O olho de Hórus - Vol 2: Histórias da mitologia egípcia
De Thais Rocha
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Sobre este e-book
O tempo passou, as religiões mudaram, mas o Egito antigo e seus deuses seguem em nosso imaginário. Quem nunca se deixou levar pelo mistério da escrita hieroglífica ou se assombrar pelos deuses metade humanos e metade animais?
O olho de Hórus: histórias da mitologia egípcia – Vol 2 reúne novas histórias que beberam das águas sagradas do Nilo, recontando os mitos sobre milenares deuses e faraós egípcios. Nas páginas dessa duologia você encontrará histórias sobre os deuses Osíris, Seth, Maat, Anúbis e tantos outros e também sobre os famosos faraós Tutankhamon e Akhenaton. Sobre o Nilo e as Pirâmides, e a escrita sagrada.
Uma viagem no tempo e no espaço, escrita pelas mãos de autores brasileiros contemporâneos apaixonados pelo Egito antigo.
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O olho de Hórus - Vol 2 - Cartola Editora
Organização:
Thais Rocha
São Paulo
2021
1ª edição
Ficha técnica:
R672o
Rocha, Thais, 1992 -
O olho de Hórus: histórias da mitologia egípcia - Vol. 2 / Thais Rocha (organização) - São Paulo: Cartola Editora, 2021.
452kb. ; epub
ISBN: 978-65-87084-66-4
1. Literatura brasileira - conto. I. Título
CDD: B869.3
CDU: 82-3(81)
Organização: Thais Rocha
Revisão: Thais Rocha e Rodrigo Barros
Diagramação, capa e projeto gráfico: Rodrigo Barros
Acesse nosso site para saber mais sobre os autores.
Todos os direitos desta edição reservados à Cartola Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização por escrito da editora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Apresentação
Glossário
A adaga dos deuses
A arca do usurpador
A balança de Maat e o coração de minha avó
A canção da criação
A deusa distante
A fé secreta
A maldição do faraó
A menina que inventou as letras
A misericórdia de Maat
A nau solar
A promessa do sol
A troca de corações
Chacais no cemitério
Doze horas no submundo
Entre o amor e a sabedoria
Estrela do deserto
Hieroglífico, ou o Anti-Fedro
Livro de Toth
Maat, Anúbis, Toth e a viúva do coração pesado
Nebet per
O escriba
O homem de Isfet
O lamento do chacal
O peso de um coração
O rei vermelho
Os guardiões de Bubastis
Por amor foi salvo da morte
Sob a luz de Áton
Apresentação
Entre as areias do deserto e à margem do divino rio Nilo uma poderosa e rica cultura há milênios se mantém, abençoada por um panteão peculiar de deuses.
O tempo passou, as religiões mudaram, mas o Egito antigo e seus deuses seguem em nosso imaginário. Quem nunca se deixou levar pelo mistério da escrita hieroglífica ou se assombrar pelos deuses metade humanos e metade animais?
O olho de Hórus: histórias da mitologia egípcia - Vol 2 reúne novas histórias que beberam das águas sagradas do Nilo, recontando os mitos sobre milenares deuses e faraós egípcios. Nas páginas dessa duologia você encontrará histórias sobre os deuses Osíris, Seth, Maat, Anúbis e tantos outros e também sobre os famosos faraós Tutankhamon e Akhenaton. Sobre o Nilo e as Pirâmides, e a escrita sagrada.
Uma viagem no tempo e no espaço, escrita pelas mãos de autores brasileiros contemporâneos apaixonados pelo Egito antigo.
Glossário
Deuses e faraós egípcios mencionados na duologia O Olho de Hórus:
Aken
Deus responsável por guiar a barca dos mortos no Duat, o mundo dos mortos egípcio. Não tinha um culto próprio, mas é mencionado em alguns textos, como no Livro dos Mortos.
Ammit
Conhecida como a devoradora
, era a deusa que personificava a retribuição divina. Era uma fera com corpo misto de leão, hipopótamo e crocodilo, responsável por devorar a alma dos considerados indignos da vida eterna após a morte.
Amon
Originalmente, deus dos ventos. Mais tardes, seu culto é associado ao império e Amon é relacionado ao deus Rá.
Anúbis
Deus dos mortos, com cabeça de chacal, responsável por conduzir as almas para o Duat. Também acompanhava de perto o tribunal de Osíris e a pesagem dos corações.
Áton
Deus do sol, considerado uma das faces do deus Rá. Durante o reinado de Akhenaton (1352 a 1336 a.C.) foi declarado pelo faraó o deus único do Egito.
Bastet
(ou Bast) Deusa com cabeça de gato, associada ao amor e à fertilidade.
Geb
Deus da terra. Pai de Osiris, Ísis, Seth e Néftis e marido de Nut.
Hapy
Divindade que personifica as águas do rio Nilo.
Hathor
Uma das principais divindades do panteão egípcio, portanto, possuía diversas atribuições, mas era associada principalmente a atributos de feminilidade, tendo a vaca como seu animal sagrado.
Hórus
Deus com cabeça de falcão, filho de Ísis e Osíris, deus dos céus e dos vivos. Assume a função de faraó divino após a morte de seu pai.
Isfet
Deusa que personifica o caos, oposta, portanto, à deusa Maat.
Ísis
Uma das divindades mais importantes do panteão egípcio, seu culto se espalhou para fora das fronteiras do país, chegando até mesmo à Roma. Apesar de ter muitas atribuições, era associada principalmente à magia.
Khonsu
Deus associado à lua. Literalmente, seu nome significa viajante
, o que pode estar associado ao movimento da lua no céu. Em associação ao deus Toth, era responsável pela passagem do tempo.
Khnum
Deus com cabeça de carneiro associado a aspectos criativos. Também era responsável pela regulação das águas do rio Nilo.
Maat
Deusa da verdade, da retidão, da ordem e da justiça. Os mitos nos contam que os corações dos mortos eram pesados no tribunal dos mortos contra a pena que Maat carregava na cabeça. Se o coração pesasse mais que a pena, o morto era considerado indigno e jogado à deusa Ammit.
Mut
Deusa primordial, considerada uma espécie de deusa-mãe. Esposa de Amon e mãe adotiva de Khensu.
Neith
Deusa da guerra e da caça, criadora de deuses e homens, divindade funerária e deusa inventora.
Néftis
Seu nome significa, literalmente, senhora da casa
, entendida no sentido físico, como a casa para onde o sol retorna no fim do seu curso, ou seja, os céus noturnos. Mãe de Anúbis (dependendo da versão do mito, o pai pode ser Osíris ou Seth) e irmã de Ísis.
Nun
Deus que, acompanhado de sua contraparte feminina, Nunet, simbolizam a água primordial
. Dessa água surgiu o universo.
Nut
Deusa do céu, simboliza a esfera celeste e é considerada mãe dos astros.
Osíris
Inicialmente, simbolizava a força do solo, que faz as plantas crescerem. Após ser assassinado pelo próprio irmão, Seth, torna-se deus dos mortos e preside o tribunal que julga as almas.
Rá
Considerado uma das principais divindades do panteão egípcio, é a personificação do sol em seu auge. Como Hórus, também possui cabeça de falcão, o que posteriormente leva o culto dos dois deuses a serem fundidos.
Sekhmet
Deusa com cabeça de leoa, associada à guerra, à vingança e à medicina.
Serket
Deusa antiga, associada aos escorpiões.
Seshat
Associada à escrita, à astronomia, à arquitetura e à matemática. Seu nome significa a que escreve
. Assim como Toth, é considerada uma deusa escriba.
Seth
Deus com cabeça de cão, ou de um animal fantástico. Deus das terras vermelhas do deserto, portanto associado à seca, à guerra e à desordem. Ao assassinar o irmão Osíris, assume a função de faraó dos deuses, mas é posteriormente deposto pelo sobrinho Hórus.
Shu
Deus associado ao ar seco, às características masculinas, ao calor, à luz e à perfeição. Pai de Geb e Nut, sendo responsável por separar o céu da terra.
Sobek
Deus com cabeça de crocodilo, associado ao poder dos faraós, à fertilidade e ao poderia militar. Era invocado especialmente para proteção contra os perigos presentes no rio Nilo.
Toth
Deus com cabeça de íbis, associado ao conhecimento, à sabedoria, à escrita e à música. Considerado o inventor da escrita hieroglífica.
Apófis
Serpente gigantesca, considerada a personificação do caos. Principal inimiga de Rá em seu caminho diário com a barca solar.
Akhenaton
(ou Amenhotep IV) Faraó cujo reinado durou entre 1352 a 1336 a.C. Lembrado principalmente por ter tentado substituir a religião politeísta egípcia por um culto monoteísta ao deus Áton. O nome Akhenaton
foi adotado por ele após o decreto dessa fé, significando aquele que louva Áton
.
Amenhotep III
Faraó que reinou entre 1391 e 1353 a.C. Seu reinado foi próspero e pacífico para o Egito. Pai de Akhenaton.
Cleópatra VII
Considerada a última rainha do Egito, reinou entre 51 e 30 a.C. Pertencia à dinastia Ptolomaica, família grega que assumiu o comando do Egito após a morte de Alexandre, o Grande em 323 a.C. Após a morte de Cleópatra, o Egito se tornou uma província romana.
Nefertiti
Rainha de Akhenaton. Alguns historiadores acreditam que ela tenha reinado como faraó após a morte de seu marido, antes de Tutankhamon assumir o trono e o título de faraó.
Tutankhamon
Faraó que reinou entre 1332 e 1 323 a.C. Filho de Akhenaton, mas não há consenso sobre quem teria sido sua mãe.
A adaga dos deuses
Pablyo Santos
A família de Ezra estava toda ansiosa. O dia em que o garoto finalmente voltaria para casa estava chegando. E mesmo que, há alguns anos, tenham enfrentando algumas desavenças, sabiam da importância de manter a união familiar. Se adequar a tais tradições era uma alegria para Maomé e, a partir disso, tentariam não ser rudes com o garoto, que outrora contrariou a todos, quando revelou que deixaria o Islamismo.
Hamed e Alia, pais de Ezra, demoraram anos para conseguir aceitar, embora a maioria das pessoas à sua volta acreditassem que isso era um erro terrível. Eles pretendiam continuar acolhendo o garoto como filho, e isso incluía recebê-lo após voltar de sua viagem de intercâmbio, onde explorava outras crenças. O garoto, que sempre deixou claro seu desejo de se tornar um jornalista, começou a caminhar para realização de novos sonhos, ao perceber que seu destino seria como um historiador.
Estava tudo pronto, e em alguns minutos, Amon, irmão de Hamed, que fora incumbido de buscar o sobrinho no aeroporto, chegaria.
A porta deu um estalo. Alguém estava manuseando o trinco. Ao abrir, todos gritaram alegremente, radiantes e expressando toda a consideração que tinham, porém, toda essa alegria evaporou pelos céus ao perceberem que Amon estava sozinho.
— Amon, onde está meu filho? — Hamed perguntou, um tanto curioso.
— Ele me encontrou, mas disse que não viria, mandou lembranças a todos e disse que… — Ele pausou por um momento, parecia não acreditar no ocorrido. — Ele simplesmente disse que estava atrás de uma adaga.
— Adaga? — Alia perguntou, confusa.
— Ele disse que não poderia contar, mas era importante, e seria um grande passo na carreira dele.
Os pais ficaram decepcionados. Os parentes e amigos foram embora e, enquanto Hamed refletia em sua sacada de mármore, Alia e suas filhas mais novas desarrumaram toda a surpresa que prepararam.
Enquanto o luar pairava nos céus de um povo clemente, numa cidade que esbanjava a beleza natural que mesclava a cultura do antigo e do atual Egito, o garoto, que apesar de tudo, sentia muita saudade de sua família, não desviou seu foco em momento algum.
Ezra subiu uma enorme escadaria, apoiando sua mão em uma parede esculpida por pedras, portando uma mochila com dois cadernos para registrar tudo que pesquisava, uma agenda e uma camisa reserva. Ele também portava uma câmera, a qual comprou exatamente para este propósito. No findar das escadas, encontrou alguém que estava esperando há algum tempo, seu nome era Said, e ele buscava pela mesma coisa.
O rapaz, também jovem e sonhador, com vestes estranhas e uma inquietação de quem estava sendo procurado por algum crime, apenas olhou para Ezra e disse que ali não era um lugar seguro. Estranho, pois, para o garoto da câmera, encontrar a adaga dos deuses nada mais seria que uma descoberta histórica.
Há quem diga que tudo é resultado da desavença entre os deuses, muito antes do que se pode imaginar. Quando Seth assassinou seu irmão Osíris, para ocupar seu trono, este se tornou o juiz no além, após vencer a própria morte. Porém, Hórus, deus dos céus, filho de Osíris, derrotou seu tio por vingança, tornando-se o Rei dos Vivos no Egito. Há quem diga que após o feito, Hórus solicitou para que Rá estivesse sempre a favor dele e concedesse a ele uma adaga capaz de destruir o espírito de Seth de uma vez por todas, caso fosse necessário. Porém, a balança cósmica permaneceu em equilíbrio por muitos anos, e a adaga acabou perdida pelas terras do Egito
.
— Viu? É disso que se trata, é maior do que as pessoas podem imaginar! — Said disse, mostrando a Ezra um pergaminho enrolado, com todos aqueles dizeres, o que para ele não era uma novidade.
— Onde achou este pergaminho? Eu sei muito bem do que se trata a adaga, e é por isso que pretendo encontrá-la. Essa é a informação que você tinha?
— Claro que não — Said respondeu. — Venho procurando isso há muito mais tempo que você. E eu não tenho por que dizer onde encontrei isto.
— Há um hieróglifo nas tumbas que existem na região de Minya. Segundo o Ministério Egípcio, havia amuletos, recipientes com vísceras e restos mortais mumificados, toda a mensagem gravada foi decodificada… só que um dos amuletos foi roubado! — Ezra disse, animado com a história, que achava intrigante.
— Está falando desse aqui? — Said tirou um amuleto de dentro de uma bolsa, guardado minuciosamente embalado dentro de uma caixa de vidro. Era um objeto extraordinário, tinha a forma de um escaravelho e uma beleza estonteante.
No entanto, após admirar a beleza do objeto, Ezra caiu na real. O amuleto roubado estava bem ali, nas mãos daquele homem que conheceu há poucos dias através da internet e de uma troca de mensagens. O fator do interesse em comum os uniu, o garoto com vontade de fazer história e o ladrão de artefatos históricos.
— Você roubou o amuleto? Céus, você roubou um amuleto de mais de três mil anos antes de Cristo?
— Acho que o grande historiador não entendeu, não é? A adaga não está perdida, Rá entregou a adaga para Hórus, mas o fez prometer que só usaria se realmente precisasse. A balança cósmica permaneceu em equilíbrio. O Egito passou por constantes fases de transições e esse artefato continuou nas terras do Egito. Havendo realmente um Deus ou vários deuses, isso aqui ficou guardado, assim como a adaga — Said explicou.
— Então, a adaga não está exatamente perdida?
— Claro que não, rapaz! Até o findar das dinastias, a adaga foi repassada a cada soberania, em cada dinastia, e se todas as pesquisas estiverem certas, ela foi enterrada junto a Cesarião, filho de Cleópatra, e também o último faraó. As pessoas pensam