Thaís - Anatole France
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Anatole France
Anatole France (1844–1924) was one of the true greats of French letters and the winner of the 1921 Nobel Prize in Literature. The son of a bookseller, France was first published in 1869 and became famous with The Crime of Sylvestre Bonnard. Elected as a member of the French Academy in 1896, France proved to be an ideal literary representative of his homeland until his death.
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Thaís - Anatole France - Anatole France
Anatole France
Prêmio Nobel de Literatura
THAIS
1a edição
img1.jpgIsbn: 9786558940555
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Prefácio
Prezado Leitor
Anatole France (1844 – 1924), nasceu em Paris, França e se consagrou como um dos grandes escritores franceses. Anatole foi um crítico da sociedade francesa de sua época além de uma das figuras mais importantes na tradição do humanismo liberal. Seus romances satíricos cativaram gerações posteriores de escritores e sua escrita de talento único o fizeram merecedor do Prêmio Nobel de literatura de 1921.
O romance histórico Thais descreve a interação de Paphnuce, o devoto e ascético abade de Aninoè, com a bela atriz e cortesã Thais a quem tenta converter ao Cristianismo. Em sua exploração sutil da moralidade e vontade humanas. Thais expõe as contradições inerentes à ideia de pureza e desafia as expectativas do leitor em relação aos santos e pecadores. Escrito num estilo onírico e evocativo, o romance funde a atmosfera exótica e a emoção do romance histórico com uma exploração filosófica dos efeitos da tentativa de renunciar aos desejos em prol da salvação espiritual.
Thais é uma das obras mais importantes do Prêmio Nobel Anatole France e faz parte da famosa coletânea: 1001 livros para ler antes de morrer.
Uma excelente leitura
LeBooks Editora
Sumário
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor
Sobre a obra
THAIS
I - O LOTO
II - O PAPIRO
III - O BANQUETE
IV - O EUFÓRBIO
Conheça outras grandes obras de Anatole France
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor
img2.jpgAnatole France
Vencedor do Nobel de 1921, Anatole France (1844 – 1924), pseudônimo de Jacques-Anatole-François Thibault nasceu em Paris, França e se consagrou como um dos maiores escritores franceses da metade do século XIX e início do século XX. Foi um crítico irônico da sociedade francesa da época e é considerado uma das figuras mais importantes na tradição do humanismo liberal na literatura francesa.
Jacques Anatole François Thibault adotou o pseudônimo de Anatole France porque seu pai, um livreiro em Paris, chamava sua loja de Librarie de France
. Desde muito jovem, Anatole foi um leitor insaciável. Sua primeira coleção de poemas, Poemas Dourados
, foi publicada em 1873.
Por 20 anos France ocupou diversos cargos, mas sempre com tempo para seus escritos, especialmente durante o período em que trabalhou como bibliotecário no Senado, de 1876 a 1890. Sua obra literária é vasta, embora seja conhecido principalmente como romancista e contista.
Em 1875 France escreveu uma série de artigos de crítica literária para o jornal Le Temps
. Começou sua coluna semanal no ano seguinte. Esses textos foram publicados de 1889 a 1892 em quatro volumes, como Vie Literarie
.
Influenciado pelo racionalismo radical de inspiração humanista, France condenava as formas de dogmatismo e especulação filosófica. Seu estilo apresenta um tom de ceticismo urbano e hedonismo. Essa visão da vida aparece explicitamente em O Jardim de Epicuro
(1895). Seu primeiro grande sucesso foi O crime de Silvestre Bonnard
(1881), premiado pela Academia Francesa, da qual France tornou-se membro em 1896.
France se casou com Valérie Guérin de Sauville em 1877. A união terminou em divórcio em 1893, devido a sua ligação com Mme Arman de Caillavet (Leontine Lippmann), o grande amor de sua vida e promotora dos seus livros através de suas amplas relações sociais.
Em 1888 France publicou O livro do meu amigo
um tipo de romance autobiográfico, que continua com Pierre Nozière
(1899), Le Petit Pierre
(1918) e La Vie en Fleur
(1922).
France foi ao encontro ao naturalismo de Zola. O período da transição do paganismo ao cristianismo era um de seus temas favoritos. Em 1889 lançou Baltasar
e, no ano seguinte, Thais
, a história da conversão de uma cortesã de Alexandria durante o início da era cristã.
Em 1893 France publicou A Rotisseria da Rainha Pédauque
, um retrato da vida no século 18. A figura central da novela, Abbé Coignard, reaparece em As opiniões de Jérôme Coignard
(1893) e na coleção de histórias O Poço de Santa Clara
(1895). Com O Lírio Vermelho
(1894), uma história trágica de amor, France retornou a um assunto contemporâneo.
Com o tempo France tornou-se cada vez mais interessado em questões sociais. Apoiou Émile Zola no caso Dreyfus; no dia seguinte à publicação do J'accuse
, assinou a petição que pedia a revisão do processo.
Devolveu sua Legião de Honra quando foi retirada a de Zola. Participou na fundação da Liga dos Direitos do Homem.
Anatole France filiou-se ao Partido Comunista no início dos anos 1920. Foi laureado em 1921 com o Prêmio Nobel de literatura pelo conjunto da obra. No ano seguinte a Igreja católica pôs sua obra no Índex
por criticar a sociedade e a Igreja.
Sobre a obra
Os trabalhos reunidos de Anatole France foram publicados em 25 volumes entre 1925 e 1935. e incluem a biografia Vida de Joana d’Arc
, Os Deuses têm Sede
, A Rebelião dos Anjos
, Thais
; A Ilha dos dos Pinguins
, O Artista
, Axis Mundi
, O Cristo do Mar
; Marguerite
e Missa dos Mortos
, entre outros.
Thais, foi publicado pela primeira vez em 1890. Trata-se de um romance histórico transcorrido no Egito do século IV que conta a história de dois cristãos bem diferentes. Ao fazê-lo, examina a Igreja primitiva e os convencionalismos da devoção sob uma luz nova e provocadora. O romance descreve a interação de Paphnuce, o devoto e ascético abade de Aninoè, com a bela atriz e cortesã Thais.
Inspirado pelo que julga uma visão de Deus, Paphnuce viaja até Alexandria para converter Thais ao cristianismo, religião em que foi batizada, mas que ela tem ignorado. Na atmosfera inebriante de Alexandria no século IV, Paphnuce defende o cristianismo. Após a conversão bem-sucedida, Thais leva uma vida de pureza e renúncia num convento, mas Paphnuce, depois do dever aparentemente cumprido, enfrenta uma série de tentações novas. No desejo de se tornar santo, suas próprias motivações se mostram cada vez mais dúbias, até que, numa conclusão dramática, se junta a Thais, sendo forçado a questionar sua fé antes inabalável.
Em sua exploração sutil da moralidade e vontade humanas, Thais expõe as contradições inerentes à ideia de pureza e desafia as expectativas do leitor em relação aos santos e pecadores.
Thaïs (Tais) é um romance do escritor francês Anatole France, publicado em 1890. É baseado em eventos da vida de Santa Thaïs do Egito, uma lendária convertida ao cristianismo que teria vivido no século IV. Foi adaptada posteriormente para a ópera de mesmo nome de Jules Massenet.
Escrito num estilo onírico e evocativo, o romance funde a atmosfera exótica e a emoção do romance histórico com uma exploração filosófica dos efeitos da tentativa de renunciar aos desejos em prol da salvação espiritual.
THAIS
I - O LOTO
Naquele tempo o deserto era povoado de anacoretas. Inumeráveis cabanas de palma e ramagens, construídas pelas próprias mãos dos solitários, dispersavam-se sobre as duas margens do Nilo, a pequena distância uma das outras, de modo que os seus habitantes podiam viver isolados e, apesar disto, ajudar-se mutuamente.
Encimadas pela cruz, igrejas aprumavam-se de longe em longe, dominando as casas. E, nos dias de festa, os monges caminhavam até lá para assistir à celebração dos mistérios e partilhar os sacramentos. Também havia, bem na beirada do rio, choças onde os cenobitas, cada qual encerrado na sua cela, só se reuniam para melhor gozar a solidão.
Anacoretas e cenobitas mantinham-se na abstinência, não se alimentando senão depois do pôr do sol. E tudo quanto comiam era o seu pão regulamentar, com um pouco de sal e de hissone.
Alguns, afundando no areal, asilavam-se numa caverna ou num túmulo, e aí organizavam uma existência ainda mais singular.
Todos guardavam continência, usavam o cilício e o hábito com capuz, dormiam no chão bruto depois de ásperas vigílias, oravam, entoavam os salmos, realizavam enfim, cada dia, obras-primas de penitência. Por causa do pecado original recusavam ao corpo não somente os prazeres e as alegrias, mas até mesmo os cuidados que as ideias profanas consideram indispensáveis. Viam na moléstia um instrumento de elevação das almas. E para eles a carne não merecia condecorações mais gloriosas do que as úlceras e as chagas. Assim se cumpria a palavra dos profetas, que haviam dito: O deserto se cobrirá de flores
.
Entre os habitantes dessa santa Tebaida, uns consumiam os seus dias no ascetismo e na contemplação, outros ganhavam o sustento tecendo fibras de palmeiras, ou alugando-se aos agricultores na época das colheitas.
Os gentios suspeitavam, falsamente, que alguns viviam de furtos, ou de se juntar com os árabes nômades que pilhavam as caravanas. Mas, em verdade, aqueles solitários desprezavam as riquezas. E o perfume das suas virtudes chegava até ao céu.
Anjos, encarnados em mancebos, vinham, arrimados a um bordão, visitar as ermidas. E demônios, disfarçados em etíopes, erravam em torno dos monges, para os arrastar na tentação. De manhãzinha, quando eles iam à fonte encher o púcaro, lá estavam impressas na areia, pegadas de Sátiros e de Centauros. Julgada no seu aspecto veraz e espiritual, a Tebaida era um campo de batalha onde se feriam a todo instante, e especialmente à noite os maravilhosos combates do céu e do inferno.
Os ascetas, furiosamente assediados por legiões danadas, defendiam-se com a ajuda de Deus e dos Anjos, pelo jejum, pela expiação, pela maceração. Às vezes o aguilhão do sexo os ferroava tão cruelmente que eles urravam de dor. E as suas lamentações respondiam, sob a amplidão cheia de estreias, ao miado das hienas esfomeadas. Era então que, revestidos de formas extasiantes, os demônios lhes apareciam. Porque se o diabo é pessoalmente feio, em certas ocasiões utiliza uma beleza aparente, que esconde a sua verdadeira natureza. Na cela, os ascetas da Tebaida viam, espantados, imagens de gozo inéditas para os próprios voluptuosos do mundo. Todavia, como o signo da cruz pairava sobre eles, não sucumbiam à tentação. E os espíritos imundos, retomando o seu verdadeiro aspecto, retiravam-se pela aurora, cheios de vergonha e de raiva. A essa hora não era raro encontrar-se um dos tais, fugindo debulhado em pranto, e, respondendo aos que o interrogavam: Choro e gemo porque um dos cristãos que moram aqui me bateu e enxotou ignominiosamente
.
A autoridade dos anciãos do deserto alcançava pecadores e ímpios. A sua bondade era por vezes terrível. Recebiam dos apóstolos a atribuição de punir as ofensas perpetradas contra o Deus verdadeiro, e nada podia salvar os que eles condenavam.
Nas cidades, e até entre o povo de Alexandria, contava-se com pavor que a terra se escancarava para tragar os maus, assinalados pelos seus bastões.
Mostravam-se também inexoráveis com gente de má vida, e em especial com mímicos, bailarinos, padres casados e meretrizes.
A virtude daqueles religiosos era tão grande que dominava as feras. Quando um solitário estava para morrer, era um leão que vinha cavar, com as garras, a sua sepultura. O santo homem, sabendo assim que Deus o chamava, ia beijar a face dos irmãos. Depois deitava-se contente, para adormecer no Senhor.
Ora, depois que Antônio, velho de mais de cem anos, se retirara para o monte Colzim com os seus discípulos prediletos, Macário e Amatas, não se apontava em toda a Tebaida monge mais abundante em obras do que Pafnúcio, abade de Antinoe. É certo que Efrém e Serapião dirigiam um número maior de reclusos, e que os seus mosteiros primavam pela conduta espiritual e temporal. Mas Pafnúcio guardava os mais ásperos jejuns e, não raro, resistia três dias inteiros sem se alimentar. Usava um cilício de pelo bravio, flagelava-se pela manhã e à noite e, com a fronte no pó, constantemente permanecia prosternado. Os vinte e quatro discípulos, que haviam construído moradas próximas à sua, imitavam-lhe os rigores. Ele os amava ternamente em Jesus Cristo e, sem cessar, os concitava à penitência. Entre os seus filhos espirituais contavam-se homens que, depois de longos anos entregues à rapina, comoveram-se às exortações do santo monge a ponto de abraçar o estado monástico. E a pureza das suas vidas edificava os companheiros. Destacavam-se entre eles o antigo cozinheiro de uma rainha da Abissínia, convertido de maneira semelhante pelo abade de Antinoe, e que não se cansava de verter lágrimas, o diácono Flaviano, sabedor das escrituras e hábil pregador. Todavia, o mais admirável do séquito de Pafnúcio era um jovem camponês chamado Paulo, e apelidado o Simples, por causa da sua extraordinária ingenuidade. Os homens zombavam dele, porém Deus o distinguia enviando-lhe visões concedendo-lhe o dom de profetizar.
Pafnúcio santificava as horas doutrinando e praticando o ascetismo. Muitas vezes também meditava os livros sagrados, buscando inspiração para as suas parábolas. Por isso, moço ainda, era rico de méritos. Os diabos, que tão rudemente assaltam os bons anacoretas, não se atreviam a aproximar-se dele. À noite, à luz da lua, sete chacalzinhos postavam-se diante da sua cela, agachados, silenciosos, escutando. Diziam que eram sete demônios que o abade, pela força da sua santidade, continha na soleira da porta.
Pafnúcio nascera em Alexandria, filho de pais nobres, que o fizeram instruir nas letras profanas. Chegara a sofrer a sedução das mentiras dos poetas e, na juventude, tais eram os desvios do seu espírito e as extravagâncias do seu pensamento, que acreditava ter a espécie humana se afogado no dilúvio dos tempos do Deucalião e discutia com os colegas a natureza, os atributos e, mesmo, a existência de Deus. Nessa época, entregava-se à dissipação, à maneira dos gentios. Pafnúcio só se recordava disso envergonhado e constrangido.
Durante aqueles dias, confidenciava aos seus irmãos, eu fervia no caldeirão das falsas delícias".
Assim, queria significar que comia carnes bem temperadas e frequentava banhos públicos. Com efeito levara, até os vinte anos, essa existência mundana que melhor se chamaria morte do que vida. Mas, ao influxo das lições do padre Macrino regenerou-se.
A verdade penetrou-o todo. Segundo a sua frase predileta, a verdade penetrou-o como uma espada. Elegeu a fé do Calvário e adorou Jesus crucificado. Depois do batismo ficou ainda um ano entre os gentios, proso pelas amarras do hábito. Um dia, porém, ao entrar numa igreja, escutou o vigário a ler-lhe este versículo da Escritura: Se quiseres ser perfeito, anda e vende tudo o que tens, e dá o dinheiro aos pobres
. Vendeu