Futebol, o estádio global
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Sobre este e-book
Fernando Sobral
Fernando Sobral e jornalista do Jornal de Negócios e colaborador do Correio da Manhã e da revista Espiral do Tempo. Trabalhou no Semanário, O Independente, Se7e e Diário Económico, entre outros. É autor de vários livros de ficção e não-ficção, como Ela Cantava Fados, O Segredo do Hidroavião, Os mais poderosos da Economia portuguesa ou Barings, o Banqueiro de Portugal (estes dois em co-autoria).
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Futebol, o estádio global - Fernando Sobral
Introdução – A paixão total
O futebol joga-se em qualquer lado. Só precisa de um terreno, de duas latas ou montinhos de areia para fazer uma baliza, de uma bola e de uns quantos jogadores. Se não há sapatos, joga-se descalço. Sendo simples, todos se apaixonam por ele. E os portugueses não escaparam a isso: foi amor à primeira vista. Por isso o futebol é, em Portugal, o desporto nacional. Uns jogam-no e os outros discutem-no de forma apaixonada. Por detrás desta paixão gloriosa o futebol foi-se modificando ao longo das décadas. Tornou-se adulto, com as consequências positivas e negativas desse crescimento. A eficiência substituiu, em muito, a imaginação. A estratégia obliterou a sorte. Continua a ser um entretenimento, mas é também, e cada vez mais, um negócio. O futebol mudou no mundo e transformou-se em Portugal. Dois momentos marcam a relação deste país com o desporto-rei. Um foi fixado a preto e branco. O outro a cores. No Mundial de 1966, depois da Selecção ter perdido com a Inglaterra, Eusébio ficou imortalizado a chorar através da célebre fotografia de Nuno Ferrari. Meio século depois, lesionado e fora do jogo decisivo da final com a França, Cristiano Ronaldo, salta frenético, junto ao banco de suplentes, nos momentos que antecederam a vitória no Europeu de 2016. Entre a derrota de 1966 e a vitória de 2016 tudo pareceu mudar. Numa coisa continua a ser igual: «O futebol é ganhar, ganhar e ganhar e voltar a ganhar», como dizia o treinador espanhol Luis Aragonés. Mas se ganhar é imperativo, sem alegria, emoção e incerteza, o futebol não moveria multidões. Os melhores futebolistas sabem isso: sendo sérios a jogar pretendem divertir-se e divertir-nos. Joga-se bem para ganhar. E, para ganhar, não importa só ter os melhores talentos e um devoto amor à camisola. É preciso muito mais. O futebol, outrora um jogo simples para divertir os trabalhadores das fábricas, tornou-se a alegria de todas as classes, idades e raças, de homens e mulheres. Existe para estar ao serviço dos adeptos. Por isso os clubes eram outrora mais do que negócios. E, mal ou bem, continuam a ser.
Outra coisa liga Eusébio e Cristiano Ronaldo: a sua origem, nas margens da vida fácil. É dali que vêm os maiores alquimistas do futebol, os que driblam o seu destino e conquistam a glória. No entanto, ambos pertencem a mundos diferentes. Eusébio viveu num futebol onde a televisão não era rainha. Era um herói. Cristiano Ronaldo vence no universo dos deuses do pequeno ecrã, das redes sociais, do marketing. É uma celebridade. Eusébio, víamo-lo a preto e branco em pequenos televisores. Cristiano Ronaldo, acompanhamo-lo em plasmas de alta definição ou na Internet. O mundo era pequeno no tempo de Eusébio. No de Cristiano Ronaldo não tem fronteiras. O futebol continua a ser feito de artistas e de craques. Só que hoje é feito de empresários, de patrocínios, de salários e transferências estratosféricas. O futebol era, antigamente, apenas um desporto. Transformou-se num espectáculo profissional. E, nesses dois mundos, tornou-se o rei dos desportos em Portugal. Respira-se futebol neste país e por isso ele tinha o direito de sonhar com algo grande. Os principais clubes deram-lhe o sabor da vitória: o Benfica ganhou duas vezes a Taça dos Campeões Europeus. O Futebol Clube do Porto ganhou uma vez a Taça dos Campeões Europeus e uma vez a Liga dos Campeões, sua sucessora. E venceu duas vezes a Liga Europa (anteriormente Taça UEFA) e o Sporting ganhou uma vez a Taça dos Vencedores das Taças. Faltava a glória suprema: em 2004, um Portugal empolgado, foi à final do Europeu de Futebol que se realizou no nosso país, onde tinha uma equipa brilhante e jogava um futebol vistoso, mas perdeu. A vitória no Europeu de 2016 foi a cereja no topo do bolo, o corolário de uma profissionalização interna, da internacionalização de muitos dos melhores talentos nacionais como Figo, Rui Costa, Pauleta, Cristiano Ronaldo, Futre, Paulo Sousa (que aprenderam novos ritmos competitivos, mais agressivos) e também de uma nova geração de treinadores que passaram a ser disputados em todo o mundo. José Mourinho tornou-se o mais destacado, mas já antes Carlos Queiroz tinha também deixado a sua marca em importantes clubes e selecções, fruto do seu trabalho nas camadas jovens portuguesas. Outros seguiram o seu caminho, como Leonardo Jardim (hoje no Mónaco), Paulo Bento (até há pouco no Olympiakos), Paulo Fonseca (Shaktar Donetsk), André Villas-Boas (na China), Paulo Sousa (na Fiorentina), num total de 200 treinadores portugueses no exterior, do Burkina Faso à China, Lituânia, Índia, Angola, países árabes ou Israel. A impressão digital de Portugal no futebol mundial é maior do que os seus títulos.
No futebol são quase sempre as características dos jogadores que impõem um estilo, embora hoje os rigores da profissionalização tenham alterado a natureza do jogo, cada vez mais atento a tudo o que significa controlo. Perdeu-se a espontaneidade, o célebre jogo bonito
brasileiro, que tanto empolgava o mundo. Os resultados tornaram-se mais valiosos do que os dribles. Mas esse é o fruto proibido de uma mudança que se verificou nas últimas décadas. E que começou a despontar com a globalização tímida que foi a realização dos campeonatos mundiais de futebol na década de 1930 e que se acentuou nas décadas de 1980 e 1990, a reboque da política de expansão da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e da UEFA (Union Européenne de Football