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O alcance da teoria de Heinrich Schenker no Brasil
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O alcance da teoria de Heinrich Schenker no Brasil
E-book342 páginas4 horas

O alcance da teoria de Heinrich Schenker no Brasil

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Sobre este e-book

O objetivo desta obra é demonstrar o alcance do pensamento de Heinrich Schenker no Brasil. O levantamento realizado obedece a três eixos básicos: 1. O trabalho do professor Georg Wassermann, aluno de Schenker, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1941 e 1968; 2. Jamary Oliveira e Cristina Gerling, o início da introdução da teoria de Schenker nas Universidades Públicas do Brasil; e 3. O ensino da teoria de Schenker nas Universidades Públicas do Brasil e os livros publicados por autores brasileiros sobre a análise schenkeriana. As metodologias envolvidas na pesquisa incluíram verificação em documentos de época, bibliotecas de teses e dissertações, repositórios digitais de universidades públicas, elaboração e distribuição de questionários direcionados a professores das universidades citadas. Foram criados quadros, tabelas e gráficos a partir dos dados bibliográficos e respostas obtidas nos questionários como forma de melhor esclarecer e visualizar os resultados da pesquisa. Ao final, alguns documentos pesquisados foram anexados à pesquisa, com o fito de ajudar o leitor a melhor compreender os fatos ocorridos e facilitar a elucidação das questões dispostas ao longo da pesquisa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de dez. de 2022
ISBN9786525255361
O alcance da teoria de Heinrich Schenker no Brasil

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    Pré-visualização do livro

    O alcance da teoria de Heinrich Schenker no Brasil - Luiz Garcia

    CAPÍTULO 1 GEORG WASSERMANN (1903 – 1968)

    1.1. FUGA DO NAZISMO E CHEGADA AO BRASIL

    No dia onze de maio de 1941, chega ao Rio de Janeiro Jiri (Georg) Wassermann¹, 38 anos, solteiro, professor de piano, história da música, análise musical, pesquisador, diplomado em música pela Academia de Música de Viena, regente substituto da Ópera de Munique e que foi aluno de Heinrich Schenker por um período de 16 anos. O professor fazia parte do grupo Görgen², cujo nome foi dado em homenagem a Hermann Mathias Görgen, que organizou, junto com a sua esposa Dora Schindel, um grupo de pessoas com o intuito de fugir da perseguição nazista. Segundo relatos das professoras Maria Luiza Tucci Carneiro e Raquel Mizrahi, no livro Vozes do Holocausto, volume 3, p. 299 a 300, Görgen salvou judeus cujos nomes estão documentados em formato de lista que acobertava os subterfúgios acionados para a sobrevivência.

    Wassermann, cujo nome completo era Georg Maximilian Wassermann, nasceu em Viena, na Áustria, em 25 de novembro de 1903 e faleceu em 1968, no mês de março, na Alemanha. Em comunicação pessoal com sua filha, Sakura Ceeb Wassermann, foi relatado que seu pai era alemão, porém havia nascido em Viena, na Áustria. Ela conta que seu pai, por ser judeu e este fato dificultar sua saída da Europa, possuía uma carteira de identidade Tcheca que havia servido para ele deixar o continente na época. Wassermann era o segundo filho mais velho do escritor alemão Jakob Wassermann e de Julie Elsa Wassermann (1876 – 1966). Segundo o amigo Francisco Joffily Mello, ele não era circunscrito a nenhuma religião. Seu espírito era totalmente aberto e politeísta (o depoente talvez quisesse dizer agnóstico). Completa que ele era afilhado (talvez de batismo) do maestro Bruno Walter e foi aluno de Heinrich Schenker, a quem o próprio Brahms admirava, além de frequentar ensaios do legendário maestro Wilhelm Furtwängler com a Filarmônica de Berlim.

    "Yuki Wassermann entre os pincéis".

    Fonte: Tribuna da Imprensa (RJ), 20/08/1954: Caderno 3, 1.

    Algum tempo depois de chegar ao Brasil, Wassermann se casou com Yukiko (Yuki) Kikuchi, com a qual tem uma filha de nome Sakura Maria Wassermann. De acordo com o relato de Francisco Joffily Mello, em cerimônia privada conduzida por Dom Jaime de Barros Câmara, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro. A diferença de idade entre Georg e Yukiko era de doze anos. Em 21 de outubro de 2005, Sakura relata em uma matéria escrita por Sabine Rempe, de nome Uma experiência surreal – Sakura Wassermann Visitou a cidade natal de seu avô, para o site de notícias Nordbayern, que seus pais se conheceram no Brasil, para onde sua mãe, japonesa, também havia imigrado. Sakura afirma que nasceu no Rio de Janeiro em 1956 e em 1964 foi para Berlim, Alemanha, com os pais. Em 1967, Kikuchi morre no mês de dezembro, com 52 anos. Três meses depois, no ano de 1968, morre Georg Wassermann com 64 anos. Esclarece que o avô, Jakob Wassermann, não queria que o filho Georg se tornasse pianista como era seu sonho. Em vez disso, queria que se tornasse empresário.

    1.2. LIGAÇÃO COM SCHENKER E ATUAÇÃO NO BRASIL

    Possivelmente uma das primeiras aparições de Wassermann em periódicos tenha sido no 21 de maio de 1944, no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro. Trata-se de um depoimento que ele deu sobre seu pai, o escritor Jacob Wassermann. A matéria inicia fazendo um relato sobre a produção do escritor Jacob Wassermann e suas publicações na Europa e no Brasil. Logo após, relata que o filho, Jorge (Georg) Wassermann, residia à época em caráter definitivo no Rio de Janeiro desde o ano de 1941, que possuía a profissão de músico e que dava aulas de piano. Observa que o professor Wassermann viajava pela Europa e que trabalhou na Ópera de Munique (como diretor substituto) e depois na Áustria. Após a morte de seu pai, viveu na Suíça, transportando-se então, quando não era mais possível viver nesse país, para o Brasil. A matéria, que possui uma foto de Wassermann, continua explicando que o depoimento do professor foi colhido nos escritórios da recém fundada Editora Ocidente. Conta sobre o nascimento do pai, Jacob, sua vocação literária, seu primeiro romance publicado, sua viagem para Viena, seu casamento, os problemas políticos em relação à Alemanha, os amigos, afirma também que o pai foi político, que trocava correspondências com um filósofo germanófilo e que, antes da primeira guerra, já denunciava o antissemitismo existente na Rússia.

    Os relatos das atividades de Wassermann no Brasil começam a ficar mais claros em 1948, mais precisamente no dia 7 de novembro, em uma matéria do jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, que relata:

    Você sabia... Que George Wassermann, filho do escritor Jakob Wassermann, dirigirá o coro que apresentará o Fausto e que ele tocará órgão? Que a venda para a apresentação de amanhã do Teatro Europeu de Arte de São Paulo é excelente? (Gazeta de Notícias, 1948, p.7. Traduzido do original em alemão)

    Georg Wassermann rege e acompanha coro ao órgão.

    Fonte: A Gazeta de Notícias (RJ), 7/11/1948: 7.

    Em 17 de novembro do mesmo ano Wassermann rege um coral de 16 mulheres que interpreta obras de Emil Viebig³.

    Também falamos sobre o Fausto no Teatro Ginástico. A roupa dos artistas foi elaborada por Paulo Elkins. Um coral de vozes bem treinado de 16 mulheres é responsável pelo canto, a música é uma música muito moderna, entitulada Faust ohne Pathos e é do compositor de ópera Emil Viebig. Georg Wassermann, filho do famoso escritor, interpreta o órgão americano. (Gazeta de Notícias, 1948, p. 13. Traduzido do original em alemão)

    Georg Wassermann rege coro de 16 mulheres no Teatro Ginástico, no programa obras de Emil Viebig.

    Fonte: Gazeta de Notícias (RJ), 17/11/1948: 13.

    No Correio da Manhã do dia 25 de novembro de 1948, é publicada a matéria de nome Fausto, no Ginástico. A publicação relata a crítica da peça Fausto, feita por Paschoal Carlos Magno, que observa que todo o elenco, que se move dentro de cenários de grande efeito do Sr. Paul Elúins, de ação sublinhada por bela música do Sr. George Wassermann, apresenta-se de maneira correta e harmoniosa. De acordo com o relato de Francisco Joffily Mello, em 1951, Wassermann foi arranjador da peça O moço bom e obediente, de Betty Barr e Gould Stevens, traduzida por Cecília Meireles, encenada no Teatro Tablado, para a qual sua esposa Yuki fez os figurinos. De acordo com matéria intitulada Bis!: Tablado celebra 60 anos com remontagem de clássicos do teatro, publicada originalmente em 12 de abril de 2012 no site Globo Teatro, a peça foi a primeira a ser encenada no Tablado, dois meses após a sua fundação que foi em outubro de 1951, e era um nô japonês.

    Georg Wassermann citado como músico na apresentação da peça Fausto, no teatro Ginástico.

    Fonte: Correio da Manhã (RJ), 25/11/1948: 17.

    Georg Wassermann trabalha como arranjador das músicas da peça O moço bom e obediente.

    Fonte: Cadernos de Teatro nº 28 – Tablado, 10/12/1964:24.

    Ao acompanhar, ao piano, o soprano Cybele Vieira no dia 3 de junho de 1957, segunda-feira, Wassermann também adentra pela canção popular japonesa.

    Audição de Wassermann (piano) e Cybele Vieira (canto) na Rádio Ministério da Educação. No programa, canções populares do Japão.

    Fonte: Jornal do Brasil (RJ), 1/06/1957: 10.

    Audição de Wassermann (piano) e Cybele Vieira (canto) na Rádio Ministério da Educação. No programa, canções populares do Japão.

    Fonte: Correio da Manhã (RJ), 4/06/1957: 13.

    O evento fez parte do programa denominado Ao Redor do Mundo, da rádio MEC (Ministério da Educação e Cultura) e ocorreu às 16h35m. Não é relatada a dependência em que ocorreu o evento. Nesse ano Wassermann já se encontrava casado com Yukiko Kikuchi e sua filha já havia nascido. Possivelmente o programa desse recital foi influenciado por sua esposa. No dia 4 de julho de 1957 ele acompanha ao piano o violinista húngaro Joseph Biro⁴ em um recital no departamento da mocidade da Associação Cristã de Moços.

    Recital de Wassermann (piano) e Joseph Biro (violino), na Associação Cristã de Moços.

    Fonte: Diário de Notícias (RJ), 04/07/1957: 3

    Violinista húngaro Joseph Biro.

    Fonte: Correio da Manhã (RJ), 27/07/1957: 1º caderno, 15.

    O primeiro relato que se tem de Wasserman como professor é no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, no dia 23 de agosto de 1960, onde é publicada uma chamada para o curso denominado Introdução à Música – Tonalidade e Polifonia, ministrado por Wasserman na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O periódico relata no Boletim da PUC, dentro da coluna Diário Escolar, que Wassermann, austríaco radicado no Brasil, filho do romancista Jacob Wassermann, sobrinho do biologista (biólogo) August von Wassermann e ex-aluno de Heinrich Schenker, realizaria no dia 6 de setembro daquele ano, um Curso de Introdução à Música, abrangendo história, técnica de composição, didática da composição e problemas da teoria e prática da música. Esclarece também que o curso não seria meramente teórico, mas, através da participação dos alunos, teria como objetivo a solução dos seus problemas particulares, levando, através da prática, a um entrosamento vívido com esses problemas, por intermédio de uma metodologia que subentendia o debate e a explicação direta. A publicação finaliza apontando que o curso não seria destinado exclusivamente a alunos de nível universitário e que seria organizado de forma a ir ao encontro das necessidades de todos quantos amantes da música que queriam se aproximar dela para compreendê-la melhor e desenvolver a própria crítica. O horário do curso seria às terças-feiras, 5h30m, na sala 124.

    Curso de Introdução à Música – Tonalidade e Polifonia, na PUC. Ministrado pelo professor Georg Wassermann.

    Fonte: Diário de Notícias (RJ), 23/08/1960:11.

    No dia 4 de setembro de 1960, o Correio da Manhã relata sobre a abertura do curso ministrado por Wassermann na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Na abertura do curso Wassermann fez um recital acompanhando, ao piano, o cantor Bruno Wizuj⁵. Relata o periódico:

    Introdução à música na Pontifícia Universidade Católica. Inaugura-se depois de amanhã na Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro, um curso, intitulado Introdução à Música sob a direção do prof. Georg Wassermann...O prof. Georg Wassermann foi aluno de Heinrich Schenker de Viena, uma das figuras mais interessantessantes de nossa época com referência à musicologia, porém, pouco conhecido no Brasil. Schenker foi amigo e discípulo de Johannes Brahms. As suas doutrinas chocaram-se bastante com as correntes modernistas de teoria musical atual. (Correio da Manhã, 1960, p. 3)

    O anúncio ainda afirma que para restituir o texto original às partituras clássicas, que segundo o colunista foram abusivamente modificadas por várias editoras, Schenker fundou o famoso Arquivo Fotogramado, na Biblioteca Nacional de Viena. A finalidade do curso era criar um ambiente musical na PUC, destinado às pesquisas musicológicas e ao ensino da teoria musical, didática e técnica da composição. Finaliza informando que o professor Georg Wassermann é filho do famoso romancista Jacob Wassermann e sobrinho do célebre biólogo, August von Wassermann. Um anúncio semelhante é publicado no periódico O Jornal, do Rio de Janeiro, no mesmo dia, na coluna Música, com o título Professor Austríaco na Universidade Católica. O curso se encerra, segundo a publicação do dia 6 de dezembro de 1960, do periódico Diário de Notícias, com um recital do cantor Bruno Wizui (Wizuj), primeiro baixo da Ópera de Dusseldorf, que na época se encontrava no Brasil. O programa continha o ciclo de Robert Schummann, Amor do Poeta. O recital foi precedido por uma palestra de apresentação do professor Wassermann.

    Professor Austríaco na universidade católica. Curso Ministrado pelo professor Georg Wassermann.

    Fonte: O Jornal (RJ), 04/09/1960: 2.

    Encerramento do curso de introdução à música na PUC – Wassermann ao piano e Bruno Wizui, canto.

    Fonte: Diário de Notícias, 6/12/1960: 10.

    Curso Introdução à música na PUC Ministrado pelo professor Georg Wassermann.

    Fonte: Correio da Manhã (RJ), 04/09/1960: 2º caderno, 3.

    No dia 6 de setembro de 1960, o Diário de Notícias volta a tratar do curso de Wassermann na PUC do Rio de Janeiro, porém acrescenta mais algumas informações em relação ao texto do dia vinte e três de agosto do mesmo ano. O artigo de nome O Professor Georg Wassermann na Pontifícia Universidade Católica, afirma que a finalidade do grupo era criar um ambiente musical na PUC, destinado às pesquisas musicológicas e ao ensino da teoria musical, didática e técnica da composição. Continua esclarecendo que a intenção de Wassermann era revelar a compreensão da polifonia e investigar as condições históricas que prepararam o ambiente desse fenômeno e que, para isso, contaria com a colaboração ativa dos alunos, no sentido de resolver problemas individuais dos participantes do curso. Ao final do artigo é relatada a ligação de Wassermann com Schenker da seguinte forma:

    O professor Georg Wassermann foi aluno do professor Heirich Schenker de Viena, uma das figuras mais interessantes de nossa época, com referência à musicologia, porém, pouco conhecido no Brasil. Schenker foi amigo e discípulo de Brahms. As suas doutrinas chocaram-se bastante com as correntes modernistas da teoria musical atual.

    Para restituir o texto original às partituras clássicas – abusivamente modificadas por várias editoras – Schenker fundou o famoso Arquivo Fotogramado na Biblioteca Nacional de Viena. (Diário de Notícias, 1960, p.3)

    O professor Georg Wassermann na Pontifícia Universidade Católica. Curso Ministrado pelo professor Georg Wassermann.

    Fonte: Diário de Notícias (RJ), 6/09/1960:3

    Artigo semelhante a esse, assinado por Antônio Bento⁶, é publicado no jornal Diário Carioca no dia 7 de setembro de 1960. O colunista esclarece que vários cursos artísticos foram realizados pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro com o intuito de criar um ambiente musical na PUC, destinado às pesquisas musicológicas e ao ensino da teoria musical, didática e técnica da composição. Todo o artigo segue de forma idêntica ao artigo publicado no dia 6 de setembro do mesmo ano no Diário de Notícias. O que se infere é que possivelmente Wassermann estivesse querendo seguir os passos de Schenker e fundar, na PUC, algo semelhante ao Arquivo Fotogramado, criado por seu professor, na Biblioteca Nacional de

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