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O livro negro dos sentidos
O livro negro dos sentidos
O livro negro dos sentidos
E-book126 páginas55 minutos

O livro negro dos sentidos

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Sobre este e-book

Não é segredo para ninguém, nem a autocensura que se impôs sobre o corpo da mulher branca através dos tempos, nem o desrespeito pelo corpo e pela existência da mulher negra. Também não podemos fugir do racismo editorial que, numa sociedade igualmente discriminadora, está ainda representado por uma maioria avassaladora de escritores brancos. Por muito tempo nosso lugar de fala ficou na boca dos homens e, depois, a existência narrada das realidades de todas as mulheres foram contadas só pelas mulheres brancas. Por isso foi
como um respiro ler O livro negro dos sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer. Convido vocês a viajarem pela força e pela delicadeza literária e honesta de nossa sacanagem.

Elisa Lucinda

_______

Organizado por Angélica Ferrarez, Jurema Araújo e Fabiana Pereira, O livro negro dos sentidos conta com contos, crônicas e poesias das seguintes autoras: Aira Luana Nascimento, Carmen Faustino, Vassia Valle Atriz, Conceição Evaristo, Dandara Suburbana, Debora do Nascimento, Helena Theodoro, Janete Santos Ribeiro, Jaque Alves, Juh de Paula, Lourence Alves, Luciana Luz, Luciana Palmeira, Maitê Freitas, Miriam Alves, Rosane Jovelino, Selma Maria da Silva, Sheila Martins e Taís Espírito Santo - além de textos também das organizadoras.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de set. de 2021
ISBN9786586464559
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    O livro negro dos sentidos - Angélica Ferrarez

    CapaFolhaRosto_AutorFolhaRosto_TituloFolhaRosto_Logos

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de Rosto

    Prefácio Elisa Lucinda

    Apresentação Jurema Araújo

    preliminares

    Sexsentidos Lourence Alves

    Gozo Debora do Nascimento

    Trepada BEM trepada (manual do bom caminho) Cassia Valle

    Deusa negra Cristiane Sobral

    Flor engomada Rosane Jovelino

    Cara ou coroa? Jaque Alves

    Sonhos risíveis e possíveis Helena Theodoro

    Beijo na face Conceição Evaristo

    toque

    Tentativas Debora do Nascimento

    Aguar Taís Espírito Santo

    Quarentena Aira Nascimento

    Amor revolução Cristiane Sobral

    Toc Cristiane Sobral

    O corredor Aira Nascimento

    som

    Nossa primeira vez, preliminares Janete Santos Ribeiro

    Toques na avenida Sheila Martins

    Trovoada Maitê Freitas

    Tamborilar Miriam Alves

    Choveu Miriam Alves

    Hit foda Juh de Paula

    Preto deixa eu gozar Dandara Suburbana

    Da rua Maitê Freitas

    sabor

    Me empresta você de novo? Juh Paula

    Eriça... Selma da Silva

    Encontro de uma tarde de verão Cássia Valle e Luciana Palmeira

    Dieta Dandara Suburbana

    Partilha Carmen Faustino

    Lava de rio Luciana Luz

    cheiro

    Amor em braile Jurema Araújo

    Cinzas de quarta Fabiana Pereira

    Nariz erótico Jurema Araújo

    olhar

    A tela me seduz Angélica Ferrarez

    Dona do prazer Carmen Faustino

    Pela lente do amor Angélica Ferrarez

    Noite preta Taís Espírito Santo

    todos os sentidos

    Caiu do céu? Não... Dandara Suburbana

    CorPoesia! Jaque Alves

    No fim das contas Fabiana Pereira

    Faça existir Rosane Jovelino

    Autoras

    Créditos

    PREFÁCIO

    O que você vai fazer hoje à noite?

    Por muito tempo as mulheres não podiam estudar, pois ficaram por séculos sem direito de se desenvolver intelectualmente e de, consequentemente, ecoarem seus gritos na cara da sociedade. Portanto, a nossa literatura, a voz feminina, ficou sendo contada pelo olhar masculino por um longo período da humanidade onde a maioria avassaladora das mulheres viviam, como muitas ainda vivem, em estado de extrema opressão psicológica, econômica, emocional. Uma barra pesada. Muito do que pertence ao que chamamos errônea e incompletamente de literatura universal, está apinhado de uma abordagem preconceituosa, machista e desrespeitosa sobre o feminino. Ou expectativas e sonhos dos outros depositados na figura feminina sem que esta fosse consultada sobre a ilegitimidade do sonho alheio sobre sua existência.

    Grandes romances europeus de sucesso mundial, por exemplo, narram idílios nos quais uma mulher que deseja, que tem um amante, que assume sua libido, que namora outra mulher, é julgada e algumas vezes literal ou metaforicamente apedrejada em tais páginas.

    Chegada então a pena, a caneta tinteiro, a palavra escrita enfim, às mãos da mulher, a coisa mudou bastante de figura, embora algumas preservassem o mesmo olhar machista sobre si mesma. São as vítimas de um patriarcado estrutural, marcado por rituais de dores abafadas, choros engolidos entre negócios, noivas e dotes, garantidos e sancionados pelo moralismo religioso.

    Não é segredo para ninguém, nem a autocensura que se impôs sobre o corpo da mulher branca através dos tempos, nem o desrespeito pelo corpo e pela existência da mulher negra através deste mesmo tempo. Também não podemos fugir do racismo editorial que, numa sociedade igualmente discriminadora, está ainda representado por uma maioria avassaladora de escritores brancos. O que disse até agora é que por muito tempo nosso lugar de fala ficou na boca dos homens e, depois, a existência narrada das realidades de todas as mulheres foram contadas só pelas mulheres brancas.

    Por isso foi como um respiro ler O Livro Negro dos Sentidos, a palavra saída da ancestralidade, brotada de uma cultura candomblecista que não culpabiliza o prazer.

    O conjunto de orixás, referência simbólica de fundamento afrocultural, expõe um imaginário onde o amor e o desejo desses deuses e deusas não se contrapõem à sua condição de divindade. Não há ameaça. Onde há Oxum, Iansã, Iemanjá, Nanã e tantas outras, o conceito de virgindade não encontra sentido, nem lugar, é antinatureza. Ser puro é ser genuíno, raiz. Nada tem a ver com sexo. No que podemos chamar de mitologia negra, a força de uma divindade não precisa do que querem chamar de pureza sexual, negação da libido. Aqui, o sexo também é uma forma de louvar a criação, um respeito à obra de Deus.

    Passeei por vários contos e poemas esculpida de alegria, como diz Conceição Evaristo no seu belíssimo Beijo na Face. Há uma mistura de gerações aqui muito interessante e que não tem medo de falar dos encaixes, do gozo, da loucura que esse poderoso torpor nos provoca. Corajoso, recheado de amores e encontros de toda sorte. A natureza é sortida, diversificada e assim são suas filhas aqui. Entre liras e prosas poéticas de estilos e estéticas diferentes, sentem as penetrações, gemem, se extasiam, se lambuzam nas seivas de outras mulheres

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