Canto De Sirenes
De Jen Minkman
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Sobre este e-book
Uma terra antiga protegida por uma Torre de Luz,
Seu povo sempre tentado pelo Canto das Sirenes,
E uma garota que se apaixona pelo cara errado.
Na ilha de Skylge, a eletricidade é apenas para os Correntes, a classe alta dominante que um dia veio do outro lado do oceano e trouxe o fogo santo de São Brandan para Skylge. Desde então, a luz na Torre de Brandaris tem protegido os ilhéus. Atender ao chamado das Sirenes vai afogar seu corpo e roubar a sua alma, mas a luz sagrada na Torre afastará os tritões.
Quando a skylgiana Enna recebe seu irmão após o retorno de uma longa viagem pelo mar, ele a dá um presente especial do continente – um disco eletrônico que só pode ser reproduzido em um aparelho Corrente. O problema é que Royce Bolton, galã Corrente e o pianista mais talentoso da cidade, também o quer. Depois que ela teimosamente se recusa a vender o LP da artista favorita dele, ele sugere compartilhar o disco em segredo, um encontro às escondidas em sua casa particular de veraneio. Surpresa e animada, Enna concorda – e descobre que há mais do que os olhos podem ver quando se trata da sociedade Corrente e a história de Skylge. Por que as Sirenes tentam os ilhéus a se entregarem ao mar? E de onde vem, na verdade, o monopólio dos Correntes sobre a eletricidade?
Enquanto lida com estas questões, Enna começa a se apaixonar por Royce, arriscando tudo para estar com um cara que claramente não é para ela. Ela vai aprender que o canto das Sirenes não é a coisa mais traiçoeira a assombrá-la.
Jen Minkman
Jen Minkman (1978) was born in the Netherlands and lived in Austria, Belgium and the UK during her studies. She learned how to read at the age of three and has never stopped reading since. Her favourite books to read are (YA) paranormal/fantasy, sci-fi, dystopian and romance, and this is reflected in the stories she writes. In her home country, she is a trade-published author of paranormal romance and chicklit. Across the border, she is a self-published author of poetry, paranormal romance and dystopian fiction. So far, her books are available in English, Dutch, Chinese, German, French, Spanish, Italian, Portuguese and Afrikaans. She currently resides in The Hague where she works and lives with her husband and two noisy zebra finches.
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Canto De Sirenes - Jen Minkman
Nota da Autora
A ambientação dos Contos de Skylge
é livremente baseada na ilha holandesa de Terschelling, ou Schylge no dialeto da ilha. As línguas skylgiana e frísia realmente existem, e podem soar estranhas para os ouvidos estrangeiros, então aqui está um pequeno guia de pronúncia.
O nome do irmão de Enna, Sytse, se pronuncia si-tza
.
A palavra skylgiana para pai é heit, que se pronuncia como a palavra inglesa height
.
Todos os nomes que terminam em –e (tais como Omme e Alke) são pronunciados com o som de ã
no final, e não com o som de e
aberto.
Apesar de os nomes e lugares neste livro parecerem muito familiares para as pessoas que vivem ou que já visitaram a ilha, os personagens e os eventos são, obviamente, de natureza completamente fictícia.
––––––––
Divirta-se ao ler Canto de Sirenes
!
1.
É o canto do albatroz que me desperta pela manhã.
O pássaro tem vindo à janela do meu quarto há alguns meses, sempre ao nascer do sol. Quando eu abro a minha cortina, ele está ali, no parapeito da janela, inclinando sua cabeça e olhando para mim com curiosidade. Expressivamente, até.
Algum ancião da ilha de Skylge deve ter me dito que um albatroz é uma alma humana pura, voando com asas terrenas após a morte, mas eu não tenho certeza se acredito nisso. Em sua grande maioria, eles apenas arrumam briga com as gaivotas na praia, durante a maré baixa, tentando pegar a melhor comida, assim que as rochas cobertas de mexilhões emergem da água salgada. Não me parece muito puro.
Mas este pássaro é diferente. Ele parece querer falar comigo. Enna, como você está? Eu posso ouvir a voz melódica da minha mãe na minha mente. Sou eu.
Mas é claro que não pode ser. Ela foi levada pelo mar. Por eles. Ou melhor, ela entrou na água intencionalmente, procurando por fim ao seu sofrimento. Mesmo tendo Sytse, meu pai e eu. Nós não fomos suficientes para que ela resistisse ao chamado dos Nixens. O som sedutor da feliz liberdade.
Liberdade.
É estranho pensar que alguém pudesse se sentir encaixotado nessa pequena ilha. A terra de Skylge é plana, plana, plana até onde a vista alcança, correndo para o mar sem fim por todos os lados. Ainda assim, o céu infinito nunca está fora de alcance. É normalmente nublado, com nuvens cinza-escuras, carregadas, que trazem chuva, trovões e relâmpagos para os skylgianos. É a única ocasião em que os Correntes não podem nos impedir de desfrutar da eletricidade – me ensinaram que estas descargas de eletricidade no céu são causadas pela mesma força usada por eles para alimentar as suas casas, seus carros, e seus misteriosos aparelhos domésticos. E a Torre Brandaris que se ergue por sobre a paisagem uniforme do lado ocidental da ilha é onde eles mantêm o fogo sagrado de seu padroeiro. Os sacerdotes dizem que ele viajou desde longe e veio para a ilha para protegê-los dos Nixens. Mas os clérigos de São Brandan parecem fazer vista grossa para o fato de que os únicos verdadeiramente protegidos dos tritões que nos espreitam pelas ondas traiçoeiras do mar de Wadden são os Correntes.
Se Brandan tivesse vindo até aqui para proteger a todos nós, os Nixens nunca teriam levado minha mãe.
Jogo meu cobertor para o lado e levanto. Visto lentamente os meus jeans simples e uma blusinha branca. Escovo meu longo cabelo castanho, puxando-o para trás em um rabo de cavalo. O espelho rachado me mostra as sombras escuras de cansaço, mas eu as ignoro. Tenho que fazer isso – não tenho tempo para perder pensando em minha fadiga. Vou ter que arrumar um café-da-manhã antes de ir para a escola e as redes infelizmente não pescam sozinhas.
Sinto meu estômago roncar. Não recusaria um bom pedaço de arenque fresco, com algumas cebolas cortadas sobre uma larga fatia de pão branco macio. Mas eu não estava com sorte. Os pescadores de arenque não voltariam até hoje à noite, e tudo o que eu pegaria seriam peixes pequenos e bem pouco saborosos.
- Você quer um pouco de arenque? – murmuro para o pássaro, que ainda me assiste atentamente. – É isso que você está querendo?
Claro que não recebo nenhuma resposta. De qualquer forma, não acho que é por isso que ele está aqui. Como disse, esse albatroz vem me visitando por meses a fio e eu nunca o alimentei. Talvez ele só queira ser amigo. Ouvi Sytse falar sobre os albatrozes acompanharem os barcos a vela nos quais ele viaja para chegar aos comerciantes frísios no continente.
- Eles estão aqui para nos proteger. – É o que o capitão dele sempre diz.
Bem, nossos marinheiros precisam disso. Viajar nestes barcos é um negócio arriscado. E ainda assim, invejo Sytse algumas vezes. Meu irmão pode correr o risco de ser atacado por sereias e acabar em uma cova submarina cada vez que viaja, mas pelo menos pode ver um pouco mais do mundo. Os comerciantes em Harns o tratam com gentileza, embora ele seja um skylgiano menor. O dinheiro faz isso, eu acho – sem que os marinheiros de Skylge arriscassem suas vidas para navegar indo e voltando da ilha, os comerciantes dependeriam da balsa dos Correntes que opera no porto de Harns apenas uma vez a cada dois meses. E eles adoram a lã das nossas ovelhas. Os Baeles-Weards – que é como os sacerdotes de Brandan se autodenominam – não se agradam do comércio com estrangeiros. Eles dizem que São Brandan dá aos Correntes tudo o que eles podem vir a necessitar. Mas o Skelta, nosso sábio, não se importa. Ele quer que tenhamos a mente aberta. Afinal de contas, os deuses frísios são nossos deuses também.
Quando vou para fora, vejo que meu pai já está acordado. Ele está sentado em sua cadeira na beirada do quintal, os olhos apertados, devido ao sol nascente, enquanto encara a estrada que segue o dique. Suas mãos grossas e bronzeadas estão agarrando seus joelhos, como se ele precisasse se segurar para não levantar e correr em direção ao mar.
Ele deve pensar com frequência em cair no mar e seguir o rastro da minha mãe, mas ele ainda está conosco. E isso pode significar que ele ama muito a mim e meu irmão.
- Bom dia, Enna – ele diz, com um leve sorriso – Espero que não a tenha acordado com o barulho na cozinha.
- Não se preocupe, pai. Eu tinha que acordar de qualquer forma. – Calço rapidamente minhas botas de borracha para pescar alguma coisa na maré baixa. – Vou me encontrar com Dani às oito para irmos pedalando juntas para a escola. E queria tomar café da manhã antes de ir.
Seu semblante cai. Desde que as febres vieram, alguns anos antes e devastaram seu corpo, a única coisa que ele ainda pode fazer para mim de manhã é um chá quente de ervas. Ele está fraco demais para ir pescar.
- Por que você não nos faz algumas panquecas hoje? – eu me apresso, sorrindo-lhe largamente. – Ainda tem um pouco de farinha e um ovo no armário. E eu tenho certeza que Eida pode nos dar um pouco de leite. – Nossa vizinha tem um rebanho de ovelhas que poderia alimentar todo o vilarejo.
- Nos dar? – meu pai repete, confuso.
- Sytse está voltando para casa hoje. – esclareço. – É dia dezesseis de maio, pai. Dia de São Brandan. A ilha toda está esperando ansiosamente pelo retorno dos nossos barcos.
Seus olhos se iluminam de felicidade.
- É mesmo? – ele murmura. – Ah, céus. Eu deveria mesmo me atentar mais ao calendário. Eu não fazia ideia. – Ele fica de pé e me abraça rapidamente. – Ele vai ficar em casa até o final do festival, não vai?
- Pode apostar. – eu sorrio. Sytse não perderia isso por nada. Durante o mês de Oorol, nós celebramos a arte em todas as suas formas. Teatros a céu aberto, lotados até as tampas com espectadores e nossos mais talentosos atores, palcos armados nas esquinas de cada rua para receber músicos e o aroma de pão de gengibre saído do forno enche a capital de Brandaris.
Pensar no pão de gengibre faz meu estômago roncar. Faço uma careta quando meu estômago implora alto por alguma comida.
- Volto logo. – prometo, observando enquanto meu pai cuidadosamente se se dirige à porta dos fundos para voltar para a cozinha.
O sol está brilhante e quente hoje, fazendo-me suar um pouco enquanto caminho pelo dique em direção à praia. Incomum para esta época do ano, mas você não vai me ouvir reclamar. Nós não recebemos muita luz na ilha, afinal, então vou aproveitar tudo o que essa bola de fogo do céu mandar em minha direção.
Tudo para manter a melancolia afastada.
Começo a assobiar uma melodia para me distrair e não pensar em minha mãe outra vez. Ao mesmo tempo, bato palmas e bato com os pés no chão, transformando minha caminhada matinal em uma dança improvisada. Provavelmente pareço idiota, mas não me importo. As ovelhas de Eida são as únicas que me assistem aqui, e aceno amigavelmente para os lanosos animais brancos antes de chegar à praia e minhas botas de borracha afundarem na areia molhada, puxando meus pés.
A pequena rede que estou carregando ao redor do pescoço esfola a minha pele, as cordas rotas e frágeis pela água salgada. Contudo, antes que possa tirá-la e lançá-la para pegar o tão necessário café-da-manhã, eu paro.
Ali, sobre algumas rochas, emergindo de um amontoado de algas, estão dois ovos gigantes de gaivota. As coisas malhadas parecem sorrir para mim ao sol da manhã. Não faço ideia do motivo de uma gaivota depositar os ovos ali ao invés de fazer um ninho adequado, mas francamente, não me importo. Talvez ela estivesse com pressa. Bem, eu também estou. Com um largo sorriso, pego os ovos e cuidadosamente os aninho dentro da minha bolsa de pesca. É hora de sair daqui, antes que esse pássaro nada tradicional volte.
2.
- Enna! – minha amiga grita enquanto eu subo pedalando o caminho que leva ao Dique Stortum. Ela está esperando por mim, pontual como sempre, sua bicicleta recostada em seu quadril, enquanto amarra seu cabelo loiro platinado, em razão do vento no caminho que temos pela frente.
- Desculpe. – ofego, parando em frente a ela. – Esbarrei em um excelente café-da-manhã e não podia, simplesmente, não demorar ao saborear minha omelete.
Dani sempre se encontra comigo aqui, à beira da água às oito em ponto. Nós duas vivemos em Kinnum, que tem uma população de cem pessoas. É uma viagem de bicicleta de vinte minutos até Brandaris, nossa capital, onde fica a escola.
Se fôssemos autorizadas a usar o ônibus dos Correntes para ir à escola, a viagem duraria apenas seis minutos. Mas não somos – e de qualquer forma, o ônibus nem para em Kinnum. Nosso vilarejo é uma comunidade puro-sangue, habitada por Skylgianos. Os Correntes, que vieram do outro lado do oceano e se autoproclamaram a classe dominante na nossa ilha, não são bem-vindos aqui.
- Você vai se arrepender desse farto café-da-manhã em um