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Para Sempre: A Escolha
Para Sempre: A Escolha
Para Sempre: A Escolha
E-book329 páginas4 horas

Para Sempre: A Escolha

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Sobre este e-book

Em seu primeiro ano no internato Crossfield, Adrian Martins Lindenberg, um jovem inteligente e carismático, vive dias felizes ao lado de seus melhores amigos e de sua namorada, a bela e carismática Hannah Anderson. Mas tudo muda quando ele reencontra Larissa Oliveira, uma linda jovem que, após torturantes meses sofrendo bullying por causa de sua estranha maneira de ser, decide voltar a estudar depois que aprende a lidar com seu maior fantasma: a timidez. O reencontro desperta sentimentos adormecidos em ambos, e uma série de acontecimentos os levam a se apaixonarem perdidamente um pelo outro. O destino, porém, os colocará numa difícil encruzilhada, onde terão que fazer escolhas que, por sua vez, decidirão o rumo final deste romance envolvente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de jan. de 2018
ISBN9781526004031
Para Sempre: A Escolha

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    Para Sempre - Alan Rodrigo Rabelo da Costa

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    ALAN

    RODRIGO

    Para

    Sempre

    A ESCOLHA

    Quando o destino nos reserva uma surpresa, sentimentos inesperados podem surgir. Há como resistir as artimanhas do coração?

    ALAN RODRIGO

    PARA SEMPRE

    A ESCOLHA

    Quando o destino nos reserva uma surpresa, sentimentos inesperados podem surgir. Há como resistir às artimanhas do coração?

    Copyright © Alan Rodrigo, 2017

    AUTOR

    Alan Rodrigo

    GÊNERO

    Romance

    PÚBLICO-ALVO

    Infanto-juvenil

    VERSÃO EM INGLES

    Forever – The Choice

    E-mail: [email protected]

    Para a família Rabelo:

    Rejane, Eudes, Alice e Renata.

    Minha querida família.

    Prólogo

    Londrina, Março de 2012

    E

    is uma verdade sobre a vida que ninguém pode negar: ela é complicada, um grande quebra-cabeças que temos que juntar todas as peças e saber onde colocar cada uma delas. Ninguém pode ter uma vida mais ou menos. Até aí tudo bem!

              Mas nunca pensei que minha vida fosse mudar tão radicalmente depois de completar meus tão sonhados 17 anos. A começar por uma carta deixada debaixo da minha porta, cujo conteúdo diz: "Estou morando no Ceará. Sinto muito por não ter lhe contado tudo antes. Vou sentir muito a sua falta, meu velho amigo. Prometo que vou escrever. Assinado: Miguel". Fiquei boquiaberto ao terminar de ler. Entre todas as etapas desse processo louco chamado vida, isso foi o mais perto que eu cheguei de chorar.

    Meu nome? Adrian. Pelo menos é como todo mundo me chama. Fui batizado com o sobrenome da minha mãe (Martins) e o do meu pai (Lindenberg). Não gosto muito do meu nome, e inevitavelmente meu rosto fica vermelho toda vez que alguém me chama pelo nome completo.

    Apesar de todos os problemas, dores e decepções, me considero um sujeito de sorte. Tenho uma mãe que para mim é a melhor de todas. Seu nome é Érica. Ela ama flores e há muitas em volta da casa: margaridas brancas, crisântemos e dálias (as suas favoritas). Meu pai se chama William. Não é alto nem baixo, é mulato e bem mais velho do que a minha mãe. Ela é alegre, um pouco tagarela e adora fazer amizades. Já ele é mais fechado. Mas como dizem por aí que os opostos se atraem, eles não tem motivos para não se darem bem.

    E tenho o meu melhor amigo, Miguel. Isto é, tinha. É um pouco mais novo do que eu, mas é mais forte e mais inteligente. Nos conhecemos na quinta série, e até onde eu me lembro, nunca nos separamos. Apesar das diferenças de idade, ambos temos muitas coisas em comum. Gostamos de passar mais tempo com a família do que em um fliperama ou na loja de gibis que fica do outro lado da rua. Curtimos filmes de ação e adoramos fingir que somos terríveis vilões que planejam dominar o mundo. Também amamos livros e detestamos spoilers. Sinto que formamos uma dupla perfeita!

    Mas a vida é uma caixinha de surpresas. Bem, a minha surpresa não está dentro de uma caixa, mas registrada em uma carta, uma carta que me trouxe a certeza de que minha vida mudará por completo.

    Era uma manhã de sexta-feira e eu estava me preparando para mais um dia de aula. Para minha sorte, o ponto de ônibus fica apenas a cem metros da minha casa e não preciso andar muito para pegar um. Como Miguel e eu morávamos na mesma rua, íamos juntos para a escola todo santo dia. Mas, naquele dia, algo estranho aconteceu. Costumava sentir o cheiro de ovos cozidos e pão fresquinho que vinha da casa dele sempre que dava seis em ponto, sinal de que os pais dele já tinham acordado. E quando dava exatamente seis e quinze, a porta da frente se abria e Miguel saía sorridente, vestindo seu uniforme escolar levemente amarrotado.

    Mas isso não aconteceu. Bati na porta, porém não obtive resposta. Fiquei esperando para ver se alguém dava sinal de vida, mas não consegui ouvir nenhum pio. Supus que tivessem dormido demais. Infelizmente, não podia esperar mais. O ônibus passava às seis e meia e eu nem queria pensar no que podia acontecer se eu voltasse para casa e dissesse a minha mãe que tinha perdido o ônibus.

    Então, percebi que algo estava faltando ali. O carro do pai de Miguel sempre ficava estacionado no passeio, debaixo de uma árvore. Moramos num bairro tranquilo e ninguém se importa em deixar seus veículos fora das garagens. Mas o espaço estava vazio. Havia marcas de pneus. Segui-as e vi que dobravam uma esquina. A meu ver, eles tinham viajado. Mas para onde terão ido? E por que saíram tão cedo? A resposta eu recebi três dias depois.

    O carteiro sempre passa pela nossa rua às onze e meia. Por coincidência, nenhum de nós está em casa à essa hora. Mamãe trabalha num salão de beleza e só volta para casa ao meio dia. Papai trabalha em uma construtora, e nas horas de folga ele é barbeiro. Obviamente, ele também só chega depois do meio-dia. E quanto a mim, cumpro meus deveres como um bom aluno que está a um passo do tão sonhado Ensino Médio.

    Hélio – esse é o nome do carteiro – é amigo de longa data do meu pai, e sempre que uma carta importante chega para ele, Hélio passa o envelope por debaixo da porta, de modo que quem chega primeiro o encontra. Dessa vez, quem chegou primeiro fui eu. E fiquei surpreso. Não porque tinha um envelope sobre o carpete. E sim porque esse envelope não era para o meu pai.

    Era para mim.

    Procurei o nome do remetente. E fiquei ainda mais surpreso quando vi o nome MIGUEL e as inconfundíveis letras de garrancho que eu reconheceria em qualquer lugar. Com curiosidade crescente, rasguei o envelope depressa e li o que estava escrito.

    Um minuto depois, o arrependimento de ter tido pressa para ler o que estava escrito na carta me golpeou com uma força avassaladora.

    Miguel tinha ido embora. Eu tinha perdido o meu melhor amigo.

    PARTE UM

    Capítulo 1

    Mudança de ares

    – MEU NÃO TÃO QUERIDO DIÁRIO –

    Londrina, 11 de Maio de 2012, 10:37 A.M.

    O

    lá, diário. Adoraria dizer que está tudo bem, mas você e eu sabemos que isso não seria verdade. Se bem me conheço, sou péssimo em contar mentiras e esse está tudo bem não convence nem a mim mesmo.

    Muito bem. Estou sentado em meu quarto escrevendo em um caderno de capa rasgada e folhas amareladas que chamo de Diário, apesar do nome não fazer muito sentido, pois não quero mais escrever nele. Novidades? Nenhuma. O dia hoje amanheceu do jeito que achei que amanheceria, chovendo e pálido, sem graça alguma. Às vezes acho que deveria ter nascido em um filme de comédia às avessas! Sabe, drama de mais, comédia de menos e um teor de loucura fora do padrão.

    Minha vida nunca mais foi a mesma desde que encontrei aquele envelope vermelho-sangue com o nome do meu melhor amigo escrito atrás e uma carta de despedida dentro. Quero esclarecer que não sou de ficar choramingando pelos cantos. Prefiro sempre ter dois tipos de comportamento quando isso acontece: ou fico calado esperando o desânimo passar ou arregaço as mangas e tento entender o que anda acontecendo no mundo. Mas naquele dia eu fraquejei. Quando reli a mensagem, lágrimas rolaram sem que eu percebesse. Torci para que não fosse verdade, para que aquilo fosse uma piada de mau gosto, mas então lembrei do silêncio que rondava a casa naquela manhã e das marcas de pneus que dobravam a esquina e me convenci de que nunca mais vou vê-lo.

    Às vezes, me pego chorando ao lembrar das coisas que perdi, da amizade que nos manteve juntos nas horas boas e ruins, e a qual eu considerava tão sólida e indestrutível como uma rocha. Mas infelizmente nada nessa vida dura para sempre. Nem as dores, nem as alegrias. Meu pai costumava dizer que certas coisas vão embora das nossas vidas de qualquer jeito, por mais que queiramos retê-las para sempre.

    Meu pai...

    O aniversário dele seria na primeira semana de Maio. Mas infelizmente a vida não foi tão generosa com ele, e não lhe concedeu a chance de comemorar mais um ano de vida. Faz dois dias que ele pegou o expresso sem volta, e eu não consigo me conformar. Não consigo aceitar o fato de ter perdido quem eu mais amava na terra. Sinto uma raiva profunda da vida, e ao mesmo tempo fico parado esperando o próximo golpe.

    Sem o papai para nos ajudar e com a mamãe desempregada (ela foi despedida por chegar atrasada no dia em que levou nosso Golden Retriever ao veterinário), não tivemos outra alternativa a não ser nos mudarmos para a casa da vovó (uma mochileira nata), que mora no Paraná.

    Decolamos na manhã do dia 28 e desembarcamos em Londrina uma hora depois. Chegamos lá pelas 11h25, com fome e sede, porque em trechos domésticos a American Airlines não oferece nem um copo d’água!

    Desde então, minha vida nunca mais foi a mesma. E tenho a terrível sensação de que as coisas irão piorar bastante.

    Passei as duas primeiras semanas totalmente desocupado, sem nada para fazer além de ver TV e escrever no Meu Não Tão Querido Diário. Mamãe está muito preocupada comigo (típico). Ela quer que eu volte à minha vida normal (estudar, se divertir, fazer amigos... essas coisas), ou pelo menos tente. Mas não estou muito confiante em relação a tudo isso.

              Se eu pelo menos tivesse uma razão para seguir em frente. Não tenho escola, nem amigos, nem motivos para sair do quarto. Estou preso em um lugar onde todo mundo é estranho e onde com certeza nunca vou me adaptar.

              Cansada das minhas reclamações, Érica bateu com o punho na mesa e falou decididamente:

              Já chega! Amanhã vamos embora!

              Não acho que seja necessário, mãe. Só preciso de um tempo. Tudo é muito complicado. Meu pai morreu e eu ainda não consigo imaginar como minha vida vai ser daqui para frente. Por favor, me dê um tempo. É tudo que preciso no momento.

              Mas pareceu que ela não estava ouvindo nenhuma palavra do que eu estava dizendo. Ela deu meia volta na direção da porta, falando em voz alta:

            Faça suas malas! Amanhã mesmo vamos para São Paulo! Ah... Jamais me esquecerei desse Ah!. Me assustei para valer. Você vai para um internato!

    Capítulo 2

    Passeio pela cidade

    Londrina, Maio de 2012

    L

    evo a noite inteira numa fatigante batalha com meu cérebro de ervilha para tentar entender por que, diabos, minha mãe decidiu fazer isso comigo. Por mais que eu tente, não consigo encontrar motivos suficientemente justificáveis para ela de repente querer me mandar para um internato. Talvez esteja me castigando por algo errado que eu provavelmente tenha feito. Mas, estranhamente, não consigo me lembrar de nada.

    Não me lembro de tê-la desobedecido. Pelo contrário. Sempre fui – e ainda sou – um garoto obediente, e na escola sempre tiro notas que variam entre 7 e 8. Nunca repeti o ano e também nunca fiquei depois da aula. Jamais cheguei a lugar nenhum sequer um minuto depois do horário estabelecido e sempre fui um espectador assíduo até mesmo das aulas mais chatas que podem haver.

    Passo a noite em claro, e quando finalmente amanhece, percebo que troquei um problema por outro. Estou exausto como nunca estive e alguma coisa parece estar bloqueando minha audição. Ouço alguém gritar, mas o grito parece estar a léguas de distância e eu não consigo entender uma mísera palavra. De repente, a porta do quarto vem abaixo. Quase caio da cama. É quando vejo Érica entrando com seu rosto bonito retorcido pela raiva que me lembro que tranquei a porta por dentro.

              – Graças a Deus! Você está vivo! – diz ela, ofegante. – Você não estava me escutando? Eu tive que entrar que qualquer jeito! Quer me explicar por que se trancou?

    Fico calado, olhando para o chão.

              – Meu filho, você tem que tomar uma decisão. Você não é mais uma criança.

    Meneio a cabeça em concordância. Mas o que eu posso fazer? Pode onde posso começar?

              – Temos que conversar seriamente. Isso não pode continuar assim. Mas primeiro, vamos tomar café. Sua avó preparou panquecas. Eu sei que você adora.

    Em outras ocasiões, eu teria descido correndo e comido panqueca até não aguentar mais. Mas agora, por motivos de força maior, me recuso a sair do quarto. Não quero sair da cama. Não quero fazer nada. Não quero viver.

              – Tudo bem. Posso me sentar aí?

              Balanço a cabeça outra vez.

    – Bom... – Érica está procurando as palavras certas. Minha mãe é o tipo de pessoa que pensa com muita cautela antes de dizer qualquer coisa. – Sei que a situação que você está passando não é fácil. Acredite, não é fácil para mim também. Sou igual à você. Hipersensível. Acho que isso é hereditário. Bem... Acho que o que estou tentando dizer é que você tem todo o direito de ficar triste pela morte do seu pai. A vida dele foi interrompida. Ele era jovem e tinha um futuro à sua frente. Tinha planos. Quando você terminasse o ensino médio, nós três faríamos uma viagem inesquecível para o Havaí. Ele vivia dizendo isso, lembra? Dizia que ia se arriscar a pegar uma onda com Kelly Slater, embora soubesse que não conseguiria ficar de pé numa prancha nem mesmo por dois segundos...

    Ela se cala. Olho para ela e percebo uma lágrima escorrendo do seu olho esquerdo.

    – Desculpe... Como eu estava dizendo, seu pai era um sonhador. Mas como nunca sabemos o dia de amanhã, aconteceu algo inesperado. Seu pai ficou doente e...

              – Mãe, pára!

              – Não. Deixe-me falar, ok? Seu pai morreu, é verdade. Não podemos fazer nada. Não por ele. Sua vida acabou, mas a nossa continua. Temos uma vida inteira pela frente. Você tem uma vida inteira pela frente. Acha que ele ficaria feliz em te ver preso neste quarto o dia inteiro, em vez de viver a vida que te espera lá fora?

    Essas palavras atingem meu coração como lanças pontiagudas. Sou forçado a admitir, bem lá no fundo, que ela tem razão.

              – Pode parecer irônico, mas no dia em que seu pai morreu, por um segundo pensei em desistir de tudo. Desistir do meu emprego. Desistir da vida. Desistir de mim. Mas aí eu lembrei que havia um motivo pelo qual eu deveria continuar vivendo.

    Ela olha no fundo dos meus olhos. A resposta é óbvia. O motivo sou eu. Aquilo desperta o meu lado infantil, e começo a chorar como uma criança que deixa o sorvete derreter.

              – Naquele momento eu soube que não podia desistir. Eu ainda tinha você. Tinha o Spike... – esse é o nome do nosso cachorro. E, como se tivesse adivinhado que falávamos dele, ele entra no quarto, ganindo e olhando para nós com aqueles olhos pidões. – E também a herança do seu pai. Por isso não pensei duas vezes em tentar nos dar uma vida nova. Me desculpe se falhei.

    Sabe aqueles momentos em que um sentimento de culpa nos dá uma pontada? Bem, este é um desses momentos. Ainda não tinha percebido como estava sendo egoísta. Nem sequer parei para pensar em como minha mãe deveria estar se sentindo. Perdi o meu pai. Mas não era só o meu pai. Era o grande amor da vida dela. Os dois eram como unha e carne. Viviam grudados um no outro como adolescentes apaixonados. Eu adorava vê-los juntos. Era a parte boa de voltar para casa. Vê-los sentados no sofá, abraçados, assistindo ao Telejornal ou simplesmente fazendo companhia um ao outro, demonstrando o quanto se amavam.

            – Me desculpe, mãe. – Não sei o que dizer. Mas acho que lhe devo desculpas. – Eu... Veja bem...

              – Não precisa dizer nada. Eu entendo. Mas não se esqueça do que eu falei. A vida continua. Estamos nessa juntos, ok? Lembre-se que pode contar comigo sempre. Afinal, é para isso que servem as mamães, não é verdade? – Depois de duas semanas tentando, ela finalmente consegue arrancar um sorriso do meu rosto pálido e cansado. – Mas agora, falando sério, você precisa tomar uma decisão. Há um futuro à sua frente e o mundo só está esperando que você dê o primeiro passo. E o primeiro passo é... se levantar dessa cama, tomar uma ducha e sair um pouco.

              – Quer dizer, andar por aí?

              – Sim. Vamos dar um passeio pela cidade. Vou te levar para conhecer alguns lugares. Tenho certeza de que vai adorar descobrir lugares novos, gente nova e, claro, uma culinária totalmente nova.

              – Fala sério?

              – Claro que falo sério.

              – Quer dizer que não vamos embora?

              Ela fica me encarando em silêncio.

              – Bem, depois falamos disso. Agora vá se aprontar. Te espero lá embaixo. E não demore.

    Faço o que ela manda. Meia hora depois, estamos a caminho do Cafeterix.

    Aproveitando que a temperatura está agradável, vamos caminhar pela avenida. Há um gostoso perfume de flores no ar e as pessoas na rua sorriem ao passar por nós. Tento sorrir a fim de retribuir a simpatia, mas não consigo. As preocupações são tantas que sorrir parece ser a última coisa que eu conseguiria fazer neste momento. Apenas faço um gesto positivo com a cabeça.

    À esquerda, podemos avistar o Bristol Residence Hotel, localizado a pouco mais de dez minutos do Aeroporto de Londrina, e também do Terminal Rodoviário José Garcia Villar. O complexo em si é um conjunto de apartamentos compostos por uma cozinha equipada, TV a cabo e guarda-volumes. Neste local os hóspedes podem desfrutar de uma piscina no terraço que proporciona uma vista panorâmica da cidade.

    Além da piscina, as instalações deste hotel de 4 estrelas incluem uma academia, salões de jogos e uma sauna. Próximo ao hotel há também muitas opções de bares e restaurantes, bem como a Praça Marechal Rondon, que possui uma vasta área verde, ideal para a prática de caminhadas e corridas.

    Continuamos o passeio. Em cada edifício, em cada esquina, paramos para admirar a riqueza do lugar. Percebo que estamos rodeando as paredes da Catedral Metropolitana de Londrina, um templo em forma de chalé que pertence à Igreja Católica, o qual pode ser visto de diversas partes da cidade.

    Ainda tenho muitas perguntas para fazer, mas, para meu espanto, este passeio agradável está me fazendo esquecer dos porquês da vida. Vendo minha mãe sorrindo, falando tudo a respeito dos lugares por onde passamos, digo a mim mesmo que de forma alguma irei estragar este momento com minhas perguntas frequentes.

              E finalmente vamos ao muito falado Cafeterix, nosso destino para o almoço. O local está lotado, um bom sinal. Há garçons servindo pratos caseiros e fazendo propaganda de seus sabores localmente inspirados que certamente irão seduzir todo e qualquer paladar.

    Érica pede um Estrogonofe de Frango para ela e, para mim, um Yakisoba de Lombo. O cheiro está tentador. Não resisto. Comemos e, depois, ficamos algum tempo admirando a beleza do lugar.

              – Está gostando do passeio? – pergunta Érica, um pouco nervosa.

    – Está ótimo. Obrigado por me trazer.

              – Não me agradeça. Para ser honesta, fazia muito tempo que não saíamos juntos, não é mesmo?

              – É – concordo. Quando criança, livre das tarefas escolares e domésticas, eu me preocupava somente em encontrar um amigo para brincar. Mas conforme fui crescendo, a preocupação nos rostos dos meus pais em relação às dificuldades pelas quais passávamos e as consequências que elas trariam para o meu futuro se tornou cada vez mais visível. Nossas condições financeiras nos permitiam ter de tudo um pouco, e sobre isso não havia muito o que discutir. Mas quando o assunto era férias, passeio e entretenimento, eles se entreolhavam sem saber o que dizer nem que decisão tomar.

    – Nesses últimos dias a nossa vida têm sido uma verdadeira correria. Eu me preocupei em te dar uma vida... hã... diferente da qual estávamos acostumados. Sabe, naquela época as coisas eram bastante difíceis. Não tínhamos tantas oportunidades como temos hoje. Na verdade, estava preocupada se hoje ia correr tudo bem. Mas ainda bem que deu tudo certo. Fico feliz por você estar feliz. E quer saber mais? Prometo que, a partir de hoje, faremos passeios com mais frequência. Ainda há muitos lugares para conhecer e teremos bastante tempo para isso.

    Percebo que ela está tentando evitar que falemos sobre a tal mudança para São Paulo e o tal internato onde ela pretende me deixar. Prefiro pensar que o surto de raiva que ela teve a fez dizer coisas sem pensar, o que geralmente não acontece. Mas ela está estranha. Parece tensa. Algo a preocupa.

              – Mãe, você está bem?

              – Hein?

              – Perguntei se você está bem.

    – Sim. Claro que estou bem.

    Eu sempre digo para os meus amigos que minha mãe tem a cara da atriz americana Kristen Stewart. E, talvez, se ela tivesse nascido em outra época, o destino a conduzisse ao estrelato. Mas, olhando bem no fundos dos olhos dela, concluo, definitivamente, que dissimular não é o seu forte.

              – Mãe, você é péssima em contar mentiras.

    Ela suspira.

              – Me desculpe.

              – Desculpar o quê?

              – Por não ter sido sincera. Por não ter contado a verdade desde o início.

              – Que verdade? Do que está falando?

              – A sua avó...

              – O que ela tem?

              – Lembra do que aconteceu com ela na semana passada?

              – Lembro. Ela teve um desmaio.

              – E lembra que naquele dia eu disse que tinha uma coisa para fazer no centro da cidade e que não sabia a que horas iria voltar?

              – Lembro, mas e daí?

              – Eu tinha ido verificar os resultados dos exames dela e...

              – E?

    Ela espera alguns segundos antes de falar.

              – Ela foi diagnosticada com um tumor no cérebro.

    Capítulo 3

    O milagre

    F

    ico abismado. Num impulso, coloco a mão na boca enquanto algumas lágrimas rolam pelo rosto. Confesso que já imaginava, mas me nego a aceitar que mais um membro da família esteja condenado à morte.

    &

    Testemunhei um desmaio semana passada. Ela estava na cozinha quando, de repente, recuou com passos vacilantes e, em seguida, apagou. Seu rosto ficou pálido, quase sem cor. Tentei reanimá-la, mas ela não acordou. Desesperado, gritei por ajuda. Érica tinha saído cedo para procurar trabalho e eu estava sozinho em casa sem ninguém por perto. Corri para fora e recomecei a gritar. Um homem alto e barbudo, que estava de passagem, ouviu os gritos e correu em meu socorro. Disse a ele que minha avó estava caída na cozinha e que achava que ela estava morta. O homem foi correndo até ela. Verificou o pulso. Para o meu alívio, ela ainda estava viva, mas precisava de atendimento médico o quanto antes.

    Chamamos uma ambulância, que veio dez minutos depois.

              – Onde está a sua mãe? – perguntou um dos paramédicos.

              – Ela saiu.

              – É melhor informá-la – disse o homem que ajudara minha avó. Ele pôs a mão no bolso e pegou o celular. – Aqui. Ligue para ela.

    Pouco tempo depois, estávamos no hospital, esperando o resultado dos exames. Mas acabei adormecendo na sala de espera e, quando acordei, estava de novo em casa, no meu quarto, na minha cama, o que me levou a pensar que tudo não passara de um pesadelo.

    Levantei-me achando que encontraria a vovó na cozinha, sorrindo e assobiando sua música favorita enquanto terminava de preparar o café da manhã. Mas quando cheguei lá, percebi que o pesadelo que eu tanto temia havia se tornado realidade.

    Érica falava ao telefone em voz baixa como se já esperasse a ligação e depois de vários sins, disse:

              – Está bem, Jacques. Eu irei agora mesmo.

    Desligou. Em seguida se virou e, quando me viu parado atrás do balcão, deixou o telefone cair no chão.

              – O que foi? Que cara é essa?

              – Bom dia, filho. Não foi nada. É que você me assustou.

    – Com quem estava falando?

              – Hã...

              – Com o médico que examinou a vovó?

              – Eu...

              – Quais são os resultados? O que ela tem? É grave?

              – Eu não sei.

              – Como assim não sabe? Estava falando com o médico, não estava? O que ele disse?

              – Já disse que não sei. Fique calmo. A sua avó está bem.

    Se ela estivesse bem, agora ela estaria aqui conosco, era o que eu queria dizer. Sabia que ela estava mentindo. Havia tensão em sua voz. Isso significava que a vovó não estava nada bem. Vi como ela ficou pálida quando perdeu os sentidos. Ela continuava no hospital. E eu ali, sem notícias dela.

    – O que quer para o café da manhã?

    – Nada. Não estou com fome.

    – Como quiser. A propósito, tenho que sair.

    – Onde a senhora vai?

    – Tenho que resolver um assunto que deixei pendente no centro da cidade.

    – Que

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