O Palhaço Maldito
De Paulo Lucas
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O Palhaço Maldito - Paulo Lucas
O Palhaço Maldito
PAULO LUCAS
Copyright © 2013 PAULO LUCAS
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DEDICATÓRIA
Dedico este livro aos meus irmãos Davi, Juliano, Saulo e minha irmã Lusimar.
Agradecimentos
Agradeço à Deus e a todos os amigos que me deram força para a conclusão deste trabalho.
Um homem alquebrado
O homem era dono de uma propriedade que se podia dizer que era uma das maiores e mais luxuosas da cidade de Viçosa. Era bem verdade que o sujeito era muito rico. Mas como todo mundo no município de apenas sessenta mil habitantes sabia, o homem vivia recluso dentro da própria casa. Até mesmo a compra dos itens necessários à subsistência, era feito pelo grupo de empregados que o serviam em tudo.
Alguns na cidade diziam que não passava de um coroa maluco e cheio de manias. Outros diziam em baixa voz que ele era vítima de uma antiga maldição. Diziam que o sujeito recluso e avesso ao convívio humano tinha mexido com coisa pesada
, e agora estava pagando o preço disso.
O que quer que fosse aquilo, de fato, Leonardo Fragoso Spina detestava receber visitas, e não recebia nem mesmo os próprios parentes que viviam na cidade. Filho de um grande pecuarista e negociante próspero; herdou muita grana e podia viver com muito conforto.
Nas rodadas de bebidas nos bares e lanchonetes da cidade, as pessoas diziam que o velho Leonardo já foi visto rodeando a própria mansão de madrugada com uma espingarda. Alguns chegaram até mesmo a jurar de pés juntos, que o coroa maluco foi visto atirando para todos os lados e gritando como um doido. As fofocas diziam que, ele até chegara a ferir um homem vestido de palhaço. Um empregado da propriedade que costumava fazer bicos de animação de festas de aniversário. Gente que já trabalhou para o coroa chegava a dizer que o homem só dormia de dia. À noite ficava alerta a espera de algo que ninguém sabia o que era.
A única pessoa que poderia esclarecer alguma coisa da vida misteriosa de Leonardo era a sua única filha. De fato, a mulher que era casada e vivia na capital do estado costumava visitá-lo algumas vezes ao ano. Era quando trazia os netos para vê-lo. Mas se a advogada Marisa Spina Almeida pudesse esclarecer alguma coisa sobre o misterioso pai, ela nunca o fez. E desta forma, a lenda de Leonardo continuou crescendo na pequena cidade de Viçosa.
Como sempre, o homem de cinquenta e cinco anos despertava às três da tarde. E toda vez se sentava na beira da cama e fazia uma cara de quem se perguntava o porquê de a morte não o ter levado.
Leonardo Fragoso Spina era um homem de um metro e setenta e cinco de altura. Era branco e com feições tipicamente de ascendência italiana. Todavia era descendente de nordestinos e italianos. Seus olhos claros pareciam conter todo o sofrimento e decepção do universo. Seus cabelos grisalhos e o rosto coberto de rugas davam-lhe um aspecto de velho que padecia de uma doença terminal. Tinha a barba por fazer e o rosto chupado estava semeado de tocos de barba branca. Quem o visse ao despertar acharia e com toda razão, que era nada mais do que um cachaceiro. Era magro e com um aspecto alquebrado. Tinha a aparência de quem sofre demais, e que não vê à hora de bater as botas e acabar com a porra de vida que levava.
O quarto dele era espaçoso e somente havia uma cama de casal, já que ao lado ficava um closet enorme onde guardava seu guarda-roupa e sapatos. A exceção era um pequeno móvel ao lado cabeceira da cama, onde se podiam ver uma garrafa de uísque caro e alguns frascos de calmantes. Leonardo bocejou e o quarto se impregnou de um bafo ruim de uísque.
As paredes mostravam projeções do fundo do mar. Peixes nadavam preguiçosamente por cima de recifes de corais recheados de vida marinha. A tecnologia era bem comum no ano de 2045 e a maioria das pessoas usava aquilo em suas casas. A tecnologia consistia de revestimentos poliméricos para paredes. Que funcionavam como antigas telas de OLED. Projetando vívidas imagens de paisagens ou outra coisa qualquer a gosto do usuário.
Assim que o sistema eletrônico da casa percebeu o despertar do dono, começou a tocar uma bela melodia muito popular.
Com olhos injetados, Leonardo olhou para um ponto no teto onde um tubarão buscava uma presa na imensidão azul.
— Para com essa porra de música!
Imediatamente a canção cessou. Já completamente desperto Leonardo levantou de vez e foi em direção à porta do banheiro. Depois que tomou uma ducha, vestiu uma calça de jeans e uma camisa polo vermelha. Foi para o andar de baixo e mandou que a senhora Rosa lhe servisse uma refeição.
Depois de saciado, ele pegou a placa de anotações, e foi se sentar junto à piscina no fundo da casa. A placa era feita de vidro temperado e funcionava como computador, televisão, reprodutor de vídeos e telefone. E nela ele podia anotar diversos textos com a própria caligrafia. O editor de texto automaticamente mandava o escrito por via wi-fi para dentro da casa, onde poderia ser armazenado num HD e posteriormente impresso em metapapel. O equipamento era produzido por uma empresa que era uma das muitas firmas que surgira com o desmantelamento da Microsoft.
Para escrever, Leonardo usava uma caneta digital que passava sobre a superfície de vidro da placa. Esta decisão de escrever o que se passou e mudou a sua vida, surgiu quando começou a sentir que a vida estava chegando ao fim. Ele sentia que já não aguentava mais, e que logo poria um fim naquele inferno de vida.
Assim que passou o dedo indicador sobre um ícone, o texto surgiu na placa. E assim ele poderia recomeçar de onde parou anteriormente.
Com a caneta digital, começou fazer uma caligrafia bem desenhada no papel virtual na placa de vidro. O texto era um tipo de diário que propunha contar tudo o que se passara antes e depois daquela fatídica noite de 21 de Junho de 2010. As linhas eram justamente o que ele escrevera na noite anterior; enquanto sofria os horrores de sua maldição.
É num momento como este quando sinto o fim se aproximando, que eu relembro os fatos daqueles dias terríveis. Mesmo depois de quase quarenta anos, posso ver claramente os rostos aterrorizados dos meus amigos da juventude. Lembro agora, que aqueles foram dias de loucura e tolice. Afinal quando somos jovens e estamos no início da vida, cometemos o erro idiota de pensar que somos indestrutíveis e imortais. E é justamente numa noite como esta, enquanto sou consumido pela tosse maligna e a febre (talvez essa porra seja causada pelo uísque que eu bebo como água), eu relembro do horror e do desespero.
Eu o vejo. Ah, sim. Eu posso vê-lo e senti-lo mesmo estando protegido pelas paredes de minha casa. Ele me ronda como se fosse um lobo faminto. Como um predador incansável que persegue sua presa de dia e de noite. Oh, Deus! Como a risada dele é insuportável!
O meu cérebro retumba como se cada célula de massa cinzenta estivesse encharcada de zombaria e um amaldiçoado escárnio. Eu sou um verme. Se eu fosse um homem de verdade, já teria estourado a porra dos meus miolos e acabado com este inferno de vida. Talvez eu não tenha acabado com essa merda, porque uma pergunta bruxuleia na minha cabeça. Porque ele não me pegou durantes esses anos todos? Porque ele me rodeia como uma fera assassina durante certas noites do ano, e não me pega? O que o detém? O que o segurou para que não acabasse com esse último peão desse jogo de xadrez macabro? Talvez alguém da minha família descubra o motivo disso mais tarde. Depois que eu