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Puritanos
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E-book629 páginas9 horas

Puritanos

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Sobre este e-book

Os puritanos viveram em sua grande maioria nos séculos XVII e XVIII. Eles escolheram a cruz, a porta e o caminho estreito que conduz à salvação, do que negarem ao Senhor e à Sua Palavra. Aqueles pastores tiveram verdadeiros e grandes gigantes espirituais, homens santos e piedosos como Richard Baxter, Richard Sibbes, John Owen, Thomas Manton, Thomas Watson, Thomas Hokker, Thomas Bostons, Thomas Goodwin, dentre muitos outros cujas vidas foram inspiradoras para muitos homens de Deus do futuro como por exemplo Jonathan Edwards, George Whitefield e Spurgeon.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de dez. de 2015
Puritanos

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    Puritanos - Silvio Dutra

    1 - Introdução

    A expressão de nosso subtítulo é uma contraparte da que se refere a um grande número de religiosos destes últimos dias, dos quais o apóstolo Paulo diz que têm apenas a forma, a aparência da piedade, mas que negam o seu poder.

    Os puritanos, especialmente aqueles que viveram nos séculos XVII e XVIII, não exibiam uma aparência de serem piedosos, mas o eram de fato.

    A nós, que não estamos acostumados a ver o testemunho de vidas piedosas, a saber, que sejam devotadas a Deus e ao seu serviço, de modo verdadeiramente santo e segundo uma prática real de Sua Palavra, torna-se muito difícil compreender o que seja esta vida piedosa à qual a Bíblia se refere.

    Mas aqueles que tiveram a oportunidade de viver naqueles dias áureos do evangelho quando os puritanos enchiam a Terra com a sua piedade, entenderam muito bem o que esta significava.

    Ora, eles estavam completamente empenhados em viver o Evangelho verdadeiro em toda a sua plenitude até o ponto extremo de renunciar a todo conforto e até mesmo à própria vida, e conforme isto se comprovou na prática, quando centenas de pastores foram expulsos de seus púlpitos e perseguidos por causa deste seu apego à Palavra de Deus.

    A vida cristã era algo tão sério para eles que exploravam exaustivamente todas as doutrinas que podiam ser encontradas na Bíblia e as apresentavam em seus sermões e ensinos com partes dedicadas à aplicação, ou seja, ao que deveria ser feito por todos para que pudessem ser de fato aplicadas às suas vidas.

    Então, temos esta miríade de estrelas de mesma grandeza que brilhavam no universo da piedade divina trazendo luz não apenas aos seus contemporâneos, como a nós, a quem o seu testemunho tem chegado, e que por dever de consciência, devemos compartilhar com todos aqueles que estejam interessados em conhecer e praticar a verdade.

    Assim, estamos apresentando neste livro partes de obras de alguns pastores puritanos, que traduzimos do texto original em inglês.

    Dentre estes se destacam John Owen, conhecido até hoje como o imbatível príncipe dos teólogos; Thomas Manton; Thomas Watson (de quem já publicamos um livro sob o título As Bem-Aventuranças); Richard Sibbes; Richard Baxter - o príncipe dos pastores, entre outros.

    2 - Deus nos Chama a Tomar Posição Tal Como Haviam Feito os Puritanos

    A partir de anos recentes, o Espírito Santo tem levado muitos crentes a terem um interesse renovado para conhecerem a vida e a obra dos puritanos.

    Há editoras que estão traduzindo e publicando em várias línguas, em muitas partes do mundo, os escritos, especialmente os sermões, livros e tratados que os puritanos haviam escrito debaixo da inspiração do Espírito de Deus quanto ao modo de servi-lO, segundo a Sua Palavra.

    Sem que soubesse deste movimento que o Espírito estava fazendo no mundo, o Senhor me disse há alguns anos atrás que eu fosse aos puritanos e a D. M. Lloyd Jones, para que fosse melhor instruído quanto aos fundamentos sobre os quais devemos edificar a Igreja e nossas próprias vidas.

    Os puritanos viveram em sua grande maioria nos séculos XVII e XVIII e D. M. Lloyd Jones no século XX.

    Em 1963 Lloyd Jones havia profetizado acerca da grande igreja mundial ecumênica que será levantada no mundo e que dará apoio para que o Anticristo acesse ao poder. E ele disse que todos aqueles que se mantivessem firmes no Senhor, não negando o Seu nome e Palavra, seriam chamados de cismáticos por aqueles que compuserem a referida Igreja.

    Alguém perguntaria o que os puritanos teriam a ver com isto?

    O grande fato é que eles viveram em condições muito parecidas com as quais já estamos vivendo. Eles tiveram que se posicionar em aderirem à grande Igreja Estatal Inglesa anglicana, ou conviverem com práticas antibíblicas das demais denominações, ou então se tornarem independentes e não conformistas àquelas práticas para poderem permanecer apegados ao puro evangelho de Cristo.

    Assim eles tiveram, não somente que refletir sobre a natureza da verdadeira Igreja de Cristo, como também assumirem uma posição firme que se traduzisse em atos práticos na vida devocional deles.

    Examinando somente as Escrituras e colocando-se diante de Deus com o firme propósito de serem inteiramente fiéis à Sua Palavra eles concluíram que não poderiam continuar servindo ao Senhor fielmente enquanto estivessem se sujeitando às regras ditadas pelo Estado ou pelas organizações denominacionais, que contrariavam as Escrituras.

    Assim, a grande maioria dos puritanos veio a se tornar independente.

    John Owen, conhecido como o príncipe dos puritanos, por exemplo, era presbiteriano, mas veio a se tornar independente.

    Deus usou muito a vida de Owen para defender os princípios do Novo Testamento, de uma igreja soberana e independente, somente debaixo das leis de Cristo.

    Por isso o Senhor está levando muitos, cerca de 300 anos depois de Owen, como havia levado o próprio Lloyd Jones em meados do século passado, a retornarem aos puritanos, para aprenderem com eles a lutar para edificarem somente sobre o fundamento firme que já foi lançado pelos apóstolos e pelos profetas, de uma Igreja fiel e independente, nestes últimos dias, porque será esta Igreja que Lhe permanecerá fiel à medida que muitos vão se desviando do verdadeiro evangelho para formarem a grande igreja apóstata mundial que apoiará o Anticristo.

    Para se manterem fiéis ao evangelho verdadeiro cerca de 2.000 pastores puritanos foram expulsos de suas igrejas, em 1662, pela Lei de Uniformidade que foi promulgada pelo Estado, e que exigia que eles se conformassem às regras do Estado para a igreja ou então perderiam seus salários e púlpitos. Eles fizeram uma opção pelo Senhor e pagaram o preço, e o Senhor exige o mesmo de seus filhos fiéis nestes dias difíceis que estamos vivendo, quando a grande maioria dos púlpitos das igrejas têm se desviado da verdadeira adoração que é devida ao Senhor, e quando os crentes já não buscam mais viver em santidade de vida, por estarem cheios do Espírito em obediência à Palavra de Cristo, sobretudo a que lhes ordena negarem-se a si mesmos, carregarem a cruz e segui-lO.

    Os puritanos escolheram a cruz, a porta e o caminho estreito que conduz à salvação, do que negarem ao Senhor e à Sua Palavra.

    3 - Deus Chama Hoje a Igreja a Ser Como Foi para os Puritanos

    Vivemos dias muito parecidos com aqueles em que viveram os puritanos após a Reforma Protestante levada a efeito por Lutero, Calvino e muitos outros no século XVI.

    Com os passar dos anos a Reforma não somente perdeu vigor pelo retorno de muitos na Igreja à prática do mundanismo, como também a própria Reforma não havia avançado muito em purificar a Igreja de todas as práticas cerimoniais da Igreja Romana. Os puritanos desejavam e lutaram por uma igreja pura, conforme é apresentada na Bíblia e especialmente no Novo Testamento. Antes e além de quaisquer tradições ou mandamentos de homens eles pregavam e vivam os mandamentos de Cristo, exatamente como estão registrados na Bíblia.

    Não admira que tenham se levantado contra eles muitos opositores da parte do Inimigo, que lhes perseguiram implacavelmente, a ponto de 2.000 pastores puritanos terem sido expulsos de suas igrejas pelo chamado Ato de Conformidade promulgado pelo parlamento inglês em 1662.

    A mão do Senhor estava em tudo aquilo para manter a pureza do evangelho e da Sua igreja, e em consequência daquele ato muitos saíram como missionários pelo mundo, e particularmente para os Estados Unidos, que na época ainda era uma colônia da Inglaterra.

    Aqueles pastores tiveram verdadeiros e grandes gigantes espirituais, homens santos e piedosos como Richard Baxter, Richard Sibbes, John Owen, Thomas Manton, Thomas Watson, Thomas Hokker, Thomas Bostons, Thomas Goodwin, dentre muitos outros cujas vidas foram inspiradoras para muitos homens de Deus do futuro como por exemplo Jonathan Edwards, George Whitefield e Spurgeon.

    Eles tiveram a coragem de manter uma vida santa em defesa do puro evangelho de Cristo contra toda oposição que sofreram da chamada Igreja Institucional. Se uns poucos deles não se tornaram independentes, não por não se associarem fraternalmente a outros pastores, mas por não se sujeitarem a nenhuma organização denominacional, eles viveram, no entanto em suas denominações não segundo as leis dos homens que contrariavam os princípios da Bíblia, mas procurando em tudo serem achados fiéis em não negarem a Palavra de Cristo no menor dos Seus mandamentos.

    O liberalismo que invadiu a Igreja em meados do século XIX, por influência do humanismo, e que prevaleceu dali em diante por todo o século XX, fazendo com que a maioria dos protestantes professos assumissem uma mera religiosidade associada a um viver segundo o mundo, foi balançada no início do século com os avivamentos de Gales e da Rua Azuza e com outros avivamentos do Espírito que chamou a Igreja à posição da qual nunca deveria ter saído, mas isto não atingiu a maioria das denominações ditas tradicionais, senão que foram formadas novas associações de crentes, em igrejas independentes, e que estavam dispostos a viverem uma vida cheia do Espírito e de acordo com as leis de Cristo e não propriamente com as leis e tradições dos homens.

    As chamadas Igrejas que não davam boa acolhida ao Espírito não eram acolhidas por eles, porque afinal a dispensação em que vivemos é dispensação do Espírito Santo, que tem sido derramado em todas as nações desde o dia de Pentecostes em Jerusalém.

    Hoje, além de despertar nos crentes piedosos o mesmo desejo por uma vida que seja cheia do Espírito Santo, Deus tem também despertado seus corações para serem como foram os puritanos, isto é, pessoas dispostas a renunciarem a tudo para fazerem valer e manter a verdade das Escrituras.

    Para expor um pouco mais este espírito puritano, destacamos a seguir algumas citações de D. M. Lloyd Jones acerca deles:

    É justamente aqui que nos diferenciamos da maioria das pessoas da Igreja Cristã na época atual. Seguramente, então, isso é uma coisa que devemos asseverar, proclamar e defender a todo custo – este evangelho puro, esta palavra do evangelho. E não toleraremos nenhuma concessão com respeito a isto..

    Eles não procuravam resolver os seus problemas formando movimentos, cada um deles estava interessado na Igreja..

    É seguramente neste ponto que precisamos aprender esta grande lição dos puritanos – a absoluta importância da pureza da Igreja, especialmente da questão de doutrina. Implícita nisso, naturalmente, está a necessidade de disciplina. Será certo tolerar na mesma Igreja pessoas cujas ideias sobre pontos essenciais da fé são diametralmente opostos? Será certo pertencermos juntamente ao mesmo grupo, que se chama Igreja, com homens que negam quase tudo pelo que lutamos? Seria certo, à luz do ensino do Novo Testamento, que consideremos tais pessoas como irmãos, simplesmente porque foram batizados na infância? Seria isso compatível com o ensino do Novo Testamento com relação à Igreja, à sua pureza, à sua disciplina e à sua vida? Tais questões têm que ser matérias de consideração prioritária e primordial para nós, se realmente levamos a sério os puritanos, se damos séria atenção ao seu ensino sobre a consciência, sobre a necessidade de sermos escrupulosos e de levarmos a efeito o que acreditamos ser a verdade, sejam quais forem as consequências..

    A consciência puritana não pode ser subornada, não pode ser embainhada pela afabilidade, pela gentileza e pela bajulação dos homens. Ela na diz: você sabe, alguns destes outros homens são muito mais finos que a nossa gente.. Ela percebe tudo isso, e enxerga além. Foram feitas tentativas dessa maneira para dividir o grupo puritano, oferecendo primazia a alguns dos seus líderes; mas a oferta foi rejeitada e recusada rígida, severa e conscienciosamente. Estes homens não podiam ceder nestas questões; as suas consciências não podiam ser compradas. Preferiam ir para o deserto e submeter-se ao sofrimento que a tantos acompanhou, e de terrível maneira. Isso, digo eu, é a consciência puritana em ação, o escrúpulo, o cuidado, e particularmente o cuidado não somente de ter o conceito certo, e sim, de agir baseado nele, fossem quais fossem as consequências..

    Veja o que LLoyd Jones escreveu em 1963:

    "Cisma (causar divisão) é um termo que é usado invariavelmente por qualquer igreja ou corporação da qual saiu um grupo para formar uma nova igreja.

    Chamo a atenção para isso porque já está indo de boca em boca, e podemos estar certos de que, se o movimento ecumênico chegar a desenvolver a grande igreja mundial da qual tanto gostam de falar bem, então será este o termo (cismático) que será lançado contra todo aquele que se recusar a ser parte integrante daquela organização gigantesca. Sinto, pois, que é nosso dever preparar as nossas mentes de antemão. Seja qual for a verdade agora, certamente acontecerá então que seremos acusados de cisma, e é certo que devemos ter clara percepção quanto a isso, e que devemos instruir o povo a quem temos o privilégio de servir, sobre esta importantíssima questão. Cisma é um grande pecado, é coisa muito grave. Ninguém deveria fazer-se culpado de cisma e, portanto, devemos compreender com clareza o que é exatamente cisma."

    John Owen escreveu um grande tratado sobre cisma para mostrar que não é por sermos uma igreja independente que somos cismáticos, mas por causarmos divisões em igrejas que seguem a verdade do evangelho, de maneira que aqueles que andam desviados da verdade do evangelho, sendo líderes de igrejas, denominações, corporações, não podem acusar a ninguém que saia do meio deles de cismáticos, porque eles próprios que se afastaram de Cristo, por não viverem segundo o evangelho; e a própria Bíblia ordena que todo crente fiel se aparte daquele que andar de modo desordenado contra a doutrina de Cristo. Mais do que defender as igrejas independentes, Owen estava interessado na verdade relativa à natureza da Igreja. Esse era o seu grande interesse, e deve ser também o nosso por causa da necessidade dos dias em que temos vivido, que são muito parecidos aos que Owen havia vivido.

    Como as igrejas independentes eram acusadas pelas denominações de serem cismáticas, Owen escreveu para defender os independentes, porque ele mesmo havia sido dantes presbiteriano. Eis alguns de seus argumentos narrados por LLoyd Jones:

    "Owen quando mais jovem, publicara uma vez um livro sobre toda a questão da natureza da Igreja, e nessa obra fora favorável ao ponto e vista presbiteriano. Por isso, quando ele publicou este tratado sobre cisma, um certo senhor Cawdrey, um presbiteriano, atacou-o violentamente, dizendo que ele estava contradizendo inteiramente o que dissera naquele livro anterior. Owen sentiu profundamente esta acusação.

    Todavia não contesta com espírito amargo, mas, ao fazer sua réplica a Cawdrey, dá-se ao trabalho de dizer-nos quando afinal se tornou independente. Ao examinarmos isto, veremos algo da grandeza deste homem. O problema sobre a questão geral o cisma é, como ele assinala repetidamente, que as pessoas defendem a posição em que se acham. Cerram a mente, não se dispõem a ouvir, a receber instrução, a mudar. Owen foi suficientemente grande para mudar de opinião e para mudar de uma posição para outra.".

    Este modo de examinar imparcialmente todas as coisas pela Palavra, comparando causas com causas e coisas com coisas, pondo de lado toda consideração preconceituosa para com pessoas ou tradições presentes, é um procedimento que eu admoestaria todos a evitarem caso não queiram tornar-se independentes.

    É pelas Escrituras como nossa regra, entendemos as suas palavras expressas e tudo que delas se pode deduzir, por consequência justa e legítima.

    O Senhor nos tem dado portanto, especialmente pelos puritanos uma firme e excelente defesa do significado verdadeiro das Escrituras.

    4 - John Owen

    Nem Toda Separação de Igrejas é Cisma (divisão)

    Tradução e adaptação de Citações do Tratado de John Owen sobre cisma feitas pelo Pr Silvio Dutra, com comentários e notas inseridos pelo tradutor.

    (Não são poucos os casos presentes em que vários cristãos genuínos, nascidos de novo do Espírito, se encontrem em perplexidade e dor quanto à dificuldade que têm experimentado quanto a encontrarem uma igreja que se empenhe em preservar o culto de adoração a Deus conforme ele se encontra instituído nas Escrituras.

    E à medida que avança no tempo a apostasia dos princípios bíblicos a tendência desse quadro é a de ser cada vez mais agravado.

    Seria então importante, pelo menos, para alívio de nossas consciências, conhecer as condições em que não somos considerados culpados de divisão do corpo de Cristo, segundo Deus e a Bíblia, quando deixamos uma Igreja que não quer e que não pode ser trazida àquela forma que foi instituída por Jesus e seus apóstolos.

    Assim, tomamos algumas citações do tratado que John Owen escreveu sobre o assunto, no intuito de acharmos respostas adequadas para esta importante questão.

    OBS.: 1 - A palavra cisma, usada no texto está restringida ao significado de divisão, separação, pela ação deliberada de cristãos que agem contra a unidade de uma igreja verdadeira e fiel. É uma transliteração da palavra usada no original grego, schisma, como em I Cor 11.18: Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões (schisma) entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio., e em I Cor 12.25: para que não haja divisão (schisma) no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.

    2 - Em razão de serem abundantes as citações que faremos dos textos de Owen, estamos dispensando o uso de aspas para marcá-las, e todas as notas do tradutor se encontram entre parêntesis. – nota do tradutor.)

    O término das diferenças entre cristãos é como abrir os selos citados no livro de Apocalipse; não há ninguém capaz ou digno de fazê-lo no céu ou na terra, mas somente o Cordeiro; quando usará a grandeza do seu poder para isto, e então será realizado, e não antes.

    Nesse meio tempo, buscar uma reconciliação entre todos os verdadeiros cristãos é nosso dever... Quando os homens estiverem trabalhado tanto no melhoramento do princípio da tolerância, tanto quanto têm feito para subjugar outros homens de opiniões diferentes das suas, a religião de Cristo terá um outro aspecto no mundo.

    (Pode parecer um paradoxo afirmar que não se verá neste mundo o término das diferenças entre os cristãos, mas que é nosso dever buscar a união entre todos os cristãos. Todavia não se trata de um paradoxo, porque aqui se expõe o mesmo princípio do dever da perfeição que nos é imposto por Cristo, e que nunca alcançaremos de modo absoluto neste mundo. O Espírito Santo que habita nos cristãos é quem os leva a buscarem esta perfeição em santificação, e é também quem faz com que amem a todos os demais que também nasceram de novo pelo mesmo Espírito.

    Portanto, nosso Senhor orou pela unidade de todos os cristãos como vemos no 17º capítulo de João, e o apóstolo Paulo enfoca repetidamente que somos muitos membros de um só corpo, e que é o amor de Deus em nossos corações o vínculo, o cimento, que nos mantém unidos em espírito.

    Nosso Senhor afirma ser o Pastor de um só rebanho, e que ele deve ser e será um único rebanho, e daí decorre o nosso dever de estarmos abertos para a unidade com todos aqueles que se encontram debaixo do senhorio de Cristo, não apenas em palavra, mas de fato e em verdade, por não viver na prática do pecado e por buscar preservar a comunhão na fé, no Espírito e na doutrina.

    Unidade pressupõe concordância, de modo que onde não houver acordo na doutrina, ou falta de submissão à influência, direção e instrução do Espírito Santo, e a fé que é sobretudo confiança absoluta em Cristo e nas suas promessas e advertências, como poderá ser promovida a unidade pela qual ele orou? – nota do tradutor).

    A natureza do cisma deve ser determinada apenas a partir das Escrituras.

    O cisma é um transtorno na adoração de Deus instituída nas Escrituras. A sua descoberta e descrição é feita a partir das Escrituras, e é somente nelas que o cisma deve ser estimado, porque há outras coisas que são da mesma natureza e assim chamadas, mas que não são cisma se não têm nas Escrituras nem o nome e nem a sua natureza atribuídos por elas.

    (Nota: nenhuma instituição religiosa da cristandade pode atribuir a si a primazia de unidade pelo critério da tradição ou antiguidade da sua organização, e nem considerar todas as demais instituições ou congregações cristãs que não estejam a elas associadas, como sendo cismáticas. Divisões (cisma) reais contra a unidade do corpo de Cristo estão exemplificadas na Bíblia, no comportamento de alguns membros da Igreja de Corinto, e ali se dá testemunho sobre qual era o caráter da referida divisão – nota do tradutor).

    As diferentes opiniões sobre os assuntos da Igreja, levaram os cristãos coríntios à confusão das disputas e formação de partidos, e Paulo lhes disse que não convinha que fosse assim, a saber, que houvesse divisões entre eles, que consistiam em tais diferenças, mas que estivessem unidos na mesma mente e que tivessem o mesmo parecer. Eles não deveriam apenas estar unidos na mesma ordem e companheirismo na mesma igreja, mas também deveriam ter unidade de mente e de julgamento; porque se não procedessem desse modo, embora continuassem juntos em sua igreja, ainda haveria cismas entre eles.

    Este era o estado daquela igreja, este era o quadro e procedimento de seus membros, esta era a falta e o mal a respeito dos quais o apóstolo os acusou de cisma, e da culpa em razão da mesma.

    Os motivos, pelos quais ele os reprovou são fundamentados, no interesse comum em Cristo, I Cor 1.13; na nulidade dos instrumentos (pessoas) usados por Deus na propagação do evangelho que ele pregou, I Cor 1.14; 3.4,5; na ordem na Igreja instituída por Deus, I Cor 12.13.

    Assim sendo, como eu disse, a base principal de tudo que é ensinado na Escritura sobre cisma, temos aqui, ou quase tudo para aprender o que ela é, e em que ele consiste. Quanto às definições arbitrárias dos homens, com suas invenções e inferências sobre isto, não estamos preocupados.

    Para mim não há outra reforma de qualquer igreja, nem qualquer coisa numa igreja, que não seja restituí-la à sua primitiva instituição e à ordem a ela determinada por Jesus Cristo. Se alguém pleitear qualquer outra reforma das Igrejas, deverá ser censurado. E quando qualquer sociedade ou agremiação de homens não for capaz de fazer tal restituição e renovação, suponho que não provocarei nenhuma pessoa sábia e sóbria, se declarar que não posso considerar essa sociedade como uma igreja de Cristo. Uma igreja que não consegue reformar-se daquela maneira, não é uma igreja de Cristo, e por isso aconselho aqueles que nela estão e que têm direito aos privilégios obtidos por Cristo para eles, quanto às ministrações do evangelho, a tomarem alguma outra medida pacífica para se tornarem participantes desses privilégios.

    Alguns estão dispostos a pensar que todos os que não se juntam a eles são cismáticos, e que o são porque não os acompanham; e outra razão não têm, sendo incapazes de oferecer algum sólido fundamento daquilo que eles professam. Não é fácil expressar o que a causa da unidade do povo de Deus sofreu às mãos destes tipos de homens.

    Enquanto eu tiver uma consoladora convicção firmada numa base infalível, de que estou unido à cabeça e de que, pela fé, sou um membro do corpo místico de Cristo, enquanto eu fizer profissão de todas as necessárias verdades salvadoras do evangelho; enquanto eu não perturbar a paz da igreja particular da qual, com meu consentimento pessoal, sou membro, nem levantar diferenças sem causa, nem nelas permanecer, com aqueles ou com alguns daqueles com quem ando na comunhão e ordem do evangelho, enquanto eu me esforçar para exercer a fé para com o Senhor Jesus Cristo e o amor para com todos os santos – eu manterei a unidade que é da determinação de Cristo. E, com base em princípios totalmente alheios ao evangelho, digam os homens o que quiserem ou puderem em contrário, não sou cismático.

    Eu trato, como disse, com os que são reformados; e agora suponho que a igreja, da qual se supõe que um homem é membro, não queira ser reformada – neste caso pergunto se se trata de cisma certo número de homens reformar-se, voltando à prática do serviço divino na forma como fora instituída, embora seja uma parte mínima dos pertencentes à jurisdição paroquial, ou se juntarem alguns deles a outros com esse fim e propósito, deixando de viver sob aquela jurisdição? Direi ousadamente que esse cisma é ordenado pelo Espírito Santo – I Tim 6.5; II Tim 3.5; Os 4.15 etc. Terá sido lançado por Cristo sobre mim este jugo, que, para ir ao lado da multidão entre a qual eu vivo, que odeia ser reformada, devo abandonar o meu dever e desprezar os privilégios que Ele adquiriu para mim com o Seu precioso sangue? Será esta uma unidade da instituição de Cristo, que eu deva associar-me para sempre com homens ímpios e profanos no serviço de Deus, para o indescritível detrimento e desvantagem da minha alma? Suponho que não haja nada que seja mais irrazoável do que imaginar de antemão tal coisa.

    (Owen afirma que o caráter da unidade da Igreja é espiritual e daí a ordem apostólica para se manter a unidade da fé pelo vínculo da paz. O conhecimento disto é de suma importância para que saibamos distinguir desvio da verdade de prática diferenciada de ordem de culto, normas ou disciplina nas igrejas que não devem ser motivo para que alguém se separe delas. Mas, como são extrabíblicas ninguém pode afirmar também que a unidade da igreja deve consistir na prática destas coisas referidas, como é comum ocorrer. Por exemplo, nenhum pastor pode pretextar que haja falta de unidade na igreja que dirige porque os cristãos não comparecem às festividades que é hábito da congregação comemorar, ou que seja um ato autoritativo da parte dele. E isto se aplica às formas de adoração pública e a todos os demais serviços prescritos, inventados ou ordenados pelo homem e não constantes das Escrituras. – nota do tradutor)

    Negamos que os apóstolos tenham feito ou dado quaisquer regras para as igrejas dos seus dias, ou para uso das igrejas das eras futuras, a fim de indicarem e determinarem modos externos de culto, com a observância das cerimônias, das festas e jejuns estabelecidos, além do que é de divina instituição, liturgias ou formas de oração, ou disciplina a serem exercidas nos tribunais subservientes a um governo eclesiástico nacional. Então, de que utilidade elas são ou podem ser, que benefício ou vantagem pode advir à Igreja por meio delas, qual a autoridade dos magistrados superiores com respeito a elas, não podemos pesquisar ou determinar agora. Só dizemos que nenhuma regra para estes fins jamais foi prescrita pelos apóstolos, pois:

    1. Não há a mínima insinuação de que alguma regra desse tipo foi dada por eles nas Escrituras.

    2. As primeiras igrejas depois do tempo deles, nada sabiam de qualquer regra dessas dadas por eles; e, portanto, depois que elas começaram a afastar-se da simplicidade em coisas como o culto, a ordem e as normas ou a disciplina, elas se entregaram a uma grande variedade de observâncias externas, ordens e cerimônias, quase todas as igrejas diferindo numa ou noutra coisa umas das outras, nalgumas dessas observâncias, não obstante todas mantendo a unidade da fé pelo vínculo da paz. Elas não teriam feito isso, se os apóstolos tivessem prescrito certa regra à qual todas deveriam adaptar-se, especialmente considerando quão escrupulosamente elas aderiam a tudo quanto era relatado como tendo sido feito ou dito por qualquer dos apóstolos, fosse o relato falso ou verdadeiro.

    Primeiro, a unidade que nos é recomendada no evangelho é espiritual.

    Segundo, para este fundamento da unidade do evangelho entre os cristãos, pelo seu melhoramento e para este, requer–se uma unidade de fé.

    Terceiro, há uma unidade de amor.

    Quarto, Cristo Senhor, por Sua autoridade como Rei, instituiu ordens para o governo, e ordenanças para o culto (Mat 28.19,20. Ef 4.8-13) para serem observadas em todas as Suas Igrejas.

    Essa é a natureza da união. Em seguida surge a questão: como se deve preservar essa união? Aqui ele tem algumas coisas excelentes para dizer.

    Ora, para que esta união seja preservada, requer-se que todas aquelas grandes e necessárias verdades do evangelho, sem cujo conhecimento ninguém pode ser salvo por Jesus Cristo, sejam cridas e igualmente sejam externas e visivelmente professadas, naquela variedade de modos pelos quais eles são ou podem ser chamados para isso" - Aqui Owen está contemplando principalmente as doutrinas da graça (eleição, justificação pela graça mediante a fé, regeneração etc) muito mais do que os mandamentos da lei de Moisés, porque uma Igreja deve primar pela graça e verdade reveladas em Cristo mais do que pela Lei que foi dada através de Moisés.

    Não haverá união, se não houver acordo sobre as verdades do evangelho. É uma união espiritual, porém é também uma união de fé. Se houver desacordo acerca da fé, não haverá união entre o evangélico e o homem que nega os pontos essenciais da fé evangélica. É impossível.

    Por exemplo, um pastor pelagiano que afirme a salvação pelas obras, como pode ter a direção sobre um rebanho que afirme a verdade de que a salvação é pela graça somente mediante a fé, sem as obras? Como pode haver reconciliação neste caso? A separação já está determinada pela própria negação da verdade bíblica.

    Não somente é preciso que não haja desacordo aberto, explícito; também é preciso que não haja nenhum desacordo implícito.

    Que nada seja opinião, erro ou falsa doutrina, que perverta ou desfaça qualquer das verdades necessárias e salvadoras professadas nos termos acima referidos, seja acrescentado a essa profissão, ou nela incluído, ou deliberadamente professado também.

    Não há, em relação à igreja de Corinto, nenhuma menção de qualquer homem em particular, ou qualquer número de homens que se separaram das reuniões de adoração de suas respectivas igrejas, nem discorre o apóstolo sobre qualquer coisa a seu cargo, mas claramente declara que todos os coríntios continuaram na participação da adoração e obrando juntos os serviços da Igreja, sem causar diferenças entre si, como vou mostrar depois. Todas as divisões de uma igreja em relação a outra, ou de outras, em relação a uma qualquer, ou pessoas de qualquer igreja ou igrejas, são coisas de outra natureza, podem ser boas ou más dependendo das circunstâncias, e nem tudo o que há no relato das Escrituras sobre isto não pode ser chamado pelo nome de cisma, e por isso elas não se referem a estas divisões pelo citado nome, como por exemplo as muitas seitas do antigo judaísmo, que eram apóstatas, mas não cismáticos, e nisto podem ser incluídos os próprios samaritanos que adoravam o que eles não conheciam, João 4.22.

    (De igrejas em relação a igrejas podemos citar o exemplo da igreja da circuncisão e a da incircuncisão, entregues respectivamente ao cuidado dos apóstolos em Jerusalém, e a Paulo para a igreja dos gentios, e no entanto não se fala e não deve ser falado que a igreja dos gentios era cismática em relação à que havia em Jerusalém. – nota do tradutor).

    Para que haja o pecado de cisma, quanto a todos os que estiverem debaixo desta culpa, é necessário:

    1. Que sejam membros, ou pertençam a alguma igreja, que é assim instituída e nomeada por Jesus Cristo.

    2. Que levantem, entretenham e persistam em diferenças sem causa com outros daquela igreja, para interromper o exercício do amor que deve existir entre eles, em todos os seus frutos, e a perturbação do devido exercício das funções necessárias da igreja, na adoração de Deus.

    3. Que essas diferenças sejam ocasionadas por coisas que sejam contrárias à adoração de Deus.

    O cisma não é contado como algo contra as pessoas dos demais cristãos ou mesmo dos oficiais da Igreja, mas sempre é um desprezo da autoridade de Jesus Cristo, o grande soberano Senhor e cabeça da Igreja. Quantas vezes ele nos mandou suportarmos uns aos outros, e para nos perdoarmos mutuamente, para que tendo paz entre nós, possamos ser conhecidos como seus discípulos.

    (Não podem ser considerados como cismas as eventuais discórdias entre cristãos, porque estas podem e devem ser tratadas pelo exercício da longanimidade e do perdão, conforme somos ordenados pelo Senhor em sua Palavra – nota do tradutor).

    A sabedoria pela qual nosso Senhor tem ordenado todas as coisas em sua igreja, com o propósito definido, de prevenir cisma - divisão, não deve ser desprezada. Cristo, que é a sabedoria do Pai, 1 Coríntios 1.24, a pedra sobre a qual estão sete olhos, Zac 3.9, sobre cujos ombros está posto o governo, Isa.9.6,7, tem em sua infinita sabedoria assim ordenado que todas as funções, ordens, dons, e administrações de, e em sua igreja, de tal maneira que o mal não possa ter qualquer lugar. Manifestar isto, é o desígnio do Espírito Santo, Rom 12.3-9; 1 Coríntios 12; Ef 4.8-14. A consideração em particular desta sabedoria de Cristo, adequando os oficiais de sua igreja, em relação aos lugares que ocupam, da autoridade com que são investidos por ele, a forma em que eles são inseridos em sua função, distribuindo os dons de seu Espírito em variedade maravilhosa, em vários tipos de utilidade, e em tal distância e dessemelhança dos membros particulares, conforme a devida e correspondente proporção dando formosura e beleza ao todo, dispondo a ordem de sua adoração, e as ordenanças diversas em especial, para serem expressivas do maior amor e união, direcionando todos eles contra essas divisões sem causa, e para que possam ser usados com este propósito.

    A graça e a bondade de Cristo, pelas quais ele tem prometido nos dar um só coração e um só caminho, para nos dar a paz, que o mundo não pode dar, com inúmeras outras promessas de semelhante importância, são desconsiderados portanto, quando há cisma.

    Até que ponto o exercício do amor é obstruído por isso, que tem sido declarado. A consideração da natureza, excelência, propriedade, efeitos e a utilidade desta graça do amor em todos os santos em todas as suas formas, a sua designação especial por nosso Senhor e Mestre, para ser o elo de união e perfeição, na forma e ordem instituídas para a celebração graciosa das ordenanças do evangelho, irá adicionar peso a esta agravação, a saber, ao cisma.

    O seu constante crescimento (do cisma) para um mal ainda maior, e, em alguns a apostasia de si mesmos, implica seu término normal em contendas, debates, más suspeitas, iras, confusão, distúrbios públicos e privados, também são estabelecidos à sua porta.

    (Temos visto até aqui que o cisma é algo que é inerente ao comportamento humano, e como não há em qualquer igreja, o poder implícito para ter domínio sobre a fé dos fiéis, e moldá-los àquela perfeição espiritual que agrada a Deus, e como não há também a necessidade de que as pessoas devam renunciar aos seus respectivos interesses civis para serem membros de uma igreja, então, não se pode determinar pela análise do conjunto de membros se uma igreja é cismática ou não, até mesmo porque sempre haverá o joio em qualquer congregação local. Se aqueles que estão encarregados em dirigir os assuntos da igreja, e os demais membros que se mantêm fiéis à Palavra, mantêm o padrão bíblico das sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e dos seus apóstolos, inclusive pelo testemunho de prática de suas próprias vidas, suas igrejas não podem ser chamadas de cismáticas, e muito menos de apóstatas, caso haja nela membros ou pessoas na citada condição, as quais a propósito devem ser submetidas à disciplina prescrita por Cristo, tão logo chegue ao conhecimento público o procedimento de tais pessoas insubordinadas à regra de Cristo.

    Os protestantes são acusados pela igreja Romana de cismáticos; os puritanos independentes e não conformistas eram acusados pela Igreja Nacional da Inglaterra – Anglicana, também de cismáticos, e o argumento sempre foi e será este de não estarem simplesmente compondo os seus quadros. E o mesmo critério é usado por denominações cristãs quando há a migração de crentes ou mesmo congregações para outras denominações ou para a forma independente de reunião, conforme era a da maioria dos puritanos dos séculos XVI a XVIII – nota do tradutor).

    Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. (Hebreus 10.25)

    A separação e o abandono da comunhão daquela igreja, ou daquelas igrejas, pela parte de homens que tinham se reunido para a adoração de Deus, é a culpa aqui colocada sobre alguns pelo apóstolo. Aos que assim se apartaram é declarado no verso 26: Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados;.

    Tendo retirado os seus pescoços de debaixo do jugo de Cristo, verso 28, e recuando para a perdição, verso 39, isto é, eles partiram para o judaísmo. Eu muito me pergunto, se alguém pensaria em chamar essas pessoas de cismáticas, ou se nós assim as julgamos, ou assim falamos em relação a qualquer pessoa, que nestes dias, tenha abandonado nossas igrejas, e que voltaram para o mundo - tais partidas tornam os homens apóstatas e não cismáticos. Deste tipo são mencionados muitos nas Escrituras. Também não são nem um pouco contados como cismáticos, não porque o crime menor é engolido e afogado no maior, mas porque o seu pecado é totalmente de outra natureza.

    De alguns, que abandonaram a comunhão da igreja, pelo menos por um tempo, por seu caminhar desordenado e irregular, temos também mencionado. O apóstolo chama, de rebelde, ou pessoas desordenadas, ou seja, que não seguem em obediência à ordem prescrita por Cristo para suas igrejas, como vemos em 2 Tes 3.6:

    Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;.

    Dessas pessoas desordenadas temos muitas em nossos dias, em que vivemos, cujo comportamento não classificamos por cisma, mas vaidade, insensatez, desobediência aos preceitos de Cristo em geral.

    Os homens também se separam das igrejas de Cristo por conta de sensualidade, quando livremente cedem aos seus desejos e vivem em todos os tipos de prazer carnal por todos os seus dias; Judas 19. Estes são os que produzem divisões, homens sensuais, que não têm o Espírito. Quem são estes? Aqueles que transformam a graça de Deus em lascívia e que negam o Senhor Deus e nosso Salvador Jesus Cristo., verso 4. Que contaminam a sua carne, à maneira de Sodoma e Gomorra - versos 7 e 8. Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem., verso 10; estes são os que causam divisões, diz o apóstolo.

    Agora, que os homens que praticam estas abominações e outras citadas por Judas em sua epístola, são cismáticos, não é difícil de se julgar.

    Mas nenhum desses casos abrangem o caso indagado, de modo que eu digo, que quando uma pessoa se retira da comunhão externa e visível de qualquer igreja ou igrejas, seja ela verdadeira ou não, nas quais o culto, doutrina e disciplina, instituídos por Cristo estão corrompidos entre eles, corrupção com a qual tal pessoa não se atreve a se contaminar, ele não está em cisma, e nem a Escritura assim o define.

    O que pode regularmente, por outro lado, ser deduzido das ordens dadas para nos afastarmos daqueles que têm apenas uma forma de piedade, 2 Tim 3.5; também daqueles que andam desordenadamente, 2 Tes 3.6; e ainda de não termos comunhão com homens de princípios corruptos, e vidas perversas, Apo 2.14; a sairmos de uma igreja apóstata, Apo 18.4, para que possamos adorar a Cristo de acordo com a sua mente e designação, que é a força desses mandamentos citados.

    Só há cisma, quando a separação quebra o vínculo de união instituído por Cristo.

    Agora esta união sendo instituída na igreja, de acordo com as várias acepções desta palavra, é distinta. Portanto, para uma descoberta da natureza disso que é particularmente falado, e também o seu contrário,

    devo mostrar,

    1. As várias considerações da igreja, onde, e com o que, a união deve ser preservada.

    2. O que a união é, e no que consiste de acordo com a mente de Cristo que devemos guardar e observar junto com a igreja.

    3. E como esta união é quebrada, e qual é o pecado através do qual isto é feito.

    A Igreja de Cristo vive neste mundo de três maneiras.

    1. Pelo corpo místico de Cristo, seus escolhidos, redimidos, justificados, santificados e de todo o mundo, comumente chamados de igreja católica militante.

    2. Pela universalidade dos homens no mundo inteiro, chamados pela pregação da palavra, visivelmente professando e rendendo obediência ao evangelho; chamados por alguns de igreja católica visível.

    3. Por uma igreja particular de algum lugar, onde o culto instituído por Deus em Cristo é celebrado de acordo com a Sua vontade.

    Etimologicamente, a palavra igreja, é vertida do grego ekklesia, que significa uma sociedade de homens chamados para fora do mundo; Rom 8.28. A Igreja deve ser distinguida de acordo com a sua resposta e obediência a essa chamada de Deus.

    No primeiro sentido, a palavra é usada em Mat 16.28. Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Esta é a igreja dos eleitos, reconciliados, justificados, santificados, que são edificados em Cristo; e estes somente, e todos estes estão interessados na promessa feita à igreja, não há promessa feita à igreja como tal, em qualquer sentido, mas é particularmente feita nEle, a todo aquele que é verdadeira e propriamente uma parte e membro desta igreja, João 6.40; 10.28,29; 17.20,24. Aqueles que vão aplicar isso à igreja em qualquer outro sentido, devem saber que cabe a eles cumprir a promessa feita a ela a cada um que for um verdadeiro membro da igreja. Neste senso devem cumprir Ef 5.25-27: Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.

    Ele fala apenas daqueles a quem Cristo amou antecedentemente à sua morte por eles, da qual o seu amor por eles foi a causa, e quem são eles é declarado em João 10.15; 17.17. E para quem, por sua morte, ele operou os efeitos mencionados, lavando, limpando, e santificando, trazendo-os para a condição prometida em Apo 19.8; 21.2; Col 1.18.

    Cristo é a cabeça do corpo da igreja, e não é cabeça apenas para governo, para dar-lhe regras e leis , mas como se fosse uma cabeça natural do corpo, que é influenciado por ela, com uma nova vida espiritual.

    (Cristo, sendo a cabeça da Igreja, jamais transferiria a autoridade da sua cabeça, para Pedro, Paulo ou para qualquer outro que viesse depois deles, e nem mesmo à Igreja como um todo, porque é fato patente que a cabeça (cérebro) não pode transferir os seus comandos para qualquer outro membro do corpo. E sendo a Igreja o corpo de Cristo, ela deve permanecer para sempre nesta condição, até mesmo na eternidade. – nota do tradutor)

    Agora eu passarei à ultima consideração de uma igreja, à acepção mais comum desse nome no Novo Testamento, isto é, de uma determinada igreja instituída. Uma igreja, neste sentido, eu considero ser uma sociedade de homens, chamados pela palavra à obediência da fé em Cristo, e à atuação conjunta do culto de Deus, nas mesmas ordenanças individuais, de acordo com a ordem prescrita de Cristo.

    Esta descrição geral exibe sua natureza. Esta era como a da igreja em Jerusalém, que foi perseguida, Atos 8.1. Esta foi a igreja que Saulo assolava, verso 3, a igreja que foi atormentada por Herodes, Atos 12.1 . Assim era a igreja em Antioquia, que se reunia em um só lugar , Atos 12.14, onde havia diversos profetas, Atos 13.1. Como a de Jerusalém tinha os anciãos e os irmãos, Atos 15.22. Os apóstolos ou alguns dos seus enviados, estiveram lá presentes. Então, não necessitamos adicionar qualquer outra consideração à igreja da qual estamos falando.

    Temos também a igreja de Cesareia, Atos 18.22; Éfeso, Atos 20.14,28; Corinto, 1 Coríntios 1.2; 6.4,11,12; 14.4,5; 2 Coríntios 1.1 e todas as demais que Paulo chama de as igrejas do Gentios, Rom 16.4, em contraste com as dos Judeus, e as chama indistintamente de as igrejas de Deus ou de Cristo, Rom 16.16; 1 Coríntios 7.17; 2 Coríntios 8.18,19,23; 2 Tessalonicenses 1.4, e em diversos outros lugares. Assim, lemos também de muitas igrejas em um país, como na Judeia, Atos 9.1; na Ásia, 1 Coríntios 16.19; na Macedônia, 2 Coríntios 8.1; na Galácia, Gál 1. 2; as sete igrejas da Ásia, Apo 1.11.

    Suponho que nesta descrição de uma igreja particular eu tenho não somente o consentimento delas para fazê-lo quanto a todos os tipos de igrejas, como também o seu reconhecimento de que estes eram os únicos tipos de igrejas dos primeiros dias do Cristianismo.

    O número de crentes, mesmo em grandes cidades era tão pequeno, que podiam se reunir num mesmo lugar, e estes eram chamados de a igreja da cidade, e o modelo era congregacional e não diocesano.

    E é este o estado que uma determinada igreja particular instituída deve pleitear. No decorrer do tempo, com os crentes se multiplicando, aqueles que tinham sido de uma só congregação se reuniram em várias assembleias, por uma distribuição decidida entre eles, para celebrar as mesmas ordenanças, e não houve uma disputa dos anciãos da igreja de onde eram originários, com aqueles aos quais estavam ligados agora numa nova região.

    De acordo com o curso do procedimento até agora apresentado, dizemos que a unidade da Igreja neste sentido, não foi rompida ou violada, conforme podemos ver depois de eu ter apresentado como premissa algumas poucas coisas para comprová-lo:

    1. Um homem pode ser membro da Igreja Católica de Cristo, estar unido a ela pela habitação do seu Espírito, e participar da vida dele, que em razão de algum obstáculo Providencial, nunca se una a qualquer congregação particular, para a participar das ordenanças, por todos os seus dias.

    2. De igual forma, ele pode ser membro da igreja considerada como professante visivelmente, vendo que ele possa fazer tudo que é requerido dele, sem qualquer conjunção a uma determinada igreja visível, mas ainda,

    3. Eu entendo, que todo crente está obrigado, como sendo uma parte de seu dever, se unir a alguma daquelas Igrejas de Cristo, para que nela ele possa cumprir a doutrina, e ter comunhão no partir do pão e nas orações, de acordo com a ordem do evangelho, se ele tem a oportunidade para fazer isto. Pois,

    1. Há alguns deveres que nos são impostos, e que não podem ser realizados, senão pela suposição desse dever anteriormente requerido, e ao qual estamos sujeitos, Mat 18.15-17.

    2. Há algumas ordenanças de Cristo, designadas para o bem e o benefício daqueles que creem, das quais nunca podem ser feitos participantes se não estiverem unidos a alguma igreja, como por exemplo o exercício da disciplina, e a participação da Ceia do Senhor.

    3. O cuidado que Jesus Cristo tem tomado para que todas as coisas sejam bem ordenadas nestas igrejas, dando a condição de cumprimento de qualquer dever de adoração apenas e puramente por sua instituição e operação soberana, mas somente neles e por eles, Apo 2.7.11,29; 3.6,7,12; 1 Coríntios 11.

    4 . A reunião e fundação de tais igrejas pelos apóstolos, com o cuidado que tiveram em trazê-las à perfeição, Atos 14.23; Tito 1.5.

    5. Instituição de Cristo de oficiais para elas, Ef 4.11; 1 Coríntios 11.28, chamando tal igreja de seu corpo, e atribuindo a cada um o seu dever em tais sociedades.

    6. O julgamento e condenação deles pelo Espírito Santo, como pessoas desordenadas, que devem ser evitadas, porque não andam de acordo com as regras e ordem nomeadas nestas igrejas.

    Que há um culto instituído por Deus para ser continuado sob o Novo Testamento até a segunda vinda de Cristo, acho que não precisa de muita prova.

    Deus tem determinado o modo de ser cultuado, e não vai permitir que a vontade e prudência do homem seja a medida e regra de sua honra e glória.

    Cristo tem prometido, que onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, ele vai estar no meio deles, Mat 18.20. Agora é suposto, com alguma esperança de ter ele concedido, que a Escritura é o poder de Deus para a salvação, Rom 1.16, que haja uma eficácia e energia suficientes em si mesma, para a conversão das almas.

    Apesar de todo o seu estado a igreja não cessará em qualquer lugar, e ainda a Escritura, pela providência de Deus, estará lá na mão de indivíduos preservados, ainda que sejam dois ou três, convertidos e regenerados.

    Eu pergunto se essas pessoas convertidas não podem possivelmente se reunir em nome de Jesus?

    Zac 3.10: Naquele dia, diz o SENHOR dos Exércitos, cada um de vós convidará ao seu próximo para debaixo da vide e para debaixo da figueira. Esta promessa está atrelada ao dia da manifestação do evangelho

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