A filha do presidente
3.5/5
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Sobre este e-book
Matthew Keating, presidente dos Estados Unidos e ex-fuzileiro naval, acompanha uma operação arriscada. O alvo é um dos terroristas mais perigosos do mundo: Azim al Ashid. Com uma ampla rede de apoio, ninguém jamais conseguiu chegar perto dele, mas as agências de inteligência são unânimes sobre seu paradeiro no momento. Azim, entretanto, é mais esperto, e o que seria uma das maiores vitórias dos Estados Unidos se torna um fiasco, um verdadeiro desastre, que custa a reeleição de Matthew.
Anos se passam, e Matthew leva uma vida pacata numa propriedade isolada no Maine. Sua esposa, a ex-primeira dama Samantha Keating, volta a dar aula na universidade, e sua filha, Melanie, agora é só uma jovem universitária com seus amigos e seu namorado. A vida está de volta ao normal — o normal para um ex-presidente de uma das nações mais poderosas do mundo, obviamente. Ou ao menos é o que Matthew pensa. Azim al Ashid não esqueceu o que aconteceu anos antes, e agora quer vingança.
Quando o maior terrorista do mundo decide realizar um ataque pessoal a Matthew, o poder e as conexões políticas que adquiriu no seu tempo como presidente dão lugar a seu treinamento militar. E, enquanto o mundo acompanha em tempo real os acontecimentos, Keating embarca em uma missão solitária que testará sua força como líder, combatente e, acima de tudo, pai.
A filha do presidente é uma montanha-russa, um best-seller do New York Times do ex-presidente Bill Clinton e James Patterson, "o time dos sonhos", de acordo com Lee Child.
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"Você vai devorar esse livro." - Karin Slaughter
"Esse livro oferece pistas irrersistíveis do inconsciente de Bill Clinton" - New York Times
"James Patterson colocou seu melhor neste livro, e Bill Clinton acrescentou a verossimilhança que se esperaria de sua experiência na Casa Branca como presidente e comandante em chefe. Compre, leia, aproveite." - New York Journal of Books
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Avaliações de A filha do presidente
2 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Uma leitura eletrizante que me manteve em suspense do começo ao fim.
Não saberia dizer qual foi o melhor capítulo, tamanha intensidade dessa história.
Estou satisfeita com o desenrolar dos capítulos.
Pré-visualização do livro
A filha do presidente - Bill Clinton
Obras dos autores publicadas pela Editora Record
O dia em que o presidente desapareceu
A filha do presidente
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Clinton, Bill, 1946 -
C572f
A filha do presidente [recurso eletrônico] / Bill Clinton, James Patterson ; tradução Ângelo Lessa. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2022.
recurso digital
Tradução de: The president's daughter.
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-599-7 (recurso eletrônico)
1. Ficção americana. 2. Livros eletrônicos. I. Patterson, James. II. Lessa, Ângelo. III. Título.
22-79080
CDD: 813
CDU: 82-3(73)
Gabriela Faray Ferreira Lopes – Bibliotecária – CRB-7/6643
TÍTULO EM INGLÊS:
The president’s daughter
Copyright © 2021 by James Patterson and William Jefferson Clinton
Esta tradução foi publicada mediante acordo com The Knopf Doubleday Group, uma divisão da Penguin Random House LLC, e Little, Brown and Company, uma divisão da Hachette Book Group, Inc.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais dos autores foram assegurados.
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adquiridos pela
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Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000,
que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5587-599-7
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Robert Barnett, nosso advogado e amigo, nos convenceu a fazer uma parceria em O dia em que o presidente desapareceu. A colaboração funcionou muito bem. Depois — e talvez já devêssemos imaginar que isso poderia acontecer —, ele nos convenceu a escrever A filha do presidente. Estamos muito felizes por ter ouvido Bob pela segunda vez. Você fez um ótimo trabalho, conselheiro.
Mesmo abrigado no seu lar em New Hampshire, Brendan DuBois esteve conosco durante toda a pesquisa, a cada esboço e a cada um dos inúmeros rascunhos que escrevemos. Brendan foi a nossa rocha — e de vez em quando o pulso firme de que precisávamos.
SUMÁRIO
Parte Um
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Parte Dois
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Parte Três
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Capítulo 91
Capítulo 92
Capítulo 93
Parte Quatro
Capítulo 94
Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100
Capítulo 101
Capítulo 102
Capítulo 103
Capítulo 104
Capítulo 105
Capítulo 106
Capítulo 107
Capítulo 108
Capítulo 109
Capítulo 110
Capítulo 111
Capítulo 112
Parte Cinco
Capítulo 113
Capítulo 114
Capítulo 115
Capítulo 116
Capítulo 117
Capítulo 118
Capítulo 119
Capítulo 120
Capítulo 121
Capítulo 122
Capítulo 123
Capítulo 124
Capítulo 125
Capítulo 126
Capítulo 127
Capítulo 128
Capítulo 129
Capítulo 130
Capítulo 131
Capítulo 132
Epílogo
Capítulo 133
Capítulo 134
Capítulo 135
Capítulo 136
Agradecimentos
PARTE
UM
Capítulo
1
2:00, horário local
Golfo de Sidra, costa da Líbia
Abordo do Spear 1, um helicóptero Black Hawk MH-60M de operações especiais dos Caçadores Noturnos, o comandante de Operações Navais Nick Zeppos, da Equipe 6 dos Seals, olha para o relógio. Cinco minutos antes, ele e sua equipe partiram do navio de assalto anfíbio USS Vespa rumo ao seu importante alvo na noite escura. Se ele e sua equipe — junto com outros Seals a bordo do segundo Black Hawk, codinome Spear 2 — tiverem sorte, vão localizar e matar Azim al Ashid bem antes do nascer do sol.
Zeppos olha de relance para os membros da equipe apertados em duas fileiras cheias à sua volta. No barulhento e trepidante helicóptero, eles ficam em silêncio na maior parte do trajeto, alguns bebendo água em garrafas de plástico, outros curvados para a frente, as mãos entrelaçadas. À frente, o piloto e o copiloto dos Caçadores Noturnos do famoso 160º Regimento de Aviação de Operações Aéreas Especiais voam em baixa altitude, apenas uns dez metros acima das águas agitadas, os aparelhos da cabine brilhando verde e azul. Zeppos sabe que cada Seal no helicóptero escuro está repassando mentalmente a missão que se aproxima, pensando no treinamento e esvaziando a mente para se concentrar no que está por vir:
Matar Azim al Ashid.
É um objetivo antigo dos militares e das agências de inteligência dos Estados Unidos. E esta noite, depois de quatro anos de preparação, Zeppos espera tirar a sorte grande.
As equipes dos Seals e as Forças Especiais já perseguiram líderes terroristas antes — em especial, Osama bin Laden e Abu Bakr al Baghdadi e seus vários aliados e seguidores, líderes que permaneceram às sombras, dando ordens, sem sujar as mãos a não ser na hora de fazer vídeos de baixa qualidade e promessas rebuscadas de morte e vingança.
— Estamos quase de pés secos! — anuncia o comandante da equipe dos Caçadores Noturnos, indicando que estão prestes a sair do mar e cruzar as terras da Líbia, uma nação dividida e em constante conflito, lugar perfeito para produzir ou abrigar terroristas como al Ashid.
Mas al Ashid não é como outros líderes de organizações terroristas.
Nos últimos anos, surgiram vídeos documentando as ações do seu grupo, e todos mostravam o líder no meio do caos sangrento, tendo como base uma rede bem planejada e secreta de apoiadores que só apareciam para ajudá-lo no último segundo e depois desapareciam.
Azim num shopping lotado na Bélgica, segurando um dispositivo de acionamento e apertando o botão com calma, o bum! seco ecoando pelo saguão, fazendo a câmera tremer, mas não o suficiente para esconder a nuvem de fumaça crescente, os consumidores correndo aos gritos, sangue escorrendo por rostos dilacerados e braços fraturados.
Azim andando por uma rua de Paris, seguido por um cinegrafista, tirando um fuzil escondido de uma capa de chuva, atirando numa multidão, mirando especialmente em mulheres e crianças, até que uma van branca o pega e o leva embora em segurança.
Azim de pé atrás de duas funcionárias da ONU em missão humanitária no deserto do Sudão, ambas chorando de pernas e braços amarrados, enquanto ele transita calmamente de uma para a outra, empunhando uma espada grande e decapitando-as, fazendo o sangue das vítimas respingar em sua roupa.
O comandante Zeppos estica e retrai as pernas. Ele já participou de dois ataques — um no Iêmen e outro no Iraque — em que a inteligência indicava boa probabilidade de encontrar Azim, mas que não foi boa
o suficiente. Nos dois casos eles saíram de mãos abanando, sem resultados positivos, apenas Seals feridos, helicópteros alvejados e frustração para todo lado.
Mas Zeppos torce para que o terceiro dê sorte.
Existem outros vídeos terríveis demais para serem liberados ao público. Uma professora no Afeganistão, acorrentada a uma pedra, encharcada com gasolina e incendiada. Um ancião de uma aldeia na Nigéria, segurado por homens do Boko Haram, enquanto Azim percorre uma fileira de membros da sua família, cortando a garganta de todos eles.
E Boyd Tanner...
Zeppos olha pela escotilha — ele não quer pensar em Boyd Tanner, cuja causa da morte é um segredo guardado a sete chaves pela comunidade das Forças Especiais — e vê brilhar no horizonte as luzes que marcam a rápida reconstrução da cidade portuária de Trípoli, capital da Líbia. Com o programa chamado Iniciativa do Cinturão e da Rota, a China tem investido muito dinheiro no desenvolvimento da Líbia e de outros países pobres ao redor do mundo.
Para o público, o governo chinês diz que é apenas uma maneira de eles, como potência mundial em desenvolvimento, compartilharem sua prosperidade e seu conhecimento. Mas, na verdade, Zeppos e algumas outras pessoas receberam informações confidenciais descrevendo o verdadeiro objetivo dos chineses: garantir recursos, aliados e possíveis bases militares futuras, para que a China nunca mais seja isolada e humilhada, como foi tantas vezes em sua longa história.
O brilho no horizonte desaparece, fica para trás. Spear 1 e Spear 2 estão sobrevoando o deserto ondulante da Líbia, onde alemães e britânicos lutaram desesperadamente décadas atrás e onde tanques e caminhões enferrujados permanecem presos nas areias impiedosas.
Antes deles, os italianos já estiveram aqui, e agora são os chineses, pensa Zeppos.
Grande coisa...
Zeppos começa a conferir o equipamento outra vez.
— Comandante, mensagem para o senhor — diz o líder da equipe pelo intercomunicador.
Zeppos liga o microfone.
— Quem? O Comando de Operações Especiais Conjuntas?
— Não, Nick — responde o aviador. — Nada a ver com o JSOC.
Merda, pensa Zeppos. Quem teria coragem de incomodá-lo numa hora dessas?
— Pode me passar — diz ele, então se ouve um chiado de estática, e logo depois surge uma voz muito familiar, que ele ouviu inúmeras vezes no rádio e na TV.
— Comandante Zeppos, aqui é Matt Keating. Desculpe incomodar, sei que está ocupado e não precisa que eu desperdice os seus preciosos segundos. Só queria que soubesse que não há nada que eu quisesse mais que participar dessa missão com vocês agora.
— Ah, obrigado, senhor! — responde Zeppos, falando mais alto para que o presidente pudesse ouvi-lo.
— Tenho plena fé de que você e sua equipe darão conta do trabalho — continua Keating. — De nossa parte por aqui, você não tem com o que se preocupar. Estamos com vocês. Enfiem o corpo desse filho da puta num saco de óbito, pelo país, pelos Seals e especialmente por Boyd Tanner. Keating desligando.
— Sim senhor — responde Zeppos, em parte surpreso com o fato de receber uma ligação pessoal de Keating, em parte comovido pelas palavras sinceras. Ainda assim, odeia admitir para si mesmo que está puto por Keating ter ligado bem no meio de uma operação!
Porra, pensa ele. Política sem dúvida fode a cabeça de um homem.
Mas Zeppos dá uma colher de chá ao presidente. Keating já foi um deles. E ele sabia de Boyd Tanner.
Da Equipe 2 dos Seals.
Pouquíssimas pessoas deveriam saber como Tanner morreu, e não foi num acidente de treinamento, como disseram para a viúva e os filhos.
Tanner foi capturado no ano anterior depois de uma troca de tiros brutal no Afeganistão, ferido e quase morto. Azim al Ashid e seus combatentes tiraram todo o equipamento de Boyd Tanner, depois suas roupas e por fim o levaram para um pátio, filmando o tempo todo.
Então, usando um martelo e pregos, Azim crucificou o combatente da Marinha numa árvore retorcida. O vídeo mostrava a hora agonizante que Tanner passou pendurado ali, até que os sequestradores se entediaram e cortaram seu pescoço.
No Black Hawk, alguns homens estão rindo. Zeppos se inclina para a frente e vê um membro da sua equipe — Kowalski — segurando o que parece uma lança de madeira com uma ponta de metal.
— Essa merda aí é para quê? — grita Zeppos.
Kowalski ri e agita a lança.
— É para Azim al Ashid — grita Kowalski em resposta. — Depois de identificarmos os restos mortais dele, a gente devia arrancar a cabeça, prender nessa lança e levar para o Salão Oval! O presidente vai adorar, não acha?
Mais risadas, e Zeppos se acomoda no assento desconfortável, sorrindo.
Pois é.
Essa é uma boa noite para ele e os companheiros vingarem a morte de tantos inocentes e, enfim, ficar cara a cara com Azim al Ashid. Nesse momento, darão ao terrorista alguns segundos para reconhecer quem está diante dele e, em seguida, colocarão duas balas no seu peito e uma na testa.
O helicóptero Black Hawk preto e sua sombra avançam noite adentro.
Capítulo
2
2:15, horário local
Embaixada da República Popular da China, Trípoli
Étarde da noite — ou começo da manhã — na recepção localizada no térreo da embaixada chinesa, na esquina da rua Menstir com a estrada Gargaresh, e Jiang Lijun, que consta na lista de convidados da embaixada como vice-presidente da Companhia de Engenharia Civil da China, prende um bocejo.
A suposta festa deveria ter acabado há mais de uma hora, mas os convidados especiais desse maldito país ainda não foram embora. Os líderes políticos, tribais e militares — espalhafatosos em seus uniformes, com suas insígnias e medalhas, feito menininhos brincando de se fantasiar —, continuam fumando, bebendo e conversando com os pacientes anfitriões em diversos cantos do salão.
Jiang vê que os representantes locais da Companhia de Perfuração da Grande Muralha, da CNPC Serviços & Engenharia, da Companhia Nacional de Petróleo da China e de tantas outras corporações estão atuando heroicamente em prol do zho-ng guó — o Império do Meio — sorrindo, gargalhando das ridículas tentativas de piada e entretendo seus convidados caipiras.
São uns broncos! Mesmo depois de diminuírem as luzes, levarem embora os pratos de comida quase vazios e retirarem as bebidas e as garrafas de cerveja — Carlsberg, Heineken, Tsingtao —, esses caipiras não entenderam o recado de que já estava na hora de voltar para seus casebres infestados de pulgas. Não, eles ficaram e continuaram fofocando, e alguns até pegaram frasqueiras do bolso do casaco, mesmo estando num país supostamente muçulmano. Quando era estudante de intercâmbio na UCLA, na Califórnia, e depois na Columbia, em Nova York, o jovem Jiang achava que nunca encontraria outro povo tão infantil, imprudente, ignorante e grosseiro, mas esses líbios fazem os estadunidenses parecerem dignos do título honorário de han.
Ele pega um cigarro do maço de Zhonghua e o acende. Está sozinho perto de dois grandes vasos de plantas, observando quem está falando com quem, quais membros da equipe da embaixada parecem bêbados ou impacientes e fica de olho nos convidados líbios. No ano anterior um governo frágil de cessar-fogo e reconciliação subiu ao poder, mas Jiang ainda quer ver quais chefes tribais ficam longe dos seus supostos aliados, talvez se preparando para fazer parte de uma futura separação ou guerra civil.
É uma boa informação para se obter com antecedência.
Com um terno preto grande demais, um funcionário da embaixada magro e de óculos surge do outro lado do salão e se aproxima. Ele observa as pessoas enquanto anda apressado pelo chão polido. Ling — esse é o nome do garoto. Jiang dá um último trago no cigarro, apaga-o na terra do vaso de planta mais próximo e espera.
O trabalhador se aproxima dele, faz uma ligeira reverência e diz:
— Com licença, senhor. Sua presença está sendo solicitada no porão. Sala doze.
Jiang acena com a cabeça e começa a atravessar o salão, quando um homem barbudo e corpulento, cambaleando de bêbado e num traje tribal típico — blusa branca esvoaçante e calça preta —, entra abruptamente na sua frente.
— Sr. Jiang! — exclama o sujeito num inglês com sotaque carregado, agarrando os ombros de Jiang, que, por sua vez, mantém um sorriso largo congelado no rosto, tentando não engasgar ao respirar o bafo alcoolizado desse caipira imundo.
— Está de saída, é? — pergunta o homem.
Jiang dá um tapinha nas mãos calejadas do homem e as tira gentilmente de seus ombros.
— Sinto muito, meu amigo, mas sabe como é — responde Jiang, também em inglês, a língua franca da diplomacia em tantos lugares do mundo. — O dever me chama.
O homem — Jiang não consegue lembrar o nome, sabe apenas que é líder de uma das 150 ou mais tribos nessa terra estéril — balança de novo, arrota e diz:
— Ah, o dever, claro. — Lágrimas brotam em seus olhos. — Preciso dizer uma coisa... preciso... o seu dever, a sua presença aqui, trouxe muitas coisas boas para a nossa terra. Os italianos, os franceses, os britânicos, os cataris, os malditos egípcios... todos tentaram nos governar, tomar os nossos recursos... Quem diria que a raça amarela viajaria meio mundo para nos brindar com sua sabedoria e conhecimento?
Nesse exato instante, a vontade de Jiang é dar um tapão na cara do homem, girá-lo, torcer e quebrar seu pescoço — Raça amarela o cacete! — e jogá-lo no chão.
Em vez disso, ciente de quem é e do que fazer, Jiang mantém o sorriso no rosto, aperta as mãos imundas do sujeito e diz:
— Quando eu voltar a Beijing, farei questão de transmitir as suas palavras de agradecimento ao nosso presidente.
Depois disso, Jiang se afasta rapidamente, sentindo necessidade de ir a um banheiro para livrar de suas mãos o fedor e a sujeira do caipira, mas em vez disso ele segue em frente.
Dever.
Ele passa por dois guardas da embaixada sérios com escutas parcialmente escondidas e pistolas mal cobertas pelo terno e se encontra com Ling, parado na entrada do elevador. Ling mantém a porta aberta para Jiang, que o ignora, descendo de escada para o porão rapidamente. Nesse lugar que alguns chamam de país, de vez em quando ainda ocorrem apagões repentinos e, mesmo com geradores de energia reservas, Jiang não vai correr o risco de ficar preso entre dois andares.
Ele abre a porta do porão, passa por outro guarda, percorrendo um corredor escuro até que chega a uma porta de aço pesada equipada com um leitor biométrico da palma da mão. Jiang pressiona a mão direita, o aparelho emite um breve clarão e a porta se abre.
Jiang entra, a porta se fecha e se tranca. A sala está fresca e confortável, e agora ele está com vontade de fumar, mas ali é proibido. Ali, no centro de operações da embaixada do Ministério de Segurança de Estado da China, com equipes trabalhando vinte e quatro horas por dia.
Usando óculos de armação preta e roupas casuais — calça preta e camisa social branca de gola aberta —, o funcionário da noite, Liu Xiaobo, está digitando em frente a um grande monitor.
— Como vai a festa lá em cima? — pergunta. — Muita merda de camelo no chão?
— Ainda não — responde Jiang. — O que houve?
A saleta está abarrotada de armários de arquivo, bancadas, monitores, aparelhos de TV mostrando a CNN, a BBC e o CCTV-13 — o canal de notícias da China Central Television —, além de telas de plasma representando o norte da África, o Mediterrâneo e o golfo de Sidra. Outros oito membros do Ministério de Segurança de Estado estão trabalhando nesta madrugada.
— Os estadunidenses estão tramando alguma coisa — diz Liu.
— Não é sempre assim? Esses cachorros... O que é dessa vez?
— Eles estão com um navio de assalto anfíbio no golfo de Sidra, a cerca de vinte quilômetros da costa de Trípoli — explica Liu e aponta para um mapa de referência no grande monitor. — Trinta minutos atrás, dois helicópteros UH-60, Black Hawks, levantaram voo. Estão indo nessa direção — prossegue, traçando com o dedo manchado de nicotina um caminho na tela iluminada —, eles violaram o espaço aéreo da Líbia e agora estão mais ou menos... aqui.
Jiang olha para a tela, para os pequenos triângulos que marcam cidades e vilas, a geografia da região tão plana e quase deserta até que...
— Eles estão indo para as montanhas Nafusa — diz Jiang.
— Sim. Ao que parece estão fazendo um voo em linha reta e nivelado, sem manobras evasivas, e, com base no consumo de combustível dos helicópteros que estão usando, quase não há combustível suficiente para chegar lá e voltar para o Vespa. Para mim, isso significa que eles foram atrás de alguma coisa muito importante nesses picos, algo que vale o risco de ficar sem combustível.
Um inseto que ferroa, pensa Jiang. Que tipo de idiota batiza um navio de guerra com o nome de um inseto?
Ele volta a se concentrar na tela.
— Você não tem... algum interesse pelas montanhas Nafusa? — pergunta Liu cautelosamente.
Após muita experiência e anos de trabalho, Jiang mantém o semblante impassível, a respiração regular e o corpo imóvel. Quem demonstra emoções não tem sucesso nem é promovido.
— Algo mais? — pergunta Jiang.
— Não. Só achei melhor avisar.
Jiang aperta de leve o ombro do homem.
— Muito obrigado, camarada.
Liu parece gostar da atenção que recebe de um homem com um cargo acima do seu.
— Posso ajudar em algo mais?
— Sim. Você tem um funcionário aqui chamado Ling, certo? O que foi lá em cima me buscar.
— Sim — responde Liu, com cautela.
— Mande-o de volta para casa na primeira oportunidade. Coloque-o para trabalhar na maior fazenda de porcos de Liaoning. Agora há pouco, quando foi me chamar, ele praticamente saiu correndo pelo salão e estava quase gritando, deixando claro para qualquer pessoa com um cérebro maior que uma ervilha que eu era alguém importante e não um tecnocrata qualquer. Ele precisa ser punido.
— Certo.
— Ótimo. Agora é hora de voltar lá para cima. Vou lá ver se os camelos chegaram e se os caipiras estão tacando bolas de merda uns nos outros.
Liu ri e vira de volta para o monitor. Jiang se afasta, usa um escâner de mão para sair do centro de operações e faz o caminho de volta pelo corredor vazio. Se virasse à esquerda, voltaria para a escada que o levaria para a recepção.
Em vez disso, Jiang Lijun vira à direita, segue rápido em direção ao seu escritório na outra extremidade, onde não é vice-presidente da Companhia de Engenharia Civil da China, mas um agente sênior do Ministério de Segurança de Estado.
Que diabos os estadunidenses estão tramando?
Capítulo
3
2:30, horário local
Montanhas Nafusa, Líbia
Abordo do Spear 1, o líder da equipe grita:
— Dois minutos! Dois minutos para o alvo!
Nick Zeppos levanta dois dedos para confirmar o recebimento da informação, e o restante da equipe levanta dois dedos em resposta. Eles tiram o equipamento de comunicação do helicóptero e rapidamente colocam os capacetes com óculos de visão noturna. Zeppos liga os óculos, e o interior do Black Hawk modificado e furtivo ganha um tom verde vívido e fantasmagórico.
Dois minutos.
Cento e vinte segundos.
A voz do piloto do Spear 1 chega a Zeppos.
— Alvo à vista, duas horas aproximadamente.
Zeppos logo se lembra de outro assassinato terrível cometido por Azim al Ashid, dois anos atrás, quando ele e os companheiros executaram uma família síria que supostamente havia traído o grupo, em frente aos seus seguidores. Eles transmitiram o vídeo do assassinato para o mundo inteiro. Uma execução simples: a família foi levada para uma gaiola de aço, encharcada de gasolina, e Azim riscou o fósforo.
A última imagem nítida no vídeo, antes que a nuvem de fumaça obscurecesse as lentes, era a silhueta curvada da mãe entre as chamas, desesperada, usando o próprio corpo para proteger inutilmente o filho agonizante.
— Trinta segundos — anuncia o piloto.
O líder da equipe destranca e abre a porta lateral. Zeppos verifica o equipamento uma última vez. O ar gelado entra no helicóptero. Ele se levanta e grita:
— Fiquem juntos, andem rápido! Vamos acabar com isso de uma vez!
A equipe acena e faz sinal de positivo, todos parecendo monstros de olhos esbugalhados, com equipamentos, armas e capacetes com óculos de visão noturna de quatro lentes. Zeppos se inclina para fora e avista as construções que entram rápido no seu campo de visão. Três prédios baixos à esquerda e um maior à direita, mais afastado.
Aquela é a casa de Azim al Ashid, onde ele está neste exato momento, com base em todas informações reunidas para enviar Zeppos e sua equipe a este local esta noite.
Todas as estruturas são de um andar. Construídas em rocha e pedra. Um curral de cabras ao longe. E só. Não há construções suficientes para sequer dizer que o lugar é uma aldeia.
O Black Hawk avança, paira menos de um metro acima do solo rochoso e, segundos depois, Zeppos é o primeiro a desembarcar, seus coturnos de combate Oakley tocando o solo nas montanhas do oeste da Líbia, perto da fronteira com a Tunísia. Está carregando mais de vinte quilos de equipamento, junto com o fuzil Heckler & Koch 416 com carregadores estendidos. Apesar de tudo, sempre que há uma operação como essa, Zeppos parece leve e organizado.
* * *
Pelos óculos de visão noturna, Zeppos vê a silhueta dos outros Seals, deixados ali pelo Spear 2, à medida que executam a rotina ensaiada de escolta de ataque, deixando soldados para trás, na cobertura para os que estão na linha de frente, e depois avançando para tomar a posição. Nick assume a liderança, olhando para a frente e para trás, para a frente e para trás, vendo pelos óculos de visão noturna as linhas finas das miras de laser infravermelho se movimentando no ar frio e no escuro.
Tudo calmo.
Ele sobe a ladeira que dá para as construções, olhando, avaliando, esquadrinhando.
Nenhum contato ainda?
Não surgiu nenhum alvo nos telhados das três construções menores?
Tudo calmo demais.
A equipe está espalhada, cada um na sua função, armas em punho, cabeças olhando para a frente e para trás. A essa altura o avanço já deveria ter encontrado resistência.
— Equipe de invasão — sussurra Nick para os homens ao seu lado — Vai.
Pelos óculos de visão noturna, Zeppos vê o laser infravermelho das miras piscando enquanto ele continua se movimentando. A equipe de invasão contorna a construção maior e vai para uma janela lateral. Provavelmente tem uma armadilha na porta principal.
Ele sente um leve baque pela sola dos coturnos, um breve clarão.
A equipe está entrando no prédio.
Ele e os outros continuam avançando em silêncio.
Pela escuta do rádio PRC 148 MBITR, Zeppos ouve a voz de Ramirez, um dos membros da equipe.
— Nick.
— Fala.
— Estamos na casa-alvo.
— E...?
— Está vazia — diz a voz decepcionada. — Não tem ninguém aqui.
Capítulo
4
19:30, horário local
Sala de Crise da Casa Branca
ASala de Crise está lotada nesta noite tensa. Estou na cabeceira da mesa, assistindo ao desenrolar do ataque ao complexo de Azim al Ashid. É um espaço apertado, com a vice-presidente Pamela Barnes sentada perto de mim, olhando para as telas, e com o almirante Horace McCoy, chefe do Estado-Maior Conjunto, sentado ao meu lado. Depois de McCoy estão um capitão da Marinha e um coronel do Exército, digitando nos seus laptops protegidos do governo, sussurrando informações para McCoy transmitir às pessoas nesta sala histórica. Uma coisa engraçada e não muito relatada é que há mais de um cômodo aqui. Os outros estão lotados de funcionários transmitindo e processando informações do mundo inteiro.
Além da vice-presidente, os outros funcionários na sala são: Jack Lyon, meu chefe de Gabinete; os membros da minha equipe de segurança nacional; e um fotógrafo da Casa Branca.
Os dois mais importantes são uma mulher negra séria de cabelos longos e trançados, Sandra Powell, conselheira de segurança nacional, e Pridham Collum, secretário de Defesa, um sujeito cínico de óculos que parece mais novo que os seus 40 anos.
Sandra é especialista em defesa e política externa e autora de vários livros sobre política que, por incrível que pareça, são fáceis de ler. Pridham foi nomeado por seu domínio do enorme e complexo orçamento do Pentágono e sua extraordinária capacidade de abrir caminho pela selva de regulamentos e aquisições para tirar sistemas de armas necessários do papel e colocá-los em campo. Por causa do trabalho anterior como secretário adjunto de Política de Segurança Internacional, Pridham também tem grande experiência no ramo da defesa.
Embora a imprensa se refira a eles como a equipe de segurança do presidente Keating, o fato é que a maioria deles fazia parte da equipe do meu antecessor. Ainda não tive tempo de avaliá-los e decidir quem manter no momento em que eu completar meu primeiro ano de mandato, que começou há seis meses, quando meu antecessor, o presidente Martin Lovering, morreu em decorrência do rompimento de um aneurisma da aorta enquanto ele pescava no rio Columbia no seu amado estado de Washington.
— Spear 1 e Spear 2 estão a trinta segundos do alvo — avisou o almirante McCoy.
Aceno com a cabeça e olho para as imagens infravermelhas fantasmagóricas que aparecem no telão central, exibindo os dois helicópteros Black Hawk furtivos e modificados se aproximando do pequeno complexo onde Azim al Ashid e seus seguidores supostamente estão escondidos. Um desses helicópteros transporta o comandante da Marinha Nick Zeppos. Sinto que não devia ter ligado para ele minutos atrás, mas a tentação foi grande. Eu realmente queria lhe desejar boa sorte e realmente queria participar do ataque, onde os objetivos são claros e os inimigos estão expostos, ao contrário do cenário político de Washington, onde os motivos são obscuros e os adversários se escondem por trás de um terno e uma retórica suave.
Sinto uma pontada de dor no quadril direito ao ver os Seals avançando e me lembro das minhas próprias missões. A dor é resultado da memória muscular de quando aquele helicóptero caiu no Afeganistão anos atrás e eu quebrei o quadril, tendo que encerrar minha carreira na Marinha. Tempos depois, sem saber o que fazer, optei por uma nova rodada de perigos e ameaças e resolvi entrar para a política, e os bons cidadãos do Sétimo Distrito Congressional do Texas me escolheram para representá-los no Capitólio.
Os Black Hawks param no ar em pleno voo. Vejo vultos saindo de ambos os helicópteros e avançando para executar a rotina de escolta de ataque que conheço tão bem.
Um leve estalo, e percebo que acabei de quebrar a caneta que estou segurando.
Ninguém parece notar, a não ser minha vice-presidente, que me encara com um olhar frio e calculista e se vira de volta para a tela.
Dizem que política é a arte do comprometimento, e o tumultuado ano passado foi cheio disso. Quando o então senador Martin Lovering estava prestes a conseguir representantes suficientes para ganhar a indicação do nosso partido dois anos atrás, houve um esforço para equilibrar a chapa e aumentar a credibilidade no quesito segurança nacional. Assim, decidiram me escolher... eu, que estava no Congresso havia pouco tempo e que certamente não estava no que é conhecido como corrida pela Casa Branca.
Esse movimento político calculado irritou muitos dos membros mais pacifistas do partido, incluindo a então governadora da Flórida, Pamela Barnes, que tinha perdido por pouco a indicação do partido para o senador Lovering e que, compreensivelmente, achava que deveria ter sido convidada para ser vice-presidente dele.
Bem, para Barnes o sonho acabou se tornando realidade. Um mês depois de me tornar presidente após a morte inesperada de Lovering, eu a indiquei para o cargo. Ela foi a terceira pessoa a se tornar vice-presidente dessa maneira, desde que a Vigésima Quinta Emenda estabeleceu um processo para preencher a vaga. Eu a escolhi porque queria unificar o partido, na expectativa de realizarmos mais coisas enquanto eu cumpria o restante do mandato do meu antecessor. Mas, se Barnes se sentiu feliz ou grata por chegar à sua posição atual, ela nunca demonstrou.
Enquanto isso, rodeado pela minha equipe de segurança nacional, estou fazendo algo que é difícil para mim: manter a boca fechada.
Esperar.
Na tela, vejo as silhuetas dos Seals se movimentando com rapidez e eficiência e tento afastar minhas próprias lembranças de estar em missões exatamente como essa. Com a equipe, a respiração ofegante, arma em punho, todos os sentidos do corpo em alerta máximo, em movimento, seguindo o plano ensaiado, pronto para abrir fogo a qualquer momento.
Já passei por isso: Iraque, Afeganistão, Iêmen.
Em todas essas situações, a constante era a exposição à noite, rodeado dos melhores amigos e companheiros de guerra, todos prontos para causar estrago e mandar bala calibre 5,56mm e lançar granadas contra os inimigos da nossa nação. Exatamente como esses homens estão fazendo nesse momento na Líbia, a quase 8 mil quilômetros de distância, enquanto todos os seus movimentos e ações são observados daqui, desta sala.
Estar aqui, e não lá, me causa estranhamento. Para deixar a situação ainda mais surreal, minha esposa, a dra. Samantha Rowell Keating, está a poucos metros dessa reunião tensa, trabalhando num artigo para algum periódico importante de arqueologia, e nossa filha, Melanie — a quem chamamos de Mel —, está dando uma festa na área da Casa Branca reservada para a família presidencial, junto com os colegas de turma da Escola Secundária Sidwell Friends.
Estou feliz por ambas. Não é fácil manter uma vida normal nesse lugar tão anormal.
Olho para a tela outra vez e vejo os vultos se moverem. Três deles entram numa construção.
E isso é tudo.
Sem explosões de luz, sem balas traçantes, sem o movimento frenético de homens armados correndo para atacar os invasores.
O almirante McCoy pigarreia e diz:
— Senhor...
— Eu sei — digo. — O ataque foi um fracasso. Azim al Ashid não está lá.
Capítulo
5
2:35, horário local
Embaixada da República Popular da China, Trípoli
Em seu escritório seguro e sem graça no porão, marcando seu papel como agente sênior do Ministério de Segurança de Estado da China para todo o norte da África, Jiang Lijun está sentado à mesa, fumando outro cigarro Zhonghua, pensando. A sala é simples — tem apenas uma estante de livros e três armários de metal pesado com fechadura para armazenamento de arquivos. Há uma foto do Grande Timoneiro na parede, ao lado de outra do atual presidente. Na mesa, duas fotos: uma da sua esposa, Zhen, e outra do seu falecido pai. Jiang tinha apenas 5 anos em 1999, quando ele e sua mãe estavam na pista do Aeroporto Internacional de Beijing-Capital aos prantos, esperando as cinzas do pai, morto pelos estadunidenses junto com outras duas pessoas no porão da embaixada chinesa.
O ataque de 7 de maio ocorreu durante a campanha de bombardeio da OTAN para impedir os sérvios de concretizar seu destino: controlar seus territórios e dominar os inimigos. O Ocidente usava essa tática havia séculos, mas, como os sérvios eram o outro
, foram acusados e bombardeados por fazer o mesmo que todas as grandes potências.
Seu pai trabalhava na embaixada chinesa como diretor de comunicações, quando quatro bombas lançadas por um B-2 Spirit dos Estados Unidos atingiram o prédio da embaixada, supostamente por engano, embora ninguém na China tenha acreditado nessa história. Todos sabiam que havia sido uma tentativa proposital do Ocidente de punir a China por se aliar aos sérvios.
Mais tarde, quando cresceu e passou a frequentar a escola, Jiang descobriu que o bombardeiro que matou seu pai fazia parte do famoso 509º Grupo de Bombardeio da Força Aérea Americana, o mesmo que lançou as bombas atômicas em 1945, incinerando dezenas de milhares de civis.
Essa unidade tem experiência em matar asiáticos inocentes, pensa Jiang.
Ele dá uma rápida olhada na foto de Zhen, tirada durante a lua de mel no Havaí. Nesse momento ela está em Beijing, visitando o pai doente. Ela trabalha na sede do ministério na avenida Dongchangan, 14, como gerente de RH.
O avô de Jiang — Jiang Yun — era um camponês analfabeto até se juntar ao Exército Vermelho, lutando contra os japoneses e o Kuomintang e depois se tornando um tranquilo, mas poderoso, funcionário do partido em Xangai. Viveu o suficiente para ver o filho alcançar o sucesso, e Jiang lamenta o fato de os estadunidenses terem impedido seu pai de ver o sucesso do próprio filho.
Jiang toca brevemente a foto de Zhen. Prometeu muitas vezes que seu futuro filho crescerá num mundo pacífico e forte, uma comunidade global que reconhece a força da China e o seu devido lugar.
Custe o que custar.
Ele abre a gaveta do meio da escrivaninha, pega um mapa detalhado da Líbia e se senta no chão frio e acarpetado, abrindo o mapa. Existem centenas de mapas digitais de alta qualidade disponíveis no sistema seguro do computador do ministério capazes de exibir uma flor específica do Roseiral da Casa Branca ou o rosto de marinheiros estadunidenses voltados para cima no passadiço de um submarino nuclear armado com mísseis balísticos partindo de Kitsap, no estado de Washington.
Mas acessar esses mapas deixa rastros digitais que podem ser vistos por outras pessoas no seu ministério e em outros lugares.
E Jiang é hábil em não deixar rastros.
Ele move o dedo do golfo de Sidra para as montanhas Nafusa. Jiang olha a legenda na base do mapa, marcando as distâncias em quilômetros. Vai até a mesa, volta com uma régua de metal e a coloca sobre o mapa.
Ele queria saber a localização exata do navio da Marinha dos Estados Unidos — batizado com o nome de um inseto com ferrão, algo em que ele ainda não consegue acreditar —, mas essa pergunta geraria muitas outras depois.
O agente do turno da noite — Liu Xiaobo — está correto. Em breve, os estadunidenses pousarão naquelas montanhas acidentadas sem muita reserva de combustível. Ah, eles podem reabastecer no ar, mas na Líbia existem muitos olhos e ouvidos eletrônicos do Império do Meio, da Rússia, do Irã e de outros. Olhos e ouvidos curiosos que podem fazer muitas perguntas.
Ele esfrega os pequenos triângulos das aldeias marcadas. Liu está duplamente correto: Jiang tem interesse em alguém que mora lá, e agora ele se pergunta o que fazer.
Jiang deixa o mapa e a régua no chão e volta para a mesa. Tira uma corrente fina do pescoço que contém uma chave eletrônica retangular. Ele a insere na gaveta inferior direita da mesa. Um clique baixo, e ele abre a gaveta. O dispositivo veio direto da Schlage — evitando o sistema de suprimentos do ministério —, e ele tem certeza de que a gaveta jamais poderá ser adulterada ou aberta sem sua permissão.
Entre papéis, pendrives, laptops e outros pertences está o telefone via satélite de última geração, edição limitada, feito pela Iridium, uma empresa dos Estados Unidos. Esse aparelho é especial porque pode ser usado dentro de um prédio. O Ocidente está enfim começando a aprender que todos os eletrônicos baratos que compraram do Império do Meio ao longo de décadas continham spywares e backdoors usados pelos seus empregadores, e Jiang precisa de uma forma segura de fazer ligações sem ser rastreado pelo seu próprio pessoal.
Ele pega um caderninho com alguns números escritos.
Liga o telefone e espera alguns segundos para calcular seu próximo movimento.
Matar estadunidenses, decide Jiang por fim, quando o telefone acende.
É o que está destinado a fazer desde aquela noite de maio de 1999.
Capítulo
6
2:40, horário local
Montanhas Nafusa, Líbia
No ar límpido e frio da montanha, Nick Zeppos ergue o punho fechado, sinalizando para que todos dentro do seu campo de visão fiquem quietos. Dentro dele, a fúria cresce. Merda, de novo não.
Não teve sorte pela terceira vez.
Ele observa as casinhas e vê um caminho de pedras que conduz a uma elevação. Olha para o trajeto, sabendo que sua carona para casa está ali perto, circulando ao longe, esperando para levá-los de volta ao Vespa, torcendo para voltar com bolsas cheias de informações e um saco de óbito com os restos mortais de Azim al Ashid ainda quentes.
Mas a equipe está de mãos vazias. E em breve o Spear 1 e o Spear 2 vão ficar sem combustível.
Hora de decidir.
Ele pega o microfone, pronto para enviar o pedido de retorno para o navio, quando tem a impressão de ouvir um sino.
Hã?
Zeppos começa a seguir pelo caminho.
O tilintar fica mais alto.
Zeppos sabe que os tanques de combustível dos dois Black Hawks estão ficando cada vez mais vazios.
Mas ele segue em frente.
Capítulo
7
19:40, horário local
Sala de Crise da Casa Branca
Na atmosfera cada vez mais tensa da Sala de Crise, a vice-presidente Pamela Barnes se pronuncia pela primeira vez.
— Por que os Seals não estão indo embora? — pergunta ela, em tom de exigência. — O combustível não está acabando? O tempo em solo líbio não era limitado? Além do mais, a presença deles ali não era ilegal?
Quero responder, mas fico de boca fechada. Anos atrás, quando era membro da equipe — BUD/S (Demolição Subaquática Básica/Seals) Classe 342 —, eu poderia responder à pergunta em segundos.
Mas não sou mais um Seal.
Só o presidente dos Estados Unidos.
Outras pessoas terão que responder às perguntas dela.
Ao meu lado, o almirante Horace McCoy, chefe do Estado-Maior Conjunto, diz:
— Senhora vice-presidente, a situação permanece... incerta. Imagino que as equipes estejam explorando a área e tentando tirar vantagem da situação, ver se existe