    – Quanto a sua idade isso é o que menos importa agora, viu garoto! Pois, esteja certo de que como representante da lei eu darei um jeito para que fique detido também! – disse o chefe da delegacia com excesso de autoridade.

    – Mas por que o sr. pretende fazer isso comigo, seu delegado!? Eu só vim aqui para saber o que houve com o meu pai. Apenas isso! – questionou, dentro da razão.

    – Não se preocupe, porque eu posso apresentar um motivo bem justo para que você também faça companhia a ele e esse peão aí – disse correndo o dedo em riste na direção dos três.

    De fato, o delegado tinha mesmo motivos e podia enquadrá-lo em algum delito. Ocorre que Carlinhos não sabia que o representante da lei mantinha uma carta na manga e não excitaria em mostrá-la no momento oportuno. Por ser bom de lábia o garoto tentou convencer chefe da delegacia a relevar o seu intuito de colocá-lo atrás das grades.

    – Seu delegado, já que o sr. está nos seus direitos como responsável pela segurança dessa cidade então diz para mim, por favor! O que eu fiz ou tenho feito de errado para vir aqui por livre e espontânea vontade e ser preso!? – perguntou, com as mãos postas.

    Percebendo que o garoto estava apavorado por ainda desconhecer as causas que poderiam incriminá-lo por algum delito, o delegado abrandou a sua postura rígida. No entanto, não recuou em apresentar a possibilidade de ele ser preso por estar infringindo alguma lei.

    – Então você quer mesmo saber em qual artigo da lei eu posso te enquadrar, correto!?

    – Sim. Por favor, seu delegado. Assim eu vou me corrigir. Eu prometo.

    – Pois bem. O documento da motocicleta está em dia!?

    – Está sim. O meu pai pode confirmar isso para o sr.

    – Outra coisa, rapaz. Você tem alguma autorização para conduzir uma motocicleta?

    – Infelizmente eu ainda não tenho esse documento especial.

    – Tá vendo só porque você está encrencado, sr. Carlos!

    Ao ouvir o alerta do homem da lei, seu Pedro se empertigou, mas não interferiu em defesa do filho. No entanto, Carlinhos foi logo se explicando, após perceber a reação do pai:

    – Desculpa seu delegado. Mas, até aonde eu sei, quem tem menos de 18 anos não precisa de licença para pilotar motocicletas com até 50cc.

    – Nessa idade você já demonstra ser bem esperto, hein garoto! – insinuou o representante das leis com uma pitada de sarcasmo.

    – Imagina seu delegado! Eu apenas me informei sobre isso para depois não prejudicar a mim e nem ao meu pai – disse com segurança.

    Porém, mesmo entendendo que o garoto demonstrou honestidade e equilíbrio na resposta, o delegado não se deu por vencido e o deixou de sobreaviso.

    – Dessa você se livrou de não ser enquadrado, viu rapaz! Mas se não trocar o escapamento barulhento da sua motinha pode ter certeza de que ela será apreendida por perturbação sonora. E a multa será bem salgada, entendeu, sr. Carlos!?

    – Pode deixar que eu vou cuidar desse problema o mais rápido que eu puder, seu delegado. E obrigado pelo aviso.

    – Assim espero, viu sr. Carlos! E agora vamos resolver a pendência que envolve você, o seu pai e esse caboclo aí – disse o delegado com voz firme.

    – É isso mesmo seu delegado. Eu não vejo a hora de provar para esse sujeito que eu estou certo – concordou o pai de Carlinhos cheio de razão.

    Ora, já não era sem tempo mesmo de o delegado fazer uma breve acareação entre os três exaltados. Sem ter a quem recorrer Carlinhos não teve outra alternativa a não ser ouvir um sermão nada salutar. Mas quando ele viu o chapéu, imediatamente veio uma lembrança bastante tenebrosa da última pescaria que fez com os amigos. Sem ter a certeza de que era ele o único causador de toda aquela confusão, preferiu o silêncio, inclusive evitando olhar para o peão que o mirava sem pestanejar.

    Seu Pedro, embora não sendo um bom exemplo como chefe de família, ganhava a vida fazendo biscates na vila. Apesar da sua fama como assíduo frequentador dos botecos, para ele seria muita humilhação os amigos saberem que dormiu dentro de uma cela fria. Por isso apelou para o último recurso, até porque estava sóbrio como o próprio filho já havia comprovado.

    – Oh dr., eu sei que estava errado quando soquei a cara desse caboco aí. Foi só um momento de raiva mesmo, depois que o sangue me subiu na cabeça. Mas pode acreditar que esse chapéu sempre foi meu! É só ler o que tá escrito dentro do forro – disse, apontando com as mãos ainda presas pelas algemas.

    O delegado, que já estava com os olhos pregados dentro da copa sebosa do chapéu, apenas conferiu em silêncio a dedicatória

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1