Ecos do passado: Dinâmica de uma reunião mediúnica
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Ecos do passado - Eulália Bueno
Capítulo 1
Somos todos Médiuns?
Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente (característica essencial) ao homem.
(Allan Kardec em O Livro dos Médiuns — Cap. XIV — Os médiuns — item 159.)
Todos os homens são médiuns, todos tem um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo. Agora, que uns se comuniquem diretamente com ele, valendo-se de uma mediunidade especial, que outros não o escutem senão com o coração e com a inteligência, pouco importa: não deixa de ser um Espírito familiar que os aconselha.
(Allan Kardec em O Livros dos Médiuns — Cap XXXI — item X.)
E, na grande romagem, todos somos instrumentos das forças com as quais estamos em sintonia. Todos somo médiuns, dentro do campo mental que nos é próprio, associando-nos às energias edificantes, se o nosso pensamento flui na direção da vida superior, ou às forças perturbadoras e deprimentes, se ainda nos escravizamos às sombras da vida primitivista ou torturado.
(Francisco Cândido Xavier / André Luiz em Nos Domínios da Mediunidade — Raios, ondas, médiuns, mentes...)
Ao reportar-nos às afirmações de Allan Kardec acima citadas, podemos concluir que todas as pessoas, de alguma maneira, sentem a influência dos Espíritos, como frisado na pergunta 459 de O Livro dos Espíritos:
Influenciam os Espíritos em nossa vida?
Resposta: não somente influenciam como na maioria das vezes são eles que vos conduzem.
Conforme aponta a resposta dos Espíritos à Allan Kardec, não há como negar essa influência que se agrava à medida que não prestamos atenção aos pensamentos que nos chegam para uma análise justa, a fim de perceber se eles são coerentes com os acontecimentos à nossa volta. Na era da tecnologia, cada vez mais, deixamos de avaliar o que pensamos, tampouco conseguimos distinguir aquilo que nos pertence do que é sutilmente sugerido e prontamente aceito. Os desencarnados, conforme pode constatar o codificador, são as almas daqueles que ainda permanecem vinculados à Terra, ou seja, aos interesses próprios dos Espíritos imperfeitos que somos; portanto, encontrar cômpares, afins com nossos objetivos, não é tarefa difícil. Há que tomar conta, verdadeiramente, da nossa casa mental.
Relembramos o momento descrito por André Luiz no livro Nosso Lar, quando relata o choque pelo qual passaram diversas colônias espirituais, inclusive aquela, pelas vibrações descompensadas que partiam da Terra atravessando o período da Segunda Guerra Mundial, precisando permanecer vigilantes no pensamento para não se sentirem inclinados a atitudes menos dignas. Também não podemos dispensar, para maior entendimento da gravidade dessas influências, a mensagem do Dr. Barry, ínsita no Capítulo XVIII de A Gênese — [...] o mundo dos Espíritos, que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo dos encarnados...
—, para que não nos sintamos apenas vítimas das influências dos desencarnados sobre nós, mas ressaltemos sempre que também causticamos essas entidades com as características daquilo que pensamos e fazemos, às vezes agravando o estado já sofrido de muitas delas, tornando-nos algozes incapazes de avaliar o prejuízo que atiramos ao Universo.
Em casos de obsessão, imagina-se que há uma constrição compulsória do Espírito infeliz, que tenta, de todas as formas, manipular nossos pensamentos, palavras e atos, mesmo à revelia, o que não é o caso. Realmente em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXIII, item 237, encontramos a definição de obsessão como sendo o domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas
, porém nunca violentando a conduta moral daquele que foi abordado, ao contrário, vai somando esforços, aproveitando-se das tendências que já fazem parte dele. As nossas experiências espirituais, porém, formam um arquivo único que trata da identidade de cada um de nós. Não existem dois Espíritos iguais, assim sendo, também não existem duas obsessões idênticas. E refletimos ainda que, quando nos ajustamos às inclinações e desejos de um Espírito e a ele nos vinculamos por um processo obsessivo, nos tornamos demasiadamente preciosos para materializar suas vontades e ele cuidará para não vir a fragilizar esse vínculo, a fim de não nos perder, motivo pelo qual o esforço para nos desvencilharmos dessa sociedade nefasta tem de ser sempre maior a cada dia que passa.
Vivemos mergulhados num oceano de mútuas e ininterruptas vibrações que atuam reciprocamente e agasalham-nos em campos idênticos, o que provoca sustentação ou ampliação das tendências, motivo pelo qual nunca devemos dispensar a advertência de Jesus: Vigiai e orai.
Costumamos interpretar esse ensinamento de maneira errônea e simplista. Julgamos que, pelo fato de realizarmos uma prece, muitas vezes apenas formalizada por palavras, sem o sentimento verdadeiro de entrega, já estabelecemos um campo de proteção infalível que nos coloca acima de qualquer influência menos feliz.
Jesus, porém, advertiu-nos que era necessário antes de tudo vigiar
, que significa tomar conta dos nossos pensamentos e atitudes, avaliar se são coerentes. Noutras palavras, estabelecer critérios para aceitar e realizar qualquer coisa de forma a perceber a sua utilidade geral e não apenas particular, o que nos preserva do egoísmo. Vigiar é acima de tudo ponderar sobre a nossa conduta moral, que vai além de necessidades ou conveniências pessoais.
Somos seres gregários. Nossas necessidades evolutivas nos fazem agrupar em famílias e sociedades diversas. Para sermos aceitos nos grupos, absorvemos atitudes por eles adotados, ainda que contrárias à razão ou que firam profundamente a moral, numa conivência por vezes deprimente.
É por isso que Jesus nos conclama a sermos o sal da Terra, advertindo-nos que não devemos perder a nossa integridade como o sal não perde o sabor, misturado a qualquer outro ingrediente. No entanto, temos medo de agir diferente, mesmo sabendo que seria a única maneira de não sermos corrompidos. Preferimos antes ser aceitos, tornarmo-nos simpáticos, diluirmo-nos no pântano da degradação moral, como se a responsabilidade se diluísse também! Cada um dá conta de si mesmo, do que realiza como Espírito imortal. Por isso, inúmeras vezes passamos por verdadeiros flagelos destruidores que atingem um pequeno grupo, uma cidade, um país ou a humanidade como um todo. Inseridos no mesmo padrão de comportamento, somos convocados a vivenciar os desafios condizentes com as escolhas que realizamos.
Quantos de nós se submetem a práticas ilícitas alegando que apenas seguem ordens do ambiente onde se encontram porque, no fundo, lhes convêm os lucros advindos dessa escolha e pensam que, mais à frente, talvez no mundo espiritual, estagiando numa colônia espiritual que possa assemelhar-se a um verdadeiro spa, irão recuperar-se desses equívocos com a intercessão de benfeitores espirituais, aos quais alegam ter servido por décadas, desprendendo-se de suas vidas particulares para oferecer seus préstimos ao serviço do bem
. O verdadeiro bem começa com o esforço para dominar nossas más inclinações, principalmente fora da Casa Espírita.
Vivemos numa sociedade totalmente consumista, conforme afirma Gilles Lipovetsky em seu livro A Sociedade da Decepção. Nossos valores, atualmente, consistem em termos o que os outros têm, mesmo que não saibamos para que serve ou não tenhamos avaliado se precisamos; se possível, precisamos ter algo melhor do que qualquer um tem. Infelizmente, tornou-se sinônimo de avaliação da personalidade o que se ostenta e não quem se é. Precisamos lembrar que se os Espíritos desencarnados que se encontram ao redor da Terra são como nós, é sinal que sustentam, na maioria das vezes, os mesmos valores, alimentando-nos mutuamente, impressionando-nos numa via de mão dupla que não permite vencer as más tendências, a não ser sob intensos esforços, e assim, encetar uma curva exponencial em direção a nos tornarmos realmente melhores.
É-nos permitido utilizar todos os recursos materiais e potencialidades individuais que estejam ao nosso alcance, de acordo com as escolhas que fazemos ao longo da vida. A nossa essência espiritual, no entanto, faz com que não percamos a conexão com a realidade além da matéria e nos faz lembrar, em minúcias, dos pontos a serem aprimorados no quadro vivencial em que nos encontramos.
Não podemos, pois, dispensar cada momento, seja qual for. De modo contínuo e interligado, cada um deles une o nosso ontem ao hoje e este ao amanhã. É a expressão da Justiça Divina. Cada acontecimento recebe o convite de nós mesmos para existir, de forma consciente ou não, mas nunca rompendo o circuito de vibrações emitidas por nós, que encontram correspondência em algum lugar.
Esses contatos espirituais são ininterruptos e ocorrem também quando estamos adormecidos. Nesse momento, aliás, desvestimos a máscara social que muitas vezes nos impomos durante o estado de vigília. Podemos, pois, deslocar-nos enquanto o corpo repousa para vivenciar preciosos ensinamentos, participar de tarefas enriquecedoras junto aos benfeitores espirituais ou dividir espaços viciosos, junto de convivas da imoralidade com os quais voltamos a encharcar a alma de fluidos deletérios, que naturalmente vão influenciar nossa conduta no transcorrer da existência. Interessante notar a resposta à pergunta 471 de O Livro dos Espíritos:
"Quando experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível ou satisfação interior sem causa conhecida, isso se deve unicamente a uma disposição física?
Resposta: É quase sempre efeito das comunicações que, inconscientemente, tendes com os Espíritos, ou que tivestes com eles durante o sono.
Tão grave nos pode ser essa influência que chega às raias de verdadeira hipnose aplicada por Espíritos ardilosos, cuja ordem imperiosa vamos cumprir no estado de vigília, sem cogitarmos de preciosa avaliação para não incorrermos em dolorosos resgates.
A nossa vigilância moral deve ser constante para estabelecer um campo de vibrações seguras que venham a colaborar com novas conquistas. Tanto o mal quanto o bem podem ser impulsionados por nós. No entanto, ainda que nos creiamos maus, procuremos agir no bem, instante a instante, para que a conjugação dessas forças positivas encontre espaço para tornar em realidade nossos desejos do bem, até que sejamos definitivamente bons.
Prestar atenção aos mínimos detalhes de cada pensamento antes de aceitá-lo como nosso é obrigação que nunca deve ser esquecida, para que não passemos a fazer parte de um verdadeiro condomínio espiritual, sem conseguir discernir qual parte nos pertence.
Encaixa-se perfeitamente a advertência de Santo Agostinho, quando pede que examinemos atentamente nossas atitudes ao fim de cada dia, interrogando a consciência para verificar se cumprimos todos os deveres, averiguando tudo que fizemos e por quê, se não houve nada censurável, ofensivo a Deus ou ao próximo e, finalmente, contra nós mesmos, pois muitas de nossas faltas passam despercebidas e geram, mais à frente, sofrimentos desnecessários.
Bom, como já pudemos perceber que todos somos, sim, instrumentos mais ou menos atuantes nas mensagens de outros Espíritos, precisamos agora saber o que existe de diferente naqueles a quem Kardec optou por estudar mais detidamente, porque trazem essa capacidade mais acentuada, bem caracterizada e que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade e que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.
Assim, no item 226 de O Livro dos Médiuns, Capítulo XX — Influência Moral do Médium, encontramos:
"O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns?
Resposta: Não. A faculdade propriamente dita reside no organismo; independe do moral.
Se ela é orgânica, o que existe de diferente no corpo físico de um médium ostensivo?
No próximo capítulo vamos entender como o cérebro age em relação à mediunidade.
Capítulo 2
Como saber se sou médium?
Nenhum sinal externo pode chamar a atenção do observador, a fim de apontar as pessoas que sejam portadoras de mediunidade. Não obstante originária no Espírito, exteriorizando-se por meio do organismo físico, não apresenta síndromes externas, e, mesmo quando algumas destas possam tipificar-lhe a presença, tal conclusão jamais será infalível.
(Divaldo Franco / Vianna de Carvalho em Médiuns e Mediunidades — Cap. XIII — Educação das Forças Mediúnicas)
No atendimento fraterno em nossa Casa Espírita é comum a presença de pessoas com relatos sobre experiências que passaram em outros lugares, onde lhes foi afirmado que são médiuns e precisam trabalhar essa mediunidade constantemente, senão nada mais em suas vidas irá dar certo.
Isso nos mostra a ausência de responsabilidade e estudo por parte dos que comandam essas instituições. Arvorados em ser guiados por Espíritos de alta envergadura, teimam em afirmar coisas absurdas em relação à vida dos consulentes e ainda mais quando se trata de mediunidade.
Ao ler atentamente a citação acima, verificamos que não há a menor possibilidade de supor que este ou aquele seja portador de mediunidade, porque esta não se faz acompanhar de qualquer sinal externo para tal afirmação. Pode-se supor, com base na exposição da pessoa, que ela apresente a mediunidade, porém uma afirmação só é possível por meio do experimento contínuo e isso requer o pré-requisito do estudo.
Também se comete um terrível equívoco quando uma pessoa chega à Casa Espírita com uma verdadeira síndrome patológica
, declarada médium, sendo logo inserida numa tarefa onde exercita a mediunidade, como se esta providência proporcionasse a chance do reequilíbrio. Ao contrário, um dos quesitos indispensáveis para o exercício da mediunidade é exatamente um mínimo de equilíbrio. Não podemos afirmar que todos os médiuns são Espíritos em equilíbrio, pois são simplesmente Espíritos em estado de provas e expiações, com toda a gama de dificuldades a serem superadas.
Quando não somos habituados ao estudo, simplesmente nos deixamos levar pelas informações dadas por Espíritos pseudossábios envoltos numa aura de superioridade. Para esclarecimento, devemos ler constantemente o capítulo XXXI de O Livro dos Médiuns — Dissertações espíritas, em seu item Comunicações Apócrifas, em que se estuda as diferenças entre comunicações verdadeiras e mistificações. Ao fazê-lo, devemos questionar, sempre, os mínimos detalhes, o teor das mensagens recebidas, quer de forma oral ou escrita, a fim de termos certeza de sua origem. Esta é a verdadeira e imparcial condição para identificar a categoria do Espírito comunicante, sem preocupação com nomes.
Mais à frente, quando conversarmos sobre reuniões mediúnicas, vamos expor a assertiva de Kardec de que uma reunião mediúnica é um ser coletivo
, ou seja, cada membro tem responsabilidade com o todo, que é afetado pela postura das individualidades. Somente isso já seria um alerta para não levarmos a participar de um grupo mediúnico uma pessoa que apresente profundo desequilíbrio emocional.
É necessário que saibamos um pouco sobre transtornos psicológicos e psiquiátricos ou contar com a colaboração de uma pessoa capacitada para auxiliar-nos num momento desses. Essa providência é necessária para não confundirmos quaisquer desses problemas com mediunidade ostensiva em desequilíbrio.
O pior é nos acharmos autossuficientes e evidenciarmos benefícios inexistentes no exercício da mediunidade, revestindo-a de privilégios, a ponto de solicitar às pessoas que se afastem de tratamentos médicos e psicológicos. Esse absurdo cria sérias responsabilidades para quem o comete.
Outra atitude lamentável, além de afirmar que a pessoa é portadora de mediunidade sem nenhum embasamento, é dizer que a atuação mediúnica dela é indispensável para que tudo dê certo em sua vida.
Para quem chega à Casa Espírita e não tem nenhum conhecimento do Espiritismo e imagina que todos os trabalhadores o possuem — o que, infelizmente, não é a realidade que vivenciamos —, passa a acreditar que o Espiritismo é mais uma religião messiânica, em que somente os que exercem a mediunidade evoluirão.
Se levarmos em conta que o compromisso mediúnico é estabelecido em período que antecede a reencarnação e que, mesmo assim, nosso livre-arbítrio não é tolhido em momentos decisivos, podemos recuar ante o seu exercício, e isso será preferível do que desrespeitá-la, utilizando-a para interesses próprios ou desviando-nos moralmente, achando que estamos protegidos exclusivamente pela frequência a reuniões mediúnicas, quando, na realidade, ficamos sujeitos a graves constrangimentos obsessivos e à derrocada da reencarnação. Aliás, assumir o comprometimento das tarefas relativas à mediunidade deve ser uma decisão tomada somente após muita reflexão, pois implica num esforço contínuo de fazer com que as vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência e tereis nisso um meio certo de centuplicardes a vossa felicidade nessa vida passageira e de preparardes para vós mesmo uma existência mil vezes mais suave. Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porque, não fazendo proveitosa a luz que o ilumina, será menos desculpável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.
¹
Com esse novo entendimento, compreendemos que exercer a mediunidade não se torna sinônimo de evolução espiritual, nem nos isenta de atravessar desafios, dificuldades, doenças e outros problemas naturais aos Espíritos imperfeitos num mundo de expiação e provas, mas que ampliando nosso conhecimento melhor compreendemos as situações da existência e, dessa forma, desenvolvemos a resiliência o que minimiza o sofrimento.
Vemos, assim, que só podemos afirmar a existência da mediunidade através do exercício contínuo e responsável após um período de estudos capaz de nos oferecer o discernimento indispensável para lidarmos com ela, de maneira segura e perseverante.
Não podemos concordar com o pensamento de que ir ao Centro possibilita tornar a vida material próspera e sem obstáculos, pois o Espiritismo tem por finalidade única a evolução moral do Espírito. Aliás, em nenhum momento, riqueza é garantia de felicidade, exatamente porque a verdadeira felicidade independe dos valores externos e, sim, da condição espiritual do ser.
Somente os médiuns espíritas são capazes de evoluir?
A abordagem principal deste livro é a mediunidade ostensiva, porém é necessário deixar claro que nem todos os espíritas são médiuns ostensivos e nem todos os médiuns ostensivos são espíritas.
Se você pensou que somente o Espiritismo é capaz de produzir médiuns capacitados para o exercício dessa função, está enganado!
Quantas vezes vemos na Casa Espírita médiuns que assumem tarefas, sem o menor preparo, porque acreditam que toda a responsabilidade está depositada na Espiritualidade!
Quantas vezes vemos em outras religiões, seja na oratória ou na exemplificação dos preceitos em que acreditem, pessoas em verdadeiro sacerdócio, dedicando-se ao exercício do bem na qualidade de médiuns de Espíritos desencarnados que pertencem a outros credos!
Realmente não deveria ser dessa forma, pois é no Espiritismo que encontramos o mais profundo estudo sobre a mediunidade em O Livro dos Médiuns, porém, poucos ainda são os que o estudam constantemente, amadurecendo cada vez mais o entendimento, talhando-a com o exercício do padrão moral, afinal de contas "reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más"².
Esse verdadeiro tratado sobre o exercício da mediunidade nos traz, em seu capítulo XX, que a faculdade propriamente dita reside no organismo, porém, não se dá o mesmo com o seu uso, que pode ser bom ou mau de acordo com as qualidades do médium
.
Isso quer dizer que o médium não evolui como Espírito somente por fazer parte de reuniões mediúnicas, mesmo assiduamente, se ele não zelar por sua conduta fora da Casa Espírita, na convivência diária com seus semelhantes, aparando as arestas morais. A experiência com o mundo espiritual, ao ouvir os relatos dolorosos que os espíritos nos trazem, são lições que devem ser apreendidas e exercitadas.
Além do mais, desde que Kardec nos afirma que toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é médium
³ e, mesmo assim, muitos negam essa condição, alegando que sua sensibilidade é nula e se colocam em risco por não terem o hábito salutar de analisar minuciosamente todos os pensamentos que lhes invadem o campo mental, onde a influenciação é mútua e constante. Então, o Codificador, sabiamente, retorna ao assunto mais adiante, no Capítulo XXXI — Dissertações Espíritas, item X — Sobre os Médiuns:
Todos os homens são médiuns, todos tem um Espírito que os dirige para o bem, quando sabem escutá-lo. Agora, que uns se comuniquem diretamente com ele, valendo-se de uma mediunidade especial, que outros não o escutem senão com o coração e com a inteligência, pouco importa: não deixa de ser um Espírito familiar quem os aconselha. Chamai-lhe espírito, razão, inteligência, é sempre a voz que responde à vossa alma e vos dita boas palavras. Apenas, nem sempre as compreendeis.
É assim que vamos encontrar espíritas completamente distraídos tornando-se mais médiuns fora da Casa Espírita do que durante as tarefas mediúnicas, agindo de forma inconsciente por não terem o hábito de analisar os pensamentos, que nem sempre são próprios, aceitando sugestões infelizes e creditando todas as consequências às situações da vida, enquanto os adeptos de outras religiões, que exercitam a fé cega, exatamente por medo dos castigos e condenações, acabam por comportar-se melhor para garantir a vida eterna de esplendores e, por isso, evoluem mais rapidamente.
Os Espíritos que povoam o Universo pertencem a todas as categorias evolutivas e seguem suas crenças religiosas mesmo depois da desencarnação, buscando as comunidades afins no mundo espiritual, mundo causal de onde procedemos e para onde retornamos.
Como?
É isso mesmo! Ou será que você pensa que o mundo espiritual é espírita? Os Espíritos desencarnam com as mesmas características com que viveram a reencarnação. Veem o mundo espiritual sob a óptica de suas crenças e continuam no exercício de seus deveres conforme estavam acostumados. Isso, ao contrário do que muitos pensam, não é uma involução. Involução é ser espírita e não ter certeza dos seus princípios básicos que são, entre outros: a reencarnação; a comunicabilidade dos Espíritos; a existência de outros mundos habitados; a lei de causa e efeito.
Muitos, cientes de todos estes postulados, continuam a frequentar o Centro Espírita, mas com um comportamento completamente distorcido. Buscam amuletos, rituais, orações repetitivas sem nenhum sentimento que as torne realidade. Estes buscam operações modificadoras das circunstâncias de sua vida de fora para dentro, sem sequer lembrar a necessidade imperiosa da sua transformação moral.
As coisas darem certo na vida é evoluir? O que é dar certo na vida?
O que é dar certo na vida? Com certeza é a concretização de tudo que foi planejado em nossa mente como bom para nós. É a realização dos planos, os sonhos atingidos, os desejos conquistados, a felicidade fugaz. Noutras palavras, tudo o que, muitas vezes, é necessário que realmente não possuamos para, assim, compreendermos a significação da vida e aprendermos a administrar cada etapa dentro dos limites que nos são colocados. Diga-se de passagem, limites impostos por nós mesmos, a fim de que aprendamos a construir com os materiais disponíveis, a florescer diante da contrariedade, em solo infértil, árido, a amar incondicionalmente, pois que vantagem existe em amar apenas aos que nos amam e oferecer àqueles que podem nos retribuir?
(Mateus, 5:46).
Por vezes, é necessário lidar com muitos obstáculos para frustrar a nossa vontade e exigir que coloquemos em prática outros planos que nos obriguem ao crescimento, tornando a reencarnação mais proveitosa.
Quando temos por objetivo principal a melhoria íntima, sabemos que as experiências são degraus de uma escada infinita, galgados um a um sob o esforço contínuo da vontade.
Bem, após as respostas às indagações feitas, voltemos à necessidade do exercício da mediunidade e em que momento de nossa vida assumimos esse compromisso.
1 O Livro dos Médiuns — Cap. XXXI — Dissertações Espíritas, item XIII, Pascal.
2 O Evangelho Segundo o Espiritismo — Cap. XVII — Sede Perfeitos, item 4.
3 O Livro dos Médiuns — Cap. XIV — Médiuns, item 159.
Capítulo 3
A mediunidade e o corpo físico
Centralizando a atenção, através de pequenina lente que Áulus nos estendeu, o cérebro de nossa amiga pareceu-nos poderosa estação radiofônica, reunindo milhares